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Análise Psiccvlbgice (1983).

1 (IV): 55-70

Temas dominantes no C.A.T.


numa população de crianças
portuguesas de 6 anos
Estudo preliminar

ANTÓNIO CASTRO FONSECA (*)

INTRODUCAO tivas, quer na recorrência de certos temas


ao longo de um mesmo protocolo, quer na
A interpretação das respostas obtidas ao identificação do tipo de angústia eventual-
C. A. T. e) tem-se processado, tradicional- mente subjacmte a esses temas, quer ainda
mente, segundo duas orientações principais. na identificação dos mecanismos de defesa
Na primeira, directamente inspirada na utilizados pelo indivíduo no controlo dos
Teoria Psicanalítica, dá-se a primazia ao sentimentos, impulsos, tendências ou confli-
protocolo considerado em si mesmo, como tos suscitados pelas diferentes lâminas. Esta
um todo isolado e completo com vista a um maneira de proceder é, talvez, a mr-isdivul-
diagnóstico individual. As inferências que, gada na utilização clínica deste teste. De
a partir dos protocolos, o psicólogo procura acordo com ela, a determinação das res-
fazer sobre a personalidade dos indivíduos postas normativas para cada lâmina tem um
baseiam-se, essencialmente, quer no grau de valor muito secundário e pode até ser intei-
adaptação das histórias às imagens respec- ramente dispensável. Como defende Bellak
(1975, p. 258):
«... na realidade, cada pessoa e cada pro-
(*) Licenciado em Psicologia pela Faculdade tocolo constituem uma amostra de uma
de Psicologia e Ciências de Educação de Gene-
bra. Assistente da Faculdade de Psicologia e Ciên-
população de necessidades e variáveis do
cias de Educação da Universidade de Coimbra. comportamento».
(l) C. A. T. (Teste de Apercepção Temática Quanto a segunda orientação, mais pró-
para Crianças) é a versão do T. A. T. para crian- xima da tradição psicométrica, caracteriza-
ças, construída por Bellak, em 1949. Consta de -se pelo empenho posto na identificação das
10 lâminas com figuras de animais que ilustram
situações consideradas por esse autor como sendo respostas mais frequentemente obtidas, nu-
das mais significativas na vida da criança, dos ma população considerada normal. Essas
3 aos 10 anos. Em 1965, Bellak construiu outra respostas, também por alguns designadas
versão do mesmo teste: o C. A. T. -Figuras dominantes ou banais, constituiriam como
Humanas, originariamente destinado a crianças que um ponto de referência, como que uma
de mais de 7 anos. As respostas normativas para
este teste, numa população portuguesa, foram
norma, graças a qual se poderia ver se as
estabelecidas, num estudo recente, por Danilo respostas de cada indivíduo se afastam da
Silva (1980). maneira de pensar e de sentir da maioria.

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A sua identificação comporta inúmeras van- exclusivamente, sobre o tipo de actividades
tagens: constitui um quadro de referência referido pela criança para cada lâmina deste
capaz de impedir interpretações demasiado teste. Qual a frequência dessas actividades?
subjectivas por parte dos psicólogos, permite Haverá, a esse respeito, alguma diferença
uma análise uniforme dos mesmos proto- entre 05 rapazes e as raparigas? Até que
colos entre diferentes cotadores, leva a uma ponto as respostas diferem dos temas origi-
melhor diferenciação das narrativas em fun- nalmente encontradas por Bellak na popu-
ção das variações socioeconómicas e cultu- lação americana? Quais as lâminas que mais
rais das crianças e, finalmente, possibilita facilmente suscitam os temas banais?
uma melhor comparação das respostas de
diferentes registos do normal ou do patdó-
gica. A importância das respostas dominan- A. CARACTERÍSTICAS DA AMOSTRA
tes é, de resto, reconhecida mesmo por au-
tores que defendem uma interpretação psi- Os resultados a seguir apresentados foram
codinâmica dos protocolos como facilmente obtidos a partir de uma população de 52
se depreende desta passagem de Haworth crianças de 6 ano5 de idade (26 rapazes e
(1966, p. 63): 26 raparigas) que frequentavam, em 1983,
«Antes de utilizar qualquer conjunto de diferentes escolas da cidade de Coimbra e).
normas o psicólogo clínico deve ter-se infor- Os critérios utilizados na selecção deste
mado acerca da população a partir da qual grupo foram por um lado, os respectivos
foram estabelecidas essas normas; pois, va- Q. I., determinados por intermédio da N. E.
riáveis culturais podem invalidar a sua uti- M. I. -e que variavam entre 90 a 125; por
lização num grupo diferente.)) outro lado, as informações obtidas numa
Por seu turno, o próprio Bellak acaba breve entrevista com os respectivos profes-
p r admitir (1975, p. 264), que «as respostas sores, acerca do nível de aproveitamento
(ao C. A. T.) só podem ser consideradas escolar de cada aluno, do seu grau de a d a p
normais ou perturbadas em termos de ne- tação a escola e de algumas características
cessidades, impulsos e capacidades domi- das suas famílias. Escsolheram-se, assim,
nantes que são típicos das crianças dum apenas crianças normalmente desenvolvidas
determinado nível etário)). do ponto de vista intelectual que beneficia-
Sendo assim, a determinação dos temas vam, ao mesmo tempo, dum meio familiar
dominantes ou banais deveria constituir a harmonioso e que não apresentavam difi-
oondição sine qua noin para a análise das culdades de adaptação a escola. No que diz
respostas das crianças ao C. A. T. quer na respeito as suas origens sociais, essas crian-
prática clínica quer na investigação. S6 ças eram provenientes de estratos sociais
conhecendo, previamente, as respostas do- bem diferentes e ocupam também posições
minantes para cada lâmina nas crianças variadas na fratria.
duma determinada cultura e duma determi-
nada idade poderemos decidir até que ponto
as respostas dum determinado invidíduo se (') Aqui deixamos o nosso reconhecimento
afastam da média e em que sentido vai esse aos Senhores Directores da Escola do Pátio do
desvio. Castilho e das Escolas Anexas ao Magistério
0 objectivo deste trabalho é, precisa- Primário de Coimbra, bem como às sras. profes-
soras e srs. professores das crianças por n6s exa-
mente, identificar os temas dominantes ou
minadas. Agradecemos, igualmente, a Sr." Direc-
banais Obtidos 'Om o *' A*T' numa popu- tora do Jardim Escola do 1. O. S. de Coimbra e
lação muito restrita de crianças portuguesas as respectivas Educadoras pela sua colaboração
de 6 anos. A nossa análise incidirá, quase permanente.

