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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA
SEÇÃO DE DIREITO PRIVADO 26ª CÂMARA

Registro: 2018.0000064590

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelação nº


1021053-35.2015.8.26.0506, da Comarca de Ribeirão Preto, em que é apelante
INTELIG TELECOMUNICAÇÕES LTDA, é apelado LUIZ GUSTAVO RIHEL
(JUSTIÇA GRATUITA).

ACORDAM, em 26ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de


Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento parcial ao
recurso, nos termos que constarão do acórdão. V. U.", de conformidade com o
voto do Relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores


FELIPE FERREIRA (Presidente) e VIANNA COTRIM.

São Paulo, 8 de fevereiro de 2018.

RENATO SARTORELLI
RELATOR
Assinatura Eletrônica
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SEÇÃO DE DIREITO PRIVADO 26ª CÂMARA
APELAÇÃO Nº 1021053-35.2015.8.26.0506

APELANTE: INTELIG TELECOMUNICAÇÕES LTDA


APELADO: LUIZ GUSTAVO RIHEL
MAGISTRADA DE PRIMEIRO GRAU: REBECA MENDES BATISTA

EMENTA:

"PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE
TELEFONIA - COBRANÇA INDEVIDA -
INSCRIÇÃO DO NOME DO
CONSUMIDOR EM CADASTRO DE
PROTEÇÃO AO CRÉDITO - DANO
MORAL CONFIGURADO - RECURSO
PARCIALMENTE PROVIDO PARA
REDUZIR O QUANTUM
INDENIZATÓRIO.

O indevido apontamento no cadastro


de maus pagadores é suficiente para o
reconhecimento do direito à
indenização por dano moral, que nasce
do próprio ato irregular e injusto".

VOTO Nº 29.965

Ação de indenização por danos


materiais e morais fundada em contrato de prestação de
serviços de telefonia julgada procedente pela r. sentença de fls.
86/90, cujo relatório adoto.

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APELAÇÃO Nº 1021053-35.2015.8.26.0506

Inconformada, apela a ré. Após


estoriar os fatos relativos à lide, sustenta, em apertada síntese,
que a cobrança pelos serviços afigura-se legítima uma vez que
o pedido de portabilidade definitiva para outra operadora não
havia sido concretizado e até o presente momento a linha
telefônica continua ativa. Alega, no mais, que há de ser
observado o princípio do pacta sunt servanda, aduzindo que
os danos morais não ficaram evidenciados, mostrando-se,
também, indevida a condenação a título de danos materiais.
Busca, por isso, a inversão do resultado do julgamento, ou
alternativamente, a redução do quantum indenizatório, assim
como dos honorários advocatícios.

Recurso respondido e preparado.

É o relatório.

Tenho para mim que a r. sentença,


no substancial, dirimiu acertadamente o conflito e merece
subsistir por seus próprios fundamentos, cumprindo ressaltar
que o E. Supremo Tribunal Federal reconheceu a legitimidade
jurídico-constitucional da técnica da motivação por referência
ou por remissão, mostrando-se compatível com o disposto no
artigo 93, inciso IX, da Constituição Federal (Neste sentido:
Rcl. nº 25.119 MC-AgR/DF, Rel. Min. Celso de Mello; ARE nº

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657.355-AgR/SP, Rel. Min. Luiz Fux).

Extraio da decisão combatida o


seguinte excerto que adoto, como razão de decidir, para evitar
repetições, nos termos do artigo 252 do Regimento Interno
deste Tribunal, verbis:

“Em que pesem as alegações do réu, a empresa Claro S.A,


receptora da portabilidade da linha, informou a
requerimento do juízo que a solicitação da portabilidade
ocorreu no dia 03 de novembro de 2014, sendo concluída
em 06 de novembro de 2014, ocasião em que se tornou
efetiva (fls. 84).
Além disso, o autor apresentou documentos comprovando
que a portabilidade ocorreu logo após solicitada, uma vez
que a empresa Claro S.A (receptora da linha) emitiu faturas
nos meses seguintes, cobrando pela prestação de seus
serviços de telefonia (fls. 16/20).
Portanto, todas as cobranças efetuadas pela ré após 03 de
novembro de 2014 são indevidas, posto que não existia
relação jurídica entre as partes” (cf. fls. 87/88).

Com efeito, ficou demonstrado que


o autor, na data da fatura cobrada (dezembro de 2014 cf. fl.
15), não mantinha qualquer relação contratual com a ré; vale
dizer, a linha telefônica, que antes pertencia à ré, passou a ser
administrada por outra empresa (Claro), a partir de 06/11/2014

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(cf. fl. 84), em razão da portabilidade, afigurando-se razoável a


possibilidade de a cobrança ter sido feita, por alguma razão, de
forma equivocada.

De todo modo, incumbia à ré o ônus


de evidenciar a legitimidade da cobrança, o que não ocorreu,
mostrando-se, por isso, incensurável a declaração de
inexigibilidade do valor apontado na fatura emitida (fl. 15), tal
como preconizou o decisum.

