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UFSM

Dissertação de Mestrado

FEBRE CATARRAL MALIGNA EM BOVINOS


NO RIO GRANDE DO SUL
_____________________

Shana Letícia Garmatz

PPGMV

Santa Maria, RS, Brasil

2004
FEBRE CATARRAL MALIGNA EM BOVINOS
NO RIO GRANDE DO SUL
_____________________

por

Shana Letícia Garmatz

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado


do Programa de Pós-graduação em Medicina Veterinária,
Área de Concentração em Patologia Veterinária, da
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, RS),
como requisito parcial para obtenção do grau de
Mestre em Medicina Veterinária

PPGMV

Santa Maria, RS, Brasil

2004

Universidade Federal de Santa Maria


Centro de Ciências Rurais
Programa de Pós-Graduação em Medicina Veterinária
A Comissão Examinadora, abaixo assinada,
aprova a Dissertação de Mestrado

FEBRE CATARRAL MALIGNA EM BOVINOS


NO RIO GRANDE DO SUL

elaborada por

Shana Letícia Garmatz

como requisito parcial para obtenção do grau de


Mestre em Medicina Veterinária

COMISSÃO EXAMINADORA:

___________________________________
Luiz Francisco Irigoyen
(Presidente/Orientador)

___________________________________
David Driemeier

___________________________________
Glaucia Denise Kommers

Santa Maria, 02 de abril de 2004.


Garmatz, Shana Letícia
G233f
Febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul / por
Shana Letícia Garmatz ; orientador Luiz Francisco Irigoyen. –
Santa Maria, 2004.
xxii, 110 f. : il., tabs.

1. Medicina veterinária 2. Bovinos 3. Doenças infecciosas 4.


Febre catarral maligna 5. Doenças a vírus 6. Doenças de bovinos
7. Patologia veterinária 8. Reação em cadeia de polimerase I.
Irigoyen, Luiz Francisco II. Título

CDU: 619:636.2

Ficha catalográfica elaborada por


Luiz Marchiotti Fernandes CRB-10/1160
Biblioteca Setorial do Centro de Ciências Rurais/UFSM

© 2004
Todos os direitos autorais reservados a Shana Letícia Garmatz. A reprodução de partes
ou do todo deste trabalho só poderá ser feita com autorização por escrito do autor.
Endereço: Rua Henrique Dias, 112/101, Santa Maria, RS. Fone (0xx51) 3718 1372.
End. Eletr.: garmatzsl@yahoo.com.br.
AGRADECIMENTOS

Aos professores do Setor de Patologia Veterinária, Luiz Francisco, Claudio

Barros, Dominguita Graça e Glaucia Kommers pelos ensinamentos e amizade. Um

agradecimento especial ao professor Claudio pelo auxílio constante na elaboração deste

trabalho.

Aos proprietários e funcionários das fazendas em Santiago, pela colaboração e

permissão para a realização deste estudo. E ao professor Alexandre Mazzanti e Fabiano

Zanini Salbego pelo auxílio na inoculação dos terneiros utilizados na transmissão

experimental da doença.

Agradeço também aos colegas e amigos Raquel, Simone, Margarida, Fabiano,

Aline, Ricardo, Dani, Márcia, Cris, Inge, Tati, Fighera e Serginho, pelo

companheirismo e auxílio em várias etapas deste trabalho.

A técnica de reação em cadeia de polimerase (PCR) descrita nesta dissertação

foi desenvolvida durante meu estágio no Department of Pathology da University of

Georgia, sob orientação da professora Corrie Brown e com bolsa da CAPES, como

parte do projeto CAPES-FIPSE 09/01. Meus agradecimentos à CAPES pelo apoio

financeiro, à Profa. Corrie Brown pela orientação durante esse período e às colegas Jian

Zhang e Nobuko Wakamatsu pela amizade e inestimável apoio técnico na realização

dos ensaios de PCR. Agradecimentos também são devidos à professora Glaucia

Kommers pela confecção das fotos histológicas e aos colegas Ana Lucia Schild, David

Driemeier e Franklin Riet-Correa que colocaram os arquivos de seus laboratórios à

nossa disposição para coleta dos dados que permitiram o estudo retrospectivo dos casos

de febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul.


SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS...................................................................................................... iv

LISTA DE TABELAS...................................................................................................... vii

LISTA DE FIGURAS....................................................................................................... x

RESUMO.......................................................................................................................... xvi

ABSTRACT...................................................................................................................... xx

1. INTRODUÇÃO............................................................................................................ 1

2. REVISÃO DE LITERATURA..................................................................................... 5
2.1 Epidemiologia....................................................................................................... 5
2.2 Etiologia................................................................................................................ 7
2.3 Patogenia............................................................................................................... 9
2.4 Sinais clínicos....................................................................................................... 10
2.5 Achados de necropsia............................................................................................ 14
2.6 Achados histológicos............................................................................................ 16
2.7 Diagnóstico........................................................................................................... 19
2.8 Diagnóstico diferencial......................................................................................... 21
2.9 Controle, tratamento e profilaxia.......................................................................... 22

3. MATERIAL E MÉTODOS.......................................................................................... 23
3.1 Surtos espontâneos de febre catarral maligna (FCM) ocorridos em Santiago,
RS, em 2001-2003................................................................................................. 23
3.2 Transmissão experimental..................................................................................... 26
3.2.1 Animais de experimentação......................................................................... 26
3.2.2 Inóculo e método de inoculação................................................................... 26
3.3 Reação em cadeia de polimerase (PCR)............................................................... 29
3.4 Casos espontâneos de febre catarral maligna (FCM) em bovinos ocorridos em
anos anteriores no Rio Grande do Sul................................................................... 30

4. RESULTADOS............................................................................................................. 32
4.1 Surtos espontâneos de febre catarral maligna (FCM) ocorridos em Santiago,
RS, em 2001-2003................................................................................................. 32
4.1.1 Epidemiologia.............................................................................................. 32
4.1.2 Sinais clínicos.............................................................................................. 34
4.1.3 Achados de necropsia................................................................................... 41
4.1.4 Achados histológicos................................................................................... 49
4.2 Transmissão experimental..................................................................................... 60
4.2.1 Sinais clínicos.............................................................................................. 60
4.2.2 Achados de necropsia................................................................................... 64
4.2.3 Achados histológicos................................................................................... 65
4.3 Reação em cadeia de polimerase (PCR)............................................................... 68
4.4 Casos espontâneos de febre catarral maligna em bovinos relatados no Rio
Grande do Sul (1973-2003)................................................................................... 74
4.4.1 Epidemiologia.............................................................................................. 74
4.4.2 Sinais clínicos.............................................................................................. 75
4.4.3 Achados de necropsia................................................................................... 75
4.4.4 Achados histológicos................................................................................... 79

5. DISCUSSÃO................................................................................................................ 81

6. CONCLUSÕES............................................................................................................ 92

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................... 93
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Órgãos que foram colhidos e processados para a histologia dos 11 bovinos

afetados por febre catarral maligna nos surtos espontâneos de Santiago,

RS....................................................................................................................................... 24

Tabela 2 – Dados dos bovinos experimentais inoculados com 500 ml de sangue

colhido de bovino clinicamente afetado por febre catarral maligna................................. 26

Tabela 3 – Órgãos que foram colhidos e processados para a histologia dos 5 bovinos

inoculados com 500 ml de sangue colhido de bovino clinicamente afetado por febre

catarral maligna................................................................................................................. 28

Tabela 4 – Relação dos tecidos examinados pela técnica de reação em cadeia de

polimerase (PCR). Onze bovinos (1 a 11) são casos espontâneos de febre catarral

maligna. Cinco bovinos (E1-E5) foram usados nos experimentos de transmissão........... 31

Tabela 5 – Febre catarral maligna em bovinos. Dados dos 11 bovinos necropsiados nas

duas propriedades de Santiago, RS, onde ocorreram os surtos da doença em 2001-

2003................................................................................................................................... 33

Tabela 6 – Sinais clínicos em 11 bovinos afetados por febre catarral maligna nos surtos

espontâneos ocorridos em Santiago, RS, 2001-2003............................................. 34

Tabela 7 – Principais alterações macroscópicas em 11 bovinos afetados por febre

catarral maligna necropsiados nos surtos espontâneos ocorridos em Santiago, RS,

2001-2003......................................................................................................................... 41

Tabela 8 – Febre catarral maligna em bovinos. Intensidade das lesões vasculares em 50


múltiplos órgãos e tecidos dos 11 bovinos necropsiados nas duas propriedades de

Santiago, RS, onde ocorreram os surtos da doença em 2001-

2003...................................................................................................................................