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QUADRO I1
Distribuição das crianças
segundo a profissão do pai

População residente
Grandes grupos em Portugal Conti- Total da amos-
de profissões nental activa, com tra examinada
(CITP e OIT) profissão, sexo (N = 52)
1960 masculino

QUADRO I
4 48,2 17,3
Posição na Frataria -5 -
077
6 397 1,92
Filho único 17Vo 2a,2 21,2
718
do meio 12 vo 9 397 O
mais velho 409‘0 10 0,6 O
mais novo 31 “/o
100 100

B. A SITUACAO DE EXAME contasses uma história acerca deles. Uma


história a dizer (Y que eles estão a fazer, o
Cada criança foi interrogada duas vezes, que eles fizeram antes, o que vão fazer
sempre pelo mesmo psicólogo, em situação depois, enfim como isso vai acabar.))
individual, numa sala do próprio estabele- Em geral, as crianças compreendiam logo
cimento escolar. A primeira sessão era des- as instruções e respondiam de maneira ade-
tinada a tomada de contacto com a criança, quada. Nalguns casos, porém, foi necessário
a recolha de algumas informações anamné-
repetir as instruções e recorrer a inquérito
sicas e a passagem da N. E. M. I. A segunda nas primeiras lâminas com o objectivo de
sessão era reservada para a passagem do levar a criança a ultrapassar o nível de sim-
C. A. T. Nalguns casos, porém, esta ordem
ples descrição e a melhor caracterizar os
foi invertida - sendo o C. A. T. apresentado
logo na primeira sessão. As duas sessões personagens ou esclarecer certos aspectos
foram separadas por um intervalo irregular, mais confusos das suas narrativas. No fim
de poucos dias, e a duração de cada uma do exame, punham-se todas as lâminas
dependia do ritmo de trabalho de cada diante da criança, pedindo-se-lhe que indi-
criança mas não ultrapassava, em geral, os casse, primeiro, aquela de que gostava mais
30 ou 35 minutos. No caso do C. A. T., as e, a seguir, aquela de que gostava menos.
instruções dadas a cada criança seguiam de Pretendia-se, com isso, verificar se havia
perto as directrizes fornecidas por Bellak alguma diferenciação entre rapazes e rapa-
e limitavam-se ao seguinte (Bellak, 1975, rigas, a nível dessas escolhas, e se essas pre-
p. 188): ferências coincidiam, eventualmente, com
((Olha, aqui tens estas figuras que repre- outras características das narrativas por eles
sentam animais. Eu gostaria que tu me fornecidas nessas mesmas lâminas.

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C. SISTEMA DA ANÁLISE apresentamos. Embora a nossa atenção vá
DOS PROTOCOLOS
sobretudo para o tema banal ou dominante,
apresentamos também, sumariamente, os
Neste estudo considera-se que um tema outros temas encontrados, quer no grupo
é dominante ou banal em cada lâmina
dos rapazes, quer no grupo das raparigas.
quando for referido, ao menos por 50%,
As respostas que pela sua singularidade não
das crianças de cada grupo. A escolha deste
se podiam incluir em nenhuma destas cate-
critério (7 obrigou-nos a utilização de cate-
gorias, foram colocadas na categoria Ou-
gorias bastante genéricas, pois, no caso de
uma classificação demasiado analítica as tros Ternas. Nalgumas narrativas não havia
respostas seriam necessariamente distribuí- propriamente um tema, limitando-se a
das por um grande número de categorias criança a uma simples descrição. Esse tipo
que, embora mais rigorosas sob o ponto de de respostas não foi aqui considerado.
vista conceptual, seriam, no entanto, muito A percentagem de acordo entre cotadores,
menos operacionais sob o ponto de vista calculada a partir de 40 narrativas, foi de
prático, nomeadamente no que se refere a 709'0 para o conjunto das categorias e para
sua utilidade clínica. o conjunto das lâminas. Mas, no que diz
Inspiramo-nos, ao fazer esta escolha, por respeito unicamente às respostas dominan-
um lado, na técnica de análise utilizada por tes, esse acordo foi de 92'90.
Boulanger-Balleyguier (1957) no seu estudo A ordem de apresentação dos resultados
sobre o C.A. T e, por outro lado, no mé- a seguir adoptada será sempre a mesma
todo utilizado por Shentoub e Shentoub para cada lâmina.
(1960), no estudo das respostas banais for- Assim, em primeiro lugar, apresentamos
necidas por um grupo de adultos franceses
a descrição que Bellak faz de cada lâmina;
a algumas lâminas do T. A. T. Assim a
nossa maneira de proceder foi a seguinte: a seguir, a interpretação que a criança faz
dos diferentes elementos que constituem o
-resumir fielmente as histórias de cada estímulo (caso a criança não omita ne-
criança acerca de cada lâmina; nhum); depois apresentamos o quadro com
-fazer a análise de conteúdo de cada as diferentes acções do protagonista, pon-
história, salientando as actividades aí do-se em destaque as actividades mais fre-
referidas e as consequências que delas quentes ou banais; e finalmente apresenta-
resultam; mos, lâmina por lâmina, alguns comentá-
-indicar as personagens que nela estão rios sobre esses temas.
envolvidos e analisar as suas caracte-
rísticas mais importantes.
D. TEMAS OBTIDOS EM CADA LÂMINA
Desta análise resultaram algumas catego-
rias, muito genéricas, para cada lâmina.
Estas figuram nos quadros que a seguir Lâmina I

- Descrição do estímulo, segundo Bellak:


(3) Não há entre os autores, um critério uni-
forme para a determinação dos temas dominan- ((Pintainhos sentados a uma mesa onde
tes o u banais. Uns utilizam o critério 500/0, ou-
tros o critério 30lol0, outros o critério de 209'0,
se encontra uma grande tigela com comida.
outros ainda de 10V0. cf. a este respeito Afastada, num dos lados uma galinha (ou
HAWORTH, 1966, pg. 67. um galo) grande vagamente delineada.))