Neste sentido, destaco os seguintes


precedentes da lavra deste E. Tribunal, verbis:

“- Prestação de serviços - Telefonia -


Ação declaratória de inexigibilidade de
débito e indenização por dano moral -
Prova de que o autor solicitou
portabilidade numérica à ré, não foi
atendido, e de que houve cobrança e
negativação indevidas, por consumo
posterior à data em que ele deixou de
utilizar os serviços da Telefônica.
- Lançar o nome de consumidor,
indevidamente, em cadastros de
inadimplentes constitui ato ilícito e
gera o dever de responder pelo
correspondente dano moral.

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- Dano moral, exatamente porque


moral, não se demonstra nem se
comprova, mas se afere, resultando
por si da ação ou omissão culposa, in
re ipsa, porque se traduz em dor física
ou psicológica, em constrangimento,
em sentimento de reprovação, em
lesão e ofensa ao conceito social, à
honra, à dignidade.
- O arbitramento da indenização moral
há de considerar a real finalidade do
reparo, a de satisfazer ao lesado, tanto
quanto possível, e a de servir de
desestímulo, ou de inibição, para que
se abstenha o lesante de novas
práticas do gênero. Em contrapartida, a
reparação não deve gerar o
enriquecimento da vítima, tendo em
vista sua natureza compensatória -
Indenização mantida - Recurso provido
em parte, apenas para a correção da
data em que o autor deixou de utilizar
os serviços da ré” (g.n.) (Apelação nº
1005696-38.2016.8.26.0002, 29ª Câmara
da Seção de Direito Privado, Rel. Des.
Silvia Rocha).

“Prestação de serviços. Telefonia


móvel. Declaratória de inexistência de
débito c.c. indenização por danos

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morais. Ação julgada parcialmente


procedente. Portabilidade solicitada
para outra operadora de telefonia.
Cobranças de serviços posteriores e
inscrição restritiva. Dano moral
configurado. Dever de indenizar.
Negligência da prestadora de serviços.
Negativação que, por si só, justifica
indenização, acarretando ofensa ao
bom nome e credibilidade da autora.
Fixação em R$ 10.000,00. Redução
para R$ 8.000,00. Razoabilidade.
Recurso provido em parte.
Após concessão de portabilidade de
linha de telefonia móvel persistiu
faturamento e cobranças indevidas,
culminando com a inclusão do nome
da usuária nos órgãos de proteção ao
crédito, o que constitui ilícito
caracterizador de dano moral, pois há
evidente abalo ao nome e repercussão
junto a terceiros da pessoa jurídica.
A fixação por danos morais deve ser
proporcional ao dano e compatível
com a reprovabilidade da conduta
ilícita, a intensidade e a duração dos
transtornos experimentados pelo
autor, a capacidade econômica do
causador dos danos e as condições
sociais do ofendido. Assim, a fixação

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em R$ 10.000,00 revela-se excessiva,


cabendo ser reduzida para R$
8.000,00”. (Apelação nº
3001212-44.2013.8.26.0650, 32ª Câmara
da Seção de Direito Privado, Rel. Des.
Kioitsi Chicuta).

O indevido apontamento no
cadastro de maus pagadores, o que obrigou o autor a ingressar
em juízo, acarretou-lhe inegável aborrecimento e transtorno,
suficiente para o reconhecimento do direito à indenização por
dano moral, que nasce do próprio ato, do lançamento irregular
e injusto. Nada é necessário provar. O dano ocorre in re ipsa.

No mais, para a estimativa do


ressarcimento incumbe ao juiz levar em conta critérios de
proporcionalidade e razoabilidade, atendidas as condições do
ofensor, do ofendido e do bem jurídico lesado.

Na esteira da jurisprudência
predominante do E. Superior Tribunal de Justiça "não só a
capacidade econômico-financeira da vítima é critério de análise
para o arbitramento dos danos morais, sendo levado em conta,
também, à míngua de requisitos legais, a capacidade
econômico-financeira do ofensor, as circunstâncias concretas
onde o dano ocorreu e a extensão do dano" (REsp. n° 700.899-

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RN, Rel. Min. Humberto Martins).

Sopesadas as circunstâncias
preponderantes que envolvem o caso concreto, quais sejam, a
capacidade econômica das partes, a extensão do sofrimento
experimentado pelo autor e o grau de culpabilidade da ré,
tenho para mim que a quantificação reparatória, estipulada em
R$ 10.000,00 (dez mil reais), deve ficar acomodada no patamar
de R$ 8.000,00 (oito mil reais), com correção monetária a partir
desta data (Súmula nº 362 do Superior Tribunal de Justiça),
quantia suficiente para atender ao princípio da razoabilidade,
evitando o enriquecimento sem causa do ofendido.

A redução da indenização, a título


de dano moral, não implica sucumbência recíproca (Súmula nº
326 do STJ).

Ante o exposto, dou parcial


provimento ao recurso para reduzir o valor da indenização por
danos morais, nos termos do acórdão, mantida, no mais, a r.
sentença, inclusive quanto aos honorários advocatícios.

RENATO SARTORELLI
Relator
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SMT

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