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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE EDUCAÇÃO
CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA
MODALIDADE A DISTÂNCIA

DELEON SOUTO FREITAS DA SILVA

O USO DO CINEMA NA ESCOLA: a construção de aprendizagens a


partir de filmes

PATOS - PB
2019
DELEON SOUTO FREITAS DA SILVA

O USO DO CINEMA NA ESCOLA: a construção de aprendizagens a


partir de filmes

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à


Coordenação do Curso de Licenciatura em
Pedagogia na Modalidade a Distância, do
Centro de Educação da Universidade Federal da
Paraíba, como requisito institucional para
obtenção do título de Licenciado em Pedagogia.

Orientadora: Profa. Dra. Ana Luisa Nogueira de


Amorim

PATOS - PB
2019
O USO DO CINEMA NA ESCOLA: a construção de aprendizagens a
partir de filmes

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à


Coordenação do Curso de Licenciatura em
Pedagogia na Modalidade a Distância, do
Centro de Educação da Universidade Federal da
Paraíba, como requisito institucional para
obtenção do título de Licenciado em Pedagogia.

Aprovado em: ____/_____/2019

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________________
Profª Drª Ana Luisa Nogueira de Amorim
Orientadora
Universidade Federal da Paraíba - UFPB

_________________________________________________
Profª Drª Nádia Jane de Sousa
Profª Convidada
Universidade Federal da Paraíba - UFPB

_________________________________________________
Profª Drª Fernanda Mendes Cabral A. Coelho
Profª Convidada
Universidade Federal da Paraíba - UFPB
Aos meus pais, por me apoiarem nos estudos. À
minha esposa, Jéssyka, e minha filha, Lavínia,
pelo amor compartilhado, motivando mais essa
aquisição de conhecimento.
AGRADECIMENTOS

Agradeço ao bom Deus, que me deu forças para vencer mais uma batalha.
Agradeço a todos os familiares e amigos, em particular a Everson e Mayara, que foram
parceiros desta jornada.
Aos professores do curso de Pedagogia da UFPB Virtual, por seus conhecimentos
compartilhados.
E aos funcionários do Polo Itaporanga, que me ajudaram a crescer e enfrentar os desafios
impostos nesta jornada.
.
O cinema opera uma espécie de ressureição da visão primitiva do
mundo, permite, tolera e inscreve o fantástico no real.
Edgar Morin (2003, p. 19)
RESUMO

Compreender a construção de saberes envolve perceber a construção do conhecimento a partir


das interações entre o professor, o aluno e o conteúdo. Essa relação perpassa através dos
diálogos, debates, trocas de experiências, conexões com o espaço e com o outro. Nesse caso,
pensar a educação e os problemas a elas ligados é pensar nos sujeitos em construção. Partindo
da relação cinema e educação, buscamos através desta pesquisa analisar o uso de filmes como
ferramentas educativas em sala de aula com professores do Ensino Fundamental [anos iniciais
– 4º e 5º anos], problematizando a construção de aprendizagens a partir de filmes. Para apoiar
teoricamente buscou-se as contribuições de Bernardet (2006), Duarte (2002), Freire (1987;
2005) e Napolitano (2003; 2009), entre outros referenciais. Tratou-se de uma pesquisa
qualitativa, com a participação de 20 professoras, sobre as contribuições do cinema na
construção de saberes. Por fim, através da análise dos resultados, os dados indicam o constante
uso de filme nas escolas e suas contribuições a partir de novos processos de aprendizagem
mediada.

Palavras-chave: Cinema. Educação. Aprendizagens. Ferramentas Educativas.


ABSTRACT
Understanding the construction of knowledge involves perceiving the construction of
knowledge from the interactions between the teacher, the student and the content. This
relationship permeates through dialogues, debates, exchanges of experiences, connections with
space and with the other. In this case, thinking about education and the problems connected to
them is thinking about the subjects under construction. From the relationship between cinema
and education, we seek to analyze the use of films as educational tools in the classroom with
elementary school teachers [early years - 4th and 5th years], and to study the construction of
learning from films. To support theoretically, we sought the contributions of Bernardet (2006),
Duarte (2002), Freire (1987; 2005) and Napolitano (2003; 2009), among other references. It
was a qualitative research, with the participation of 20 teachers, about the contributions of
cinema in the construction and mediation of knowledge. Finally, through the analysis of the
results, the data indicate the constant use of film in schools and their contributions from new
processes of mediated learning.

Keywords: Cinema. Education. Learning. Educational Tools.


SUMÁRIO

1 CAMINHOS INICIAIS DA PESQUISA …………………...……………………… 11

2 A LINGUAGEM CINEMATOGRÁFICA ………………………………………… 14

2.1 A IDENTIFICAÇÃO COM O FILME ……………………………………………... 17

2.2 A PEDAGOGIA DO CINEMA …………………………………………………….. 19

2.3 O CINEMA NA ESCOLA ………………………………………………………… 23

3. PERCURSO METODOLÓGICO ……………………………………………….… 25

4. ANÁLISE DOS RESULTADOS ………………………………………………...… 27

4.1 A CONSTRUÇÃO DE SABERES A PARTIR DE FILMES ……………………. 30

4.2 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE OS DADOS DA PESQUISA ………… 34

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ……………………………………………………… 36

REFERÊNCIAS ………………………………………………..……………………… 38

APÊNDICES 40

ANEXOS 43
ÍNDICES DE GRÁFICOS E QUADROS

Gráfico 01 Utilização de filmes em sala de aula pelos participantes da pesquisa 28


Gráfico 02 Critérios de escolha para utilização de filmes em sala de aula pelos 29
participantes da pesquisa
Gráfico 03 Uso de filmes utilizados em sala de aula podem contribuir para a 30
formação do aluno
Quadro 01 Experiências com o cinema em sala de aula 33
11

1. CAMINHOS INICIAIS DA PESQUISA

Ensinar através de filmes é ir além da transferência de conhecimento. Usar o filme na


sala de aula exige rigor metodológico, pesquisa, respeito pelos contextos e as linguagens que
deverão ser trabalhadas para a construção dos saberes dos educandos. Ensinar com o cinema
exige criticidade, curiosidade como uma inquietação indagadora, exige coerência entre a
história do filme e as suas expectativas, inclusive, a aceitação ou rejeição que acontece pela
intermediação.
O cinema pode interferir em diferentes contextos do espectador, diante das
necessidades apontadas, julga-se necessário refletir ainda mais sobre os mecanismos de
preservação e promoção da diversidade cultural no espaço escolar. Assim, o que devemos
buscar quando nos propomos a trabalhar outra linguagem que não seja a escrita, com a qual a
escola está acostumada, é verificar sua validade e eficácia, é perceber como os cineastas
imprimem seus pontos de vistas nas histórias que narram.
Pierre Bourdieu (2007) afirma o cinema como responsável para o que chamamos de
“competência para ver”. O mundo do cinema é um espaço privilegiado de produção de
sociabilidade, uma prática social importante que atua na formação geral das pessoas. Por isso,
devemos pensar a educação como um processo de socialização.
Compreender o processo de produção do cinema nos faz entender que a transmissão e
produção de saberes não é um papel exclusivo da escola, mas que também acontece em outras
instâncias.

Muitas são as áreas de atenção destacadas pelos professores ao se trabalhar


uma linguagem não-escolarizada: a motivação do aluno para o assunto tratado,
o incentivo à discussão e ao comentário, o auxílio na produção de textos
escritos, a possibilidade de se estabelecer comparações textuais e conhecer
melhor outras linguagens (CITELLI, 2000, p. 96).

A partir do momento em que estamos expostos a um universo cheio de linguagens


diversas, temos que nos preparar para entender criticamente o que ele nos oferece. O cinema se
ajusta neste processo como um trabalho pedagógico que busca a interação e o aperfeiçoamento
do aluno na leitura de novos códigos, nos preparando para interpretar, produzir e reproduzir
conhecimentos.
O cinema como meio simbólico leva as pessoas a seduzirem pelas imagens em
movimento que propõem retratar a vida. Está aí a riqueza da linguagem cinematográfica, que
12

conquista cada vez mais pesquisadores que reconhecem os filmes como fonte de investigação
de problemas de grande interesse para os meios educacionais.

