PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO, SOCIEDADE E MEIO AMBIENTE
Fundamentos da Ecologia Profunda e sua contribuição na construção de uma
nova mentalidade
Thâmara Danielle Filgueiras Santos
Palmas – To, 2008.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS – UFT PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO, SOCIEDADE E MEIO AMBIENTE
Fundamentos da Ecologia Profunda e sua contribuição na construção de uma
nova mentalidade
Trabalho apresentado como
avaliação para reposição de créditos da disciplina I Seminário Interdisciplinar, ministrado pela Prof.ª Suely Figueiredo.
Thâmara Danielle Filgueiras Santos
Palmas – To, 2008.
1. Introdução
A reflexão sobre as práticas sociais, em um contexto marcado pela
degradação permanente do meio ambiente e do seu ecossistema, cria uma necessária articulação com a produção de sentidos sobre a educação ambiental. A dimensão ambiental configura-se crescentemente como uma questão que diz respeito a um conjunto de atores do universo educativo, potencializando o envolvimento dos diversos sistemas de conhecimento, a capacitação de profissionais e a comunidade universitária numa perspectiva interdisciplinar. O desafio que se coloca é de formular uma educação ambiental que seja crítica e inovadora em dois níveis: formal e não formal. Assim, ela deve ser acima de tudo um ato político voltado para a transformação social. O seu enfoque deve buscar uma perspectiva de ação holística que relaciona o homem, a natureza e o universo, tendo como referência que os recursos naturais se esgotam e que o principal responsável pela sua degradação é o ser humano. Modificar os hábitos de consumo compulsivo que afetam a natureza de forma que as pessoas aprendam que mais do que consumir é preciso saber consumir. Além disso, é necessário desenvolver uma psicologia de massas que trabalhe em prol de uma consciência ecológica e de uma identidade ecológica, e por conseqüência, promover uma mudança de caráter. Por isso, a discussão se faz necessária no convívio familiar, escolar e do trabalho, com o objetivo de atingir todos os níveis de relação humana. Dessa forma, a sustentabilidade pode, enfim, ser pensada como uma alternativa viável para a relação ser humano e meio ambiente. 2. Fundamentos da Ecologia Profunda
O meio ambiente é tema de debate constante em escolas, universidades, no
cotidiano das pessoas em geral. As relações entre ser humano e natureza são cada vez mais discutidas, principalmente no que concerne a preservação ambiental, frente às constatações de desgaste e até mesmo esgotamento dos recursos naturais do nosso planeta. Enquanto o debate aumenta, uma solução possível foi anunciada sob o título de sustentabilidade. Para entender melhor o conceito de sustentabilidade, é preciso antes ressaltar a importância de reinserir o ser humano no contexto natural, de forma a desempenhar uma relação intrínseca com a natureza. Carlos Cardoso Aveline, em sua obra “A Vida Secreta da Natureza”, trata dessa re-união. Sob o título de “Ecologia Profunda”, o autor afirma que “a natureza, cuja evolução é eterna, possui valor em si mesma, independentemente da utilidade econômica que tem para o ser humano que vive nela [...] e expressa a percepção prática de que o homem é parte inseparável, física, psicológica e espiritualmente, do ambiente em que vive” (1999). A expressão ecologia profunda foi criada durante a década de 1970 pelo filósofo norueguês Arne Naess, em oposição ao que ele chama de "ecologia superficial" – isto é, a visão convencional segundo a qual o meio ambiente deve ser preservado apenas por causa da sua importância para o ser humano. Ao nível superficial, o ser humano coloca-se como centro do mundo e quer preservar os rios, o oceano, as florestas e o solo porque são instrumentos do seu próprio bem-estar. Quando olha para o meio ambiente com esta preocupação, o ser humano só enxerga os seus próprios interesses, já que, inconscientemente, se considera a coisa mais importante que há no universo. Olha a árvore e vê madeira. Olha o solo e vê o potencial agrícola ou a possível exploração de minérios. Olha o rio e vê um curso d’água navegável por barcos de determinado porte. Ele sabe que deve preservar os chamados recursos naturais porque são preciosos. A natureza para ele é um grande cofre, abarrotado de riquezas renováveis, mas que deve ser cuidadosamente guardado. Daí a necessidade de autoridades ambientais atuantes e uma boa legislação que preserve o meio ambiente. No entanto, atitudes dessa natureza não se sustêm mais, já que cada vez mais comunidades percebem a necessidade de cuidar do meio onde vivem pela importância e interligação que a natureza mantém entre si, incluindo o ser humano. E, por mais que empresas aproveitem dessa “nova” visão global de preservar o meio ambiente para ter uma participação maior aceitação do público consumidor e, conseqüentemente, nos mercados de ação, catástrofes naturais indicam uma necessidade de melhorar a relação população humana e natureza. "Portanto, esse novo paradigma, em que são abordadas uma constelação de concepções, valores, percepções e práticas compartilhadas por uma comunidade e que estabelece