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INSTITUTO FEDERAL GOIANO

PROFESSOR: ANDESSON NASCIMENTO


DISCIPLINA: FÍSICA
1º Ano – Agropecuária e Informática
Cinemática: Funções Horárias do MUV Física

Aprendemos no módulo anterior que existem movimentos onde a velocidade pode mudar. Nomeamos esses
movimentos como: movimentos variados. Vimos também que a quantidade física responsável por essa mudança de
velocidade á denominada aceleração.
Além de aprender uma classificação nova de movimento, aprender a calcular a aceleração de um movimento
acelerado, aprendemos também que o movimento pode ser uniformemente variado.
No presente módulo vamos revisitar a ideia do movimento uniformemente variado, e vamos complementar
seu estudo com a introdução às suas funções horárias.
Movimento Uniformemente Variado (MUV)
Como estudado anteriormente, o movimento que possui variação de velocidade com a passagem do tempo é
chamado de movimento variado. Caso o movimento tenha a característica da variação da velocidade ser constante,
esse tipo de movimento ganha outro nome: movimento uniformemente variado (MUV).
Em outras palavras, se a velocidade de um corpo muda sempre da mesma forma com a passagem do tempo,
por exemplo um carro que aumenta sua velocidade de 5 m/s a cada segundo, esse corpo está em MUV.
Como a quantidade responsável pela variação da velocidade é aceleração, se um corpo está em MUV a
aceleração é necessariamente constante, ou seja, o valor de aceleração será o mesmo só início ao fim do
movimento.
Para o MUV, temos a condição:

Aceleração Constante Movimento Uniformemente Variado


a = constante ≠ 0 (MUV)
Aqui cabe uma pergunta: por que a aceleração deve ser diferente de zero para que o movimento seja variado?
Pense!
Pois bem, relembramos o que é o MUV e sua característica principal. Vamos partir para a descrição
matemática desse movimento. Lembre que, para fazer as previsões de posições em determinados intervalos de
tempo, lá no movimento uniforme, recorremos a uma função, chamada função horária da posição (para o MU).
Faremos a mesma coisa aqui. Termos duas funções horárias no MUV: a função horária da posição e a função
horária da velocidade.
Funções Horárias (MUV)
No MUV temos duas funções horárias pois duas quantidades variam com o tempo: a posição e a velocidade.
No MU somente a posição mudava com o tempo e, por isso, temos só a função horária da posição no MU.
• Função Horária da Velocidade – v(t)
A função horária da velocidade é uma relação entre a velocidade do corpo em MUV e o tempo. Com essa
função, podemos prever com que velocidade o corpo estará em um instante de tempo futuro.
É inevitável fazer o paralelo com a função horária da posição para o MU. As duas funções são similares e
podem ser usadas da mesma forma, matematicamente falando.
Vamos deduzir a função v(t) e depois comentaremos a similaridade. Para iniciar, vamos lembrar da expressão
para o cálculo da aceleração de um corpo em movimento variado. Da aula passada, temos:
Δ v v−v 0
a= =
Δ t t−t 0
Considerando essa expressão para o MUV, sabemos que o valor de aceleração será constante. Feito isso,
podemos manipular a equação, reescrevendo-a como:
v−v 0
a= → a·(t−t 0 )=v −v 0
t −t 0
Faremos, para simplificar nossa notação, a mesma coisa que fizemos na dedução da função horária da posição
do MU: consideraremos t0 = 0 s. Lembrando que essa consideração não influencia em nada no movimento, pois o
que importa sempre e a variação do tempo, não o valor do tempo inicial. Com isso:
a· t=v −v 0
Lembrando que a representação v(t) é
Isolando a velocidade final, temos: equivalente a colocarmos somente v.
v (t )=v 0+ a·t
Chegamos então à função horária da velocidade para o MUV. Como já dissemos acima, essa função nos
permite encontrar a velocidade de um movimento em qualquer instante de tempo, desde que se tenha conhecimento
da velocidade inicial, v0, e da aceleração, a, desse movimento. Antes de partirmos para os exemplos envolvendo
essa função, vamos compará-la com a função horária da posição do MU.
Função Horária da Posição (MU) Função Horária da Velocidade (MUV)
Quando a posição muda de forma constante com o Quando a velocidade muda de forma constante com o
tempo, temos: tempo, temos:
Posição varia com o Variação do Variação do
s (t)=s 0 +v· t Velocidade varia com v (t )=v 0+ a·t
tempo. tempo o tempo. tempo
s(t) é o valor da v(t) é o valor da
posição do corpo no Quantidade responsável pela velocidade do corpo Quantidade responsável pela
tempo t. variação da posição no tempo t. variação da velocidade