O segredo, o mistério, os não-ditos atiçam nossa curiosidade, mobilizam nossa


curiosidade, mobilizam nossos desejos sobre esses ídolos que aprendemos a
cultivar, desde a primeira vez que entramos numa sala de cinema. Queremos
ser como eles, ao mesmo tempo, nos afastamos deles, pois sabemos, de
antemão que a tela imaginaria jamais se converterá na tela real em que se
movem as ações cotidianas. É esse processo de identificação-diferenciação
que o cinema nos proporciona (GALENO et al., 2008, p. 138).

O cinema é uma ferramenta importante para o desenvolvimento da aprendizagem,


proporcionando aos estudantes o processo de experimentação, descobertas e invenções.
Ampliar estas nossas capacidades é um dos desafios que o cinema vem nos colocar.
Portanto, tomando por base a relação cinema e educação, enquanto estudante de
Pedagogia, Jornalista profissional e produtor de filmes, traremos nesta pesquisa uma discussão
sobre a pluralidade do cinema enquanto ferramenta pedagógica no âmbito educacional.
Tomando por base a relação cinema e educação, esta pesquisa busca analisar o uso de filmes
como ferramentas educativas em sala de aula com professores do Ensino Fundamental [anos
iniciais – 4º e 5º anos]. Propomos uma discussão sobre este processo, além de compreender a
pluralidade destas ações mediante uma análise discursiva.
Para o desenvolvimento desta pesquisa, durante a revisão de literatura, aprofundamos
os estudos através de artigos, dissertações e teses publicadas sobre a construção de saberes,
apoiados nas teorias de Bernardet (2006), Duarte (2002), Freire (1987; 2005) e Napolitano
(2003; 2009), entre outros.
À luz das referências desta pesquisa, sabe-se que uma obra cinematográfica, além de
poder ser lida e analisada, pode retratar eixos temáticos, questões ou problemas como referência
para a interpretação de significações que emergem das diferentes estruturas narrativas. Deste
modo, devemos compreender nesse contexto que a escola deve viabilizar a construção dos
saberes, ao passo que:

ensinar não é transferir a inteligência do objeto ao educando, mas instigá-lo


no sentido de que, como sujeito cognoscente, se torne capaz de inteligir e
comunicar o inteligido. É nesse sentido que se impõe a mim escutar o
educando em suas dúvidas, em seus receios, em sua incompetência provisória.
E ao escutá-lo, aprendo a falar com ele (FREIRE, 2005, p. 119).
13

Para tanto, buscou-se nesta análise, como objetivo geral, compreender os discursos
apontados pelos professores envolvidos, analisando como pode ser possível trabalhar o cinema
pedagogicamente através de um diálogo com o filme. Buscamos ainda como objetivos
específicos: investigar os caminhos para o uso do cinema na formação geral da criança; identificar
quais as metodologias e abordagens adotadas pelos professores no uso de filmes; e verificar
como as produções cinematográficas estão sendo utilizadas nas escolas.
Por fim, o problema que sustentou esta investigação, possibilitando um
aprofundamento e motivando um estudo detalhado sobre o assunto, foi: Como os professores
realizam o ensino a partir da exibição de filmes?
A pesquisa está dividida em três partes, além das considerações finais. No primeiro
capítulo apresentamos a fundamentação teórica, com conceitos e referências sobre o tema da
pesquisa. Na segunda parte traçamos o percurso metodológico apontando como foi estabelecido
o desenho da pesquisa, etapas e tratamento dos dados. No terceiro capítulo dispomos da análise
dos resultados, construída a partir dos dados coletados e das teorias contextualizadas na
pesquisa.
Este trabalho foi elaborado seguindo as normas da Associação Brasileira de Normas
Técnicas (ABNT) atualmente em vigor.
14

2. A LINGUAGEM CINEMATOGRÁFICA

Desde que surgiu, o cinema é compreendido como uma arte. Sua capacidade de
encantar e reproduzir algo muito além da realidade possibilitou a construção de uma linguagem
feita a partir de narrativas imagéticas. Martin (2005, p. 23) define a linguagem cinematográfica
como "sistema de signos destinados à comunicação".
Aumont (2009, p. 175) pontua:

Qualquer filme supõe, igualmente, uma composição e uma organização; as


duas atividades absolutamente não implicam o alinhamento em estruturas
convencionais. A importância do cinema provém precisamente do fato de ele
sugerir com insistência a ideia de uma linguagem de um novo tipo, diferente
da linguagem verbal.

E o que distingue tal linguagem de outras é a possibilidade que sua expressão acontece
a partir da reprodução das imagens, potencializada em suas múltiplas significações. Sua
característica essencial é a universalidade, como observa Martin (2005, p. 278): "aplicado ao
cinema, o conceito de linguagem é bastante ambíguo. É preciso ver nele aquilo que chamei o
arsenal gramatical e linguístico, essencialmente vinculado à técnica dos diversos procedimentos
de expressão fílmica".
A definição de cinema não deve ser feita numa perspectiva simplista ou reducionista
do termo. Há um conglomerado de situações e nuances que constroem o significado do cinema.
Essa ideia está retratada na obra de Bernardet (2006), o autor afirma que o cinema se configura
como um complexo ritual, formado por mil elementos diferentes, entre esses elementos podem
ser destacados o gosto dos espectadores, a publicidade, as empresas que investem dinheiro nas
produções cinematográficas, os donos de salas, os exibidores, a censura e as traduções dos
filmes estrangeiros.
Se for visualizado sob o olhar de todos esses fatores que o compõem, o cinema é, de
acordo com Bernardet (2006), complexo. Mas, se visto numa perspectiva dos espectadores o
cinema é apenas uma história que se pode ver na tela e da qual se pode gostar ou não, e cujas
cenas podem provocar as mais diversas emoções ou não.
De acordo com Mendonça (2007), a definição de cinema vai além de uma conceituação
puramente artística, pois na sua definição estão envoltos um aparato técnico e um saber artístico.
Inúmeras nuances e fatores estão envolvidos na definição, mas vale ressaltar que é impossível
achar um percentual definitivo, uma medida única que seja por si garantia da interpretação.
15

A definição de cinema perpassa a capacidade comunicativa que essa arte é capaz de


produzir. De acordo com Apolinário (2012), o cinema tem o papel de linguagem, que estimula
diversas possibilidades de interpretação e representações, apoiadas na sensibilidade de cada
indivíduo que se propõem a tentar entender as nuances presentes na “Sétima Arte 1” e as tantas
possibilidades inerentes a ela, envoltas nos mais diversos enredos, temas, tempo e espaço.
Mais do que um divertimento, o cinema se consolidou ao longo do tempo como uma
indústria que movimenta o mercado e a economia pelo mundo. Essa perspectiva é abordada por
Michel (2011) quando afirma que a indústria cinematográfica está ligada estreitamente na
economia e na cultura mundial. O produto final deste setor é uma obra audiovisual, é um
produto cultural que envolve diversas atividades produtivas em sua constituição. Mas, há que
se destacar um aspecto importante nesse contexto, questão discutida pelo mesmo autor, quando
destaca que

uma obra cinematográfica é toda a obra audiovisual cujo destino seja


principalmente a exploração via mercado através da exibição cinematográfica.
Entretanto, deve-se salientar que nem toda obra cinematográfica tem como
objetivo a exploração via mercado. Existem filmes que não chegam às salas
de exibição, e também aqueles que apresentam distribuição e exibição
gratuitas (MICHEL, 2011, p. 31).

Ao falar do cinema como uma indústria, Michel (2011, p. 31) se remete nessa análise às
indústrias fabris tradicionais formadas por cadeias produtivas que se inter-relacionam para gerar
seu produto final ao logo de etapas interdependentes.

