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Bárbar Zeferino - Subsunção Formal e Real Do Trabalho PDF
Bárbar Zeferino - Subsunção Formal e Real Do Trabalho PDF
relações sociais
Bárbara Cristhinny G.Zeferino 1
barbara_formacaoal@yahoo.com.br
1. Introdução
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Bacharel em Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo. Estudante de pós-graduação do mestrado da Faculdade
de Serviço Social - Universidade Federal de Alagoas – Brasil. Ponencia presentada en el XIX Seminario Latinoamericano de
Escuelas de Trabajo Social. Universidad Católica Santiago de Guayaquil. Guayaquil, Ecuador. 4-8 de octubre 2009.
1
Com o desenvolvimento das forças produtivas, tem-se a subsunção real, como
resultado do incremento da maquinaria e ciência no modo de produção capitalista. Tendo
como expressão material a produção de mais-valia relativa e como uma das implicações,
a intensa alienação do trabalho, pois na grande indústria o trabalhador passa a servir a
máquina, seu trabalho é determinado por ela, a quem ele está subordinado. É a
coisificação do trabalhador e personificação da máquina.
Nesse momento histórico, consolidam-se algumas das implicações basilares de
sustentação do sistema capitalista, como: a concentração de riqueza, o pauperismo, a
exploração generalizada do trabalho assalariado, o aumento do exército industrial de
reserva e o conseqüente rebaixamento de salários.
As implicações socioeconômicas decorrentes do processo de subsunção real do
trabalho ao capital colocaram em proeminência as contradições e mazelas do sistema
capitalista. Ao longo desse processo histórico, os trabalhadores se uniram de diversas
formas para encontrar saídas para garantir a própria sobrevivência. E quando a reação
desses trabalhadores se constituiu numa ameaça a ordem burguesa, o Estado foi
acionado para enfrentar as expressões da “questão social”.
Porém, só quando há um acirramento destas contradições, no estágio do
capitalismo monopolista, é que surge o Serviço Social, como atividade profissional com a
função de contribuir com a subsunção real do trabalho ao capital. Sendo
instrumentalizada pelo Estado para enfrentar as manifestações da “questão social”, por
meio de políticas sociais.
Nesses termos, buscaremos refletir sobre as implicações sociais decorrentes da
subordinação do trabalho ao capital e os rebatimentos no Serviço Social. Para que cientes
do funcionamento da sociedade capitalista e dos limites e funções impostos a profissão
pela lógica do capital possamos pensar estratégias que venham a contribuir com a luta da
classe trabalhadora na superação do capital.
A relação antagônica e contraditória entre capital e trabalho tem sua gênese com
a acumulação primitiva do capital, na qual os produtores diretos expulsos violentamente
de suas terras e expropriados de suas condições de trabalho são convertidos em
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trabalhadores assalariados, obrigados assim a vender a única coisa que lhes resta, a
força de trabalho, para comprar os meios de sua subsistência.
Esse movimento histórico de acumulação primitiva, período que antecede a
consolidação do modo de produção capitalista, é marcado pelo processo de separação
entre o produtor direto e seus meios de produção. Desse modo, sua efetivação criou duas
classes principais 2, antagônicas, possuidoras de mercadorias distintas que se completam
e se defrontam. Para Marx, “[...] Com essa polarização do mercado estão dadas as
condições fundamentais para produção capitalista. A relação-capital pressupõe a
separação entre os trabalhadores e a propriedade das condições da realização do
trabalho” (1984:262).
No entanto, essas duas mercadorias entram em contato e se defrontam numa
aparente relação de igualdade, pois, reduzem a relação entre o possuidor3 das condições
de trabalho e subsistência e o trabalhador 4 a uma simples relação de compra e venda sob
a qual se mascara a exploração fundamentada no trabalho assalariado, na propriedade
privada e na extração da mais-valia.
É nesse momento histórico que se dá a subsunção formal, quando a produção
social torna-se capitalista e o valor de uso é subjugado ao valor de troca. Sendo o
processo de trabalho subordinado ao capital o processo de valorização deste, no qual o
capitalista passa a ser o dirigente, quem conduz e define a exploração do trabalho alheio.
Para Marx, a subsunção formal do trabalho ao capital, “[...] É a forma geral de todo
processo capitalista de produção; mas é ao mesmo tempo uma forma particular, a par do
modo de produção especificamente capitalista, desenvolvido [...]” (1978:51). Ele também
denomina a subsunção formal, como:
2
Classe trabalhadora e a classe dominante, os capitalistas.
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Capitalista que detém o monopólio dos meios de produção e subsistência e compra o trabalho alheio para que este
transforme esses meios em capital, em mais-valia.
