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Vitor Tsuyoshi Silva Yoshioka

Licenciatura em Filosofia
Filosofia da Ciência I

Princípio da falseabilidade em Karl Popper.

"Deixe a Natureza lidar com a matéria, que é dela, como ela quiser;
vamos ser alegres e corajosos diante de tudo, refletindo que não é
nada nosso que perece." Sêneca.

I. Introdução

A ideia fundamental deste trabalho encontra-se na investida pela análise ilustra-


dora de uma das principais teses da filosofia da ciência no século XX. Este exame busca
compreender em qual sentido dá-se o principio da falseabilidade de Karl Popper, e de que
forma ela poderia ser aplicada ao ramo da ciência e da filosofia da ciência. Sua contri-
buição foi significativa para debates sobre metodologia científica geral e escolha de teo-
ria, a demarcação da ciência e da pseudociência, a natureza da probabilidade e da mecâ-
nica quântica e a metodologia das ciências sociais.
Entre as atividades frequentemente identificadas como características da ciência
estão observação e experimentação sistemática, raciocínio indutivo e dedutivo, e a for-
mação e teste de hipóteses e teorias. O modo como estas são realizadas em pode variar
bastante, mas características como essas foram vistas como uma maneira de demarcar a
atividade científica.
E é neste ponto que a metodologia de Popper acaba por trazer uma novidade de
relevo, de tal modo que se repensou a maneiras de controle e previsões dos objetos pro-
dutos dos experimentos e do que se entendia como método científico, afinal, como o em-
prego da falseabilidade, algumas teorias até então perfeitamente aceitas começam a ter
sua credibilidade posta em xeque.
O presente trabalho não abordará o contexto histórico no qual Karl Popper estava
inserido, no entanto, é de suma importância mencionar que o ambiente no qual o filósofo
estava inserido (círculo de Viena) 1, e a conjuntura social e política da época,

1
Também foi chamado de “Sociedade Ernst Mach” (Verein Ernst Mach) em homenagem a Ernst
Mach (Stanford Encyclopedia of Philosophy)
1
influenciaram e tiveram papel determinante para toda o elo de sustentação de suas teorias
e sua correspondência com os apetos da realidade material.

II. Síntese teórica do princípio de Falseabilidade em Karl Popper

Se tomarmos o objectivo prima facie tanto da ciência quanto da filosofia, teremos


uma coincidência de conteúdo e substância, uma vez que ambas trabalham com o intuito
de desvendar verdades existentes em nosso universo; para isto utilizam-se de instrumen-
tos próprios para validar ou não os argumentos acerca dos factos da existência.
Considerando que, apesar de terem o mesmo objectivo e, portanto, buscarem com-
preender com rigor a realidade existencial, seus caminhos e linhas de conduta diferem-se
a respeito do modo de como isto será feito, ou seja, dá-se por formas distintas o percurso
de dialética e metodologia investigativa.
É neste ponto que surge a necessidade de criar-se uma linha demarcatória na qual
ofereça um critério claro de separação daquilo que seja uma teoria científica, de tudo
aquilo que não o é, como maneira de não subverter a natureza em que cada doutrina se
encontra fundamentada e precipitada.
Através desta problemática que Karl Popper apresenta sua teoria da falseabili-
dade, que nada mais é do que uma metodologia cuja premissa situa-se na ideia onde teo-
rias cientificas devem ser postas sob escrutínio particular e suas teses confrontadas com
hipóteses negativas, isto é, expostas à possibilidade do contraditório ou da mera inverdade
factual. Para Popper, a viabilidade de uma tese científica segura, passa pela existência da
hipótese de ela ser falsa, caso contrário ela se encontraria em outro campo que não o da
ciência.
Segundo Popper, isto dá-se porque quando estas teorias são observadas à luz da
falseabilidade, os cientistas ganham a possibilidade de replicar suas experiências afim de
manter ou rejeitar sua hipótese inicial, até que seja possível responder todas (ou pelo me-
nos a maioria relevante) das argumentações contrárias, e então haja o máximo de testes e
disponha de um maior arcabouço teorético confiável 2.
Neste sentido a metodologia Popperiana difere-se do sistema de verificabilidade
empírica, na qual a comprovação ou não de uma determinada tese passaria

2
A metodologia de Karl Popper também fora alvo de varias críticas acusando-a de negacionista e relati-
vista; uma vez que, para os críticos, seu uso colocaria o sistema científico em jogo, afinal, toda teoria es-
taria sujeita a negação.

