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Manual VNI
Manual VNI
A VNI consiste na aplicação de suporte ventilatório, através de máscara ou outra interface, sem
recurso a via aérea artificial, com tubo endotraqueal (ventilação invasiva).
De um ponto de vista histórico, as tentativas de realizar suporte ventilatório em doentes com falência
respiratória são referidas na literatura desde a segunda metade do século XVIII.
O chamado pulmão de ferro ou de aço foi uma das primeiras máquinas de pressão negativa a ser
utilizada em larga escala e consistia num cilindro que abrangia todo o corpo, deixando apenas livre a
cabeca com ajuste hermético e submetia a caixa torácica a pressão subatmosférica, gerando uma
expansão do tórax e consecutivamente uma pressão negativa no interior dos alvéolos que se enchiam
de ar. Hoje em dia, a ventilação por pressão negativa pode ser realizada através da chamada
“couraça”. A evolução do conhecimento e o desenvolvimento científico permitiram que a ventilação
por pressão positive substituísse o pulmão de ferro. Com a epidemia da poliomielite, a necessidade
de ventilação artificial cresceu exponencialmente, impulsionando o seu desenvolvimento.
A primeira tentativa de utilização de uma interface não invasiva (máscara facial) ocorreu na década
de 60. É contudo na década de 80, com o aparecimento da máscara nasal, que a VNI começa a
conquistar o seu lugar no suporte e tratamento de doentes com insuficiência respiratória aguda ou
crónica.
Pode recorrer-se à VNI nas seguintes situações: insuficiência respiratória aguda com o objetivo de
evitar a entubação traqueal (ET); insuficiência respiratória crónica agudizada; como nível máximo de
suporte em doentes com contra-indicação para ET e internamento em Unidade de Cuidados
Intensivos; alívio da dispneia em doentes crónicos em fase terminal da doença; evitar a reintubação
pós-extubação.
São objetivos da VNI: a curto prazo, diminuir os sintomas; otimizar o conforto do paciente; diminuir o
trabalho respiratório; melhorar as trocas gasosas; evitar a ET; a longo prazo, melhorar o status
funcional do doente; melhorar a qualidade e duração do sono; melhorar a qualidade de vida;
prolongar a sobrevida.
MANUAL
VENTILAÇÃO NÃO INVASIVA
Os ventiladores ditos hospitalares são mais sofisticados, com múltiplos modos ventilatórios e
possibilidade de ajuste de parâmetros. Os ventiladores domiciliários são mais simples e portáteis.
- no modo de ventilação controlada, quer por volume, quer por pressão, o ventilador assegura todos
os movimentos respiratórios;
- o modo de ventilação controlada-assistida permite uma interação entre o ventilador e o doente, isto
é, o doente desencadeia os movimentos respiratórios; no caso de não os desencadear, o ventilador
inicia-os, impondo volumes ou pressões pré-definidas. Quanto maior o esforço inspiratório do doente,
menor a assistência do ventilador. O modo S/T é um dos exemplos.
5. INDICAÇÕES E CONTRA-INDICAÇÕES
- Estabilidade hemodinâmica
- Colaboração no tratamento
- Recusa do doente
- Paragem cardiorrespiratória
- Hemorragia severa GI
6. MATERIAL DE INTERFACE
A escolha da interface é crucial para uma boa adaptação e conforto do doente e para uma VNI eficaz.
É por isso um factor determinante do sucesso da VNI.
As máscaras nasais e faciais são as mais frequentemente utilizadas na VNI. Existem diferentes
tamanhos de máscaras, devendo ser seleccionado o tamanho adequado ao doente. Existem modelos
de máscaras moldáveis que facilitam a boa adapatação da máscara à face.
A tolerância do doente depende do tipo e do modelo de máscara. Na máscara facial a principal causa
de desadaptação é a sensação de claustrofobia, enquanto que com a máscara nasal a desadaptação
deve-se, na maior parte das vezes, a fuga de ar pela boca. A máscara facial é preferida em contexto
hospitalar.
