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Doi: 10.5212/OlharProfr.v.13i1.

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A educação e o ensino de Geografia:


na era da informação ou do conhecimento?

Education and the teaching of Geography: information or knowledge age?

José Eustáquio de Sene*

Resumo: O mundo contemporâneo, especialmente a partir do último quartel do século XX, vem pas-
sando por rápidas transformações – econômicas, sociais, culturais – como resultado da mais recente
revolução tecnológica. Essas mudanças tecnológicas vêm delineando o que, dependendo do autor, tem
sido caracterizado como era informacional, da informação ou do conhecimento. Castells (1999), por
exemplo, afirma que vivemos sob o modo de desenvolvimento informacional. Para analisar a mudança
do papel do conhecimento ao longo da história, lança mão da categoria modo de desenvolvimento, que
será considerada neste ensaio. Muitas vezes, esses conceitos são utilizados sem muita precisão, dificul-
tando a compreensão da realidade. Qual é o mais apropriado para apreender o momento em que vive-
mos? Este artigo busca analisá-los criticamente e situar o papel da educação nesse contexto. A escola
tem conseguido dar respostas às demandas de um mundo em transformação? A profusão de reformas
curriculares que vem sendo implantada em diversos países é um indício de que não, de que a educação
escolar ainda não encontrou um caminho consistente. Além disso, a educação não pode se restringir a
dar respostas às demandas do sistema produtivo, antes de tudo deve estar voltada para a emancipação
humana. E a geografia, tem conseguido adaptar-se às transformações do mundo contemporâneo e, ao
mesmo tempo, explicá-lo adequadamente? O texto também levanta algumas questões acerca do papel
da geografia – acadêmica e escolar – nesse contexto, embora sem aprofundá-las, o que exigiria outro
artigo.

Palavras-chave: Era informacional. Mudanças na educação. Ensino de Geografia.

Abstract: The contemporary world, especially after the last quarter of the 20th century, has been going
through fast economical, social and cultural changes as a result of the recent technological revolution.
According to different authors, these technological changes have characterized the information age or
knowledge age. Castells (1999), for example, affirms that we live under the development information
model. In order to analyze the change in the role of knowledge throughout history, he refers to a category
called development mode, which is discussed in this article. These concepts are used in some cases
without much precision making it difficult to understand reality. Which is the most appropriate concept
to understand the moment we live? This article tries to analyze and situate the role of education in this
context. Has the school been able to meet the demands of a world in constant transformation? The amount
of curricular reforms that have been implemented in several countries is a demonstration that the answer
is negative, that education has not found a consistent way of meeting the demands yet. Furthermore,
education can not restrict itself to meet the demands of the productive system, education should first of
all, be concerned with human emancipation. Has geography been able to adapt to the transformations

*Doutor em geografia humana pela FFLCH-USP, professor de metodologia do ensino de geografia na Faculdade de
Educação da USP e autor de livros educativos pela Editora Scipione.
*Doctor in Human Geography from the FFLCH-USP, professor of Geography Teaching Methodology at the
College of Education at the São Paulo University. Author of teaching materials by Scipione Publishing House.

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A educação e o ensino de Geografia: na era da informação ou do conhecimento?

of the contemporary world and at the same time explain it properly? This article discusses some of the
issues related to the role of academic and educational Geography in this context.

Keywords::Information age. Changes in education. Geography Teaching.

Introdução

A educação é atravessada por diversos preensão do mundo e a autonomia das pes-


vetores que atuam numa sociedade em deter- soas? Qual é o papel da disciplina geografia
minada época, por isso para compreender as nesse processo?
mudanças educacionais torna-se necessário São muitos os indícios de que há uma
transitar em outros campos disciplinares ou inadequação entre as práticas pedagógicas
áreas do conhecimento como a sociologia, vigentes de um modo geral e as necessidades
a economia, a filosofia e a geografia. É ne- em termos de conhecimentos e inteligências,
cessário também enveredar por subáreas da de competências e habilidades, tanto para o
educação como epistemologia, teorias cog- exercício do trabalho como da cidadania, im-
nitivas, ensino-aprendizagem e currículo. postas pela atual revolução tecnológica. Há
Mesmo sabendo dos riscos de se procurar diversas indicações de que a educação vive
apreender a totalidade, pela inevitável am- uma crise na atual sociedade da informação.
pliação do escopo, é o que este ensaio pre- Ou seria informacional, como denomina
tenderá fazer. Seu objetivo é tentar apreender Castells (1999), ou do conhecimento, como
algumas das mudanças que estão ocorrendo propõe Lévy (1998)? Como veremos ao lon-
no complexo campo educacional, particular- go do texto, a profusão de reformas educa-
mente no ensino de geografia, como resulta- cionais postas em prática em diversos países
do da atual revolução tecnológica. é um dos principais indícios desta crise. As
A denominação para a acelerada relações entre o processo de produção e di-
transformação que estamos vivenciando em fusão do conhecimento e a educação escolar
diversos setores das sociedades mundiais são evidentes. Para compreender essas rela-
varia dependendo do autor: revolução infor- ções é importante elucidar alguns conceitos
macional (CASTELLS, 1999; LOJKINE, informacionais fundamentais como dados,
1995), revolução técnico-científica (SAN- informações, conhecimentos e inteligência,
TOS, 1996), terceira revolução industrial como buscaremos fazer. É de suma impor-
(KUMAR, 1997). tância utilizar os conceitos com precisão,
A questão mais importante que se bus- caso contrário perdem sua capacidade ex-
cará elucidar é: quais as consequências des- plicativa e não apreendem adequadamente a
sas mudanças na educação escolar? O que realidade.
tem sido feito no sentido de adequar a educa- Para analisar o papel do conhecimen-
ção aos desafios impostos pela atual revolu- to no mundo contemporâneo e sua relação
ção tecnológica? Essas mudanças implicam com as transformações em curso na educa-
apenas uma adaptação da educação escolar ção, é importante verificar a mudança de sua
ao sistema produtivo ou abrem brechas para natureza ao longo da história. Não se trata
que se avance no sentido de ampliar a com- de um trabalho de epistemologia histórica,

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mas apenas de uma reconstituição do papel diversas sociedades mundiais. Por fim, ana-
do conhecimento (e das técnicas) nos vários lisaremos a situação da geografia escolar, al-
momentos que marcam a história humana, gumas de suas relações com a geografia aca-
para compreender melhor sua importância dêmica e a contribuição contraditória desta
no mundo de hoje. Para tanto nos apoiaremos para a reforma curricular do Ensino Médio.
nas categorias “modos de desenvolvimento”
(CASTELLS, 1999) e “espaços antropológi-
cos” (LÉVY, 1998). Numa perspectiva geo- Dados-informações-conhecimentos
gráfica, e dialogando com elas, utilizaremos
a categoria “meio” (SANTOS, 1996) e sua
No senso comum e, às vezes, mesmo
transformação ao longo da história como
nos meios acadêmicos, os conceitos de dado,
consequência da agregação crescente de téc-
informação e conhecimento são utilizados
nicas ao território.
imprecisamente, quando não de forma in-
Serão destacados certos aspectos de tercambiável. Isso ocorre, sobretudo, num
algumas propostas de reforma curricular mundo em que o conhecimento cada vez
postas em prática no Canadá, nos Estados mais ganha relevo e somos inundados por
Unidos e na Espanha, que buscam dar con- uma crescente quantidade de informação.
ta das mudanças impostas pelas aceleradas Hoje em dia são comuns referências à era
transformações do mundo atual. Procuramos da informação ou do conhecimento. Muitas
enfatizar a proposta brasileira, por meio dos vezes, tem-se a ideia de que esses conceitos
Parâmetros Curriculares Nacionais do En- possuem o mesmo significado. Entretanto,
sino Médio e das Orientações Curriculares um breve levantamento de algumas defini-
para o Ensino Médio, elaborados pelo MEC, ções mostra que não é bem assim. Castells
e dar mais atenção à discussão sobre o lugar (1999, p. 45), por exemplo, citando Porat
da disciplina geografia nesse processo. Me- (1977, p. 2), afirma que “informação são
rece, desde já, lembrar que a geografia é uma dados que foram organizados e comunica-
disciplina multiparadigmática, o que faz com dos.” Bem, e o que são dados? De acordo
que recentemente tenha apresentado propos- com Simon (1999, p. 17): “Um dado é uma
tas discrepantes em termos conceituais para seqüência de símbolos, é um ente totalmen-
a reforma curricular e isso pode enfraquecer te sintático, não envolve semântica como na
sua capacidade explicativa. informação. Os dados podem ser represen-
Na busca de respostas para as ques- tados com sons, imagens, textos, números e
tões aqui levantadas é importante que come- estruturas.” Parece evidente que para haver
cemos pela elucidação de alguns conceitos informação é necessário haver comunicação.
informacionais – dados, informações, co- Assim, podemos pensar que a informação é
nhecimentos e inteligências –, para logo em o dado com algum significado.
seguida analisarmos as categorias modo de O próximo passo é a definição de co-
desenvolvimento, espaços antropológicos e nhecimento, o que é um pouco mais com-
meio geográfico, assim como seus possíveis plexo. Castells (1999, p. 45), em seu livro A
pontos de contato e suas inter-relações. Fei- sociedade em rede, diz que não tem nada a
to isso, discutiremos as mudanças que estão acrescentar à definição dada por Bell (1973,
ocorrendo na educação, em sua dimensão p.175), para quem conhecimento é “um con-
curricular, como consequência das trans- junto de declarações organizadas sobre fa-
formações tecnológicas em andamento nas tos ou idéias, apresentando um julgamento