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1. Os personagens pintainhos. Quando presente na narrativa
u personagem adulto é quase sempre des-
A maiar parte das crianças fala do per- crito com atributos femininos, excepto no
sonagem adulto. Mas 35Vo das raparigas grupo dos rapazes que também o identifi-
e 27'Oo dos rapazes referem-se apenas aos cam com personagens masculinas.

2. Temas encontrados

Comer Brincar Ir para a cama Outros temas

Rapazes .................. 100 vo 8 90 8 9'0 12 70


Raparigas ................. 85 'Yo 31 "/o 4 vo 8 940

3. O tema dominante é o dos pintainhos - Ataque vindo do exterior


a comer numa situação familiar; trata-se - Ir A escola.
porém de histórias curtas, quase só descri-
tivas. Na maior parte dos mos, não há uma Note-se a concluir, que os temas de frus-
conclusão propriamente dita. Ainda no tração e de rivalidade fraterna, referidos
quadro do tema dominante, temos no grupo como frequentes nesta lâmina, por Bellak só
dos rapazes 3 histórias em que aparece o raramente apareceram nos nossos proto-
adulto a tomar conta dos filhos que estão colos.
a comer. Num caso, a história descreve a
mãe a preparar a comida para os filhos, e
noutro, são estes que preparam as próprias Lâmina 2
refeições. A situação é semelhante ao grupo
das raparigas: em três casos a galinha olha Descrição do estímulo segundo Bellak:
os pintainhos a comer; em 4 casos prepara- «Um urso a puxar uma corda dum lado
-lha a comida, enquanto noutros dois são enquanto outro urso e um ursinho puxam
os próprios pintainhos a ocuparem-se disso. do outro lado)).
Quanto aos restantes temas, aparecem
com uma frequência muito reduzida, se 1. Os personagem
exceptuarmos o tema brincar no grupo das
raparigas (31 'Oo), tema que dei resto é o que
Os animais são quase sempre vistos como
melhor diferenoia as respostas dos dois gru-
pos de sujeitos nesta lâmina. três ursos; mas nem sempre se especifica o
N~ categoria Outros T ~há activida-
~ ~ tipo, de relação entre eles existente. Nalguns
des bastante semelhantes nos dois gnrpos: Casos, poucos, são descritos como cães,
lobos ou pessoas. Por vezes, só são mencio-
-Passear nados dois personagens: um adulto, geral-
-Fecundação e nascimento mente a mãe, e a criança.

2. Temas encontrados
Escorregar/ Outros
Puxar a corda /cair Brincar Ajudar Lutar Rebentar temas

Rapazes ...... 73 'o/o 4290 42% 151% 8% 4% 8 Vo


Raparigas .... 92% 3íqo 15% 15Vo 8Vo 12% 1sV'

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3. O tema dominante é o mesmo nos Morrer. Qualquer destas histórias termina
dois grupos-puxar a corda A sua fre- de maneira trágica ou violenta, no grupo
quência é, no entanto, maior nas raparigas; das raparigas.
em contrapartida, o tema Brincar aparece
mais vezes nos rapazes. Lâmina 3
O tema Queda apresenta a mesma fre-
Descrição segundo Bellak:
quência nos dois grupos e diz, geralmente,
«Um leão com cachimbo e bengala, sen-
respeito ao urso pequenino. Surpreendente-
tado numa cadeira; no canto inferior direito
mente, os temas de Luta e conflito, referi-
aparece um ratinho num buraco)).
dos como muito frequentes por Bellak, são
muito raros na nossa população. A sua fre-
1. Os personagens
quência é mesmo inferior i dos comporta-
mentos de ajuda. No maior parte dos casos, o leão é per-
Finalmente, na categoria outros temas, cepcionado juntamente com o rato. Mas o
encontramos actividades bastante diferentes leão também é frequentemente visto sozi-
dum grupo para o outro. No grupo dos ra- nho (42'940 das raparigas e 31 Vo dos rapa-
pazes temos: Escorregar. No grupo das zes). Note-se ainda que, embora presente, o
raparigas temos: Subida & serra, Interven- rato só raramente aparece interagindo com
ção da polícia, Agressão vinda do exterior, o leão.

2. Temas encontrados

Leão sentado Rato a Leão a Outros


a fumar espreitar Falar Agressão Deitar-se Queda temas

2. O tema dominante -leão sentodo elou Lâmina 4


a fumar-aparece com uma frequência
ligeiramente maior no grupo dos rapazes Descrição do estímulo segundo Bellak:
que no das raparigas. Quanto ao rato, limi- «Um canguru de chapéu na cabeça, le-
ta-se a espreitar, ou, mais raramente, a ser vando um cesto com uma garrafa de leite:
perseguido pelo leão e seus ((ajudantes)). na bolsa encontra-se um canguru-bebé com
Acontece, porém, que nalguns casos, o rati- um balão; o filho maior vai de bicicleta)).
nho ataca e ridiculariza o leão com sucesso.
Quanto as cenas de queda do leão, s6 apa- 1. Os personagens
recem no grupo dos rapazes que são tam-
bém os únicos a descrevê-lo como velho e Geralmente as 3 figuras são interpretadas
aleijado. Mas o enredo nem sempre se limita como a mãe e dois filhos de idades bem
ao leão e ao rato; o leão aparece também diferenciadas. Algumas crianças falam de
a falar com familiares ou amigos (temas 5 animais ou de cangurus sem especificarem
e 6). No tema 7, incluem-se actividades tais as relações entre eles. No grupo dos rapazes
como r o d a r e passear no grupo dos rapa- são também introduzidos, as vezes, perso-
zes, e procurar a coroa do rei no grupo das nagens estranhos: lobos, ladrões, pessoas
raparigas. estranhas ou o pr6prio pai.