A máscara ideal deve ser confortável, estável, de aplicação fácil e rápida e barata. Deve adaptar-se a
faces de vários tamanhos e configurações com vista a minimizar as fugas, a claustrofobia, o
desconforto do doente e o traumatismo da pele. Sendo impossível combinar todos estes atributos
numa mesma interface, o hospital deve possuir interfaces de vários tipos e tamanhos e saber escolher
para cada caso a mais adequada.
No caso de VNI com oxigenoterapia acoplada, deve-se colocar um conetor de oxigénio entre o filtro
do ventilador e a tubuladura.
MANUAL
VENTILAÇÃO NÃO INVASIVA
Muitos doentes sob VNI necessitam de terapêutica inalatória. Nestes casos, podem ser utilizados
nebulizadores acoplados na tubuladura com peça em T. Não é necessário interromper a VNI para
administrar fármacos por via inalatória, apesar da interrupção, se possível, ser benéfica e permitir a
tosse e eliminação de secreções.
- Explicar com detalhe ao doente em que consiste a técnica e com que
objetivo vai ser aplicada
(sublinhar a ajuda na respiração, a melhoria dos
sintomas respiratórios e a possibilidade de evitar
entubação traqueal)
- Monitorizar o doente
- Ativar o ventilador
- Segurar a máscara contra a face do doente durante algum tempo antes de a fixar, com vista a facilitar
a adaptação
- Não deixar a máscara demasiado apertada (provoca desconforto e lesões faciais de pressão) nem
mal adaptada (facilita fugas e assincronia doente-ventilador)
Após a instituição de VNI, a monitorização tem por objectivo avaliar a eficácia da VNI e identificar
precocemente a falência do tratamento. É essencial durante as primeiras horas, quando ocorrem a
maioria das falências do tratamento, e deve compreender:
- conforto do doente
- trabalho respiratório: dispneia, FR, utilização dos músculos acessórios de respiração, gasimetria
arterial (deve ser realizada 30 minutos após início de VNI e posteriormente, de acordo com a evolução)
- variáveis de ventilação: fugas, volume corrente, sincronia, efeitos secundários da VNI (aplicação de
depósito hidrocolóide/silicone em zonas de pressão)
A monitorização do volume corrente é possível na maioria dos ventiladores e deve ser efetuada na
fase de ajuste inicial dos parâmetros ventilatórios.
O sucesso da VNI depende de: seleção adequada dos doentes; equipamento adequado disponível;
pessoal com conhecimento e experiência em VNI; capacidade de monitorização de parâmetros
fisiológicos e vigilância clínica.
8. COMPLICAÇÕES DA VNI
Uma das complicações mais temida da VNI é a ausência de melhoria com necessidade de ET, que
ronda os 20%.
A fuga de ar é das complicações mais comuns e contribui para a falência terapêutica. Deve ser
prontamente identificada e corrigida.
Pelo efeito hemodinâmico da VNI, a hipotensão subsequente é um efeito que não deve ser
negligenciado.
MANUAL
VENTILAÇÃO NÃO INVASIVA
A eliminação das secreções num doente sob VNI está dificultada. Nestas situações, a cinesiterapia
respiratória e o apoio mecânico da tosse com aparelho de tosse assistida desempenha um papel
determinante e tem como principais objetivos mobilizar e expelir secreções das vias aéreas, aliviar a
dispneia pelo posicionamento e promover a autonomia. Como tal, exige o envolvimento de equipa
especializada.
• EQUIPA DA FORMAÇÃO
• BIBLIOGRAFIA
- Rochwerg B, Brochard L, Elliott MW, et al. Official ERS/ATS clinical practice guidelines: noninvasive
ventilation for acute respiratory failure. Eur Respir J 2017; 50: 1602426 [https://doi.
org/10.1183/13993003.02426-2016].