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2.

4 Diferenças entre Equações Lineares e Não Lineares


Existência e Unicidade de Soluções
Todo problema de valor inicial tem exatamente uma solução? Esse é
um ponto importante até para não matemáticos. Se encontrar um
problema de valor inicial ao investigar algum problema físico, você
pode querer saber se ele tem solução antes de gastar muito tempo e
esforço tentando resolvê-lo. Além disso, se você encontrar uma
solução, pode estar interessado em saber se deve continuar a busca
por outras soluções possíveis ou se pode ter certeza de que não
existem outras soluções.
Teorema 2.4.1 (Equação Linear)
Se as funções p e q são contínuas em um intervalo
aberto I: α < t < β contendo o ponto t = t0, então existe uma única
função y = ϕ(t) que satisfaz a equação diferencial
y' + p(t)y = g(t) (1)
para cada t em I e que também satisfaz a condição inicial
y(t0) = y0 (2)
em que y0 é um valor inicial arbitrário dado.
EXEMPLO 1
Use o Teorema 2.4.1 para encontrar um intervalo no qual o problema
de valor inicial t y' + 2y = 4t2, y(1) = 2, tem uma única solução.

Precisamos colocar a ED na forma padrão, dividindo-a por t:



2
𝑦 + 𝑦 = 4t.
𝑡
Daí p(t) = 2/t e g(t) = 4t.
Em que intervalos essas funções são contínuas?
p(t) = 2/t: contínua exceto em t = 0;
g(t) = 4t : contínua para todo t real.
Fazemos a interseção para determinar os intervalos nos quais elas são
contínuas ao mesmo tempo: 0
p(t):
g(t) :
: 0
As funções p(t) e g(t) são contínuas em (–∞, 0) e em (0, +∞). Devemos
optar pelo intervalo que contem t0 = 1; como t0 = 1 (0, +∞), então
esse intervalo é o procurado. Resposta: (0, +∞).

EXEMPLO
Use o Teorema 2.4.1 para encontrar um intervalo no qual o problema
de valor inicial

1 1
𝑦 + 2 𝑦 = , 𝑦 −2 = 2
𝑡 −1 𝑡
tem uma única solução.
1
𝑝 𝑡 = 2 : contínua exceto em t2 – 1 = 0, ou seja, t = 1;
𝑡 −1
1
𝑔 𝑡 = : contínua exceto em t = 0.
𝑡

p(t): –1 1
g(t) : 0
: –1 0 1
As funções p(t) e g(t) são contínuas em (–∞, –1), (–1, 0), (0, 1) e (1,
+∞). Devemos optar pelo intervalo que contem t0 = –2; como t0 = –2
 (–∞, –1), então esse intervalo é o procurado. Resposta: (–∞, –1).

Teorema 2.4.2
Suponha que as funções f e ∂f/∂y são contínuas em algum
retângulo α < t < β, γ < y < δ contendo o ponto (t0, y0). Então, em
algum intervalo t0 – h < t < t0 + h contido em α < t < β, existe uma
única solução do problema de valor inicial
y' = f(t, y), y(t0) = y0. (9)

EXEMPLO 4 Resolva o problema de valor inicial y′ = y2, y(0) = 1


e determine o intervalo no qual a solução existe.

f(t, y) = y2, f/y = 2y são contínuas em toda parte. O teorema 2.4.2


garante que o PVI tem solução única dentro das condições do teorema.
Agora iremos resolver o PVI:
𝑑𝑦 2
𝑑𝑦
= 𝑦 ⇒ 2 = 𝑑𝑡 ⇒ 𝑦 −2 𝑑𝑦 = 𝑑𝑡
𝑑𝑡 𝑦
𝑦 −1 1 1
=𝑡+𝐶 ⇒− =𝑡+𝐶 ⇒𝑦 =−
−1 𝑦 𝑡+𝐶
Usando a CI, y(0) = 1, temos:
1 1
𝑦 0 =− ⇒ 1 = − ⇒ 𝐶 = −1
0+𝐶 𝐶
Daí:
1 1
𝑦=− ⇒𝑦= ,
𝑡−1 −𝑡 + 1
que é a solução do PVI para –∞ < t < 1 (observe que t0 = 0  (–∞, 1)).

