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SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO

UNIDADE 5
CONTRIBUIÇÃO DE PENSADORES PARA A SUA FORMAÇÃO DO SER
HUMANO

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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS DR. EDMUNDO ULSON - UNAR 2011


CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE

Objetivos: Explicitar o pensamento dos principais.


Nesta unidade, vamos conhecer os principais pensadores e sua
influência na educação.

ESTUDANDO E REFLETINDO

Liberais.
O sistema capitalista se apóia
Um dos maiores pensadores do
em conjunto de idéias, de formas liberalismo foi John Locke, que viveu na
de agir e de pensar, que Inglaterra no século XVII, época da
Revolução Industrial promovida pela
progressivamente foram burguesia, momento decisivo da vitória do
capitalismo, que colocou a sobrevivência
desenvolvidas, servindo para da maioria das pessoas condicionadas ao
justificar esse sistema. Esse trabalho assalariado, a par dessa minoria
burguesa que passou a viver da
conjunto de idéias forma uma exploração do capital e do trabalho.
doutrina político-econômica, o
liberalismo.
Alguns princípios sustentam o conjunto das idéias liberais: o individualismo,
a liberdade, a propriedade, a igualdade e a democracia.
Essas idéias do liberalismo ganharam sua força máxima durante a
Revolução Francesa, em 1889, cujo lema era: LIBERDADE, IGUALDADE E
FRATERNIDADE.
De fato, nesse momento, burgueses e trabalhadores foram parceiros contra
a ordem da antiga sociedade feudal, mas, com o tempo, tomou-se clara a
oposição de seus interesses e a impossibilidade de uma aliança.
O liberalismo, ao colocar o indivíduo como centro, torna individuais as
razões do fracasso, qualquer que seja ele, econômico ou escolar, impedindo
que sejam vistas as razões sociais da desigualdade. O liberalismo tem servido,
portanto, aos conservadores que pretendem a permanência da sociedade tal
como ela está. Ele torna legítima a sociedade de classes: "É cada um por si e
Deus por todos"...
A escola tem grande peso na aceitação conservadora das idéias liberais.
Se sustentada por princípios exclusivamente individualizantes, pela
classificação e avaliação, a escola acaba por rotular os indivíduos como

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capazes ou não segundo o aproveitamento de cada um, deixando de ver o
aluno como um ser social e histórico.
Neste caso, a escola se isola da sociedade. Diz trabalhar apenas no nível
das idéias, afirmando uma igualdade aparente, que não leva em conta as
desigualdades sociais e econômicas. Esse modelo de escola acaba tratando
desiguais (social e economicamente) como iguais, reproduzido a igualdade
apenas formal do sistema social.
Também em seus conteúdos, a escola não discute a quem serve tais e
quais ensinamentos e/ou códigos disciplinares, não discute a possibilidade
concreta de democracia e de representação em uma sociedade marcada pelas
desigualdades de propriedade e de direitos.

Durkheim
Deve-se a Durkheim o reconhecimento da Sociologia
como ciência, com objeto e método de estudo próprios.
Durkheim deu fundamento a uma forma determinada de
análise da sociedade - a análise funcionalista.
Tal análise baseia-se na visão da sociedade como um organismo, à
semelhança de um organismo vivo, um todo integrado, onde cada parte
desempenha uma função necessária ao equilíbrio do todo.
Para Durkheim (1925), a educação tem a função fundamental de
conservação da sociedade: ela "tem por objeto superpor ao ser que somos ao
nascer, individual e associal, um ser inteiramente novo". "É uma ilusão
acreditar que podemos educar nossos filhos como queremos", afirma ele, pois
a “educação se impõe ao indivíduo de modo irresistível”. Dentro desta visão, a
sociedade determina totalmente o que será o indivíduo. Durkheim afirma,
portanto, o determinismo social sobre os indivíduos.
Considera a divisão social do trabalho um processo natural: "nem todos
somos feitos para refletir; e será preciso que haja sempre homens de
sensibilidade e homens de ação. A diferença de aptidão, de caracteres
hereditários e a própria diversidade das profissões acabam naturalmente
produzindo educações diferentes". Durkheim considera a divisão do trabalho
como necessária ao equilíbrio da sociedade mantido pela solidariedade

