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Migrantes venezuelanos no Brasil

Cristiane Maria Sbalqueiro Lopes - Procuradora do Trabalho

A Crítica | 17 de setembro de 2017 - O Brasil aprovou a nova Lei de Migração


(Lei 13445/2017), para regular a entrada de imigrantes no país e também seus
direitos e deveres. Dentre os princípios da política migratória estão a
universalidade dos direitos humanos; repúdio e prevenção à xenofobia e outras
formas de discriminação; direito à reunião familiar, a acolhida humanitária e a
integração dos povos da América Latina pela constituição de espaços de
cidadania e de livre circulação de pessoas.

Há quatro tipos de regimes migratórios. O Geral é aquele pelo qual o


interessado em imigrar postula um visto de entrada. A concessão do visto é
precedida de análise sobre a conveniência do migrante para o país. Já no
Regime do Mercosul, a “análise sobre a conveniência” é presumida, pois aqui o
interesse é da integração e o benefício para o brasileiro é a também vir a residir
em algum dos países vizinhos se quiser. Já os regimes da acolhida humanitária
e do refúgio seguem lógicas diferentes: o que predomina é a valorização da
dignidade da pessoa humana. No caso do Refúgio, o Brasil se comprometeu
internacionalmente a permitir que pessoas perseguidas ou em situação de grave
violação de direitos humanos vivam no país. E o Regime Humanitário, por sua
vez, serve para cobrir situações semelhantes, porém quando a situação muito
grave não pode ser enquadrada estritamente como “refúgio”.

Assim, nem no regime do Mercosul, nem no dos refugiados nem na


acolhida humanitária cabe indagar sobre os “critérios de admissão” das pessoas
vulneráveis no Brasil.

A Venezuela amarga uma grave crise política, econômica, institucional.


Tão grande, que alguns venezuelanos estão tendo que vir para o Brasil, apesar
da falta de oportunidades. E não dá para impedir esse movimento. Para
começar, porque é fisicamente impossível: o Brasil tem as fronteiras porosas. Se
houver um controle que impeça a entrada pelo passo fronteiriço, basta desviar
alguns metros e passar pela floresta. Além disso, o efeito é que o Brasil teria
várias pessoas sem documentos, sem direitos, e prontinhas para serem
exploradas por qualquer espertalhão de plantão. Também, porque a crise da
Venezuela é limítrofe a situação de refúgio, justificando uma acolhida
humanitária.

Só que antes disso, a Venezuela é um país que está em processo de


adesão ao Mercosul, logo, tanto venezuelanos como Brasileiros vão poder se
estabelecer em ambos os países (ninguém sabe o dia de amanhã), para bem da
integração. É por isso que o Conselho Nacional de Imigração aprovou a
Resolução 125, de 14/2/17, sobre a concessão de residência temporária ao
migrante venezuelano que não tenha o direito de antes ser reconhecido como
refugiado.

Não há melhor medida para proteger os trabalhadores brasileiros do que


documentar os trabalhadores estrangeiros. Além disso, o documento, na mão do
migrante, representa força para lutar por seus direitos. Lembremos que a Lei de
Migração garante igualdade de direitos entre brasileiros e estrangeiros quanto
ao cumprimento de obrigações legais e contratuais trabalhistas, sem
discriminação em razão da condição migratória (art. 4º, X). Assim, mesmo sem
documentos, os trabalhadores estrangeiros têm os mesmos direitos trabalhistas
dos brasileiros e podem pleitear estes direitos na Justiça do Trabalho.

Mas é claro: documentar é só o começo. O Brasil precisa agir para evitar


a exploração dessas pessoas, dar abrigo, precisa desenvolver alguma política
para que as pessoas saiam do abrigo e levem a vida honestamente. O país
inteiro precisa ajudar Pacaraima, Boa Vista, Roraima agora, pois negar o
problema só faz ele aumentar.

Artigo publicado originalmente no portal A Crítica, dia 17/09/2017 e disponível


em: http://www.acritica.com/blogs/artigos/posts/migrantes-venezuelanos-no-
brasil

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