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ponderado ou resultado experimental que é por organizar, sistematizar numa ‘síntese’, o


transmitido a outros por intermédio de algum conjunto de conhecimento sobre a natureza.
meio de comunicação, de alguma forma sis- Mas nenhuma dessas sínteses pode se pre-
temática.” Observe que essa definição suge- tender definitiva.” (LEFEBVRE, 1969, p.
re que conhecimento é igual a conhecimento 67). Com isso, coloca a importante questão
científico. Perrenoud (1999, p. 8) coloca-se de que o conhecimento é movimento; como
no outro extremo quando afirma que “conhe- foi dito: é histórico. Já que estamos buscan-
cimento são representações da realidade que do conceituar as palavras-chave para essa
construímos e armazenamos ao sabor de nos- discussão, coloca-se a questão de que todo
sa experiência e de nossa formação.” Como conceito também é histórico e, portanto, pre-
cada um vivencia a realidade e a representa cisa ser dinâmico. Como o conceito é sem-
de uma forma subjetiva, então, nesse caso, pre uma tentativa de abstrair a realidade, de
o conhecimento é quase como se fosse algo reconstruí-la no plano do pensamento, caso
pessoal, arriscaria dizer, senso comum. Uma ela mude, ele também deve mudar. De fato,
definição meio termo entre essas duas é dada como afirma Lefebvre (1969, p. 90): “Todo
por Johnson (1997, p. 48): pensamento é movimento.”
Machado (2000), numa tentativa de
Conhecimento é aquilo que consideramos
definir esses termos e antes de tudo orga-
como real e verdadeiro. Pode ser tão sim-
ples e banal como dar o laço nos sapatos nizar sua operacionalização, propôs o que
ou tão abstrato e complexo como a física chamou de pirâmide informacional. Em sua
de partículas. O conhecimento é importan- base estão os dados, a seguir vêm as infor-
te para a sociologia porque é socialmente mações, depois os conhecimentos e no topo
criado e também porque dele dependemos a inteligência. Os dados referem-se aos ele-
para nosso senso de realidade. mentos qualitativos e quantitativos da rea-
lidade, podem ser acumulados e, portanto,
A partir dessas definições é razoável remetem à ideia de banco. Isoladamente são
inferir que conhecimento não é apenas a desprovidos de interesse. Na realidade, são
produção científica, gerada de acordo com as pessoas que manifestam interesse por de-
os cânones acadêmicos, mas também o co- terminados dados, são elas que lhes atribuem
nhecimento tácito, senso comum, intuitivo, significado, produzindo informação a partir
aquele que move as pessoas em seu dia-a- deles. De fato, é a pergunta apropriada ao
-dia. Entretanto, nos parece que é responsa- dado que permite a extração da informação
bilidade da escola avançar do senso comum pretendida. Sobre os dados, Machado (2000,
ao conhecimento que se ancora nos para- p. 66) afirma que:
digmas da ciência ou, noutras palavras, ir
do conhecimento tácito ao explícito. Assim, Seu valor informacional depende justa-
concordamos com Lefebvre (1969, p. 67) mente da existência de pessoas interes-
quando afirma que “o conhecimento humano sadas, que os organizem e lhes atribuam
progride da ignorância à ciência”. E isto se significado, transformando-o em informa-
ção. Assim, informações já seriam dados
dá por meio do estudo, da pesquisa, da des-
analisados, processados, inicialmente ar-
coberta. Aliás, antes dessa afirmação ele dis- ticulados constituindo então, um segundo
se que o conhecimento é um fato, é prático, nível da pirâmide informacional.
é social e tem um caráter histórico. Afirmou
também que: “Cada época deve esforçar-se

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Entretanto, alerta para o fato de que o falar de valores, o que nos remete à discus-
simples acúmulo de informações não garan- são do conceito mais complexo da pirâmide
te a passagem ao terceiro nível da pirâmide, informacional, aquele que se localiza em seu
não garante a produção de conhecimentos. topo: a inteligência, ou melhor, as inteligên-
Enquanto o conceito de dado remete cias.
a banco, à ideia de acumulação, informação
remete a veículo, à ideia de comunicação. De
fato, sem comunicação não há informação, Inteligências
como disse Porat (1977 apud CASTELLS,
1999). Aliás, sem comunicação também não O conceito de inteligência é o mais di-
há conhecimento. Quem é que já não tentou fícil de ser delimitado, de ser definido. Além
ler um livro numa língua estrangeira incom- disso, não há uma inteligência, mas várias,
preendida, sem conseguir extrair nenhuma daí o plural do subtítulo.
informação, nenhum conhecimento? Caso De fato, as primeiras tentativas de
fosse uma língua que utiliza o alfabeto latino definir ou mais especificamente mensurar a
ainda seria possível identificar os dados, isto inteligência datam do início do século XX.
é, as letras, mas ainda assim não depreender Em 1905, o psicólogo francês Alfred Binet
nenhum significado, não chegar ao elemento (1859-1911) foi instado a elaborar um teste
semântico, ou seja, não extrair nenhuma in- para medir o grau de aproveitamento dos es-
formação. Pior, se o texto fosse numa língua tudantes de escolas públicas francesas. Ela-
que utiliza outro alfabeto, como o russo, o borou a base para os testes de QI (Quocien-
árabe ou o chinês, não se atingiria nem mes- te de Inteligência), conhecido como Escala
mo o dado ou o elemento sintático. Simon-Binet, que depois foi aperfeiçoada e
O conhecimento, o terceiro nível da passou a ser muito utilizada no pós-guerra,
pirâmide informacional, remete à ideia de sobretudo nos Estados Unidos. O teste de QI
teoria, de compreensão. Machado (2000, p. mede a relação entre a idade mental e a ida-
67) afirma que para atingi-lo “é fundamental de cronológica de uma pessoa. Por exemplo,
a capacidade de estabelecer conexões entre se uma criança de oito anos passa num tes-
elementos informacionais aparentemente te criado para crianças de 10 anos, então ela
desconexos, processar informações, analisá- terá um QI de 125 (10/8 x 100 = 125).
-las, relacioná-las, armazená-las, avaliá-las Embora venham sendo utilizados há
segundo critérios de relevância, organizá-las muitos anos, o problema desses testes é que
em sistemas.” De fato, como propõe Mari- veem a inteligência como uma medida unidi-
na (1995, p. 40), “conhecer é compreender, mensional. Não por acaso Gardner (1995, p.
quer dizer, apreender o novo com o já co- 21) afirma: “Numa visão tradicional, a inte-
nhecido.” ligência é definida operacionalmente como a
capacidade de responder a itens em testes de
O educador Nilson Machado (2000),
inteligência.” Como contraponto a isso de-
remetendo-se ao filósofo espanhol José An-
fende, já como substrato de sua teoria das in-
tonio Marina (1995), afirma que o conheci-
teligências múltiplas, que: “Uma inteligência
mento é o meio para as pessoas realizarem
implica na capacidade de resolver problemas
seus projetos. Mais do que uma definição, é
ou elaborar produtos que são importantes
uma busca de operacionalização desse con-
num determinado ambiente ou comunidade
ceito. E falar de pessoas e projetos significa
cultural.” (GARDNER, 1995, p. 21).

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Assim, o psicólogo norte-americano testes de QI geralmente indica que se saem


