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Conceito
Nós já vimos que as receitas públicas se classificam em originárias e derivadas e que, dentro
do grupo das receitas derivadas, se encontram os tributos, as multas e as reparações de guerra.
Entendendo também que, para a obtenção das receitas tributárias, surge um vinculo jurídico entre o
Estado (sujeito ativo) e o particular (sujeito passivo) com vistas ao cumprimento da prestação pecuniária
decorrente desta relação, fica fácil compreender o conceito de DIREITO TRIBUTÁRIO. Vejamos:
“Direito Tributário é ramo do Direito que tem por objeto regular as relações jurídicas
entre o Estado e os particulares no que diz respeito à obtenção das receitas derivadas classificadas
como tributos”.
Veja a seguir algumas definições oferecidas por ilustres doutrinadores pátrios:
Direito Tributário é o ramo do direito público que rege as relações
jurídicas entre o Estado e os particulares, decorrentes da atividade financeira do
Estado, no que se refere à obtenção de receitas que correspondam ao conceito de
tributos. (Rubens Gomes de Souza)
Direito Tributário é o sub-ramo do direito público que fixa os princípios
e normas que regem as relações entre o Estado e os particulares, no que toca à
atividade financeira daquele, tendo em vista a arrecadação de tributos. (Geraldo
Ataliba)
Direito Tributário é a disciplina da relação entre o Fisco e o
Contribuinte, resultante da imposição, arrecadação e fiscalização dos impostos, taxas
e contribuições. (Ruy Barbosa Nogueira)
Objeto do direito tributário
Do conceito dado de Direito Tributário, temos que é ele o ramo do Direito que tem por
objeto regular as relações jurídicas entre o Estado e os particulares no que diz respeito à obtenção das
receitas derivadas classificadas como tributos. Logo, constitui o seu objeto a relação jurídica tributária
que se estabelece entre o Fisco (Estado) e o sujeito passivo (particular), pela qual se torna possível a
exigência do tributo.
Natureza jurídica do direito tributário
Admitida é pela Doutrina a divisão do Direito em Público e Privado. Contudo, divergem
os autores quanto aos critérios distintivos entre uma ou outra dessas categorias.
Rubens Gomes de Souza 1 alinha três critérios de distinção entre o Direito Publico e o
Direito Privado:
o da pessoa titular do direito se o titular do direito regulado
por certa norma for um particular, a norma é de Direito Privado; se for o Estado,
ou alguma entidade governamental, cuidar-se-á norma de Direito Público.
o da natureza do interesse protegido se o interesse
protegido pela norma é individual, trata-se de norma de direito privado; se cuida
de proteger o interesse da coletividade, o domínio é do Direito Público.
o da natureza dos efeitos da norma se a norma é de caráter
compulsório, ou seja, se ela obriga ou proíbe, trata-se de dispositivo de Direito
Público; se é permissiva, isto é, se ela admite que se faça ou não alguma coisa,
cuida-se de norma de Direito Privado.
Todavia, é importante observar, como lembra Fábio Fanucchi 2, que nenhum dos três
critérios, por si só, é capaz de nos levar com segurança à correta classificação da norma jurídica em
norma de Direito Público ou de Direito Privado. Os três critérios utilizados em conjunto é que
funcionarão como indicativos seguros da correta classificação.
O Direito Tributário pertence ao Direito Público, pelo que se pode inferir pela aplicação
dos três critérios distintivos oferecidos pelo professor Rubens Gomes de Souza.
Por outro lado, o Direito Tributário se classifica dentro do Direito Obrigacional, que regula
a relação jurídica entre credor (sujeito ativo) e devedor (sujeito passivo), relação esta de caráter
transitório, a qual se extingue com a satisfação da respectiva prestação (objeto).
Por fim, dizemos que o Direito Tributário é direito comum, ou seja, não é direito especial
ou excepcional, como aqueles que se destinam a aplicação a grupos determinados de pessoas (Direito
Canônico) ou que servem para regular determinadas situações particulares (Direito Aeronáutico). É
direito comum, porque se aplica indistintamente a todas as pessoas.
Em síntese, temos que a natureza jurídica do Direito Tributário, nos é dada pelo fato de ser
ele público, obrigacional e comum.
Autonomia didática e científica
Discutida é a questão da autonomia dos sub-ramos do Direito, quer sob a ótica da
autonomia didática, quer sob a ótica da autonomia dita científica. No que respeita à primeira
classificação, é pacífico entre os autores que, do ponto de vista metodológico, o Direito Tributário
constitui uma disciplina autônoma.
Quanto à autonomia científica, a questão ganha enfoque ontológico e, inevitavelmente,
retoma-se o próprio conceito de ciência. Assim, em princípio, admite-se a existência de um grande
escopo de conhecimentos, com objeto e princípios próprios, com metodologia específica e critérios de
investigação e análise característicos, a que denominamos Ciências Jurídicas. É inevitável que, dentro
do contexto geral do conhecimento humano, tenhamos as Ciências Jurídicas como parte importantíssima
e, mesmo, indispensável, porém, quando se pretende classificar os diversos sub-ramos dessa ciência
como ciências autônomas é que aparecem as divergências.
No que respeita ao Direito Tributário, a maioria dos doutrinadores, tanto pátrios como
estrangeiros, têm-no tido com ramo cientificamente autônomo. A questão se torna mais clara quando se
tem a explicação que vem a ser “ramo cientificamente autônomo”.
Ruy Barbosa Nogueira3, explica que “a separação do Direito em ramos não corresponde à
distinção entre ciências, mas à de ramos de uma mesma Ciência. Ramos do Direito correspondem a uma
especificação ou subdivisão dentro da própria Ciência do Direito, para melhor elaboração e compreensão
das normas que devem regular relações fáticas especiais, por formas jurídicas também especiais”.
A autonomia, portanto, não significa independência, uma vez que os diversos ramos do
direito se inter-relacionam. Assim, cada parte ou ramo jurídico interage com o todo da unidade do
Direito, donde concluiremos tratar-se de autonomia relativa aquela a que denominamos autonomia
científica de determinado ramo das Ciências Jurídicas.
Ensinam os doutrinadores que a autonomia científica do Direito Tributário está fundada
essencialmente em dois aspectos: o estrutural e o dogmático. O primeiro diz respeito aos institutos
peculiares, que caracterizam certo ramo jurídico, de modo torná-lo, por força deles, distinguível dos
demais. O segundo, refere-se aos princípios e diretrizes que matizam de modo característico
determinado seguimento jurídico.
No Direito Tributário, podemos elencar, dentre outros, os seguintes institutos que lhe são
peculiares:
o da relação jurídica tributária (CTN, art. 113)
2 Curso de Direito Tributário Brasileiro, Vol. I, São Paulo, 4ª Edição, 10ª Tiragem, 1976, p. 4
3 Curso de Direito Tributário, 9ª Edição, Ed. Saraiva, 1989, p. 35
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Direito Privado o Direito Tributário busca nos ramos do Direito Privado diversos
elementos, a partir dos quais elabora a definição legal do fato gerador dos tributos (venda, sucessão,
propriedade, domínio, etc.), bem como os utiliza por empréstimo (solidariedade, prescrição, decadência,
etc.) para a definição de seus próprios institutos.
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Para satisfação completa de suas necessidades, ainda que num plano ideal, o homem
(indivíduo) reclama a existência de um ente coletivo (político) e impessoal, nascido, por assim dizer,
como imperativo do viver em sociedade. Este ente político – representação política da coletividade – a
que designamos por Estado, adquire personalidade e representa o poder superior a quem incumbe
estipular as regras de convívio social e o cumprimento de diversas atividades de interesse coletivo. Em
razão da sua natureza, o Estado passa a ser dotado de soberania em relação aos indivíduos, impondo-se
a regra de que “o interesse coletivo deve prevalecer sobre o interesse individual”.
Modernamente, o Estado tem assumido diversas funções, somente justificadas e
compreendidas historicamente, quais sejam as garantias sociais de segurança, educação, previdência e
assistência social, etc. A esse respeito merece citação o ilustre tributarista Aliomar Baleeiro1, quando
diz que “com o progresso da civilização acentua-se no Estado, além da função de órgão político
monopolizador do poder, o caráter de sistema orgânico de serviços públicos para satisfazer as
necessidades gerais da população”.
Naturalmente, para consecução de seus objetivos sociais, pelos quais o Estado se justifica,
são necessários recursos materiais, notadamente monetários, em quantidade suficiente. Estes recursos,
como veremos, o Estado pode obtê-los, ora oferecendo determinados serviços ou produtos, em
condições idênticas aos particulares, ora exigindo destes, na sua qualidade de poder soberano,
determinadas somas pecuniárias.
Assim, a ação estatal que dá suporte financeiro para que o Estado cumpra as suas
finalidades, se desenvolve em três campos: o da Receita Pública, o da Gestão e o da Despesa Pública.
Esta ação estatal denomina-se Atividade Financeira do Estado.
A Atividade Financeira do Estado compreende:
Receita Pública obtenção dos recursos financeiros junto aos particulares
Gestão administração dos recursos obtidos
Despesa Pública o emprego ou aplicação dos recursos obtidos
Walter Paldes Valério2 nos trás o seguinte conceito de atividade financeira do Estado: “o
conjunto de atos que o Ente Público pratica visando à obtenção, à administração e à aplicação dos
recursos monetários indispensáveis à consecução de seus fins”. (sublinhamos)
1 Uma Introdução à ciência das finanças, 6ª Edição, Rio de Janeiro, Ed. Forense, 1969, p. 16
2 Programa de Direito Tributário – Parte Geral , 11ª Edição, Porto Alegre, Ed. Sulina, 1993
3 Obra citada, p. 130.
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Receita Pública originária é a decorrente da exploração de bens pertencentes ao
patrimônio do Estado ou de empreendimentos por ele realizados. Para obtenção destas receitas, o Estado
se utiliza do jus gestiones (Direito de Gestão).
Receita Pública derivada é obtida pelo Estado por meio de sua soberania, a qual o
autoriza a exigir parte do patrimônio dos particulares como forma de manter as suas finalidade sociais.
Para obtenção destas receitas o Estado manifesta o seu jus imperii (Poder de império).
Como forma de se distinguir a receita originária da derivada, podemos observar que a
primeira decorre de um acordo de vontades entre o Estado e o particular, ao passo que na segunda
prevalece única e exclusivamente a vontade do Estado, este autorizado pelo mandamento legislativo,
independentemente da vontade do particular.
Outra característica distintiva é o fato de que na obtenção da receita originária o Estado
abre mão do seu jus imperii e se iguala aos particulares, enquanto que na obtenção da receita derivada
ele efetivamente exerce sua soberania e se coloca acima dos particulares, como poder soberano que é.
E ainda, semanticamente: originária, a receita parte daquilo que já pertence ao Estado (seu
próprio patrimônio - bens ou recursos); derivada, a receita parte daquilo que não pertence ao Estado
(patrimônio dos particulares).
A Receita Pública originária pode ser ainda subclassificada em patrimonial ou empresarial.
A primeira, quando o Estado vende bens de seu patrimônio ou em razão de contrato percebe seus frutos,
tais como aluguéis e arrendamentos de bens imóveis, e ainda, quando recebe juros de aplicações
financeiras de seus capitais. A segunda, quando proveniente dos lucros obtidos por empresas públicas,
em razão da venda de produtos ou serviços aos particulares.
A Receita Pública derivada se divide em:
tributos
reparações de guerras
penas pecuniária (multas)
Naturalmente, para a finalidade do nosso estudo, interessam-nos os tributos, cujo conceito
conheceremos mais adiante.
Uma outra classificação de receita pública, estabelecida com base no fato de que a atividade
financeira do Estado se traduz por um conflito entre o interesse público e o privado, é a do economista
norte-americano Edwin Seligman, citada pelo eminente tributarista Rubens Gomes de Souza4. Ei-la:
Receita Pública, segundo Seligman
Preços quase-privados constituem as receitas cobradas pelo Estado em atenção
à manifestação exclusiva do interesse dos particulares, sendo o interesse público é meramente
acidental.
Preços públicos constituem as receitas cobradas pelo Estado em atenção à
manifestação principal do interesse dos particulares, atendendo secundariamente à manifestação
do interesse público. São as chamadas tarifas públicas. Ex.: Correios, Tarifa telefônica, Celg,
etc.
Taxas constituem as receitas cobradas pelo Estado principalmente no interesse
público. O interesse do particular, embora existente é sobreposto pelo interesse coletivo. Ex.:
Pedágio, Taxa de lixo, etc.
Contribuições constituem as receitas cobradas pelo Estado
preponderantemente no interesse público, sendo que o interesse do particular está presente na
contrapartida ou benefício que determinada atividade estatal pode propiciar. Ex.: Contribuição
de Melhoria de Asfalto, etc.
Impostos constituem as receitas cobradas pelo Estado atenção à manifestação
exclusiva do interesse público. O interesse específico do particular não existe. Ex.: Imposto
sobre importação de bens, etc.
Comparando os conceitos emitidos por Seligman com os da classificação alemã, pode-se
perceber que os “preços quase-privados” e os “preços públicos” correspondem à modalidades de receitas
originárias, enquanto que as “taxas”, as “contribuições” e os “impostos” representam receitas derivadas.
