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Vida em modo automático

Vou contar uma coisa pra vocês que tem sido um pensamento recorrente há alguns dias.
Pensava cá com os meus botões na felicidade de ser mulher, em como podemos andar coloridas
e nos arriscar em tantas coisas sem medo de sermos felizes. Somos abençoadas por podermos
ousar, por tantas coisas lindas que compõem o universo feminino.
Então, observo como ainda existem mulheres que se escondem atrás do batom cor de boca,
esmalte nude, lingerie bege, roupas pretas e descoradas, sorriso comedido, voz baixa, evitam
falar de sexo, fogem das ligações afetivas, têm medo de olhar nos olhos, de abraçar, se dizem
extremamente religiosas e pecam o tempo todo julgando os outros. “Fecham portas” no modo
automático, sufocando seus sonhos e tentando evitar que as pessoas próximas possam se
manifestar. Vivem em um mundo cinzento, sem felicidade, sem alegrias e sem ideia de futuro.
Olho para essas mulheres e sinto que a vida está se esvaindo, e me pergunto: será que essa
construção vem do desamor experimentado na construção dos seus afetos de modo inseguro?
Como será que elas foram amadas e quanto pelo desamor vivido buscam evitar esse
sentimento?
Há dias penso nos detalhes que compõem as histórias de vida de mulheres que se comportam
dessa maneira, daquelas que buscam afastar de si o mundo, as ligações afetivas e tudo aquilo
que requeira doação e possa lhes colocar à prova.
Nesse terreno da discrição quase absoluta existe a prevenção contra os enfrentamentos que não
desejam viver, conscientes ou inconscientemente buscam tornar-se invisíveis, não precisando
olhar para a vida como ela realmente é.
Afastar-se das pessoas usando disfarces e descolorindo o mundo traz um sofrimento psíquico e
emocional intenso, um olhar para a vida cheio de negatividade. Esse processo de autodestruição
não tem nada de positivo, muito pelo contrário, o futuro muito provavelmente mandará uma conta
bem alta, podendo facilmente converter todo esse sofrimento em doenças de toda a natureza.
Quando esses sentimentos tomarem conta do existir é hora de parar para pensar a respeito e
buscar ajuda.
A vida tem tantas coisas lindas para viver, para ver, partilhar, arriscar, experimentar… tem tantos
sentimentos incríveis e transformadores, cores e muito brilho!
A gente pode, sim, rir alto, falar alto, ser autêntica, usar batom e esmalte vermelhos, lingerie
sexy, dançar, cantar, ter amigos, opinar, questionar, abraçar, beijar e dizer que ama… a gente
pode tudo, só não pode esquecer isso.
 

Silvana Nardello Nasihgil é psicóloga clínica (CRP – 08/21393)

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