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orgânica, isto é, a solidariedade que, à semelhança dos órgãos dos organismos
vivos, também acontece com a sociedade.
O pensamento de Durkheim foi usado, muitas vezes, para justificar atitudes
e ideologias conservadoras, interessadas em manter a ordem social vigente.
A divisão do trabalho, justificada em função da especialização, vem
contribuindo, mais e mais, para separar os que pensam daqueles que fazem. O
saber técnico ganha destaque
Estratificação Social-Processo pelo qual
e importância. Dessa forma, os indivíduos, as famílias ou os grupos
sociais são hierarquizados em uma escala:
um grande número de uns nos escalões superiores e outros nos
problemas de nossas vidas inferiores, segundo origem, nível de renda,
grau de instrução, prestígio da ocupação
foi transformado em questões etc. Essa hierarquia resulta da simples
classificação dos indivíduos, segundo
técnicas, distantes do debate algum critério, sem que tal classificação
e da ação política. Fomos obrigue ao estabelecimento das relações
de interação, contraditória e/ou
transformados em nome da complementar, entre tais segmentos. Às
camadas ou extratos sociais resultantes
especialização e da divisão
dessa classificação não têm, na análise
do trabalho, em executores funcionalista, a mesma dimensão que o
conceito de classes sociais tem na análise
de decisões tomadas por marxista.
outros.
O princípio de integração, de todo orgânico, situa os grupos sociais em
certa estratificação social.
Essa estratificação, considerada como decorrência natural da divisão do
trabalho, acena com a possibilidade de ascensão social de um estrato inferior
para outro superior. Ganha destaque a meritocracia: os indivíduos podem
vencer na vida, por seus méritos pessoais. As diferenças sociais são
novamente tomadas como diferenças individuais. Uma das vias de ascensão
social proposta é a educação.
Portanto, a visão conservadora da sociedade simultaneamente afirma, de
um lado, a possibilidade de ascensão social pelo mérito de cada um, e, de
outro, justifica que as pessoas tenham "destinos" socialmente diferentes. Em
ambas os casos, prende-se a fatores, sobretudo individuais, desconhecendo
que o social faz a sua parte.

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BUSCANDO CONHECIMENTO

Max Weber
Para Max Weber, ao contrário do que pensa Durkheim, a preocupação
fundamental é o indivíduo e suas ações. A sociologia weberiana sempre esteve
preocupada com a compreensão da ação dos indivíduos: por que indivíduos,
em uma situação determinada, tomam determinadas decisões? Quais são as
razões para esses atos? A sociedade existe concretamente, mas não é algo
externo e que estaria acima dos indivíduos; ela é o conjunto das ações deles
relacionando-se reciprocamente. Assim, Weber, partindo do indivíduo e de
suas motivações, pretende compreender a sociedade como um todo.
O conceito básico para Weber é o de ação social, que ele entende como o
ato de se comunicar, de se relacionar, tendo alguma orientação quanto às
ações dos outros - ações que podem ser passadas, presentes ou futuras.
Esses "outros" tanto podem ser apenas um indivíduo como uma pluralidade
deles, indeterminados e até desconhecidos. Para Weber a ação social não é
idêntica a uma ação homogênea de muitos indivíduos.
Max Weber agrupou as ações individuais em quatro grandes tipos, a
saber:
1. A ação tradicional, que tem por base um costume arraigado, a tradição
familiar ou até mesmo um hábito.
2. A ação afetiva tem por fundamento os sentimentos de qualquer ordem.
O sentido da ação está nela mesma. O que importa é dar vazão às suas
paixões momentâneas. Age assim aquele indivíduo que diz:
3. A ação racional com relação a valores fundamenta-se em convicções,
tais como o dever, a dignidade, a beleza, a sabedoria, a piedade ou a
transcendência de uma causa, qualquer que seja o seu gênero, sem levar em
conta as conseqüências previsíveis.
4. A ação racional com relação a fins baseia-se no fato de que o indivíduo
orienta sua ação levando em conta os fins, os meios e as conseqüências
implicados nela. Faz sempre uma relação entre meios e fins.