CAPÍTULO 03 - TRIBUTO
Conceito geral
No conceito geral que nos é dado pelo Código Tributário Nacional (Art. 3º) temos que:
tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa
exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade
administrativa plenamente vinculada
Analisando didaticamente a disposição do CTN, podemos entender melhor a definição:
tributo é prestação pecuniária compulsória prestação é o ato pelo qual
alguém cumpre uma obrigação e, neste sentido, prestação pecuniária é aquela que
tem conteúdo monetário, ou seja, deve ser satisfeita em dinheiro. A
compulsoriedade é a característica principal das receitas derivadas, decorrentes
da imposição do poder soberano do Estado – significa que ninguém paga tributo
voluntariamente, mas em obediência ao mandamento impositivo emanado da Lei.
em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir significa que a prestação
deve ser cumprida em moeda corrente do país, todavia, admite-se também que
satisfação se faça por meio de algo equivalente, que tenha um valor que possa ser
expresso em moeda. É o caso do pagamento em cheque, títulos da dívida pública,
etc.
que não constitua sanção de ato ilícito o tributo não é penalidade, ou seja,
não tem como fato determinante da sua imposição a prática de um ato ilícito. O
que determina a cobrança do tributo é o fato gerador (um fato econômico ou de
conteúdo econômico) em si, sem levar em conta a licitude ou ilicitude de tal fato
instituída em lei todo tributo deve ser instituído em lei, em obediência ao
princípio constitucional da estrita legalidade. Na instituição do tributo a lei deve
definir o sujeito passivo e explicitar todos os elementos do fato gerador
e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada
significa que o lançamento (ato administrativo que vai quantificar e tornar
exigível a obrigação) deve ser efetuado em total observância à determinação
legal, ou, no dizer de Fábio Fanucchi é o ato “plenamente vinculado aos ditames
da lei, não podendo se afastar das determinação nela expressas”, sob pena de
responsabilidade funcional.
Segundo o artigo 5º do CTN os tributos são os impostos, as taxas e as Contribuições de
Melhoria. A essa classificação tradicional, devem-se acrescentar, por força do disposto nos artigos 148
e 149 da Constituição federal, os empréstimos compulsórios (Art. 148) e as Contribuições Especiais
(Art. 149).
Diante das várias espécies enumeradas, prescreve o CTN que:
1 O § 2º do Art. 145 da Constituição Federal estabelece que “as taxas não poderão ter base de cálculo própria de impostos”. Como a taxa é um
tributo vinculado a uma contraprestação estatal, se esta contraprestação não existir, não se pode falar em taxa, mas sim em imposto, que é o
tributo cobrado independentemente de qualquer atuação estatal específica em favor do contribuinte. Assim, se o Poder Público apelidar um certo
tributo de taxa, mas não existir contraprestação estatal, trata-se de imposto. Se tal tributo tiver base de cálculo igual a de um outro imposto, será,
portanto, inconstitucional.
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81 do CTN, é necessário que da obra pública decorra valorização imobiliária para os contribuintes do
imposto.
Assim, na definição do CTN, Contribuição de Melhoria é o tributo instituído para fazer
face ao custo de obras públicas de que decorra valorização imobiliária, tendo como limite total a despesa
realizada e como limite individual o acréscimo de valor que da obra resultar para cada imóvel
beneficiado.
O art. 82 do CTN estabelece que “a lei relativa à contribuição de melhoria observará os
seguintes requisitos mínimos:
publicação prévia dos seguintes elementos:
a) memorial descritivo do projeto
b) orçamento do custo da obra
c) determinação da parcela do custo da obra a ser financiada pela
contribuição
d) delimitação da zona beneficiada
e) determinação do fator de absorção do benefício da valorização
para toda a zona ou para cada uma das áreas diferenciadas, nela contidas
fixação de prazo não inferior a 30 (trinta) dias, para
impugnação, pelos interessados, de qualquer dos elementos publicados;
regulamentação do processo administrativo de instrução e
julgamento da impugnação, sem prejuízo da sua apreciação judicial.
Além disso, a contribuição relativa a cada imóvel será determinada pelo rateio do valor da
parcela do custo da obra (inciso I, alínea “c”) para os imóveis situados na zona beneficiada,
proporcionalmente aos respectivos fatores individuais de valorização. Naturalmente, deve-se observar
o limite individual para cada imóvel beneficiado, correspondente ao acréscimo de valor (valorização)
propiciado pela obra. Além disso, como já foi dito, o total das contribuições arrecadadas não pode ser
superior ao custo da obra (limite total).
Por ocasião lançamento do tributo, cada contribuinte deverá ser notificado do montante da
contribuição, da forma e dos prazos de seu pagamento e dos elementos que integraram o respectivo
cálculo.
EMPRÉSTIMOS COMPULSÓRIOS
Empréstimos Compulsórios 2 são tributos instituídos pela União, mediante lei
complementar:
a) para atender a despesas extraordinárias, decorrentes de
calamidade pública, de guerra externa ou sua iminência; (Empréstimo
Compulsório Extraordinário)3
b) no caso de investimento público de caráter urgente e de
relevante interesse nacional. (Empréstimo Compulsório Ordinário)
Dispõe o parágrafo único do art. 15 do CTN que “a lei fixará obrigatoriamente o prazo do
empréstimo e as condições de seu resgate”.
CONTRIBUIÇÕES ESPECIAIS
Contribuições Especiais são tributos que se caracterizam pelo fato de o produto de sua
arrecadação encontrar-se vinculada, via de regra, a alguma autarquia federal ou mesmo a entes não
estatais, os quais recebem a autorização4 para arrecadá-las, destinando-se a fazer face a despesas
paralelas da administração pública direta, ou seja, que não integram do orçamento da União. Por
2 A aplicação dos recursos provenientes de empréstimo compulsório será vinculada à despesa que fundamentou sua instituição.
3 O Empréstimo Compulsório Extraordinário não está sujeito ao princípio da Anterioridade da Lei de que trata o Art. 155, inc. III, “b” da CF.
4 Não confundir autorização para arrecadação com delegação de competência tributária, inexistente no Sistema Tributário Nacional. O § 3º do art.
7º do CTN prevê que “não constitui delegação de competência o cometimento, a pessoas de direito privado, do encargo ou da função de arrecadar
tributos”.
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conseqüência, estas receitas são geridas diretamente pelo órgão que as arrecada, donde alguns estudiosos
chamá-las de Contribuições Parafiscais. Contudo, o termo Contribuições Especiais é, atualmente, o mais
apropriado haja vista que, devido as modificações que lhes foram introduzidas no curso dos anos, resta
hoje que alguma delas, como o PIS e COFINS são arrecadadas e geridas diretamente pela União.
A Constituição Federal estabeleceu seis grupos de Contribuições Especiais 5, a saber:
Contribuições Sociais de Intervenção no Domínio
Econômico Ex.: antigas contribuições do IAA e do IBC, Contribuição do
DNC - Departamento Nacional de Combustíveis, paga pelo distribuidores e
Postos de Combustíveis, Contribuição da Compensação Financeira pela
Exploração de Recursos Minerais – CFEM, devida ao Departamento Nacional de
Produção Mineral – DNPM pelas empresas de mineração, etc.
Contribuições Sociais de Interesse de Categorias
Profissionais Ex.: OAB, CRM, CRC, Contribuição Sindical, etc.
Contribuições Sociais de Interesse de Categorias
Econômicas Ex.: SESI, SESC, SEBRAE, etc.
Contribuições da Seguridade Social Ex.: INSS, PIS,
COFINS, FGTS, Contribuição Social sobre o Lucro, etc.
Contribuição Previdenciária dos Servidores Públicos
Ex.: IPASGO, FUMASF, etc.
Contribuição Social do Salário-Educação destinada ao
ensino fundamental público, como fonte adicional de financiamento e recolhida
pelas empresas, na forma da lei.
CLASSIFICAÇÃO DOS TRIBUTOS
Os tributos, segundo a natureza do fato gerador que lhes corresponde, podem ser
classificados em “vinculados ou dependentes de contraprestação estatal” e “não vinculados ou
independentes de contraprestação estatal”.
Os tributos vinculados são aqueles cuja exigência encontra-se subordinada a uma
determinada atividade do poder público em relação à pessoa obrigada ao seu pagamento. Tem-se assim,
a chamada contraprestação do Estado, ou seja, ou razão do próprio fato gerador do tributo, como
contrapartida do seu pagamento, o contribuinte recebe em troca um serviço ou, de algum modo, obtém
uma vantagem pessoal e específica. É o caso das taxas e das Contribuições de Melhoria.
Os tributos não vinculados são aqueles que, para a sua cobrança, não se exige nenhuma
contraprestação estatal específica relativa ao contribuinte. É o caso típico dos impostos. Por exemplo,
se alguém detém a propriedade de um bem imóvel está sujeito ao pagamento do IPTU, porém, em
decorrência disso não pode reclamar nenhum benefício específico em favor da sua propriedade.
OBS.: As Contribuições Especiais, em princípio, classificam-se como tributos vinculados,
todavia, em alguns casos possuem fato gerador que as caracterizam como impostos 6 e, nestas hipóteses,
devem ser consideradas como tributos não vinculados. Já os empréstimos compulsórios, que
estudaremos mais adiante, tanto podem ser enquadrar numa como noutra categoria, a depender do
enunciado do seu fato gerador, pois, como veremos, o Legislador é que definirá, nos casos previstos na
Constituição Federal, a forma de imposição deste tributo.
Outra classificação admitida para os tributos é a que toma por critério os fins objetivados
com a sua imposição, separando-os em fiscais, parafiscais e extrafiscais. Vejamos:
Fiscais são aqueles cuja cobrança visa essencialmente a arrecadação de recursos
financeiros para os cofres públicos, sem uma preocupação maior de caráter social, econômico, político,
7 Esta classificação de tributos não têm um caráter demarcatório absoluto. Assim é possível que determinado tributo de natureza fiscal venha a ser
utilizado, por ora, com efeitos extrafiscais. Porém isto não é suficiente para que se mude a sua classificação (pois esta visa destacar a finalidade
predominante na cobrança). Situação ilustrativa é a do IPI – tributo predominantemente fiscal (segundo em arrecadação federal) e que tem sido
utilizado para reforçar o controle a balança econômica, atuando ao lado do II e do IE. Situação semelhante acontece com o ICMS, que tributa de
modo brando alguns produtos da cesta básica (interesse social), mas o que não lhe retira a característica de um tributo predominantemente fiscal.
A respeito desta matéria diz Hugo de Brito Machado, in obra citada, pp. 231 e 259, “parece assim, incontestável a predominância no IPI, da função
fiscal...” e “O ICMS é tributo de função predominantemente fiscal (...) tem sido, todavia, utilizado também com função extrafiscal...”.
8 O § 1º do art. 156 da CF, estabeleceu que o imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana poderá ser progressivo, nos termos de lei
municipal, de forma a assegurar o cumprimento da função social da propriedade. Confira o dispositivo constitucional, na pág. 147.
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Segundo o critério do atendimento às condições pessoais do contribuinte os impostos se
classificam-se em reais e pessoais.
reais são aqueles que não levam em consideração as condições peculiares a cada
contribuinte, incidindo, por igual, em face do objeto ou coisa tributável (res tributável).
pessoais são aqueles que, relevando as condições pessoais de cada contribuinte,
estabelece critérios e distinções que acabam por produzir um resultado capaz de refletir as peculiaridades
de cada um dos obrigados. Ex.: IR pessoa física e jurídica.
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Sistema é o conjunto ordenado de elementos que mantém relação entre si, objetivando a
harmonia do “todo”. Assim, em um sistema, as partes se interagem de tal modo que a alteração ou
modificação em uma delas, provoca uma repercussão relativa no todo.
Segundo Paulo de Barros Carvalho1 “o sistema do direito oferece uma particularidade digna
de registro: suas normas estão dispostas numa estrutura hierarquizada, regida pela fundamentação ou
derivação, que se opera tanto no aspecto material quanto no formal ou processual, o que lhe imprime
possibilidade dinâmica, regulando, ele próprio, sua criação e suas transformações. Examinando o
sistema de baixo para cima, cada unidade normativa se encontra fundada, material e formalmente, em
normas superiores. Invertendo-se o prisma de observação, verifica-se que das regras superiores derivam,
material e formalmente, regras de menor hierarquia”.
Podemos definir o Sistema Tributário como o conjunto de regras jurídicas, relativas à
instituição, regulamentação e cobrança de tributos, que se acham dispostas e se relacionam segundo a
orientação dos chamados princípios gerais do Direito Tributário.
No capítulo da Constituição reservado para o Sistema Tributário Nacional, constam seis
seções que cuidam respectivamente “dos princípios gerais”, “das limitações do poder de tributar”, “dos
impostos da união”, “dos impostos dos estados e do distrito federal”, “dos impostos dos municípios” e
“da repartição das receitas tributárias”.
4 Obra citada, p. 39
5 Em alguns casos excepcionais a constituição prevê a instituição de tributos por Lei Complementar. Veja, na pág. 24, neste capítulo.