1A expressão Sétima Arte foi criada pelo italiano Ricciotto Canudo, em 1912, por considerar a arte cinematográfica a síntese
das outras seis artes: arquitetura, música, pintura, escultura, poesia e dança.
16

Figura 01: Cadeia produtiva da Indústria cinematográfica

FONTE: Michel (2011, p. 31).

As empresas produtoras são as responsáveis diretas pelo filme, sob sua incumbência
estão: a iniciativa da produção, elaboração de roteiro, definição de atores e outros profissionais
e execução da produção, que pode envolver também a etapa de captação de recursos a depender
da característica do filme. Outra etapa está sob a responsabilidade das empresas de
infraestrutura que fazem um papel de apoio estrutural, são especializadas na fabricação de
equipamentos necessários à produção do cinema, além de sua locação. Na etapa seguinte está a
distribuição do filme, as empresas distribuidoras são responsáveis pelo elo entre a empresa
produtora e as diferentes janelas de exibição, quais sejam: exibição em salas comerciais de
cinema, DVD para locação, DVD para compra, ou consumo em geral; essas empresas de
distribuição conduzem os filmes às empresas que serão responsáveis pela exibição do filme ao
grande público. Destaca-se, ainda, o home-vídeo que se refere às atividades que possibilitam o
consumo de filmes em ambientes domésticos, é o caso das redes de televisão aberta e fechada
e DVD.
Numa análise mercadológica Matta (2004, p. 74) afirma que “a lógica de competição
na indústria do cinema, ditada por economias de escala de grandes distribuidoras, está centrada
na luta frequente por controlar e minimizar as incertezas da demanda”. Na perspectiva
financeira, um novo filme significa um produto feito sob condições específicas e requer
contratações de mão de obra e serviços especializados. Portanto, “trata-se da produção de um
protótipo, cujos investimentos possuem caráter único e de alto risco, mas que também podem
17

proporcionar grande retorno” (MATTA, 2004, p. 75). É nessa lógica que se percebe que muitos
fatores e interesses estão envolvidos em uma produção cinematográfica e muitas vezes esses
irão ditar os rumos da indústria cinematográfica de modo geral.

2.1 A IDENTIFICAÇÃO COM O FILME

Identificar-se nada mais é do que uma situação de correlação, onde o indivíduo se sente
pertencente ou incluído em determinada situação. Essa reflexão se dá a partir da definição posta
por Ferreira (2016) quando afirma que esse termo pode ser explicado como sendo a capacidade
de absorver algo em si; de conformar-se ou de provar ou reconhecer a identidade de determinada
coisa. Assim um sujeito se identifica com um filme quando se reconhece de alguma forma na
história contada.

O que percebo no cinema não é apenas o que vejo, não é apenas o que me é
mostrado no recorte do quadro, através da mediação da câmera. A minha
percepção depende fundamentalmente do que eu adivinho na percepção do
outro, do que eu suponho que o outro vê (ou não) e do que eu suponho que o
outro sabe (ou não) que eu vejo. O mesmo campo escópico que constitui o
sujeito é também o local onde o sujeito fracassa como fonte originária, como
foco, como ‘ponto de vista’, porque, malgrado esteja no ponto privilegiado de
vidência, ele não é o único vidente da cena. [...] O vidente e o visível
funcionam em relação ao olhar como o avesso e o direto. Um não existe sem
o outro, um não é senão a reversão, o desdobramento do outro, como os corpos
que se acariciam se invadem um ao outro, se contaminam e se confundem num
quiasma. (MACHADO, 2007, p. 97)

De acordo com Aumont (2009) a identificação tem um papel importante na formação


imaginária do eu, e esse entendimento tem origem e destaque nos estudos realizados na área de
psicanálise. Segundo o autor, “na teoria psicanalítica, o conceito de identificação ocupa um
lugar central, e isso desde a elaboração por Sigmund Freud da segunda teoria do aparelho
psíquico, em 1923, na qual ele situa o id, o ego e o superego” (AUMONT, 2009, p. 244).
Em linhas gerais,

longe de ser um mecanismo psicológico entre outros, a identificação é, ao


mesmo tempo mecanismo de base da constituição imaginária do eu (função
fundadora) e o núcleo, o protótipo, de um certo número de instâncias e de
processos psicológicos posteriores pelos quais o eu, uma vez constituído vai
continuar a diferenciar-se (função matricial) (AUMONT, 2009, p. 244).
18

Aumont (2009) ainda expõe que para a psicanálise e particularmente nas abordagens
estudadas por Freud, existe a identificação direta, chamada de identificação primária e a
secundária.
Na identificação primária o sujeito estaria num estado indiferenciado, o eu e o outro
são vistos como um só, não há a percepção de que são seres independentes. Avançando ainda
nessa fase há o que se chama de ‘fase do espelho’ o indivíduo percebe que pode existir uma
relação dual entre o seu eu e o outro, e está relacionada à formação imaginária da criança.
A identificação secundária refere-se amplamente ao complexo de Édipo, há um
rompimento radical, uma substituição das relações com o pai e com a mãe numa estrutura
triangular, onde o indivíduo pode imprimir sua marca.

O ideal do eu, por exemplo, vai continuar a construir-se e evoluir por


identificação com modelos muito diversos e até parcialmente contraditórios,
encontrados pelo sujeito tanto em sua experiência real quanto em sua vida
cultural. O conjunto dessas identificações, de origem heterogênea, não forma
um sistema de relações coerente, mas antes pareceria com uma justaposição
de ideias diversas mais compatíveis entre si (AUMONT, 2009, p. 252).

Numa análise geral sobre a identificação, pode-se entender que esta é uma das chaves
da legibilidade do filme, pois uma obra cinematográfica é um sistema maleável de trocas no
qual todos os olhos que assistem a um filme incluindo os dos espectadores, se conectam com a
história contada de acordo com sua percepção e conhecimentos prévios. Cada filme permite
uma leitura segundo um modo de agenciamento que pode ser fechado ou aberto, centralizado
ou múltiplo (MACHADO, 2007).

Assim, o processo que chamamos de ‘identificação’, uma das chaves da


legibilidade (inteligibilidade) do filme, nunca deve ser pensado como um
monólito, mas como um sistema maleável (embora consistente) de trocas
provisórias, em que os vários olhos do filme (entre os quais o do espectador)
se substituem segundo um modo de agenciamento que pode ser fechado ou
aberto, ‘centralizado’ ou múltiplo, de acordo com cada filme. Habitar o texto
fílmico como um ‘leitor’ é se dividir para ocupar muitos lugares ao mesmo
tempo e experimentar o outro como uma entidade móvel e escorregadia
(MACHADO, 2007, p. 99).

A identificação no cinema ocorre quando o sujeito se reconhece naquilo que ele não
está, no espaço que ele figura como um excluído. Ele se posiciona como se estivesse numa
segunda tela, dando sentido e se projetando ao corpo simbólico. O espectador acaba se
projetando através do olho da câmera, tem a impressão de ser ele mesmo o sujeito que agencia
os planos na cena, transferindo às personagens o agenciamento no filme.
19