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Para Weber, esses são os "tipos ideais" de ação social, mas eles não
existem em estado puro, pois os indivíduos, quando agem no cotidiano,
mesclam alguns ou vários tipos de ação social.
A socialização e a educação escolar estarão sempre permeadas pelas
ações dos indivíduos - professores, administradores ou alunos -, que agirão
sempre no contexto de uma reciprocidade de ações dos outros agentes
envolvidos, que se manifestam no terreno da tradição e da afetividade,
segundo determinados valores ou fins. Em cada momento pode-se ter uma ou
mais ações envolvidas nessas relações.
Concluindo, percebe-se que são três modos diferentes de se posicionar
diante da mesma questão. Para Marx, a preocupação são os indivíduos
inseridos nas classes sociais. Para Durkheim, a sociedade é tudo e o indivíduo
deve ser submetido ao que é geral. Para Weber, o indivíduo e sua ação é o
elemento constitutivo das ações sociais.

Karl Mannheim
Mannheim (1893-1947) definia a educação escolarizada como uma técnica
social, isto é, uma arma nas mãos de quem domina e que pode ser usada para
a manutenção ou para a transformação de uma sociedade. A contribuição de
Mannheim para a análise sociológica da educação, pode ser assim resumida:
a) A análise sociológica da educação desvenda o real sentido ao es-
clarecer a meta social a atingir. Se retirarmos da educação a sua
conotação social, estaremos reduzindo-a a um esquema de ação arbi-
trário e abstrato;
b) A prática educacional, na sociedade contemporânea, toma o grupo, e
não o indivíduo, como unidade educativa.
Karl Mannheim formula uma concepção de educação que pode ser um
elemento de transformação da realidade social.
Essa idéia, que se desenvolveu a partir do fim da Segunda Guerra,
permaneceu vigente nos anos seguintes, vinculada sempre ao processo de
crescimento econômico que se estendeu até o final dos anos 60. Nesse
período o seu enfoque dirigiu-se para a descrição e a interpretação de uma
realidade educacional em crescimento acelerado, no contexto da realidade
social e econômica em expansão na qual vivia.

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Karl Marx
Marx viveu no século passado, momento da consolidação
do sistema capitalista. Com sua obra, Marx cumpriu o
papel de desvendar esse sistema de forma ampla,
analisando seus aspectos políticos, sociais e
econômicos, com a utilização do método dialético.
Segundo Lefebvre,
Marx foi o primeiro a adotar e a empregar de forma
coerente este método dialético. Ao estudar uma
determinada realidade objetiva, analisa, metodicamente,
os aspectos e elementos contraditórios desta realidade
(considerando, portanto, todas as noções antagônicas
então em curso, mas cujo teor ninguém ainda sabia
discernir). Após ter distinguido os aspectos ou os
elementos contraditórios, sem negligenciar as suas
ligações, sem esquecer que se trata de uma realidade,
Marx reencontra-a na sua unidade, isto é, no conjunto de
seu movimento.
LEFEBVRE, 1988, p. 26

A realidade em estado de movimento, a realidade em processo,


impulsionada pela superação de elementos contraditórios que a permeiam, é,
portanto, uma idéia básica no método dialético.
Muitos outros sociólogos apoiaram-se nas idéias de Marx. No Brasil,
Octávio Ianni e Florestan Fernandes, dentre outros, em várias de suas obras,
valeram-se dos conceitos e da metodologia de análise marxista.
Nas obras de Marx o trabalho ocupa posição central. Ao trabalhar o homem
produz a cultura.
A cultura, como resultado do trabalho, diferencia o trabalho humano
daquele realizado por outros seres vivos. A característica do homem é projetar,
conceber o trabalho antes de realizá-lo e de modificar sua concepção durante
sua realização.
Da capacidade de trabalho, que é ao mesmo tempo característica e
condição humana, formam-se as relações sociais - as familiares, as políticas e
as econômicas - e as relações com a natureza.
As representações, as linguagens, as instituições, a educação, portanto,
estão diretamente ligadas com a forma pela qual os homens, no trabalho,

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relacionam-se para produzir o que necessitam e para se produzir enquanto
seres dotados de história e de cultura.
Essa forma de relacionamento não foi sempre a mesma, ao longo da
história. Exatamente por sua condição de ser histórico, o homem modifica a si
mesmo e à sua organização social pelas diferentes formas com que organiza o
trabalho e a produção material.
A separação entre o pensar e o executar, e mais, a apropriação dos
resultados do trabalho por outro que não o trabalhador produz o que Marx
chamou de alienação.
O homem vive socialmente através das instituições, em uma tensão
cotidiana entre as forças de mudança e as de conservação aí presentes. A
análise desse cotidiano das instituições sociais foi feita por autores que se
basearam em Marx, como enri Lefebvre e Agnes Heller.

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