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Lei Complementar a que alude este dispositivo constitucional é conferido ao CTN (Código Tributário
Nacional), isto porque, por força do estabelecido no Ato Complementar n.º 36, de 13 de março de 1967,
o nosso diploma tributário nacional foi guindado à categoria de Lei Complementar, embora
originariamente tenha sido editado como Lei Ordinária. Além disso, por ocasião da promulgação da
Constituição de 1988 foi adotada a chamada “Teoria da Recepção” (art. § 5º do art. 34 do ADCT 6) pela
qual a legislação tributária anterior é plenamente aplicável, naquilo que não for incompatível com novo
Sistema Tributário Nacional e com a nova legislação criada a partir do novo STN
Ainda em atenção ao princípio da legalidade é necessário fazer referência ao art. 97 do
CTN, que disciplina a utilização da Lei em matéria tributária. Ei-lo, com adaptações 7:
Art. 97. Somente a lei pode estabelecer:
I - a instituição de tributos, ou a sua extinção;
II - a majoração ou redução de tributos (exceto com relação ao II, IE, IPI e IOF);
III - a definição do fato gerador da obrigação tributária principal e do sujeito passivo;
IV - a fixação da alíquota e sua base de cálculo do tributo (exceto com relação ao II, IE,
IPI e IOF);
V - a cominação de penalidades;
VI - as hipóteses de exclusão, suspensão e extinção de crédito tributários, ou de dispensa
ou redução de penalidades.
É importante ressaltar que equipara-se à majoração do tributo a modificação de sua base
de cálculo, que importe em torná-lo mais oneroso, porém não constitui majoração de tributo, a
atualização do valor monetário da respectiva base de cálculo.
Nos termos da Constituição Federal, é exigida a utilização de Lei Complementar para
instituir os seguintes tributos:
a) Empréstimos Compulsórios (Art. 148)
b) Impostos da Competência Residual (Art. 154, I)
c) Novas Contribuições da Seguridade Social (Art. 195, § 4º)
Todos os demais tributos previstos na Constituição serão instituídos por meio de Lei
Ordinária.
As medidas provisórias poderão ser utilizadas para instituir ou aumentar tributos, desde
que observados os requisitos de “relevância e urgência” previstos no art. 62 da Constituição. A esse
respeito, é bastante ilustrativo o ensinamento do professor Hugo de Brito Machado 8, que disse:
“Há quem sustente ser inadmissível a criação de tributo por meio de medida provisória.
Ocorre que o art. 62 da Constituição Federal de 1988 não especificou as matérias a respeito das quais
podem ser adotadas tais medidas. Assim, elas podem ser adotadas, em princípio, no trato de qualquer
matéria.
A verdadeira questão não é pertinente à matéria de que trata a medida provisória, mas à
presença, ou não, de seus pressupostos, a saber, a relevância e a urgência. Desde que presentes tais
pressupostos, qualquer matéria pode ser objeto dessas medidas provisórias.”
PRINCÍPIO DA IGUALDADE OU ISONOMIA
Este princípio é apresentado no art. 150, II, da CF. A redação do dispositivo constitucional
é a seguinte:
Art. 150 - Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União,
aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
.........................................................................
Observa-se que fica autorizada a cobrança de pedágio pela utilização de vias conservadas
pelo Poder Público.
Este princípio está em consonância com o princípio geral do “direito de ir e vir”,
estabelecido no art. 5, XV – “é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo
qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens”.
PRINCÍPIO DA UNIFORMIDADE GEOGRÁFICA
Este princípio, previsto no art. 151, I, da CF, estabelece o tratamento uniforme a ser adotado
pela União em relação à tributação que exerce em todo o território nacional. É, portanto, uma decorrência
do princípio federativo, que rechaça o tratamento desigual das unidades da federação.
Art. 151 - É vedado à União:
I - instituir tributo que não seja uniforme em todo o território nacional ou que implique
distinção ou preferência em relação a Estado, ao Distrito Federal ou a Município, em
detrimento de outro, admitida a concessão de incentivos fiscais destinados a promover o
equilíbrio do desenvolvimento sócio-econômico entre as diferentes regiões do País.
O princípio, todavia, ressalva “a concessão de incentivos fiscais destinados a promover o
equilíbrio do desenvolvimento sócio-econômico entre as diferentes regiões do País”,
PRINCÍPIO DA LIMITAÇÃO DA TRIBUTAÇÃO DA RENDA
Dirigido ao Imposto de Renda, este principio vem estabelecer uma limitação ao poder de
tributar da União. Veja, o que dispõe o art. 151, II, verbis:
Art. 151 - É vedado à União:
.........................................................................
II - tributar a renda das obrigações da dívida pública dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios, bem como a remuneração e os proventos dos respectivos agentes públicos,
em níveis superiores aos que fixar para suas obrigações e para seus agentes.
Assim, quando os Estados, o Distrito Federal e os Municípios se utilizam do lançamento
de títulos públicos para financiar suas dívidas, estes títulos passam a oferecer a seus investidores uma
remuneração (renda). A União também faz uso dos chamados “títulos da dívida pública” para refinanciar
o seu passivo e, por esta, razão não pode tributar a renda dos títulos estaduais e municipais em níveis
superiores aos que fixar para os seus próprios títulos. Por outro lado o imposto de renda também
incidente sobre os proventos dos agentes públicos 10 (servidores) dos Estados, Distrito Federal e
Municípios não pode ser exigido em níveis superiores ao que a União adotar para cobrar de seus agentes.
PRINCÍPIO DA VEDAÇÃO ÀS ISENÇÕES HETERÔNOMAS
Proíbe à União que concede isenções de tributos que estão fora da sua competência.
Previsão do art. 151, III. Vejamos:
Art. 151 - É vedado à União:
.........................................................................
III - instituir isenções de tributos da competência dos Estados, do Distrito Federal ou dos
Municípios.
As isenções, em regra, são concedidas pelo próprio ente federativo que tem o poder de
tributar, por isso, dizemos que são “autônomas”. O contrário são as chamadas isenções heterônomas, ou
seja, concedidas por outro poder tributante. Pela Constituição anterior, a União podia conceder isenções
de impostos estaduais e municipais (heterônomas). Isso hoje não é mais permitido por força do
“princípio da vedação às isenções heterônomas”, porém, a própria constituição estabeleceu duas
10 Os agentes públicos são divididos em “agentes políticos” e “agentes administrativos”. Os primeiros não são servidores e têm plena liberdade
funcional: os detentores de mandato eletivo, os auxiliares imediatos do chefe do poder executivo (secretários, ministros), os magistrados; os
membros do ministério público; do tribunais de contas, etc. Os segundos, são aqueles que se sujeitam à hierarquia funcional: servidores públicos
concursados, servidores em cargos de comissão, servidores temporários, etc.
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exceções, a primeira em relação ao ICMS (art. 155, 2º, XII) e a segunda em relação ao ISS (art. 156, §
3º, II). Vejamos:
Art. 155 - ...
§ 2º - O ICMS atenderá ao seguinte:
.........................................................................
XII - cabe à lei complementar:
.........................................................................
e) excluir da incidência do imposto, nas exportações para o exterior, serviços e outros
produtos além dos mencionados no inciso X, a
Essa imunidade subjetiva alcança os impostos que incidam sobre patrimônio, renda ou
serviços dos entes federativos, reciprocamente. Os impostos sobre o patrimônio, renda ou serviços,
enumerados na Constituição são os seguintes:
imposto de renda (IR)
imposto sobre a propriedade territorial rural (ITR)
imposto sobre grandes fortunas (IGF)
imposto sobre transmissão causa mortis e doação de quaisquer bens e direitos
(ITCD)
imposto sobre a propriedade de veículos automotores (IPVA)
propriedade predial e territorial urbana (IPTU)
imposto sobre transmissão inter vivos de bens imóveis (ISTI)
imposto sobre serviços de qualquer natureza (ISS)
A imunidade é extensiva às autarquias e às fundações instituídas e mantidas pelo Poder
Público, no que se refere:
1. ao patrimônio, à renda e aos serviços, vinculados a suas finalidades essenciais.
2. ao patrimônio, à renda e aos serviços, vinculados a outras finalidades decorrentes de
suas finalidades essenciais.
Porém, a imunidade recíproca:
não se aplica ao patrimônio, à renda e aos serviços
a) relacionados com exploração de atividades econômicas regidas pelas normas
aplicáveis a empreendimentos privados, ou
b) relacionados com exploração de atividades econômicas em que haja
contraprestação ou pagamento de preços ou tarifas pelo usuário
não exonera o promitente comprador da obrigação de pagar imposto relativamente ao
bem imóvel adquirido.
IMUNIDADE DOS TEMPLOS DE QUALQUER CULTO – é a imunidade prevista no
inciso VI, “b” do art. 150, da CF – “é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios
instituir impostos sobre templos de qualquer culto”.
A imunidade é subjetiva e alcança não apenas o edifício onde se realiza o ofício religioso
(templo), mas também o próprio culto e os bens que estejam a serviço do culto.
Nos termos do § 4º do art. 150, da CF, a imunidade dos templos religiosos “compreende
somente o patrimônio, a renda e os serviços relacionados com as finalidades essenciais” das entidades
religiosas. Assim, ensina-nos Kiyoshi Harada11, “A Constituição Federal de 1988 só coloca sob a
proteção da imunidade o patrimônio, a renda e os serviços, relacionados com as atividades essenciais
dos templos (§ 4º do art. 150). Não estende o benefício às atividades decorrentes de finalidades
essenciais, como ocorre na hipótese de imunidade recíproca. Isto quer dizer que determinado prédio de
propriedade de uma igreja, que não esteja sendo utilizado para fins religiosos, sujeita-se, por exemplo,
à incidência do IPTU, não importando saber se o produto do aluguel desse prédio está ou não sendo
aplicado na consecução de finalidade religiosa.”
IMUNIDADE DAS INSTITUIÇÕES SEM FINS LUCRATIVOS – é a imunidade
prevista no inciso VI, “c” do art. 150 da CF – “é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos
Municípios instituir impostos sobre patrimônio, renda ou serviços dos partidos políticos, inclusive suas
fundações, das entidades sindicais dos trabalhadores, das instituições de educação e de assistência social,
sem fins lucrativos, atendidos os requisitos da lei”
A imunidade subjetiva aqui estudada protege diversas pessoas ou instituições. São os
seguintes as pessoas imunes à incidência de impostos sobre patrimônio, renda ou serviços, de que trata
a alínea “c” do inciso VI do art. 150 da CF:
partidos políticos
fundações dos partidos políticos
energia elétrica
ICMS São os únicos serviços de telecomunicações
Imposto de Importação impostos que derivados de petróleo
Imposto de Exportação incidem sobre combustíveis
minerais do País
A Constituição estabelece, ainda, como critério geral relativo a impostos, o princípio da não-
vinculação da receita previsto no art. 167, IV, segundo o qual “é vedada a vinculação da receita de
impostos a órgão, fundo ou despesa”, excetuadas a repartição do produto de arrecadação de impostos,
a destinação de recursos para a manutenção e desenvolvimento do ensino, como determinado pelo art.
212, a prestação de garantias às operações de crédito por antecipação de receita. Este princípio ficou
12Os favores fiscais ou financeiro-fiscais do ICMS, previstos na Lei Complementar n.º 24/75, compreendem: isenções; redução da base de cálculo;
devolução total ou parcial, direta ou indireta, condicionada ou não, do tributo; concessão de créditos presumidos; quaisquer outros incentivos ou
favores dos quais resulte redução ou eliminação, direta ou indireta, do respectivo ônus.
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ressalvado, ainda, com o disposto no § 4º do mesmo artigo, que estabeleceu que “é permitida a
vinculação de receitas próprias geradas pelos impostos Estaduais e Municipais, para a prestação de
garantia
DIEITO TRIBUTÁRIO I – JUR3411
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Duas são as fontes do Direito: as fontes reais (ou materiais) e as fontes formais (imateriais). Em termos
genéricos “fonte” vem significar a origem, o nascedouro, o lugar donde flui ou surge alguma coisa. A conceituação jurídica de
fonte assemelha-se a isso, representando a origem essencial do Direito na sociedade humana. O conjunto de fatos reais,
extraídos das relações entre os homens, nos proporciona aquilo que chamamos de fontes materiais. O conjunto de princípios
e normas (escritas ou não) aplicáveis à realidade prática nos oferece aquilo que denominamos fontes formais.
No Direito Tributário, as fontes materiais nos sãos dadas pelos fatos econômicos (venda, compra, importação,
exportação, transmissão de propriedade de bens, etc.) escolhidos para servir de base para a cobrança de Tributos. No dizer
de Ruy Barbosa Nogueira1, “as fontes reais se constituem dos suportes fáticos das imposições tributárias”.
As fontes formais nos sãos dadas pelo conjunto das normas escritas e não escritas, a saber: a Lei (latu sensu)
e os costumes. Recorrendo novamente à sabedoria de Ruy Barbosa Nogueira, op. cit., dizemos que as fontes formais são os
modos de exteriorização do Direito, pelos quais o Direito cria corpo e nasce para o mundo jurídico.
O artigo 96 do CTN sintetiza as fontes formais ao conceituar a expressão legislação tributária. Eis o dispositivo
legal, in verbis:
1
DIEITO TRIBUTÁRIO I – JUR3411
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CONSTITUIÇÃO
A constituição contém os princípios de todo o ordenamento jurídico pátrio, constituindo a principal fonte do
Direito. Em relação ao Direito Tributário, é ela o repositório de normas que limitam o poder de tributar, além de outras garantias
asseguradas ao contribuinte, bem como estabelece a discriminação de rendas, separando as competências dos entes
federativos. Tal é a sua importância que há quem fale na existência do Direito Constitucional Tributário.