2.2 A PEDAGOGIA DO CINEMA

O cinema tem, ao mesmo tempo, o poder de registrar o presente e contar histórias de


diferentes formas. Sua dimensão se dá como importância histórica, como testemunho do
presente e do passado, numa construção de memórias, das visões de mundo, das identidades e
das ideologias.
Duarte (2002, p. 90) enfatiza que “o cinema é um instrumento preciso, por exemplo,
para ensinar respeito aos valores, crenças e visões de mundo que orientam as práticas dos
diferentes grupos sociais que integram as sociedades complexas”. A autora ainda aponta que
em “sociedades audiovisuais” como a nossa, o acesso ao cinema e, indo mais além, o domínio
da linguagem cinematográfica nas suas singularidades, pode auxiliar e enriquecer a
compreensão do corpo e sua educação na escola. E se compreendermos a educação imersa numa
sociedade audiovisual, a interpretação filmística e sua apropriação adquirem relevância dentre
os saberes escolares.
Duarte (2002, p. 17) diagnostica que os meios educacionais ainda veem o audiovisual
como mero complemento de atividade verdadeiramente educativa, como um recurso secundário
em relação ao processo educacional. Se admitirmos que a relação com os filmes participa de
modo significativo da formação geral das pessoas, compreenderemos na pedagogia do cinema
as estratégias e recursos utilizados para seduzir um grande número de pessoas, sobretudo
jovens.
Neste contexto, é possível observar que a educação necessita de mudança profunda em
todos os seus aspectos. Correlacionando todas as questões apontadas, o processo educativo
atual, debatido há décadas, traz como referência uma constante insistência dos educadores em
trabalhar uma concepção de educação formatada e conteudista, através do discurso de alienação
do sucesso profissional. E mais, uma imposição de uma educação distanciada do real,
despreocupada com o social e seus problemas atuais.
As mudanças sociais e educativas necessitam ser reinventadas, abandonado os
modelos ‘tradicionais’ e partindo para novas transformações. No entanto, é preciso questionar
que mudanças queremos e que resultados alcançaremos. E, ainda, entender como promover a
construção em que as pessoas evoluam individual e coletivamente, determinando uma
involução progressiva entre as relações sociais e a subjetividade humana.
20

Para tanto, cabe ao espaço escolar, e para todos que o constituem, definir estratégias e
objetivos focados na formação do cidadão, repensando teorias e modelos, desenvolvendo
metodologias para o contexto das escolas, de maneira que se mudem as formas de aprender.
Nesse sentido, o cinema tem o poder de atuar diretamente como agente de socialização,
educando e formando o indivíduo no âmbito cultural, social e político. Ela é parte integrante e
fundamental dos processos de produção e circulação de significados e sentidos, os quais, por
sua vez, estão relacionados a modos de ser, modos de pensar, a modos de conhecer o mundo,
de se relacionar com a vida.

o cinema constitui-se em uma matriz social singular de percepção, elaboração


e transmissão de saberes e fazeres, possibilitando distintas formas de
apreensão, compreensão e representação do mundo. Nesses termos, enquanto
uma modalidade integrante do conhecimento humano, o cinema orienta e
explica percursos individuais e grupais formados em ambiências em que a
imagem em movimento constitui e possibilita aprendizados que passam a
compor o estoque de experiências da sociedade (SILVA, 2010, p. 161-162).

A mudança na educação, em função da chegada das novas tecnologias do


conhecimento, nos remete à necessidade de estudar a relação entre comunicação e educação de
modo interdisciplinar.

A tarefa primordial da escola, tendo em vista o trabalho com o material da TV,


será o de pensar o grau de miadibilidade das suas diversas clientelas e dos
indivíduos e grupos sociais envolvidos no trabalho escolar, bem como as
diversas formas de recepção dos conteúdos veiculados pela mídia. É preciso
pensar a influência da mídia em nossas vidas, reconhecendo não só suas
características escapistas, alienantes ou conformistas, como aprendendo suas
diversas facetas e os resultados de sua influência sobre a sociedade.
(NAPOLITANO, 2003, p. 12).

A função da escola, nesse sentido, é ajudar a população como assimilar e participar de


todas as demandas existentes. E a escola pode influenciar nesse processo estabelecendo
atributos que possibilitem ao aluno a estar apto a enfrentar os desafios de um mundo onde a
informação e o conhecimento são cada vez mais importantes, possibilitando a compreensão de
seus processos e suas influências na vida da sociedade.
O fato é que, mais do que diversão, o cinema deve ser parte do cotidiano de
professores, pais e alunos, pois costumeiramente já habita a intimidade das residências através
da televisão e bem como no acesso à Internet. São nesses pontos que a escola deverá traçar seus
questionamentos. Mergulhar nesse universo das diferentes formas e estratégias de produção,
21

veiculação e recepção de conhecimento é participar de uma investigação permanente sobre os


processos educativos. Mais ainda,

Mergulhar no universo da produção de significações implica mergulhar


também no estudo e compreensão de lutas sociais e políticas muito
específicas, relacionadas à afirmação de identidades e diferença, bem como
ao complexo cruzamento entre o político e o psicólogo, entre o social e o
individual (FISCHER, 2003, p. 24).

Para Saviani (1991), cabe à escola, como mediadora entre a sociedade e a educação,
agir no sentido de transformação dela mesma, possibilitando ao povo lutar contra a seletividade,
a discriminação, o rebaixamento e a marginalidade. O autor propõe uma educação de qualidade
a serviço do desenvolvimento da cidadania, como elemento importante e decisivo no processo
de democratização e transformação social.
Propõe, ainda, que a prática pedagógica desvele a realidade, “levando em conta os
interesses dos alunos, os ritmos de aprendizagem e o desenvolvimento psicológico, mas sem
perder de vista a sistematização dos conhecimentos, sua ordenação e gradação” (SAVIANI,
1991, p. 79).
Desde que surgiu, o cinema trata do registro da realidade, transformando a forma como
olhamos para o mundo. Em sua pedagogia, nos ensina maneiras de interpretar e compreender a
sociedade, influenciando nossas escolhas e hábitos. Para Duarte (2002, p.17), “ver filmes, é
uma prática social tão importante, do ponto de vista da formação cultural e educacional das
pessoas, quanto à leitura de obras literárias, filosóficas, sociológicas e tantas mais”.
O cinema expõe, a todo o momento, imagens que, de certa forma, se apropriam de
nossas angústias e desejos, às vezes com tal intensidade que confundem os sentidos que cada
um de nós daria a essas mesmas angústias e desejos. E é essa separação entre a vida real e a
ficção que parece cada vez mais diluir-se. Como aponta Fischer (2003, p. 20), “uma invade a
outra e novos problemas são criados”.

A escola e o professor devem saber identificar tais recursos, quais as


implicações psicopedagógicas no receptor, em que gênero de programa
determinado conteúdo está sendo veiculado, se o conteúdo escolar está sendo
revestido por uma mensagem ideológica mais precisa ou não.
(NAPOLITANO, 2003, p. 21)
22

Estudar a partir do cinema significa atentar para uma pluralidade de variáveis em jogo.
Haverá tantas e tão mais complexas leituras ou entendimento de seu repertório de informações
sobre o tema e sobre a própria experiência.
E talvez nesse contexto compreendamos nosso imenso desejo de ver filmes, é que na
tela eles representam a nós mesmos, aos nossos desejos, sonhos e vontades. Aprender a fruir
imagens e imaginações, ao mesmo tempo em que aprender a responder questões que definam a
linguagem desses produtos, em seus detalhes, em suas mínimas escolhas estéticas de uso das
imagens, dos sons, da música, dos planos, dos diálogos, dos tempos.
Quando o cinema se torna uma prática frequente no espaço escolar – em qualquer nível
– é possível que professores e alunos se deem conta de como assumem relevância certos temas
na sociedade, na medida em que se tornam públicos. “No ato de ver e assimilar um filme, o
público transforma-o, interpreta-o, em função de suas vivências, inquietações, aspirações”
(BERNARDET, 2006, p. 80).
É importante salientar o quão necessário é desempenhar funções pedagógicas com
cinema no processo ensino-aprendizagem, tais como motivar, contextualizar, aprofundar,
diversificar pontos de vista, questionar e discutir, auxiliar a compreensão de processos e
conceitos. “Os professores precisam aprender a usar essa ferramenta importantíssima, revendo
sua sensibilidade e sua preparação, para que, de fato o vídeo se torne educativo”
(NAPOLITANO, 2003, p. 58).
Pensar o cinema no âmbito da escola faz-se necessário compreender como um espaço
para obter conhecimentos e informações, podendo ensinar, vender ideias e produtos, convencer,
sensibilizar, convocar, ou mesmo, simplesmente para se distrair. Fischer (2003) afirma que a
linguagem se funde exatamente na dispersão do telespectador e busca em todas as formas
responder a ela, de modo especial pesquisando ritmos, selecionando sons, atores, personagens,
produzindo imagens e diálogos, a fim de capturar atenções e emoções.
Abre-se, então, uma discussão sobre as escolhas feitas, e essas escolhas
inevitavelmente envolvem valores, posições políticas, éticas, estéticas. Falar da imagem do
outro é também falar da imagem do corpo do outro. E talvez nesse contexto, como aponta
Fischer (2003, p. 62), compreenderemos nosso imenso desejo de ver a intimidade do outro, é
que ela “representa” a nós mesmos, aos nossos desejos, sonhos e vontades.
23

2.3 O CINEMA NA ESCOLA

Muito mais que lazer ou divertimento, a sétima arte deve ser compreendida como
instrumento de divulgação de ideologias, formas de pensar, modos de agir. Se usada
corretamente, serve como fonte de cultura e informação, como importante instrumento de
formação.
Segundo Napolitano (2009, p. 20),

O trabalho com o filme, visto como documento cultural em si, é mais


adequado para projetos especiais com cinema, visando à ampliação da
experiência cultural e estética dos alunos […]. Este é um dos importantes
papéis que a escola pública pode ter, pois, muitas vezes, será a única chance
de o aluno tomar contato com uma obra cinematográfica acompanhada de
reflexão sistemática e de comentários, visando à ampliação do seu repertório
cultural […] e estético.