propõe encarar a inteligência como um bem no ambiente escolar, onde se valoriza
espectro de competências. Em 1983, sobremaneira aquele eixo. Porém, isso não
Gardner lançou o livro Frames of mind, cuja indica que se sairão bem após a escola, na
tradução – As estruturas da mente – só saiu vida de trabalhador-cidadão, na qual outras
no Brasil em 1994, simultaneamente com As dimensões da inteligência são valorizadas,
inteligências múltiplas, lançado nos Estados outros espectros de competências são
Unidos um ano antes. Nesses livros ele demandados.
propõe que há sete inteligências: a linguística, Finalmente, a inteligência pode ser
a lógico-matemática, a corporal-cinestésica, encarada como a interação entre projetos e
a espacial, a musical, a interpessoal e a valores, como propõe Marina (2000, p. 14):
intrapessoal. Mais tarde Gardner (2006)
passa a considerar a possibilidade de haver Inteligência é, evidentemente, a capacida-
mais duas inteligências: a naturalista e a de de resolver equações diferenciais, mas
existencial. Todas as pessoas possuem essas acima de tudo é a aptidão para organizar
comportamentos, descobrir valores, in-
inteligências e elas funcionam de forma
ventar projetos e mantê-los, ser capaz de
integrada, no entanto alguns indivíduos têm
libertar-se do determinismo da situação,
maior facilidade para desenvolver uma ou solucionar problemas, analisá-los.
mais delas. Gardner (1995) fala em “talentos
mais poderosos” para aquelas pessoas Por isso Nilson Machado afirma que
que desenvolvem mais determinada(s) a inteligência está associada às pessoas e
inteligência(s). remete à ideia de projetos e valores. Para
Na vida cotidiana há diversos exem- esse educador, “a inteligência encontra-se
plos de pessoas talentosas. Entretanto, como diretamente associada à capacidade de ter
já há muito tempo alertou Adorno (1995, p. projetos; a partir deles, dados, informações,
170) no livro Educação e emancipação: “ta- conhecimentos são mobilizados ou produzi-
lento não se encontra previamente configura- dos.” (MACHADO, 2000, p. 68).
do nos homens, mas que, em seu desenvolvi-
Nessa linha, o que de fato interessa,
mento, ele depende do desafio a que cada um
é submetido. Isto quer dizer que é possível o fim a ser atingido, é a realização dos pro-
‘conferir talento’ a alguém.” Isso coloca a jetos das pessoas e também da comunidade
questão da oportunidade. Cabe à escola colo- em que elas convivem. Evidentemente, tais
car os desafios, ou seja, oferecer oportunida- projetos devem estar ancorados num conjun-
des para que cada pessoa possa desenvolver to de valores socialmente acordados. Sendo
seus talentos ou suas inteligências. assim, os dados, as informações e mesmo o
conhecimento passam a ser meios para a rea-
Gardner (1995) critica não apenas
a escola, sobretudo a norte-americana, e lização dos projetos pessoais e coletivos. Ou
os testes de QI, por valorizarem dema- seja, estão a serviço da inteligência humana,
siadamente o eixo linguístico-lógico- que é plural e não pode ser encerrada num
matemático, como também o psicólogo e teste de papel e lápis.
educador suíço Jean Piaget, para quem o Isso coloca uma questão fundamental
conceito de inteligência era sinônimo de para a educação: a definição e a operaciona-
inteligência lógico-matemática. O psicólogo lização do conceito de inteligência de forma
norte-americano afirma que o fato de mais plural e includente abre grandes possi-
estudantes terem bom desempenho em bilidades para a produção e democratização

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do conhecimento, enfim, para a emancipação evidentemente para compreendê-la é impor-


das pessoas, no sentido atribuído por Haber- tante a construção de categorias e conceitos
mas (1993). Mas, antes de tudo cabe à escola adequados, que deem conta de seu entendi-
oferecer as oportunidades para que os talen- mento. O que há de novo hoje em dia? O que
tos ou as inteligências aflorem. mudou no papel da informação e do conhe-
cimento? Vejamos isso historicamente, sob a
perspectiva das categorias “modos de desen-
Conhecimento: mudança de sua natu- volvimento” (CASTELLS, 1999) e “espaços
reza ao longo da história antropológicos” (LÉVY, 1998).

O ser humano produz informação e


conhecimento desde que iniciou sua aventu- Modos de desenvolvimento
ra na Terra. Por isso, designações como era
ou sociedade da informação (CASTELLS, De acordo com Castells (1999, p. 34):
1999) ou do conhecimento (LÉVY, 1998) “os modos de desenvolvimento são os proce-
não deveriam ser utilizadas apenas para dimentos mediante os quais os trabalhadores
apreender a especificidade do momento pre- atuam sobre a matéria para gerar o produto,
sente, do atual período técnico-científico em última análise, determinando o nível e a
(SANTOS, 1996). qualidade do excedente.” Assim, a história
Castells (1999) chama a atenção para humana foi marcada por diferentes modos
isso em seu livro a Sociedade em rede, o pri- de desenvolvimento: o agrário, o industrial
meiro da trilogia A era da informação: eco- e o informacional. O que os diferencia basi-
nomia, sociedade e cultura, e na tentativa de camente é o fator de produção mais impor-
apreender as especificidades do momento tante, que por sua vez está atrelado ao grau
presente, propõe denominá-lo de “era infor- de desenvolvimento tecnológico vigente em
macional”. Apesar da distinção conceitual, cada um deles e ao nível de produtividade.
que veremos a seguir, mantém “era da in- No modo de desenvolvimento agrário,
formação” no título da coleção. Argumenta vigente desde o neolítico, o fator de produ-
que títulos são dispositivos de comunicação ção mais importante era a terra. O trabalho
que devem ser agradáveis e suficientemente humano e, com o passar do tempo, também
claros, mas sem prejulgamentos, para que o o de animais atuava sobre a terra com o ob-
leitor possa imaginar qual é o tema desen- jetivo de produzir os meios de subsistência,
volvido no livro. como os alimentos. Diferenças de produtivi-
Machado (2004, p. 123), no entan- dade, por séculos, estiveram mais ligadas à
to, questiona a precisão desses conceitos variabilidade de fertilidade natural dos solos
quando afirma: “Às vezes, a sociedade em do que aos avanços tecnológicos.
que vivemos é rotulada de ‘sociedade do Com o advento das revoluções
conhecimento’; outras vezes, de ‘sociedade industriais nos séculos XVIII e XIX,
da informação’. Mas, em grande medida, ela a humanidade adentrou no modo de
não passa de uma ‘sociedade dos bancos de desenvolvimento industrial. A partir daí,
dados’.” os fatores de produção mais importantes
Observando a realidade percebemos passaram a ser as matérias-primas e fontes de
que estão ocorrendo grandes mudanças e energia. Isso explica porque nesse contexto

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histórico tenha se iniciado a expansão Isso exige trabalhadores cada vez mais
imperialista das potências industriais. As qualificados, já que o conhecimento é sem-
potências europeias, sobretudo, buscavam pre pessoal e embora não sendo sujeito histó-
garantir acesso a fontes de matérias-primas rico é o principal responsável pelo aumento
e de energia na África e na Ásia, visando a da oferta de bens e serviços e, sobretudo, da
garantir seus processos de industrialização, produtividade na era informacional. É o co-
sua inserção no modo de desenvolvimento nhecimento o responsável pela valorização
industrial. dos produtos, dos processos produtivos, dos
Segundo a caracterização de Castells serviços e também do território, constituin-
(1999), hoje estaríamos vivendo em pleno do, nesse caso, o que Santos (1996) chamou
modo de desenvolvimento informacional. As de “meio técnico-científico-informacional”.
sociedades do presente deixaram de ser agrá- O conjunto da humanidade é cada vez
rias e industriais? As matérias-primas e as mais industrial, é crescente a oferta de bens
fontes de energia deixaram de ser importan- de consumo, e a agricultura bate recordes de
tes? Nem é preciso dizer que continuamos a produtividade. A fome é um problema mui-
nos alimentar, logo, nossa espécie continua to mais ligado às más políticas econômicas
sendo agrária. A quantidade crescente de e às desigualdades de distribuição de renda,
produtos maquinofaturados em utilização do que à escassez de alimentos, contrarian-
também não deixa dúvidas de que as socie- do o que advogou Malthus no século XVIII,
dades atuais continuam sendo industriais, quando nem de longe sonhava com os avan-
cada vez mais. ços tecnológicos existentes na agricultura de
Com o termo informacional, Manuel hoje.
Castells busca apreender o fato de que o O que mudou é que atualmente tanto
conhecimento transformou-se no principal a agricultura quanto a indústria funcionam
fator de produção do mundo atual. Em suas sob a lógica do informacionalismo. O
palavras: modo de desenvolvimento informacional
encampou os setores que eram típicos de
No novo modo informacional de desen- modos de desenvolvimento precedentes.
volvimento, a fonte de produtividade Por exemplo, a soja que o Brasil cultiva no
acha-se na tecnologia de geração de co-
cerrado tropical é uma criação dos técnicos
nhecimentos, de processamento de infor-
mação e de comunicação de símbolos. Na
da Embrapa, já que esse grão é originário
verdade, conhecimentos e informação são de zonas temperadas. O que dizer então
elementos cruciais em todos os modos da soja transgênica Roundup Ready, da
de desenvolvimento, visto que o proces- multinacional norte-americana Monsanto,
so produtivo sempre se baseia em algum cuja modificação genética tornou-a resistente
grau de conhecimento e no processamento ao herbicida Roundup, produzido por essa
da informação. Contudo, o que é especí- empresa? Esses produtos já não são naturais,
fico ao modo informacional de desenvol- mas uma criação humana, portanto, prenhes
vimento é a ação de conhecimentos sobre de conhecimento. Da mesma forma, um
os próprios conhecimentos como princi-
automóvel, produto por excelência da era
pal fonte de produtividade. (CASTELLS,
1999, p. 35).
do industrialismo, mais especificamente
da segunda revolução industrial, hoje é um
produto informacional. Os carros atuais,
mesmo modelos mais simples e baratos, não

