Você está na página 1de 86

E S B O Ç O

SOB-RE OS O B S T Á C U L O S , Q U E SE T E M

O P P O S T O A ' P R O S P E R I D A D E D A

VIL LA DE CAMPOS.

O F F E R E C I D O

AOS HABITANTES DA MESMA

PELO SEO PATRÍCIO

JOZE BERNARD1NO BAPTISTA PEREIRA


i r A L M E I D A .

Cari sunt parentes , cari l i b e r i ,


propinqui, f a m i l i a r e s , scd omnes o m -
n i u m charitates p á t r i a u n a c o m p l e x a cst.
Cicer. de O f f .

R I O D E J A N E I R O , 1823.

Na Tf/pograpftia de Silva Porto, e Companhia,


D E D I C A T O R I A

A m o r d a m i n h a p á t r i a , a s

g r a n d e s p o r p o r ç õ e s , q u e e l l a t e m

p a r a s e r h u m a d a s m a i s o p u l e n -

t a s e e n c a n t a d o r a s C i d a d e s d o v a s -

t o I m p é r i o d o B r a z i l , o s e u a c -

t u a l a t r a z a m e n t o , o s e n c a n e c i d o s

a b u z o s , q u e c o m o á p o r l i a s e t e m

c o n j u r a d o a i m p e c e r o s e o a d i a n -

t a m e n t o e p r o s p e r i d a d e , s ã o o s

p o n d e r o z o s m o t i v o s , q u e m e f a -

z e m c a r g o d e p u b l i c a r a l g u m a s

l i n h a s á s e u r e s p e i t o , b e m q u e

i m c o s n p l e t a s , p o r m e f a l t a r e m

m u i t o s d o s d o c u m e n t o s , q u e e m

v ã o c u i d a d o z o s o l l i c i t e i . P r a z a a o s

C é o s , q u e o s m e u s t r a b a l h o s p o s -

s ã o d e a l g u m a s o r t e d i s p e r t a r o

a m o r t e c i d o g e r m e n d o e n g r a n d e -

c i m e n t o d o e n f e l i z t e r r e n o , q u e

v i o a s p r i m e i r a s v e r d u r a s d e s s a

i d a d e d a i n n o c e n c i a , e d o p r a z e r ,

c u j a s a u d o s a l e m b r a n ç a , t ã o d o -

c e m e n t e a i n d a s e m s i b i l i z a o m e o
A Ü
c o r a ç ã o ! M a l f a d a d o P a i z , á q u e m

t á o p o u c o c a b e o s e r d e s d i t o z o ! . .

S e c o n s e g u i r c o n c o r r e r p a r a a

s u a m a i o r v e n t u r a , a s s ã s f i c a r e i

r e c o m p e n s a d o . E s p e r o p o i s , m e o s

c a r o s , e h o n r a d o s P a t r í c i o s , q u e

a c e i t e i s e s t a l i m i t a d a o f t e r t a , n & o

p e l o m e r e c i m e n t o d e m a l a r r a n j a -

d a s f r a s e s , p o r é m p e l o o b j e c t o ,

q u e t a n t o n o s d e v e i n t e r e s s a r ,

e p e l a c a n d u r a d o V o s s o m a i s

a í f e c t u o s o P a t r í c i o .

J . B . B . P . A
P R E F A C I O

Q u a n d o em Outubro de 1821 eu tive a par-


tecipação de ser nomeado Deputado Substituto
perante o Congresso de Lisboa, para ahi advo-
gar a cauza da Província do Espirito Santo ,
rejflcctindo que o Proprietário , ha mais de vin-
te annos, domiciliado em Coimbra, poucos co-
nhecimentos poderia ter de minha P á t r i a , dos
seus abuzos , e do que era indispensável f o r m a r ,
e estabelecer de novo, emprehendifazer alguns
apontamentos, que pudessem servir como de
motivo e lembrança ás indicações, que elte hou-
vesse de f a z e r a bem dos seus Constituintes.
O grosso dos males não me era desconhecido,
porém tornava-se indispensável entrar no per-
feito conhecimento de certos ramos públicos; e
enttio dei, bem que f r u s t a d a m e n t e , os passos,
que me parecerão próprios. A alteração dos
nossos negócios políticos com Portugal obrigou-
me a entregar ao esquecimento, quanto havia
eseripto : a prezente nomeação de hum Deputado
conhecedor da Província , dando-me sobejos mo-
tivos para esperar toda a r e f o r m a , e melhora-
mento da mesma , confirmou a intenção de não
dar d luz o imperfeito parto de inexperientes
observações. Oceorrendo porém que nem tudo
lembra ú todos, que no montão de objeeios a
tratar, não será bastante a memória d ' h u m só
homem, e que quando dos meus escriptos não
rezulte proveito, menos motivará de dano, e
em dezempenho dos meus deveres como Cida-
d ã o , e filho daquella V d l a 9 rezolvi-me a f a z e r
apparecer a prezente memória* Conheço a mi-
nha insuffiiencia, e por outra parte faltão-me
documentos loeaes; porém os meus erros irão
dispertar o saber de outros, Hum Cidadão, que
longe dos seus L a r e s , emprega as suas vigí-
lias em descrutinar o erro, e os abuzos, que
infestando huma tão interessante parte da gran-
de f a m í l i a , lhe murchão toda a semente do bem ,
indicando os corrosivos, que j u l g a eficazes,
a f i m de lhe angariar aquelle engrandecimento,
para o qual a natureza parece have-la destina-
do , tem preenchido huma parte dos seus de-
vores ; he meu único intento*
E S B O Ç O
5

S O B R E OS O B S T Á C U L O S , Q U E SE T E M

OPPOSTO A' PROSPERIDADE DA

VILLA DE CAMPOS.

1°. OBSTÁCULO.

O modo da Concessão da Donatária de Pe*


dro de Gocs e seus Suecessores até 1752.

A
M A D E I R A p o r q u e se e o n c e d e o a D o n a t á -
ria , n ã o sendo possível que h u m s ó h o m e m
tivesse cabaes meios de p o v o a r , e cultivar
tanta e x t e n s ã o de t e r r e n o , e menos forcas ca-
pazes <le o segurar no meio de habitantes,
que a t é e s t ã o n ã o havião conhecido sujeição,
e que rodeados de aventureiros orgulhozos das
suas armas, nobreza, direitos & c . , e ambi-
ciozos de rápida e prodigiosa fortuna, n ã o co-
nheeiao barreiras aos diques da sua avareza
e despotismo, foi o primeiro obstáculo ao en-
grandeeimento d e h u m p a i z , que tantas espe-
ranças promettia. A reacçao devia de ser ín-
fallivel, e daqui a impossibilidade de fixo e per-
manente estabelecimento; e quanto mais aquel-
Ja durasse, tanto mais se retardava a cultura
do terreno. A guerra devia fazer os seus estra-
gos; Portugal estava longe, e onde os recur-
sos ? Nestes termos a doação tornava-se inú-
til , como aconteceu por muitos annos ,
( 2 )

e á muitos Donatários. Á boa fé» a mo-


deração , as dádivas, a indifferença da
parte dos Europeos para com os antigos
costumes dos Indígenas, h u m amigável e len-
to ensino da Religião , corroborado com o ex-
emplo, praticas civis, que os tornassem j á
amigos sinceros, e agradecidos, e j á conhe-
cedores da necessidade de haverem liga e
união c o m os novos hospedes, persuado-me te-
rião produzido feliees rezultados; mas como
cazar a ambição e a vaidade com taes virtu-
des ? N ã o ha ainda quem nos contemple de-
zairosamente? O desprezo, c o m que forão tra-
tados os I n d í g e n a s não faz explosões de quan-
do em quando ? Entreguemos ao silencio t ã o
tristes considerações, cauza de tantos encom-
modos.
Supponhamos p o r é m que Pedro de Góes
ou algum dos seus Suceessores realizava a
cultura da sua Donatária, h u m subdito c o m
taes possessões n ã o seria hum B a c h á , não po-
deria cauzar huma revolução perigoza ? fí se
os mais Donatários tivessem igualmente apro-
veitado as suas concessões, n ã o estaria o
JJrazil todo retalhado em grandes Estados, e
ú muito desligado de Portugal, c de si mes-
mo ? Dizer-se-ni3-á q'ie dividil-o em peque-
nas partes, seria dar calor ás forças dos I n -
dígenas; que mandar gente em numero de fa-
zer decidida resistência, nem Portugal podia,
nem o Brazil offerecia vantagens, que com-
pensassem essas despesas; que os Donatários
sup posto de vasta extensão , com tudo fazíão o
seu assento em líúm só ponto , donde se iriao
alargando á propoação das suas f o r ç a s , da cui-
( 3 )

t u r a , e dos foreiros , e finalmente que o Gover-


no tomaria medidas, quando instassem as cir-
cunstancias. N e n h u m a destas r a z õ e s t e m fun-
damento solido; porque se a boa fé e docili-
dade prezidisse ao tratamento dos Europeos
para com os Indígenas, tornava-se excusado
o empregar f o r ç a ; para repellir os Estrangei-
ros, quaesquer fortes nos portos conhecidos,
erao então s u f f i c i e n t e s ; e se os D o n a t á r i o s fa-
zíão o seu ubi e m h u m s ó ponto, para que
tanta extensão , q u a n d o os foreiros podião ser
t a m b é m proprietários ? E m quanto ás vanta-
gens que o Brazil prometia, nem merece re-
posta tal duvida, pois que desde o principio
elle mostrou a fertilidade do seu solo, o pao
Brazil & c . Pelo que toca ás medidas do Go-
verno, quem lhe afiançava o feliz resultado?
E para que comprar o que era d' antes seu ?
E m f i m seja o que f o r , o certo he que o m o -
do , porque se pertendeo povoar a minha p á -
tria , e os meios empregados pelos Donatá-
rios, muito tempo retardarão a sua prospe-
ridade : omitto muitas outras concideraçõcs,
j á tocadas nas minhas refflexões historico-po-

liticas aCap. Io ^ 7 -
Ü
( 4 )

2°. O B S T Á C U L O .

A oppressão dos Donatários.

^-J^UANDO a avareza se une ao poder , são


sen., r e fieis companheiros da oppressão» e t y -
rania. A nobreza dos D o n a t á r i o s , os seus ami-
gos, a distancia da Corte, o dezcjo de amon-
toar prompta riqueza, e por outra parte, a
dependência, filha da pobreza dos povoadores«
formavão h u m chocante contraste, e h u m
bem irregular equilíbrio, cujos rezultados de-
verião ser sempre a oppressão. Ora os Pro-
curadores , os seos nomeados aos cargos p ú -
blicos , erão outros tantos oppressores ; elles
necessitavão incensar o ídolo da adulação,
suppondo assim ter h u m patrono, que lhes
augmentasse ou conservasse os p o s t o s , e que-
rendo apurar os direitos do Senhorio , só apu-
ravão a paciência e os vexames dos Póvos.
Os factos , que tiverão lugar muitas e repe-
tidas vezes, e de que a historia nos conserva
hum bem triste quadro, confirmão esta ver-
dade, e o quanto a oppressão retardou e se
oppoz á prosperidade daquella Villa, motivan-
do dezordens, crimes, revoluções, a perda
de huns , a pobreza de outros, e a destruição
quazi geral da povoação.
Se os Donatários se tivesem regulado pe-
la prudência, e probidade, se tivessem trata-
do os Colonos com d o ç u r a , exigindo delles só:
( 5 )

aquelle foro, que se compadecesse com as


circunstancias, e lavoira do tempo, ensejan-
do as medidas mais próprias de augmentar o
seu patrimônio, e o dos particulares ; se os
seos Procuradores tendo em vista a honra, se
n ã o mostrassem falços zeladores do que cha-
m a v ã o direito de terceiro , os Povos vivirião
mais tranquillos e felices ; a lavoira teria pros-
perado , e a Villa engrandecido ; os motins n ã o
succederiao huns aos outros; e o tempo, que
se perdia em inúteis contestações, rixas, e
ajuntamentos t u m u l t u o s o s , se e m p r e g a r i a com
proveito em cultivar a terra; as paginas da
historia se n ã o manchariao dos funestos ex-
emplos da sedição, e a posteridade n ã o teria
que lamentar os seus affcitos : finalmente nós
não lembraria-mos com magoa o quanto erra-
dos cálculos de r i q u e z a , acconipanhados de m i l
ideas quimericas de vaidade produzindo dano-
za oppressão, retardarão os passos da pros-
peridade , que esperava a grandeza de h u m
terreno o mais fértil, e bem collocado.
Realisarão-se os fòsondaveis Decretos da
Providencia; abrirão-se as fontes da felicida-
de , de que o homem he susceptível; resta
sabiamente lançar m ã o dellas , e approveitar-
mos os bens, que se nos a p o n t ã o ; perdida
a occaziaó tudo se perdeo. H u m momento de
inação, huma falta de prudência, qualquer
medida mal tomada, qualquer empreza mal
calculada, I m m arranjamento feito sem a de-
vida concideraçao, pouca firmeza de caracter,
de u n i ã o , e de p a t r i o t i s m o , nos precipitará sem
r e m é d i o , e então qual a nossa sorte ? . . »

••
B 11
( 6 )

ÍK O B S T Á C U L O .