uma visão particular da realidade, pode ser chamado de uma visão de mundo holística, que concebe o mundo como um todo integrado, e não como uma coleção de partes dissociadas. Dessa forma, entendemos que a percepção ecológica profunda reconhece a interdependência fundamental de todos os fenômenos e o fato de que – enquanto indivíduos e sociedades – estamos todos encaixados nos processos cíclicos da natureza e, em última análise, somos dependentes desses processos (CAPRA, in Guimarães). Quanto mais voltamos nossa atenção para as grandes dificuldades sociais de nossa época, mais percebemos as falhas de uma visão de mundo compartilhada por grande parte das pessoas influentes, responsáveis pelo comportamento ocidental (e que hoje atinge também a cultura oriental), percebemos que estas falhas estão interligadas e não podem ser entendidas de forma isolada, ou linear, como peças autônomas de um relógio. Por isso, a idéia de alfabetização ecológica abordada por Capra sua “A teia da vida” (2000), apresenta não só subsídios para sustentar um convívio integrado entre ser humano e meio ambiente, como aborda a sustentabilidade de forma mais sólida, sem estar à mercê das leis do mercado financeiro. Teremos, portanto, respeitando os princípios básicos da ecologia explicados pelo autor – interdependência, reciclagem, parceria, flexibilidade e diversidade, que juntas contextualizam a idéia dele de sustentabilidade – uma forma adequada de viver em conformidade com a natureza, sem que haja a exploração de um pelo outro. 3. A crise civilizacional do século XX: a sustentabilidade como condição
O século XX já inicia com a agitação causada pela Revolução Industrial que
ocorreu em países do hemisfério norte, principalmente na Europa e Estados Unidos. Mas também a Primeira e Segunda Guerras Mundiais contribuem para a determinação de novos territórios e tratados entre países, beneficiando aqueles que fazem parte do privilegiado grupo de exploradores de colônias, localizadas em sua maioria na Índia e em praticamente todo o continente africano. Esse cenário de grandes conflitos e explorações de territórios estrangeiros e a crise financeira de 1929, originada nos Estados Unidos, montam um cenário desolador para este século, em que a exploração do trabalho humano em troca de míseros cents é somente a ponta de uma grande ice barg de incertezas e uso abusivo de recursos, sejam eles naturais ou humanos. E em cada acontecimento desses, a mídia aproveitou para mostrar a sua potencialidade, seja para o recrutamento de soldados para as guerras, seja para dar prognósticos sobre a situação financeira vivenciada por diversas comunidades nas primeiras décadas. De qualquer forma, a grande teia sócio-político-econômico havia se formado e passamos a viver experiências comuns em esfera mundial. Apesar dessa interligação entre países, assim como numa comunidade de um país em desenvolvimento há grandes diferenças sociais com uma grande distância entre ricos e pobres, a economia global é determinada por aquelas nações que movimentam maiores quantias monetárias. Enquanto os interesses dos países ricos é explorar cada vez mais os recursos disponíveis nos territórios localizados no hemisfério sul, por meio de suas impressionantes indústrias transnacionais, os países pobres lutam por um espaço nesse estreito círculo de poder. Essa repetição de diferença social, presente na sociedade de praticamente todas as nações, em uma escala global vai acabar por determinar como serão as administrações de crises que envolvem o planeta, como o caso do suposto esgotamento dos recursos naturais, já proclamado há muitas décadas atrás, ou a formação do buraco na camada de ozônio, derretimento das calotas polares e o tão disputado desmatamento da floresta Amazônica. Disputado porque enquanto os cortes de matas inteiras, captura de animais e insetos para comércio como bicho de estimação ou matéria-prima para a indústria farmacêutica acontecem cotidianamente, os países ricos reclamam para si a tutela desse “ouro verde”, mesmo – e talvez principalmente por isso – depois de terem transformado suas florestas em carvão para movimentar as engrenagens do progresso quando esse ainda não tinha consciência de seu possível tamanho. A crise da civilização no século XX é também a crise da convivência e da relação, seja interpessoal ou com a própria natureza. A ansiedade dos pensadores do século XVIII contagia e se expande no século XX, quando dominar a natureza ganha dimensões bem maiores do que já vistas anteriormente. É um processo que, ao longo dos tempos, consolidou-se num distanciamento do ser humano em relação ao meio ambiente, que passou a explorá-lo de forma hostil e despreocupada, sem levar em conta que um dia os recursos naturais podem faltar aos seus descendentes. Segundo Volpi (et al. 2008), os avanços tecnológicos, aliados aos valores estabelecidos por uma sociedade consumista, se apresentam como principal fator do surgimento de impactos tanto no ambiente quanto no ser humano, colocando o planeta frente a uma grande crise ambiental que precisa com urgência ser resolvida. Esses impactos, somados ao comportamento cruel do ser humano em relação aos