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Destino Chipre?

Daniela Silva

"Chipre? Por que o Chipre? Você sabe onde fica o Chipre? Fui olhar no mapa!!! O Chipre
fica em frente à Síria!!! O que tu vai fazer no Chipre? Por que o Chipre???" - perguntava
meu pai...

“Chipre? Ah, se eu fosse você não iria. É perigoso! Olha, não leve essa medalhinha de
Nossa Senhora, ou então peça perdão à santa e esconda essa medalhinha dentro da
blusa...” - dizia outro.

Abril de 2015, depois de enfrentar o interrogatório do meu pai e convencê-lo de que o


Estado Islâmico não atacaria a ilha, e também depois de ouvir o sermão dos queridos
amigos, finalmente consegui as bênçãos de todos para poder viajar em paz (com bênçãos
ou sem elas, eu iria de qualquer jeito...rs) .

Lá ia eu de novo me arriscar "por mares nunca dantes navegados". Éramos cinco: eu,
Deus, minha mala, meu cristal e minha medalhinha de Nossa Senhora Aparecida. Sim, meu
cristal e minha medalhinha (que já haviam virado alvos de curiosidade na minha primeira
vez em um país muçulmano...).

Atravessar um oceano, um continente, o Mar Mediterrâneo, chegar a outro continente,


esperar o próximo voo e aterrissar no lado norte de uma ilha no meio do Mediterrâneo era
preciso naquele momento.

Quantas vezes na vida a felicidade vai bater à porta? Justamente por não ter essa resposta
é que eu estava lá, no lado turco do Chipre (na parte da ilha que não é reconhecida pela UE,
mas isso eu não contei ao meu pai). Estava lá, em outro “país” muçulmano, mais uma vez
achando estranho e me recusando a comer tomate, pepino e azeitona no café da manhã.
Estava lá, em outro pedacinho turco, sendo brasileira no meio de uma cultura tão diferente
da minha. Estava lá, de novo me deliciando com menemen, çig kofte, kebap, baklava e
lokum... Estava lá, mas deixando meus pais (como deve ser difícil ter uma filha como eu) e
meus amigos enlouquecidos aqui no Brasil, porque fiquei dois dias sem conexão. Estava lá
radiante, perto do céu e em frente ao Mar Mediterrâneo, num encontro com a felicidade.
Estava lá, me realizando outra vez.

Passaram-se cinco anos e continuo indo atrás dos meus sonhos e daquilo que a vida tem
para me dar ou me emprestar. Não importa onde estejam, vou buscá-los em qualquer lugar,
porque distância e obstáculos são duas palavras que estão fora do meu vocabulário. Cinco
anos... e assim vou vivendo...Vou me afastando de sonhos antigos e chegando mais perto
de concretizar os novos.
Vasto mundo

Quando a porta do desembarque abriu, pensei: "Que caminhos trilhei para chegar aqui?
Agora não tem volta. O que esses dias me reservam?” Aquele não era o meu primeiro país,
mas minha primeira vez em outro continente.

Setembro de 2014, após quase de 30h de viagem entre voo, espera e conexão, eu
desembarcava no antigo Aeroporto Atatürk.

Há exatos seis anos, pisava em terras turcas e viajava no tempo visitando as construções
da antiga Constantinopla e tantos outros lugares daquele país que era puro mistério. Essa
viagem foi um divisor de águas na minha vida. Passei a entender melhor o meu lugar no
mundo e me sentir verdadeiramente conectada a ele. Ali, a vida não era mais aquele arroz
com feijão e me apresentava um mundo com novas cores e sabores.

Tudo era tão novo, tão lindo e diferente... Eu agradecia a Deus a todo instante e só
conseguia pensar o quão surpreendente era a vida e que ventos me levaram para tão
longe.

Cheguei a Istambul sozinha. Sozinha com minha “brasileirice” num país muçulmano, com
uma cultura bem diferente da qual eu estava acostumada... Sozinha e tão cheia de sonhos,
expectativas, medo e incertezas...

Chamada de corajosa por alguns, tachada de louca por outros, fui...

Fui até lá para viver meu sonho. Que graça teria a vida sem um sonho realizado!? Sou
SAGITARIANA raiz, preciso buscar meus sonhos e viver minhas aventuras.

Vivi esse sonho, e diria até que a melhor e mais linda experiência da minha vida. Quem
dera, todos tivessem uma oportunidade como essa?

De lá pra cá, o vento mudou a direção do meu barco várias vezes... E a vida continuou me
surpreendendo. Fui a lugares que queria e a outros que nem imaginava. Perdi, ganhei, me
perdi, me achei, experimentei. Quase congelei a 5000 m de altitude, já tive que comprar
uma passagem de ônibus para ter onde dormir, já fugi de elefante, já saí do país só com
passagens de ida e volta, já fiquei sem dinheiro no meio de uma viagem...

Precisei mudar a rota em muitas situações, mas a vida me trouxe mais vida. E quem sabe
para onde os próximos ventos me levarão?

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