A irrcflectida concessão de Sismarias.

AO basta, me persuado, conceder terre-


nos incultos, a q u e m os sollicita; he necessá-
rio saber se os fins se preenchem ; e para is-
so examinar attentamente, se o supplicante
tem meios de os pôr em proveito, e se e f f e c -
tivamente o faz , pesquizar miudamente a con-
veniência publica de tal concessão; se o ter-
reno pedido foi j a concedido a alguém ; qual
o modo de vida e possessões de raiz do sol-
licitante; se elle habita ou n ã o no lugar ou
districto , a que pertence o terreno em ques-
t ã o ; ouvir não p r ó formula, mas de h u m mo-
do , a que ligue certa responsabilidade, os
circumvisinhos de maior probidade; e segurar
com fiança idônea, ou deposito de c e r t a quan-
tia, ou com comminação seria e impretirivel
de h u m a pena qualquer, o complemento e ex-
ecução das condições impostas na provisão,
ou Carta de Graça. H u m a escropulosa ave-
riguação á tal respeito teria sem duvida au-
gmentado consideravelmente a lavoira de Cam-
pos; j á nao veríamos immensas terras habita-
das de feras, sendo seguro azilo de danozos
quilombos, e sem prestarem utilidade alguma,
ao mesmo passo que aquelles , que as pode*
r i ã o a p r o v e i t a r , se a e h a o e m p o s s i b i ü t a d o s , por-
que outros ja as obtiverao. De que uzo são
( 7 )

as prezentes clauzulas, que se costumão ajun-


tar a taes concessões ? E u tive occaziao de
ver títulos de grande numero de Sesmeiros ,
ja passados de pais a filhos e netos, e tres-
passados de huns á outros possuidores, e quaes
erao elles ? Certidões de inventários, escritos
de vendas, doações, Provisões de Governa-
dores n ã o confirmadas & c . , todas da mais re-
mota data, e sem que em h u m a só dellas se
tivesse cumprido o ônus de m e d i r , e demar-
c a r ; falta tão prejudicial, viveiro de eternos,
e complicados letigios. Teimo visto Sesmarius
concedidas a dois e trez indivíduos ao mesmo
t e m p o ; trez e quatro á h u m s ó ; immensas
legoas á h u m pobre , á hum habitante de Por-
tugal, á h u m Empregado Publico, cujo Offi-
cio he incompatível com a lavoira , e sua at-
t e n s ã o ; á huns, que as impetrão para ven-
der, a outros , que as i n t e n t S o p a r a m c o m m o -
dar á hum terceiro; estas nunca cultivadas
por carência de meios, aquellas p o r se devo-
rarem os S e s m e i r o s em litígios, e t sic de cae-
teris. Ora n ã o he evidente que h u m a tal ir-
regularidade de concessões he h u m fecundo
manancial para o atrazamento de (*ffta!quer
Paiz ? D e s g r a ç a d a m e n t e h u m semelhante prin-
cipio tem em grande parte paralisado os pro-
gressos da minha P á t r i a ; oxalá elle tenha
fim !
( 8 )

A OBSTÁCULO.

.4 grande extensão das Scsmarias.

E t o d o s os os erros políticos que se tem


opposto á* p r o s p e r i d a d e da Villa de Campos ,
este á meu sentir he h u m dos que tem cau-
zado maiores estragos. E m h u m Paiz, cujas
terras são fertilissimas, meia legoa em qua-
dra, he h u m rico p a t r i m ô n i o ; para que pois
conceder cinco e mais ;í p e s s o a s , que por mo-
tivos ponderozos as n ã o podião cultivar ? C i -
tarei as Cazas d' Assêea, e dos Religiozos
Benedictinos , poupando-me á citação e analy-
ze dos factos, que tenho ouvido, e de que
não tenho as devidas provas; factos que nem
se podem ouvir , nem contar á sangue frio :
direi somente alguma coiza do (pie me he per-
feitamente conhecido, seguindo a maior impar-
cialidade e possível decência.
Es£us duas Cazas possuem em Campos trez
qualidades de terras; h u m a em pastagens, ou-
tra em fazendas, que se administrão por sua
conta, e outra que anda em arrendamentos.
Emquanto á primeira he fora de toda a
d u v i d a q u e se a q u e ü a s pastagens n ã o se achas-
sem tão arruinadas pelas agoas estognadas
e passassem por huma mais aetiva e previden-
te Administração, que poderião fornecer ga-
do á todas ou á maior parte das Fazendas e
( 9 )

acougues, utilizando assim aos proprietários ?


aos fazendeiros , e á Nação.
Pelo que toca á segunda, seria m u i pro-
v e i t o z o q u e os Senhorios as arrendassem , por-
que dessa forma lucravão elles , os Arrenda-
tários , e a N a ç ã o nos direitos do assuear,
agoas ardentes & c ; em quanto e m adminis-
tração própria sò servem de conservar h u m
perigoso enxame de crioulos vadios, e de em-

' • • tampos, patar e inutilizar grande e optima extensão


1
** i a tem m- de terras em prejuízo da lavoira.
A terceira he a pedra do escândalo ; 1'. por-
to**hh, enjas
•ra «toa em qt». que são arrendadas muitas terras, que lhes
n ã o pertencem, o que tem dado nascença á
longos e encarnecidos processos, em que tem
•• • formo-
sempre triumfado a fidalguia e o dinheiro com
r-iltivar ? Ci-
capa de ileligião; e seria da ultima urgência
1.1 i n fei
que se fizesse geral e aetivamente executada
a Portaria de 13 de Fevereiro do prezente
anno ( 1 ) , dirigida ao Juiz de Fora da Ilha
Grande e Parati , cuja execução huma vez
sabia e imparcialmente feita, traria grandes
i í » «te eieheper- benefícios «í m i n h a Pátria : 2 . o
pelo annual le-
vantamento dos preços dos arrendatamentos,

( 1 ) Sendo conveniente obviar as eontinuos deman-


das , que se tevantão no termo da Ilha (Irandc e Pa-
rati sobre demarcações de terras com graves prejuízos
dos possuidores detlas : Manda SUA MAGESTADE o
IMPERADOR pela Secretaria dc Estado dos Negócios
do Império, que o Juiz de Fora dfaquelle termo
obrigue as pessoas, que tem Sesniarias á apprtzen-
tar os seus títulos em J u i z o , para á vista deites se
proceder â nova demarcação dos respectivos terrenos,
e evitar-se deste modo a multiplicação de pleitos, e 0.*
males, que deites rezutlão.
( i o )

sua instabilidade e incerteza, e arbitrário des-


pejo, a que estão expostos os Arrendatários.
Os eontractos, que f a z e m estas Cazas , s ã o
de locação ordinária, i est, n ã o sao de aflo-
ramento e m fatiota, ou e m vidas, ou para
sempre; por tanto seguem a natureza do que
se diz em Jurisprudência tocatio conductio. N o
cazo sujeito d ã o os Proprietários o uso e fruc-
to de certa porção de terras pró certa mer-
cede\ mas qual he a regra destes arrenda-
mentos ? Será o capricho de h u m , e a neces-
sidade do outro ? H e verdade que quando a
Lei n ã o determina o p r e ç o , a convenção en-
tre as partes he quem o firma; mas a liber-
dade de assim obrar n ã o he il!imitada; por-
que o preço deve ser j u s t o , e lá estão as re-
gras da L e i 2 . a
Cod. de recind. vendit; e nem
o diga que h á consenso da parte do Colono
no valor, a m e n o s que se n ã o a d m i t t a o prin-
cipio de que = l^oluntas coaeta scmper est vo-
ltadas. =
I
Examinemos pois se h á justiça de p r e ç o ,
è consenso de partes, tendo sempre em vista
a natureza e estado dessas terras locadas. Os
proprietários supra tendo obtido vasta exten-
são de terreno, e n ã o o podendo aproveitar ,
arrendarão-no em h u m estado, para assim m e
explicar, bruto, e em porções. Os Colonos
fizerao d e r r u b a d a s , campos, cercas, cazas,
fabricas d' assucar, plantações & c , e aqui es-
tabelecerão a sua fortuna, e e m p r e g a r ã o to-
do o seu cabedal: neste cazo, dizem os Pro-
prietários t o d o s os a n n o s , que o preço da ar-
rendamento deve ser maior; mas n ã o se v ê
que n ã o h á direito, nem razão , por que toda è,
( 1 1 )

a melhora não he das terras, mas sim dos


trabalhos, e empregos dos Colonos ? E como
hão-de estes deixar de annuir inda que for-
çadamente ao preço angmentado, se tendo o
seu estabellecimento feito, não o podem m u -
dar , nem aeharáo facilmente quem lho com-
pre pelo 6eu devido valor ? A certeza desta
circunstancia convida o augmento do preço , e
desta sorte, apparece h u m contracto sem con-
senso , e sem justiça. Quando nos objectos lo-
cados nao se d á se n ã o a fruição , he fácil da
parte de h u m ou outro abandonar o contracto;
p o r é m quando o Colono se acha prezo ao ter-
reno , quando este nao vale a terça parte das
bemteitorias & c , c o m o se fará esse a b a n d o n o ?
E m Europa arrenda-se h u m a Quinta, allugão-
se quatro trabalhadores, planta-se, colhe-se,
e nenhuma difficuldade h á em n ã o continuar
o arrendamento; p o r é m no Brazil attento o
que hei exposto, n ã o he possiveL
Poder-me-ão dizer que esses Proprietários
uzao de h u m dos etfeitos do domínio; mas eu
respondo que este tem justos limites, e de-
terminadas regras , e que a utilidade publica
lhes prevalece, incumbindo fazer rezistencia
a taes ineios tão próprios a contrariar a lavoi-
ra, e isto quando o direito de propriedade e
a cauza particular se podem mui bem conci-
liar, avaliando-se o merecimento de cada hu-
m a dessas terras arrendadas, e estabelecendo-
se h u m preço fixo, e permanente, attendida
a extensão do terreno, o numero dos escra-
vos & c ; ou arbitrando-se o preço pelo nu-
mero das enxadas, ou d' outro qualquer mo-
do, com tanto que os Colonos fiquem livres
c
( 12 )

de ser todfcs os dias obrigados á h u m maior


arrendamento, auctorisada a oppressão, eni
atrazo a lavoira.
Emquauto áirenovação annual de arren-
damentos m e parece summamente inútil; seria
bastante que ella se fizesse na m u d a n ç a dos
Colonos ( 2 ) ; por quanto h u m a vez feito o
contracto, o Senhorio pode nelle fazer exarar
todas as declarações tendentes á sua seguran-
ç a , e o Colono tendo os recibos das presta-
ções, está igualmente seguro; e assim evita-
se que o Lavrador seja distraindo dos seus
trabalhos para mendigar, ( e quantos sacrifí-
cios ! ) a dependência, e caprichos d' h u m ter-
ceiro , a quem he absolutamente indifferente
a cauza publica.
O arbitrário despejo, a que esses Colonos