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Que vende a única coisa que possui, a força de trabalho, em troca de sua subsistência que no modo de produção
capitalista é paga em salário.
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o trabalho está subordinado ao capitalista e este precisa do trabalho para gerar mais-
valor. Essa subordinação é determinada pela expropriação das condições materiais de
produção e subsistência do operário pelo capitalista.
Tais condições aparecem para o vendedor (operário) como propriedade alheia,
como forças monopolizadas pelo comprador (capitalista), que controla o operário.
Segundo Marx, “[...] Quanto mais plenamente se lhe defrontam tais condições de trabalho
como propriedade alheia, tanto mais plenamente se estabelece como formal a relação
entre capital e o trabalho assalariado, o que vale dizer: dá-se a subsunção formal do
trabalho ao capital, condição e premissa da subsunção real” (p.57).
É importante apontar que a subsunção formal como forma geral de extração da
mais-valia por meio do trabalho excedente, presente em todo processo do modo de
produção capitalista, é também específica, pois é resultado de um dado momento
histórico, no qual o capitalismo ainda não era hegemônico e o processo de trabalho
continuava o mesmo do modo de produção anterior5, no qual predominava a extração da
mais-valia absoluta 6. Pois, o capital variável (força de trabalho) prevalecia fortemente
sobre o constante (meios de trabalho). As bases materiais e o modo de trabalho neste
primeiro momento de subsunção formal ainda são limitados tecnicamente, pois a
produção se dá no mesmo espaço da oficina do mestre-artesão, “só que agora no sentido
de trabalho subordinado ao capital” (p.57).
Porém, já neste momento de subsunção formal, surgem diversas implicações
sociais que são resultados e ao mesmo tempo sustentam o modo de produção capitalista,
como a desigualdade social decorrente da contradição principal do sistema: a produção
cada vez mais social da riqueza e sua apropriação cada vez mais privada.
Com o desenvolvimento das forças produtivas e a possibilidade de inserir
tecnologia, ou seja, ciência e maquinaria no processo de produção, tem-se um
revolucionamento no modo de produção e nas relações sociais que emergem deste.
Assim, “com a subsunção real do trabalho ao capital, dá-se uma revolução total (que
prossegue e se repete continuamente)ª no próprio modo de produção, na produtividade
do trabalho e na relação entre o capitalista e o operário” (p.66).
5
Produção nas oficinas de mestre-artesão, sem o uso de maquinaria.
6
Extração da mais-valia por meio do prolongamento da jornada de trabalho e da organização de uma grande quantidade
trabalhadores em processos combinados de trabalho, a exemplo da cooperação.
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3. Subsunção real do trabalho ao capital: concentração da riqueza, pauperismo e
alienação do trabalhador
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Para Marx: “Do mesmo modo porque se pode considerar a produção da mais-valia absoluta como expressão material da
subsunção formal do trabalho ao capital, a produção da mais-valia relativa pode ser considerada como a de subsunção real
do trabalho ao capital. De qualquer modo, as duas formas de mais-valia – a absoluta e a relativa – se consideradas
isoladamente, como existências separadas (e a mais-valia absoluta precede sempre a relativa) –, correspondem as duas
formas separadas no interior da produção capitalista, das quais a primeira é sempre precursora da segunda, embora a mais
desenvolvida, a segunda, possa constituir, por sua vez, a base para introdução da primeira em novos ramos da produção.”
(pg.56)
5
Mas, se uma população trabalhadora excedente é produto necessário da
acumulação capitalista, essa superpopulação torna-se, por sua vez, a
alavanca da acumulação capitalista, até uma condição de existência do
modo de produção capitalista. [...] Ela proporciona às suas mutáveis
necessidades de valorização o material humano sempre pronto para ser
explorado, independente dos limites do verdadeiro acréscimo populacional
(p.200).
6
Enquanto o trabalho em máquinas agride o sistema nervoso ao máximo,
ele reprime o jogo polivalente dos músculos e confisca toda a livre
atividade corpórea e espiritual. Mesmo a facilitação do trabalho torna-se
um meio de tortura, já que a máquina não livra o trabalhador do trabalho,
mas seu trabalho de conteúdo. Toda produção capitalista, à medida que
ela não é apenas processo de trabalho, mas ao mesmo tempo processo
de valorização do capital, tem em comum o fato de que não é o trabalho
quem usa as condições de trabalho, mas, que, pelo contrário, são as
condições de trabalho que usam o trabalhador: só, porém, com a
maquinaria que essa inversão ganha realidade tecnicamente palpável
(p.43).