EMENDAS À CONSTITUIÇÃO
As emendas à constituição, que não se confundem com a própria Constituição, pela limitação a que estão
sujeitas, na medida em que podem alterar disposições relativas à matéria tributária, constituem uma importante fonte do
Direito Tributário. A constituição poderá ser emendada mediante proposta de um terço, no mínimo, dos membros da Câmara
dos Deputados ou do Senado Federal e, ainda, mediante proposta do Presidente da República ou de mais da metade das
Assembléias Legislativas da unidade da Federação, manifestando-se, cada uma delas, pela maioria de seus membros.
Porém, não poderá ser emendada na vigência de intervenção federal, de estado de defesa ou de estado de sítio.
A proposta será discutida e votada em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, considerando-se
aprovada se obtiver, em ambos, três quintos dos votos dos respectivos membros e a Emenda será promulgada pelas Mesas
da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, com o respectivo número de ordem.
Limitada, como já afirmamos, a Emenda à Constituição não poderá abolir a forma federativa de Estado, o voto
direto, secreto, universal e periódico, a separação dos Poderes, nem os direitos e garantias individuais.
LEIS COMPLEMENTARES
A Constituição Federal, norma-síntese por excelência, previu a edição de “leis complementares” ao seu próprio
texto. As Leis Complementares, quando não lhes é dada uma função específica (especialíssima), caracterizam por se
colocarem hierarquicamente acima das leis ordinárias da União, dos Estados e dos Municípios. Por esta razão são designadas
por “lex legum” (Leis sobre Leis) com alcance em todo o território nacional. As leis complementares serão aprovadas por
maioria absoluta de votos nas duas casas do Congresso Nacional.
No campo tributário, grande é a influência desse tipo de norma jurídica. Vejamos:
Cabe à lei complementar:
dispor sobre conflitos de competência, em matéria tributária, entre a União,
os Estados, o Distrito Federal e os Municípios;
regular as limitações constitucionais ao poder de tributar;
estabelecer normas gerais em matéria de legislação tributária,
especialmente sobre:
a) definição de tributos e de suas espécies, bem como, em relação aos impostos
discriminados nesta Constituição, a dos respectivos fatos geradores, bases de cálculo e contribuintes;
b) obrigação, lançamento, crédito, prescrição e decadência tributários;
c) adequado tratamento tributário ao ato cooperativo praticado pelas sociedades
cooperativas. (Art. 146, CF)
Alguns tributos de competência da União necessitam de Lei Complementar para sua instituição. Vejamos:
A União poderá instituir mediante lei complementar, impostos não previstos em sua competência originária
(art. 153, CF), desde que sejam não-cumulativos e não tenham fato gerador ou base de cálculo próprios dos discriminados
nesta Constituição. (Art. 154, , CF)
A União, mediante lei complementar, poderá instituir empréstimos compulsórios:
para atender a despesas extraordinárias, decorrentes de calamidade
pública, de guerra externa ou sua iminência;
no caso de investimento público de caráter urgente e de relevante interesse
nacional, observado o disposto no art. 150, III, b. (Art. 148, CF)
O imposto sobre grandes fortunas (Art. 153, VII, CF) requer a prévia definição, nos termos de lei
complementar, do que venha a ser “grandes fortunas”.
O imposto de transmissão causa mortis e doação, de quaisquer bens ou direitos terá a competência para sua
instituição regulada por lei complementar “se o doador tiver domicílio ou residência no exterior” ou “se o de cujus possuía
bens no exterior, era residente ou domiciliado no exterior ou teve o seu inventário processado em outro país”
Em relação ao ICMS cabe à lei complementar:
definir seus contribuintes;
dispor sobre substituição tributária;
2
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disciplinar o regime de compensação do imposto;
fixar, para efeito de sua cobrança e definição do estabelecimento
responsável, o local das operações relativas à circulação de mercadorias e das prestações de
serviços;
excluir da incidência do imposto, nas exportações para o exterior, serviços e
outros produtos (além dos produtos industrializados, que são imunes)
prever casos de manutenção de crédito, relativamente à remessa para outro
Estado e exportação para o exterior, de serviços e de mercadorias;
regular a forma como, mediante deliberação dos Estados e do Distrito
Federal, isenções, incentivos e benefícios fiscais serão concedidos e revogados
Ainda em relação ao ICMS, há ainda uma hipótese de não incidência, cuja definição coube à Lei
complementar. Segundo o § 2º, XX, “a” do Art. 155 da CF, “o ICMS não incidirá sobre operações que destinem ao exterior
produtos industrializados, excluídos os semi-elaborados definidos em lei complementar”. Este papel coube à Lei
Complementar nº 65/91.
Os serviços de qualquer natureza, tributados pelo ISS, não compreendidos na competência tributária do ICMS
(transportes interestaduais e intermunicipais e comunicações), serão definidos em lei complementar.
Ainda em relação ao ISS, cabe à lei complementar:
fixar as suas alíquotas máximas;
excluir da sua incidência exportações de serviços para o exterior
Por fim, cabe à lei complementar definir valor adicionado nas operações relativas à circulação de mercadorias
e nas prestações de serviços, realizadas em seus territórios, para fins da repartição de receita do ICMS aos municípios, bem
como estabelecer normas sobre a entrega dos recursos de que trata o art. 159 da CF, especialmente sobre os critérios de
rateio dos fundos previstos em seu inciso I, objetivando promover o equilíbrio sócio-econômico entre Estados e entre
Municípios e, ainda, dispor sobre o acompanhamento, pelos beneficiários, do cálculo das quotas e da liberação das
participações previstas nos arts. 157, 158 e 159 da Constituição.
LEIS ORDINÁRIAS
Leis ordinárias são as leis propriamente ditas (sem adjetivos), “aquelas que o Poder Legislativo elabora no
exercício normal de sua atividade”3. São elaboradas pelo Congresso Nacional. Assembleias Legislativa e Câmaras Municipais.
Somente a lei pode estabelecer4:
a instituição de tributos, ou a sua extinção
a majoração ou redução de tributos (exceto com relação ao II, IE, IPI e IOF
5)
LEIS DELEGADAS
As Leis Delegadas são leis elaboradas pelo Presidente da República, que deverá solicitar a delegação ao
Congresso Nacional. Neste caso, a Lei delegada deve restringir-se à matéria que foi objeto da delegação, que, em suma,
corresponde a uma transferência de competência legislativa. Não serão objeto de delegação, porém, os atos de competência
exclusiva do Congresso Nacional, os de competência privativa da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal, a matéria
reservada à lei complementar, nem à legislação sobre organização do Poder Judiciário e do ministério Público, nacionalidade,
cidadania, direitos individuais, políticos e eleitorais, e sobre planos plurianuais, diretrizes orçamentárias e orçamentos.
A delegação ao Presidente da República é feita por meio de Resolução do Congresso Nacional, a qual deverá
especificar a matéria e as condições da delegação.
3
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RESOLUÇÕES
Resolução são deliberações tomadas por uma das casas do Congresso Nacional ou, em certos casos, pelo
próprio Congresso. Em Direito tributário assumem importância as Resoluções do Senado Federal, uma vez que a Constituição
lhes atribui função específica em alguns casos. É o que ocorre na fixação das alíquotas aplicáveis às operações e prestações,
interestaduais e de exportação do ICMS (art. 155, § 2º, IV, CF)
OS DECRETOS LEGISLATIVOS
Os decretos legislativos são deliberações do Poder Legislativo, que independem de sanção do Poder
Executivo. Refletem, portanto, a autonomia administrativa conferida ao Poder Legislativo e servem para disciplinar suas
próprias atividades, sua organização, seu quadro de funcionários, burocracia interna, etc. Em atenção ao disposto no art. 49,
I, da CF, os decretos legislativos são utilizados para a ratificação dos tratados e convenções internacionais celebrados com
outros países.
MEDIDAS PROVISÓRIAS
Tais medidas são atos provisórios que podem ser editados pelo Presidente da República, em caso de
relevância e urgência, e que têm força de lei. As MP’s devem ser submetidas de imediato ao Congresso Nacional, que,
estando em recesso, será convocado extraordinariamente para se reunir no prazo de cinco dias. As medidas provisórias
perderão eficácia, desde a edição, se não forem convertidas em lei no prazo de trinta dias, a partir de sua publicação. Após o
encaminhamento de uma MP para o Congresso, este poderá aprová-la, convertendo-a em lei ou rejeitá-la, hipótese em que
perderá a eficácia, desde a edição (ex tunc). A MP que não for apreciada no prazo de trinta dias também perde a eficácia,
porém, pode ser re-editada novamente.
DECRETOS
Os decretos são normas jurídicas baixadas pelo do Chefe do Poder Executivo. Podem ser chamados ainda
de Decretos Regulamentares ou Regulamentos. Segundo o art. 99 do CTN “o conteúdo e o alcance dos decretos restringem-
se aos das leis em função das quais sejam expedidos, determinados com observância das regras de interpretação
estabelecidas nesta Lei”. Fica claro que com a edição de um Decreto Regulamentar o Poder Executivo não pode ir além da
matéria delimitada pela Lei, em obediência ao princípio da hierarquia das normas. Isso não significa que o Decreto não possa
ou não deva tratar de pormenores e detalhes necessários à aplicação da Lei em função da qual é editado.
NORMAS COMPLEMENTARES
Normas Complementares são normas inferiores, de caráter acessório ou complementar em relação às leis,
tratados e convenções internacionais e decretos. As normas complementares compõem a categoria das chamadas fontes
formais secundárias e servem para “completar” o texto das normas que integram o grupo das fontes formais principais. Em
razão do princípio da hierarquia, as normas complementares devem observar as regras e preceitos emitidos nos Decretos.
Do ponto de vista administrativo, observa-se que as normas complementares são expedidas por autoridades hierarquicamente
subordinadas ao Chefe do Poder Executivo.
São as seguintes as normas complementares:
os atos normativos expedidos pelas autoridades administrativas;
as decisões dos órgãos singulares ou coletivos de jurisdição administrativa,
a que a lei atribua eficácia normativa;
as práticas reiteradamente observadas pelas autoridades administrativas;
os convênios que entre si celebram a União, os Estados, o Distrito Federal e
os Municípios.
A observância das normas complementares exclui a imposição de penalidades, a cobrança de juros de mora
e a atualização do valor monetário da base de cálculo do tributo.
4
DIEITO TRIBUTÁRIO I – JUR3411
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Os atos normativos das autoridades administrativas se formalizam por meio de Portarias, Instruções
Normativas, Instruções de Serviço, Circulares, Ordens de Serviço, Memorandos, etc.
As decisões dos órgãos singulares ou coletivos de jurisdição administrativa, são as decisões proferidas em
processos administrativos tributários, inclusive de consulta, pelas autoridades investidas de competência para tal. Por regra,
tais decisões somente vinculam as partes litigantes, exceto quando a lei lhes atribua eficácia normativa, quando passam a ter
alcance geral.
As práticas reiteradamente observadas pelas autoridades administrativas, correspondem aos usos e costumes
adotados pela administração e reiteradamente observados na solução de casos semelhantes. Observa-se que as práticas
reiteradas somente podem ter lugar quando não contrariem disposição expressa de Lei (latu sensu).
Os convênios que entre si celebram a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios são acordos ou
protocolos de caráter administrativo que visam dar aplicação prática as atividades de fiscalizar e arrecadar tributos. Os
Convênios do ICMS, quando celebrados nos termos da Lei Complementar nº 24/75, com a finalidade de concessão de
isenções do imposto, pela concorrência com o disposto no artigo 176 do CTN, têm o caráter de fonte formal principal.
5
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PUC/GOIÁS – 2019– Direito Tributário I – JUR 3411
Considerando, todavia, que o CTN foi editado em 19661, antes da reforma constitucional de
1969 e, portanto, duas décadas antes da Constituição de 1988, não é de estranhar que algumas
modalidades legislativas não estejam contempladas na definição legal. Assim, é mister que aí se
acrescentem as Leis Complementares, as Leis Delegadas, as Resoluções do Senado e as Medidas
Provisórias, quando versem, no todo ou em parte, sobre os tributos e as relações jurídicas a eles
pertinentes.
1 O CTN foi assinado em 25.10.66 e publicado em 27.10.66. Em 31.10.66 houve uma retificação no D.O.U.
2 Obra citada
1
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VIGÊNCIA NO TEMPO
Nos termos do art. 101 do CTN, a vigência, no espaço e no tempo, da legislação tributária
rege-se pelas disposições legais aplicáveis às normas jurídicas em geral, ressalvados os casos em que o
próprio CTN estipula regras específicas de vigência.
Considerando que tais “regras específicas de vigência” foram estabelecidas apenas para as
fontes formais secundárias (normas complementares) e para regular o “principio da anterioridade da lei” 3,
concluímos que as demais normas, não atingidas pela regulamentação, estarão sujeitas à regra geral de
vigência prevista no art. 1º da Lei de introdução ao Código Civil Brasileiro 4. Veja o texto legal, in verbis:
Diante disso, podemos dizer que existem três regras de vigência no tempo para a legislação
tributária. Vejamos:
regra geral aplicável a todas as fontes formais principais, com exceção da constituição
federal
A norma começa a vigorar no dia previsto em seu próprio texto ou, se não houver
5
previsão , 45 (quarenta e cinco dias) depois da data de sua publicação oficial.