2
obrigatoriamente pela sua atestação empírica, ou seja, a teoria estaria directamente subor-
dinada às evidências aderentes, tal qual uma formatação de nexos causais que liguem o
objeto às hipóteses.

III. Aplicabilidade da metodologia de Karl Popper

Dentro das mais diversas áreas de aplicação da sistemática de Popper, e levando


em consideração que em sua visão as teorias científicas eram muito ou pouco confiáveis,
segundo seu próprio termo “graus de testabilidade” (Popper 1985: 41f.), isto é, considerar
as inúmeras hipóteses ad hoc que sustentariam mais e mais hipóteses, sem que levante
nenhuma possibilidade de confirmação.
Logo, seu universo de aplicação torna-se vasto e diversificado, indo desde teorias
político/sociais, até biológicas/médicas; visto que determinadas afirmações históricas e
empíricas concorrem com factos observáveis e provas materiais, isto é, torna-se possível,
através de seu sistema, por em exames quaisquer que sejam alegações que careçam de
comprovação empírica.
Isto levou Karl Popper à delimitar a atuação de diversos campos investigativos;
questionamentos sobre a impossibilidade de falseamento em teorias como a evolução das
espécies de Charles Darwin, ou a visão histórica científica de Karl Marx, impôs variadas
linhas de cenários onde modificou-se o tratamento e averiguação uma vez empíricas, para
contextuais e de aceitabilidade gradual, isto é, é relevante de acordo com sua probabili-
dade e conhecimento científico à época.
Apesar de sua transversalidade em diferentes áreas de atuação, a centralidade e
prioridade dos problemas na estrutura da ciência de Popper é primordial, e é isso que o
leva a caracterizar os cientistas como "solucionadores de problemas", para além de apenas
“criadores de teorias” ou de sistemas empíricos.
Deste modo, como o cientista começa com problemas e não com observações ou
"factos simples", Popper argumenta que a única técnica lógica que é parte integrante do
método científico é a do teste dedutivo de teorias que não são elas mesmas produto de
qualquer lógica. Neste procedimento dedutivo, as conclusões são inferidas a partir de uma
hipótese experimental. Essas conclusões são então comparadas entre si e com outras de-
clarações relevantes para determinar se elas falsificam ou corroboram a hipótese. Popper

3
enfatiza que essas conclusões não são diretamente comparadas aos fatos, simplesmente
porque não há fatos "puros" disponíveis; todas as declarações de observação são carrega-
das de teoria.
Este processo, segundo Popper, dá-se por 4 etapas muito bem estabelecidas, a sa-
ber: uma etapa formal, onde é verificada a congruência interna que afaste qualquer tipo
de contradição; a etapa semi-formal, que por sua vez considera os elementos axiomáticos
enumerando os argumentos a priori e sistemáticos do empreendimento; a etapa da com-
paração, onde é realizado confrontação de teorias diferentes que contenham a mesma fi-
nalidade científica, considerando graus de aceitabilidade entre as variadas teses; e a última
que submete a conclusão testável, que passe pelo crivo da falseabilidade e também tenha
sua consequência rastreável pela ligação do objecto com a teoria aplicada.