( 2 ) O Alvará de 10 Abril 1 8 9 1 ^ 3°. assim se


explica — Igualmente ficaráõ valiozas, legitimas, e
procedentes todas as sub-emfileuticaçÕes, locações, ar-
rendamentos , que os respectivos Emfitcutas c sub-Em-
fiteutas tiverem feito e celebrado com qnaesquer ou-
tras pessoas, das ditas porções desmembradas dos
mencionados afjoramentos ou prazos, para nellas se
edificaretn Cazas e para formarem Quintas ou Cha-
cras, ou fazerem qualquer gênero de cultura , fican-
do p o r é m todos esses c o n t r a c t o s , qualquer que seja
O_,MU nome, ou natureza, reduzidos a aforamentos
p e r p é t u o s c o m os m e s m o s f ó r o s o u p e n s õ e s estipuladas
na pessoa de cada hum dos actuaes possuidores c seus
fucturos suceessores, afim de estabelecer-se solida e
regular Jurisprudência nesta matéria, evitar os a b u -
z o s ^ d e s p o t i s m o s , que selem praticado, despejando-
se os l o c a t o r i o s , que se divido reputar perpétuos, por
meio de lezivos pagamentos de bemfeitorias.

i
( 13 )

estão diariamente expostos (3), he ohjec-


to bem digno da attenção do nosso Congres-
so , pois he crivei que Lavradores, que ou
por s i , ou por seus Ascendentes, ou vende-
dores rotearão terras , segurarão a posse dei-
las aos Senhorios c o n t r a as incursões dos I n -
dígenas , fizerão úteis estabelecimentos á fa-
vor da Lavoira , e que assim vivendo persua-
didos de terem meios de sustenfar as suas f a -
mílias , sejão contra todo o direito e humani-
dade expulsados das suas habitações de h u m
modo injuridico e despotico, e só por fartar
a avareza, a cobiça, ou o capricho? (4)
c 11

( 3 ) O Alvará de 2 0 Junho 1 7 7 4 no seu preâmbulo


assim diz — que constituindo a agricultura huma das
quatro columnas, que sustentão o Estado político, e
os fruetos da terra os elementos das Artes, da in-
dustria , e as bases do coinmercio . . . , tem sido tão
contraria á estes sólidos fundamentos da utilidade pu-
blica , e até dos seus bem entendidos interesses par-
ticulares a abuziva e reprovada economia de hum gran-
de numero de donos de Herdades da Província do
Alemtejo, que pervertendo o uso do domínio, que
compette a cada hum para dispor dos seus bens , pas-
sarão com liberdade e impiedade imeompativeis com a
dcspozição e com o espirito de todas as sobre ditas
Leis , Regulamentos, 'Decretos, e Providencias , e com
intolerável Iczão do bem cummu/a da mesma Província
e do Jícino, á precipitar-se em absurdos tão grandes,
como são, o expulsarem das sitas respectivas herdades
os antigos Colonos em qualquer aparente lucro de mais
alguma renda, reduzindo assim á miséria, e á mendici-
dade hum grande numero dt famílias, que ou por s i , st os
Pais, e Avós, tinhao vivido com honra, e abundân-
cia 8íc.
( i ) O Decreto de 21 Maio 1701 determina —
( 1 4 )

Aonde o interesse publico, eo bem da Socie-


dade Civil ? Que danada rabulice tem favore-
cido taes actos ? Das determinações citadas
facilmente se conhece qual o favor das Leis
aos Colonos , e a sua cautella sobre os Senho-
rios, a u t h o r i z a n d o estes a despejar aquelles
somente nos cazos de falta de pagamento,
ruina da herdade, m á o uzo delia, e pouco
aproveitamento, e a i n d a nesses cazos com cer-
tas e determinadas restriceÕes, e nao ad l i -
bitum. ( 5 )
Eu sei q u e as d i s p o s i ç õ e s mencionadas fo-
rSo estabelecidas para certas herdades , e que

que os Lavradores, que se achão ou acharem estabe-


lecidos nas rejferidas herdades, lavrondo-as, e cultivan-
do competentemenle as terras deltas, segundo a sua
natureza , nao possão ser e x p u l s o s das m e s m a s h e r d a -
des , n e m l h e p o s s ã o ser l e v a n t a d a s as r e n d a s , em que
uctualmenle ancião, sem preceder especial ordem firma*
da pela Minha Real Mão.
A Resolução de 6 Novembro 1 7 7 4 igualmente es-
tabelece sobre as herdades das Commendas das Ordens
Militares que — n ã o se possa dispedir Colono algum ,
que se ache nellas estabelecido com a sua família , nem
l e v a n t a r e m - s e o s p r e ç o s , em que prezentemente andão
as sobreditas herdades, em quanto os refferidos Colo-
nos persi as fabricarem, e nellas rezidirem com as
suas familias.
(5) O 1 da Lei de 2 0 Junho 1 7 7 4 prohibe o
despejo nos cazos concedidos sem a impetra de conces-
sões Regias ; e a Lei de 2 7 Novembro 1S04 no % 2 .
regula o modo, e no § 3 . permitindo aos Senhorios
o poder levantara renda, findos os nove annos, exije
concessão do Dezembargo ào Paço, precedidas as ne-
cessárias averiguações , e feito o arbitramento por Lou*
vados.
( 1 5 )

não fôrao geraes, porém as Ord. X. 4 tt 24


pr. e tt. 39 nao contêm regras applicaveis , e
contrarias ao despejo arbitrário ? A interpre-
tação da L e i por e x t e n s ã o , i>ii comprehcnsão
de razão n ã o foi mandada p ô r em pratica no
Regimento de 9 Maio (6) 1654 tt. 3 § 29 ?
E de mais as Leis inda quando particulares ,
são sempre fundadas em princípios geraes de
justiça e utilidade publica, porque da harmo-
nia particular rezulta o bem geral; e seria o
abusivo procedimento dos Senhorios do Alem-
tejo, e Comendas t ã o urgente de providencia,
tão continuo, e escandalozo como o que dia-
riamente se faz em Campos ? Lembraria por
ventura a algum daquelles Senhorios o vender
os matos das herdades locadas, como prati-
cou o actual V isconde
T
de Asseea, meio inau-
dito de esfolar ainda mais os tolerantes e
sofredores Colonos ? Que utilidades provêm a
N a ç ã o destas duas Cazas ? , Que serviços t e m
feito, e que direitos pagão ? E porque moti-
vo hSo-de immensos Lavradores entregar o
fruto do seu suor á devoradora ociosidade de
quatro homens inúteis ? M a s nao vimos nós
o velho Governo cedendo ao Marquez de Alor-
n a , e depois á Condessa de Linhares as ter-
ras pertencentes aos índios de Santo Antônio
dos Guarulhos ? Quem mereceria a mais títulos
essa d o a ç ã o , os L a v r a d o r e s , q u e as cultivavão ,

(6) E accontccendo algum cazo, que neste Re~


gimento não vá especificado, parecendo ás pessoas,
que assistem nas Juntas, que por extensão, ou com-'
prehensão se poderá determinar , assim o farão*
( 16 )

ou esses íulalgos ? Quem fazia mais serviços


a Nação ? Quem pagava mais encargos ? A
quanto nao expoz o Governo os povos com
essa mal entendida liberalidade ? H e atropel-
lando a primeira e mais util classe de homens
que se pertende augmentar o luxo dos Gran-
des ? Finalmente estou persuadido que esta
matéria merece mui attendivel consideração ,
e he de esperar que a C â m a r a da minha p á -
tria bem informada a tal respeito haja de ap-
prezentar ao seo Reprezentante em Corte os
males, e oppressoes, que sotFrem os Colonos
para de h u m a vez regular-se a justiça, e cor-
tar-se pela raiz a arbitrariedade; conciliando
o direito sagrado da propriedade com o bem
geral daquella Villa.
( 17 )

5 . OBSTACUflO.
o

vi indistincta creção de fabricas de assacar.

OESIVÍ-: Macaé até o lugar chamado Cam-


po-limpo era h u m viçozo prado de criação de
gado; os primeiros Povoadores e m p r e g a r ã o os
seos cuidados nelle, e em criar fuzino consis-
tir a sua riqueza; então o paiz abundava de
gado, e com elle fartava o Rio de Janeiro.
Os Criadores tinhão todo o cuidado na limpe-
za dos campos. no esgoto das agoas por meio
de grandes vallas, e na conservação destas ;
p o r é m logo que as fabricas forão oecupando
as pastagens , e que os povoadores voltarão
as suas vistas só para o as*ucar, os campos
perderao-se, os esgotos tapárão-se, as agoas
reprezadas estenderão as suas inundações, a
ociozidade prendeo immensos braços ;í beira
dos charcos, e o prejuízo foi incalculável. T o -
dos quizerão então ser Senhores de engenho;
quer tivessem, quer n ã o meios para isso; e
eis a razão porque vemos muitas fabricas for-
madas em h u m palmo de terra, cobertas de
s a p ê , e aonde tudo cheira á miséria ; sendo
mais prudente e util que os seos Proprietários
se tivessem dado á outro gênero de cultura
mais proveitoso, e que demandasse menos
utencilios , e menos dispendio ; e p o r essa cau-
za qualquer baixa no g ê n e r o , qualquer seca,
morte de Escravos, ou emfim qualquei cir-
( 18 )

cunstanciaf pouco favorável os perde inteira-


mente : e nem basta dizer que o assucar tem
enriquecido á muitos, porque muitos t a m b é m
se tem perdido", 1
e outros se t e m s e m p r e con-
servado com a sella na b a r r i g a , como lá di-
zem , os quaes se se tivessem applicado á ou-
tra cultura, quando n ã o houvessem augmen-
tado de fortuna, t a m b é m nao teriao augmeri-
tado as dividas.
Dir-me-ão que o terreno de Campos he
próprio das canas, e eu respondo que tam-
bém o he de toda a plantação, e que o as-
sucar , ou a multiplicação de fabricas tem pro-
duzido alem dos males apontados o de deixar
a terra sem gado ( 7 ) > enriquecendo os Boia-
deiros, que para ali o conduzem, levando o
dinheiro , que poderia ficar no paiz , pois que
a transação n ã o he feita de gênero por g ê -
nero ; e em segundo lugar tem metamorrb-
zeado hum lugar rico em outro pobre; por-
que necessita dos primeiros gêneros, que os
compra fora; e nimguem duvida que a varie-
dade do trabalho concorre para a riqueza de
qualquer povoação, occupa differentes incli-
nações e habilidades, d i s p e r t a os t a l e n t o s , pro-
move a abundância , quando a cultura de h u m
só g ê n e r o , augmentando a sua quantidade, fa-
cilitando a sua compra, faz abater de p r e ç o ,

( 7 ) O Alvará de 2 0 Junho 1774 § 6 . determina


que as lavoiras e pastos do gado fiquem na sua devi-
da proporção ; em tal forma que nem a lavoira se di-
minua, nem faltem aos gados os competentes pastos pa-
ra se conservarem; não podendo as folhas da lavoira
servir para pastos, nem estes para aqnellas.
( 19.)

e estimarão, e levanta o dos outros, que se


fazem raros. Qualquer gênero bem trabalha-
do he capáz de enriquecer ao homem econô-
mico , e que se n ã o dá á preguiça; e isto sem
<\s i n c o n v e n i e n t e s , e despezas diárias , que exi-
je o assacar5 c o privilegio concedido ás fa-
bricas do mesmo convencem o meo pensar;
sendo certo que a riqueza real de qualquer
paiz n ã o consiste na maior commodidade de
meia dúzia de Proprietários, os quaes de per-
si pouco ou nada influem para as necessida-
des occorrentes, e que unicamente servem <!e
a u g m e n í ar a carência do todo , e de irritar o
sco sofirimento; e finalmente concluo que se o
assucar pode enriquecer a quatro Senhores de
E n g e n h o , que tem meios de se prover das
dispendiosas partes, de que huma fabrica se
c o m p õ e , para assim terem extensivo proveito,
o resto o n ã o pode fazer ; e portanto conser-
va-se sempre em h u m acanhamento de lucros,
quando n ã o se arruina inteiramente; e a po-
breza, que n ã o se sustenta de assucar, nao
encontrando na terra os gêneros da primeira
necessidade, tem de c o m p r a - l o s de t o r a , e por
quantia excessiva, c até esses mesmos ricos,
quando por circunstancias ou sistema lhes fal-
ta o precizo, c o m p r ã o por vinte o alheio,
e vendem por dois o próprio , como no pre-
zente anuo tem acontecido , em que todos os
gêneros tem crescido á proporção do abati-
mento do assucar, e agoas ardentes. Concluo
portanto sem oficnder á liberdade do commcr-
cio que todo o paiz q u e se entrega á hum só
gênero de c u l t u r a n ã o p ô d e florescer com aqucl-
la vantagem daquelle , aonde os homens me-
D
( 20 )

ciem os serviços com as suas forças , e gra-


dúuo o trabalho com os lucros, de sorte que
estes cubrão sejnpre as d e s p e z a s , e nao estas
a aquelles, prefíerindo os gêneros de primei-
ra necessidade á outros quaesquer, e diversi-
ficando os objectos do seo emprego.

ir
C 21 )

G°. O B S T Á C U L O .