VIGÊNCIA NO ESPAÇO
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PUC/GOIÁS – 2019– Direito Tributário I – JUR 3411
ente federativo do qual emana. Assim, admite-se a vigência dentro do território do Município, do Estado,
ou de todo o território nacional, a depender do ente que expediu a norma: Município, Estado ou União.
O CTN, entretanto, admite a vigência extraterritorial, estabelecendo a seguinte regra:
A legislação tributária dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios vigora no país,
fora dos respectivos territórios
nos limites em que lhe reconheçam extra-territorialidade os convênios de que
participem ou
nos limites que disponha o próprio CTN ou outras leis de normas gerais expedidas
pela União.
O art. 6º da Lei de Introdução ao Código Civil estabelece a regra geral de aplicação das leis,
consagrando o princípio da irretroatividade, nos seguintes termos:
Art. 6.º A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o
direito adquirido e a coisa julgada.
§ 1.º Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado segundo a lei vigente ao tempo em
que se efetuou.
§ 2.º Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou alguém por ele,
possa exercer, como aqueles cujo começo do exercício tenha termo pré-fixo, ou
condição preestabelecida inalterável, a arbítrio de outrem.
§ 3.º Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial de que já não caiba
recurso.
Como regra, em atenção ao princípio da irretroatividade da lei, a legislação tributária somente
se aplica aos fatos geradores futuros e aos pendentes. Como ensina o professor Paulo de Barros Carvalho 8,
ao entrar em vigor, a lei “deve ser aplicada, imediatamente, a todos os fatos geradores que vierem a
acontecer no campo territorial sobre que incida, bem como àqueles cuja ocorrência teve início, mas não se
completou na forma prevista pelo art. 116. E ficam delineados, para o legislador do Código Tributário
Nacional, os perfis de duas figuras que ele distingue: a de fato gerador futuro e a do fato gerador
pendente”
Assim, regra de aplicação, consoante o art. 105 do CTN, é a seguinte:
a legislação tributária aplica-se imediatamente aos fatos geradores futuros e aos pendentes,
assim entendidos aqueles cuja ocorrência tenha tido início mas não esteja completa
Como exceção à regra, o CTN veio admitir dois casos de vigência retroativa da lei tributária,
previstos em seu art. 106, delineando as hipóteses de “retroatividade interpretativa” e de “retroatividade
benigna”. Vejamos:
8 Obra citada,
9 Consoante o art. 5º, XXXVI, da CF. Veja “princípio da irretroatividade”, na pág. 25, nesta apostila.
3
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PUC/GOIÁS – 2019– Direito Tributário I – JUR 3411
Em seus arts. 111 e 112, o CTN trouxe duas regras específicas de interpretação, a primeira
dispondo sobre a interpretação literal e a segunda tratando da interpretação mais favorável ao acusado (“in
dubio pro réu”).
4
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PUC/GOIÁS – 2019– Direito Tributário I – JUR 3411
Cabe observar que emprego deve se dar exatamente na ordem indicada e sucessivamente, isto
é, somente se aplica a modalidade seguinte depois que utilização da anterior se mostrar infrutífera.
12 Obra citada.
5
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PUC/GOIÁS – 2019– Direito Tributário I – JUR 3411
exercício financeiro, além de outros que se podem encontrar implícitos nas diversas disposições do
denominado Direito Constitucional Tributário”13.
É óbvio que, embora utilizada para aplacar o rigor da lei, não se pode admitir que, em nome
da equidade, efetue-se a dispensa de tributo regularmente previsto na Lei.
PRINCÍPIOS GERAIS DE DIREITO PRIVADO
Os princípios gerais de direito privado podem ser utilizados para pesquisa da definição, do
conteúdo e do alcance de institutos, conceitos e formas (do direito privado), sendo vedado o seu uso para
definição de efeitos tributários.
Por outro lado, a lei tributária não pode alterar a definição, o conteúdo e o alcance de
institutos, conceitos e formas de direito privado, utilizados, expressa ou implicitamente, pela Constituição
Federal, pelas Constituições do Estados, ou pelas Leis Orgânicas do Distrito Federal ou dos Municípios,
para definir ou limitar competências tributárias.
A esse respeito, ensina Hugo de Brito Machado15, “os conceitos, os institutos, as formas,
prevalecentes no Direito Civil, ou no Direito Comercial, em virtude de elaboração legislativa, prevalecem
igualmente no Direito Tributário. Só os princípios do Direito privado é que se não aplicam para a
determinação dos efeitos tributários dos institutos, conceitos e formas do Direito Civil, ou Comercial”.
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PUC/GOIÁS – 2019- DIREITO TRIBUTÁRIO I
Obrigação é a relação transitória de direito que constrange alguém (sujeito passivo) a dar,
fazer ou não fazer algo em favor de outrem (sujeito ativo). Assim, a obrigação é um vínculo jurídico
entre pelo menos duas pessoas, sendo que uma delas tem o direito de exigir da outra uma determinada
prestação (objeto).
Conforme o objeto, a obrigação se classifica em
obrigação de dar
obrigação de fazer
obrigação de não fazer
A obrigação pode nascer de disposição de lei (ex lege) ou em razão de contrato entre as
partes (ex voluntati). A obrigação, no Direito Tributário, nasce sempre da lei, e por força dela é que se
impõe ao sujeito passivo.
Espécies de obrigação tributária
Como já estudamos, o Direito Tributário é um direito obrigacional. O vínculo obrigacional
entre o Estado e o particular (obrigação tributária) pode ter, ora um objeto que corresponde a uma
obrigação de dar (entregar dinheiro – prestação pecuniária), ora um objeto que corresponde a uma
obrigação de fazer ou não fazer (prestação positiva ou negativa). No primeiro caso, temos a obrigação
principal e no segundo, a obrigação acessória.
Conceituando, podemos dizer que:
obrigação tributária principal é a relação jurídica que surge por força de um
acontecimento previsto em lei (fato gerador), vinculando o particular (sujeito passivo) ao Estado
(sujeito ativo), impondo ao primeiro o dever a uma prestação de dar (dinheiro) e conferindo ao segundo
o direito de exigir o cumprimento da respectiva prestação.
obrigação tributária acessória é a relação jurídica, nascida em virtude de disposição da
legislação tributária, por força da qual o particular (sujeito passivo) tem o dever de fazer ou não fazer
algo em favor do Estado (sujeito ativo), no interesse da arrecadação ou fiscalização de tributos.
Elementos da obrigação tributária
A obrigação tributária apresenta quatro elementos, a saber, sujeito ativo, sujeito passivo,
objeto e causa. Vejamos:
sujeito ativo é a pessoa jurídica de direito público titular da competência para exigir o
seu cumprimento (da obrigação). É, portanto, qualquer um dos entes federativos que recebeu a
competência tributária (Art. 153 a 156 da CF).
sujeito passivo é a pessoa obrigada ao pagamento de tributo ou penalidade pecuniária
ou obrigada às prestações que constituam o objeto da obrigação acessória.
objeto é a prestação que o sujeito ativo tem o direito de exigir do sujeito passivo, e que
pode ser:
prestação pecuniária – obrigação de dar – na obrigação
principal
prestação positiva ou negativa – obrigação de fazer ou não fazer
– na obrigação acessória
causa há duas causas da obrigação tributária, a causa formal (a lei) e a causa material (o
fato gerador).
Pelo exposto, percebe-se que a obrigação principal distingue-se da acessória pelo seu
objeto, conforme este corresponda a uma prestação pecuniária ou a uma prestação positiva ou negativa.
Prof. Luiz Antonio de Paula
PUC/GOIÁS – 2019- DIREITO TRIBUTÁRIO I
As prestações positivas ou negativas, que caracterizam a obrigação acessória, são representadas pelas
exigências não pecuniárias feitas ao sujeito passivo, tais como “emitir nota fiscal”, “escriturar livros”,
“apresentar declaração fiscal”, “não rasurar documentos ou livros”, etc.
Natureza jurídica da obrigação tributária
A respeito da natureza da obrigação tributária, demonstra Fábio Fanucchi 1 que “a tributária
é uma obrigação de direito público, desde que já está firmado, em linhas anteriores, pertencer o tributário
a essa divisão das ciências jurídicas. É pela classificação do direito que se chega à classificação da
obrigação nele consagrada”. Mais adiante, o renomado autor defende a tese de que a obrigação tributária
é uma relação subjetiva de direito, porque é atribuída a uma pessoa e esta pode invocá-la como direito
adquirido, contra o Estado-Juiz.
A previsão legal de uma situação abstratamente considerada (hipótese de incidência) se
reveste de natureza objetiva, pois, em tese, a lei alcança a todos. Entretanto, somente a partir do momento
da ocorrência da situação fática (acontecimento concreto da hipótese prevista) em relação a determinada
pessoa é que nasce a obrigação, e, por conseguinte, a situação se individualiza e se transforma em
subjetiva, dando lugar à consideração de direito adquirido em matéria tributária. O direito adquirido
pode ser invocado pelo Estado (executando o crédito tributário) ou pelo sujeito passivo (caso lhe seja
cobrada quantia superior àquela devida em face da regência legal pertinente).
Portanto, a natureza da obrigação tributária é a de uma relação jurídica subjetiva de
Direito Público.
Objeto da obrigação tributária
O CTN em seu art. 113, §§ 1º e 2º, cuida de trazer a definição legal de obrigação tributária.
Vejamos:
§ 1º - A obrigação principal (é aquela que) surge com a ocorrência do fato gerador, tem
por objeto o pagamento de tributo ou penalidade pecuniária e extingue-se juntamente com o crédito
dela decorrente.
§ 2º - A obrigação acessória (é aquela que) decorre da legislação tributária e tem por
objeto as prestações, positivas ou negativas, nela previstas no interesse da arrecadação ou da
fiscalização dos tributos.
Diante da definição legal da obrigação principal e acessória é fácil identificar o seu objeto.
OBRIGAÇÃO PRINCIPAL: tem por objeto o pagamento de tributo ou penalidade
pecuniária. Como vimos essas duas modalidades de receitas (tributo e multa) correspondem a um
prestação de caráter pecuniário.
1 Obra citada,
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O fato gerador é fato descrito em lei. Porém, a lei descreve uma situação possível, e, por
isso, abstrata, como conditio sine qua non para o nascimento da obrigação tributária. A essa descrição
da lei chamamos de “hipótese de incidência” e somente ao acontecimento material dessa “hipótese” é
que denominamos de fato gerador.
Por definição legal, contida no art. 114 do CTN, temos:
Fato gerador da obrigação principal é a situação definida em lei como necessária e
suficiente à sua ocorrência.
Como assevera Sacha Calmon Navarro Coelho1, a redação é tautológica. Na verdade, o que
se define é a “hipótese de incidência” (fato abstrato) a qual corresponde à situação definida em lei como
necessária e suficiente à ocorrência do “fato gerador” (fato concreto). A esse respeito veja o que Sacha
Calmon nos explica:
“Pelo visto, duas acepções emergem da expressão fato gerador
utilizada no artigo.
Primus – Fato gerador como descrição de uma situação jurígena feita
pelo legislador (fato gerador abstrato).
Secundus – Fato gerador como situação jurígena que ocorre no mundo
real, instaurando relações jurídicas (fato gerador concreto).”
É de se ressaltar que a situação descrita na hipótese legal deve acontecer no mundo fático
(situação definida como necessária) para que se considere ocorrido o fato gerador, porém basta o
simples acontecimento desta situação (situação definida como suficiente), para que, sem nenhuma
formalidade, esteja materializado o fato gerador. Assim, a guisa de exemplo, a hipótese de incidência
prevista para o ICMS é “a saída de mercadoria do estabelecimento comercial, industrial ou produtor”.
Ora, para ser devido o imposto a condição necessária é que a mercadoria saia do estabelecimento, e a
suficiente é que basta simplesmente a saída, não importando se a título de venda, transferência para
filial, doação, etc.
O fato gerador da obrigação acessória é assim definido pelo Art. 115 do CTN:
Fato gerador da obrigação acessória é qualquer situação que, na forma da legislação
aplicável, impõe a prática ou a abstenção de ato que não configure obrigação principal.
Em termos gerais, podemos dizer que qualquer exigência feita pelo Estado ao sujeito
passivo e que não configure obrigação principal, ou seja, que não corresponda a uma prestação
pecuniária, é obrigação acessória.
Hugo de Brito Machado2 é quem melhor explica a definição legal:
“A situação de quem pretende instalar um estabelecimento comercial,
por exemplo, faz nascer o dever de requerer inscrição nos cadastros fiscais
correspondentes. É uma situação de fato que, nos termos da legislação tributária,
faz nascer a obrigação acessória de pedir as inscrições correspondentes. A situação
de quem é estabelecido comercialmente faz nascer as obrigações acessórias de não
receber mercadorias sem o documento fiscal correspondente e de tolerar a
fiscalização em seus livros e documentos”
Elementos do fato gerador
Os estudiosos costuma admitir cinco elementos ou aspectos do fato gerador. Vejamos;
elemento material também chamado de núcleo do fato gerador ou elemento objetivo,
corresponde ao fato (ou conjunto de fatos) descritos na hipótese legal. É essência do fato gerador, o
1 Comentários ao Código Tributário Nacional, Rio de Janeiro, Ed. Forense, 1997, p. 261 - em co-autoria com Ives Gandra da Silva Martins e outros
2 Obra citada,
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elemento principal, capaz de fazer nascer a obrigação tributária. Este elemento, via de regra, é dado por
um verbo e um complemento: prestar serviços, importar produtos estrangeiros, transmitir a propriedade
de imóvel.
elemento subjetivo corresponde aos sujeitos ativo e passivo da relação jurídica
tributária.
elemento temporal indica o instante em que ocorre o fato gerador, ando nascimento à
obrigação tributária.
elemento espacial indica o local onde ocorre o fato gerador.
elemento valorativo também designado por dimensional, indica o quantum da
obrigação, e é dado pela base de cálculo e alíquota.