animais, propõem como desafio o desenvolvimento de novos conhecimentos que possam modificar hábitos e valores em relação ao meio ambiente, de forma a possibilitar uma relação de harmonia e respeito com os animais e com a natureza, em busca de um desenvolvimento sustentável. A partir desse desafio, a discussão da problemática ambiental deve ter uma aproximação e diálogo com a ecologia, para que de forma interdisciplinar, possam pensar em alternativas para a problemática ambiental/ecológica e é seguindo esse pensamento que a Ecologia Profunda, alternativa para a sustentabilidade da condição humana e da relação com o meio ambiente. Volpi (et al. 2008) faz um questionamento interessante: o que faz o ser humano ser tão descuidado com o meio ambiente, ser tão cruel com os animais, com as plantas e com o planeta onde vive? Para sua pesquisa ele estabelece uma relação interdisciplinar entre a ecologia e a psicologia para se discutir a problemática ecológica. A preocupação ambiental em prol da preservação do planeta resultou na organização da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, a partir da qual surgiram declarações diplomáticas genéricas e a criação de um novo campo de política internacional: a ecodiplomacia. A ênfase dessas discussões recaiu sobre o aumento da qualidade de vida por meio de modelos capazes de evitar a degradação ambiental e a exaustão dos recursos naturais, apontando os seres humanos como o centro das preocupações relacionadas com o desenvolvimento sustentável. A partir dessas preocupações, evidenciamos a real possibilidade da inserção da psicologia1 nas discussões ambientais de forma a aproximar o diálogo com a ecologia (NAESS, 1973), numa proposta interdisciplinar. É notório que há um evidente distanciamento do ser humano em relação à natureza e um aumento da exploração que esta vem sofrendo ao longo dos tempos, sem que levar em conta que um dia esses recursos naturais podem faltar aos nossos descendentes. Não resta dúvida de que a relação entre o ser humano e a natureza envolve dimensões culturais, sociais e psíquicas. Tendo em vista que no decorrer dos tempos houve um afastamento que permitiu uma dualidade entre ambos, é urgente repensar no resgate dessa conexão, de forma a garantirmos o futuro da humanidade e de toda forma de vida no planeta. Mas acreditamos que isso só será possível mediante uma mudança de valores e de comportamento, de forma a sensibilizá-lo para a problemática ambiental e ecológica. Assim, compreender e combater a educação moralista, repressiva e neurótica para que estejamos livres das couraças, além de modificar alguns hábitos culturais e valores “neuróticos”, pode nos aproximar de nossa natureza interna, de nossos afetos e sentimentos, e conseqüentemente, da natureza externa a nós. Esse conjunto de modificações de pensamento, ação e sentimento é o que levaria a uma relação de sustentabilidade no meio ambiente global. 4. Conclusão
É mais do que urgente a necessidade da criação de programas que
contribuam para a formação de uma identidade ecológica, bem como de uma educação ambiental voltada ao despertar das habilidades, aptidões, interesses, permeados pelo resgate de valores e não por imposições. Educar deveria ser um processo de transformação, sem esquecer que o bom estado emocional do educador poderia ser visto como um pré-requisito fundamental para um contato verdadeiro com o educando. Sendo assim, alertamos para que quanto mais o educador tiver compreensão de seus próprios traços de caráter e dos traços de caráter de seus educandos, mais facilmente poderá lidar com distintas situações presentes no dia a dia da educação. Essa compreensão poderia ser uma ferramenta útil a colaborar com a educação ambiental, visto que a riqueza da interdisciplinaridade está na troca de conhecimentos. Acreditamos que hoje se faz necessário não apenas ofertarmos uma Educação Ambiental intelectualizada, mas sim, feita com base no resgate das sensações. É preciso sentir, incorporar esse sentimento para depois pensar e em seguida colocar em prática. A compreensão da problemática ambiental e ecológica exige uma visão epistemológica que pressupõe um enquadramento interdisciplinar e não separatista. Isso significa que necessitamos construir uma disciplina que possa viabilizar o diálogo entre a ecologia e a relação do ser humano com a mesma, a fim de discutirmos esses problemas que são de ordem comportamental/afetiva e que afeta a todos. 5. Bibliografia
AVELINE, Carlos Cardoso. A Vida Secreta da Natureza. Disponível em:
http://www.nodo50.org/insurgentes/textos/ecoprofunda/02oqueecoprofunda.htm. Acesso em 25/11/2008.
GUIMARÃES, Carlos Antonio Fragoso. Ecologia profunda. Disponível em:
http://geocities.yahoo.com.br/carlos.guimaraes/transpessoal.html. Acesso em 25/11/2008.
VOLPI, Jose Henrique; FLORIANI, Dimas; LESZCZYNSKI, Sonia Ana Charchut.
Ecopsicologia: Fundamentos epistemológicos de uma ciência interdisciplinar. In: ENCONTRO PARANAENSE, CONGRESSO BRASILEIRO, CONVENÇÃO BRASIL/LATINO-AMÉRICA, XIII, VIII, II, 2008. Anais. Curitiba: Centro Reichiano, 2008. CD-ROM. [ISBN – 978-85-87691-13-2]. Disponível em: www.centroreichiano.com.br. Acesso em: 23/11/2008.