Você está na página 1de 9

CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA PORTUGUESA

Nota: os apontamentos apresentados foram recolhidos em aula prática


de Direito Constitucional II, leccionada pela Exma. Professora Doutora
Juliana Coutinho.

 Constitui a norma primária sobre a produção jurídica;


 Desempenha as seguintes funções:
o Identificação das fontes de direito
 Artigo 8.º CRP – referência ao Direito Internacional e ao
Direito Comunitário;
 Artigo 56.º CRP – convenções colectivas de trabalho;
 Artigo 112.º CRP
 N.º1 – conceito de actos legislativos e de lei em
sentido formal
 Artigo 115.º CRP – referendo
 Artigos 161.º, 164.º e 165.º CRP – competência
legislativa da AR;
 Artigo 198.º CRP – competência legislativa do Governo;
 Artigos 226.º a 228.º CRP – competência legislativa das
Assembleias Legislativas Regionais;
 Artigo 241.º - competência regulamentar das
autarquias locais.

 Lei e regulamento
o Regulamento não é lei em sentido formal
(artigo 112.º CRP), cujo conceito abarca os
actos da função legislativa, desenvolvidos
por órgãos dotados de competência
legislativa. Os regulamentos são actos da
competência administrativa;
o Os regulamentos mantêm uma relação
necessária com a Lei (artigo 112.º, n.º7
CRP).
 Têm sempre por fundamento uma
Lei, portanto a Lei condiciona o
exercício da actividade
administrativa;
 Análise do artigo 112.º, n.º7 CRP
 1.ª Parte – «indicar
expressamente as leis que
visam regulamentar».
Relaciona-se com os
regulamentos de execução,
que mantêm uma relação
próxima com a Lei;
 2.ª Parte – «definem a
competência subjectiva e
objectiva para a sua
emissão». Relaciona-se com
os regulamentos
independentes, sendo que a
Lei, em relação a estes, não
define de forma tão estreita o
exercício da competência
administrativa, não havendo
vinculação absoluta.

 Pirâmide normativa interna de Hans Kelsen e


suas insuficiências
o A maior parte dos ordenamentos jurídicos
perdeu como referência o Estado,
assumindo grane importância o Direito
supra-estadual (Direito Internacional e
Direito Comunitário);
o A prevalência do Direito Comunitário
sobre o direito interno dos Estados-
Membros da União Europeia (Direito
Constitucional e infraconstitucional)
decorre do princípio da efectividade ou
do efeito útil, sendo dever dos Estados
garantir a aplicabilidade do Direito
Comunitário, e dos seus sub-princípios de
elaboração jurisprudencial:
 Em primeiro lugar, o princípio do
efeito directo: segundo este
princípio, as normas de Direito
Comunitário, quando claras e
precisas, podem ser invocadas pelos
particulares junto dos órgãos
jurisdicionais nacionais, seja contra
o Estado (efeito directo vertical),
seja contra outros particulares
(efeito directo horizontal). Este
princípio foi elaborado pelo Tribunal
de Justiça, sobretudo no acórdão
Van Gend & Loos, onde o TJUE
refere expressamente que as
normas comunitárias reconhecem
aos particulares determinados
direitos que têm como
correspondentes obrigações dos
seus Estados e que, por isso mesmo,
quando dotados de determinadas
características, podem ser
invocadas pelos particulares contra
o Estado ou contra outros
particulares;
 Em segundo lugar, o princípio da
prevalência na aplicação: este
princípio impõe aos Estados-
Membros e, mais concretamente, às
suas Administrações e Tribunais, o
encargo de desaplicar normas de
Direito nacional, quando estas se
revelem contrárias ao Direito
Comunitário. Este princípio foi
elaborado pelo TJUE, no acórdão
Flaminio Costa v ENEL [1964] e
impôs aos Estados Membros um
esforço de harmonização do seu
Direito, dando assim cumprimento
ao disposto nos artigos 10.º e 249.º
do Tratado1;
 Em terceiro lugar, o princípio da
interpretação conforme: segundo
este princípio, os Estados-Membros
deverão utilizar, como métodos de
interpretação das normas de Direito
nacional, aqueles que, no caso, se
revelem mais ajustados com o
sentido posto pelo Direito
Comunitário. Este princípio foi
desenvolvido pelo TJUE, no acórdão
Marleasing (1992);
 Em último lugar, o princípio da
aplicação uniforme: este princípio
procura salvaguardar, através do
instituto do reenvio prejudicial,
previsto pelo artigo 234.º do
Tratado2, a possibilidade de a última
palavra, em termos de interpretação
1
Importante: Os artigos apresentados não correspondem às alterações introduzidas pelo Tratado de
Lisboa. No presente caso, referem-se os artigos 4.º TUE e 288.º TFUE (de acordo com o Tratado de
Lisboa).
2
Importante: O artigo apresentado não corresponde às alterações introduzidas pelo Tratado de Lisboa.
No presente caso, refere-se o artigo 267.º TFUE (de acordo com o Tratado de Lisboa).
e aplicação do Direito Comunitário,
caber ao TJUE.