OBSERVAÇÃO: y  0 também é solução da ED y′ = y2 (exemplo 4),


mas não pode ser obtida a partir da solução geral.
Solução Geral. Outro aspecto no qual as equações lineares e não
lineares diferem está relacionado com o conceito de solução geral.
Para uma equação linear de primeira ordem é possível obter uma
solução contendo uma constante arbitrária, da qual podem ser obtidas
todas as soluções possíveis atribuindo-se valores a essa constante.
Isso pode não ocorrer para equações não lineares; mesmo que seja
possível encontrar uma solução contendo uma constante arbitrária,
podem existir outras soluções que não podem ser obtidas atribuindo-
se valores a essa constante. Por exemplo, para a equação diferencial y′
= y2 no Exemplo 4, a expressão na y = –1/(t+c) contém uma constante
arbitrária, mas não inclui todas as soluções da equação diferencial.
Para mostrar isso, observe que a função y = 0 para todo t é,
certamente, uma solução da equação diferencial, mas não pode ser
obtida da Eq. (22) atribuindo-se um valor para c. Poderíamos prever,
nesse exemplo, que algo desse tipo poderia ocorrer porque, para
separar as variáveis da equação diferencial, tivemos que supor
que y não se anula.
Entretanto, a existência de soluções “adicionais” não é incomum
para equações não lineares.

Equações de Bernoulli
Algumas vezes é possível resolver uma equação não linear
fazendo uma mudança da variável dependente que a transforma
em uma equação linear. O exemplo mais importante de tal
equação é da forma
y + p(t)y = q(t)yn
e é chamada de equação de Bernoulli em honra a Jakob Bernoulli

Exercício 27 (seção 2.4)


27. (a) Resolva a equação de Bernoulli quando n = 0 e quando
n = 1.
Para n = 0: y + p(t)y = q(t)y0  y + p(t)y = q(t) que é uma ED
linear e pode ser resolvida como tal:
𝑦 = 𝑒 − 𝑝 𝑡 𝑑𝑡 𝑒 𝑝 𝑡 𝑑𝑡 𝑞 𝑡 𝑑𝑡 + 𝐶 .
Para n = 1: y + p(t)y = q(t)y1  y + [p(t) – q(t)] y = 0 que
também é uma ED linear; sua solução fica:

𝑦 = 𝑒− [𝑝 𝑡 −𝑞(𝑡)]𝑑𝑡
𝑒 [𝑝 𝑡 −𝑞(𝑡)]𝑑𝑡
0𝑑𝑡 + 𝐶

𝑦 = 𝐶𝑒 − [𝑝 𝑡 −𝑞(𝑡)]𝑑𝑡
.

27. (b) Mostre que, se n ≠ 0 e n ≠ 1, então a substituição


v = y1 – n
reduz a equação de Bernoulli a uma equação linear. Esse método
de solução foi encontrado por Leibniz em 1696.
Antes de fazer a substitução vamos calcular v:
v = (1 – n) y1 – n – 1 y  v = (1 – n) y–n y.
Começaremos multiplicando a ED de Bernoulli por (1 – n) y–n
como segue:
[y + p(t)y = q(t)yn] × (1 – n) y–n
[y + p(t)y = q(t)yn] × (1 – n) y–n
(1 – n) y–n y + (1 – n) y–n p(t)y = q(t)yn(1 – n) y–n
(1 – n) y–n y + (1 – n) y1 – n p(t) = (1 – n) q(t)
v v
v + (1 – n) p(t) v = (1 – n) q(t)
que é um ED linear em v e pode ser resolvida como tal:

𝑣 = 𝑒− (1−𝑛)𝑝 𝑡 𝑑𝑡
𝑒 (1−𝑛)𝑝 𝑡 𝑑𝑡
(1 − 𝑛)𝑞 𝑡 𝑑𝑡 + 𝐶 .

É necessário retornar a variável original y.

2 1
EXEMPLO: Resolva a Equação de Bernoulli 𝑦 ′ − 𝑦 = 𝑦 2 .
𝑡 𝑡
Vamos identificar as quantidades necessárias: n = 2, v = y1–2 = y–1,
p(t) = –2/t e q(t) = 1/t. Daí:
−2
− (−1) 𝑡 𝑑𝑡
−2
(−1) 𝑡 𝑑𝑡 1
𝑣= 𝑒 𝑒 (−1) 𝑑𝑡 + 𝐶
𝑡
1
−2 𝑡 𝑑𝑡
1
2 𝑡 𝑑𝑡 (−1)
𝑦 −1 = 𝑒 𝑒 𝑑𝑡 + 𝐶
𝑡

(−1) 1 1
𝑦 −1 = 𝑡 −2 𝑡2 𝑑𝑡 + 𝐶 ⇒ = 2 −𝑡 𝑑𝑡 + 𝐶
𝑡 𝑦 𝑡
1 1 𝑡2 1 1 𝑡 2 − 2𝐶
= 2 − +𝐶 ⇒ = 2 −
𝑦 𝑡 2 𝑦 𝑡 2
1 𝑡 2 − 2𝐶 −2𝑡 2
= 2
⇒𝑦= 2
𝑦 −2𝑡 𝑡 − 2𝐶
Família de Soluções

Exercícios para entregar: Seção 2.4


4, 5 e 28.

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