IV. Críticas ao princípio da falseabilidade Popperiana.

O próprio Popper reconheceu que a metodologia da falseabilidade não era, por si


só, suficiente para comprovar ou afastar totalmente um novo modelo cientifico, Popper
reconhece que é impossível para a ciência discriminar da pseudo-ciência, com base na
apenas na falseabilidade; ele reconhece que as teorias científicas são preditivas e, conse-
quentemente, proibitivas, somente quando tomadas em conjunto com hipóteses auxilia-
res, outrossim, reconhece que o reajuste ou modificação dessas últimas é parte integrante
da prática científica.
Portanto, sua preocupação final é delinear condições que indicam quando tal mo-
dificação é genuinamente científica e quando é meramente ad hoc. Isso é claramente uma
alteração importante em sua posição e, sem dúvida, representa uma retração substancial
de sua.
Por outro lado, a mudança na posição básica de Popper é tomada por alguns críti-
cos como um indicador de que o falsificacionismo, por todos os seus méritos aparentes,
não se sai melhor na análise final do que o verificacionismo.
Suas autocríticas foram seguidas por várias objeções de diferentes pensadores
contemporâneos e posteriores. Estas objeções, juntamente com o surgimento de relatos
alternativos do raciocínio científico, levaram muitos filósofos da ciência a rejeitar a me-
todologia falsificacionista de Popper.

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A crítica que talvez tenha sido mais contundente fora manifestada por Thomas
Kuhn que envolveu, sobretudo, uma crítica envolvendo a relação entre teoria e observa-
ção, na qual teorias diferentes podem relatar observações radicalmente diferentes, mesmo
quando ambos estão observando os mesmos fenômenos, isto é, que a própria observação
é fortemente carregada de teoria, no sentido de que o que se observa é frequentemente
afetado pelas crenças teóricas anteriormente mantidas. Neste caso, o ensejo falsificacio-
nista não seria abrangente o suficiente para abarcar a teoria per se já que ela não estaria
pondo em inquirição as demais teoria que dariam sustentação para a presente.

V. Conclusão

Perceber a ideia filosófica detrás de um “simples” método é uma tarefa árdua e de


alcance vertical, é por isso que o conceito de delimitação da ciência até os dias de hoje
permanece sendo um terreno fértil mas ainda sem limites precisos, sabemos que atual-
mente essa problemática encontra-se cada vez mais obscura, uma vez que o modelo uni-
ficador da ciência simplesmente não existe.
Tal dificuldade, em nosso tempo, tem o agravante político e midiático no qual a
ciência se localiza; a velocidade no processo e circulação de informação estão no cimo
da montanha da incerteza que os mais diversos métodos e experimentações nos trazem.
As qualidades dos modelos sugerem que esta rapidez acabou por tornar-se um
empecilho técnico para confirmação e verificação cientifica, de modo que far-se-á im-
prescindível estabelecer progressivamente critérios unificadores e universais, algo que
abarque toda e qualquer nova hipótese.
É a este respeito que a falseabilidade proposta por Karl Popper deve se fazer pre-
sente, dada a brevidade com que a ciência atual desenvolve-se, pouco a pouco as contra-
dições internas e hipóteses ad hoc vão sendo encobertas pela próxima novidade científica,
e que, portanto, acaba por tornar todas suas premissas como verdadeiras mesmo sem a
devida avaliação objectiva, mas tão somente pela sua aplicabilidade e resultados imedia-
tos.
Ter um pensamento falseável é, sobretudo mentalizar possíveis problemáticas no
arranjo lógico/material, para então diminuir as chances de equívoco que são iguais para
todos.

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Esta compreensão contestatória é o propósito da filosofia da ciência como fonte
de ligação entre a substância elementar de uma determinada matéria científica, e o aparato
lógico/metodológico que se percorre para explica-lo; e o pensamento Popperiano tem jus-
tamente este caráter de ponderação, algo que sem dúvida mantém seu papel no topo da
explicação científica moderna.

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Bibliografia

Losee, John. 1998. Introdução Histórica à Filosofia da Ciência. ed. Terramar.

Popper, Karl R.; Hegenberg, Leônidas. 1972. A lógica da pesquisa científica. 2ª ed. Cul-
trix.

Popper, Karl R. 2008. Conjecturas e Refutações. 5ª ed. UNB

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