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2. Temas encontrados

Andar ou ir Passeio/ Ir às compras Ir para casa Outros temas


de bicicleta /piquenique

Rapazes ............ 65 Vo 54 Vo 12 vo 15 vo
Raparigas .......... 58 vo 46 Vo 19V0
15 vo 15vo 4 vo

3. O tema dominante é, nos dois grupos, Bellak é facilmente suscitado por esta 18-
andar de bicicleta, mas a sua elaboração é mina, está praticamente ausente dos proto-
tão pobre que por vezes fica quase ao nível colos por nós recolhidos (apenas uma rapa-
da simples descrição. No grupo dos rapazes riga o menciona), Igualmente ausente está
encontramos ainda um segundo tema domi- o tema da origem das crianças, que Bellak
nante ou banal, isto é, sair para um passeio referira como frequente nas crianças ame-
ou para um piquenique. Mas a diferença ricanas (1975).
mais importante entre os dois grupos deve
procurar-se a nível da categoria Outros Te- Lâmina 5
mas. N o grupo dos rapazes aparecem aí
actividades tais como: Ir ao cinema, Jogar
Descrição do estímulo segundo Bellak:
a bola, Roubar, Ir fazer campismo ou Ser
«Um quarto escuro com uma grande
atacado por estranhos. No grupo das rapa-
cama ao fundo: dois ursinhos, em primeiro
rigas há um só tema nessa categoria: os
plano, num berço».
cangurus perdem-se na floresta. Encontra-
mos ainda nestes protocolos frequentes refe-
rências i neve (8 Vo dos rapazes e 15 'olo das 1. Os personagens
raparigas). Alguns autores associam isso
com possíveis tendências depressivas da Na maior parte dos c a o s 05 ursinhos
criança. Sem discutirmos aqui os funda- aparecem sós ou acompanhados por um dos
mentos dessa hipótese, parece haver no pais, geralmente a mãe. Nalguns casos mais
entanto uma outra explicação neste caso: raros, as crianças falam simplesmente de
na altura do exame caira uma abundante animais sem qualquer outra especificação.
camada de neve! ...... Finalmente, quanto ao Mas o enredo acaba sempre por passar-se a
tema da rivalidade fraterna que segundo volta dos pequeninos.

2. Temas encontradas

Dormir Ataque do
ou deitar-se Levantar-se Fugir Conflito Exterior Outros temas

Rapazes ........ 81 y>/o 8 VO l6V0 8 "/o


Raparigas ..... 100 90 31 "/o O 23 u/o

3. O tema dominante inclui actividades ainda estar na cama com a luz acesa ou
tais como estar a dormir, estar a brincar, com a cabeça coberta. O ocorrência desses
atar a olhar pela janela ou a ver os pais, e temas é mais frequente no grupo das rapa-

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rigas que no dos rapazes. Por sua vez o pais nem com cenas de masturbação e de
tema levantar-se só aparece nas raparigas manipulação genital nas crianças. Pelo me-
enquanto que os temas de agressão e con- nos, a nível de conteúdo manifesto.
flito são exclusivos dos rapazes. Quanto aos
conflitos, geralmente, circunscrevem-se Lâmina 6
relação mãe/filho, em consequência duma
desobediência deste último. Por sua vez, os Descrição do estímulo segundo Bellak:
temas de fuga, raros, acabam quase sempre «Uma toca escura com duas figuras de
duma maneira trágica. Finalmente, na urso vagamente delineadas ao fundo; em
última categoria, encontramos actividades primeiro plano, um ursinho deitado)).
bastante diversas. Assim no grupo dos rapa- 1. Na maior parte dos casos, a história anda
zes, temos: Namorar e Passear. No grupo à volta de 3 animais cujas relações familia-
das raparigas temos: Fazer a cama, Passear, res só raramente são especificadas; as vezes,
Ver televisão, Safrer um acidente, Ajo- só aparecem dois personagens: um adulto e
gw-se, Cair. .. uma criança; e em certos casos, mais raros,
Contrariamente ao que refere Bellak, só, há referência a um personagem-o
não encontrámos nestes protocolos nenhum mais pequenino. Igualmente rara é a intro-
tema relacionado com a vida sexual dos dução de personagens estranhos.

2. Temas encontrados

Dormir Comer Brincar Agressão Outros temas

Rapazes ............ 65 Vo 4 “/o 8 90 23 9‘0


Raparigas .......... 73 vo 23v0
4 9fo 12vo 15 vo 12 90

3. O tema dominante é muito semelhante vista atira-se a um macaco que, por sua vez,
ao da lâmina 5. Nos casos de agressão a se lança para o ar».
vítima é quase sempre o ursinho e o ataque
vem do exterior. Quanto ao tema comer 6 1. Os personagens
quase exclusivo dos rapazes, enquanto que O tigre (também às vezes designado por
o tema Brincar é quase exclusivo das rapa- leão) e o macaco são correctamente per-
rigas. Quanto às respostas da categoria Ou- cepcionados por quase todas as crianças. Só
tros Temas, são de tipo muito diverso. Nu uma rapariga é que fala de um leão e três
grupo dos rapazes: Fugir de casa, Casar-se, macacos.
Morder, Passear, Entrar em conflito com
os outros. No grupo das raparigas esses te-
mas são menos numerosos: Levantar-se, 2. Temas encontrados
Sair de casa, Passear. As narrativas com-
truídas tanto a partir desta lâmina como da O tigre ataca
precedente, são, com frequência, bastante o macaco Outro temas

pobres e descritivas.
Rapazes ........... 92 Vo 4 vo
Raparigas ......... 92 YTo 15 vo
Lâmina 7
Descrição do estímulo segundo Bellak: 3. O tema dominante, e quase exclusivo,
«Um tigre com os dentes e as garras A nas histórias elaboradas a partir desta