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têm nada a ver com os pioneiros, como o lógico? Segundo Lévy (1998, p. 22): “É um
famoso Ford T. Embora o princípio básico sistema de proximidade (espaço) próprio do
de propulsão seja o mesmo – um motor a mundo humano (antropológico), e portanto
combustão interna queimando combustível dependente de técnicas, de significações, da
–, computadores de bordo, freios ABS, air linguagem, da cultura, das convenções, das
bag, mecanismos de navegação via GPS, representações e das emoções humanas.”
entre outros equipamentos eletrônicos, São espaços de significações que se constitu-
transformaram o automóvel num produto íram progressivamente ao longo da história
informacional. humana e se estendem ao conjunto da huma-
Enquanto as duas precedentes foram nidade. São quatro: a Terra, o Território, o
revoluções de energia – a primeira movida a Espaço das mercadorias e o Espaço do saber.
Esses espaços são irreversíveis e essa irre-
carvão, a segunda a petróleo e a eletricidade
versibilidade é que permite qualificá-los de
– a atual revolução industrial é movida a co-
espaços antropológicos. É uma construção
nhecimento. Não que a energia tenha deixa-
humana e coexistem em toda parte, embora
do de ser importante. Um computador, pro-
diferentemente. O Espaço do saber foi o últi-
duto informacional por excelência e símbolo
mo a se constituir, ou melhor, ainda está em
da atual revolução tecnológica, não funciona construção e nada garante que venha a ser
sem eletricidade, mas essa fonte de energia constituído. Assim, na prática a irreversibili-
é da segunda revolução industrial. Não há dade vale apenas para os três primeiros.
uma fonte de energia nova que movimente
A Terra foi o primeiro espaço antro-
a terceira revolução industrial, a base ener-
pológico construído. Terra, aqui, deve ser
gética atual vem das duas anteriores. Talvez
entendida como o mundo das significações,
na quarta revolução industrial, ou em outras
construído a partir do paleolítico e ancorado
posteriores, tenhamos o desenvolvimento de na linguagem, nos mitos e nos ritos. A Terra,
uma fonte revolucionária, como foram o car- segundo Lévy (1998), não é o planeta nem
vão, o petróleo e a eletricidade no passado. mesmo a biosfera; é o cosmo, o espaço-tem-
Quem sabe o hidrogênio ou a energia solar, po de relações. Naquela época o homem era
fontes inesgotáveis e limpas. nômade e sua principal atividade era caçar.
Sem dúvida, o conhecimento é o gran- Como início da construção da identidade dos
de motor da era informacional ou, com o per- humanos se destaca, além do vínculo com o
dão da redundância, da era do conhecimento. cosmo, o vínculo de filiação, de aliança com
outros homens.
De acordo com Lévy (1998, p. 115):
Espaços antropológicos e meios “Nossa espécie produziu a Terra, elaboran-
geográficos do o mundo humano como tal.” Em lugar de
Terra, também poderíamos falar em espaço
geográfico, que começou a ser construído
O filósofo francês Pierre Lévy, na ten- desde o início da civilização a partir do meio
tativa de apreender a história dos seres hu- natural. À medida que o espaço foi sendo
manos sobre o planeta e suas relações com o construído, que o homem foi lhe agregando
cosmo, os mitos, os ritos, com o território, a técnicas, o meio natural foi se transforman-
política e a economia e evidentemente com o do em meio técnico, como propôs Santos
conhecimento, fala em “espaços antropoló- (1996). Além da dimensão simbólica atribuí-
gicos”. Mas, o que seria um espaço antropo- da à Terra, depreende-se que há também uma

Olhar de professor, Ponta Grossa, 13(1): 13-36, 2010.


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dimensão geográfica, quando Lévy (1998, p. pósito, Santos (1996) reserva a designação
22) afirma: “Só os seres humanos vivem so- de meio técnico à fase posterior à invenção
bre a Terra, os animais habitam em nichos e ao uso da máquina. Porém, abre uma bre-
ecológicos.” cha para chamarmos de meio técnico a fase
O Território, como espaço antropo- anterior ao maquinismo, ao afirmar que “a
lógico, começou a ser construído do inexistência de artefatos mais complexos
neolítico para cá, porém trata-se de um ou de máquinas não significa que uma dada
neolítico atemporal, não o da história, já que sociedade não disponha de técnicas.” (SAN-
a difusão das inovações é desigual. Santos TOS, 1996, p. 187). Podemos dizer, então,
(1996) alerta para o fato de que as técnicas se que o meio técnico generalizou-se após as
difundem de forma desigual no território1. Já revoluções industriais, mas mesmo a partir
o Território começou a ser construído quando daí, de forma desigual. Fazendo um parale-
o ser humano iniciou o desenvolvimento lo com Castells (1999), pode-se afirmar que
da agricultura, a construção de cidades, a origem do Território, como espaço antro-
a organização de Estados e a criação da pológico, coincide com o início do modo de
escrita. Isso marca o início da “civilização”, desenvolvimento agrário.
quando o homem deixou de ser nômade O terceiro espaço antropológico,
e tornou-se sedentário. A sedentarização o Espaço das mercadorias, começou a
demandou o controle de territórios, passando ser construído a partir do século XVI,
pela conquista e ocupação, o que levou à coincidindo com a expansão marítima
constituição dos primeiros impérios. Não por europeia e com o início do capitalismo. Em
acaso Lévy (1998) menciona que enquanto sua etapa comercial esse sistema organizou
o símbolo da Terra era o caçador pintando um espaço de fluxos – de matérias-primas,
um grande animal na parede de uma gruta, o de energia, de mercadorias, de capitais, de
símbolo do Território era Sargon de Agadés, mão-de-obra e de informações. O homem
primeiro imperador da história, que unificou continuou sedentário, como espécie, mas
por meio de suas conquistas todas as cidades- ao mesmo tempo tornou-se viajante: muitos
Estados da Mesopotâmia. de seus membros passaram a atingir lugares
Com isso no processo de construção cada vez mais distantes. Contrariando
da identidade do ser humano, além do nome, Pierre Lévy, só então, como resultado das
que remete à filiação, passa a ser importante grandes navegações, é que se inicia de fato
a definição de um “endereço”, ou seja, a lo- a construção da Terra, pelo menos como
calização no território ou no Território dos sinônimo de mundo. Antes disso existia
sedentários ou dos contribuintes, como diz um planeta, mas que não era conhecido
Lévy (1998). Numa perspectiva geográfi- inteiramente por nenhum povo – era igno-
ca, pode-se dizer que a partir daí o homem rado como um todo –, e vários mundos.
começou a construir o meio técnico, com a Exagerando um pouco, pode-se dizer que
gradativa implantação de objetos – cidades, havia tantos mundos quantos eram os povos.
campos agrícolas, canais, estradas, castelos, De fato, o mundo estava restrito quase que
igrejas, fortalezas etc. – no espaço geográfi- somente à escala do lugar ou, quando muito,
co. Mas isso ainda é muito incipiente. A pro- da região. Então, pode-se dizer que a Terra,
como espaço antropológico, na realidade
1
Usaremos território, em caixa baixa, como um con- era sinônimo de mundo conhecido por um
ceito geográfico, e Território, em caixa alta, como es- povo. No fundo, não há discordância, afinal
paço antropológico, como propõe Pierre Lévy.

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José Eustáquio de Sene

Lévy (1998) não fala em Terra como espaço na Terra ou no meio natural, o homem era
geográfico, fala como espaço antropológico. nômade; se no Território ou nos primórdios
De qualquer forma, ainda pensando do meio técnico, ou ainda durante o modo
geograficamente, a sinonímia entre Terra, de desenvolvimento agrário, o homem era
planeta, mundo e globo só começou a ser essencialmente agricultor; no Espaço mer-
construída no Espaço mercantil, ou seja, cantil, no meio técnico por excelência ou no
sob o capitalismo, que é expansionista por modo de desenvolvimento industrial, o ho-
natureza, como salientam Moraes e Costa mem passa a ser cada vez mais operário.
(1987, p. 138): Lévy não menciona, mas outro impor-
tante construtor de identidades humanas, que
Expansão e concentração são, assim, fun-
damentos do desenvolvimento do capita-
tem tudo a ver com o Território, embora te-
lismo. A tendência do desenvolvimento nha se consolidado no Espaço mercantil, é a
das trocas e da circulação em geral é a de nação. Com a consolidação dos Estados mo-
incorporar ao circuito econômico, espaços dernos, um dos mais importantes sinais de
cada vez mais dilatados. Já foi discutido o identidade é o pertencimento a uma nação.
processo de formação da história univer- Como fenômeno “construído essencialmen-
sal, com a mundialização da economia e a te pelo alto”, como diz Hobsbawn (1990, p.
globalização dos fluxos. A internacionali- 20), os Estados bem que tentaram coincidir a
zação constitui o momento mais avançado nação com os limites de seu território, embo-
do processo de valorização do espaço.
ra, muitas vezes, em vão, haja vista a grande
Castells (1999) situa o início do modo quantidade de países plurinacionais. Sendo
de desenvolvimento industrial um pouco assim, ao nome, ao “endereço” e à profissão
mais tarde, com o advento das revoluções deve-se acrescentar a nacionalidade, que é
industriais no século XVIII. É exatamente o sinal de pertencimento a um povo, a uma
a partir daí que, segundo Santos (1996), se nação, em sentido antropológico, ou mais
constituiu o meio técnico, com a crescente especificamente ao um Estado territorial,
agregação de objetos técnicos ao espaço geo- em sentido jurídico-político. De acordo com
gráfico, com sua contínua mecanização, com Hobsbawn (1990, p. 32): “A equação nação
o crescimento das cidades, das indústrias e = Estado = povo e, especialmente, povo so-
de outras infraestruturas que dão suporte à berano, vinculou indubitavelmente a nação
produção e à circulação de mercadorias e de ao território, pois a estrutura e a definição
pessoas. Já vimos com Castells (1999) que o dos Estados eram agora essencialmente ter-
advento do modo de desenvolvimento indus- ritoriais.”
trial torna fundamental o acesso a fontes de O último dos espaços antropológicos
matérias-primas e de energia, reforçando o é o Espaço do saber, que Lévy, sem meias
espaço de fluxos, proposto por Lévy (1998), palavras, diz que ainda não existe: “Sejamos
e ampliando o meio técnico, sugerido por francos: o Espaço do saber não existe. É,
Santos (1996). no sentido etimológico, uma u-topia, um
Dando continuidade ao processo his- não lugar. Não se realiza em parte alguma
tórico de construção da identidade do hu- (1998, p. 120).” Não existe porque ainda
mano, com o advento do Espaço mercantil, não adquiriu autonomia e irreversibilidade
além do nome e do “endereço”, passa ser como os anteriores, porém trata-se de uma
cada vez mais importante a definição da pro- perspectiva para o futuro que pode realizar-
fissão, que crescentemente é assalariada. Se se ou não, mas que já existe em germe.