o A articulação do Direito Comunitário com


o Direito Constitucional depende da leitura
e interpretação dos tratados e da nossa
ideia de União Europeia.
o Importa realçar o pluricentrismo (vários
órgãos com competência legislativa,
designadamente Assembleia da República,
Governo e Assembleias Legislativas
Regionais, ao abrigo do princípio da
tipicidade consagrado no artigo 112.º, n.º1
CRP) e a plurimodalidade (vários tipos de
leis, decretos-lei e decretos legislativos
regionais) legislativa.
 Leis da Assembleia da República
 Leis reforçadas
o Leis de autorização
legislativa;
o Leis de bases;
o Leis orgânicas;
o Leis de
enquadramento;
o Leis estatutárias;
o Leis de revisão
constitucional;
o Leis reforçadas stricto
sensu (outras, desde
que se verifiquem os
termos do n.º3 do
artigo 112.º CRP).

 Leis de reserva relativa


 Leis de reserva absoluta
 Leis da Assembleia da
República em matéria
concorrencial
 Leis de transposição (do
Direito Comunitário)

 Decretos-lei
 Decretos-lei de
desenvolvimento
 Decretos-lei autorizados
 Decretos-lei em matéria
concorrencial
 Decretos-lei em reserva
absoluta (artigo 198.º, n.º2
CRP – “lei orgânica” do
Governo, relativa à sua
organização e funcionamento)
 Decretos-lei de transposição

 Decretos Legislativos Regionais: as


Assembleias Legislativas Regionais
gozam de poder legislativo em
matérias de interesse específicos
constantes dos Estatutos Político-
Administrativos, lidos de acordo
com a cláusula geral consagrada na
CRP.
 Em regra, só podem legislar
em matéria concorrencial;
 Considerem-se também os
decretos legislativos regionais
de desenvolvimento e os
autorizados (alínea b), n.º1 do
artigo 227.º CRP)

o Estabelecimento das regras sobre a validade, eficácia e


hierarquia das normas
 Princípio da paridade entre leis e decretos-lei (artigo
112.º CRP)
 Podem revogar-se entre si, ainda que não valha
em termos absolutos, por força da existência de
reservas da Assembleia da República:
o Reserva absoluta (artigos 161.º e 164.º
CRP) – o princípio enunciado não vale nas
matérias contidas nestes artigos, sob pena
de inconstitucionalidade do decreto-lei;
o Reserva relativa (artigo 165.º CRP) – o
princípio enunciado vale nestas matérias,
desde que o Governo legisle por via de lei
autorização legislativa.

 O princípio enunciado vale igualmente em


matérias concorrenciais, que não se encontram
previstas em nenhum dos artigos das reservas da
Assembleia da República, do Governo e das
Assembleias Legislativas Regionais;
 A interpretação da matéria abrangida pelas
reservas pode implicar fiscalização da
constitucionalidade, se se suscitarem dúvidas;
 Nos termos do artigo 169.º CRP, e por força do
facto de a Assembleia da República ser o órgão
legislativo par excellence, certos decretos-lei do
Governo podem ser sujeitos a apreciação
parlamentar.
 Princípio da obediência e do respeito por normas
complementares ou autorizadas, relativamente às leis
de base, leis de enquadramento e leis de autorização
(artigo 112.º, n.º3 CRP)
 Constituem leis de valor reforçado, aquelas que
preencham um dos requisitos a seguir
apresentados:
o Exigência de uma maioria qualificada de
2/3 dos deputados da AR;
o Sirvam de pressuposto normativo de
outras leis (leis de autorização e leis de
bases3) – regra da parametricidade

 Se houver desrespeito, por violação da relação


de subordinação que decorre deste princípio,
incorre-se numa situação de ilegalidade e de
inconstitucionalidade indirecta;
 Independentemente de uma lei ter ou não valor
reforçado, ela tem força de lei – posição de
primariedade em relação à Constituição.
 Toda a lei introduz uma inovação no
ordenamento jurídico, não podendo ser
alteradas ou revogadas por princípios
hierarquicamente inferiores.

 Princípio da hierarquia das normas

 Obediência dos decretos legislativos regionais aos


princípios das leis gerais da República (limitação do
poder das Assembleias Legislativas Regionais)

3
Não se integram as leis de enquadramento, na medida em que não são necessárias para o Governo
exercer a sua competência legislativa.
 Regulamentos pressupõem necessariamente uma lei
anterior que lhes sirva de fundamento (artigo 112.º,
n.º7 CRP)

 Artigo 112.º, n.º5 CRP


 Uma fonte de direito não pode criar uma fonte
de direito com igual ou superior valor ao seu.
Não pode, igualmente, dispor da sua força
jurídica, diminuindo-a ou aumentando-a;
 Afastam-se os “assentos” do Supremo Tribunal
de Justiça e os regulamentos interpretativos ou
modificativos da Lei (circulares na Administração
Pública, que interpretem autenticamente a Lei e
vinculem os tribunais).

o Identificação dos órgãos com competência normativa


 Constituem actos legislativos as Leis, os decretos-lei os
decretos legislativos regionais (artigo 227.º, n.º1,
alíneas a), b) e c) CRP);
 A noção de competência normativa abrange os actos
das autarquias locais no exercício do poder
regulamentar.

Você também pode gostar