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lâmina é o do ataque do tigre ao macaco. por chávenas de chá. Em primeiro plano
Esse ataque tanto pode ser para o matar ou um macaco adulto sentado num banco a
para o comer, como para o morder ou, falar com um macaquinho)).
simplesmente, para o levar para casa. Em
muitas dessas narrativas o macaco tenta 1. Os personagens
fugir, mas essa fuga quase nunca tem su- As crianças vêem quase sempre quatro
cesso: só em 9'70dos casos. Muitas vezes, indivíduos, nem sempre bem diferenciados,
porém, as histórias não têm propriamente numa situação familiar. Por exemplo, pais,
uma conclusão. filho e um convidado ou uma outra pessoa
No segundo tema, tigre e macaco apare- de família. A referência i% figura, no quadro
cem envolvidos em actividades lúdicas: atrás e em cima frequentemente vista como
brincar, correr, saltar.. . Na terceira cate- a avó, é mais rara nesta idade.
goria, incluímos apenas três respostas das A acção desenrola-se, geralmente, em
raparigas: Dormir, Cair, Arranhar o dono. dois planos, bem diferenciados. No primeiro,
Dum modo geral, estes temas estão pró- o macaco adulto (pai ou mãe) fala com o
ximos da problemática que os autores do macaquinho ou repreende-o; no segundo,
teste pretendiam ilustrar com esta lâmina. há dois macacos adultos a conversar. As
crianças identificam-se quase sempre ao ma-
Lâmina 8
caquinho; mas algumas raparigas identifi-
Descrição do estímulo segundo Bellak: cam-se também ao macaco adulto com flo-
«Dois macacos adultos num sofá a beber res no cabelo.

2. Temas encontrados
~~ ~ ~~

Macaco a falar ~ MacaGadultos ~ Outros


com o filho Comer a conversar Brincar Conflito temas

Rapazes ...... 46 '00 31 Vo 23 9'0 12 vo 12 Vo 15 90


Raparigas .... sa v0 46 190 31 qo 15 90 4 Vo 4 Vo

3. Não aparece aqui nenhum tema domi- rapazes: Passear, Deitar-se, A j d a r os ou-
nante se considerarmos a população no seu tros.
conjunto ("). A actividade mais frequente-
Lâmina 9
mente referida é a do adulto a falar com
o macaquito. Outros temas, igualmente fre- Descrição da lâmina segundo Bellak:
quentes, são os que se referem a macacos a ((Através da porta aberta dum quarto ilu-
conversar, a tomar chá ou café, a contar minado vê-se um quarto escuro. No quarto
um segredo, a ver televisk ou simplesmente escuro há uma cama de criança onde está
a descansar. Quanto aos temas de agressão um coelho sentado a olhar pela porta)).
e conflito, são os que melhor diferenciam
os dois grupos de crianças, pois são mais 1. Os personagens
frequentes nos rapazes que nas raparigas. O protagonista é sempre o coelho. Na
Os conflitos surgem entre a mãe e o filho, maior parte dos casos aparece sozinho. A
na sequência duma desobediência da parte
deste. A agressão, essa vem, geralmente, de
elementos exteriores a família e tem expres- C) Mas se considerarmos só o grupo das ra-
parigas então já temos um tema dominante: O
sões bastante violentas. Finalmente, os te- macaco (muitas vezes considerado como sendo a
mas da última categoria aparecem s6 nos mãe) a falar.

63
introdução de elementos estranhos, geral- sença da mãe é sugerida com a mesma frc-
mente perigosos, é mais frequente no grupo quência nos dois grupos.
dos rapazes do que no das raparigas. A pre-

2. Temas encontrados

Agressão
Estar ou ir Acordar e Vinda do Conversar Outros
para a cama levantar-se Brincar exterior temas

Rapazes ...... 69 "70 19 vo 8 iqo 15 vo 23 Vo


Raparigas ... 69 Vo 19 vo 12 v o 4 vo 8K70
4 vo 19%

3. As percentagens do tema dominante Lâmina 10


são praticamente as mesmas nos dois gru-
Pm* &uns 0 coelhinho está a
Descrição do estímulo segundo Bellak:
dormir, a pensar, a olhar, a esperar F 1 O s ((Um cãozinho deitado nos joelhos do &o
Pais, a fechar a porta ou a cantar* Outros adulto, 0s dois desenhados com um mínimo
temas, aqui classificados noutras categorias de traços expressivos, as duas figuras estão
estão directamente relacionados com o tema sentadas no primeiro dum quarto de
dominante: levantar-se, sair de casa, úrin- banho),.
ear. O tema da agressiio é frequente, sobre-
tudo nos rapazes, que talvez por isso, são
também os que apresentam mais sinais de '. Os personagens
ansiedade nas suas narrativas. Quanto il
última categoria, inclui uma grande varie- As duas figuras desta lâmina são quase
dade de temas. No grupo dos rapazes temos: sempre interpretadas como mãe e filho; mas
Chorar, Ver televisao, Arrumar a casa, Ir também podem ser vistas como pai e filho
fazer campismo, Fechar a p o r , Zangar-se (23 Vo dos rapazes e 50 Vo das raparigas).
com a m&. No grupo das raparigas temos: De modo geral, as crianças identificam-se
Ir Q missa, Comer, Casar-se, Ver televisão. C ( M ~ O cãozinho.