Tendo sua potencialidade educacional compreendida, o cinema será visto como fonte
de conhecimento. Muito mais que um espetáculo de diversão, a escola pode utilizar como um
recurso didático, “para ilustrar, de forma lúdica e atraente, o saber que acreditamos estar contido
em fontes mais confiáveis” (DUARTE, 2002, p. 87).
Mas, afinal, como o cinema pode formar? Dentro do contexto escolar, por exemplo,
um filme atua na formação da personalidade, contribui para o desenvolvimento racional, amplia
novos olhares por meio da exploração de histórias do cotidiano, possibilitando reflexões de
atitudes e valores de cidadania.
Napolitano (2009, p. 11) argumenta que “trabalhar com o cinema (filme) na sala de
aula é ajudar a escola a reencontrar a cultura ao mesmo tempo cotidiana e elevada”. No processo
ensino-aprendizagem a leitura é imprescindível. O educador, portanto, é o caminho que
conduzirá meios na criação do hábito de ler. Portanto, se é possível fazermos leituras fílmicas,
é importante que a escola prepare seus alunos para que ele seja capaz de entender a linguagem
audiovisual e seus significados.
Para usar o cinema dentro da escola, os professores precisam trabalhar filmes que deem
suporte aos temas abordados nas disciplinas curriculares, ampliando o olhar dos alunos. Dentro
das inúmeras possibilidades dessa ferramenta pedagógica vários eixos temáticos poderão ser
trabalhados, como discussões psicológicas, teológicas, sociológicas, filosóficas, históricas,
políticas, econômicas ou culturais.
24

Esta abordagem pode ser mais adequada no trabalho com os Temas


Transversais: cidadania, meio ambiente, sexualidade, diversidade cultural etc.
Em princípio, todos os filmes – ‘comerciais’ ou ‘artísticos’, ficcionais ou
documentais – são veículos de valores, conceitos e atitudes tratados nos Temas
Transversais, com possibilidade de ir além deste enfoque. Neste sentido, o
cinema é um ótimo recurso para discuti-los (NAPOLITANO, 2009, p. 20).

O filme como complemento da aula possibilita discussões e debates, através de


questões propostas pelo professor, facilitando a prática reflexiva.

O fato de ser tratado como um texto gerador não isenta o professor de


problematizar o tratamento – estético e ideológico – que o filme desenvolve
sobre os temas a serem debatidos. Os filmes, como qualquer obra de arte,
comunicam e perturbam o espectador mais pela maneira, pela forma como os
temas são desenvolvidos, do que pelos temas em si. Por isso, os vários
aspectos da linguagem não devem ser menosprezados: os ângulos e
enquadramentos da câmera, o tipo de interpretação imprimida pelos atores, a
montagem dos planos e sequencias, a fotografia (texturas e cores da imagem
que vemos na tela), enfim, a narrativa que conduz a trama (NAPOLITANO,
2009, p. 20).

Trevizan (2002) também argumenta sobre a leitura dialógica do conteúdo e da


linguagem dos filmes:

Na recepção de um texto fílmico, por exemplo, o espectador deve preocupar-


se com a descoberta da criatividade na produção interna do filme, ou seja,
deve voltar-se para a tarefa de identificação da perfeita correspondência
estabelecida entre a linguagem construída e a informação e/ou história
transmitida. Para tanto, é preciso atenção especial do espectador não só para
os fatos contados, mas sim para os processos estratégicos (do criador) de
seleção e combinação de determinados signos (verbalizações, sons, objetos,
cores, formas, movimentos, gestos e etc.) na montagem do filme (2002, p.
105).

Como se expõe, é importante que o aluno compreenda o sentido e o tema do filme.


Que ele possa desconstruir a narrativa fílmica, com seus múltiplos personagens e situações-
chave. Que ele possa perceber determinadas experiências culturais, associadas a uma certa
maneira de ver filmes, interagindo na produção de saberes, identidades, crenças e visões de um
grande contingente de atores sociais.
25

3. PERCURSO METODOLÓGICO

A relação entre educação e cinema no Brasil trata-se de um estudo recente e complexo.


Nesta pesquisa buscamos compreender esse campo de estudo, trilhando um caminho alinhando
as ideias defendidas pelos principais autores e as respostas coletadas junto aos sujeitos desta
pesquisa.

3.1 TIPO DA PESQUISA

Este trabalho foi organizado a partir de uma pesquisa exploratória, realizada tomando
por base uma abordagem qualitativa, tendo em vista a possibilidade de melhor análise e maio
profundidade das informações coletadas.
Para melhor compreensão deste processo, realizou-se, durante a análise dos dados,
abordagem na qual se evidenciou as etapas e encaminhamentos na pesquisa qualitativa. Laville
e Dionne (1999, p. 214) explicam que a finalidade deste procedimento de pesquisa é permitir
ao pesquisador possibilitar o desenvolvimento da análise e da interpretação em função das suas
questões e hipóteses.
Nesse sentido, construímos uma análise descritiva, a partir da análise de dados
coletados através de um questionário impresso com perguntas direcionadas a professores do
ensino fundamental, anos iniciais [4º e 5º anos], com o propósito de gerar reflexão crítica nos
sujeitos envolvidos, contribuindo, assim, para a dimensão pedagógica do cinema como
ferramenta educacional.

3.2 SUJEITOS

Os sujeitos desta pesquisa foram 20 professores, do sexo feminino, com atuação nos
anos iniciais [4º e 5º anos] do ensino fundamental em diferentes escolas municipais na cidade
de Patos/PB. Neste trabalho, para manter o sigilo de suas identidades, foram identificadas de
Participantes de 1 a 20.

3.3 INSTRUMENTOS DE PESQUISA

Para dar conta da pesquisa, foi feito um levantamento de referências bibliográficas que
direcionou a construção do estudo. O questionário, composto de dez questões, foi elaborado de
26

acordo com os objetivos mencionados: pesquisar as contribuições do cinema na construção e


na construção de saberes. As perguntas contemplam os aspectos relacionados à caracterização
de como as produções cinematográficas brasileiras estão sendo utilizadas nas escolas.