Tabela 9 – Período de incubação, evolução clínica, tipo de morte e principais achados

clínicos nos cinco bovinos experimentais inoculados com 500 ml de sangue colhido de

bovino clinicamente afetado por febre catarral maligna................................................... 62

Tabela 10 – Correlação dos sinais clínicos de distúrbios nervosos com a localização e

intensidade das lesões vasculares no sistema nervoso central e rete mirabile em dois

bovinos experimentais inoculados com 500 ml de sangue colhido de bovino

clinicamente afetado por febre catarral maligna............................................................... 66

Tabela 11 – Resultado da técnica de reação em cadeia de polimerase (PCR) realizada

em amostras de tecido de 16 bovinos. Os bovinos de 1 a 11 são casos espontâneos de

febre catarral maligna. Cinco bovinos (E1-E5) são os animais usados no estudo de

transmissão experimental.................................................................................................. 70

Tabela 12 – Febre catarral maligna em bovinos. Resultado da técnica de reação em

cadeia de polimerase (PCR) realizada em amostras de tecido de 11 bovinos

necropsiados nas duas propriedades de Santiago, RS, onde ocorreram os surtos da

doença em 2001-2003, comparada com a intensidade das alterações histológicas nos

tecidos............................................................................................................................... 72

Tabela 13 – Resultado da técnica de reação em cadeia de polimerase (PCR) realizada

em amostras de tecido de três bovinos usados na transmissão experimental de febre


catarral maligna comparada com a intensidade das alterações histológicas nos

tecidos............................................................................................................................... 73

Tabela 14 – Dados epidemiológicos dos casos de febre catarral maligna diagnosticados

em bovinos no Rio Grande do Sul..................................................................................... 76

Tabela 15 – Sinais clínicos nos casos de febre catarral maligna diagnosticados em

bovinos no Rio Grande do Sul........................................................................................... 77

Tabela 16 – Achados de 24 necropsias de casos de febre catarral maligna

diagnosticados em bovinos no Rio Grande do Sul............................................................ 78

Tabela 17 – Achados histológicos nos casos de febre catarral maligna diagnosticados

em bovinos no Rio Grande do Sul.................................................................................... 80


LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul. Hemisfério

cerebral. As linhas numeradas indicam os locais onde foram efetuados cortes coronais

para estudo da distribuição das lesões histológicas no encéfalo. 0, medula cervical; 1,

seção do bulbo na altura do óbex; 2, cerebelo; 3, ponte com pedúnculos cerebelares;

4, mesencéfalo na altura dos colículos rostrais; 5, seção através do diencéfalo na

altura da massa intermédia; e 6, seção através do joelho do corpo caloso e dos núcleos

basais................................................................................................................................ 25

Figura 2. Febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul. A figura mostra

as seções obtidas dos seis locais mostrados na Figura 1, de onde foram realizados os

cortes histológicos para estudo da distribuição das lesões............................................. 25

Figura 3. Febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul. Bovino 5.

Corrimento ocular seroso............................................................................................... 37

Figura 4. Febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul. Bovino 4.

Corrimento nasal mucopurulento em ambas as narinas................................................. 37

Figura 5. Febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul. Maior detalhe da

Figura 4........................................................................................................................... 38

Figura 6. Febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul. Bovino 8.

Crostas na pele do focinho resultante de exsudato ressecado. O animal apresenta

também abundante salivação.......................................................................................... 38

Figura 7. Febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul. Bovino 6. 39


Opacidade da córnea.......................................................................................................

Figura 8. Febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul. Bovino 6.

Ceratoconjuntivite. A conjuntiva está acentuadamente hiperêmica e parcialmente

recoberta por película de fibrina amarelada. Há protrusão da membrana

nictitante......................................................................................................................... 39

Figura 9. Febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul. Bovino 11

mostrando sinais clínicos de distúrbios nervosos (hipermetria)..................................... 40

Figura 10. Febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul. Papilas bucais

A. bovino normal. B. Bovino 4. Algumas das papilas têm as pontas hiperêmicas,

necrosadas e estão rombas (seta).................................................................................... 44

Figura 11. Febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul. Bovino 8.

Ulcerações na mucosa do abomaso................................................................................ 45

Figura 12. Febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul. Bovino 2.

Fossas nasais. Hiperemia da mucosa que está parcialmente recoberta por exsudato

catarral. Na porção anterior podem-se observar áreas de erosão................................... 46

Figura 13. Febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul. Bovino 4.

Fossas nasais. Rinite ulcerativa. O exsudato foi retirado para evidenciar as

ulcerações....................................................................................................................... 46

Figura 14. Febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul. Bovino 1. Rim.

Áreas multifocais branco-amareladas que correspondem à infiltração inflamatória

mononuclear na cortical.................................................................................................
47
Figura 15. Febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul. Bovino 1. Rim,

superfície de corte. Há múltiplos nódulos brancos de alguns milímetros de diâmetro

distribuídos pela cortical. No centro de alguns desses pequenos nódulos pode-se

perceber um orifício. Esses nódulos representam acúmulos de células inflamatórias

mononucleares ao redor de pequenas artérias (ver Figura 20)....................................... 47

Figura 16. Febre catarral maligna (FCM) em bovinos no Rio Grande do Sul. Bovino

7. Bexiga. A mucosa está hiperêmica, edematosa e parcialmente ulcerada. Essa lesão

é muito freqüente em bovinos com FCM e é responsável pela hematúria observada

clinicamente.................................................................................................................... 48

Figura 17. Febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul. Bovino 11.

Linfonodo. Na superfície de corte aparecem nódulos branco salientes

(hiperplasia).................................................................................................................... 48

Figura 18. Febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul. Aspecto

histológico das lesões vasculares na rete mirabile. A. Bovino normal. B. Bovino 4.

Acentuado infiltrado inflamatório mononuclear na parede das artérias,

predominantemente na adventícia. Hematoxilina e Eosina............................................ 51

Figura 19. Febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul. Aspecto

histológico das lesões vasculares na rete mirabile. A. Bovino normal, artéria isolada

da rete. B. Bovino 4. Acentuado infiltrado inflamatório mononuclear na parede de

artéria da rete. Embora as células inflamatórias afetem predominantemente a

adventícia, o infiltrado estende-se também para a túnica média. Hematoxilina e

Eosina............................................................................................................................. 52
Figura 20. Febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul. Bovino 1.

Aspecto histológico das lesões renais. Necrose fibrinóide acentuada e moderado

infiltrado mononuclear da túnica média de artéria de pequeno calibre e extenso

infiltrado mononuclear na adventícia e tecido renal perivascular. Hematoxilina e

Eosina............................................................................................................................. 56

Figura 21. Febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul. Bovino 11.

Aspecto histológico das lesões oculares. Acentuado infiltrado inflamatório e

vasculite na íris, corpo ciliar, esclera e conjuntiva bulbar. Hematoxilina e

Eosina............................................................................................................................. 56

Figura 22. Febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul. Bovino 11.

Corte histológico transversal do nervo óptico. Percebe-se infiltrado inflamatório

perineural e vasculite. Hematoxilina e Eosina............................................................... 57

Figura 23. Febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul. Bovino 11.

Maior aumento da Figura 22 mostrando duas arteríolas do tecido perineural com

moderado infiltrado mononuclear na adventícia............................................................ 57

Figura 24. Febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul. Aspecto

histológico das fossas nasais. A. Bovino normal. B. Bovino 4. As arteríolas da

submucosa estão afetadas por infiltrado inflamatório na adventícia e média e

hialinização da túnica média. O epitélio nesta região está íntegro. Hematoxilina e

Eosina............................................................................................................................. 58

Figura 25. Febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul. Bovino 1.

Fígado, aspecto histológico de um espaço porta mostrando infiltrado inflamatório


linfo-histiocitário. Hematoxilina e Eosina...................................................................... 59

Figura 26. Febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul. Bovino 1.

Aspectos histológicos do córtex e meninges do cerebelo. As leptomeninges estão

infiltradas por células mononucleares. Em uma artéria de pequeno calibre e uma

arteríola meníngea localizadas na porção inferior e ao centro da ilustração, a túnica

média tem aspecto fibrinóide e está moderadamente infiltrada por células

inflamatórias mononucleares; a adventícia desses vasos está acentuadamente

infiltrada pelas mesmas células inflamatórias. Hematoxilina e Eosina.......................... 59

Figura 27. Febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul. Bovino 1.

Aspecto histológico da vasculite na substância branca do cerebelo. A lesão é menos

grave que a observada nos vasos das leptomeninges (ver Figura 26). Hematoxilina e

Eosina............................................................................................................................. 59

Figura 28. Febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul. Sinais clínicos

de distúrbios nervosos nos casos experimentais. Bovino E1 nas fases terminais da

doença realizando movimentos de pedalagem............................................................... 63

Figura 29. Febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul. Sinais clínicos

de distúrbios nervosos nos casos experimentais. Bovino E1.

Opistótono................................. 63

Figura 30. Febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul. Reação em

cadeia de polimerase (PCR). Casos espontâneos. Eletroforese em gel de agarose dos

produtos da PCR nested mostrando fragmentos amplificados de 228 pares de bases

(pb). Linha 1: tamanho molecular padrão (pb); linha 2: amostra de adrenal (Bovino
8); linha 3: amostra de linfonodo (Bovino 8); linha 4: amostra de baço (Bovino 7);

linha 5: amostra de rim (Bovino 6); linha 6: amostra de linfonodo (Bovino 6); linha

7: amostra de bexiga (Bovino 9); linha 8: amostra de cerebelo (Bovino 2)................... 71

Figura 31. Febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul. Reação em

cadeia de polimerase (PCR). Casos experimentais. Eletroforese em gel de agarose

dos produtos da PCR nested mostrando fragmentos amplificados de 228 pares de

bases (pb). Linha 1: tamanho molecular padrão (pb); linha 2: amostra de rim (Bovino

E1); linha 3: amostra de fígado (Bovino E1); linha 4: amostra de fígado (Bovino E5);

linha 5: amostra de rim (Bovino E2); linha 6-8: amostras de rúmen, fígado e tonsila,

respectivamente (Bovino E4)......................................................................................... 71


RESUMO

Dissertação de Mestrado

Programa de Pós-Graduação em Medicina Veterinária

Universidade Federal de Santa Maria, RS, Brasil

FEBRE CATARRAL MALIGNA EM BOVINOS NO RIO GRANDE DO SUL

AUTORA: SHANA LETÍCIA GARMATZ

ORIENTADOR: LUIZ FRANCISCO IRIGOYEN

Data e local da defesa: Santa Maria, 02 de abril de 2004.

São relatadas duas epizootias recentes de febre catarral maligna (FCM) que

ocorreram em bovinos de duas propriedades rurais (A e B) do município de

Santiago, Rio Grande do Sul (RS) e a transmissão da doença a bovinos suscetíveis.

