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1.

2 Soluções de Algumas Equações Diferenciais


 
Na seção anterior, deduzimos as equações diferenciais
  𝑑𝑣
𝑚 =𝑚𝑔 − 𝛾 𝑣 (1)
e 𝑑𝑡
  𝑑𝑝
=𝑟𝑝 − 𝑘 . (2)
𝑑𝑡
A Eq. (1) modela um objeto em queda e a Eq. (2), uma população de
ratos do campo caçados por corujas. Ambas são da forma geral
  𝑑𝑦
=𝑎𝑦 − 𝑏 (3)
𝑑𝑡
em que a e b são constantes dadas. Fomos capazes de descobrir
algumas propriedades qualitativas importantes sobre o
comportamento de soluções das Eqs. (1) e (2) analisando os campos
de direções associados. Para responder perguntas de natureza
quantitativa, no entanto, precisamos encontrar as soluções
propriamente ditas.
Existem dois métodos clássicos para determinar funções/soluções de
ED como a equação (3). Iremos explorar um desses métodos,
conhecido como separação de variáveis (ele será tratado novamente
no capítulo 2).
A ideia primordial desse método consiste em escrever a derivada na
sua forma diferencial:

Derivada Diferencial
𝑑𝑦
𝑑𝑦=𝑓 ′(𝑡)𝑑𝑡
   
=𝑓 ′ (𝑡 )
𝑑𝑡
Com isso podemos, nos casos em que se aplica o método, separar as
variáveis em lados diferentes da equação usando multiplicações e/ou
divisões.
Ilustramos a aplicação completa do método no Exemplo 1.
EXEMPLO 1: Ratos do Campo e Corujas
Considere a equação
  𝑑𝑝
=0,5 𝑝 − 450
𝑑𝑡 (4)
que descreve a interação de determinadas populações de ratos do
campo e corujas [veja a Eq. (8) da Seção 1.1]. Encontre soluções
dessa equação.
Começamos reescrevendo a ED (4) num formato mais conveniente:
𝑑𝑝 𝑝 −900
 
=
𝑑𝑡 2
Vamos passar p – 900 dividindo (desde que p – 900 não seja diferente
de zero) e dt “multiplicando” (usando a diferencial), obtendo:
  𝑑𝑝 𝑑𝑡
=
𝑝 − 900 2
Integramos cada um dos lados em relação a variável indicada e
obtemos:
 
𝑑𝑝  𝑑𝑡   𝑡
ln ¿ 𝑝 −900∨¿+ 𝑐1 = +𝑐 2 ¿
∫ 𝑝−900 =∫ 2 2
k
  𝑡
 ln ¿ 𝑝 −900∨¿= + 𝑐2 −𝑐 1 ¿
2
Para isolar p em função de t, fazemos calculamos a exponencial dos
dois lados (pois ocorre um cancelamento entre exponencial e
logarítmo natural).
𝑡
  +𝑘
  𝑡

2
ln ⁡∨ 𝑝 − 900∨¿=𝑒 ¿ 𝑘
𝑒 ¿ 𝑝 −900∨¿ 𝑒 𝑒 2

  c 𝑡   𝑡
𝑝 −900=𝑒2 (± 𝑒¿¿ 𝑘 )¿ (11) 2
𝑝=𝑐𝑒 +900
A figura mostra vários gráficos da solução (11), para valores
diferentes de c.
Encontramos, no Exemplo 1, uma infinidade de soluções da equação
diferencial (4), correspondendo à infinidade de valores possíveis que a
constante arbitrária c pode assumir na Eq. (11). Isso é típico do que
acontece quando se resolve uma equação diferencial. O processo de
solução envolve uma integração, que traz consigo uma constante
arbitrária, cujos valores possíveis geram uma família infinita de
soluções.
Com frequência, queremos focalizar nossa atenção em um único
elemento dessa família infinita de soluções, especificando o valor da
constante arbitrária. Na maior parte das vezes, isso é feito
indiretamente, através de um ponto dado que tem que pertencer ao
gráfico da solução. Por exemplo, para determinar a constante c na
solução da Equação Diferencial, poderíamos dar a quantidade de
elementos na população em determinado instante, tal como 850
elementos no instante t = 0.
Em outras palavras, o gráfico da solução tem que conter o ponto (0,
850). Simbolicamente, essa condição pode ser expressa como
p(0) = 850. (12)
Isso implica:
  0
2
𝑝(0)=𝑐𝑒 + 900 850=𝑐+ 900
 
𝑐=− 50
 

𝑡
850 1  
2
𝑝=−50 𝑒 +900
A condição adicional (12) que usamos para determinar c é exemplo de
uma condição inicial. A equação diferencial (4) junto com a condição
inicial (12) forma um problema de valor inicial.
 EXEMPLO 2: Um Objeto em Queda
Vamos considerar, como no Exemplo 2 da Seção 1.1, um objeto em
queda com massa m = 10 kg e coeficiente da resistência do ar γ = 2
kg/s. A equação de movimento (1) fica, então,
Suponha que esse objeto cai de uma altura de 300 m. Encontre sua
velocidade em qualquer instante t. Quanto tempo vai levar para ele
chegar ao chão e quão rápido estará se movendo no instante do
impacto?

  𝑑 𝑣 49 − 𝑣
= 𝑑𝑣 1
    𝑑𝑣 1
=− 𝑑𝑡
𝑑𝑡 5 =− (𝑣 −49) 𝑣 − 49 5
𝑑𝑡 5
𝑑𝑣 1 𝑡
   
ln ¿ 𝑣 − 49∨¿=− +𝑘 ¿
5
∫𝑒 𝑣−49 =∫− 5 𝑑𝑡
 
ln ⁡∨ 𝑣− 49∨¿=𝑒
𝑡
− +𝑘
5
¿  
|𝑣 − 49|=𝑒

𝑡
5
𝑒
𝑘

  −
𝑡   𝑡

5 5
𝑣 − 49=𝑒 (± 𝑒¿¿ 𝑘 )¿ 𝑣 =𝑐 𝑒 + 49
Ou seja, v(0) = 0. Daí:
  0

𝑣 (0)=𝑐 𝑒 5
+ 49  
0=𝑐+ 49 𝑐=− 49
 

𝑡 𝑡
 
Resultando em: 𝑣 =− 49 𝑒

5
+ 49
 
[
𝑣 =49 1− 𝑒

5
]
𝑡  𝑑 𝑡
  −
5 𝑥 −
5
𝑣 =− 49 𝑒 + 49 =− 49 𝑒 + 49
𝑑𝑡
𝑡   𝑡
[ ]
∫ 𝑑 𝑥=∫ [ −49𝑒 ]
  −
5 −
𝑑𝑥= − 49 𝑒 + 49 𝑑𝑡 5
 
+49 𝑑𝑡
 
Mas x(0) = 300. Daí:
 
k =545
 

    𝑡

5
  𝑡 −245=−245 𝑒 + 49𝑡

−5=−5 𝑒 5
+𝑡 𝑡 ≈ 10,51 𝑠
 

  10,51

𝑣 (10,51)=− 49 𝑒 5
+ 49 𝑣 ( 10,51 ) ≈ 43,01 𝑚/𝑠
 

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