3.4 TRATAMENTO DOS DADOS

Para atender aos objetivos da pesquisa, organizou-se o estudo em duas partes


complementares: o estudo teórico e o levantamento de dados. A primeira consistiu numa
pesquisa referencial dos assuntos abordados nesta investigação, que serviram para a
compreensão da problemática e os percursos de desenvolvimento do projeto. A segunda etapa
consistiu na investigação prática, através da aplicação de questionários junto aos sujeitos da
pesquisa.
27

4. ANÁLISE DOS RESULTADOS

Partindo da análise dos dados coletados, tem-se uma compreensão das percepções
correspondentes dos participantes envolvidos, nos aspectos do objeto desta pesquisa, que
relacionam a aprendizagem ao uso do cinema em sala de aula. Foi estabelecida a relação que
contempla o aprofundamento sobre a utilização do cinema, enquanto ferramenta educativa,
anos iniciais [4º e 5º anos] do Ensino Fundamental.
Na análise buscou-se referenciar a construção dos saberes a partir de filmes. O cinema
entra como mediador dessa discussão “devido sua capacidade para nos mostrar, para fazer-nos
ver as condutas humanas como algo que se situa no cruzamento do corpo com a alma” (MORIN,
2002, p. 329).
O cinema implica:

uma abertura para o universal que revela a particularidade de cada um. O meu
próprio mundo é percebido como um outro mundo, e um outro mundo também
é percebido como sendo o meu. Nos dois casos o cinema me revela que
pertenço a um mundo comum, à comunidade humana, portanto. É nesse
sentido que se pode falar de experiência humana. [...]. É preciso partir da ideia
de que um filme nos desvenda condutas humanas (MORIN, 2002, p. 328).

Indo mais adiante, Duarte (2002, p. 89) explica que “a utilização dos filmes possibilita
trabalhar inúmeros conteúdos em sala de aula, além de contemplar o debate e a reflexão crítica
dos alunos nos mais variados temas”. Assim como nas outras ferramentas é preciso procurar
estabelecer metodologias que despertem o interesse dos alunos, e encontrar estratégias que
direcionem o gosto pelo cinema.
A pesquisa buscou ainda estabelecer como acontece o diálogo entre filme e construção
de conhecimento. Nesse sentido, Bernardet (2006, p. 104-105) aponta que “os filmes não são
concebidos como meros divertimentos, mas procuram levar ao público uma informação, quer
seja a respeito do assunto de que tratam, quer seja pela linguagem a que recorrem que tende a
se diferenciar nitidamente do espetáculo tradicional”.
A pesquisa contou com a participação de 20 professoras, todas do sexo feminino, e
com formação superior em Pedagogia. Após visitarmos algumas escolas do município de Patos-
PB, foram convidadas a responder o questionário. É importante ressaltar que a escolha desta
amostragem não tem conotação com o nível ou área de formação acadêmica, muito menos com
o gênero das participantes. Trata-se de uma investigação heterogênea com foco nos dados
28

coletados através dos sujeitos [professores do 4º e 5º ano], referentes ao processo da


aprendizagem diante da influência do cinema.
O Gráfico 1 contempla o direcionamento inicial para a análise dos dados coletados, a
partir do seguinte questionamento as participantes: Você utiliza filmes em sala de aula?

Gráfico 1: Utilização de filmes em sala de aula pelas participantes da pesquisa

Fonte: Dados da pesquisa (2019).

Como exposto no Gráfico 1, 100% das participantes desta pesquisa utiliza o cinema
no espaço da sala de aula, sendo que 12% assumem o uso constante e outros 88% de forma
esporádica. Para efeito da pesquisa, pode-se considerar que a totalidade usufrui de algum modo
do cinema enquanto ferramenta no contexto escolar.
Entre as muitas práticas, o uso de filme na escola contempla a possibilidade de
vivências, experiências e construção de sentidos. “A aceitação acontece antes mesmo de saber
qual o filme ou qual o objetivo de tê-lo escolhido. Trata-se de uma ferramenta que contribui
diretamente com a ideia de aprendizagem significativa”. (PARTICIPANTE 17)
29

Desse modo, para aprofundar a compreensão dessa totalidade, a pergunta seguinte


questiona aos professores: Caso sim, que critérios você utiliza para escolher o filme a ser
exibido em sala de aula?

Gráfico 2: Critérios de escolha para utilização de filmes em sala de aula pelos


participantes da pesquisa

Fonte: Dados da pesquisa (2019).

Assim como em outras questões, para os critérios direcionados no questionário as


investigadas poderiam escolher mais de uma opção. Como exposto no Gráfico 2, o percentual
se distribui em: duração 17%, tema 70%, repercussão 4% e indicação 9%.
Para compreender as justificativas direcionadas ao uso do cinema no âmbito escolar,
definimos a questão seguinte: Você acha que os filmes utilizados em sala de aula podem
contribuir para a formação do aluno?
30

Gráfico 3: Uso de filmes utilizados em sala de aula podem contribuir para a


formação do aluno

Fonte: Dados da pesquisa (2019)

No Gráfico 3 identificamos que o percentual expõe que 100% das participantes


acreditam que o uso de filmes utilizados em sala de aula pode contribuir para a formação do
aluno. Conforme justifica a Participante 2: “porque propicia a comunicação, promove
discussões relacionando o que está estudando com aspectos dos filmes”. A participante 6 expõe
a importância da ferramenta: “uma vez que se faça da interação a interação da teoria com o
visual. Uma ótima estratégia para os professores conseguirem discutir com os alunos temas da
atualidade”.

4.1 A CONSTRUÇÃO DE SABERES A PARTIR DE FILMES

O cinema, enquanto objeto de reflexões, em sua dimensão educativa, estabelece um


importante contexto da construção de saberes. Gusmão (2007) lembra que, através da cultura
do audiovisual, a escola possibilita a difusão de conhecimentos, da formação de hábitos e
comportamentos, da constituição de memórias sociais, ao organizar lembranças e vivências,
31

contribuindo para o aparecimento, manutenção ou a transformação de discursos, gostos,


condutas e afetos.
O autor ressalta que o cinema tem o poder de influenciar comportamentos e mudanças
de hábitos, de modo que, “viabiliza processos de identificação e propicia contatos com a aura
da fantasia que envolve a vida humana desde os primeiros tempos” (GUSMÃO, 2007, p. 12).
Pela análise dos questionários, é possível identificar que qualquer disciplina pode
utilizar o cinema como um instrumento pedagógico, já que se partiu de uma totalidade dos
professores envolvidos na pesquisa.
Segundo Napolitano (2009), trabalhar com filmes requer critérios de análise e estudo
temático, saber seu objetivo, suas relações com a disciplina, as possibilidades e suas
orientações. “Além desses procedimentos tão óbvios quanto importantes, o professor deve
pensar o filme dentro do seu planejamento anual, de acordo com a Proposta Curricular oficial
em consonância com a Proposta Pedagógica da Escola e seu Plano de Ensino” (NAPOLITANO,
2009, p. 23).
Compreender os critérios auxilia aos educadores no uso desta ferramenta pedagógica,
incentivando a novos modos de ver e de ler os filmes.

Qual o uso possível deste filme? A que faixa etária e escolar ele é destinado?
Como vou abordar o filme dentro da minha disciplina ou num trabalho
interdisciplinar? Qual a sua contribuição na relação ensino-aprendizagem?
Qual é o objetivo didático-pedagógico geral da atividade? Qual é o objetivo
didático-pedagógico específico da atividade? (NAPOLITANO, 2009, p. 19 -
20).

Ao serem indagadas sobre a aceitação dos alunos com a proposta do uso de filmes em
sala de aula, foi identificado entre todas as repostas que há uma aceitação positiva. Para a
participante 11, acontece ainda uma melhor aceitação quando a seleção dos filmes é feita pelos
alunos: “Os alunos têm uma boa aceitação, pois os mesmos conseguem compreender com
clareza o tema que foi abordado nas aulas e participam do debate com mais entusiasmo”
(PARTICIPANTE 11).
O cinema deve ser pensando como arte, que possibilita uma dimensão da experiência
humana, da emoção, da sensibilidade, da leitura da imagem em movimento, dos sons que
transcorrem os espaços auditivos.
As professoras participantes atribuíram ao cinema sua importância pedagógica, como
afirma Duarte (2002, p. 87):
32

o cinema ainda não é visto pelos meios educacionais como fonte de


conhecimento. Sabemos que a arte é conhecimento, mas temos dificuldade em
reconhecer o cinema como arte (com uma produção de qualidade variável,
como todas as demais formas de arte), pois estamos impregnados da ideia de
que cinema é diversão e entretenimento, principalmente se comparado a artes
‘mais nobres’. Imersos em numa cultura que vê a produção audiovisual como
espetáculo de diversão, a maioria de nós, professores, faz uso dos filmes
apenas como recurso didático de segunda ordem, ou seja, para ‘ilustrar’, de
forma lúdica e atraente, o saber que acreditamos estar contido em fontes mais
confiáveis.