Adicionalmente, foi realizada uma pesquisa nos arquivos de três laboratórios de

diagnóstico veterinário (LDVs) em atuação no estado, para o levantamento de casos

de FCM em bovinos no RS. As duas epizootias recentes ocorreram de novembro de

2001 a fevereiro de 2002 (Propriedade A) e em janeiro-fevereiro de 2003

(Propriedade B). O número de bovinos sob risco, as taxas de morbidade e de

letalidade foram, respectivamente, 170, 10,59% e 83,33% na Propriedade A e 500,

2,4% e 100% na Propriedade B. Em ambas as propriedades havia contacto de ovinos

com os bovinos afetados. Nos bovinos afetados nas duas propriedades, a duração do

curso clínico, os achados de necropsia e a histopatologia foram semelhantes. A

maioria dos bovinos afetados morreu ou foi submetida à eutanásia após um curso
clínico de 2 a 8 dias. Os sinais clínicos incluíam febre (40.5 e 41.5°C), corrimento

nasal e ocular, opacidade da córnea, conjuntivite, salivação, erosões e ulcerações em

mucosas, diarréia, hematúria e distúrbios neurológicos. Foram realizadas onze

necropsias (nove na propriedade A e duas na propriedade B). Lesões macroscópicas

incluíam erosões e úlceras nas mucosas dos cornetos nasais, cavidade oral e tratos

gastrintestinal e urogenital; hemorragia e necrose da ponta das papilas bucais,

aumento de volume dos linfonodos, múltiplos focos brancos no córtex renal,

acentuação do padrão lobular da superfície hepática e hiperemia das leptomeninges.

Microscopicamente, havia arterite e degeneração fibrinóide em artérias de médio e

pequeno calibre e em arteríolas de múltiplos órgãos e tecidos, necrose e inflamação

em várias superfícies mucosas, ceratite, conjuntivite, uveíte, nefrite intersticial e

encefalite. A transmissão experimental foi tentada em cinco terneiros (E1-E5) pela

inoculação de cada um deles, por via intravenosa, com 500 ml de sangue total

oriundo de bovino afetado por FCM. A transmissão foi conseguida em pelo menos

três (E1-E3) dos terneiros experimentais que adoeceram após um período de

incubação de 15 a 27 dias. Quatro dos terneiros do experimento morreram ou foram

submetidos à eutanásia in extremis após um curso clínico que durou de três dias a

oito semanas. O terneiro experimental remanescente (E5) recuperou-se após uma

doença branda e foi submetido à eutanásia 14 semanas após a inoculação. Os cinco

terneiros foram necropsiados. Sinais clínicos, achados de necropsia e histopatologia

de três terneiros (E1-E3) eram característicos de FCM. O DNA viral de herpesvírus

ovino-2 (OvHV-2) foi detectado pela técnica de reação em cadeia de polimerase

(PCR) em tecidos emblocados em parafina de sete dos 11 bovinos espontaneamente

afetados por FCM e que haviam sido diagnosticados com base nos achados clínicos

e nas alterações patológicas. O DNA de OvHV-2 foi também detectado por PCR em
tecidos emblocados em parafina de três terneiros experimentais (E1-E3). A técnica

de PCR resultou negativa nos restantes quatro dos 11 bovinos testados nos casos

espontâneos das epizootias recentes de FCM e em dois (E4-E5) dos cinco terneiros

usados nos experimentos de transmissão. Testes de imunoistoquímica (streptavidina-

biotina peroxidase) realizados em cortes de tecido linfóide do terneiro E4 para

detecção de antígeno do vírus da diarréia viral bovina resultaram negativos. Os

resultados da pesquisa de todos os casos de FCM em bovinos no Rio Grande do Sul

revelou que a doença foi relatada em 14 ocasiões (incluindo as duas epizootias deste

estudo) de 1973 a 2003. Nenhum caso de FCM em bovino foi relatado antes de

1973. Seis desses relatos de FCM em bovinos ocorreram na forma de epizootias,

afetando vários bovinos em um rebanho, com taxas de morbidade que variaram de

2,4% a 25%; em uma ocasião 100 bovinos foram afetados e morreram em um único

rebanho; nas restantes oito ocasiões, a doença ocorreu em forma esporádica com 1 a

3 bovinos afetados por rebanho. As taxas de letalidade relatadas foram virtualmente

de 100%, embora em um caso, a letalidade foi de 83,33%. Em duas ocasiões (1994 e

2001/2) epizootias de FCM ocorreram na mesma invernada da mesma fazenda.

Bovinos de todas as idades e de ambos os sexos foram afetados, mas a maioria dos

casos ocorreu em terneiros de sobreano até bovinos de 4 e 5 anos. Em sete dos 14

relatos havia ovinos em contato com os bovinos afetados; em cinco relatos não havia

essa informação e em um relato o único touro afetado nunca estivera em contato

com ovinos. A maioria dos casos de FCM diagnosticados pelos três LDVs ocorreu

nos períodos quentes da primavera e verão, mas casos foram também diagnosticados

em três ocasiões durante o inverno. Os sinais clínicos e as alterações patológicas

(baseados nos achados de 24 necropsias) observados nos bovinos desses 14 relatos

foram semelhantes aos descritos acima, mas houve casos em que os sinais
neurológicos predominaram sobre os outros sinais clínicos, tornando difícil o

diagnóstico baseado somente nos sinais clínicos e achados de necropsia. A

transmissão experimental de FCM de bovino para bovino e a caracterização do

agente etiológico da doença em bovinos como OvHV-2 foi conseguida pela primeira

vez no Brasil.
ABSTRACT

MS Dissertation

Programa de Pós-Graduação em Medicina Veterinária

Universidade Federal de Santa Maria, RS, Brasil

FEBRE CATARRAL MALIGNA EM BOVINOS

NO RIO GRANDE DO SUL

(MALIGNANT CATARRHAL FEVER IN CATTLE

IN RIO GRANDE DO SUL, BRAZIL)

AUTHOR: SHANA LETÍCIA GARMATZ

ADVISER: LUIZ FRANCISCO IRIGOYEN

Santa Maria, April 02, 2004.

Two recent epizootics of malignant catarrhal fever (MCF) occurring in cattle

from two farms (A and B) in the municipality of Santiago, state of Rio Grande do

Sul (RS), Brazil, and the transmission of the disease to susceptible calves are

reported. Aditionally, all cases of MCF diagnosed in cattle in RS in the past were

surveyed in the files of three veterinary diagnostic laboratories (VDLs) of this state.

The two recent epizootics occurred from November 2001 to February 2002 (Farm

A) and in January-February 2003 (Farm B). Numbers of cattle at risk, morbidity and

letality rates were respectively 170, 10.59% and 83.33% for Farm A and 500, 2.4%

and 100% for Farm B. Contact between affected cattle and sheep was detected in
both farms. Duration of clinical courses, gross findings and histopathology were the

same for the affected cattle in both farms. Most affected cattle died or were

euthanatized in extremis after a clinical course of 2-8 days. Clinical signs included

fever (40.5 and 41.5°C), nasal and ocular discharge, corneal opacity, conjunctivitis,

drooling, erosions and ulcerations of the mucosae, diarrhea, hematuria, and

neurological disturbances. Eleven necropsies (nine in Farm A, two in Farm B) were

performed. Gross lesions included erosions and ulcers affecting the mucosae of

nasal turbinates, oral cavity, gastrointestinal and urogenital tracts; hemorrhage and

necrosis of the tip of the buccal papillae, lymph node enlargement, multifocal white

foci in renal cortex, reticular pattern of the hepatic surface and hyperemia of

leptomeninges. Microscopically, there were arteritis and fibrinoid degeneration in

medium and small arteries and arterioles of multiple organs and tissues, necrosis and

inflammation in several mucosal surfaces, keratitis, conjunctivitis, uveitis,

intersticial nephritis, and encephalitis. Transmission experiments were attempted in

five calves (E1-E5) by intravenous inocculation each of them with 500 ml of whole

heparinized blood from a MCF affected cattle. The transmission was successful in at

least three (E1-E3) of the experimental calves which became sick after an incubation

period that varied from 15 to 27 days. Four experimental calves either died or were

euthanatized in extremis after a clinical course which varied from three days to eight

weeks. The remaining experimental calf (E5) recovered from a mild disease and was

euthanatized 14 weeks after inocculation. Necropsies were performed in all five

calves. Clinical signs, necropsy and histopathological findings of three calves (E1-

E3) were characteristic of MCF. Ovine herpesvirus-2 (OvHV-2) viral DNA was

detected by the polimerase chain reaction (PCR) test in paraffin embedded tissues

from seven cattle out of the 11 spontaneous MCF cases diagnosed based on clinical
signs and pathology. Paraffin embedded tissues from three experimental calves (E1-

E3) were also positive for OvHV-2 DNA by PCR. PCR tests resulted negative in the

remaining four of the 11 spontaneous MCF cases tested and in two (E4-E5) of the

five experimental calves tested. Immunohistochemistry (streptavidin-biotin

peroxidase method) performed in sections of lymphoid tissue from calf E4 for

detection of BVD virus antigen was negative. Results from the survey on MCF in

cattle in RS revealed that the disease was reported in 14 occasions (including the

two epizootics of this study) from 1973-2003. No reports of MCF in cattle were

found before 1973. Six of these reports in cattle occurred as MCF epizootics

affecting several cattle in a herd with morbidity rates raging from 2.4% to 25%; in

one instance 100 cattle were affected and died in only one herd; in the remaing eight

occasions the disease occurred as sporadic cases affecting 1-3 cattle per herd.

Reported fatality rates were virtually 100%, although in one occasion fatality rate

was 83.33%. In two occasions (1994 and 2001/2) epizootics of MCF occurred at the

same pasture of the same farm. Cattle of all ages and both sexes were affected but

the majority of the cases occurred from yearlings to 4-5-year-old cattle. In seven of

the reports there were sheep in contact with the affected cattle; in five reports this

information was unavailable and in one report the sole affected bull never had

contact with sheep. Most MCF cases reported in cattle from the three VDLs

occurred in the warm periods of spring and summer but cases were also diagnosed in

the winter in three instances. Clinical signs and pathology (based on 24 necropsies)

observed in cattle of these 14 reports were similar to those described above but there

were cases in which neurological signs predominated over the other clinical signs,

thus making the diagnosis based on clinical and gross findings alone, difficult. The

experimental transmission of MCF from cattle to cattle and the characterization of


the etiological agent in this species as OvHV-2 were successfully attempted for the

first time in Brazil.