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A educação e o ensino de Geografia: na era da informação ou do conhecimento?

Segundo Levy, está nascendo com o crescen- especialmente as competências – e a


te desenvolvimento da inteligência coletiva, administração de uma sociedade na qual
com a construção de universos virtuais, se possa viver. É como se o humano, em
de ciberespaços em que se buscam formas toda a sua extensão e variedade, voltasse
a se tornar matéria-prima. (LÉVY, 1998,
inéditas de comunicação, de solidariedade
p. 44).
e de produção de subjetividades. O homem
passa a ser cada vez mais um viajante virtual, Causa estranhamento o fato de que
navegando no ciberespaço, embora também o referido autor utilize o verbo “voltasse”,
viaje cada vez mais no espaço concreto, porque na história humana, desde a Anti-
geométrico. guidade, e de forma mundializada e
Nesse novo espaço antropológi- extremamente violenta, durante o Espaço
co, ainda em gestação, o conhecimento é mercantil, o ser humano foi “matéria-
a principal fonte de riquezas. Nas palavras prima” para ser explorado, primeiramente
de Lévy (1998, p. 25): “Os conhecimentos como escravo (aí mais propriamente como
vivos, os savoir-faire e competências dos mercadoria) e depois, já sob o industrialismo,
seres humanos estão prestes a ser reconheci- como mão de obra barata. Mas, quando ele
dos como a fonte de todas outras riquezas.” fala em ser humano como “matéria-prima”
Como vimos, Castells (1999) também afirma é no sentido de que este passe a ser o centro
que o conhecimento é o fator de produção das preocupações, a fonte de todo o valor,
mais importante no modo de desenvolvi- o alvo de todos os projetos. Que o ser
mento informacional. Santos (1996), numa humano passe a ser o senhor de seu destino,
perspectiva mais territorial, chama a atenção plenamente emancipado e tendo suas
para a recente emergência do meio técnico- competências valorizadas e sua qualidade de
-científico-informacional, no atual período vida melhorada. Lévy (1998) espera que isso
do capitalismo, com objetos técnicos marca- se realize no Espaço do saber. Nós também,
dos por crescente incorporação de ciência e mas observando a realidade do momento
de técnica, que têm sua expressão máxima presente, temos de admitir que se trata de
nas cidades globais e nos tecnopolos ou par- uma visão muito otimista.
ques científicos.
Todas essas mudanças com relação
ao conhecimento, seja na vida das pessoas,
Mudanças na educação
das empresas, das instituições e do território,
são frutos da terceira revolução industrial
(KUMAR, 1997), para seguir a cronologia Voltando à introdução deste artigo, a
histórica, ou da revolução informacional propósito da existência de uma crise na edu-
(CASTELLS, 1999) ou técnico-científica cação, pode-se dizer que se trata de um diag-
(SANTOS, 1996). nóstico banalizado e até antigo. Em 1958,
a filósofa alemã Hannah Arendt, que desde
Para Castells a nova “matéria-prima”
1940 vivia nos Estados Unidos, após fugir
é o conhecimento, enquanto que para Lévy é
do nazismo, escreveu um texto cujo título é
o ser humano. Segundo palavras deste:
precisamente: A crise na educação. Tratava
O setor de futuro da produção antrópica da realidade norte-americana, mas sugeria
caminha sobre duas pernas indissociáveis: que podia ser um problema de outros países.
a cultura das qualidades humanas – Em suas palavras:

Olhar de professor, Ponta Grossa, 13(1): 13-36, 2010.


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José Eustáquio de Sene

A crise geral que acometeu o mundo mo- sistema de ensino provincial (fundamental e
derno em toda parte em quase toda esfe- médio). Quais são as razões que levaram o
ra da vida se manifesta diversamente em governo dessa província canadense a buscar
cada país, envolvendo áreas e assumindo uma redefinição da missão de suas escolas e
formas diversas. Na América, um de seus
uma revisão curricular? Com a palavra Pau-
aspectos mais característicos e sugestivos
é a crise periódica na educação, que se tor-
line Marois, Ministra da Educação:
nou, no transcurso da última década pelo
First, knowledge plays and will continue to
menos, um problema político de primeira
play a central role in our society. Students
grandeza, aparecendo quase diariamen-
must be given the opportunity to master
te no noticiário jornalístico. (ARENDT,
essential, even complex learning, but first
2005, p. 221).
and foremost basic skills and knowledge,
at the appropriate time in their schooling.
O educador canadense Kieran Egan, Second, students must be prepared to
escrevendo quase meio século depois, tam- assume their role as responsible citizens
bém aponta uma crise na educação, uma by learning and sharing common values.
ineficiência das escolas. O subtítulo de seu Finally, students must be made aware
livro A mente educada, lançado no Brasil em of the global challenges which have
2002, é: os males da educação e a ineficiên- and impact on all societies by gradually
cia educacional das escolas. Mudam apenas developing their ability to think and act
in a manner that transcends current trends
os diagnósticos sobre o porquê da crise. Egan
and personal interests. (CANADÁ, 1997,
(2002) aponta a incompatibilidade entre o p. 3).
objetivo de socialização, o ideal platônico
de busca desinteressada da verdade, de cul- Nos Estados Unidos, o Departamento
tivo do intelecto, e o ideal russeauniano de de Educação elaborou em 2004 o documento
estímulo ao desenvolvimento do potencial No Child Left Behind para orientar mudan-
pessoal do aluno. Noutras palavras, o anti- ças no sentido de reforçar a qualidade de en-
go embate academicismo x pragmatismo. sino ministrado nas escolas públicas de nível
Arendt (2005), entre outros fatores, aponta básico. Rod Paige, Secretário de Educação,
a negligência com a formação dos professo- destacando a importância da educação para a
res em suas respectivas disciplinas. Para ela, democracia e a economia do país e buscando
a escola deveria ser mais platônica e menos inspiração nos “Pais Fundadores” da nação
russeauniana. americana, declara:
A profusão de reformas educacionais
Education is one of the most important
que estão sendo discutidas e/ou implemen- functions of government. It was a
tadas em diversos países é um forte indício concern of the early settlers, and a focus
dessa crise ou inadequação à era informacio- of the Founding Fathers in writing the
nal, marcada por crescente competição entre Constitution precisely because our
trabalhadores e empresas, lugares e nações e democracy is dependent on an educated
na qual o conhecimento ganha cada vez mais public. […] The Founding Fathers were
relevância. correct: Education is necessary for the
growth and prosperity of our country.
Em 1997, o Ministério de Educação As education more inclusive and of
do Quebec, Canadá, elaborou um documen- better quality, it has enhanced American
to – Québec Schools on Course: Educational economic and political leadership. (U. S.,
Policy Statement – propondo uma reforma no 2004, p. 2).

Olhar de professor, Ponta Grossa, 13(1): 13-36, 2010.


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A educação e o ensino de Geografia: na era da informação ou do conhecimento?