A falta de educação da mocidade.

OMENS desgraçados sem princípios, sem


m o r a l , sem reprezentaçao alguma s ã o quasi
sempre os Directores dos costumes e do saber
da mocidade; e são tantos e tao graves os
abuzos, e males rezultantes desta cauza, que
seria longo o enumera-los. Que poderá h u m me-
nino apprender com taes Mestres ? Que ele-
mentos moraes com h u m homem rodeado de
vícios ? Que Religião com h u m Idiota cheio de
extravagantes superstições, acreditando e m
feitiços, bruxas, lobishomens & c . ? Que urba-
nidade e política com h u m Mestre grosseiro,
ineivil 3 e mal creado, que se apprezenta e m
mangas de camiza, e chinellas, espancando
os seos alumnos, e cobrindo-os de nomes i n -
juriozos ? Que probidade, que idea de virtu-
des, que sentimentos com h u m malvado, que
lhe d á o exemplo da libertinagem, da male-
dicencia , da prostituição , da bebedice , do j o -
go , e mil outros crimes? Q K v ó s , que d i -
rigís a grande familia, e v ó s , que sois Pais,
ul tentai, e refleti nas tristes conseqüências do
que por experiência vos digo ! . . . H u m a ten-
ra flor, que merece o nosso mais terno cui-
dado no seo terreno, direção, cultura e r ó g a ,
que segundo estes pode tornar-se arbusto de
saborozos ou pestilentes fruetos, n ã o se deve
o i i
(( 22))

.confiar ao^aeazo, ou amanho de huma tosca,


inerte, e vicioza m ã o . Se a m á direção a fi-
xei* crescer tortuozamente, nunca t o m a r á a
que lhe competi ^ 1
se o pouco cuidado nao lhe
cortar os abrolhos e espinhos, que se forem
arraigando junto delia, mal poderá vegetar;
se o terreno n ã o for próprio, as regas á tem-
po , ella perecerá antes da crescida idade ;
todo o d i s v e ü o , todo o carinho, toda a scien-
cia , são pequenos elementos á sua tão precio-
za nutrição e qualidades. Que estragados vi-
cies nao apprende hum Joven menino em taes
cazas ? Que hábitos, que costumes , que ideas,
«tuc d e p r a v a r ã o , quando o seo Director he
«ia lava de muitos, que tenho conhecido ! . . .
É he assim que se f o r m a o Cidadão, que ha-
de deftender a sua pátria , respeitar es seos
Progenitores, educar os seos filhos, amar a
sua consorte, observar as Leis, seguir a vir-
tude, ser bom A m i g o , bom vizinho, e em-
íim bom Christão ? Tal não espereis.
H u m Professor das Primeiras Letras he
hum respeitável Fnnccionario Publico; a sua
i>ceupação merece ser attendida tanto lueroza ,
como honoriíicante; delia depende a boa ou
m á qualidade dos Cidadãos; ella he a molla
real da direção dos costumes, e nestes con-
siste a felicidade dos Povos, e a duração dos
Impérios. H u m governa sem costumes he edi-
fício sem alicerce; tudo propendc para a sua
queda.
A incapacidade dos Mestres alem dos de-
feitos apontados faz a mncidade perder o gos-
to ao estudo, e assim amortecem muitos ta-
lentos, que se fossem dispertudos, e bem nu-
V 2 3 )

tridos , se desenvolverião, e teriao 'produzido


homens, que com honra e destinção bem ser-
vissem á Nação. H u m P o v o , á quem falta a
educação geral, tem em si Hlim fecundo ger-
men de vicios , e h u m principio heterogêneo
ao seo augmento, e *a todas as virtudes so-
ciaes ; a força atrahente de prosperidade he
sempre inferior á repulsante; he porisso que
a minha pátria, aonde se vem muitas cazas
ricas, pouco apprezenta do quanto inflúe a
riqueza de real , e ella s ó se manifesta de or-
dinário em objectos de pouca monta. A moci-
dade apenas adquire ( si f o r t e ) péssimos r u -
dhnentos de ler, e escrever, e a isto redus-
se toda a sua educação, quando n ã o recorre
ao Rio de Janeiro. Se ella fosse bem educa-
da no seu terreno natal, muitos teriao se-
guido estudos maiores, e os diiferentes esta-
tc\dos públicos, ennobrecido o nome da sua
pátria, os actos civis uniriao mais estreita-
mente os seos habitantes ; elles serião melho-
res Economos; a prodigalidade v ã n ã o have-
ria consumido muitas cazas ricas, e aquelles,
que abi vão procurar huma melhor fortuna ,
nunca serião os n o s s o s D e p o z í t a r i o s ; e n ã o he
assim ? Quantas cazas oppulentas nós vemos
abi continuadas de Pais a filhos e netos ? Q u e m
sao hoje a maior parte dos grandes Proprie-
tários existentes ? Quaes tem sido os meios e
as fontes ? Acazo não tem sido c m grande
parte a falta de educação , e ideas , que ins-
pirassem o verdadeiro conhecimento do que he
real, afteando o ridículo de falços t i m b r e s , ex-
travagantes caprichos, e ideas enfumaçadas
de honra, ensinando a evitar huma m a l en-
( 2 4 )

tendida <?Yaustuoza Religião, c os effeitos de


ruinosa prodigalidade de huns, e da avareza
de outros ? Sejamos sinceros. i
Quando note observamos na crise actual
grande numero de Villas e Cidades fazendo
publicar eruditas, e patrióticas felicitações e
discursos análogos á matéria do d i a , dando
huma feliz idea de que no meio das serras ,
e bosques do Brazil se tem cultivado mais ou
menos as sciencias , e que a nossa ignorância
I
não he t ã o crassa, como a suppunhão os nos-
sos inimigos, que temos lido do nosso Paiz ?
Ah' quanto me he doloroza tal consideração ! . .
Quando conhecemos de quasi todos os luga-
res do Brazil h u m sem numero de Pessoas
respeitáveis pelos seos talentos , escritos, pos-
tos , e empregos , e entre elles n ã o descobri-
mos filhos da nossa pátria, quanto se nos
aperta o coração. Deverá a Villa de Campos
ser conhecida só por terra própria de canas
de assucar ? H e u dolor !. . .
Vejo em Campos h u m Seminário arruina-
do , e que ideas apprezenta h u m tal estabe-
lecimento ao olho político ? Que dirá o Viajan-
te ? Este edifício, que mostra antigüidade,
indica que esta Villa no seo principio tinha
mais cuidado na instrução da mocidade, do
que hoje; e n ó s andamos com privilegio de -4
caranguejo ? Porque cauza se tem entregue
aos ratos h u m tão util, e bem situado esta-
belecimento ? Recuzaráo por ventura os Pais
de família de concorrer para que elle se po-
nha em estado proveito/o ? Tenho ouvido que
sim; porém estou bem convencido que o de-
feito está nos meios e m o d o de conciliar h u m
( 25 )

Povo tão briozo, e liberal; tanto mais que


o he crivei ( a menos que n ã o se d ê algu-
cauzal m u i particular ) q^e os Pais recu-
so..i concorrer para o reparo de h u m a Caza,
aonde podem todos os dias ver os seos filhos,
notar o seo adiantamento, prover ás suas ne-
cessidades , e com muito menos dispendio do
que^no Rio de Janeiro. Porque n ã o atribui-
remos antes á cauza geral do nosso atraza-
m e n t o , i d est, á aquella indolência, que rei-
na e m todos os negócios, que nos tocao de
mui perto, enchendo-nos a algibeira ? A Vil-
la de Campos paga consideráveis direitos , dos
quaes h u m a m u i diminuta quantia se despen-
de alli com alguns Militares, Parroehos, e
hum ou dois Professores; parece portanto de
rigoroza justiça que e m objecto de tanta ne-
cessidade e de conseqüências tão úteis se em-
pregue alguma porção dessa s o m m a , visto que
se n ã o tem grangeado outro algum meio. E m -
fim he necessário dispertar e promover a edu-
cação publica, e então os homens legarão
muitas e grandes quantias n ã o para pompo-
zos enterros, e sumptuozas festividades, cujo
explendor nada tem com a essência do acto,
mas sim para augmento do Seminário, para
hum receptaculo de surdos e mudos & c ; e o
exemplo de h u m dezafiará a outros; pois que
até agora os testadores desconhecem esse em-
prego dos seos legados, ignorando que por
elles se pôde bem servir á Deos, e á Nação.
E m que se deve empregar a ociozidade
dos ricos, e daquelles, cujos Officios e empre-
gos são m o m e n t â n e o s , quando o estudo os
n ã o prende ? Quaes serão os seos discursos,
( 2 6 0

' V
quaes os costumes ? E m quauto os homens
nao forem bem educados, não souberem fa-
zer h u m prudente e sábio uso da sua razão ,
pouco melhores serão que as feras á alguns
respeitos, e peiores que cilas á muitos outros.
Quando se promove o estudo, acendem-se os
raios do gosto, as ideas fermentão nas ca-
beças bem organisadas, apparecem as scien-
cias, adoção-se os costumes, e as maneiras
de viver e tratar; o homem toma o seo em-
minente posto, e mudando t a n t o de fizico, co-
mo de moral faz então brilhar a superiorida-
de, que o destingue dos irracionaes. O ho-
mem sem cultura ignora todas as virtudes so-
ciaes, e he h u m monstro, que só serve de
devorar, e impecer os outros.
( 27 )

7 . OBSTÁCULO.
o

O* continuados recrutamentos.

E
U conheço que nenhu ma N a ç ã o pode iu-
felis mente d e i x a r de ter Soldados, ou sejao
permanentes , ou temporár ios, e m cuja ques-
tão n ã o entro; mas t a m b é m estou persuadido,
que a tropa necessita de força física e moral.
E m quanto á primeira nao he fácil encontrar
em h u m menino de quatorze e quinze annos;
e pelo que toca á segunda n ã o se pode dar
em tempo que o Soldado n ã o conhece os seos
deveres. Ora quando elle se acha em termos
de adquirir os c o n h e c i m e n t o s necessários á to-
do o homem para então constituir-se h u m sub-
dito, que certo dos seos deveres , e do apre-
ço ás virtudes, se encha de couragem, e
amor da pátria; que se interesse pela gloria;
que guarde o seo posto, e deffenda com hon-
ra as suas bandeiras; nesse tempo he priva-
do de todos os meios de instrução, e assen-
ta praça. Este sistema pois de recrutamento
nao me parece o m e l h o r , e na verdade por-
que privaremos os nossos Soldados da edu-
cação necessária á todo o homem ? E m tal es-
tado nem serão bons Soldados, nem bons C i -
d ã o s , quando dimitidos; achando-se então i m -
possibilitados de seguirem aquelles caminhos ,
que a instrução franqueia para grangear a vi-
d a ; e a prova he que de immensos filhos de
( 28 )

Campos 3 tem assentado p r a ç a , hum ou


outro tein fracamente avançado em postos;
porque huma grande parte nem sabe assignar
o seonome, e os que tem dado baixa, vivem
infeliz e desconhecidamente. Demais qual será
a r a z ã o , porque aquellas Províncias, que são
mais populozas, e que menos precizáo tem de
tropa não hão de concorrer para o recruta-
m e n t o de g e n t e , que guarde a Capital ? O Rio de
Janeiro necessita de mais tropa, do que ou-
tras Províncias; a sua população he pequena,
e Campos porque se acha nas vizinhanças ex-
gota-se todos os dias; e como se reputa hu-
m a Villa rica, reerutão-se homens, e dinhei-
ro , e desta sorte despovoa-se o paiz, e san-
gra-se a sua substancia; sendo que de ordi-
nário as instruções do recrutamento s ã o vicio-
zas; porque não olhão para a necessidade
que os Pais t e m do indivíduo recrutado, atten-
dendo-se por exemplo ao filho de huma Viu-
va , inda que oppulenta, e recrutando-se o fi-
lho de huma mulher pobre e desgraçada; e
bem assim dispensando-se o filho do Lavra-
dor , c n ã o o de h u m c e g o , h u m aleijado , & c
muitas vezes cheio de filhas , e sem outro
abrigo mais do que aquelle filho; e em re-
gra os vaVlios, de que h á abundância, ficão
tranqüilos.
Ora os Pais para poderem livrar os filhos
da p r a ç a , ou os metem ao m a t o , em quanto
dura o recrutamento, expondo-os a m i l en-
commodos, e riscos de vida e s a ú d e , ou os
r a z ã o , quando elles quazi que ainda precizão
m a m a r ; e que farão duas crianças, incapazes
de governar a sua caza, e educar os filhos ?
( 29 )