1. INTRODUÇÃO

A febre catarral maligna (FCM) é uma doença infecciosa, viral, pansistêmica,

altamente fatal, com distribuição geográfica ampla. Além de bovinos, afeta diversas

espécies de veados (Reid et al., 1979; Denholm & Westbury, 1982; Jessup, 1985; Reid

et al., 1987; Shulaw & Oglesbee, 1989; Brown & Bloss, 1992; Li et al., 1999; Audige

et al., 2001; Driemeier et al., 2002) e, esporadicamente, outras espécies de ruminantes

silvestres (Smith, 2002) e suínos (Løken et al., 1998). Caracteriza-se por febre alta,

depressão, corrimento nasal e ocular, erosões e ulcerações na mucosa do trato

respiratório superior, ceratoconjuntivite, linfadenopatia, enterite hemorrágica, diarréia,

encefalite, exantema cutâneo e artrite (Barker et al., 1993; Pierson et al., 1973;

Plowright, 1968; 1990; Selman et al., 1974; Smith, 2002). As lesões macro e

microscópicas envolvem principalmente os tratos digestivo, respiratório superior e

urinário, linfonodos, fígado, olhos e encéfalo. As lesões histológicas características

consistem de vasculite, infiltrados mononucleares em vários órgãos, hiperplasia

linfóide e necrose dos epitélios de revestimento (Barker et al., 1993; Barnard et al.,

1994).

O “grupo de vírus da FCM” pertence ao gênero Rhadinovirus, subfamília

Gammaherpesvirinae (Coulter et al., 2001). São espécie-específicos e a maioria das

espécies de ruminantes, domésticos ou selvagens, são bem adaptadas a eles, i.é, esses

vírus induzem pouco ou nenhum efeito em seus hospedeiros naturais, mas podem

causar doença quando afetam espécies diferentes pouco adaptadas. Até o momento

foram identificados nove vírus do “grupo de vírus da FCM”; quatro associados a

doença clínica em animais (Li et al., 2003a). A forma africana ou FCM gnu-associada é

induzida pela cepa alcelaphine herpesvírus 1 (AlHV-1) (Plowright, 1990; Murphy et


al., 1999). O AlHV-1 é linfotrópico, seu capsídio tem aproximadamente 140 a 220

nanômetros e é transmitido pelo gnu (Connochaetes taurinus e C. gnou, subfamília

Alcelaphine). Em locais onde não há gnus ocorre a forma denominada FCM não

associada a gnus ou FCM ovino-associada, pois ovinos são implicados como

portadores do agente etiológico, denominado herpesvírus ovino 2 (OvHV-2) (Roizman

et al., 1981; Bridgen & Reid, 1991). Os outros dois vírus associados a doença em

veados incluem o herpesvírus caprino 2 (CpHV-2), endêmico em cabras domésticas

(Chmielewicz et al., 2001; Crawford et al., 2002; Keel et al., 2003; Li et al., 2003b) e

um vírus de origem ainda não identificada (Li et al., 2000a). Ao contrário de AlHV-1,

que já foi isolado em cultivo celular, os outros três agentes patogênicos da FCM são

detectados apenas por técnicas moleculares como a reação em cadeia de polimerase –

PCR (Crawford et al., 1999; Li et al., 2000a; Crawford et al., 2002; Keel et al., 2003;

Li et al., 2003b). As manifestações clínicas e patológicas das formas induzidas por

AlHV-1 e OvHV-2 são as mesmas, mas há diferenças epidemiológicas entre as duas

(Smith, 2002).

No Brasil, a doença é descrita desde 1924 (Torres, 1924), tendo sido

documentada em bovinos no Rio Grande do Norte (Döbereiner & Tokarnia, 1959), Rio

de Janeiro (Sampaio et al., 1972), Bahia, Sergipe (Oliveira et al., 1978; Figueiredo et

al., 1990), Rio Grande do Sul (Barros et al., 1983; Riet-Correa et al., 1988), São Paulo

(Marques et al., 1986), Paraná (Baptista & Guidi, 1998), Piauí (Silva et al., 2001) e em

cervídeos em cativeiro no Rio de Janeiro (Costa et al., 1989) e em Mato Grosso

(Driemeier et al., 2002).

Atualmente, a técnica da reação da polimerase em cadeia (PCR) tem sido usada

para o diagnóstico da FCM associada a ovinos (Radostits et al., 2000). Suas vantagens

sobre o exame histopatológico incluem: a) a técnica poder ser feita in vitro, b) tem
grande sensibilidade e especificidade (Müller-Doblies et al., 1998), c) permite

diagnosticar casos de FCM que não apresentem todos os sinais clínicos clássicos, como

os casos crônicos com recuperação da doença clínica (O’Toole et al.,1995, 1997;

Penny, 1998) e d) a aplicação da técnica em tecidos fixados e emblocados em parafina

pode ser utilizada para caracterizar o agente, especialmente para estudos retrospectivos

(Tham, 1997; Crawford et al., 1999). Limitações da técnica quando aplicadas a

materiais fixados e emblocados estão relacionadas à desnaturação do ácido nucléico por

fixação muito prolongada ou em formol não-tamponado (Crawford et al., 1999).

A FCM no Brasil tem sido relatada esporadicamente em casos diagnosticados

pelos sinais clínicos, achados de necropsia e histopatologia. Testes para determinação

do agente etiológico não têm sido realizados ou têm sido realizados sem sucesso. Dessa

forma, não há documentação do tipo de vírus que circula no país e causa a doença em

bovinos ou outras espécies. Os sinais clínicos e as lesões macroscópicas na FCM são

geralmente característicos, mas podem ser variados e inespecíficos, especialmente nos

casos leves, hiperagudos ou crônicos. Nesses casos, o diagnóstico deve ser baseado na

detecção de características histológicas e resultados positivos de experimentos de

transmissão e técnicas laboratoriais para determinar a etiologia.

Nos anos de 2001-2003, dois surtos importantes de FCM ocorreram em bovinos

de duas propriedades do município de Santiago, Rio Grande do Sul. O objetivo deste

trabalho foi estudar esses dois surtos considerando os seguintes aspectos: a)

levantamento de dados epidemiológicos, b) determinação do quadro clínico e

patológico da doença, c) comprovação da natureza da doença através da transmissão a

bovinos susceptíveis e d) determinação da natureza do agente etiológico através da

técnica de PCR.
Adicionalmente, procurou-se realizar um estudo retrospectivo da epidemiologia,

sinais clínicos e achados anatomopatológicos de todos os casos de FCM diagnosticados

em bovinos no Rio Grande do Sul a fim de estabelecer a importância relativa da doença

em nosso Estado.
2. REVISÃO DA LITERATURA

2.1 Epidemiologia

A febre catarral maligna (FCM) tem distribuição mundial. A forma associada a

gnus (ou gnu-associada), ocorre, na vasta maioria das vezes na África, conhecida por

isso também como forma africana, mas pode ocorrer em zoológicos em outros países

(Heuschele et al., 1985). A forma associada a ovinos (ou ovino-associada), tem sido

relatada em vários países incluindo Estados Unidos, Canadá (referida por isso, às vezes,

como forma americana), Austrália, Nova Zelândia, Escandinávia, Ásia e Europa

(Radostits et al., 2000) e países da América do Sul, como Brasil, onde tem sido descrita

em bovinos (Torres, 1924; Döbereiner & Tokarnia, 1959; Sampaio et al., 1972;

Oliveira et al., 1978; Barros et al., 1983; Marques et al., 1986; Riet-Correa et al., 1988;

Figueiredo et al., 1990, Baptista & Guidi, 1998; Silva et al., 2001) e cervídeos (Costa

& Pires, 1990; Driemeier et al., 2002). A forma ovino-associada é encontrada inclusive

no sul da África, embora com freqüência muito mais baixa que a forma gnu-associada

(Plowright, 1990).

Espécies de gnu (Connochaetes taurinus, C. gnou), membros da subfamília

Alcelaphinae, são os portadores assintomáticos do alcelaphine herpesvirus tipo 1

(AlHV-1). Outros antílopes como o veado-do-cabo (Alcelaphus buselaphus) e o topi

(Damaliscus korrigum eureus, D. lunatus) podem servir de reservatórios (Murphy et

al., 1999). Anticorpos contra o AlHV-1 têm sido detectados em várias outras espécies

da subfamília Alcelaphinae e das subfamílias Caprinae e Hippotraginae, o que as inclui

como reservatórios em potencial do vírus (Barker et al., 1993; Barnard et al., 1994).

Gnus infectam-se durante os primeiros dois ou três meses de vida, quando se tornam

virêmicos e eliminam AlHV-1 nas secreções nasal e ocular (Mushi & Rurangirwa,
1981; Plowright, 1990; Barker et al., 1993). No gnu azul, a concentração de vírus

nessas secreções atinge o nível máximo em filhotes entre seis e oito semanas de idade;

a transmissão do vírus ocorre por inalação de aerossóis ou ingestão de pasto

contaminado (Radostits et al., 2000).

Ovinos são considerados os reservatórios na forma americana da FCM

(Plowright, 1990). Como os gnus, virtualmente todas as ovelhas adultas sob condições

naturais de rebanho são infectadas (Li et al., 1994, 1995b). De maneira semelhante ao

que ocorre com AlHV-1 em relação aos gnus, a transmissão de OvHV-2 aos bovinos e

outros ruminantes é associada ao período perinatal dos ovinos; cordeiros seriam uma

importante fonte de transmissão do vírus (Baxter et al., 1997). Entretanto, existem

estudos indicando que cordeiros recém-nascidos não são infectados e, portanto, não são

fontes importantes para a transmissão de OvHV-2 (Li et al., 1998, 1999, 2000b,

2001a). E grandes concentrações de partículas virais são detectadas predominantemente

em ovinos entre 6 e 9 meses de idade (Li et al., 2001a; Kim et al., 2003).