Com a comparação acima, podemos perceber que a matemática envolvida em ambas é a mesma,
diferenciando só o problema físico e as interpretações.
• Exemplo
1) Um carro percorre um trecho de uma estrada e sua velocidade varia com o tempo de acordo com a tabela
abaixo:
t [s] 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18
v [m/s] 1 5 9 13 17 21 25 29 33 37
Com base nas informações da tabela, responda:
a) qual a aceleração desse carro?
b) como podemos classificar o movimento do carro?
c) qual a função horária da velocidade do carro?
d) se o carro conseguisse manter o movimento como no início, qual seria a velocidade do carro no instante
30s e 60s?
Solução:
v−v 0
a) Como vimos na aula passada, a aceleração de um móvel pode ser calculada usando a= , então:
t −t 0
37−1 36
a= → a= → a=2 m/ s2
18−0 18
Note que pegamos os valores iniciais e finais como sendo os extremos da tabela, porém, nesse caso,
poderíamos pegar quaisquer pares de tempos e velocidades correspondentes que encontraríamos o mesmo valor de
aceleração. Por exemplo, vamos pegar os instantes de tempo 2s (tempo inicial) e 10s (tempo final) e suas
velocidades correspondentes: 5 m/s (velocidade inicial) e 21 m/s (velocidade final). Repetindo o cálculo da
aceleração, temos:
21−5 16
a= → a= → a=2 m/ s2
10−2 8
Isso ocorre pois esse movimento tem a aceleração constante em todos os pontos. Você pode testar com outros
intervalos e verificar que todos possuem a mesma velocidade.
b) o carro muda sua velocidade e, portanto, seu movimento é variado. Além disso, como vimos no item ‘a’, a
aceleração do movimento é constante, devendo o movimento ser classificado como Movimento Uniformemente
Variado. Se quiser ser mais rigoroso com a classificação, podemos dizer que o movimento também é acelerado,
pois a velocidade do carro aumenta, e que é um movimento progressivo, pois a velocidade tem sinal positivo,
significando que o carro se move na direção positiva do eixo de referência.
c) Para descrever a função horária da velocidade do MUV, devemos saber dois valores: a velocidade inicial,
v0, e a aceleração, a, do movimento. A aceleração foi calculada no item ‘a’ e a velocidade inicial pode ser extraída
da tabela. Então,
v (t )=v 0+ a·t → v (t )=1+2 ·t
Sendo a velocidade inicial v0 = 1 m/s e a aceleração a = 2 m/s².
d) para prever (calcular) a velocidade do carro em instantes de tempo futuros (ou até mesmo passados),
usamos a função horária da velocidade. Então:
v (t )=1+2 ·t , para t = 30s, temos: v (30)=1+ 2· 30
Velocidade no instante 30s
v (30)=61m/ s
v (t )=1+2 ·t , para t = 60s, temos: v (60)=1+ 2· 60
Velocidade no instante 60s
v (60)=121m/ s
2) uma pessoa se desloca com uma velocidade que obedece à função horária v = 10 – 2·t. Pede-se:
a) a velocidade inicial;
b) a aceleração;
c) a velocidade no instante 6s;
d) o instante em que a pessoa muda de sentido de movimento;
e) a classificação do movimento (acelerado ou retardado) no instante 4s.
Solução:
a) comparando a função horária da velocidade fornecida pelo problema com a função horária da velocidade
geral do MUV, podemos encontrar a velocidade inicial:
v (t )=10−2· t e v (t )=v 0+ a·t
Logo, podemos afirmar que a velocidade inicial é v0 = 10 m/s.
b) a aceleração pode ser obtida por comparação também:
v (t )=10−2· t e v (t )=v 0+ a·t
Logo, a aceleração da pessoa é a = – 2 m/s². É importante saber que o sinal negativo significa que o corpo
está diminuindo a velocidade com a passagem do tempo. A aceleração encontrada nos diz que a cada segundo, o
móvel diminui sua velocidade em 2 m/s a cada segundo.
c) a velocidade no instante 6s é obtida substituindo esse tempo na função horária da velocidade:
v (t )=10−2· t → v (6)=10−2 · 6 → v (6)=10−12
v (6)=−2 m/s
A velocidade da pessoa no instante t = 6s é v = – 2 m/s.
O sinal negativo da velocidade significa que a pessoa está andando no sentido negativo do eixo referência.
Como ela caminhava no sentido positivo inicialmente (v0 = 10 m/s) e no instante 6s caminha no sentido negativo,
podemos afirmar que em algum momento a pessoa muda o sentido de movimento.
d) o instante em que a pessoa muda o sentido de movimento é o momento em que sua velocidade é nula. Em
todo movimento retilíneo, para que haja alteração do sentido de movimento a velocidade tem que ser nula. Você
pode verificar isso em casa. Desenhe uma linha no chão, ande sobre ela e tente mudar o sentido de seu movimento
sem parar, ou seja, ande para frente e tente voltar sem que sua velocidade vá à zero.
Sendo assim, o instante e, que a pessoa muda o sentido de movimento é obtido quando v(t) = 0:
10
0=10−2 ·t → 2· t=10 → t=
t
t=5 s
O que nos diz que, após 5 segundos a pessoa parou e começou a caminhar no sentido oposto.
e) o movimento é retardado pois a velocidade da pessoa está diminuindo com o passar do tempo.
• Função Horária da Posição – s(t)
Um corpo em MUV tem velocidade e isso faz com que sua posição varie. No entanto, como a velocidade do
corpo também varia, a variação da posição não é tão simples de se prever.
Assim como no MU, a posição possui no MUV uma função horária. A função horária da posição do MUV
é a seguinte:
a·t 2
s (t)=s 0 +v 0 · t+
2
A demonstração dessa equação requer um conhecimento do comportamento gráfico da função horária da
velocidade e, por isso, não será apresentada aqui.
Note que a função acima se parece, nos seus dois primeiros termos ( s 0 +v 0 · t ), com a função horária do
espaço do MU, com a diferença que agora a velocidade é a inicial.
s(t) para o MU s(t) para o MUV