2. Ternas encontrados

O adulto
limpa ou lava Conflito Brincar Conversar Ir dormir Outros temas
o pequenino

Rapazes ...... 46 VO 27 9'0 27 '9'0 8 Vo 4 Vo 12 O0


Raparigas .... 35 I 0 31 'To 12 iqo 12vo 8 940 27 Vo

3. Não encontramos nas histórias referen- com actividades de limpeza do próprio indi-
tes a esta lâmina nenhum tema dominante. víduo. Essas referências são mais específicas
As acções mais frequentemente aqui des- nas raparigas do que nos rapazes. Estes, em
critas, nos dois grupos de crianças, distri- contrapartida, descrevem mais frequente-
buem-se por um grande número de catego- mente do que as raparigas cenas de brinca-
rias e estão, de modo geral, relacionadas deira. Quanto aos temas que só aparecem

64
uma vez temos no g r u p dos rapazes: Ir elevadas de temas banais. Estão nessa situa-
para a p r i s h , Casar, Ladrar, Sair do banho. ção as lâminas 1, 2, 3, 5 , 7.
No grupo das raparigas temos Comer, Guar- Em qualquer delas o tema banal ou do-
dar o filho, Correr, Ladrar. minante é referido pela quase totalidade das
Não apareceram, nos protocolos destas crianças por nós examinada ou, pelo menos,
crianças, temas relacionados com qualquer pela sua grande maioria. Como explicar esta
forma de masturbação que Bellak dizia se- concentração das mesmas respostas em cer-
rem facilmente suscitadas por esta lâmina. tas lâminas? Resultará isso da própria estru-
tura do estímulo? Será que essas lâminas
sugerem mais directamente A criança a pro-
E. ALGUNS ASPECTOS DIFERENCIAIS blemática que através delas se pretende ilus-
trar? Não serão essas percentagens simples-
Examinando mais de perto a distribuição mente o resultado duma maneira comum
dos temas banais nas diferentes lâminas e de perceber e interpretar essas lâminas,
as suas respectivas percentagens, podemos numa população duma determinada idade
recolher um pouco mais de informação, e de uma determinada cultura? !fl muito
quer sobre a própria natureza das lâminas, provável que essas diferenças não resultem
quer sobre a maneira como a elas reagem apenas da estrutura da lâmina, mas do con-
as crianças desta idade. teúdo e do significado que ela tem para a
Certas lâminas parecem muito mais suges- criança. Com efeito, as percentagens dos
tivas do que outras, isto é, suscitam mais temas dominantes não se distribuem da
frequentemente do que outras, percentagens mesma maneira no grupo dos rapazes e no

Distribuição dos temus dominantes nas 10


lâminas do C.A. T.

Fig. 1 Fig. 2
Grupo de rapazes Grupo de raparigas

in 1 10-

.i
.c
Y

10

I , : : : . : : ; : : l : . : I : : : : ! .

i 2 3 4 5 6 7 8 9 1 0 1 2 3 4 5 6 7. 8 9 10
Lâminas
Lâminas
m Lâminas escolhidas em primeiro lugar (as mais preferidas).

0 Lâminas escolhidas em último lugar (as menos preferidas).

65
das raparigas, por outras palavras, as Iâmi- respostas ao inquérito final (lâmina mais
nas mais sugestivas não são exactamente as preferida/lâmina menos preferida). As lâmi-
mesmas nos dois grupos. Essas diferenças, nas mais discriminantes a esse respeito são
embora não sejam estatisticamente signifi- as 7 e 10 e, embora menos nitidamente, a
cativas, surgem mais nitidamente nas lâmi- lâmina 3. (cf. fig. 3 e fig. 4).
nas nas 1, 2, 3, 5, 6. Isto significa, provavel- As escolhas que elas suscitam variam
mente, que as situações nelas representadas muito dos rapazes para as raparigas e, por
têm uma ressonância fantasmática diferente vezes, vão mesmo em sentido oposto. Assim,
nos rapazes e nas raparigas. Será isso o a lâmina 7 é a mais preferida pelos indiví-
resultado duma disposição natural ou de- duos do sexo masculino ( X 2 = 6,68, p. <.
01) e a mais rejeitada no grupo das rapa-
ve-se apenas ao processo discriminador, de
rigas (X' = 6,65, p < 025). A lâmina que é
socialização, a que as crianças ficam sujei-
escolhida em segundo lugar na ordem de
tas desde a mais tenra idade? A resposta a preferência dos rapazes não suscita pratica-
estas questoes exige a análise sistemática e mente nenhuma rejeição ou preferência no
comparativa das respostas fornecidas por grupo das raparigas.
crianças de diferentes idades. Quanto & lâmina 10, é mais preferida no
Um outro elemento diferenciador dos ra- grupo das raparigas que no grupo dos rapa-
pazes e raparigas, no C . A. T., são as suas zes ( X z = 4,79, p <. 05). Nestes encontra-