O dezenvolvimento do seo fizico acanha-se,


estraga-se, e pouca duração pôde ter; os fi-
lhos augmentao-se, e eis huma família de des-
graçados , para quem o Governo he iateira-
ipente indifferente.
Se os Pais nao tem tempo e opportunida-
de de reccorrer a taes m e i o s , ou fazem todos
os sacrifícios, muitas vezes vendendo o único
Escravo, que possuem, a fim de libertarem os
filhos, ou estes dezertao; e aqui temos os
tristes efFeitos d o methodo, porque muitas ve-
zes se tem recrutado, efFeitos , que a minha
pátria h á soifrido em grande, e que muito t e m
conccorrido para a sua despovoaçao ; obstácu-
lo bem digno de evitar-se em huma Villa agri-
cultora, e que ainda nao tocou o meio da pros-
peridade , de que ella he susceptiveL
N ã o seria acazo mais providente deixar a
mocidade a t é os 22 annos de idade crescer,
e educar-ss, e finda essa É p o c a obrigar en-
tão á todo o Cidadão sem reserva, ou excep-
ção servir á sua pátria como Soldado por
dois o u trez annos ? Creio que desta sorte evi-
tavao-se grandes males, e que a Nação teria
homens disciplinados para em todo o tempo
lançar m ã o delles. O nosso Congresso sem du-
vida bem ponderará sobre este artigo.

E U
( s o )

8 n
^ O B S T A C U L O .

A falta de policia interna, e externa.


H
U M A Villa fundada em terreno baixo,
e p l a n o , t o d o cercado de r i o s , a l a g ô a s , b r e j o s ,
e pântanos, exige huma bem activa e regu-
lada policia para o salvar dos estragos, que
lhe pódem rezultar nos períodos próprios das
agoas, fornecendo todas as cautelas tenden-
tes a conservar a saúde publica, e mesmo a
limpeza e ornato do lugar.
Examinemos este objecto por partes. Es-
ta Villa n ã o tem regularidade alguma no seo
alinhamento, e edifícios; o capricho do edifi-
cante he a sua única regra; eis o primeiro
defeito, e porisso vemos ruas largas , outras
estreitas, cazas altas, e baixas, liumas meti-
das para dentro , outras saindo para fóra &c.
Me verdade que quando se formão as povoa-
çoes, sempre se notíío esses defeitos, porem
conservar, e continuar nelles, he falta de po-
licia. Nao ha muitos annos, que se fez a
Igreja da M a i dos H o m e n s , e que se traba-
lha no reparo da M a t r i z , e ambos estes T e m -
plos sairão fora do alinhamento devido. A l -
gumas das suas ruas são calçadas, inda que
m a i ; nao acho r a z ã o para n ã o estarem todas ,
pois que os rendimentos annuaes da Camera'
Mie consta, m o n t ã o acima de doze m i l cru-
zados, e se estes se dispendessera ú n i c a , e
( 31 )

privativamente em obras publicas > e se puzes-


se em vigor o § 5°. da L e i de 23 Julho
(8) , j a a praça e outros lugares esta-
riao no seo d e v i d o a p u r o . Porque razão se con-
servSo no coração da Villa as lagoas do Ro-
zario e do F u r t a d o , que tantos danos tem fei-
t o , sendo depozito de immundos despejos, e
infecçÕes, cujos miasmas aquecidos pelo S o l ,
e soprados pelos ventos, cauzando a mizeria ,
a despovoação e a magoa das familias, enlu-
tão a Viuvez, d e z a m p a r ã o a Orfandade, e en-
tulhão as sepulturas ? Quantas crianças se n ã o
tem atfogado nestas pestiferas agoas ? N ã o te-
rão ellas parte nas epidemias, que grussão
annualmente ? T ã o dispendiozos serão os seos
aterros, ou esgôtos ?
Noto mais h u m a Cadeia erecta dentro da
p r a ç a , tirando a vista para o r i o , e com des-
pejo para este, de cujas agoas se serve o
Povo : seria por ventura m u i penozo fazer ou-
tra no Campo do Furtado ou para a parte da
Lapa ? Creio que mereceria apena tal despeza.
Observo a Matriz tendo h u m cemitério no
meio das Cazas, e enterrando na p r a ç a , on-
de se vem ossos, caveiras & e ; que falta de
policia ! . . Corpos sepultados á flor da terra ,
em h u m paiz quente, e humido, de quantos

( 8 ) Ordeno aos Provedores dos Commarcas q/te


com a devida exacção tonunt contas ás Cameras pe-
los ditos livros, que devem ter de receita e desptztt
dos seos rendimentos, observando inviídavdmcnte nas
ditas contas o nuthodo, que baixa com está L e i , e
n ã o a b o n a n d o despcza a l g u m a feita pelas Cameras,
que se n ã o a u t h o r i s e p o r P r o y i s ã o o u R e s o l u ç ã o . M i n l u i .
?
('32))

danos nao são capazes ? He da essência da


ítaligião que os mortos fiquem entre os vivos,
que os pobres t^igeiretn a existência dos mais
Cidadãos, que estes tenhão sempre diante dos
ólhes os restos dos seos parentes., e amigos,
e que no meio dos prazeres o coração se es-
treite á vista de huma caveira ?
Vejo mais hum Cemitério do Hospital da
Mizerieordia, vinte braças pouco mais ou me-
nos junto do r i o , e ao seo nivel, filtrando
para este a quinta essência da p o d r i d ã o ; e
a policia encarando á sangue frio este açou-
gue da destruição dos seos H a b i t a n t e s - Sendo
eu menino entrei h u m dia no Cemitério, e
que vi ? As carnes ainda se me arrepiao com
tal lembrança ? H u m terreno todo cortado de
fundas vallas, e entre estas huma quazi j u n -
cada de cadáveres; horrorizado perguntei,
porque se n ã o cobria de terra; responderao-
me que ainda n ã o estava bem cheia para se-
rem tncommendados de h u m a só vez. O h me>
I)eos ! he possível que a vida do homem , es-
te precioso d o m do Ceo, h u m a , e única, e
que tanto apreço nos deve merecer, fique á
• disposição da estupidez , e da preguiça ? H u -
m a valia entulhada de corpos fétido», e cor-
ruptos , e que se nao cobrem, em quanto n ã o
morrerem tantos quantos bastem ao intender
de h u m miserável. . . E h á ainda h u m habi-
tante vivo em semelhante Villa ? O h minha
p á t r i a ! te superesse velim !
O formozo Paraíba, que corre á frente da
Villa, cujas agoas tem ( talvez seja por Pro-
videncia ) a particular qualidade de se purifi-
carem tanto mais, quanto demoradas, e con-
( 33 )

servadas ern vazos 5 este r i o , qaif serve <le


adorno e de prazer á vista, de fertilidade ás
terras, e de alimento aos seos moradores,
tem á sua margem por mui,* crassa falta <íé
policia h u m sem numero de cazas, e para on-
de fazem estas os despejos ? E n ã o houve ain-
da quem tivesse a saudável lembrança e vigor
de fazer por em execução huma postura, que
m e consta haver naquella Camera , em que se
prohibe a edificação de taes cazas , tão preju-
diciaes á saúde publica ? H á espetáculo t ã o
irritante como ver nos differentes portos da-
quella Villa entre os barris, que se enchem
de agoa para o uso das famílias , hum caval-
lo a banhar-se, huma lavadeira, h u m vaso
de limpeza & & , e á toda a hora do dia e
noite ? Porque se n ã o distinão certos lugares
e horas para esses actos ? Será a pureza das
agoas indifFerente á conservação da saúde p u -
blica ? E m que se emprega a policia da m i -
nha pátria ? Para que se ajunta a Camera ?
Quaes são os objectos dos seos cuidados e de-
veres ?
Para cumulo da pobreza e indolência da
policia he aquella Villa no tempo do fabrico
do assucar huma perfeita Fazenda. As ruas
cobrem-se de toldos, que impedem transitar
por ellas; as cazas enchem-se de venenozos
maribondos attrahidos pelo assucar; e desde
o meio dia até grande noite o estrondo dos
soquetes, e a voseria dos negros he t a l , que
parece mais h u m inferno, do que huma ha-
bitação de gente; sem contemplação a doen-
tes, e ao socego publico; e com que funda-
mento se permitte e tolera h u m tal manejo ?
( 34 j

A Iiberdaàe~do commercio consiste em fran-


quear á quatro traficantes hum uso tão en-
commodo e prejudicial} quando m u i bem p ó -
dem preparar o» s e o assucar em lugares pró-
prios , fundados tora de povoado , e para a par-
te da Lapa com commodidade ao embarque ?
O interesse de poucos prefere ao bem do to-
do ? Fizerão-se as ruas para a livre passagem
dos homens, ou para depozito de coiros de
assucar, café, madeiras, pedras &o. & c . Eis
quanto me recorda esboçar sobre a falta de
policia interna : passemos a externa.
Todo o terreno de Campos he baixo, e
cercado de muitos rios, lagoas, brejos, e
pântanos. N a estação das cliuvas tudo se tor-
na h u m m a r , e como nao h á convenientes es-
gotos , eonservão-se as a g o a s estagnadas, que
tantos males cauzão a existência. A s estradas
trilhadas pelos carros , e bestas fazem pro-
fundos caldeirões, capazes de engollir quan-
to se lhes atreva pertender passagem. Per-
gunto agora, havendo tantos rios, quantas
pontes h á ? Formando-se tantos atoleiros, que
p r o v i d e n c i a s se d ã o ao concerto, e reparo das
estradas ? Pelo que toca ás pontes direi que
nem o Paraíba a t e m , sendo-Ihe tão urgente,
máximo em tempo de cheias, que são immen-
sos os naufrágios ; e nem me digão que he
impossível a sua factura; porque essa idea s ó
pôde occorrer ou a q u é m nunca vio pontes, ou
a quem diz que tudo vai bem. O U r u r a h y ,
que tem toda a commodidade, e precizão, é
aonde com seis centos a oito centos m i l réis
se pôde construir magnificamente, d á passa-
gem quotidiana por h u m a canoa quebrada; e
( 35 )

portanto j a se vê que a este respeito a poli-


cia he inteiramente nulla; e o mesmo dizemos
sobre as estradas, cujo único reparador he o
Sol; sendo de observar que^nao só os Pro-
prietários se n ã o d ã o a esse trabalho, como
t a m b é m prohibem a passagem pelos campos,
e lugares transitaveis; sirva de e x e m p l o a fa-
zenda do Visconde de Asseca, que tendo a
peior estrada, fecha a interior, que só se
franqueia a amizade : e por aqui podemos ava-
liar o estado político da minha pátria, cujo
governo econômico nem faz, nem promove,
nem obriga aquelles actos, que sao de sua
inspecçao e de preciza e util execução ; o que
se prova bem á vista do que tenho tocado,
e do estado ruinozo, em que se acha h u m
magnífico aterro, que fizerão com louvável
zêlo e t r a b a l h o os h o n r a d o s Tenentes Coronéis
J o ã o , e J o z é Carneiro da Silva. Esta obra pu-
blica, a única, que tem Campos, da maior
vantagem aos Viandautes do Rio de Janeiro ,
e á todos, que tranzitão desde M a c a é a t é al-
l i , o b r a , que veio poupar dias de viagem ,
perigo de vida, e incansável encommodo ; es-
tá quazi arruinada, e perdida. O seo actual
reparo talvez n ã o excedesse á duzentos m i l
réis; p o r é m a indolência nem ao menos pro-
hibe aos proprietários, por cujos terrenos ,
elle passa, permittir e trazer o gado por meio
das Vallas, que estão quazi entupidas , o que
concluído, tudo se perdeo. Permita-se-me lem-
brar a Villa de M a g é , cuja Camera não tem
de rendimento annual mais de seis centos m i l
reis, construindo de novo de pedra e cal hu-
m a magnífica ponte, e concertando outras;
v 3íí )

Macaca com menos possibilidades, tendo pon-


tes dc cinco e oito m i l cruzados de custo, e
contando entre todas mais de treze, sendo
de notar que aqui são de menos urgência do
que em Campos. Que trabalhos, que estradas,
que caminhos, que estivados se n ã o fizerão
em trez mezes, há quatro annos ? Rematarei
dizendo que a minha pátria tem cazas m u i
oppuicntas : os seos naturacs são dóceis, b i -
zarros , e por caracter generozos em extre-
m o ; portanto n ã o vejo r a z ã o convincente,
que desculpe as faltas, que hei notado; fal-
tas contrarias á saúde, á vida, ás commodi-
dades, á bellcza, « áo ornato d o seo terreno.
( 37 )

f • * r

9 . OBSTÁCULO.
o


Jfum falço zelo pela Religião.