s (t)=s 0 +v·t a·t 2


s (t)=s 0 +v 0 · t+
2
O termo que surge na função para o MUV é devido à característica principal do movimento, a presença de
aceleração. Perceba que se a aceleração for igual a zero, a = 0, a função do MUV se torna a mesma equação do
MU. Isso deve ocorrer pois o MUV se torna um MU.
Em outras palavras, quando temos aceleração nula, não temos mais um movimento variado, e sim um
movimento uniforme. Então, as equações para o movimento variado devem se tornar as equações do movimento
uniforme quando substituímos o valor a = 0.
Por fim, antes de entrarmos nos exemplos para aprender a aplicar essa expressão, vale a pena ressaltar que
essa função é do tipo: função polinomial do 2° grau em relação a t. Isso significa que a posição do corpo varia
dependendo do quadrado do tempo. Vocês, provavelmente, ainda não estudaram isso em matemática. Mas, quando
estiverem vendo esse conteúdo, se lembrarão. Por enquanto se preocupem em saber usar a função aqui.
• Exemplo
3) Um ciclista desloca-se numa trajetória retilínea segundo a função horária s=– 24 – 5 · t +t 2 (no SI).
a) Qual o tipo de movimento executado pelo ciclista: uniforme ou uniformemente variado?
b) Quais os valores da posição inicial, da velocidade inicial e da aceleração do ciclista?
c) Determine a função horária da velocidade do ciclista.
d) Calcule o instante em que o ciclista passa pela origem das posições e o instante em que ele muda seu
sentido de movimento.
Solução:
a) Nessas situações, para se dizer que tipo de movimento temos, é necessário analisar a função horária
fornecida. Note que a função horária é similar à função da posição do MUV:
a·t 2
s=– 24 – 5 · t+t 2 s (t)=s 0 +v 0 · t+
2

Termo Variação Variação


independente com t com t²

Perceba que ambas tem os termos independentes, que estão sozinhos; ambas tem o termo que varia com t, em
vermelho, e ambas tem o termo que varia com t², em azul.
Podemos afirmar então que o movimento é uniformemente variado.
b) Os valores de posição inicial, velocidade inicial, e de aceleração do ciclista são encontrados por meio da
comparação feita acima, no item ‘a’.
Note que o termo independente é a posição inicial na função, então, fazendo a comparação, podemos dizer
que:
s 0=−24 m
A unidade podemos tirar do comando da questão. Como está especificado que a função horária da posição
está no SI, todas as unidades estarão no SI.
A velocidade inicial, v0, é o termo que acompanha o t. Comparando os termos em vermelho, podemos
encontrar o valor desse termo:
−5 ·t=v 0 · t
v 0 =−5 m/s
Logo, a velocidade inicial do ciclista é – 5 m/s. Perceba que trazemos o sinal para as comparações, pois eles
carregam a interpretação da situação. Até aqui podemos afirmar duas coisas sobre o movimento: o ciclista partiu da
posição – 24 m, que significa que ele estava 24 m deslocado da origem para o lado negativo do eixo referencial, e
estava inicialmente com velocidade – 5 m/s, que quer dizer que se deslocava no sentido negativo do eixo de
referência. Representando essa situação:

