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Artigo Jornal Económico

Título: O Direito de Audição Prévia e o Impacto da sua Revisão nos Meios de


Defesa dos Contribuintes

O Direito de Audição Prévia é um meio de defesa fundamental dos Sujeitos Passivos,


que representa o Princípio da Participação dos Sujeitos Passivos. Através dele os
Sujeitos Passivos devem ser chamados pela Administração Geral Tributária (AGT) a
tomar parte nos procedimentos tributários que lhes digam respeito, ou em que tenham
interesses legítimos.

Sempre que for previsível que a conclusão de um procedimento tributário possa ser
desfavorável a um Sujeito Passivo, este, ou o seu representante legal, deve ser
notificado de imediato pela AGT para o exercício deste seu meio de defesa, que é a
Audição Prévia. Através deste meio de defesa o Sujeito Passivo irá ter a oportunidade
de juntar ao processo todos os meios de prova que jugue importantes e necessários
para o esclarecimento das questões levantadas pela AGT e deste modo contribuir para
o mérito da decisão da AGT.

Este é o direito que a lei confere aos Sujeitos Passivos de intervirem no início de um
procedimento tributário que lhes possa ser desfavorável. Ou seja, sempre que a AGT
pretenda efectuar correções nas declarações tributárias dos Sujeitos Passivos, ou
aplicar alguma multa aos Sujeitos Passivos, em função de alguma irregularidade que
tenha verificado nas declarações dos Sujeitos Passivos, ou em função de alguma
irregularidade que possa ter sido verificada em uma acção inspectiva, é obrigada, sob
pena de ilegalidade do processo, a permitir que os Sujeitos Passivos, como partes
interessadas, exerçam o seu Direito de Audição Prévia.

É este direito tributário dos Sujeitos Passivos que a AGT pretende alterar com a revisão
do Código Geral Tributário (CGT), para tornar mais célere o procedimento tributário
para a angariação de receitas para o Estado.

O Princípio da Participação está interligado com o Princípio da Colaboração previsto no


art. 84 do CGT, que determina como dever da AGT trabalhar directamente com os

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Sujeitos Passivos no esclarecimento de quaisquer questões que possam surgir com as
suas declarações, ou com a interpretação e aplicação das normas tributárias. Esta
colaboração implica que os Técnicos da AGT tenham a humildade suficiente para
serem capazes de se retratarem em caso de erro que tenha ocorrido e causado
prejuízos aos Sujeitos Passivos.

O Direito de Audição Prévia pode actualmente ser exercido pelos Sujeitos Passivos por
via oral, ou por via escrita, antes da liquidação do imposto, antes do indeferimento
pela AGT de qualquer pedido, reclamação, ou recurso, antes da conclusão do relatório
da inspecção tributária e antes da reversão, ou seja, como já foi aqui referido, sempre
que se preveja que o procedimento tributário possa ser prejudicial para os Sujeitos
Passivos deve a AGT notificar os Sujeitos Passivos para o exercício do Direito de
Audição Prévia.

As alterações propostas pela AGT, no art. 85, do CGT (Direito de Audição Prévia),
determina que os Sujeitos Passivos deixem de exercer o Direito de Audição Prévia, pois
apenas passarão a ser notificados pela AGT na fase final do procedimento de
liquidação, ou do relatório com o resultado de uma acção inspectiva realizada pela
AGT.
Parece pois que, os Sujeitos Passivos terão o primeiro contacto com estas questões
patrimoniais de cariz tributário somente quando forem confrontados com as propostas
de decisão da AGT, ou com os relatórios das acções inspectivas, para a partir de
qualquer um destes documentos, já finalizados pela AGT sem a sua participação,
reunirem apressadamente todos os meios de prova que possam naquele momento ter
ao seu dispor para se defender das acusações efectuadas pela AGT.
O Princípio da Participação efectiva-se via o Direito de Audição Prévia, ou seja, é via o
direito que os Sujeitos Passivos tem de intervir na tomada de decisões da AGT de que
sejam destinatários e não ser meramente informados dos projectos de decisão, ou dos
relatórios de inspecções efectuadas. É pois fundamental que as alterações do CGT
propostas pela AGT, salvaguardem que os Sujeitos Passivos possam exercer o Direito
de Audição Prévia para a protecção dos seus direitos ou interesses legalmente
tutelados.