UANDO O homem nao tem a verdadeira


• ^ t a f c , ti.
ide a das coizas, ou se aparta para os extre-
• • m no extre-
mos, he sempre m a l encaminhado, e o vicio
infalível. D e tudo se tem abuzado, e até sob
o pretexto da Religião tem vindo males ao
mundo. E u sei que he necessário o culto ex-
terno á Deos, mas não concebo porque L e i
Divina ou humana se d e v ã o gastar trez , qua-
tro , e cinco mil cruzados em huma nuvem de
foguetes , repiques de sino, cabeças de alea-
trão , lautos e opiparos jantares, flores, fitas»
comédias & e . & e . , e isto a titulo de festejar
o Divino Espirito Santo; quando os excessos,
que tem lugar quazi sempre em taes ajunta-
mentos , a falta de reverencia, e d e v o ç ã o ,
as desordens, os c r i m e s , só servem de escân-
dalo á Divindade. Acazo não podemos louvar
a Deos , commemorar os dias de seos San-
tos , e as suas virtudes , darmos o exemplo da
nossa Christandadá, excitarmos o fervor da fé ,
edo culto , sem fazermos quantitozas despezas»
com as quaes muitas e muitas vezes ou não
podemos absolutamente » ou prejudicão o ma-
nejo da nossa sustentação domestica ? N ã o se-
ria mais conforme com a pureza Religioza ,
que quanto se affasta da essência do acto se
applicasse á bem da pobreza, e orfandade ?
As festividades em Campos fazem-se com hum
F Ü
( 38 j

luxo extraordinário, e a pompa externa he


quazi sempre o que se emprega. Nao avan-
çarei a fazer h u m calculo do que a titulo do
culto se despende m a l , e indevidamente ; n ã o
notarei o que se gasta na Semana Santa á*
titulo de consôa, e os seos efFeitos; observa-
rei somente que em todos esses actos , que se
dizem Religiozos, despendendo-se excessivas
som mas, nem hum vintém se destribue pela
pobreza, e mizeria, e que muitos indivíduos
se tem atrazado, por terem sido festeiros affi-
dalgados. Que crimes se n ã o perpetravão na
função de S. A m a r o ? Que despezas se n ã o
fazião, e ainda hoje fazem c o m a de S. J o ã o ?
Quantas pessoas ahi eonecorrem por devoção
ao Santo? N ã o he a tafularia, o passeio, e
muitas outras cauzas o principal incentivo des-
sa romaria ? Consumir o que se hade dar aos
filhos e necessitados a bem do Sacristão, n ã o
julgo acizado; e nem pareça que em menos-
cabo á verdadeira Religião, eu me opponho
( quod absit ) aos actos, que lhe são pró-
prios ; somente parão os meos reparos nos
excessos, e no que nada vem ao essencial
delia; o que muito se tem opposto ao bene
esse de grande numero de pessoas, e á pros-
peridade em geral do meo Paiz-
10°. O B S T Á C U L O .

A incohereneia da Legislação dos Orphaos


á alguns respeitos.

Oit». L. 1 tt. 88 per tot. he o assento


desta Legislação; e nella se determina entre
outras providencias, que o Juiz dos Orfaos
faça inventario, tanto que fallecer a l g u m ,
que tenha filho, ou filhos menores de vinte
e cinco annos, de todos os bens moveis, e
de raiz, que por morte do defuncto ficarem ;
formaes palavras do § 4 . : o
nos § § 6 . o
e 7o- se
descobrem ignaes cautellas : no ^ 5 ° . se deter-
mina a nomeação de h u m T u t o r , a quem se
entreguem os bens : no tt. 62 L . I o
. § 28 us-
que ao 38 i n c u m b e aos Provedores todo o cui-
dado sobre os m e s m o s . N o L . 4 tt. 102 per tot
estabelece regras sobre os Tutores e Curado-
res ; no L . 3°. tt. 41 § § 8 e 9 trata da ne-
cessidade de h u m Curador ad litem em todos
os negócios civis , ecriminaes, em que os Ó r -
fãos tiverem parte. Outras determinações se
achão firmadas em muitos Alvarás , todas ten-
dentes a acautelar os bens desta parte infeliz
de Cidadãos. "
N o meio de tão acertadas medidas toma-
das por cauza da sua incapacidade fizica e mo-
ral , que a L e i suppSe melhorada aos 25 an-
nos de idade, nota-se o § 27 do citado tt. 88
mandando fazer entrega dos bens á aquelles,
( 40 )

que forem Cazados de 18, e aos que de 18 e
20 impetrarem Carta de supplemento de ida-
de na forma do l i . 3 . o
t t . 14 prineip. O r a co-
mo poderá huma licença do Dezembargo do
P a ç o , ou o matrimônio ter a precioza virttir
de de dar bom senso , e conhecimento do m u n -
do , dos laços e ardiz dos velhacos ? T a l , n ã o
entendo; as obras do tempo, só o tempo as
aperfeiçoa; a natureza não d á saltos, e o con-
trario he procurar precipícios ; e a experiên-
cia filha da repetição dos actos, a sabedoria
congênita da assidua leitura e reflexão , n ã o
conhecem outros caminhos, e menos soffrem
privilégios nas Leis , que lhes são prescrtptas.
E)e que servem as c a u t e l a s do tt. 42 ? Talvez
de manchar a honra desses, á quem se sup-
prè a idade , que muitas vezes vendendo bens
de raiz contra a L e i , ao depois se sirvao des-
se pretexto para a nullidade das vendas na
forma do § 2 . o
tt. 42 L . 3*., e do ^ 28 tt. 88
L . K , em dezabono da sua probidade, e fó
dos contractos, procurando assim remediar
males, a que a prodigalidade e dissipaçSo te-
nhão dado lugar; recursos indignos, e nada
coherentes com as razões do L . 3 . Ü
tt. 42 §
1°. , a o n d e se n ã o admite simpleza, no que
he havido por m a i o r , supprida a idade pela
graça impetrada; que de Romanismos ! . .
H u m menino com dezoito annos poderá
augmentar a sua família, mas não sei se lhe
aecompanhará o devido talento para adminis-
trar OH s e o s bens, p r i n c i p a l m e n t e se o Pai foi
ou muito avaro , ou muito pródigo, por que os
extremos tocão-se : e assim se e l l e p o r avare-
za , ou demaziado aperto ou mesmo por prhv*
( 41 )

eipios errados <le educação evifa aos filhos


t o d a a o c c a z i ã o de h a v e r d i n h e i r o , e destribuii-o;
quando estes assim creados se vem Senhores
dos bens, gastão e dissipão sem conta nem
medida, como querendo fartar-se do t e m p o ,
ehn que nao gozarão a sua destribuição; e co-
mo lhes faltão os verdadeiros princípios de
economia, e a idade n ã o lhes d á conhecimen-
to do m u n d o ; perdem-se de todo. Se o Pai
p o r é m foi p r ó d i g o , e os filhos prodigamente
forão creados, e extemporaneamente passão
n administrar ó s s e o s bens, o rezulíado he o
mesmo ; por tanto sou de parecer que a i m m a -
tura entrega do patrimônio dos O r p h ã o s he-lhes
prejudicial; p o r q u e nem o m a t r i m ô n i o , nem
a Carta de Suppíemento lhes pode supprir a
mingoa de conhecimentos, e a devida capa-
cidade; e até eu avançaria que taes matrimô-
nios devião ser probibidos; em q u a n t o se n ã o
.completasse a cumprida idade de 25 annos;
por quanto os seos fins se n ã o preenchem nem
civil nem Sacramentalmente; pois esses E s p ó -
zos ainda mui tenros, brevemente se estra-
g ã o , e se desgostão , e d' abi o aborrecimento
de hum e outro, o divorcio, a f a l t a de filhos ,
a m á educação dos que podem haver & c . O u -
tros, me persuado, serem os meios de aug-
mentar a população, em quanto melhores cos-
tumes n ã o permitem inteira liberdade sobre
matrimônios. J3m fim taes c o n t r a d i ç õ e s de L e -
gislação tem arruinado a muitas Cazas, por
terem os seos herdeiros tomado posse dellas
a t e m p o , que lhes faltava a devida capaci-
dade, fazendo-se d e s g r a ç a d o s , e a sua famí-
lia , e inutilizando o direito , que a N a ç ã o
( 42 )

tinha de perceber as vantagens, rezultantes


dos seos bens. N e m se m e diga que a L e i tem
acautclado essa administração prematura ,
quando exige h u m instrumento publico pas-
sado pelos Juizes do lugar, em que se attes-
te e deponha sobre o sizo , e discrição dos
Impetrantes na forma do L . 3 tt. 42 pr. Es-
sas justificações são sempre feitas por abona-
ção de pessoas de amizade, e muitas vezes
por outras , que nada sabem a esse respeito »
ou que nenhum negocio tem contraindo com
elles : demais h u m ou outro acto de juizo na-
da decide, alem de que he bem sabido o rif-
fão de que — a occazião faz o ladrão. —
Q u a n d o se c u m p r e m as Provisões , o Cor-
regedor apprezenta ao Impetrante as moedas
do Reino, e lhe pergunta se as conhece ; e
qual a conseqüência ? Dá-se acazo h u m maior
absurdo ? Acazo h u m menino de cinco annos
não conhece t a m b é m todo o dinheiro e moe-
da do seo Paiz ? D o acto desse conhecimento
póde-se nunca infferir a boa administração ? E m
quanto a nossa Legislação tirar, ou aprovar
taes illaçÕes , muito m a l iremos.

I P
( 4 3 )

11°. OBSTÁCULO.
*
Os Contractos usurarios.