Portanto, deve-se compreender os filmes numa dimensão particular da aprendizagem.


Questionados sobre a possibilidade da contribuição para formação do aluno com uso de filmes
em sala de aula, todos os participantes afirmaram de como o cinema pode interferir na formação
escolar do aluno. “Podem contribuir para o entendimento daqueles alunos com mais
dificuldades em determinados temas e uma maior interação do tema trabalhado”
(PARTICIPANTE 14).
Tal direcionamento justifica a ação do Ministério da Educação que incluiu o §8º ao
art. 26 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da
educação nacional, para obrigar a exibição de filmes de produção nacional nas escolas de
educação básica: “a exibição de filmes de produção nacional constituirá componente curricular
complementar integrado à proposta pedagógica da escola, sendo a sua exibição obrigatória por,
no mínimo, 2 (duas) horas mensais.”
Até então, está fundamentado neste trabalho que o uso do cinema sinaliza uma
importante ferramenta no processo educacional, e que, segundo as investigadas, tende a
desenvolver a percepção dos alunos, despertando a interação e mais atratividade diante dos
temas.
Porém, para aprofundar essa percepção de totalidade, identificou-se, a partir de
algumas respostas das participantes, aspectos inerentes à contribuição dos filmes na formação
dos alunos, tais como: ilustrar o conteúdo teórico, ampliação do repertório cultural,
desenvolvimento de habilidades, poder de interpretação, construção de sentidos, reflexão e
pensamento crítico, entre outras possibilidades.
Desse modo, podemos compreender que o filme possibilita a formação de leitores
críticos. Napolitano (2009, p. 20-21) argumenta:

O trabalho com o filme, visto como documento cultural em si, é mais


adequado para projetos especiais com cinema, visando à ampliação da
experiência cultural e estética dos alunos […]. Este é um dos importantes
papéis que a escola pública pode ter, pois, muitas vezes, será a única chance
33

de o aluno tomar contato com uma obra cinematográfica acompanhada de


reflexão sistemática e de comentários, visando à ampliação do seu repertório
cultural […] e estético.

Sobre o uso de metodologias, para a exposição de filmes em sala de aula, a maioria


das participantes utilizam desse direcionamento. Importante ressaltar que esta é uma das
maiores inquietudes das pesquisas direcionadas à relação cinema e educação. “Ter objetivo
didático claro é sempre importante, pois, a partir daí, pensaremos na metodologia. Primeiro
relacionamos o filme com o conteúdo a ser trabalhado, questionários, resumos, rodas de
conversas para melhor socialização do filme” (PARTICIPANTE 16).
Desse modo, cabe ao professor enquanto pesquisador estudar e encontrar o melhor
meio de se trabalhar um filme, analisando a faixa etária dos alunos, o conhecimento prévio, a
comunidade na qual está inserido, entre outros tantos fatores que devem ser observados pelo
educador com o intuito de não perder o foco na educação.
Sobre essas questões, Freire (2005) aborda ser necessário ao educador o exercício da
reflexão crítica sobre sua prática, para que seja dialógica, não apenas centrada em conteúdo.

o diálogo é uma exigência existencial. E, se ele é o encontro em que se


solidarizam o refletir e o agir de seus sujeitos endereçados ao mundo a ser
transformado e humanizado, não pode reduzir-se a um ato de depositar ideias
de um sujeito no outro, nem tampouco tornar-se simples troca de ideias a
serem consumidas pelos permutantes (FREIRE, 1987, p. 78).

E, finalizando as questões sobre o processo de construção de saberes a partir de filmes,


apontou-se o seguinte questionamento: Descreva uma experiência, positiva ou negativa do uso
do cinema em sala de aula. Para compreensão desta, a partir das repostas das participantes,
construímos uma tabela pontuando aspectos constituídos a partir das respostas das investigadas.

Quadro 01 – Experiências com o cinema em sala de aula


Aspectos inerentes do uso do cinema em sala de aula a partir de experiências
Participante 01 A possibilidade de levar a tecnologia como recurso de aprendizagem.
Participante 02 Exposição de filmes que promovam interação, reflexão e cidadania, assuntos que
construam o educando.
Participante 03 Possibilitar processos de reflexão e convivência em grupo.
Participante 04 Mostra o desenvolvimento e a preparação para os desafios do mundo atual.
Participante 05 Melhorar o comportamento dos alunos em relação a aceitação das diferenças, a exemplo
de um aluno portador de necessidades especiais que era excluído das atividades.
Participante 06 A importância de trabalhar o cinema em sala é bom para o desenvolvimento e a maneira
coletiva, mostrando as experiências vividas.
34

Participante 07 A exposição de um filme sobre o bulling evitou comportamentos iguais.


Participante 08 Em relação a metodologia é sempre bem aceito pelo alunado e na aprendizagem. Há
sempre experiências positivas ao trabalhar filmes que retratam histórias reais.
Participante 09 Melhora na aquisição de conteúdos, possibilitando ampliar os conhecimentos,
desenvolvendo a criatividade e fazer a relação ao cotidiano.
Participante 10 Auxilia no enriquecimento dos novos conhecimentos.
Participante 11 Motivar um conteúdo que será abordado ou aprofundar um assunto já estudado, trazendo
conhecimento que vão muito além da realidade dos alunos.
Participante 12 Aprender sobre as diferenças, limites, interacidade, criatividade, emoções. Possibilitar
diferentes habilidades de acordo com cada disciplina.
Participante 13 Reflexão sobre vivências, como via de transformação da realidade para melhoria do seu
estar no mundo.
Participante 14 A experiência negativa é quando a escolha do filme não agrada ao aluno. Se torna algo
cansativo.
Participante 15 Estabelecer diálogo com outras artes, tais como a arte da ciência, arte visual, literatura,
etc.
Participante 16 Poder desenvolver uma visão crítica, um conceito, uma percepção sobre os fatos vistos
em uma sociedade e com eles um aprendizado, relacionando a ficção.
Participante 17 Complementação de temas trabalhados em sala, com novas informações para o aluno.
Participante 18 Aproximação do que é ensinado na teoria com a prática.
Participante 19 Com o filme o aluno adquire experiências importantes de sua vida.
Participante 20 Comportamento e aprendizado.
Fonte: Dados da pesquisa (2019)

Compreende-se, a partir desses aspectos apontados no quadro 1, que o cinema na


escola é visto como algo muito positivo, pois vem para fomentar essas ferramentas. Desse
modo, a Participante 15 indica que “o uso de filmes pode estabelecer diálogos com outras artes”,
assim como afirmou a Participante 18: “promove a aproximação do que é ensinado na teoria
com a prática”.