A preocupação de garantir a compe- adaptação às mudanças ensejadas pela


titividade do país e mantê-lo na dianteira sociedade do conhecimento:
econômica e tecnológica na economia
globalizada aparece claramente no seguinte A la vista de la evolución acelerada de la
ciencia y la tecnología y el impacto que
trecho: “Satisfying the demand for highly
dicha evolución tiene en el desarrollo
skilled workers is the key to maintaining
social, es más necesario que nunca que
competitiveness and prosperity in the global la educación prepare adecuadamente
economy.” (U. S., 2004, p. 2). para vivir en la nueva sociedad del
Também em 2004, o governo conocimiento y poder afrontar los retos
espanhol, por meio do Ministerio de que de ello se derivan. (ESPAÑA, 2006,
Educación y Ciencia, produziu o documento p. 17160).
Una educación de calidad para todos y
entre todos: propuestas para el debate, No Brasil, os Parâmetros Curricula-
com o objetivo de subsidiar as discussões res Nacionais (PCN) para a educação bási-
na sociedade com vistas à votação de um ca foram elaborados no final dos anos 1990.
Projeto de Lei de reforma educacional. A Nos do ensino médio (PCNEM), lançados
então Ministra da Educação, Maria Jesús em 19992, ficou mais evidente a necessidade
San Segundo Gómez de Cadiñanos, assim de reforma curricular como uma imposição
justificou a necessidade da reforma: da revolução tecnológica e da crescente im-
portância do papel do conhecimento nas re-
Para alcanzar una ciudadanía social y lações sociais. De acordo com o documento:
economicamente activa es imprescindible
una educación en permanente mejora, A denominada ‘revolução informática’
que ofrezca a los jóvenes más y mejor promove mudanças radicais na área do co-
formación. Debemos procurar que todos nhecimento, que passa a ocupar um lugar
los estudiantes obtengan los mejores central nos processos de desenvolvimen-
resultados de que son capaces. Tenemos to, em geral. [...] As propostas de reforma
que continuar aproximando las tasas de curricular para o Ensino Médio se pautam
titulación en todos los niveles educativos nas constatações sobre as mudanças no
a las que se alcanzan en los países mejor conhecimento e seus desdobramentos, no
situados de nuestro entorno y a las que la que se refere à produção e às relações so-
Unión Europea se propone como objetivo ciais de um modo geral. (BRASIL, 2002,
para los próximos años. El esfuerzo p. 15).
debe ser particularmente intenso en
la enseñanza básica y en la educación Observe que as justificativas do docu-
secundaria postobligatoria. Pero no mento brasileiro para a reforma educacional
sólo debemos ofrecer más formación
são em linhas gerais as mesmas que constam
para todos, ha de ser también de mayor
calidad, para que permita a nuestros
nas propostas canadense, norte-americana e
jóvenes incorporarse del modo más espanhola. Aliás, as palavras referentes ao
satisfactorio posible al mundo laboral y papel central do conhecimento são quase
a una sociedad cambiante y fuertemente idênticas às da proposta canadense.
interrelacionada con otras culturas.
(ESPAÑA, 2004, p. 3-4). 2
A primeira versão dos Parâmetros Curriculares Na-
cionais do Ensino Médio (PCNEM) foi lançada em
No texto da nova reforma educacional 1999; depois, em 2002, o MEC publicou outra versão
– Ley Orgánica de Educación, aprovada com pequenas modificações de texto, a qual foi utiliza-
em 2006 – ficou mais patente a busca de da nas transcrições deste artigo.

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José Eustáquio de Sene

O ensino ministrado nas escolas A LDB 5692/71 expressava a realida-


brasileiras, de forma geral, ainda responde de da segunda revolução industrial, então em
às necessidades da segunda revolução curso, e procurava dar respostas às suas ne-
industrial, da era fordista, quando atual- cessidades; a LDB 9394/96, que é orientado-
mente vivenciamos a terceira revolução ra do PCNEM, expressa a terceira revolução
industrial, a era pós-fordista ou da produção industrial em andamento e procura dar conta
flexível (HARVEY, 1993). De acordo com das novas demandas ensejadas por ela.
Pontuschka (1999, p. 112): Porém, como o PCNEM não foi ab-
A escola da fábrica do século passado sorvido pelo sistema de ensino, em 2004 o
ainda está aí e não dá conta da formação Ministério da Educação convocou diversos
desse jovem. Há que se pensar em um en- especialistas para a elaboração de outra pro-
sino que forme o aluno do ponto de vista posta: Orientações Curriculares do Ensino
reflexivo, flexível, crítico e criativo. Não Médio. Esse documento serviu de base para
é uma formação para o mercado de traba- o debate sobre os rumos do novo ensino mé-
lho apenas, mas um jovem preparado para dio, como tem sido chamado.
enfrentar as transformações cada vez mais
céleres que certamente virão.
O PCNEM “não se concretizou”, para
usar as palavras do então Secretário de Edu-
Na verdade, essas transformações já cação Básica, Francisco das Chagas Fernan-
chegaram. Consequentemente são outras as des, na apresentação do documento Orienta-
demandas, não apenas para o trabalhador, ções Curriculares do Ensino Médio,
mas também para o cidadão, embora não
[...] por não ter conseguido, nas diferentes
seja aconselhável separar esses dois sujeitos
instâncias do Ensino Médio, aprofundar
sociais, porque, na realidade, são duas di-
análise consistente que permitisse escla-
mensões da pessoa. O próprio PCNEM faz recer e orientar as escolas, bem como,
essa constatação, quando afirma: promover o estudo do documento e
discutir as possibilidades didático-
Nas décadas de 60 e 70, considerando
pedagógicas, por ela apresentadas, junto
o nível de desenvolvimento da indus-
ao professor na execução da sua prática
trialização na América Latina, a política
educacional vigente priorizou, como fi- docente. (BRASIL, 2004, p. 6).
nalidade para o Ensino Médio, a forma-
ção de especialistas capazes de dominar Parece-nos que o Secretário acerta no
a utilização de maquinarias ou de dirigir diagnóstico do problema, mas erra na expli-
processos de produção. Esta tendência le- cação de suas causas e consequentemente
vou o Brasil, na década de 70, a propor a na prescrição da solução. Mesmo que Egan
profissionalização compulsória, estratégia (2002) não tenha razão em seu diagnósti-
que também visava a diminuir a pressão co sobre a crise da educação, ou que tenha
da demanda sobre o Ensino Superior. apenas para a América Anglo-Saxônica, ele
Na década de 90, enfrentamos um desafio oferece importantes indícios para a reflexão
de outra ordem. O volume de informa- sobre a realidade brasileira, quando fala das
ções, produzido em decorrência das novas
incompatibilidades vigentes na educação.
tecnologias, é constantemente superado,
colocando novos parâmetros para a for-
A proposta do PCNEM não se concretizou
mação dos cidadãos. Não se trata de acu- porque apresenta uma incompatibilidade
mular conhecimentos. (BRASIL, 2002, p. intrínseca. O documento propõe um ensino
15). interdisciplinar, como se percebe:

Olhar de professor, Ponta Grossa, 13(1): 13-36, 2010.


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A educação e o ensino de Geografia: na era da informação ou do conhecimento?

Quando a LDB destaca as diretrizes curri- Cuban (1975 apud VIÑAO, 2003), isto é,
culares específicas do Ensino Médio, ela hábitos e costumes consolidados ao longo
se preocupa em apontar para um planeja- do tempo sobre modos de ensinar, seleção
mento e desenvolvimento do currículo de de conteúdos, formas de avaliação etc., que
forma orgânica, superando a organização é muito difícil de modificar. Evidentemente
por disciplinas estanques e revigorando a
que a mudança pode e deve ocorrer, mas
integração e articulação dos conhecimen-
tos, num processo permanente de inter-
talvez não ocorra na velocidade que os
disciplinaridade e transdisciplinaridade. elaboradores dos documentos e o MEC
(BRASIL, 2002, p. 31). esperavam. Para a implantação de um ensino
interdisciplinar seria necessário primeiro
No entanto, toda a cultura vigente nas que os professores fossem preparados para
escolas está ancorada num currículo discipli- essa mudança. Devem ser orientados, como
nar. As aulas são divididas por disciplinas, os propõe o Secretário de Educação Básica,
livros didáticos são organizados por discipli- mas é fundamental a elaboração de novos
nas e a longa tradição cartesiano-positivista materiais didáticos, porque todos sabemos
do peso que os livros educativos têm na
da formação acadêmica dos professores é
relação ensino-aprendizagem. Por diversas
disciplinar. Além disso, o próprio PCNEM,
razões, é muito difícil para os professores
apesar de defender a interdisciplinaridade,
elaborarem seu próprio material didático.
na versão complementar publicada em 2002,
E mais importante: de médio a longo prazo
chamada de PCN + ensino médio (BRASIL,
é fundamental reavaliar a fragmentada
2002a), propõe uma organização curricular formação universitária dos professores,
em eixos temáticos essencialmente discipli- calcada no paradigma cartesiano-positivista.
nares. Essa incoerência é apontada no docu-
Entretanto, o que é mais preocupan-
mento Orientações Curriculares do Ensino
te são as incompatibilidades e incoerências
Médio, quando analisa a proposta para a ge-
presentes nos próprios documentos elabo-
ografia, mas ela também ocorre nas outras
rados com o intuito de orientar a mudança.
disciplinas:
Não é de se estranhar que eles não sejam
[...] a forma de organização dos conteú- absorvidos nas escolas. Aliás, o fato de exis-
dos, como está apresentada nas páginas 66 tirem tantos e tão extensos documentos já é
a 68 dos PCN +, em análise, não contém, sintomático. O PCNEM, elaborado em 1999,
em si mesma, a proposta de interdiscipli- “não se concretizou”, então o MEC elabo-
naridade defendida nos parâmetros uma rou o PCN + ensino médio, em 2002, que
vez que os conteúdos continuam a ser aparentemente aprofundou, ou explicitou,
apresentados por disciplinas. Além disso, as contradições do documento anterior, tor-
o livro didático, importante instrumento nando necessária a elaboração de uma nova
de trabalho dos professores desse nível de proposta – as Orientações Curriculares de
ensino, também são produzidos e utiliza- 2004 – para ser debatida e servir de base para
dos em componentes curriculares especí- um novo documento publicado em 2006 –
ficos. (BRASIL, 2004, p. 325). as Orientações Curriculares para o Ensino
Médio.
O equilíbrio do par cultura-educação
ou conservação-transformação não é trivial. A tensão entre cultura e educação
Na escola há uma cultura educacional, uma aflora em qualquer proposta de reforma edu-
“gramática escolar” no dizer de Tyack e cacional e, situadas no campo da cultura,
afloram também questões epistemológicas,

Olhar de professor, Ponta Grossa, 13(1): 13-36, 2010.