Os fatos geradores, em geral são classificados segundo dois critérios: quanto aos elementos
que os compõem e quanto à sua formação ou duração no tempo.
Quanto ao primeiro critério, os fatos geradores podem ser simples ou complexos:
simples quando constituídos de um só elemento. Ex.: a prestação serviços – ISS.
complexos quando constituídos da combinação de vários elementos ou situações. Ex.:
o lucro de uma empresa – IR.
Quanto ao segundo critério, os fatos geradores podem ser instantâneos ou periódicos
(continuados).
instantâneos quando se efetivam instantaneamente. Ex. a saída de mercadoria do
estabelecimento – ICMS.
periódicos ou continuados quando ocorrem periodicamente, num dado momento
determinado pela Lei. A cada período, tem-se uma nova ocorrência. Ex.: IPTU, IR.
O CTN (art. 116) autoriza à Lei tributária fixar o momento em que se considera ocorrido
o fato gerador. Assim, sendo, em regra, “o momento da ocorrência do fato gerador é aquele que a lei
estabelecer”.
Todavia, pode acontecer de a lei ser omissa e, neste caso, na lacuna da lei, o art. 116, I e II
do CTN estipula a seguinte regra alternativa:
4 Obra citada,
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A definição legal de sujeito ativo da obrigação tributária é dada pelo art. 119 do CTN, nos seguintes termos:
Como se vê sujeito ativo é o ente federativo (pessoa jurídica de direito público) que tem a competência
(atribuída pela Constituição Federal– arts. 153 a 156) para exigir o cumprimento da obrigação.
Salvo disposição de lei em contrário, a pessoa jurídica de direito público, que se constituir
pelo desmembramento territorial de outra, sub-roga-se nos direitos desta, cuja legislação tributária
aplicará até que entre em vigor a sua própria.
Esta regra, contida no art. 120 do CTN, foi aplicada por ocasião da divisão territorial do estado de Goiás, em
Goiás e Tocantins, sendo que a nova unidade da federação criada não só sub-rogou-se no direito aos créditos tributários que
eram devidos para Goiás, relativamente aos fatos geradores ocorridos na região desmembrada, como também utilizou a
legislação tributária de Goiás até que entrasse em vigor a sua própria.
Em consonância com o conceito legal dado à obrigação tributária principal, que tem por
objeto o pagamento de tributo ou penalidade pecuniária, é que o CTN define o sujeito passivo:
Diante do dispositivo legal, descobrimos que contribuinte é aquele que tem relação pessoal
e direta com a situação que corresponda ao fato gerador, noutras palavras, é a pessoa que pratica a
situação descrita no núcleo do fato gerador. Aquele que importa produtos do estrangeiro, aquele que
presta serviços, aquele que promove a circulação de mercadorias, etc. Quando o contribuinte é chamado
a pagar o tributo devido ocorre a “sujeição passiva direta”.
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O responsável, por sua vez, é aquele que, sem ser contribuinte (porque não tem relação
pessoal e direta com o fato gerador), é escolhido como sujeito passivo (pessoa obrigada ao pagamento
de tributo ou penalidade pecuniária) por disposição expressa de lei. Quando o responsável é chamado a
pagar o tributo devido no lugar do contribuinte ocorre a “sujeição passiva indireta”.
Exemplificando. Para o imposto de renda, todo aquele que aufere uma renda ou a
disponibilidade econômica é considerado contribuinte. Assim, o empregado, ao receber sua
remuneração é contribuinte deste imposto, porque tem relação pessoal e direta com seu fato gerador
(auferir renda ou proventos de qualquer natureza). Entretanto, a lei atribui à fonte pagadora
(empregador) a responsabilidade pelo recolhimento do imposto em nome do contribuinte. Neste caso, o
empregador é sujeito passivo da obrigação principal, na condição de responsável, porque está obrigado
a efetuar o pagamento do imposto. Ocorre aí a chamada “sujeição passiva indireta”, em que a lei atribui
a terceiro a obrigação de pagar o tributo.
Observa-se que, embora o responsável não tenha relação pessoal e direta com o fato
gerador, é necessário que tenha algum vínculo com aquele fato, conforme se depreende ao art. 128 do
CTN, que diz que “a lei pode atribuir de modo expresso a responsabilidade pelo crédito tributário a
terceira pessoa, vinculada ao fato gerador da respectiva obrigação, excluindo a responsabilidade do
contribuinte ou atribuindo-a a este em caráter supletivo do cumprimento total ou parcial da referida
obrigação”.
Explicando o assunto, afirma Walter Paldes Valério1 “para tanto duas condições devem ser
implementadas: em primeiro lugar, que a obrigação da terceira pessoa decorra de disposição expressa
de lei e, por último, que a terceira pessoa tenha vinculação com o fato gerador da obrigação respectiva.
É o que se chama de sujeição passiva indireta, ou derivada, em que o sujeito passivo recebe a
denominação de responsável legal tributário, ou simplesmente responsável”.
É de se ressaltar ainda que a doutrina classifica a sujeição passiva indireta
(responsabilidade) em sujeição passiva indireta por substituição e sujeição passiva indireta por
transferência.
A responsabilidade por substituição é aquela em que o responsável substitui o contribuinte
na relação jurídica-obrigacional com o Estado e que surge (a responsabilidade) antes da ocorrência do
fato gerador. Ex.: A retenção na fonte do IR – antes de ocorrer o fato gerador (recebimento do salário)
já se sabe que o obrigado ao pagamento do tributo é o empregador (substituto tributário).
A responsabilidade por transferência é aquela que surge depois de ter ocorrido o fato
gerador. Assim, após o fato gerador uma situação superveniente faz a obrigação tributária se transferir
para pessoa distinta do contribuinte e que assume, por força da lei, a responsabilidade tributária. Ex.:
Após a ocorrência do fato gerador do IPTU, o proprietário o imóvel (contribuinte) vem a falecer sem
pagar o tributo – neste caso, a lei determina que o sucessor (herdeiro) deve assumir a responsabilidade
pelo pagamento da exação.
São quatro as hipóteses de responsabilidade por transferência:
solidariedade
sucessão
responsabilidade de terceiros
responsabilidade por infrações
AS CONVENÇÕES PARTICULARES
Estabelece o CTN que:
1 Obra citada,
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Salvo disposições de lei em contrário, as convenções particulares, relativas à
responsabilidade pelo pagamento de tributos, não podem ser opostas à Fazenda Pública, para
modificar a definição legal do sujeito passivo das obrigações tributárias correspondentes.
Esta disposição, contida no art.123 do CTN, vem esclarecer que o Fisco não é obrigado a
aceitar as convenções particulares, sobre a responsabilidade pelo pagamento de tributo, que tendem para
modificar a definição legal do sujeito passivo. Assim, a cláusula em contrato de locação de imóvel que
atribui ao inquilino a obrigação de recolher o IPTU, liberando o Proprietário do imóvel, não pode ser
oposta à Fazenda Pública Municipal. O contrato vale somente entre as partes, ressalvada disposição de
lei em sentido contrário.
SOLIDARIEDADE
A definição legal de solidariedade nos é dada pelo Art. 896, parágrafo único, do Código
Civil, nos seguintes termos: “Há solidariedade quando na mesma obrigação concorre mais de um credor
ou mais de um devedor, cada um com direito, ou obrigado à dívida”. No primeiro caso, tem-se a
solidariedade ativa e, no segundo, a solidariedade passiva.
Destarte, ocorrerá solidariedade passiva sempre que duas ou mais pessoas estiverem
simultaneamente obrigadas numa mesma relação jurídica-obrigacional, respondendo todas elas pela
dívida toda (in solidum). Em Direito Tributário admite-se apenas a solidariedade passiva, uma vez que
numa mesma relação obrigacional só é possível um único sujeito ativo, o qual estará exigindo tributo
previsto em sua competência.
A respeito da solidariedade, estatui o art. 124 do CTN:
RESPONSABILIDADE DE TERCEIROS
São pessoalmente responsáveis pelos créditos decorrentes de atos praticados com excesso
de poderes ou infração de lei, contrato social ou estatutos:
os terceiros (enumerados o tópico anterior)
os mandatários, prepostos e empregados
os diretores, gerentes ou representantes de pessoas jurídicas de direito privado
Diz Yoshiaki Ichihara2: “como regra geral, em matéria tributária, para que se caracterize a
infração, tal coisa independe da intenção do agente, isto é, se o contribuinte deixou de pagar determinado
tributo ou deixou de cumprir determinada obrigação acessória porque esqueceu ou porque dolosamente
não quis cumpri-la. Também se a infração causou ou não danos, é irrelevante para a sua caracterização”.
É o que estatui o art. 136 do CTN, abaixo:
2 Obra citada,
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A responsabilidade por infrações da legislação tributária independe da intenção do agente
ou do responsável e da efetividade, natureza e extensão dos efeitos do ato.
Porém, como exceção à regra contida no art. 136, o artigo seguinte do CTN enumera
algumas infrações, em relação as quais a intenção é fundamental para a sua caracterização. Trata-se de
situações que constituem crimes ou contravenções ou outras infrações em que se “dolo” se faz presente
por definição. Assim, em atenção ao princípio de Direito Penal, segundo o qual “a pena não pode passar
da pessoa do condenado” (art. 5º, XLV, CF), nesses casos, a responsabilidade é pessoal do agente, ou
seja, daquele que praticou crime ou contravenção ou que agiu com dolo ou dolo específico.
CAPACIDADE TRIBUTÁRIA
RESPONSABILIDADE DE SUCESSORES
RESPONSABILIDADE DE TERCEIROS
São pessoalmente responsáveis pelos créditos decorrentes de atos praticados com excesso de
poderes ou infração de lei, contrato social ou estatutos:
os terceiros (enumerados o tópico anterior)
os mandatários, prepostos e empregados
os diretores, gerentes ou representantes de pessoas jurídicas de direito privado
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Direito Tributário I – JUR 3411 – PUC/GO – 2019
Diz Yoshiaki Ichihara1: “como regra geral, em matéria tributária, para que se caracterize a
infração, tal coisa independe da intenção do agente, isto é, se o contribuinte deixou de pagar determinado
tributo ou deixou de cumprir determinada obrigação acessória porque esqueceu ou porque dolosamente
não quis cumpri-la. Também se a infração causou ou não danos, é irrelevante para a sua caracterização”.
É o que estatui o art. 136 do CTN, abaixo:
1 Obra citada,
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Conceito
O Crédito Tributário, assim como os demais créditos, é um direito subjetivo de um sujeito
ativo (da obrigação tributária), pelo qual lhe é dado exigir do sujeito passivo a realização do objeto da
obrigação principal, representado por uma importância em dinheiro. Representa, portanto, o direito do
credor (sujeito ativo) de exigir do devedor (sujeito passivo) o cumprimento da obrigação principal
(pagamento do tributo ou penalidade pecuniária).
O art. 139 do CTN, estabelece que:
Significa dizer que o crédito tributário nada mais é do que a própria obrigação tributária
qualificada com um “plus” que vem a ser o direito de exigibilidade conferido ao sujeito ativo, pois a
obrigação tributária, em si, não é exigível, ao passo que o crédito tributário, como todo crédito, o é.
A respeito da identidade da natureza jurídica entre a obrigação tributária e o crédito que lhe
corresponde, vejamos a lição esclarecedora de Walter Paldes Valério 1: “A obrigação tributária, como se
sabe, é uma relação jurídica subjetiva de direito público e o crédito tributário uma decorrência dessa
mesma obrigação. Por via de conseqüência, o crédito tributário tem natureza jurídica idêntica à da
obrigação de que, necessariamente, deriva. Sendo a obrigação a substância e o crédito a forma de uma
mesma relação jurídico-tributária, não se poderia conceber a idéia de que a substância e a forma tivessem
naturezas distintas.”
O artigo 140 do CTN, dispõe que as modificações do crédito tributário não afetam a
obrigação, estabelecendo a autonomia do credito tributário em face da relação obrigacional. Vejamos:
Por fim, por disposição expressa no art. 141 do CTN, “o crédito tributário regularmente
constituído somente se modifica ou extingue, ou tem sua exigibilidade suspensa ou excluída, nos casos
previstos no próprio CTN, fora dos quais não podem ser dispensadas, sob a pena de responsabilidade
funcional na forma da lei, a sua efetivação ou as respectivas garantias”.
Podemos dizer, então, que as vicissitudes a que está sujeito o crédito tributário não atingem a
obrigação que lhe deu origem. Contudo, se o crédito for extinto, com ele extinguir-se-á a obrigação2.
Lançamento
Uma vez ocorrido o fato gerador nasce a obrigação tributária. Esta, porém, como se sabe, não
é exigível, porque não é determinada nem quantificada para este mister. O crédito tributário, como
1 Obra citada,
2 Pelo § 1º do art. 113 do CTN, temos o seguinte conceito legal: “A obrigação principal surge com a ocorrência do fato gerador, tem por objeto o
pagamento de tributo ou penalidade pecuniária e extingue-se juntamente com o crédito dela decorrente”.