21
À N G U E S U G A S sedentas da substancia alheia,
ávidas de prompta e amontoada riqueza, to-
dos os dias estão o b r i g a u d o aos necessitados,
aos incautos, e aos pródigos a fazerem ban-
ca rota dos seos b e n s , eis a maneira. — A p -
parece h u m dos supra citados á caza de qual-
quer usurario, e pede-lhe por exemplo 400U
reis; e logo a avareza exige passar h u m cre-
dito de G O » , ou 800U000, devendo o pagamen-
to ser feito em assucar na safra p r ó x i m a , e
com 400, ou 800 réis de menos do preço cor-
rente na terra. Chega o tempo; o devedor
ou nao faz o pagamento, ou só parte; pede
mais alguma fazenda, ou dinheiro, faz-se con-
ta a tudo , e ao interesse que o credor pode-
ria ter no assucar, e abi temos h u m novo
credito de cinco ou seis m i l cruzados, e hu-
m a divida, que j á mais se extingue de todo
sem penhora, bens á p r a ç a , e total perdi-
mento do devedor. Estando eu em Campos,
ouvi a pessoa fidedigna, que tendo pedido
400U000 réis, j á havia dado em pagamento
vinte caixas de assucar, e ainda devia 300U
réis; e destes factos eu tenho mui crescida
colleçao, e até poderia citar alguns indivi-
duos bem herdados, a quem taes contractos
usurarios tem quazi arruinado, e outros, que
inteiramente se evaporarão.
G
( 44 )

A O r d . L . 4 t t . 67 prohibe taes actos; o


Alv, 6 Agosto 1757 permite levar ^ cinco
por cento no mutuo? e o A l v .de 5 M a i o 1810
derrogando a O r d . c í t . , e a L e i de 17 Janei-
ro 1757, permitindo a qualquer dar dinheiro
pelo preço, que se p o d é r ajustar, nao teve e m
vista o m u t u o ; n e m podia t e r , por nelle se
nao darem as razoes do risco , gyro cambial,
e commercio, pois que c o m tal contracto n ã o
perece a circulação mercantil, n ã o h á saldos
a tirar, balança nacional a equilibrar & c . H e
bem certo que quem empresta o seo cabedal,
tem h u m lucro cessante, e pôde ter h u m da-
no emergente; porque a moeda sóbe e desce
de preço como outra qualquer mercadoria,
tendo e m qualidade de metal o seo valor po-
sitivo , e venal; alem de que o credor pode
pelo empréstimo ficar impossibilitado de fazer
naquella occazião alguma transacção vantajoza;
p o r é m essas faltas , esses p r e j u í z o s n a o se c o n r -
pensão luerosamente c o m 6 , 7 0 8 de prê-
mio ? Porque juros de j u r o s , augmento d a
quantia emprestada, abatimento n o valor d o
gênero dado e m solução, e infinitos outros
meios mais ruinosos do que a f o m e , a guer-
ra , a peste, e a morte ?
A O r d . L . 3 tt. 69 princip. exige que
todo o contracto, e m que a quantia passar
de sessenta m i l réis nas coizas moveis, e de
quatro nos bens de raiz, s^jao' firmados, e
feitos por Escripturas de Tabeliães Públicos ,
ou Escrivão authentieo, que para isso tenha
autoridade, perante testemunhas , ou p o r nos-
sas Cartas. Porque se t e m posto esta provi-
dente Legislação e m total esquecimento ? Por-
( 45 )

que alem da fé do Tabelüão d é ver contar


o dinheiro, se nao faz a entrega deste peran-
te o Ministro do lugar, e com assistência de
pessoas de gravidade, havendo todas as Sema-
rjas h u m dia destinado para esse fim ? E u co-
nheço a ampliação do A l v . de 30 Outubro
1793 no ^ e conformando-me, e igualmente sei
o que dispõe o assento de 23 N o v e m b r o 1769,
p o r é m quanto se n ã o tem abuzado das pias
intenções, c o m que se ampliou aquella Orde-
nação ? Q u ã o util seria que ella se observas-
se literalmente e sem excepção alguma ? Se
o seo Dispensador ouvisse os Povos, e sou-
besse os naufrágios, que semelhante amplia-
ção t e m cauzado, ah quanto se nao arrepen-
deria ! .
E m outro ponto de vista; se a mocidade
fosse instruída nos verdadeiros principios de
h u m a virtuoza economia, se c o n h e c e s s e o effei-
to da prodigalidade antes de se arruinar, se
as Leis tivessem assás providenciado sobre o
devido t e m p o , em que qualquer devesse e
podesse administrar os seos bens , sobre a
sua capacidade moral nessa É p o c a , compro-
vada n ã o por h u m inefficaz depoimento, e
mostra de dinheiro, mas sim por abonação
quazi geral dos seos m a i s a c r e d i t a d o s vizinhos,
e ao mesmo tempo severamente punisse a uzu-
r a , n ã o por Leis, que se n ã o executão, mas
pela pratica 'da execução ; se os pródigos e
dissipadores da fortuna, que com trabalhos
e riscos lhes d e i x a r ã o seos Pais, fossem ex-
cluídos do gozo dos direitos eiviz , c m quan-
to n ã o melhorassem de tortuna com a sua por-
íioza deligencia ; se os Juizes ex-Orncio sen-
0 i i
( 46 )

ditassem sem comtemplação a tal respeito;


se a Ord. L . 4 tt. 103 fosse m u i restricta e
responsavelmente observada, muitos dos meos
Patrícios serião hoje mais felices, e se have-
rião poupado a grande numero de vexames.
Poder-me-ao dizer que a liberdade do com-
mercio n ã o tolera estorvos ; mas eu respondo
que o commercio deve ter por baze a justiça,
e que h u m contracto, que assenta na neces-
sidade , na prodigalidade, na ignorância, e
vicios de h u m , e na avareza de outro, per*
de a sua natureza e converte-se em verdadei-
ro furto; pois de outra sorte como seria pos-
sível amontoar centenas de m i l cruzados e m
3, 4 , 5 annos, principiando sem real, ven-
dendo quatro drogas ridículas, e comprando
meia dúzia de arrobas de assucar ? Alem de
que a Nação pode e deve estabelecer regras,
e providencias á todos aquelles actos, cuja
existência possa arruinar ou prejudicar aos
Povos.
( 47 )

12'. O B S T Á C U L O .

A s continuadas demandas.

TRAPAÇA, e a chicana tem o seo thro-


no em Campos ; qualquer pequeno motivo for-
«ía h u m pleito dispendiôzo, e eterno, do
qual brotão muitas outras pequenas cauzas,
que á proporção que se v ã o alentando, vao
igualmente produzindo outras; e assim pro-
segue sempre in infinitum; e quaes as razões
desta fecundidade de litigios ? A falta de me-
dição das terras, a sua boa qualidade, a m á
fé dos contractos usurarios, e simulados, os
caprichos soprados pela riqueza, e sobre tu-
do a falta de Advogados hábeis, e honrados;
visto que para ser ahi Advogado basta ter
sido escrevente de algum cartório, ou fiel de
feitos; e em sabendo pedir vista, agravar,
e apellar, tem toda a sciencia Legislativa.
Ora como he possível que a Legislação Por-
tugueza tão confuza c complicada, toda de-
pendente da R o m a n a , toda earecedora das
dispozições extranhas , rodeada de Leis anti-
nomicas , declaratorias , revogatorias & c . , pos-
sa ser sufiicientemente conhecida, e posta e m
pratica por h u m cego de nascença ? ("orno ha-
de este poder examinar a hypoteze , que se lhe
apprezenta, classifical-a tendo atenção ás cir-
cunstancias, que fazem variar, e mudar a es-
pécie , e saber aonde a L e i correspondente pa-
( 48 )

r a lhe dar a devida applicação ? Quaes são os


seos princípios sobre o Direito Romano , fon-
te quazi geral de todas as dispoziçÕes » ma-
xime na intrincada matéria dos contractos,
succesoes, testamentos &c. ? Que lição podem
taes Advogados ter dos Códigos das Nações
cultas, que a L e i de 18 Agosto 1769 m,anda
seguir nos cazos omissos ? Qual a sua arte
critica para conhecer os erros das ampliações
e restrições dos Comentadores, Glozadores ,
e Praxistas, que escreverão em tempo , que
se ignorava inteiramente o Direito Publico ?
N ã o basta dizer, como á boca cheia muita
gente, que fora de Coimbra t a m b é m se estu-
da; eu convenho; mas he necessário notar
que a Legislação he huma sciencia, e como
tal assenta em princípios, e estes melhor se
apprendem em huma Escolla publica, aonde
h á hábeis Professores ; a necessidade de con-
tinua applicação, e de fallar em publico, o
estudo gradual das matérias elementares & c . ;
o que facilmente se não d á em h u m ga-
binete particular. E u sou o primeiro a confes-
sar que daquella Universidade v e m muitos
pergaminhos ( e os mais aventurados ) que n ã o
lhe fazem honra; mas he de refletir que quan-
do se formão quatro ignorantes ou vadios,
t a m b é m se formão vinte applicados , e talen-
tozos , e que t u d o , quanto a N a ç ã o Portu-
gueza tem de m e l h o r nos seos escriptos scien-
tificos, he parto dos filhos de M i n e r v a v e r -
dade , que nimguem me contestará. Insensi-
velmcnte me hia desviando do meo primeiro
ohjecto para e n t r a r e m huma questão odioza,
« redicula; mas eu volto a elie.
( 49 )

A h u m Advodogado ignorante tudo he f á -


cil ; porque a L e i he o seo interesse, e a sua
r a z ã o , ou instincto, que lhe figura sempre
a justiça do seo Cliente. Quando os homens
s£o pouco illuminados, ricos , e caprichozos
querem por via de regra achar condescendên-
cia , , e ter aprovadores; a isto acresce a m á
persuaçao de que o seq A d v o g a d o , em cujas
palavras j u r a , lhe confirma o seo direito e
justiça com h u m cazo julgado t a l , e q u a l ,
que se v ê estampado em letras redondas, e
que teve lugar, h á Século e meio. Sob taes
auspícios , arranja-se h u m requerimento de f o -
lhas de papel cheio de supplicas contrarias
e pueris , fonte da t r a p a ç a , e abi temos huma
demanda em scena. E n t r ã o logo as citações,
vistas , j u r a m e n t o s , dilações , aggravos, a de-
pendência , a destruição dos negócios e oceu-
paçoes serias, e venha d i n h e i r o ; he assim que
os litígios em Campos se fazem eternos, e
.summamente dispendiosos. Se a Ord. L . I tt.
48 § § 4 e 5 fossem rigorozamente observa-
dos , quanto n ã o utillzarião os Povos ?
H u m m á o Advogado he peor, que h u m
m ã o M e d i c o ; pois em quanto a ignorância
deste prejudica a vida, a daquelle estraga a
vida , a honra e fazenda, perturba o so cego
publico, e p õ e os Cidadãos em continua l u -
ta huns com ps outros , perturba as famitias ,
gera a destruição dos empregos de cada hum ,
nutre a ociozidade de muitos, que serião
alias úteis á outros ramos de negocio , e for-
ma em fim h u m corpo de sanguesugas intei-
ramente prejudiciaes á Sociedade, fazendo des-
ta huma Caza de Orates, e h u m Inferno.
( 50 )

Quantas vezes se não crimina o despacho c


Sentença do Ministro, sem attender que o
requerimento foi m a l feito, a cauza mal pro-
posta, o direito mal allegado, os depoimen-
tos mal tirados, e os factos mal provados.
Eu sei que nas Villas nao he m u i fácil
a existência de Advogados Letrados, princi-
palmente quando hábeis, e que por isso tor-
na-se quazi indispensável a admissão de Pro-
curadores e Licenciados ignorantes; p o r é m
lembrava-me que assim como o Governo faz
partidos a Boticários, Cirurgiões , e Médicos
só por residirem em certos lugares, assim
também o devia fazer aos Advogados, des-
pachando a estes para certas Villas, fazen-
do da Advocacia hum despacho, que sirva
como de escalla á empregos maiores, e tiran-
do sobre a sua condueta e execução dos seos
deveres h u m a residência igual á dos Ministros;
e finalmente seja a medida qual f o r , o certo
he que ella he urgente, por quanto da tole-
rância de m á o s ü e f f e n s o r e s dos direitos alheios,
são incalculáveis os prejuízos, q u e se n ã o re-
parão.
Tenho tocado alguns dos. obstáculos, e
males, que se h ã o opposto á prosperidade da
minha pátria; n o t a r e i a l g u m a s das novas crea-
coes , e estabelecimentos, que me parecem ne-
cessários e úteis á mesma.
A primeira innovação ou m u d a n ç a , , que
deve haver, he a da c a b e ç a d a Comarca, que
tem sido até o prezente a Villa da Victoria
por ser mais antiga do que Campos. N ã o me
tomem por infectado da quclla v ã rivalidade,
que reina entre estas duas p o v o a ç õ e s ; propo-
( 51 )