A origem da infecção tem sido questionada quando da persistência da doença

mesmo sem contato dos bovinos com esses reservatórios; a fragilidade do vírus torna

improvável a sua persistência em fômites (Radostits et al., 2000). Foi demonstrado que

bovinos recuperados tornam-se virêmicos por vários meses (O’Toole et al., 1997).

Além disso, OvHV-2 tem sido ocasionalmente detectado em bovinos e cervos

clinicamente sadios (Baxter et al., 1993; Wiyono et al., 1994; Li et al., 1995b; Tham,

1997; Radostits et al., 2000), sugerindo a possibilidade de ativação de uma infecção

latente nos casos da doença em que não há contato com ovelhas (Smith, 2002).

Sorologia positiva foi demonstrada em bisões, cervos, cabras e ovinos selvagens e

coelhos selvagens, indicando que esses animais possam servir de reservatórios do vírus

(O’Toole et al., 1995; Li et al., 1994, 1996; Radostits et al., 2000). A manifestação
clínica de FCM já foi descrita em mais de 30 espécies de ruminantes (Radostits et al.,

2000). A maioria dos bovinos domésticos de todas as idades e raças e numerosas

espécies exóticas como Bos javanicus e Bos gaurus são susceptíveis à doença clínica

(Li et al., 2000a). Bisões, búfalos, alces e várias espécies de cervos são altamente

susceptíveis (Reid et al., 1979; Denholm & Westbury, 1982; Hoffmann et al., 1984;

Reid et al., 1987; Schultheiss et al., 1998; Brown & Bloss, 1992; Li et al., 1999, 2000a;

Audige et al., 2001; Driemeier et al., 2002; O’Toole et al., 2002).

A FCM em bovinos é uma doença de curso clínico rápido e quase

invariavelmente fatal. O índice de morbidade é variável. Geralmente ocorre na forma

de casos isolados, entretanto surtos afetando mais de 50% dos bovinos de um rebanho

podem ocorrer. O índice de mortalidade varia de 95 a 100% (Plowright, 1990). Os

surtos geralmente ocorrem no final do inverno, primavera e início do verão (Selman et

al., 1974). Casos de bovinos que se recuperam de FCM têm sido descritos (O’Toole et

al., 1995, 1997; Penny, 1998; Otter et al., 2002).

2.2 Etiologia

O agente etiológico da FCM gnu-associada foi isolado e identificado como um

herpesvírus em 1960 (Plowright et al., 1960). Foi posteriormente classificado como um

γ-herpevírus devido à sua capacidade de infectar e induzir a proliferação de linfócitos T

do hospedeiro (Roizmann et al., 1992). Atualmente os agentes etiológicos da FCM

como o AlHV-1 e o OvHV-2, são incluídos em um grupo de vários γ-herpevírus

antigênica e geneticamente relacionados, o assim chamado “grupo de vírus da FCM”.

Os vírus desse grupo são capazes de produzir infecção clínica ou subclínica em animais

(Li et al., 2003a). São classificados na subfamília Gammaherpesvirinae, gênero

Rhadinovirus. Os vírus dessa subfamília caracterizam-se por replicar em linfócitos T e


B, estabelecer infecções latentes em tecidos linfóides e causar doenças

linfoproliferativas, neoplasias e morte celular (Murphy et al., 1999).

Ao contrário de AlHV-1, o isolamento em cultivo celular de OvHV-2 não foi

ainda alcançado (Storz et al., 1976; Plowright, 1990). Técnicas moleculares, no

entanto, permitem o reconhecimento de seqüências de DNA específicas de OvHV-2 em

sangue e outros tecidos de animais afetados (Crawford et al., 1999). Estudos recentes

comprovaram a expressão de genes associados ao ciclo replicativo de OvHV-2 em

linhagens de células-T de coelhos. Em estudos com microscopia eletrônica, realizados

em extratos peletizados dessas células-T infectadas, foram demonstrados capsídios

característicos de herpesvírus (Rosbottom et al., 2002).

A caracterização genômica foi também realizada em dois outros novos

membros do grupo de vírus da FCM. Um causa a FCM clássica em veados-de-cauda-

branca (Odocoileus virginianus; ‘MCFV-WTD’), mas o hospedeiro reservatório para

esse vírus não foi ainda identificado (Li et al., 2000a); o outro, endêmico em cabras

domésticas (Capra hircus), denominado herpesvírus caprino tipo 2 ou CpHV-2

(Chmielewicz et al., 2001; Li et al., 2001b), tem sido associado com alopecia crônica

em veados sika (Cervus nippon) (Crawford et al., 2002; Keel et al., 2003) e veados de

cauda-branca (Odocoileus virginianus) (Li et al., 2003b). Outros vírus não relacionados

a doença clínica, mas também intimamente relacionados ao AlHV-1 incluem

alcelaphine herpesvirus tipo 2 (AlHV-2), recuperado de antílopes como veado-do-cabo

(Alcelaphus buselaphus) e topi (Damaliscus korrigum, D. lunatus) (Mushi et al., 1981)

e hippotragine herpesvirus 1 (HiHV-1), isolado de uma outra espécie de antílope

(Hippotragus equinus) (Reid & Bridgen, 1991). Seqüências do DNA de outros três

novos membros do grupo (ainda sem denominação) foram recentemente determinadas

em espécies de ruminantes exóticos (Ovibus moschatus, Capra nubiana, Oryx gazella).


Embora seja em geral reconhecido que esses cinco radinovírus (AlHV-2, HiHV-1 e os

três novos vírus ainda sem denominação) não causem doença clínica, vírus semelhante

a AlHV-2 foi detectado por PCR em oito veados (Cervus elaphus barbarus) que

apresentaram sinais clínicos e lesões de doença compatível com FCM (Klieforth et al.,

2002); isso sugere que, sob certas circunstâncias, esses vírus podem ser patogênicos (Li

et al., 2003).

2.3 Patogênese

Muitas hipóteses têm sido sugeridas para explicar a patogênese das lesões

vasculares, mas nenhuma é totalmente convincente. A ausência de complexos antígeno-

anticorpo e complemento na parede dos vasos e o infiltrado celular linfóide são

inconsistentes com vasculite imunomediada (Liggitt & DeMartini, 1980a). Embora o

DNA viral possa ser detectado em células mononucleares circulantes e na maioria dos

tecidos por PCR, o sítio celular da replicação do vírus in vivo é desconhecido

(Plowright, 1990; Crawford et al., 1999). A ausência de vírus ou expressão viral nas

lesões (Edington et al., 1979; Rossiter, 1980, 1985) indicam que o dano tecidual deve

resultar da proliferação e disfunção de linfócitos-T citotóxicos induzida pelo vírus

(Ellis et al., 1992; Nakajima et al., 1992, 1994; Lagourette et al., 1997). Embora o

mecanismo do recrutamento dos linfócitos TCD8 e o dano tecidual sejam ainda

desconhecidos, alguns achados (Simon et al., 2003) demonstram que o infiltrado

celular predominante nas lesões de FCM aguda é infectado por OvHV-2. Isso sugere a

possibilidade da patogênese ser primariamente relacionada a interações diretas do vírus

com as células ou talvez a respostas imunomediadas diretas contra células infectadas,

ao invés dos efeitos causados pela infecção e disfunção de células linforregulatórias

que resultariam em proliferação benigna de linfócitos-T, como foi sugerido (Buxton et

al., 1984). Grandes linfócitos granulares com atividade de células matadoras naturais -
NK (Reid et al., 1983, 1989; Buxton et al., 1984) ou células matadoras ativadas por

linfocina (Cook & Splitter, 1988) podem estar envolvidos na gênese das lesões

necróticas e destruição epitelial.

Grandes linfócitos granulares são a subpopulação de células T que atuam como

células NK e também como linfócitos T supressores. Se essas células apresentam

disfunção supressora pode ocorrer exuberante proliferação de células T enquanto que a

disfunção de células NK pode resultar em morte indiscriminada de células normais.

Restrição do complexo de histocompatibilidade e macrófagos também parecem ter um

papel na patogênese (Smith, 2002).

2.4 Sinais Clínicos

O período de incubação na infecção natural varia geralmente de três a 10

semanas (Collery & Foley, 1996; Radostitis et al., 2000), mas pode chegar a 200 dias

(Smith, 2002). O curso da doença geralmente é de 3 a 7 dias e raramente prolonga-se

por mais de 14 dias (Radostits et al., 2000).

Dependendo da apresentação, intensidade e duração dos sinais clínicos, a FCM

tem sido classificada nas formas hiperaguda, “cabeça-e-olho”, digestiva (alimentar),

encefálica, dérmica e leve ou branda (Plowright, 1990; O’Toole et al., 1995, 1997;

Murphy et al., 1999; Radostits et al., 2000; Smith, 2002).

Na forma hiperaguda, o curso clínico varia de 1 a 3 dias. Os animais apresentam

febre alta, dispnéia, gastrenterite hemorrágica aguda e rápida perda de peso.

Ocasionalmente ocorre morte súbita, na ausência de sinais prévios (Pierson et al., 1973;

Liggitt et al., 1978; Tham, 1997; Murphy et al. 1999; Radostitis et al., 2000). O curso

clínico da doença aguda é de 3 a 7 dias (Smith, 2002).


A forma “cabeça-e-olho” refere-se à síndrome clássica da FCM (Plowright

1990; Radostits et al., 2000). É caracterizada pelo aparecimento súbito de sinais

relacionados à cavidade oral, oculares, respiratórios e febre (Radostits et al., 2000;

Smith, 2002). Inicialmente há secreção ocular serosa ou seromucosa que pode se tornar

mucopurulenta à medida que a doença progride. A opacidade de córnea é característica;

geralmente inicia na junção córnea-esclera e se estende centripetamente, envolvendo às

vezes toda a córnea e causando cegueira. Na maioria das vezes, é acompanhada de

hiperemia da conjuntiva e episclera, edema de pálpebra, blefarospasmo e fotofobia

(Liggitt et al., 1978; Pierson et al, 1973; Pierson et al., 1978; Whiteley et al., 1985;

O’Toole et al., 1997; Tham, 1997). Hipópion, glaucoma, petéquias nas conjuntivas e

vascularização córnea ocorrem em alguns casos (Selman et al., 1974; Whiteley et al.,

1985; Twomey et al., 2002). Panoftalmite bilateral grave com perfuração da córnea e

protrusão da íris podem ocorrer nos casos graves (O’Toole et al., 1997).