1
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decorrência direta e formal da obrigação, é que vem a ser determinado, quantificado, expresso e, por isso,
exigível3.
Todavia, para o crédito tributário alcançar a exigibilidade é necessário um procedimento
formal, escrito, a ser adotado pela administração: o Lançamento.
A propósito, ensina-nos Ruy Barbosa Nogueira4 que “o crédito tributário, em substância, tem
a mesma natureza, da obrigação, por ser dela decorrente ou extraído. Há entre eles uma separação no
tempo ou em dois momentos: a obrigação nasce com a lei e a realização do fato tributável como
“pretensão”; o crédito decorre da obrigação, mas depende para sua determinação de um procedimento
administrativo ou de constituição formal, isto é, de declaração de sua existência, quantia, identificação do
devedor, e para sua exigibilidade ou eficácia depende da notificação deste ao devedor para pagar o débito
no prazo legal ou assinado. A obrigação, enquanto pretensão, é indeterminação, ao passo que o crédito é a
sua própria determinação”.
O “procedimento administrativo ou de constituição formal”, a que alude Nogueira, é o
lançamento, ou seja, o ato administrativo que vai quantificar o crédito tributário, identificar o devedor e
notificá-lo formalmente para pagar o débito no prazo legal.
O art. 142 do CTN, e seu parágrafo único, dá a definição legal de lançamento. Vejamos:
Como se viu, o CTN afirma que o lançamento é ato constitutivo 5 do crédito tributário. Porém,
a quase unanimidade dos estudiosos ensina que ele é ato declaratório do crédito mencionado. Embora a
discussão não seja relevante para a apreensão da matéria ora exposta, vamos fazer a distinção entre as
duas correntes.
Ato constitutivo é aquele que cria, modifica ou extingue direito, produzindo efeitos a partir
da sua ocorrência.
Ato declaratório é aquele que não cria direito, mas apenas declara um direito já existente.
3 Alguns autores afirmam que o crédito tributário converte a obrigação ilíquida em líquida, certa e exigível. Porém, os requisitos de liquidez e certeza
(dois dos pressupostos da executoriedade) somente são adicionados ao crédito tributário em momento futuro, por ocasião da inscrição em dívida ativa.
Antes disso não pode haver execução fiscal, mas o crédito pode ser exigido pela administração.
4 Obra citada,
5 “Compete privativamente à autoridade administrativa constituir o crédito tributário pelo lançamento...” (Art. 142)
2
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Para os que defendem a tese de que o lançamento seria ato constitutivo, o direito subjetivo do
Fisco (crédito) somente surgiria a partir do lançamento, como direito novo, criado a partir do ato
administrativo.
Porém, como pugnam os defensores da tese contrária “se o lançamento é apenas um
procedimento que vem depois da lei e da realização do fato tipificado na lei, ele é somente declaratório,
pois os elementos constitutivos do crédito lhe são anteriores. Esta é exatamente a natureza jurídica do
lançamento: um procedimento administrativo declaratório.”6
MODALIDADES DE LANÇAMENTO
3
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O Conceito legal desta modalidade de lançamento nos é dado pelo art. 147 do CTN, com a
seguinte redação:
O lançamento é efetuado com base na declaração do sujeito passivo ou de terceiro, quando
um ou outro, na forma da legislação tributária, presta à autoridade administrativa informações sobre
matéria de fato, indispensáveis à sua efetivação.
O § 1º do mesmo artigo, faz a ressalva de que a retificação da declaração por iniciativa do
próprio declarante, quando vise a reduzir ou a excluir tributo, só é admissível mediante comprovação do
erro em que se funde, e antes de notificado o lançamento. Após, a notificação, como veremos adiante, a
alteração do lançamento só é admissível nas hipóteses previstas no art. 145 do CTN. Todavia, caso
retificação não se destine a reduzir ou excluir tributo, poderá ser feita a qualquer tempo, porque, neste
caso, tem a natureza de declaração complementar, ensejando novo lançamento, também complementar,
caso resulte em aumento do valor do tributo já declarado.
Se a declaração contiver erros apuráveis pelo seu simples exame, isto é, sem necessidade de
fiscalização do contribuinte, tais erros serão retificados de ofício pela autoridade administrativa a que
competir a revisão da declaração.
11 Caso haja fraude ou falta funcional, caberá a revisão do lançamento. Veja – último item das hipóteses de revisão.
12 Obra citada,
4
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PUC/GOIÁS – DIREITO TRIBUTÁRIO I – JUR 3411 – 2019
ARBITRAMENTO
O Art. 148 do CTN estabelece as hipóteses que darão lugar ao arbitramento do valor da base
de cálculo ou de algum elemento cujo valor seja utilizado na formação ou composição da base de cálculo
do tributo. Como veremos, o arbitramento será possível sempre que as declarações, os esclarecimentos ou
os documentos apresentados pelo contribuinte sejam omissos ou não mereçam fé. Vejamos o texto legal:
Quando o cálculo do tributo tenha por base, ou tome em consideração, o valor ou o preço de
bens, direitos, serviços ou atos jurídicos, a autoridade lançadora, mediante processo regular, arbitrará
aquele valor ou preço, sempre que sejam omissos ou não mereçam fé as declarações ou os
esclarecimentos prestados, ou os documentos expedidos pelo sujeito passivo ou pelo terceiro legalmente
obrigado, ressalvada, em caso de contestação, avaliação contraditória, administrativa ou judicial.
A propósito, ensina Misabel Abreu Machado Derzi 14 que quando o lançamento for efetuado
de ofício (inclusive através de auto de infração) ou no caso de revisão de ofício, nas hipóteses elencadas
no art. 149, “poderá o Fisco servir-se da técnica do arbitramento, obedecidos os pressupostos e
requisitos do art. 148, quais sejam:
a) prévia desonestidade do sujeito passivo nas informações prestadas, abalando-se a crença
nos dados por ele oferecidos, erro ou omissão na escrita que impossibilite sua consideração, tornando-a
imprestável;
13 Obra citada,
14 Comentários ao Código Tributário Nacional, Rio de Janeiro, Ed. Forense, 1997, p. 261 - em co-autoria com Ives Gandra da Silva Martins e outros
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PUC/GOIÁS – DIREITO TRIBUTÁRIO I – JUR 3411 – 2019
A regra de aplicação da lei, por ocasião do lançamento, é ditada pelo art. 144 do CTN, nos
seguintes termos:
O lançamento reporta-se à data da ocorrência do fato gerador da obrigação e rege-se pela
lei então vigente, ainda que posteriormente modificada ou revogada.
Uma exceção a esta regra é apresentada pelo § 1º do mesmo artigo, que diz:
Aplica-se ao lançamento a legislação que, posteriormente a ocorrência do fato gerador da
obrigação, tenha instituído novos critérios de apuração ou processos de fiscalização, ampliado os
poderes de investigação das autoridades administrativas, ou outorgado ao crédito maiores garantias ou
privilégios, exceto, neste último caso, para o efeito de atribuir responsabilidade tributária a terceiros.
Sintetizando, temos o seguinte:
Por ocasião do lançamento aplica-se:
IMPORTANTE: A regra de aplicação da lei no lançamento, aqui estudada, não se aplica aos
impostos lançados por períodos certos de tempo (periódicos), desde que a respectiva lei fixe
expressamente a data em que o fato gerador se considera ocorrido.
ALTERAÇÃO DO LANÇAMENTO
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PUC/GOIÁS – DIREITO TRIBUTÁRIO I – JUR 3411 – 2019
REVISÃO DO LANÇAMENTO 7
O art. 149 do CTN enumera as hipóteses em que o lançamento deve ser revisto (ou efetuado)
de ofício, pela autoridade administrativa.
O lançamento é efetuado e revisto de ofício pela autoridade administrativa nos seguintes
casos:
quando a lei assim o determine
quando a declaração não seja prestada, por quem de direito, no prazo e na forma da legislação
tributária
quando a pessoa legalmente obrigada, embora tenha prestado declaração, deixe de atender, no
prazo e na forma da legislação tributária, a pedido de esclarecimento formulado pela autoridade
administrativa, recuse-se a prestá-lo ou não o preste satisfatoriamente, a juízo daquela autoridade
quando se comprove falsidade, erro ou omissão quanto a qualquer elemento definido na
legislação tributária como sendo de declaração obrigatória
quando se comprove omissão ou inexatidão, por parte da pessoa legalmente obrigada, quanto
à antecipação do pagamento, nos casos de lançamento por homologação
quando se comprove ação ou omissão do sujeito passivo, ou terceiro legalmente obrigado,
que dê lugar à aplicação de penalidade pecuniária
quando se comprove que o sujeito passivo, ou terceiro em benefício daquele, agiu com dolo,
fraude ou simulação
quando deva ser apreciado fato não conhecido ou não provado por ocasião do lançamento
anterior
quando se comprove que, no lançamento anterior, ocorreu fraude ou falta funcional da
autoridade que o efetuou, ou omissão, pela mesma autoridade, de ato ou formalidade essencial
O art. 146 do CTN prevê possibilidade de modificação nos critérios jurídicos adotados no
lançamento, porém adverte que esta modificação somente pode ser aplicada, em relação a um mesmo
sujeito passivo, em relação a fato gerador ocorrido depois de sua implementação. Veja dispositivo legal:
A modificação introduzida, de ofício ou em conseqüência de decisão administrativa ou
judicial, nos critérios jurídicos adotados pela autoridade administrativa no exercício do lançamento
somente pode ser efetivada, em relação a um mesmo sujeito passivo quanto a fato gerador ocorrido
posteriormente à sua introdução.
7
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PUC/GO – 2019 – Direito Tributário I – JUR3411
a moratória
depósito do seu montante integral
as reclamações e os recursos, nos termos das leis reguladoras do processo
tributário administrativo
a concessão de medida liminar em mandado de segurança
a concessão de medida liminar ou de tutela antecipada, em outras espécies de ação
judicial
o parcelamento
Por disposição do art. 155-A do CTN o parcelamento será concedido na forma e condição
estabelecidas em lei específica e, salvo disposição de lei em contrário, não exclui a incidência de juros e
multas, aplicando-se-lhe, subsidiariamente, as disposições relativas à moratória, que estudaremos no
tópico seguinte.
A MORATÓRIA
1 obra citada,
2 Obra citada,
1
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confissão de dívida vencida, pede o parcelamento dos débitos para vencimento no futuro. Em caráter
geral, por exemplo, a moratória mais comum é quando ocorre calamidade pública em determinado lugar,
sendo concedida prorrogação nos prazos de pagamento dos tributos dos contribuintes da região afetada”.
Comentando o dispositivo legal, afirma Fábio Fanucchi3: “a moratória assim concedida, de
uma forma geral, abrangendo não só os compromissos de pagamento de natureza tributária, é a única que
justifica a intervenção da União para prorrogar prazos de pagamento de tributos dos demais entes
públicos. Não é só o fato de a União conceder moratória para os seus tributos que justificará a extensão da
medida aos demais tributos. Somar-se-á, necessariamente, a essa prorrogação em prejuízo de seus cofres,
a prorrogação que determine novo termo para todas as obrigações de direito privado”.
Tanto na moratória dada em caráter geral quanto na moratória individual é indispensável à
edição de lei que, no primeiro caso, será concessiva e no segundo, autorizativa. A lei concessiva de
moratória pode circunscrever expressamente a sua aplicabilidade à determinada região do território da
pessoa jurídica de direito público que a expedir, ou a determinada classe ou categoria de sujeitos passivos.
Pelo art. 153 do CTN, a lei que conceda moratória em caráter geral ou autorize sua concessão
em caráter individual especificará, sem prejuízo de outros requisitos:
prazo de duração do favor;
as condições da concessão do favor em caráter individual;
sendo caso:
- os tributos a que se aplica;
- o número de prestações e seus vencimentos, dentro do prazo de duração do favor,
podendo atribuir a fixação de uns e de outros à autoridade administrativa, para cada caso de concessão em
caráter individual;
- as garantias que devem ser fornecidas pelo beneficiado no caso de concessão em caráter
individual;
Nos termos do art. 154 do CTN, se a lei não dispuser em sentido contrário, a moratória
somente abrange os créditos:
- já definitivamente constituídos na data da concessão
- cujo lançamento já tenha sido iniciado naquela data (por ato regularmente notificado ao sujeito passivo)
Art. 155 - A concessão da moratória em caráter individual não gera direito adquirido e será
revogada de ofício, sempre que se apure que o beneficiado não satisfazia ou deixou de
satisfazer as condições ou não cumpria ou deixou de cumprir os requisitos para a concessão
do favor, cobrando-se o crédito acrescido de juros de mora:
I - com imposição da penalidade cabível, nos casos de dolo ou simulação do beneficiado, ou
de terceiro em beneficio daquele;
II - sem imposição de penalidade, nos demais casos.
Parágrafo Único - No caso do inciso I deste artigo, o tempo decorrido entre a concessão da
moratória e sua revogação não se computa para efeito da prescrição do direito à cobrança
do crédito; no caso do inciso II deste artigo, a revogação só pode ocorrer antes de prescrito
o referido direito.