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No art. 79 do CGT é definido que a AGT deve exercer a sua actividade no interesse
público e no respeito dos princípios constitucionais aplicáveis à sua actividade e das
garantias dos contribuintes (meios de defesa). Por outro lado, a AGT, de acordo com o
Princípio do Inquisitório, previsto no art. 83 do CGT, pode realizar todas as diligências
necessárias à realização do interesse público e à realização da verdade material. Deste
modo, deve ser entendido que os Sujeitos Passivos podem durante o procedimento
tributário, solicitar a AGT a realização de diligências necessárias à descoberta da
verdade material e como tal à realização do interesse público, pelo que devem ser
realizadas pela AGT. Assim sendo, a AGT não deve impedir que os Sujeitos Passivos
intervenham nos procedimentos tributários desde a sua fase inicial, como é pretendido
com esta revisão do CGT.
Outro princípio colocado em causa com a revisão do art. 85 do CGT é o Princípio do
Contraditório. Este princípio é de tal modo importante que não se encontra apenas
espalhado pelo nosso ordenamento jurídico, mas também se encontra consagrado nas
constituições da maioria dos países e na Declaração Mundial dos Direitos do Homem.
O Princípio do Contraditório constitui um princípio fundamental de um Estado e que
nosso caso concreto tem um forte impacto na relação de colaboração que deve existir
entre a AGT e os Sujeitos Passivos, assim como, também pode influenciar
significativamente as políticas levadas a cabo pelo Estado para a angariação de
investimento privado em Angola.
Pode-se afirmar com segurança que os investidores privados terão menos receio de
investir o seu capital em um país onde lhes seja permitido defender os seus interesses
e direitos antes de serem acusados, ou seja, um país onde são chamados para intervir
no procedimento tributário e esclarecer qualquer questão tributária em que tenham
interesses legítimos, na sua fase inicial, tão logo os órgãos do Estado competentes
reúnam os indícios de que pode ter sido cometida uma infracção tributária.

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Todos os Sujeitos Passivos devem ter o direito de contestar as acusações de que sejam
alvo por parte da AGT antes da formação de qualquer espécie de decisão pela AGT.
Com a aprovação desta alteração do CGT, os Sujeitos Passivos vêem-se
impossibilitados de ter um tratamento igualitário em termos de oportunidades,
qualitativas e quantitativas, para intervirem nos procedimentos tributários que lhes
digam respeito para a defesa dos seus direitos e interesses.
O direito à defesa é uma garantia fundamental da ordem jurídica, consequentemente
os Sujeitos Passivos devem ter as mesmas oportunidades do que AGT para exercer o
princípio do contraditório através da Audição Prévia, ou seja, os procedimentos
tributários não devem poder avançar sem que o Sujeitos Passivos sejam citados para
deduzir a sua oposição e carrear para o processo todos os meios de prova que julguem
necessários.
Para o exercício do Princípio do Contraditório em pleno, este deve ser completado pelo
Princípio da Igualdade de Tratamento, o que não acontece com esta alteração que a
AGT pretende introduzir no CGT, impossibilitando que os Sujeitos Passivos
intervenham nos procedimentos tributários para a defesa de interesses legítimos antes
de a AGT formular a sua proposta de decisão, ou o relatório da acção inspectiva.
A AGT integra os órgãos da Administração Pública e tal como estes órgãos deve
assegurar a participação dos cidadãos na defesa dos seus interesses e na formação
das decisões que lhes disserem respeito. Os técnicos da AGT devem pois prestar as
informações e os esclarecimentos que os Sujeitos Passivos necessitem e devem
trabalhar com os Sujeitos Passivos segundo as regras da boa-fé.
Esta proposta de alteração do art. 85, do CGT, que a AGT parece pretender introduzir,
deve ser bem analisada e se necessário revista, uma vez que é contrária a princípios
fundamentais e viola uma garantia tributária fundamental dos Sujeitos Passivos que é
a Garantia do exercício do Direito de Audição Prévia em toda a sua plenitude.

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O Advogado
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Rui Afonso | Inscr. OAA nº 575
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