Os sinais respiratórios incluem descarga nasal, inicialmente serosa, progredindo

a mucopurulenta, dispnéia e estertor devido à obstrução da cavidade nasal com

exsudato (Selman et al., 1974; Pierson et al., 1978; Barros et al., 1983; Collery &

Foley, 1996; Twomey et al., 2002). Congestão e necrose superficial são evidentes na

mucosa nasal anterior. Ocasionalmente observam-se erosões recobertas por placas

fibrinonecróticas (Selman et al., 1974; Liggitt et al., 1978). Epistaxe bilateral intensa e

tosse podem ocorrer (Selman et al., 1974; Twomey et al., 2002). A tosse é

presumivelmente causada pela faringite, laringite e traqueíte necrosantes (Plowright,

1990). A pele do focinho pode estar extensivamente afetada por ulcerações recobertas

por crostas resultantes do ressecamento de exsudato e tecido necrosado (Selman et al.,

1974; Tham, 1997; Radostits et al., 2000).


Hiperemia e erosões focais ou difusas aparecem no palato duro, gengiva,

almofada dental, comissuras labiais, lábios e superfície dorsal da língua. A boca é

dolorida nesse período e o animal mastiga com dificuldade (Radostits et al., 2000;

Plowright, 1990). A mucosa é frágil e desprende-se facilmente. As pontas das papilas

bucais estão hemorrágicas com necrose das extremidades; com o tempo acabam se

desprendendo e a papila assume um aspecto rombo. Nesse estágio há intensa salivação

(Collery & Foley, 1996; Selman et al., 1974; Radostits et al., 2000; Twomey et al.,

2002).

Sinais clínicos de distúrbios nervosos desenvolvem-se mais tarde no curso da

doença. Consistem de fraqueza, letargia, incoordenação, ataxia, agressividade e

convulsões (Barros et al., 1983; Colery & Foley, 1996). Tremores musculares podem

aparecer precocemente, e nistagmo, pressão da cabeça, paralisia e convulsões

geralmente ocorrem nos estágios finais (Radostits et al., 2000).

Nos casos de doença espontânea, os linfonodos tendem a aumentar

progressivamente de volume durante o curso clínico. Linfadenopatia também é um dos

achados mais consistentes e persistentes na doença experimental (Plowright, 1968;

Selman et al., 1974; Liggitt et al., 1978).

Lesões cutâneas, especialmente na forma ovino-associada, são comuns, mas

freqüentemente passam despercebidas. Em casos de longa duração, as alterações de

pele, incluindo hiperemia, pápulas e exantema com exsudação e crostas envolvem o

tórax, abdômen, região inguinal, axilas, prepúcio, períneo, úbere, parte inferior dos

membros e ocasionalmente a cabeça (Selman et al., 1974; Barker et al., 1993; O’Toole

et al., 1995). A pele dos tetos, vulva e escroto, nos casos agudos, pode se desprender

completamente ou tornar-se coberta por crostas secas. Lesões crostosas podem correr

na junção pele-casco (Radostits et al., 2000). A laminite pode ser pronunciada e pode
ocorrer desprendimento da capa córnea dos chifres ou dos cascos (Plowright, 1990;

Smith, 2002).

A febre varia de 41°C a 42,2°C (Pierson et al., 1973). Alguns animais

apresentam constipação, mas pode ocorrer diarréia profusa (Pierson et al., 1973;

Selman et al., 1974; Barros et al., 1983). Ocasionalmente observa-se hematúria

(Selman et al., 1974). Outros sinais clínicos incluem apatia, anorexia, agalactia e pulso

acelerado de 100-120/bpm (Radostits et al., 2000).

A forma alimentar é caracterizada por diarréia fétida, profusa, muitas vezes

hemorrágica (melena acentuada) e leves alterações oculares como conjuntivite,

lacrimejamento, fotofobia, febre, hiperemia nas mucosas oral e nasal, leves erosões ou

ulcerações na mucosa oral, linfonodos aumentados, hiperemia do focinho, emaciação,

perda de peso (Pierson et al., 1973; Pierson et al., 1978; Tham, 1997). Essa forma tem

sido encontrada em confinamentos de bovinos leiteiros sem contato direto com ovinos,

animais experimentais e em veados criados para produção. Ocorre doença leve seguida

por doença terminal fulminante. Essa forma intestinal é comum em cervídeos

(Plowright, 1990).

A forma leve ou branda é descrita comumente em animais experimentais

(Pierson et al., 1978). Há febre transitória, acompanhada de erosões discretas nas

mucosas oral e nasal, catarro nasal, diarréia com muco e lesões ulcerativas entre os

dígitos (Tham, 1997). Pode seguir-se por completa recuperação, recuperação com

recrudescimento ou por FCM crônica (Hamilton, 1990; Milne & Reid, 1990; Baxter et

al., 1993; Michel & Asperling, 1994, O’Toole et al., 1995, 1997; Penny, 1998;

Twomey et al., 2002). Uma característica distinta da forma crônica é a persistência de

leucoma ocular bilateral. Alguns animais recuperados permanecem com ceratite


estromal bilateral, com ou sem pigmentação da córnea. A leucomata pode estacionar ou

resolver lentamente (O’Toole et al., 1997).

2.5 Achados de necropsia

As principais lesões macroscópicas são observadas nos tratos respiratório e

digestivo, linfonodos, encéfalo, olhos, fígado, rins e bexiga (Barker et al., 1993;

Barnard et al., 1994). A carcaça está desidratada e pode estar emaciada, com atrofia

serosa da gordura, especialmente quando o curso clínico é prolongado. Além das lesões

oculares, orais, no focinho, nos orifícios nasais externos e na pele, as quais são

discerníveis clinicamente, alterações semelhantes ocorrem na mucosa do septo e

cornetos nasais, na laringe, faringe, traquéia e brônquios. Congestão com necrose,

membranas diftéricas, erosões e áreas hemorrágicas também ocorrem nos cornetos e

septo na grande maioria dos casos da forma “cabeça-e-olho” (Barnard et al., 1994). A

mucosa da faringe e laringe está hiperêmica e edemaciada e com o tempo

desenvolvem-se múltiplas erosões e ulcerações cobertas por exsudato seroso ou

mucopurulento ou, ocasionalmente, por pseudomembranas. Na maioria das vezes, os

pulmões não são envolvidos, exceto ocasionalmente por enfisema, edema, congestão e

broncopneumonia inespecífica secundária (casos crônicos), com leve exsudato pleural

(Barker et al., 1993; Barnard et al., 1994; Smith, 2002). Como nas lesões da cavidade

oral, hiperemia, hemorragia, necrose epitelial e erosões, às vezes seguidas por

ulcerações, ocorrem no palato mole, esôfago, pregas do retículo e pilares do rúmen

(Plowright, 1990; Barker et al., 1993). As erosões e úlceras podem ser cobertas por

depósitos caseosos diftéricos (Radostits et al., 2000). No abomaso, as lesões são mais

extensas. A mucosa do abomaso está hiperêmica e edematosa; há congestão dos

folhetos fúndicos, e erosões hemorrágicas da região pilórica são comuns. Petéquias e


úlceras hemorrágicas podem ocorrer nas margens das dobras e ao longo da curvatura

maior (Barker et al., 1993). A parede intestinal, particularmente do ceco e cólon, está

espessada, edematosa, com petéquias, congestão e ocasionalmente ulceração na

mucosa. A serosa está opaca, finamente granular e com petéquias discretas na serosa.

Na forma intestinal as fezes são enegrecidas e contêm sangue e excesso de muco.

Congestão do omento e leve exsudato peritoneal são freqüentemente encontrados

(Plowright, 1990; Barker et al., 1993; Smith, 2002).

Aumento de volume dos linfonodos devido à hiperplasia linfocítica é

característica da FCM. Todos os linfonodos podem estar envolvidos, incluindo os

hemolinfonodos. Estão edematosos e ocasionalmente congestos e hemorrágicos, com

áreas multifocais de necrose. (Plowright, 1990; Barker et al., 1993; Barnard et al.,

1994). Há edema também no tecido pericapsular (Radostits et al., 2000). As placas de

Peyer estão aumentadas de volume, ulceradas e friáveis (Smith, 2002). As tonsilas

palatinas estão freqüentemente aumentadas de volume e as criptas preenchidas por

conteúdo mucopurulento (Plowright, 1990). Na maioria dos casos há leve ou moderada

esplenomegalia e os folículos linfóides esplênicos estão proeminentes (Plowright,

1990; Barker et al., 1993; Barnard et al., 1994).

O fígado está aumentado de volume e ocasionalmente se observa acentuação

difusa do padrão lobular com áreas brancas (1-2 mm) que demarcam as regiões

periportais e correspondem aos acúmulos inflamatórios de células mononucleares

(Plowright, 1990; Barker et al., 1993). Pode haver numerosas e pequenas hemorragias e

poucas erosões na membrana mucosa da vesícula biliar (Barker et al., 1993; Barnard et

al., 1994).

Outras lesões características podem estar presentes nos rins. Nos casos naturais

estão aumentados de volume com aspecto variegado da cortical produzido por focos
brancos de 1 a 5 mm, petéquias e infartos (Plowright, 1990; Barnard et al., 1994;

O’Toole et al., 1995). Esses focos podem formar projeções circulares a partir da

superfície capsular. A mucosa da uretra freqüentemente tem petéquias e equimoses.