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José Eustáquio de Sene

teórico-metodológicas e mesmo ideológicas. feita para o então Projeto Aprendiz (atual


Como nos lembra Tomaz Tadeu da Silva, na ONG Cidade Escola Aprendiz), realizada em
apresentação do livro de Goodson (1995, 1998, entrevistou 178 profissionais entre os
p. 8): “O currículo não é constituído de co- quais jornalistas, especialistas em recursos
nhecimentos válidos, mas de conhecimentos humanos e empresários. Foram indagados
considerados socialmente válidos.” O que é sobre quais eram as características mais
ensinado nas escolas é sempre uma seleção relevantes para o trabalhador do futuro, do
de conhecimentos a partir de um universo novo milênio, nas categorias formação,
cultural mais amplo. Apple (2006) chama habilidades, atitudes e personalidade. Na
isso de “tradição seletiva”. A questão é: vá- categoria formação a frase mais mencionada
lidos para quem? Silva mesmo responde, (79% das menções) foi: “nunca parar de
quando afirma que: aprender”. Ou seja, o trabalhador do futuro,
na verdade, do presente, pois essa realidade
Nessa perspectiva, o currículo deve ser já está posta, não pode parar de aprender e a
visto não apenas como a expressão ou a clássica separação entre a escola e o trabalho,
representação ou o reflexo de interesses vigente na era fordista, não faz mais sentido
sociais determinados, mas também como atualmente, um período marcado pela pro-
produzindo identidades e subjetividades
dução flexível. Apesar de seu reduzido
sociais determinadas. O currículo não
escopo, o resultado dessa pesquisa é um
apenas representa, ele faz. É preciso re-
conhecer que a inclusão ou exclusão no indício das novas tendências da atual era
currículo tem conexões com a inclusão informacional e vai ao encontro da proposta
ou exclusão na sociedade. (GOODSON, do Relatório para a UNESCO: “A educação
1995, p. 10). deve transmitir, de fato, de forma maciça e
eficaz, cada vez mais, saberes e saber-fazer
Em outras palavras, o currículo não é evolutivos, adaptados à civilização cognitiva,
neutro. pois são as bases das competências do
Como sabemos, as rápidas mudanças futuro.” (DELORS, 2001, p. 89). Fica mais
impostas pela revolução técnico-científica evidente essa tentativa de dar respostas à
ou informacional têm criado novas exigên- realidade quando o mesmo relatório enuncia
cias aos trabalhadores e cidadãos em termos os quatro pilares da educação:
de formação, habilidades, competências,
Para poder dar resposta ao conjunto das
atitudes e consciência acerca de direitos e suas missões, a educação deve organizar-
deveres. Além dos governos, organismos in- se em torno de quatro aprendizagens
ternacionais como ONU também têm elabo- fundamentais que, ao longo de toda a
rado propostas de mudanças para o ensino, vida, serão de algum modo para cada
buscando dar conta dessas novas deman- indivíduo, os pilares do conhecimento:
das, como fica patente no Relatório para a aprender a conhecer, isto é adquirir os
UNESCO da Comissão Internacional sobre instrumentos da compreensão; aprender
Educação para o século XXI (DELORS, a fazer, para poder agir sobre o meio
2001). envolvente; aprender a viver juntos, a fim
de participar e cooperar com os outros em
Evidentemente, as empresas são todas as atividades humanas; finalmente
as maiores interessadas em trabalhadores aprender a ser, via essencial que integra
formados segundo esses novos paradigmas. as três precedentes. (DELORS, 2001, p.
Uma pesquisa da CPM-Market Research 89-90).

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A educação e o ensino de Geografia: na era da informação ou do conhecimento?

O PCNEM também faz menção a es- Nessa mesma linha, o Relatório para a
ses quatro pilares da aprendizagem e desta- UNESCO defende que:
ca a importância do “aprender a aprender”,
“de uma aprendizagem permanente, de uma [...] uma resposta puramente quantitativa à
formação continuada, considerando como necessidade insaciável de educação – uma
bagagem escolar cada vez mais pesada –
elemento central dessa formação a constru-
já não é possível nem mesmo adequada.
ção da cidadania em função dos processos Não basta, de fato, que cada um acumu-
sociais que se modificam.” (BRASIL, 2002, le no começo da vida uma determinada
p. 25). quantidade de conhecimentos de que pos-
A revolução técnico-científica ou in- sa abastecer-se indefinidamente. É, antes,
formacional tem imposto mudanças nos necessário estar à altura de aproveitar e
produtos, nos serviços, nos processos pro- explorar, do começo ao fim da vida, todas
dutivos, enfim, nas relações de produção e as ocasiões de atualizar, aprofundar e en-
riquecer estes primeiros conhecimentos, e
também nas relações sócio-espaciais. Logo,
de se adaptar a um mundo em mudança.
é razoável supor que imporia mudanças tam- (DELORS, 2001, p. 89).
bém na educação, na relação ensino-aprendi-
zagem, até porque a escola não está isolada O PCNEM também faz proposta se-
do mundo e, de uma forma ou de outra, têm melhante:
procurado ao longo da história dar respostas
às demandas da sociedade, sobretudo a capi- Não há o que justifique memorizar conhe-
talista, como fica evidente pelos documentos cimentos que estão sendo superados ou
elaborados pelos ministérios da educação cujo acesso é facilitado pela moderna tec-
dos países mencionados. Independentemen- nologia. O que se deseja é que os estudan-
te da instrumentalização da escola pelo sis- tes desenvolvam competências básicas
que lhes permitam desenvolver a capaci-
tema produtivo – que é real, embora a edu-
dade de continuar aprendendo. (BRASIL,
cação tenha um sentido muito maior do que 2002, p. 25).
simplesmente dar respostas às necessidades
da economia – as mudanças ensejadas pela Como se vê, o educador suíço ainda
revolução informacional impõem um novo tem muito a contribuir para esse debate e
enfoque sobre o conhecimento e, sobretu- suas propostas de construção do conheci-
do, sobre sua transmissão ou construção. mento, de desenvolvimento de estruturas de
Apoiando-se na teoria Piagetiana, propõe assimilação, devem ser consideradas como
Becker (2003, p. 21): uma possível resposta às novas necessida-
des em termos de competências e habilida-
Os conteúdos devem estar a serviço do
des postas pela era informacional, a despeito
aumento da capacidade de aprendizagem
(construção de estruturas) e não constituir das restrições apontadas por Gardner (1995)
um fim em si mesmos: as estruturas per- quanto à questão das inteligências. Como
manecem ou são subsumidas por estrutu- afirma Becker (2003, p. 17): “A obra de Pia-
ras mais capazes; os conteúdos caducam. get talvez seja a mais acabada manifestação a
Por isso, o ensino deve organizar-se, pri- favor do ‘deixar aprender’ ou do ‘aprender a
meiramente, no sentido do conhecimento- aprender’.” Evidentemente que as contribui-
-estrutura e só secundariamente no senti- ções de outros teóricos cognitivistas, entre os
do do conhecimento-conteúdo. quais Vigotski (2003) e Ausubel (2003), não
devem ser desprezadas.