3 Obra citada,
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O sujeito passivo pode impetrar mandado de segurança sempre que se entender lesado pela
prática de ato ilegal ou abusivo por parte da autoridade administrativa que efetuar o lançamento. O MS
encontra amparo no art. 5º LXIX da Constituição Federal, que assim estabelece: “conceder-se-á mandado
de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data,
quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa
jurídica no exercício de atribuições do Poder Público”.
Impetrado o MS, o juiz pode deferir ou não a medida liminar (in limine – antes de apreciar o mérito).
Porém, somente se a medida liminar for concedida é que ocorrerá a suspensão da exigibilidade do crédito
tributário. Nos termos do art. 7º, II, da Lei n.º 1.533/51(LEGISLAÇÃO ANTERIOR), legislação atual
(LEI Nº 12.016, DE 7 DE AGOSTO DE 2009) .o juiz concederá a liminar “quando for relevante o
fundamento (fumus bonis iuris) e do ato impugnado puder resultar a ineficácia da medida, caso seja
deferida (periculum in mora)”.
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A liminar em mandado de segurança, enquanto não for cassada ou não se decidir o mérito,
suspende a exigibilidade do crédito tributário, independentemente de depósito, ficando a Fazenda Pública
impedida de ajuizar a ação de execução.
Como vimos a obrigação tributária, assim como todas as demais obrigações, é um relação
transitória de direito, destinada a encerrar-se num dado prazo de tempo. A extinção do crédito tributário é
que assinala o término da relação obrigacional tributária, pondo fim ao vínculo jurídico que prendia o
devedor (sujeito passivo) ao credor (sujeito ativo). O art. 156 do CTN, arrola as seguintes modalidades de
extinção do crédito tributário:
- pagamento
- a compensação
- a transação
- a remissão
- a prescrição e a decadência
- a conversão de depósito em renda
- pagamento antecipado e a homologação do lançamento
- a consignação em pagamento (quando julgada procedente)
- a decisão administrativa irreformável (definitiva - que não mais possa ser objeto de ação
anulatória)
- a decisão judicial passada em julgado
- a dação em pagamento em bens imóveis, na forma e condições estabelecidas em lei
O Pagamento
Pagamento é a entrega feita ao credor da soma de dinheiro que corresponde ao objeto da
obrigação
Reza o art. 157 que a imposição de penalidade não ilide o pagamento integral do crédito
tributário, isto é, o fato de o sujeito passivo ter pago multa (em razão de alguma infração praticada) não
exclui a sua obrigação de pagar também o tributo devido. Além disso, o pagamento de um crédito não
importa em presunção de pagamento de outros créditos referentes ao mesmo ou a outros tributos e, se o
pagamento for parcial, não implica a presunção de pagamento das demais prestações em que se
decomponha.
Quando a legislação tributária não dispuser a respeito, o pagamento é efetuado na repartição
competente do domicílio5 do sujeito passivo e se ela não fixar o tempo do pagamento, o vencimento do
crédito ocorre 30 (trinta) dias depois da data em que o sujeito passivo for considerado notificado do
lançamento.
É admissível a concessão de desconto pelas antecipações do pagamento, nas condições que
estabelecidas pela legislação tributária, como acontece com o pagamento do IPTU em diversos
municípios, inclusive, Goiânia.
Se o crédito tributário não for integralmente pago no vencimento, será acrescido de juros de
mora, seja qual for o motivo determinante da falta, sem prejuízo da imposição das penalidades cabíveis e
da aplicação de quaisquer medidas de garantia previstas em lei, sendo que tais juros moratórios serão
calculados à taxa de 1% (um por cento) ao mês, sempre que a lei silenciar e não fixar taxa diferente.
Todavia, na pendência de consulta formulada pelo devedor dentro do prazo legal para pagamento do
crédito, não incidirão os juros de mora.
O art. 162 do CTN, estabelece os modos como o pagamento pode ser realizado. Vejamos:
5 Para rever o que é o domicílio do sujeito passivo, consulte as regras para definição do domicílio tributário na pág. 91.
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O pagamento é efetuado:
Regra em moeda corrente
cheque
vale postal
Nos casos previstos em lei
Exceção em estampilha6
em papel selado7
por processo mecânico.
IMPUTAÇÃO DO PAGAMENTO
O art. 163 estipula as regras para a imputação do pagamento, a qual deve ser efetuada quando
existir simultaneamente dois ou mais débitos vencidos do mesmo sujeito passivo para com a mesma
pessoa jurídica de direito público. A pergunta é: supondo que alguém desejando pagar seus tributos já
vencidos, envie determinada quantia para uma repartição fiscal, porém não discrimine quais tributos
deseja quitar – neste caso, quais deverão ser considerados pagos em primeiro lugar? A resposta é a
seguinte:
Existindo simultaneamente dois ou mais débitos vencidos do mesmo sujeito passivo para com
a mesma pessoa jurídica de direito público, relativos ao mesmo ou a diferentes tributos ou provenientes
de penalidade pecuniária ou juros de mora, a autoridade administrativa competente para receber o
pagamento determinará a respectiva imputação, obedecidas as seguintes regras, na ordem em que
enumeradas:
em primeiro lugar, aos débitos por obrigação própria, e em segundo lugar aos
decorrentes de responsabilidade tributária;
primeiramente, às contribuições de melhoria, depois às taxas e por fim aos
impostos;
na ordem crescente dos prazos de prescrição;
na ordem decrescente dos montantes.
6 Estampilha é o papel estampado pelo Tesouro (selo), por meio do qual se pagam alguns tributos. Ao adquirir a estampilha o sujeito passivo paga o
valor que lhe corresponde e, depois, deve fazer a sua aposição em um documento ou mercadoria, com o que aquela considera-se destruída. É
modalidade em desuso para cobrança de imposto, porém, é comum nos cartórios, utilizada na emissão de documentos oficiais, nos quais se paga uma
taxa – a estampilha é afixada no documento (Certidão, p. ex.) e destruída (inutilizada) com carimbo.
7 O papel selado tem uso semelhante ao da estampilha. Porém, ao invés de adquirir um “selo”, o sujeito passivo adquiri um formulário contendo o
emblema do Tesouro, com o que está pagando o tributo.
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Exemplo de um caso de imputação do pagamento nos é dado por Walter Paldes Valério 8.
Vejamos.
“Exemplificando: uma pessoa devia R$ 1.500.000 de Imposto de Renda retido na fonte, tendo o crédito
respectivo se constituído em 12.12.79; R$ 200.000 e R$ 500.000, do mesmo tributo, apurado em Balanço,
sendo os créditos constituídos, respectivamente, em 3.01.81 e 31.3.81; R$ 100.000 e R$ 200.000 de
Imposto de Importação, cujos créditos se constituíram por lançamento de 3.01.72.
Em que ordem deverão ser feitos os pagamentos?
A ordem para o pagamento será a seguinte:
1º.) R$ 200.000 de IR, de obrigação própria, de mais próxima prescrição (3.01.81);
2º.) R$ 500.000 de IR, de obrigação própria, que prescreveria em 31.03.86;
3.º) R$ 200.000 e R$ 100.000, obrigações próprias, de Imposto de Importação, na ordem decrescente de
seus montantes, já que a prescrição de ambas se daria em 3.01.87.
4º.) R$ 500.000 em último lugar, por se tratar de responsabilidade tributária (substituição).”
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REPETIÇÃO DO INDÉBITO
Sempre que pagamos algo que não é devido, temos o direito de reavermos a quantia paga
indevidamente. Em Direito Tributário a restituição de quantias pagas indevidamente (repetição do
indébito) é regulada pelo art. 165 do CTN.
O sujeito passivo tem direito, independentemente de prévio protesto, à restituição total ou
parcial do tributo, seja qual for a modalidade do seu pagamento, nos seguintes casos:
Cobrança ou pagamento espontâneo de tributo indevido ou maior que o devido
na identificação do sujeito passivo
Erro na determinação da alíquota aplicável
Restituição
no cálculo do montante do débito
na elaboração ou conferência de qualquer documento relativo ao
pagamento
Reforma, anulação, revogação ou rescisão de decisão condenatória.
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interrompido pelo início da ação judicial, recomeçando pela metade (1 ano), a partir da data da intimação
validamente feita ao representante judicial da Fazenda Pública.
Compensação9 A lei pode, nas condições e sob as garantias que estipular, ou cuja
estipulação em cada caso atribuir à autoridade administrativa, autorizar a compensação de créditos
tributários com crédito líquidos e certos, vencidos ou vincendos, do sujeito passivo contra a Fazenda
Pública. Sendo vincendo o crédito do sujeito passivo, a lei determinará a apuração do seu montante, não
podendo, porém, cominar redução maior que a correspondente ao juro de 1% (um por cento) ao mês pelo
tempo a decorrer entre a data da compensação e a do vencimento.
9 O Art. 1009 do Código Civil, assim define a compensação: “Se duas pessoas forem ao mesmo tempo credor e devedor uma da outra, as duas
obrigações extinguem-se, até onde se compensarem”.
10 Art. 172 - A lei pode autorizar a autoridade administrativa a conceder, por despacho fundamentado, remissão total ou parcial do crédito tributário,
atendendo:
I - à situação econômica do sujeito passivo;
II - ao erro ou ignorância escusáveis do sujeito passivo, quanto a matéria de fato;
III - à diminuta importância do crédito tributário;
IV - a considerações de equidade, em relação com as características pessoais ou materiais do caso;
V - a condições peculiares a determinada região do território da entidade tributante.
Parágrafo Único - O despacho referido neste artigo não gera direito adquirido, aplicando-se, quando cabível, o disposto no art. 155.
11 Ver pág. 107
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DECADÊNCIA
12 Quanto à classificação dos fatos geradores segundo a sua duração no tempo, veja pág. 79
13 A antecipação do início da contagem do prazo decadencial, porém, não é possível quanto aos impostos que têm fato gerador periódico ou
continuado, isto porque neles o fato gerador demora todo o exercício financeiro para ficar pronto. Assim a contagem do prazo decadencial para tais
impostos tem regra única: “o direito de a Fazenda Pública constituir o crédito tributário extingue-se após cinco anos contados do primeiro dia do
exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado”. Exemplificando: Se um contribuinte do IR apresenta lucro real tributável no
ano-base de 1995 (o fato gerador considera-se ocorrido com o fechamento do exercício financeiro de 1995), logo o lançamento poderia ser efetuado já
em 1996. O exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado, então, é 1997. Dia do início da contagem do prazo decadencial:
01.01.1997. Encerramento do prazo decadencial (última dia para se fazer o lançamento): 31.12.2001.
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lançamento anteriormente efetuado. É aplicado quando houver anulação do lançamento anterior, por vício
formal, cabendo à Fazenda Pública efetuar novo lançamento, dentro deste prazo.
PRESCRIÇÃO
14 RTJ 106/236-270
15 A respeito da suspensão da prescrição, ver pág. 107.
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A respeito da interrupção da prescrição vejamos o que ensina Hugo de Brito Machado 16:
“Diversamente do que ocorre com a decadência, a prescrição pode ter interrompido ou suspenso o curso
de seus prazos. (...) Interromper a prescrição significa apagar o prazo já decorrido, o qual recomeçará seu
curso. Assim, constituído definitivamente um crédito tributário, daí começa o curso da prescrição. Se
depois de algum tempo, antes de completar-se o quinquênio, ocorre uma das hipóteses de interrupção
acima indicadas, o prazo já decorrido fica sem efeito e a contagem dos cinco anos volta a ser iniciada”.
Excluir o crédito tributário significa evitar que ele se constitua 17. A exclusão do crédito
acontece, portanto, quando embora ocorrido o fato gerador, a lei tributária não autoriza o ato
administrativo do lançamento.
Em seu art. 175, o CTN estipula que:
Excluem o crédito tributário:
a isenção;
a anistia.
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As regras a respeito da isenção e da anistia são estabelecidas pelos artigos 176 a 182 do CTN.
Vejamos:
A isenção, quando não concedida em caráter geral, é efetivada, em cada caso, por despacho
da autoridade administrativa, em requerimento com o qual o interessado faça prova do preenchimento das
condições e do cumprimento dos requisitos previstos em lei ou contrato para sua concessão (isenção
pessoal), observando-se o seguinte:
- se se tratar de tributo lançado por período certo de tempo, (fato gerador periódico) o
despacho será renovado antes da expiração de cada período, cessando automaticamente os seus efeitos a
partir do primeiro dia do período para o qual o interessado deixar de promover a continuidade do
reconhecimento da isenção
- o despacho não gera direito adquirido, e a isenção será revogada de ofício, sempre que se
apure que o beneficiado não satisfazia ou deixou de satisfazer as condições ou não cumpria ou deixou de
cumprir os requisitos para a sua concessão, cobrando-se o crédito acrescido de juros de mora com ou sem
penalidade, na forma prevista no art. 15519.
12
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13
ELEMENTOS QUE PARTICIPAM DO
TEATRO TRIBUTÁRIO
LEI
CONSTITUIÇÃO
ORDINÁRIA
FATO ECONÔMICO
Distribui a
competência Estabelece
tributária entre a princípios e
União, os Estados e garantias para o
os Municípios contribuinte
(arts. 153 a 156) (arts. 145 a 150)
Estabelece princípios
específicos de determinados
tributos
(§§ dos arts. 153 a 156 e 195)
Quando isso
Alguns fatos acontece, os fatos
econômicos são econômicos recebem
escolhidos para o nomen juris de
servir de base à “fatos geradores”
cobrança de
tributos