Lesões semelhantes ocorrem na mucosa da bexiga, ocasionalmente associadas à erosão

e ulceração do epitélio (Plowright, 1990; Barker et al., 1993; O’Toole et al., 1995).

Vaginite com congestão, necrose e erosão da mucosa e leve exsudato mucopurulento

pode ser observada (Plowright, 1990). As glândulas adrenais ocasionalmente estão

aumentadas de volume, friáveis, com hemorragia nas áreas cortical e capsular (Liggitt

& DeMartini, 1980b; Radostits et al., 2000).

As leptomeninges estão brilhantes e úmidas com petéquias e opacidade nos

espaços subaracnóideos dos sulcos. Geralmente essas lesões são mais concentradas nas

leptomeninges cerebelares (Barker et al., 1993).

Poliartrite, caracterizada por aumento e opacidade do líquido sinovial e

avermelhamento da sinóvia tem sido relatada em bovinos infectados

experimentalmente (Pierson et al., 1974, 1978; Liggitt et al., 1978).

2.6 Achados histológicos

Microscopicamente, a doença é caracterizada por lesões vasculares, necrose

epitelial e infiltrado linfóide primariamente perivascular em muitos órgãos, proliferação

linforreticular e destruição de pequenos linfócitos em órgãos linfóides como baço e

linfonodos (Pierson et al., 1979; Liggit & DeMartini, 1980a; Plowright, 1990).

Vasculite necrosante fibrinóide generalizada é a lesão histológica característica

e patognomônica da FCM (Plowright, 1990; Nakajima et al., 1992; Barker et al., 1993).

Pode afetar múltiplos órgãos e tecidos, mas é particularmente evidente em alguns locais

como rete mirabile carotídea, rim, encéfalo e leptomeninges cerebral e espinhal, tríade
portal, cornetos etmoidais, pulmão, olho, coração, cápsula dos linfonodos, cápsula e

medula adrenal, glândula salivar, cordão espermático, ligamento largo e qualquer área

da pele ou trato alimentar com lesões macroscópicas (Liggitt et al., 1978; Liggitt &

DeMartini, 1980a; Barker et al., 1993; O’Toole et al.,1997; Collery & Foley, 1996;

Tham 1997).

As lesões vasculares caracterizam-se por acúmulo de células mononucleares

principalmente na adventícia e necrose fibrinóide na camada média, melhor visualizada

nas artérias de médio calibre (Liggitt et al., 1978; Plowright, 1999). Essas alterações

podem ser focais ou segmentares, podem envolver toda a parede ou podem estar

confinadas a uma das túnicas. Segmentos de um vaso severamente afetado são

substituídos por um material coagulado, homogêneo, eosinofílico, no qual se observam

restos nucleares (Barker et al., 1993). Casos crônicos desenvolvem arteriopatia

obliterante crônica, arterite linfocítica e arteriosclerose (O’Toole et al., 1995, 1997).

As lesões inflamatórias caracterizam-se por infiltrado mononuclear (linfócitos,

linfoblastos, macrófagos) perivascular e intramural (Buxton et al., 1984). O infiltrado é

constituído principalmente por linfoblastos ou células linfóides com núcleo grande e

nucléolo proeminente; ocasionalmente pequenos linfócitos, plasmócitos e macrófagos

podem estar presentes (Barker et al., 1993). Neutrófilos são raramente encontrados. Em

geral, ocorre aumento progressivo na intensidade dos acúmulos inflamatórios e das

lesões degenerativo-necróticas, proporcionalmente à gravidade dos sinais clínicos. A

despeito do estágio clínico, as lesões na adventícia são consistentemente mais intensas

que as lesões da túnica média e da íntima. Nos casos mais acentuados, toda a adventícia

pode estar densamente compactada com células mononucleares numerosas e grandes.

Mitoses podem ser freqüentes nos linfócitos da adventícia. As lesões na média são

menos freqüentes e variam desde acúmulo mononuclear sem necrose, até necrose
acentuada. Necrose da média não é observada na ausência de infiltrado inflamatório e

era mais acentuada nos estágios finais da doença (Liggitt & DeMartini, 1980a). As

células endoteliais estão aumentadas de volume ou de número, projetando-se para a luz

empurradas por infiltrado subjacente de células linfóides localizadas na íntima

(Denholm & Westbury, 1979; Liggit & DeMartini, 1980a). Pode ocorrer ainda

hiperplasia acentuada de miócitos na túnica íntima, resultando em arteriopatia

obliterante das artérias de médio calibre (O’Toole et al., 1997). A despeito dessas

alterações na íntima, a trombose é um evento relativamente raro, embora possa ocorrer

e provocar infartos (Plowright, 1990; Collery & Foley,1996).

Alterações semelhantes à da parede dos vasos sangüíneos pode também ocorrer

no tecido conjuntivo da cápsula e trabéculas de linfonodos e baço. Podem ainda se

estender para os tecidos conjuntivo e adiposo. Infiltrado perivascular e degeneração

semelhantes ocorrem nas camadas de músculo liso do intestino (Plowright, 1990).

Depleção linfóide pode ser ocasionalmente observada no baço (Tham, 1997; Liggitt et

al. 1978); a doença é invariavelmente associada com marcada hiperplasia linfóide, a

qual nos linfonodos, envolve primariamente regiões timo-dependentes. No fígado as

lesões incluem infiltrado mononuclear periportal e necrose coagulativa de hepatócitos

adjacentes. No rim há infiltrado celular linfóide intersticial focal e perivascular (Barker

et al., 1993; Barnard et al., 1994).

Lesões do sistema nervoso central incluem meningoencefalite não-supurativa

caracterizada por infiltrado linfóide das meninges e adventícia e média dos vasos

sangüíneos meníngeos e da substância encefálica. Alguns vasos exibem degeneração

fibrinóide. Vasculite linfocítica pode ocorrer na medula espinhal (Collery & Foley,

1996). Há excesso de líquido cefalorraquidiano, contendo grande quantidade de

proteína e células mononucleares (Liggitt et al., 1978; Pierson et al., 1978).


Lesões oculares são caracterizadas por vasculite linfocítica da esclera, retina, e

úvea; uveíte envolvendo especialmente processo e corpo ciliar, íris; ceratite com edema

de córnea e neovascularização, degeneração epitelial e endotelial. Neurite ciliar

linfocítica e meningite óptica são achados menos freqüentes (O’Toole et al., 1997).

Bovinos com FCM crônica têm ceratite estromal central bilateral crônica com ou sem

pigmentação da córnea (O’Toole et al., 1995, 1997).

2.7. Diagnóstico

Para o diagnóstico de FCM, o apoio laboratorial é necessário, já que os sinais

clínicos são inespecíficos (Li et al., 1995a; Mirangi & Kang’ee, 1990). É geralmente

baseado no histórico, epidemiologia, achados clinicopatológicos, e ocasionalmente na

sorologia e determinação genômica do DNA viral no sangue ou tecidos de animais

doentes ou clinicamente sadios (Li et al., 1995a; Tham, 1997; Radostits et al., 2000).

Os achados histológicos de vasculite disseminada são característicos e considerados

patognomônicos da doença (Liggitt & DeMartini, 1980a; Barker et al., 1993).

O diagnóstico da forma gnu-associada é baseado no isolamento viral de

linfonodos, baço e capa flogística do sangue (Reid et al., 1996) e detecção de

anticorpos específicos no soro, especialmente durante o estágio avançado da doença ou

durante convalescença nos poucos animais que sobrevivem (Plowright, 1990).

A transmissão experimental para bovinos ou coelhos pode ser usada como

método de diagnóstico. Utiliza-se sangue total (500 ml), esfregaço ou lavado nasal ou

linfonodos (Radostits et al., 2000; Smith, 2002). Entretanto, a detecção de ácido

nucléico viral pela técnica da reação em cadeia de polimerase (PCR) tem substituído

amplamente os testes biológicos de transmissão. PCR tem sido eficiente e amplamente

utilizada para detecção de ácidos nucléicos genômicos em amostras de campo, a partir


do sangue total ou em tecidos colhidos na necropsia, tanto para a forma africana (Katz

et al., 1991; Lahijani et al., 1994; Tham et al., 1994) como para a forma ovino-

associada (Baxter et al., 1993, 1997; Li et al., 1995b). A técnica de PCR nested de

segundo estágio baseada na amplificação de um único DNA viral tem sido utilizada

como um teste rápido para o diagnóstico definitivo de AlHV-1, AlHV-2 e OvHV-2

(Katz et al., 1991; Baxter et al., 1993; Lahijani et al., 1994; Mirangi & Kang’ee, 1999).

PCR realizada em blocos de parafina tem sido eficiente para detectar seqüências

genômicas dos vírus da FCM em tecidos fixados, especialmente para estudos

retrospectivos (Tham, 1997; Crawford et al., 1999; Collins et al., 2000). Embora etanol

e acetona pareçam ser os melhores fixadores para subseqüente técnica de PCR em

tecidos incluídos em parafina, resultados aceitáveis podem ser obtidos usando-se

tecidos preservados em formalina (Crawford et al., 1999). Geralmente as lesões

histológicas são compatíveis com os resultados positivos na PCR. DNA extraído a

partir de tecidos fixados contém menos inibidores de PCR (Tham, 1997).

PCR e também o teste imunoenzimático de inibição competitiva (CI-ELISA)

geralmente são os métodos de escolha para investigar a epidemiologia da doença,

particularmente o papel de espécies ruminantes com doença inaparente ou infecção

latente (Li et al., 1995b). O CI-ELISA é baseado em um anticorpo monoclonal dirigido

contra um epítopo conservado entre as cepas AlHV-1 e OvHV-2 (Li et al., 1994,

1995b, 1996) e a PCR para a forma ovino-associada é baseada nos primers 556 (5’-

AGTCTGGGTATATGAATCCAGATGGCTCTC-3’) e 755 (5’-

AAGATAAGCACCAGTTATGCATCTGATAAA-3’) na reação primária e 556 e 555

(5’-TTCTGGGGTAGTGGCGAGCGAAGGCTT-3’) na reação secundária (Baxter et

al., 1993; Li et al., 1995b; Mirangi & Kang’ee, 1999). Esses testes são usados em
surtos naturais de FCM e em populações de ruminantes clinicamente sadios (Li et al.,

1994, 1995a,b, 1996; Crawford et al., 1999).