v0 = – 5 m/s

Eixo
s0 = – 24 m Referencial
Sentido negativo Sentido positivo
Por fim, a aceleração do ciclista pode ser encontrada da mesma forma. No entanto, temos que ter um pouco
mais de atenção nesse momento, principalmente com o termo do denominador. É muito comum esquecer o 2 que
aparece no denominador do termo de aceleração da função horária. Fazendo a comparação:
a·t 2 2
t =
2
Lembrando que sempre que não tiver aparecendo um número multiplicando uma variável, temos o 1
‘escondido’ multiplicando, então:
2 a·t 2
1· t =
2
a
1=
2
a=2 m/ s2
Encontramos então as constantes do movimento: s0 = – 24 m, v0 = – 5 m/s e a = 2 m/s².
c) A função horária da velocidade para o MUV é v (t )=v 0+a·t . Usando os valores encontrados no item
‘b’, chegamos à função:
v (t )=−5+2 · t
Sendo a função dada no SI.
d) Como vimos no exemplo 2, o momento em que o corpo muda o sentido do movimento ocorre quando a
velocidade do corpo atinge o valor v = 0. Então, para encontrar esse instante, fazemos:
v (t )=−5+2 · t → 0=−5+2· t
5=2 · t
5
=t
2
t=2,5 s
Logo, a mudança de sentido de movimento ocorre após 2,5 s de movimento. Isso significa que, até 2,5 s o
ciclista estava ‘freando’, diminuindo a velocidade (movimento retardado) e a partir dos 2,5 s o ciclista começa a
‘acelerar’ aumentando sua velocidade (movimento acelerado).
Por fim, para calcular o instante em que o ciclista passa pela origem das posições, consideramos s = 0 na
função horária da posição: s=– 24 – 5 · t+t 2
0=– 24 – 5· t+ t 2
Vamos reescrever só para ficar mais evidente o que temos aqui,
t 2 −5· t−24=0
Essa expressão é chamada de equação do 2° grau, que você deve ter visto no 9° Ano do ensino fundamental.
O objetivo aqui é encontrar os valores de t, que é a variável dessa equação. Normalmente se usa o x como variável,
mas o uso do t não muda em nada a forma de resolver.
Se você aprendeu a calcular os valores da variável da equação do 2° grau, vai lembrar que encontramos
geralmente dois valores, usando a fórmula de Bhaskara*. Fazendo isso, nessa situação, encontramos os dois
valores: Se você não lembra como usa a fórmula de Bhaskara, veja
t=8 s e t=−3 s esse vídeo:
https://www.youtube.com/watch?v=wSk6adHAyuY
Qual valor é nossa resposta?
O valor que queremos é o de 8 s. Então, após 8 segundos de movimento, o ciclista passa pela origem das
posições.
Mas, por que o temos de – 3 s não pode ser nossa resposta?
Aqui, a explicação mais comum de se encontrar é a de que não existe tempo negativo e por isso esse tempo
deve ser desconsiderado. No entanto, a interpretação mais coerente desse valor encontrado é de que o ciclista passa
duas vezes pela origem: a primeira passagem dele pela origem ocorre 3 segundos antes de começarmos a analisar o
movimento (por isso surge o sinal negativo no valor do tempo) e a segunda passagem ocorre 8 segundos após
analisarmos o movimento. Consideramos o início da análise do movimento no instante em que o ciclista está na
posição inicial.
Pelo motivo explanado acima, o tempo de – 3s é desconsiderado. Queremos saber o que ocorre após o início
da análise do movimento e a passagem pela origem após esse início se dá aos 8s.
Quer apender mais?
• Veja essa outra forma de analisar se os movimentos são acelerados ou retardados:
https://www.youtube.com/watch?v=oysKoEnctuo
Exercícios Propostos
1) Um móvel realiza um movimento retilíneo uniformemente variado (MRUV). No instante t0 = 0, o móvel
passa pela posição s0 = 10 m com velocidade de 2 m/s e aceleração de 4 m/s². Qual é a posição e a velocidade desse
móvel no instante t = 10s?
Dicas:
• Escreva as funções horários da posição e da velocidade para encontrar o que deseja.
• Um MRUV é um MUV em linha reta. Trate esse movimento da mesma forma que fizemos na aula.
2) um motociclista executa um movimento retilíneo uniformemente variado. A função horária da velocidade
dele é v (t )=4 +2 ·t , no SI.
a) Quais os valores de velocidade inicial e da aceleração do motociclista?
b) Em qual instante o motociclista inverte o sentido do movimento?
c) o movimento é acelerado ou retardado no instante 10s?
3) Um corpo se move de acordo com a função horária: s (t)=3+2 ·t +0,5 ·t 2 . Encontre:
a) A posição inicial do corpo;
b) A velocidade inicial do corpo;
c) A função horária da velocidade;
d) A aceleração do corpo;
e) O instante em que o corpo atinge velocidade 5 m/s;
f) O instante em que o corpo atinge velocidade 10 m/s.
g) Esse corpo passa na origem do eixo de coordenadas?

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