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José Eustáquio de Sene

E a Geografia: qual é seu papel? 2002a), que é uma tentativa do MEC de es-
miuçar o PCNEM (BRASIL, 1999, 2002). O
A geografia escolar possui uma texto elaborado pelos professores Eliseu Sa-
longa tradição de ensino enciclopédico vério Sposito e Maria Encarnação Sposito,
e descontextualizado, já vigorosamente do Departamento de Geografia da UNESP
criticada por Lacoste (1999), inclusive (Presidente Prudente), critica a definição dos
apontando o aspecto ideológico da “geografia conceitos-chave e a proposta dos eixos temá-
dos professores”. A partir de agora essa ticos da geografia, que estariam baseados no
disciplina também vem sendo convidada conceito de espaço geográfico elaborado por
a contribuir com seu arcabouço teórico- Milton Santos. Os autores argumentam que
metodológico renovado – seus conteúdos, como esse conceito está ancorado numa for-
conceitos e categorias – para auxiliar os ma estruturalista de pensar, dificultaria o tra-
alunos a desenvolverem suas competências tamento interdisciplinar. Em suas palavras:
e habilidades, suas inteligências, suas estru-
A organização dos eixos temáticos em
turas de assimilação, enfim, a aprenderem
Geografia e seus desdobramentos em
a aprender. De que forma a geografia pode subtemas, por exemplo, estão baseados,
contribuir para isso? Apesar de a renovação fundamentalmente, no conceito de espaço
crítica da geografia acadêmica completar geográfico elaborado por Milton Santos e
mais de três décadas e muito ter sido feito no se prende a essa forma de pensar, de base
sentido de transformar o ensino da geografia estruturalista. Como as bases teóricas dos
escolar, ainda não chegamos a um consenso, outros campos disciplinares não são, ne-
ou melhor, ainda não encontramos caminhos cessariamente, as mesmas e, em função
consistentes, mesmo que no dissenso. Como do “caráter fechado” que caracteriza a
forma de estruturalista de elaborar o pen-
questiona Pontuschka (1999, p. 112):
samento, a relação interdisciplinar com
Estamos terminando o século XX e con- os outros componentes fica dificultado.
tinuamos a nos fazer perguntas antigas (BRASIL, 2004, p. 325).
sobre o ensino-aprendizagem da geogra-
fia. Que conteúdos ensinar? Que método Em outra passagem, insistindo na
utilizar? Que linguagens priorizar? Como crítica à metodologia adotada, os autores
sensibilizar os alunos para a importância afirmam:
do conhecimento da geografia para a sua
vida em suas múltiplas dimensões?” Uma segunda apreciação sobre os
conceitos estruturantes do documento
Atualizando seu texto, já estamos co- leva à reflexão sobre a tendência teórica
meçando o século XXI, mas as dúvidas per- adotada. Ela se baseia, ao eleger o espaço
geográfico como conceito norteador dos
manecem e a relação da geografia acadêmica
demais conceitos, numa concepção de
com a geografia escolar nem sempre é fácil.
Geografia que se consolidou no Brasil pela
Vejamos algumas evidências. corrente estabelecido pelo pensamento de
No documento Orientações Curri- Milton Santos. Não é demérito nenhum se
culares do Ensino Médio (BRASIL, 2004), orientar por tal perspectiva; no entanto,
o trecho que analisa a disciplina geografia arrisca-se esquecer a sociedade como
não concorda com o enfoque teórico-meto- objeto de estudo da geografia, ao se
dológico da proposta do PCN + (BRASIL, privilegiar forma, função, estrutura e
processo, elementos fundamentais para

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A educação e o ensino de Geografia: na era da informação ou do conhecimento?

a leitura do espaço geográfico, segundo Avançando sua leitura do mundo, no


essa perspectiva. (BRASIL, 2004, p. 337). livro A natureza do espaço, Santos (1996,
p. 51) propõe que: “O espaço é formado por
Quase no final do documento, ainda um conjunto indissociável, solidário e tam-
reafirmam: “Como afirmado anteriormente, bém contraditório, de sistemas de objetos e
ao se orientar por tal tendência teórica arris- sistemas de ações, não considerados isolada-
ca-se negligenciar a sociedade como objeto mente, mas como o quadro único no qual a
científico e filosófico de uma proposta cur- história se dá.” Incorporou em sua tentativa
ricular, ficando limitado apenas à compreen-
de construção desse conceito, que sempre
são do espaço geográfico.” (BRASIL, 2004,
viu como algo dinâmico, a noção de rede,
p. 337).
sendo que o sistema de objetos é a paisagem,
Mas, como compreender a sociedade cada vez mais artificializada, e o sistema de
sem compreender o espaço geográfico? Ou ações é a sociedade, cada vez mais globa-
como compreender o espaço geográfico sem lizada. E ambos se materializam no espaço
compreender a sociedade? Esses conceitos geográfico.
não são separados, não podem ser compre-
endidos e operacionalizados isoladamen- Como resultado dessas críticas ao es-
te. O próprio Milton Santos nunca afirmou paço geográfico como conceito estruturante
isso, muito pelo contrário. Desde seu famoso da proposta curricular do PCNEM (BRASIL,
texto no Boletim Paulista de Geografia n. 1999, 2002) e do PCN + (BRASIL, 2002a),
54, quando lançou o conceito de formação as novas Orientações Curriculares para o
sócio-espacial, até seu último livro antes de Ensino Médio (BRASIL, 2006) passaram a
falecer, ele defendeu a inseparabilidade entre propor em seu lugar as categorias de espa-
a sociedade e o espaço geográfico: ço e tempo, junto do conceito de sociedade.
A pergunta que fica é: como os professores
Como pudemos esquecer por tanto tempo da escola básica, na busca de compreender
esta inseparabilidade das realidades e das as relações entre os homens e destes com a
noções de sociedade e de espaço ineren- natureza, operacionalizarão espaço e tempo
tes à categoria da formação social? Só o como categorias?
atraso teórico conhecido por essas duas
As passagens transcritas acima ilus-
noções pode explicar que não se tenha
procurado reuni-las num conceito único. tram alguns dos embates teóricos no cam-
Não se pode falar de uma lei separada po disciplinar, na geografia acadêmica, e as
da evolução das formações espaciais. De dificuldades de transposição didática e im-
fato, é de formações sócio-espaciais que plantação de reformas curriculares na escola
se trata. (SANTOS, 1977, p. 93). básica. Como foi dito, o currículo, além de
expressar subjetividades sociais, molda-as,
No livro Por uma geografia nova, o expõe conflitos epistemológicos, teórico-
autor reafirma isso: -metodológicos e, muitas vezes, ideológicos.
Na realidade, críticas e sugestões
A sociedade não se pode tornar objetiva
sem as formas geográficas. Por outro lado,
apontam caminhos e são um passo neces-
os objetos que constituem a paisagem sário para encontrá-los. Somente o avanço
orientam, depois, a evolução da própria das pesquisas, a reflexão e o debate poderão
sociedade, fato que não tem sido suficien- defini-los com maior clareza. Uma questão é
temente nem sistematicamente indicado. certa: seja qual for o caminho a ser trilhado,
(SANTOS, 1980, p. 199). com o advento da revolução informacional,

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José Eustáquio de Sene

a geografia – acadêmica e escolar – também ser um fim em si mesmo e passasse a ser


está sendo instada a rever seus conteúdos um meio para o desenvolvimento humano, a
e, mais do que isso, seu arcabouço teórico- expansão das liberdades reais das pessoas e
-metodológico, para garantir sua capacidade a realização dos projetos pessoais. Em suas
explicativa e, portanto, seu lugar como disci- palavras (SEN, 2000, p. 17):
plina relevante na sociedade do conhecimen-
to. Na escola básica, torna-se fundamental a Ver o desenvolvimento como expansão
seleção de conteúdos relevantes e contextua- de liberdades substantivas dirige a aten-
ção para os fins que o tornam importante,
lizados, o levantamento de informações con-
em vez de restringi-la a alguns dos meios
sistentes, que possam embasar a produção de que, inter alia, desempenham um papel re-
conhecimentos geográficos, possibilitando levante no processo.
aos alunos uma melhor compreensão do ace-
lerado mundo contemporâneo, organizado Considerando o cenário do mundo
sob o modo de desenvolvimento informacio- atual, tudo isso não deixa de ser uma
nal e sobre um meio crescentemente técnico- utopia, uma ilusão. Mas sem utopia não
-científico-informacional. Entretanto, o fato nos movemos para frente, sem ilusão não
de a geografia ser uma disciplina multipara- projetamos o futuro e sem projeto morremos
digmática expõe a diversidade de enfoques como ser humano. E o meio para a realização
teórico-metodológicos em seu campo acadê- tanto dos projetos pessoais como coletivos
mico e as dificuldades de transposição para a passa necessariamente pela educação, que,
escola básica. Esse fato pode ser uma rique- portanto, deveria ser a prioridade máxima de
za, mas também pode se revelar um proble- todos os governos, especialmente no Brasil.
ma ao enfraquecer sua capacidade explica- Porém, a educação escolar não pode de
tiva e fragilizá-la perante outras disciplinas. maneira nenhuma limitar-se a dar respostas
às necessidades do sistema produtivo,
embora esse papel não possa ser desprezado,
Considerações finais especialmente na sociedade do conhecimento
globalizada, na qual a competição por
Na era informacional, enquanto mercados e por empregos é crescente.
Manuel Castells pensa em economia do Portanto, o desafio crucial que se coloca
conhecimento, sob uma perspectiva econo- para a escola é compatibilizar a formação do
micista, Pierre Lévy pensa em economia do trabalhador-cidadão preparado para o mundo
humano, sob uma perspectiva humanista. de hoje e da pessoa humana emancipada, no
sentido atribuído por Habermas (1993), e
Seria um grande avanço se o sistema
livre, como defende Sen (2000). A geografia
econômico, em vez de buscar apenas a valo-
escolar tem muito a contribuir para isso,
rização do capital, a ampliação dos lucros – e
especialmente se conseguir trilhar caminhos
nesse caso o homem continuaria sendo visto
mais consistentes no processo de explicação
como meio –, buscasse a valorização do ser
do mundo.
humano, o engrandecimento das pessoas,
que nesse caso seriam vistas como fim.
Seria muito auspicioso, como defen-
de o economista indiano Amartya Sen, se
o desenvolvimento econômico deixasse de

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