Frequência de escdhm para cada lâmina

J U
O
.-c.
U

L
m
w

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1 0
Lâminas i â min a s

66
mos um número idêntico, mas sempre baixo, a ressonância fantasmática e afectiva que
de escolhas e rejeições. Seria interessante nele tiveram as diferentes lâminas e o modo
verificar se esta divergência ao nível das es- mais ou menos elaborado, mais ou menos
colhas resulta de alguma diferença bioló- adequado, como a criança as integra nas
gica (cf. MACCOBY e JACKLIN, 1980) suas narrativas.
ou se é simplesmente o efeito da aprendiza-
gem social nas crianças desta idade, nomea-
F. DISCUSSÃO
damente no que diz respeito a socialização
dos comportamentos agressivos. Nesta idade Este estudo tinha por objectivo determi-
a criança parece com efeito, já ter assimi- nar quais os temas dominantes ou banais,
lado certos valores e certos comportamen- nas histónas fornecidas no C. A. T. por
tos próprios do sexo a que pertence. Assim uma população muito restrita de crianças
as raparigas parecem mais sensibilizadas da cidade de Coimbra. Tratava-se duma
para as tarefas da educação dos filhos e análise essencialmente centrada na activi-
para a vida em família (lâminas 4 e 10) e dade que a criança atribui aos personagens
rejeitando simultaneamente qualquer ati- das diferentes lâminas, deixando-se de lado
tude mais violenta ou mais agressiva (lâmina vários outros aspectos do protocolo.
7). Em contrapartida, os rapazes caracteri- Os resultados obtidos mostram que cada
zam-se por uma preferência mais nítida das lâmina suscita temas bem específicos e que
situações de conflito e agressão. Neste sen- tais temas são idênticos nos dois grupos de
tido apontam não só as suas preferências crianças, embora com percentagens diferen-
pelas lâminas 7 e 3, mas também a ocor- tes. Mas, ao mesmo tempo verificou-se que
rência, bastante frequente, de temas ou de outros elementos quer ao nível das narra-
fantasias agressivas num grande número de tivas, quer ao nível das escolhas, podem
narrativas. 13 certo que estas interpretações funcionar como indicadores para o estudo
se baseiam num número reduzido de pro- diferencial da vida afectiva e social das
tocolos, mas nem por isso deixam de abrir crianças. O estudo desses elementos emge
algumas pistas de investigações interessantes um trabalho mais complexo e demorado de
para futuros trabalhos. A partir de que que a determinação dos temas banais cons-
idade é que essas diferenças começam a titui apenas um pequeno aspecto.
manifestar-se ao nível das fantasias da Finalmente, comparando 05 temas domi-
criança? Haverá uma correspondência entre
nantes encontrados nesta amostra com a
a diferenciação que se observa entre rapa- problemática apresentada por Bellak para
zes e raparigas ao nível doe comportamentos cada lâmina registam-se algumas discre-
manifestos e ao nível das suas narrativas? pâncias. O mesmo acontece com trabalhos
Por exemplo, a ausência de imagens realizados noutros países por diferentes au-
agressivas nas histórias contadas pelas rapa- tores (cfr. por exemplo, Brader-Blomart,
rigas não será a consequência do recurso a 1970 e Guinand et al., 1969). Na origem des-
certos mecanismos de defesa que levariam a tas divergências estão, provavelmente, nu-
criança a inibição da sua agressividade? merosos factores: uns ligados ao meio fami-
A resposta a estas questões implicaria uma liar e social, outros ligados Ci época em que
análise dos protocolos bem mais complexa tais trabalhos se efectuaram. outros ainda
onde, além da maneira como o indivíduo ligados ao modelo teórico utilizado por cada
percebe o estímulo, se procuraria descobrir autor na sua interpretação dos protocolos.

67
ANEXO
LISTA COMPARATIVA DOS TEMAS DOMINANTES OU BANAIS
NUMA AMOSTRA PORTUGUESA, FRANCESA E AMERICANA DE 6 ANOS DE IDADE (l)

AMOSTRA PORTUGUESA AMOSTRA FRANCESA AMOSTRA AMERICANA


(Boulanger-Balleyguier 1957) BELLAK (1975)

Lâmina 1 M Comer Dormir ou deitar-se


F Comer Comer Temas orais: satisfação e privação
Comer Rivalidade fraterna
Lâmina 2 M Puxar a corda Puxar a corda
Cair Combate
F Puxar a corda Puxar a corda Jogo
Cair Fuga
Lâmina 3 M Leão sentado a fumar Fumar Leão visto como velho ou como poderoso
Comer alguém Temas a volta do segundo animal
Conflito entre os dois
F Leão sentado a fumar Conflito
Fumar
Comer alguém Rivalidade fraterna
Lâmina 4 M Andar de bicicleta Conflito
Andar de bicicleta Interesse pelo nascimento
F Andar de bicicleta Andar de bicicleta Temas de alimentação
Lâmina 5 M Dormir OU deitar-se Dormir ou deitar-se Fuga
F Dormir OU deitar-se Dormir ou deitar-se Histórias relativas a cena primitiva
Masturbação
Lâmina 6 M Dormir Dormir ou deitar-se Temas relativos a cena primitiva
Comer Ciúme
F Dormir Dormir Masturbação
Comer
Lâmina 7 M O tigre ataca o macaco Conflito Agressão
Um. animal ataca o Medos ou desejos de Castração
outro
F O tigre ataca o macaco Conflito Temas orais de incorporação
Um animal ataca o
outro
Llmina 8 Ia
(7 Falar Temas relativos a vida social
F Macaco a falar com O Beber Temas orais
filho Falar
Beber
Dar ordens

Lâmina 9 M O coelho está na cama Levantar-se Medo do escuro


ou vai para a cama Dormir Medo de ser abandonado
Conflito

F O coelho está na cama Comer Curiosidade pelo que se passa no quarto


ou vai para a cama ao lado

Lâmina 10 M c> Conflito


Temas de crime e castigo
Temas relativos ti aprendizagem da lim-
F
peza
Masturbação

