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ALGUMAS REFLEXÕES
LOPES, Carolina da Silva – PREFEITURA MUNICIPAL DE PRESIDENTE PRUDENTE
carolzinh4@yahoo.com.br
Resumo
Introdução
Por meio de estudos bibliográficos baseados em Aguiar (2004), Britto (2005), Goulart
(2005), Meirelles (2010), Solé (1998), Souza (2010), Menin (2010), entre outros, que trazem
grandes contribuições sobre o processo de construção da leitura e a formação do leitor no
período infantil, propomos iniciar uma discussão sobre a leitura na Educação Infantil, os
níveis de leitura na formação do leitor, a possibilidade da utilização das estratégias de leitura
para a primeira infância, como meio de sistematização do aprendizado, a função da avaliação
neste processo buscando a melhoria da qualidade, e o papel do professor como mediador entre
a criança e o texto, no intuito de verificar se a criança é ou não leitora na Educação Infantil.
Diante dos estudos realizados, nota-se que o ensino da leitura tem sido considerado
pelas sociedades ocidentais um trabalho próprio da instrução formal e institucionalizada da
escola, realizada principalmente no ciclo inicial, no momento em que a criança começa a se
apropriar do código linguístico, ou seja, a se alfabetizar.
No entanto, o relacionamento com esse universo da leitura efetivamente se dá a partir
do nascimento, assim que a criança inicia sua interação com o meio social familiar e com sua
inserção na instituição de educação infantil.
Segundo Goulart (2005), as crianças chegam às instituições de educação infantil com
suas experiências de vida, desejos, expectativas, medos etc., enfim com suas histórias,
motivações e necessidades. Novas relações serão estabelecidas, tanto afetivas quanto
cognitivas. Espaço de encontro de antigos e novos objetos culturais trabalhados geralmente de
maneiras diferentes daquelas as quais estavam habituadas.
No meio dos objetos culturais, destaca-se a escrita, objeto em geral já inserido no
universo da criança pequena, através de cartazes espalhados pelas ruas, da TV, dizeres
contidos nos invólucros de alimentos, de brinquedos, dentre tantas outras possibilidades. A
escrita ao exercer um papel de destaque em nossa sociedade passa a exigir de todos nós um
interesse no intento de compreender sua função e seu significado.
Olhar e ver as crianças como leitoras e produtoras de textos desde pequenas é
condição necessária para aceitarmos que já possuem esta capacidade e do potencial para
avançar na apropriação não apenas desse objeto do conhecimento, mas também de outras
maneiras de representação/expressão do pensamento, como a pintura, a arte, a música, a dança
etc.
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O objetivo de Goulart (2005) ao falar sobre o que as crianças trazem para os espaços
escolares tem o propósito de refletir sobre o que elas já são aptas a fazer e os textos que são
capazes de criar. No entanto, todas essas leituras e produções das crianças são realizadas com
o auxílio de um mediador, no caso o professor, capaz de fazer as transposições de
“subjetividade”, baseada na simbologia e imaginação, para “objetividade”, ou seja, para a
escrita, decodificação e compreensão do código.
No Brasil, a escola tem um papel fundamental assegurando às crianças desde a
pequena infância, o contato com livros, podendo manuseá-los, se encantar com suas
ilustrações, desvendar de forma prazerosa o universo das letras. Meirelles (2010), afirma que
para inserir a criança pequena no universo da leitura é preciso que o educador garanta o
acesso a várias obras, gêneros e livros literários para promover a aprendizagem e o
desenvolvimento de atitudes e habilidades necessárias para a formação do leitor, e
principalmente, que permita às crianças se envolver pelas histórias sem a preocupação de
“ensinar literatura”.
A literatura é uma atividade de socialização que permite à criança entrar em contato
com o código e suas estruturas. Seu contato deve surgir antes mesmo de se aprender a
decodificação do código. Pela observação do adulto, ao ouvir uma história, ao perceber as
rimas, as crianças passam a se interessar pelo universo das palavras e iniciam o percurso para
tornarem-se leitores literários.
Segundo Britto (2005, p. 18-19)
Na educação infantil, ler com os ouvidos e escrever com a boca (situação em que a
educadora se põe na função de enunciadora ou de escriba) é mais fundamental do
que ler com os olhos e escrever com as próprias mãos. Ao ler com os ouvidos, a
criança [...] aprende a voz escrita, aprende a sintaxe escrita, aprende as palavras
escritas. Somente assim podemos considerar que a alfabetização (ou o letramento) é
uma condição fundamental da educação infantil
Os interesses voltam-se, nesta fase, para histórias curtas e rimas, em livros com
muitas gravuras e pouco texto escrito, que permitem a descoberta do sentido muito
mais através da linguagem visual do que da verbal. Paralelamente, estão presentes as
histórias mais longas, que falam das situações do cotidiano infantil e são lidas ou
contadas pelo adulto.
Concretizando
[...] a estratégia tem em comum com todos os demais procedimentos sua utilidade
para regular a atividade das pessoas, à medida que sua aplicação permite selecionar,
avaliar, persistir ou abandonar determinadas ações para conseguir a meta a que nos
propomos (VALLS, 1990 apud SOLÉ, 1998, p. 69).