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4. Subsunção do trabalho ao capital, questão social e serviço social
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Segundo Santos e Costa, “questão social”: “é “[...] um termo utilizado mais comumente pelo pensamento conservador, que
incorporou inúmeras acepções em sua interpretação, mas sempre associado a expressão da precariedade de vida das
classes populares e aos riscos que a luta dos trabalhadores contra a exploração representava para a sociedade” (2006,
p.3).
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Expressão resumida da frase de Marx encontrada no Manifesto Comunista (2007:47)
8
Assim, o Serviço Social origina-se como uma profissão que contribui para legitimar
a ordem burguesa, controlando e subordinando as demandas da classe trabalhadora à
lógica de acúmulo e reprodução do capital, aos interesses da classe dominante. Como
aponta Iamamoto:
5. Conclusão
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Assim, ao longo das décadas o impulso à acumulação e expansão do capital tem
intensificado, desenvolvido ou reestruturado formas de exploração que permitam não só
uma maior extração de mais-valia, bem como a mercantilização de atividades que estão
inseridas no âmbito da reprodução social.
Com isso, as implicações socioeconômicas do processo de industrialização
consolidaram e colocaram em evidência as contradições que sustentam o sistema
capitalista. De um lado tem-se o desenvolvimento da capacidade produtiva e acúmulo de
riqueza nas mãos de poucos, os capitalistas; e do outro lado, tem-se a exploração do
trabalho e o acúmulo da miséria nas mãos de quem produz a riqueza, os trabalhadores.
Portanto, a ofensiva do capital nos últimos 30 anos tem implicado num
retrocesso social, pois para garantir a expansão e acúmulo do capital diante das crises
estruturais do próprio sistema, diversas formas de exploração são aprofundadas e outras
resgatadas de períodos pré-capitalistas. Como, o aumento da jornada de trabalho,
trabalhos análogos ao trabalho escravo, trabalho infantil etc. Estas são características que
nos remete ao passado pré-capitalista, mas que são parte, hoje, das relações de trabalho
precarizado e informal que se encontram não só nos países periféricos, mas também,
ainda que em menor medida, nas grandes potências.
Assim, com a atual crise, uma das implicações nas relações sociais mais
decorrentes dessa ofensiva do capital sobre o trabalho tem sido o desemprego e a
intensa precarização do trabalho com o rebaixamento de salários e a flexibilização dos
diretos trabalhistas.
Portanto, para manter a ordem vigente, sendo o trabalho cada vez mais
subordinado a uma intensa e expansiva exploração; para impedir a organização e a
reação da classe trabalhadora em face de suas precárias condições de vida e de trabalho
contra os ditames do capital, atividades profissionais como o Serviço Social, que
contribuem com a subsunção real do trabalho ao capital, atuando no controle e
reprodução da força de trabalho, são crescentemente demandadas nesse momento, pois
as contradições intrínsecas ao sistema capitalista estão se aprofundando, acirrando,
assim, os conflitos sociais. É para apaziguar esses conflitos que o Serviço Social é
chamado a agir com a implementação de políticas sociais (fragmentadas e focalizadas)
que surgem com a função de atenuar os conflitos e contribuir com legitimação da ordem
burguesa.
Mas, não podemos ignorar que embora os interesses da classe dominante
predominem e decidam sobre as ações que devem ser implementadas pelos agentes
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profissionais, não se pode negar que estes, dependendo de suas perspectivas políticas
podem também configurar-se como mediadores dos interesses da classe trabalhadora,
apoiando e reforçando a organização dos trabalhadores contra os ditames do capital e em
prol de um projeto de superação do mesmo, ainda que sua atividade seja limitada pelo
domínio do capital.
Referências Bibliográficas
MARX, Karl. Capítulos XIII Maquinaria e Grande Indústria; XXIII A Lei Geral da
Acumulação Capitalista; XXIV A Assim Chamada Acumulação Primitiva. In: O Capital –
Crítica da economia política. Livro Primeiro, Tomo 2. São Paulo: Abril Cultural, 1984.
___________. Livro I, Capítulo VI (inédito) In: O Capital. São Paulo: Ciências Humanas
Ltda, 1978.
NETTO, José Paulo. Capitalismo Monopolista e serviço social. São Paulo, Cortez, 2007.
SANTOS, E.P. & COSTA, G.M. da Questão Social e desigualdade: novas formas, velhas
raízes. In: Revista Ágora: Políticas Públicas e Serviço Social, Ano 2, nº 4, julho de 2006 –
ISSN – 1807 – 698X. Disponível em http: www.assistentesocial.com.br
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