nho as razoes, em que me fundo, e 09 ho-


mens cordatos profferiráõ o seo juizo. Fal-
t a o - m e , he v e r d a d e , dados authenticos, e ain-
da que argumento sem elles', comtudo fundo*
m e em coisas sabidas.
A Villa da Victoria com todas do seo
Districto Militar he menos populoza, menos
commeniante,, mais pobre, tem menos de-
mandas , que a Villa de Campos : eu passo
a mostral-o.
Que he menos populoza, apparece das
duas Eleições Perrochiaes, em que o numero
dos Eleitores de Campos foi o duplo da Ca-
pitania , e sendo elles á proporção dos habi-
tantes , he indubitavel que tem menos gente,
do que Campos,
H e menos commerciante, porque sendo
certo que a riqueza real de qualquer Povo
está na razão directa da sua população , he
evidente que ella tendo menos habitantes do
que Campos; hade ter menos riqueza, e por
conseqüência menos commercio. D e mais o ter-
reno da Capitania he quazi todo arenoso , e
pedregozo, e portanto j á se vê que n ã o p ô -
de produzir, e ter h u m a agricultura, qual a
de Campos situado sobre h u m Solo plano,
fecundado de diflerentes rios, e produzindo
em grande, quanto se s e m ê a ; e a prova dis-
to vejamos quaes são as m a t é r i a s , que a Ca-
pitania exporta ; m u i pouco assucar, e alguus
tecido* de algudão, quando Campos faz hu-
m a exportação de seis milhões de cruzados ;
e alem do terreno não convidar, a formiga,
e o Botccudo são poderozas causas para atra-
zo do seo commercio, E u vejo em Campos
H
( 52 )

filhos c i a Capitania negociando, maz nSo me


consta que aqui acconteça e se note o mes-
mo ; e qual a razão ? De certo que he a es-
terilidade do commercio do próprio paiz.
He mais p o b r e , e isso está demonstrado,
quando se p r o v a que he menos populoza e me-
nos commerciante; quando vemos o dinheiro
de Campos ser remetido para ali para paga-
mentos dos Funccionarios Públicos, e quando
ouvimos o transtorno, que cauzou a suspen-
são dessas remessas. Cotejemos ( eu n ã o o pos-
so fazer perfeitamente ) as quantias com que
tem c o n c o r r i d o os Habitantes da Capitania nas
occazioes de necessidade publica, com as que
tem soceorrido Campos. H á diffcrenea de h u m
a m i l ; e se houver quem m o negue , protes-
to convencel-o em forma: e he este facto ou
principio de diiferença da pobreza de huma , e
r i q u e z a de o u t r a V i l l a t ã o conhecido, que a t é po*
de ser attestado peíos Rsmolleres Refigiozos de
S. Antônio, residentes no Convento da Penha,
que para subsistirem, reccorrem á Campos,
o que n ã o farião, se l á h o u v e s s e meios. Pode-
rá valer-me de outras provas, mas por ora
bastão estas.
T e m menos demandas , e he conseqüência
do que hei exposto ; porque aonde falta o
dinheiro, os homens tem menos calor, menos
caprichos, c se eurvão mais á p r u d ê n c i a , l i -
mitando-se ao que he indispensável: e de tu-
do isto concluo eu , que a Villa da Vietoria
tem menos necessidade da assisteneia de h u m
Ministro Superior do que Campos, aonde h á
mais contestações, e tanto conhecem os O u -
vidores esta causa, que fazem quasi toda a
C 53 )

sua rezldencia em Campos,, e a t é por utilida-


de própria, visto que na Capitania nada lhe
rende a vara, como tenho ouvido a alguns;
e se elle nao tem que providénciar, e despa-
char l á , porque hade e l l a ser a cabeça da C o m -
marca ? A antigüidade nao d á preferencia con-
tra razões de vantagens conhecidas , e tão su-
periores : quando se fez h u m tal arranjo, ha-
viao outras circunstancias, outras esperanças ,
e differente cauza de assim legislar; hoje po-
r é m que o tempo tem convencido exhubcran-
temente que aquelles motivos se não preen-
c h e r ã o , nem será mui fácil, he de utilidade
publica o fazer a m u d a n ç a proposta, e criar
na Capitania o Lugar de Juiz de Fora, N ã o
pertendo com isto abater ou diminuir o me-
recimento da queila antiga Villa, e menos as
vantajozas esperanças, que promete o Rio do-
ce ; t a m b é m estou beta longe de inculcar res-
sentimentos, porque outra seria então a m i -
nha lingoagem ; falio com imparcialidade,
e discorro segundo os m e o s princípios; tot ca-
pita.
H u m r e g i m e n t o de p r i m e i r a l i n h a he cria-
ção de inteira necessidade; Campos não p ô -
de prescindir desta providencia , t ã o necessá-
ria á conservação, e segurança dos seos H a -
bitantes , os quaee podem ser accometidos pe-'
la barra da Villa d e S. J o ã o , que lhe fica em
distancia de seis legoas , e inquietados no i n -
terior pelo considerável numero de captivos
crioulos , e mulatos de h u m a robustez , e indus-
tria differente dos de quazi todo o Brazil, e
pela maior parte ociosos e com todos os meios
de se apetrecharem, e sufíiciente conheeimen-
H i i
( o i )

to de ideas sem consideração espalhadas. E u


fui testemunha occular em Dezembro de 1821
da eonfuzão movida por h u m falço, e aterra-
dor boato; e se clle fosse verdadeiro, quem
reagiria sem tropa, mui poucos Milicianos 5

que tarde se ajnntarão, quasi nenhuns paiza-


nos e a maior parte da gente fechada nos seos
apozentos ? O Regimento de Milícias acha-se
todo espalhado pelo Distridto, os seos Sol-
dados são Lavradores, como possível acudir
a qualquer circunstancia rápida? Campos paga
de direitos do dizimo do assucar para cima
de duzentos m i l crusados, fora o das agoas
ardentes, siza de E s c r a v o s , e raiz, h e r a n ç a s ,
cazas & c . , portanto não h á razão para com
tantos ônus não ter os sees bens, e pessoas
em segurança. Que difticuldudc no objecto pro-
posto? N ã o seria mais vantajozo e de rigoro-
sa justiça que os meos Patrícios servissem na
sua pátria, á vista dos seos, aonde mais eom-
modamente serião soecoridos nas suas neces-
sidades , e moléstias, que melhor diftenderião
o seo posto ? N ã o h á ali moços ricos para Of-
ficiaes, sem que estes venhão de fora? Para
que tirar este principio de emulação e nobre-
za?
H u m a fortaleza na,barra da Villa deS. J o ã o ,
he objecto bem digno de atteneão do nosso
Congresso. Todos conhecem a necessidade, que
tem qualquer porto de mar de ser deffendido
e guardado da ambição alheia. Que obstáculo
encontrará h u m Corsário de investir a b a r r a ,
e roubar as e m b a r c a ç õ e s , que a l l i se achao car-
regadas para seguirem viagem para o Rio de
Janeiro? Quem os impedirá de saltarem e m
( 55 )

terra e darem hum saque? Não pode o ini-


migo alli refrescar quantas vezes- q u i z e r , e até
intrincheirar-se; e fazer h u m ponto de reu-
sfin? Depois disto feito não-'he mais difficil
a ç ã o ? A matéria he do primeiro intui-
Í.J n e c e s s i t a de m a i o r d e m o n s t r a ç ã o ; re-
somente que aquella barra he summa-
caprichoza, e por conseqüência de mui-
to perigo; fazendo-se portanto indispensável
hum hábil pratico , que dirija as embarçoes
tanto na saida, como na entrada, e que o G o -
verno tome as mais acertadas medidas, fazen-
do examinar por h u m Engenheiro capaz, se
ella he susceptível de melhora, afim de faci-
litar o commercio, e seria muito de almejar
que a costa fosse devidamente deffendida, e
que os Habitantes n ã o softressem h u m impos-
to a esse titulo, vendo a seo pezar e prejuí-
zo os Corsários mallograrem os seos trabalhos
e despezas , ignorando o emprego dos fundos,
com que contribuem para aquelle fim. T u d o
devemos esperar de h u m Gênio activo, e Crea-
dor.
As freguezias em Campos são summamente
extensas; os caminhos, como j á fiz ver, pés-
simos e por conseqüência he m u i diflicultoza
a administração do pasto espiritual em ocea-
ziões necessárias, maxime aquellas , que sof-
frem pouca demora. N o t e m p o das agoas a m a i o r
parte dos Fregneztís n ã o recorre á sua Fregue-
zia em razão das estradas , e quando em De-
zembro, Janeiro & c . , o Sol esquenta , he con-
sideravelmente penozo o caminhar trez e qua-
tro legoas á h o r a de meio d i a , que he quando
se p ô d e voltar para c a z a : os O r a t ó r i o s particu-
( 56 )

lares remedeiao em parte estes encommodos;


porém as confissões , os Sacramentos, qne se
tem de procurar ás Freguesias inutilizao-se
muitas vezes. Séria de toda a providencia, que
em hum Reino Catholico Romano n ã o se no-
tassem semelhantes faltas ; que se augmentas-
sem as Parrochias, e se fossem precizo as
Congruas <j° s
seos Pastores. Os moradores da
lagôa de sima soffrem diária privação dos re-
médios espirituaes , Quissama nao tem Vigá-
rio á muitos annos, e p o r i s s o as c r i a n ç a s bap-
tizão-se j á adultas, quando aceontece passar
por ali algum Sacerdote, e antes disso mor-
rem como herejes. Os meios e a necessidade
de evitar males de tanta conseqüência, n ã o
involvem mistério: e porisso nada avançarei
a tal respeito, limitando-me em indicar o que
he dito.
Persuado-me que Campos, bem como ou-
tras Villas e Cidades pagão hum imposto a
titulo de sustentar e curar as pessoas , que
se achão infectadas da moléstia, que vulgar-
mente se chama de S. L á z a r o , imposto que
sendo n o seo principio huma simples contribui-
ção voluntária, passou ( n ã o sei c o m o ) a ser
posto em a r r e m a t a ç ã o , e a constituir h u m ra-
mo publico de finanças. Seja o que f o r ; o cer-
to he que pagando-se aquella taxa, os Enfer-
mos vagão errantes , j á implorando a caridade
dos C i d a d ã o s , j á misturados contaminando aquel-
les, que contribuem para sua c o n s e r v a ç ã o se-
parada. Para remediar mal de tanto m o m e n -
não seria util fazer-se h u m Lazareto e m
alguma distancia da Villa , aonde fossem obri-
gados a se recolherem todos os que soffres-
( 67 )
I

sem aquella moléstia ? H e da boa policia de


todas as Nações cultas o separar de si todos
^ membros, que por qualquer origem pos-
idicar aos outros, ou mesmo appre-
cna v i s t a p o u c o decente, ou desgraça-
espeíaculos indicao a pouca conta,
se t e m os C i d a d ã o s tocados da desgra-
• . "pião pouco interessa a saúde publi-
ca, e a felicidade geral da Sociedade, cauza
primaria da sua instituição. Chegou o m o m e n -
to de tudo esperarmos.
Campos tem a Oeste a C o r d i l h e i r a de Ser-
ras , que costeao todo o B r a z i l , dividindo-o com
CantagaUo, e Minas Geraes. O interesse, a
molla real do coração humano , rompendo por
montes e bosques a través de m i ! dificulda-
d e s , t e m f e i t o h u m a p i c a d a , p o r o n d e se eommu-
nieao estes Povos limítrofes, o que tem sido
de grande vantagem pela afluência de gado,
toucinhos & c , com q u e os M i n e i r o s abastecem
a minha pátria do seo supérfluo. Q u ã o pro-
veitoso seria a abertura o u antes a perfeição de
huma estrada regular, que facilitasse o com-
niereio interno, e apermutação dos g ê n e r o s ,
augmcntando assim a lavoira, e formando la-
ços de a mizade, e interesse entre Povos Ir-
mãos , e Brazileiros ! . . Os mesmos índios , que
por abi se achão errantes, bem conciliados
poderão c o n e c o r r e r pom seos b r a ç o s á semelhan-
te t r a b a l h o t ã o útil", e d e c o n s e q ü ê n c i a s t ã o pros-
peras. O x a l á eu tenha o prazer de haver e m -
pregado os meos escassos talentos pela pros-
peridade do meo paiz ! O x a l á eu chegue a ve-Io
grande, feliz, e oppulento, e n t ã o cheio de mo-
desta ufania, e briozo t i m b r e , eu .deivi com
E R R A T A

Pag, Linh. Erros s.

a "» - os os cs
v Estognada9 Esu-gnadas
1*1 recind. rescind.
Sãs da do
j- " 11 Corte Cortes
7 convencem convence
24 19 coração. coração!
25 11 nos t o c ã o nos n ã o t o c ã o
S§ 16 lembrança ? lembrança !
34 10 pedras pedras ?
46 19 Professores; Professores.
49 13 folhas folha
30 destruição distração
5u 5 provados * provados ?
53 4 elle elles
54 7 distridto districto
56 7 fossem fosse
I

Você também pode gostar