Dentre as estratégias a inferência, nos instiga a ler nas entrelinhas, ou seja, utilizar os
conhecimentos prévios, fazendo relações com as dicas que são encontradas no texto, para
chegar a conclusão ou um resultado. Quando o autor não responder as questões realizadas
pelo leitor, ele deve inferir. Por meio das inferências que inicialmente o adulto vai
realizando com a criança, é possível perceber a situação em se encontram diante do texto e
realizar os ajustes na sua intervenção.
Uma outra estratégia é a visualização, usada muitas vezes sem perceber, tal como a
inferência. Souza (2010, p. 85), afirma que:
Na Educação Infantil, essa visualização pode ser melhor explorada com o auxílio das
artes, com a criação de desenhos, personagens, cenários etc, principalmente, por tornar real
aquilo que está escondido em seu imaginário.
A quinta estratégia abordada é a sumarização, responsável pela seleção dos aspectos
mais e menos importantes, pela busca da essência do texto. As ideias importantes são aquelas
que o leitor quer se recordar por conta de sua utilidade e de seu objetivo.
De acordo com Souza (2010, p. 95), “a habilidade de aprender a encontrar a ideia
principal do texto elimina a necessidade das crianças lerem tudo, quando procuram por uma
informação específica”. Além disso, levar o leitor a refletir o que é importante e o que é
interessante, e fazer uma síntese comumente, auxilia a criança a aprender e a construir o
significado do texto.
Sumarizar é uma estratégia que prepara o leitor para a síntese. Assim, a última
estratégia a ser abordada é a síntese, que dentre as atividades é considerada a mais complexa,
por ser o resultado da busca da consonância entre o leitor e o texto. Para Souza (2010, p. 103),
“sintetizar é mais do que resumir. [...] resumir é recontar informação e parafraseá-la. [...]
quando sintetizam, as crianças alcançam um entendimento mais completo do texto”.
Com as crianças pequenas, a síntese também é possível, quando a criança é estimulada
a explicar ou recapitular a história, inicialmente ainda com o auxílio do adulto, mas depois
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sozinha, quando lhe é perguntado o que faria numa situação semelhante, ou mesmo ao pensar
num final diferente para o texto.
Sendo assim, a sumarização e a síntese podem ser considerados como o resultado do
processo de sistematização da leitura, e neste momento a criança compreende.
Para reflexão...
Enfim, as atividades de avaliação das propostas de leitura devem sempre condizer com
os critérios e objetivos propostos pelo professor. O resultado que se espera alcançar é de
acordo com Menin (2010), “a qualidade procurada. Avaliar é ir ao encontro da qualidade” (p.
121).
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Cabe aos professores promover a mediação entre o aluno e o texto, bem como, o
grande desafio de tornar apaixonante o que para muitas pessoas é um caminho difícil e cheio
de obstáculos – a leitura, principalmente por meio do exemplo, de se colocar como um
modelo, apresentando “à criança as técnicas, os “segredos” utilizados [por ele] quando lê e
escreve, de modo que ela possa se apropriar progressivamente dos mesmos” (SOLÉ, 1998, p.
63).
É imprescindível explorar os conhecimentos já adquiridos pelas crianças sobre o texto;
planejar suas práticas considerando essa experiência diversificada para que elas [crianças]
sejam capazes de prosperar, utilizando as estratégias necessárias para alcançar seus objetivos;
fazer presentes durante todos os momentos de exploração e construção da criança,
observando, intervindo, avaliando; tornar-se um dos referenciais de apoio quando surgir
obstáculos; possibilitar à criança desenvolver sua autonomia como um ser leitor.
Considerações finais...
Diante das reflexões estabelecidas, cabe ressaltar não só a presença dessa leitura já na
primeira infância (0 a 5 anos), como principalmente, a importância que ela se apresenta para
essa faixa etária, por contribuir para a construção de sua biblioteca de vida, rica em
experiências e aprendizados, tão útil no começo das séries iniciais.
Afirmar que “as crianças já são leitoras e produtoras de texto”, como afirmou Goulart
(2005), é dizer que as crianças são aptas a interpretar e produzir, por meio da fantasia, do jogo
simbólico.
Ao mesmo tempo, ao se remeter à leitura como técnica de decodificação e
compreensão do texto, pelo domínio ou apropriação do código linguístico, é possível ver
aquelas mesmas crianças, dando seus primeiros passos como pré-leitores, num processo longo
que se inicia. Importante se faz o incentivo à prática de leitura, além do despertar do prazer no
ato de ler. A literatura é um grande aliado neste processo.
As estratégias de leitura vêm mostrar os meios que possibilitam uma sistematização do
aprendizado, o afinar do processo, pela própria criança, ou mesmo pelo auxílio do professor.
Por meio das estratégias realizadas antes, durante e após a leitura, a criança busca aprender a
utilizar os mecanismos que a possibilitarão alcançar a compreensão do texto.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
MEIRELLES, E. Literatura, muito prazer. In: Revista Nova Escola. São Paulo. Agosto,
2010.