(l) Bellak não indica o tamanho nem a distribuição da amostra na qual encontrou os temas que nos apresenta. Desconhecemos
igualmente qual a idade das crianças dessa amostra e qual o critério utilizado na determinação dos temas dominantes ou típicos.
Os temas por ele encontrados referem-se aos rapazes e raparigas indiscriminadamente.
(2) Na lámina 10 não encontramos nenhum tema que atingisse os 50 % -critério por nós utilizado para definir os temas
banais - nem no grupo dos rapazes nem no grupo das raparigas.
Na iârnina 8 só o grupo dos rapazes é que não atingiu essa percentagem.
RESUMO BOULANGER-BALLEYGUIER, G. (1978) -
Lu Personnalité des enfants normaux et c a r a -
Passou-se o C. A . T. a uma ppullação tèriels a travers le Test d’Aperception C. A . T . ,
Monografia de Psicologia IV, ed. do C. N.
portuguesa de 6 anos de idade (26 rapazes R. S., Paris.
e 26 raparigas) e a partir das suas respostas BRADFER-BLOMART, J. (1970) - ((Analyse
determinaram-se os temas dominantes ou des thèmes fournis au C. A. T. par des gar-
banais para cada lâmina. As percentagens çons de huit ans», Enfance, 1970, 215-233.
desses temas variam de umas lâminas para GUINAND, M., DELFOSSE F. BRADFER-
-BLOMART, J. (1969) - ({Utilisation de la
as outras e d o grupo dos rapazes para o
notion de Banalité et d’originalité dans I’in-
grupo das raparigas. Comparando estes re- térpretation de récits fournis au test C. A. T.
sultados com os temas propostos para cada par des filles de 8 ans». Enfance, Outubro-
lâmina por Bellak, verifica-se que a coinci- -Dezembro, 1969, 309-337.
dência nem sempre é total nos dois casos. HAWORTH, M. (1966) - The C. A . T.: Fucts
Apontam-se algumas hipóteses para a inter- About Funtasy, Grune e Stratton, N. Y.
MACCOBY, E., JACKLIN, C. N. (1980) - «Sex
pretação dessas diferenças e reconhece-se a Differences in Agression: A Rejoinder and
necessidade de novas investigações sobre Reprise)), ChiId Development. 1980, 51, 964-
uma população mais numerosa e mais diver- -980.
sificada. SHENTOUB, V., SHENTOUB, S. A. (1960)-
((Recherche expérimentale et c h i q u e du thè-
me “banal” dans le T. A. T.», Psychiatrie de
l’enfant. Vol. 11, 2, P. U. F., Paris.
BIBLIOGRAFIA SILVA, D. (1970) - O Teste de Apercepção para
Crianças - Figuras Humanas - C . A . T.-H.,
BELLAK, L. (1975) - The Thematic Appercep um estudo de Normas (Tese de Doutoramen-
tion Test, The Children Apperceptim Test, to). Faculdade de Psicologia da Universidade
and The Senior Apperception Technique in de Lisboa.
clinical use, 3.“ ed., Grune e Stratton, N. Y. ZA’ZZO, R., GILLY, M., VERBA, M. (1980)-
BOULANGER-BALLEYGUIER, G. (1957) - Nova Escda Métrica da Znteligêncicr, Trad.
«Étude sur C. A. T., influence du stimulus sur e aferição portuguesa de J. Bairráo Ruivo e
les récits d‘enfants de 3 a 8 ans», Rev. Psych. colab., 2 vols. Livros Horizonte, Lisboa,
Appl., 1957, 7, 1-28. 1978-1980.

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REVISTA
PORTUGUESA
DE
PSICANALI sE

Veio a lume, no passado mês de Fevereiro,


o primeiro número da Revista Portuguesa
de Psicanálise, editada pela Sociedade Portu-
guesa de Psicanálise e a sair duas vezes por
ano. Dirigida pelos Drs. João dos Santos e
Carlos Amaral Dias, integram o seu Conse-
lho de Redacção os Drs. Pedro Luzes, Mário
Casimiro, Eduardo Luis Cortesão, Jaime Mi-
Iheiro e António Coimbra de Matos, sendo a
responsabilidade gráfica de Gil Maia.
Do Editorial deste número, sob o título «A
Traição Inevitável)), da autoria do Dr. João
dos Santos, respigámos as seguintes passa-
gens:
«A Revista que a Sociedade Portuguesa.de
Psicanálise agora lança é uma velha aspira-
ção dos psicanalistas portugueses. O seu
objectivo é o de deixar registados os traba-
lhos portugueses e de estabelecer, através próprio funcionamento mas creio que ainda
deles, relações mais estreitas com os colegas náo foi por eles explicado o significado desta
estrangeiros. Não se destina naturalmente aos traição inevitável que consiste em passar a
(ainda) pouco numerosos sócios da nossa So- escrito - como se fosse possível -uma expe-
ciedade e, por isso, penso que, nesta primeira riência relacional. Que uso se fiiz dos nossos
apresentação, me devo dirigir mais àqueles escritos? Não faço a pergunta para obter
que, para além dos membros, vão constituir u.ma resposta consciente, descritiva, discur-
o nosso público. (...) siva, e académica, mas apenas para me
Quererá tudo isto dizer que consideramos pôr - nos pôr - a reflectir. Já não estamos
que o diálogo de inconsciente a inconsciente no tempo de Pitágoras e dos pitagóricos que,
é a nossa única forma de reflexão? Eviden- segundo consta, liquidavam fisicamente aqueles
temente que a consideramos como essencial, que revelavam o segredo das suas descobertas.))
mas não única. A prova é que aqui estamos Integram ainda este primeiro número os
a pretender lançar uma Revista. Como parece seguintes artigos: ((Sexualidade e auto-estima
evidente, o escrito é necessariamente con- na adolescência)), de José Pedroso Flores, que
teúdo manifesto mesmo que nele se fale de assina também ((Considerações sobre a alian-
Conteúdo latente. Quando Freud falou de re- ça terapêutica)); «Elos significativos: A con-
presentação de coisas e de palavras, referia-se tribuição da Psicanálise para a Psicologia)),
h palavra auditivamente percebida, embora de E, L. Cortesão; ((0 silêncio na comunica-
seja para mim ponto assente que a escrita ção analítica)) e ((Depressão, depressividade e
fonética é a que permite ouvir com os olhos. depressibilidade)), por António Coimbra de
O registo escrito está para o inconsciente Matos; ((Identificação- Projecção - Identi-
como o sonho que se conta para a emoção ficação projectiva)), de Jaime Milheiro; «D.
primária que lhe deu origem. (...) Duarte e a depressão)), por Carlos Amaral
Tudo isto me leva a pensar que, sendo a Dias.
Psicanálise uma forma de estar, de pensar e O preço deste número é de Esc. 350800,
de agir (verbalmente), ela não é traduzível situando-se a assinatura anual nos 600$00.Os
em palavras escritas. E, no entanto, o escrito pedidos devem ser dirigidos a Edições Afron-
é, na nossa cultura, inevitável. Os psicana- tarnento, Rua de Costa Cabral, 859 4200
listas têm explicado muita coisa sobre o seu Porto.

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