4.2 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE OS DADOS DA PESQUISA

Partindo da avaliação referente ao questionário aplicado para a coleta de dados, foi


possível estabelecer conceitos importantes em relação ao objeto de estudo desta pesquisa. De
modo geral, os dados revelaram que as professoras participantes fazem o uso do cinema
enquanto ferramenta pedagógica. Como se pode observar no Gráfico 1 que questiona sobre o
uso de filmes em sala de aula, tendo a totalidade de confirmações.
Indiferente ao conteúdo, as professoras investigadas indicam possibilidades inerentes
a trabalhar o cinema como ferramenta pedagógica. Nas respostas referentes a questão “Você
35

acha que os filmes utilizados em sala de aula podem contribuir para a formação do aluno?”
comtemplam as possibilidades de como trabalhar o cinema em sala de aula.
Com base na construção do quadro 1, que apresenta os aspectos inerentes do uso do
cinema em sala de aula a partir de experiências das professoras envolvidas nessa pesquisa,
identifica-se que a construção de saberes acontece por variadas formas em que os filmes possam
ser expostos.
Nas repostas apresentadas, as participantes expõem suas experiências no cotidiano
escolar, discutindo e tratando de temas relevantes ao processo de aprendizagem. Como exposto
no Gráfico 3, identificamos que o percentual expõe que 100% das participantes acreditam que
o uso de filmes utilizados em sala de aula pode contribuir para a formação do aluno.
Desta forma, compreende-se, a partir dos resultados obtidos, que o cinema possibilita
a construção de saberes, através de suas múltiplas possibilidades enquanto ferramenta
pedagógica. Assim, o professor deixa de ser um simples transmissor de informação e ocupa o
papel de estimulador de construção de saberes. Os dados coletados sugerem que os filmes
possam ensinar, ajudar os aprendizes a olhar e a conhecer a sociedade em que vivemos e
contribuem na produção de significados sociais.
36

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao final da construção deste trabalho, compreende-se que a relação cinema e escola


deve, à priori, estimular o desenvolvimento de políticas de promoção da diversidade cultural e
ampliar, cada vez mais, a participação da comunidade escolar nas discussões sobre o tema.
É importante destacar que, apesar de alguns direcionamentos expostos durante a
pesquisa, buscou-se através do questionário aplicado, explorar as possibilidades de como o
cinema pode ser utilizado enquanto ferramenta de construção de saberes. Apesar dos aspectos
trazidos neste estudo, sabemos que a problemática pode ser aprofundada ainda mais no aspecto
da construção de saberes.
Vale ressaltar a possibilidade de ampliar leituras inerentes aos assuntos pesquisados
que permeiam a área de atuação do pesquisador, enquanto estudante de Pedagogia, Jornalista
profissional e produtor de filmes. Por tudo isso, acredita-se que o objetivo desta pesquisa foi
atingido, tendo em vista os resultados alcançados; assim como, pudemos estabelecer uma
possível resposta ao problema que sustenta a pesquisa. Fica, portanto, evidenciado que o cinema
deve ser utilizado enquanto ferramenta educativa.
Assim como aponta a teoria da mediação da aprendizagem de Vygotsky (1989), a
educação, de modo geral, deve passar pelas relações do indivíduo e mundo, o sujeito e o meio.
O conhecimento acontece pela intermediação, a intervenção do homem e suas representações.
Como está fundamentado nesta pesquisa, o uso do cinema sinaliza uma importante
ferramenta no processo educacional, e que, segundo as investigadas, tende a desenvolver a
percepção dos alunos, despertando a interação e mais atratividade diante dos temas.
Porém, para aprofundar essa percepção de totalidade, identificou-se, a partir de
algumas respostas das participantes, aspectos inerentes à contribuição dos filmes na formação
dos alunos, tais como: ilustrar o conteúdo teórico, ampliação do repertório cultural,
desenvolvimento de habilidades, poder de interpretação, construção de sentidos, reflexão e
pensamento crítico, entre outras possibilidades.
Os filmes usados em sala de aula são uma ferramenta auxiliadora no desenvolvimento
da interpretação, da análise, da construção de opinião. O discente pode, a partir do que observa,
conectar o que tem por conhecimento prévio e/ou formal, por exemplo, e o que lhe está sendo
apresentado. Pode ainda fazer deduções e fazer uso da lógica.
O ambiente escolar é um espaço de construção de aprendizagem e um dos elos desse
processo. A construção pode ocorrer quando docentes e discentes reconhecem em seu espaço
um ambiente que permite a construção de relações, pois é necessário que esses atores tenham
37

autonomia e que sejam capazes de refletir sobre si mesmos, sobre o seu próprio processo de
construção de conhecimentos e sobre o mundo, sem serem privados dos conhecimentos
externos e das novidades produzidas a cada dia na escola, na sociedade e no planeta.
Fazer pensar, fazer refletir, fazer revolucionar a partir de novos processos de
aprendizagem, são algumas das funções cognitivas e sociais que a educação proporciona,
certamente se viveria num outro contexto de vida.
Desse modo, cabe a educação, em todas as suas dimensões, suplantar possibilidades
que interfiram nessas realidades e proporcionem a revolução do conhecimento, incutir na
sociedade que somente através da educação a criança conquistará uma formação verdadeira.
38

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distribuição e exibição de filmes nacionais no período 1995-2009. Dissertação. Programa de
Pós-graduação em Economia da Universidade Federal de Uberlândia. 2011.
MORIN, Edgar. A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. Tradução
Eloá Jacobina. 8. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003.

NAPOLITANO, Marcos. Como usar o cinema na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2009.

NAPOLITANO, Marcos. Como usar a televisão na sala de aula. 5. ed. São Paulo: Contexto,
2003.

SAVIANI, Dermeval. Escola e Democracia. 23. ed. São Paulo: Cortez, 1991.

SILVA, Veruska Anacirema Santos da. (2010). Memória e cultura: cinema e aprendizado de
cineclubistas baianos dos anos 1950. Dissertação de mestrado. Programa de Pós-Graduação
em Memória, Linguagem e Sociedade. Univ. Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB. 2010.

TREVIZAN, Zizi. O Leitor e o diálogo dos signos. São Paulo: Clipe, 2002.

VYGOTSKY, Lev Semyonovich. Pensamento e linguagem. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes,
1989.
APÊNDICES
APÊNDICE A:

Este questionário é parte de uma pesquisa acadêmica desenvolvida pelo estudante do curso de
Pedagogia a Distância da Universidade Federal da Paraíba, Deleon Souto.
Esta pesquisa tem como objetivo coletar dados sobre: Como os professores realizam o ensino
a partir da exibição de filmes?
Contamos com sua colaboração para respondê-lo, pois suas informações são por demais
importantes para esse trabalho.

QUESTIONÁRIO
PERFIL DO ENTREVISTADO:
Nome: _____________________________________________________________
Telefone: ___________________________________________________________
Email:______________________________________________________________
Sexo: ( ) masculino ( ) feminino
Área de formação: __________________________________________________
Turma que leciona: ( ) 4º ano ( ) 5º ano

QUESTÕES SOBRE A PESQUISA:

1 - Você utiliza filmes em sala de aula? ( ) sempre ( ) as vezes ( ) nunca

2 - Caso sim, que critérios você utiliza para escolher o filme a ser exibido em sala de aula?
( ) duração ( ) tema ( ) repercussão ( ) indicação
( ) outros: _______________________________________

3 - Você acha que os filmes utilizados em sala de aula podem contribuir para a formação do
aluno? ( ) sim ( ) não

4 - Se a reposta anterior for sim, em que aspecto?


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_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
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5- Como é a aceitação dos alunos quando é proposto o uso de filmes em sala de aula?
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6 - Quais metodologias utiliza no uso de filmes em sala de aula?
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7 - Quais equipamentos e espações são usados durante a exibição de filmes?


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8 - Que habilidades você acha que os alunos podem desenvolver por meio do audiovisual?
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9 - Cite algum filme e como trabalha-lo na escola.


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10 - Descreva uma experiência (positiva ou negativa) do uso do cinema em sala de aula.


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Obrigado!!!
ANEXOS
ANEXO I

Presidência da República
Casa Civil
Subchefia para Assuntos Jurídicos

LEI Nº 13.006, DE 26 DE JUNHO DE 2014.

Acrescenta § 8o ao art. 26 da Lei no 9.394, de 20


de dezembro de 1996, que estabelece as
diretrizes e bases da educação nacional, para
obrigar a exibição de filmes de produção nacional
nas escolas de educação básica.

A PRESIDENTA DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a


seguinte Lei:

Art. 1o O art. 26 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar acrescido do


seguinte § 8o:

“Art. 26. .......................................................................

.............................................................................................

§ 8o A exibição de filmes de produção nacional constituirá componente curricular complementar


integrado à proposta pedagógica da escola, sendo a sua exibição obrigatória por, no mínimo, 2 (duas)
horas mensais.” (NR)

Art. 2o Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 26 de junho de 2014; 193o da Independência e 126o da República.

DILMA ROUSSEFF
José Henrique Paim Fernandes
Marta Suplicy

Este texto não substitui o publicado no DOU de 27.6.2014

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