Outros testes sorológicos incluem imunofluorescência indireta, fixação do

complemento e neutralização do vírus. Os testes sorológicos em geral têm valor

limitado para diagnóstico de casos clínicos porque somente uma pequena porcentagem

de animais soroconverte e, ainda assim, somente nos estágios finais do curso da

doença. O título de anticorpos é baixo e há reação cruzada com outros herpesvírus (Li

et al., 1994, 1996).

Leucopenia progressiva por neutropenia ou moderada leucocitose (Radostits et

al., 2000) e aumento dos linfoblastos nos estágios avançados e terminais da doença têm

sido ocasionalmente relatados (Plowright, 1990). Proteína total e células

mononucleares podem estar aumentadas nos líquidos articular e cefalorraquidiano

(Pierson et al., 1978).

2.8 Diagnóstico diferencial

As alterações nos vasos sangüíneos são fortes indicativos de FCM, entretanto

arterite pode ser observada na diarréia viral bovina-doença das mucosas (BVD-MD),

principalmente na submucosa do trato alimentar inferior (Barker et al., 1993), mas

dificilmente tem a mesma morfologia das lesões vasculares que ocorrem

principalmente na rete mirabile carotídea na FCM em bovinos. Outras doenças

semelhantes a FCM incluem rinotraqueíte infecciosa bovina, peste bovina, língua azul,

estomatite vesicular, febre aftosa, doença de Jembrana e encefalomielite bovina

esporádica. Febre aftosa e estomatite vesicular cursam com alta morbidade e baixa

mortalidade e geralmente não se apresentam com diarréia. Língua azul é rara em

bovinos (Plowright, 1990; Radostits et al., 2000).


2.9 Controle, tratamento e profilaxia

Não há tratamento específico. A taxa de morbidade pode ser alta, de até 37%

em um surto. Embora alguns animais com doença clínica leve possam sobreviver,

quase 100% dos que apresentam doença grave morrem (Smith, 2002). Apesar de FCM

geralmente ter pouca importância econômica, perdas importantes podem ocorrer (Bonn,

1990; Hamilton, 1990; Collery & Foley, 1996). Medidas de controle incluem

minimizar o contato entre bovinos e ovinos, particularmente durante a fase de parição

de cordeiros. O gado não deve ser exposto a animais selvagens africanos,

especialmente antílopes como gnu, veado-do-cabo e topi, que podem servir como

portadores dos vírus da FCM (Smith, 2002). Tentativas de produzir uma vacina não

têm sido bem sucedidas (Plowright, 1975) e a vacinação geralmente não é usada na

prática (Murphy et al., 1999).


3. MATERIAL E MÉTODOS

3.1 Surtos espontâneos de febre catarral maligna (FCM) ocorridos em Santiago,

RS, em 2001-2003.

O dados epidemiológicos e clínicos foram colhidos através de visitas às

fazendas onde estavam ocorrendo os surtos, designadas Propriedades A e B. Cinco

visitas foram realizadas na Propriedade A e uma visita na Propriedade B. Os dados

foram complementados por questionários aplicados ao proprietário, ao administrador e

a outros trabalhadores da fazenda. Nove bovinos (identificados por números de 1-9) e

dois bovinos (identificados como 10 e 11) foram necropsiados na Propriedade A e B

respectivamente. Nove bovinos (1-8 e 11) foram necropsiados por docentes e pós-

graduandos do Laboratório de Patologia (LP) do Departamento de Patologia (DP) da

Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e dois bovinos (9 e 10) foram

necropsiados por veterinários de campo e o material foi enviado ao LP para exame

macroscópico e histológico.

Para exame histológico, fragmentos de diversos tecidos foram coletados e

fixados em formol a 10% (Tabela 1). Os olhos, após fixação em formol foram

desidratados em soluções crescentes de etanol (50%→70%→96%), seccionados

longitudinalmente a partir do nervo óptico em direção à córnea e examinados

macroscopicamente antes de serem processados para histologia. O método de colheita e

processamento do encéfalo foi descrito anteriormente (Langohr, 2001) e é mostrado nas

Figuras 1 e 2. Após fixados e clivados, todos os tecidos foram incluídos em parafina,

cortados a 5 µm e corados por hematoxilina e eosina. As lesões foram avaliadas quanto

à sua natureza, intensidade e distribuição. A graduação adotada para a intensidade foi

ausente (-), leve (+), moderada (++) e acentuada (+++).


TABELA 1
Figuras 1 e 2
3.2 Transmissão experimental

3.2.1 Animais de experimentação

Os dados dos cinco terneiros utilizados no experimento encontram-se na Tabela

2. Três desses terneiros (E1-E3), foram adquiridos do Setor de Zootecnia da

Universidade Federal de Santa Maria e os outros dois (E4-E5) vieram da fazenda A, em

Santiago, Rio Grande do Sul, onde havia ocorrido um dos surtos espontâneos de febre

catarral maligna em 2001-2002. Os terneiros estavam em estado nutricional 3 (Stöber et

al., 1990), com exceção do Bovino E1 que apresentava estado nutricional 1, segundo a

mesma classificação de estado corporal (Stöber et al., 1990); esse animal não apoiava o

membro pélvico direito devido a artrite crônica na articulação tíbio-tarso-metatarsiana.

Durante o experimento os terneiros foram mantidos em baias de alvenaria com piso

recoberto por serragem e recebiam feno de alfafa e água à vontade. Inspeção visual e

aferição da temperatura corporal eram realizadas diariamente nos terneiros.

Tabela 2. Dados dos bovinos experimentais inoculados com 500 ml de sangue colhido
de bovino clinicamente afetado por febre catarral maligna.
Origem do
Idade Data de
Bovino Sexo Raça sangue
(meses) inoculação
inoculado
E1 8 MC Charolês x Nelore Bovino 5 21/12/01
E2 6 MC Nelore Bovino E1 18/12/01
E3 5 F Tabapuã x Charolês Bovino E1 18/12/01
E4 12 F Charolês Bovino E2 05/02/02
E5 8 F Tabapuã Bovino E2 05/02/02
MC = macho castrado, F = fêmea.

3.2.2 Inóculo e método de inoculação

O inóculo consistiu de 500 ml de sangue total (Liggitt et al., 1978) retirado de

um bovino previamente diagnosticado com febre catarral maligna (FCM) e com sinais

avançados da doença. O primeiro inóculo foi obtido do Bovino 5, uma fêmea de 3 anos,
tabapuã x charolês, proveniente da Propriedade A. Esse bovino apresentou uma doença

fatal com evolução de 8 dias, diagnosticada como FCM com base nos sinais clínicos

característicos (opacidade de córnea, corrimento ocular e nasal, salivação, hematúria,

diarréia e distúrbios nervosos). Sangue desse bovino foi inoculado no Bovino E1

(primeira passagem). Quando o terneiro E1 adoeceu, seu sangue foi inoculado nos

terneiros E2 e E3 (segunda passagem). Quando o terneiro E2 adoeceu, seu sangue foi

inoculado nos bovinos E4 e E5 (terceira passagem).

A inoculação foi baseada em um método alternativo desenvolvido para coleta e

transfusão de sangue. Detalhes dessa técnica podem ser encontrados em publicação

especializada (Raiser et al., 2003). Resumidamente, 500 ml a 1.000 ml de sangue foram

colhidos da jugular de cada bovino doador do sangue a ser inoculado em garrafas

plásticas de 1,5 litro de capacidade (usadas originalmente para acondicionar água

mineral) contendo heparina∗ (5UI/ml de sangue colhido) como anticoagulante. Durante

a coleta, o vácuo era produzido com seringa plástica de 60 ml, torneira de três vias e

equipos de coleta e transfusão de sangue. Em seguida 500 ml desse sangue era

transfundido para cada terneiro por punção na jugular. Para a transfusão do sangue, em

cada receptor foi utilizado equipo de transfusão com filtros contendo poros de 170 µm.

Após a morte espontânea (Bovinos E2-E4) ou eutanásia (Bovinos E1 e E5) os

terneiros do experimento foram necropsiados. O material de diversos órgãos (Tabela 3)

foi processado para histologia de maneira idêntica à dos casos naturais. Fragmentos de

tonsila do Bovino E4, incluídos em parafina, foram seccionados e submetidos ao

método imunoistoquímico de estreptavidina-biotina peroxidase para o vírus da diarréia

viral bovina (BVDV) utilizando o anticorpo monoclonal anti BVDV 15C5 na diluição

de 1:500.


Heparina: Crisália Produtos Químicos Farmacêuticos Ltda.
Tabela 3 – Órgãos que foram colhidos e processados para a histologia dos 5 bovinos
inoculados com 500 ml de sangue colhido de bovino clinicamente afetado por febre
catarral maligna.

Bovino
Órgão
E1 E2 E3 E4 E5
Coração o • • o o
Rete mirabile • • • • •
Plexo pampiniforme o • o o o
Linfonodo • • • • •
Baço • • • • •
Tonsilas • • • • o
Cornetos nasais • • • o o
Pulmão • • • • •
Glândula salivar o o • o o
Mucosa da cavidade oral • o o • o
Língua o o o • o
Esôfago o o o • o
Abomaso o • • o o
Rúmen o o o • o
Intestino delgado o • • o o
Intestino grosso o • • o o
Fígado • • • • •
Rins • • • • •
Bexiga o • • • o
Encéfalo • • • • •
Medula espinhal cervical • • • • •
Globo ocular • • • • •
Gânglio de Gasser • • • • •
Hipófise • • • • •
Adrenal o • • o o
Tireóide e paratireóide • • • • o
• = colhido; o = não colhido.
3.3 Reação em cadeia de polimerase (PCR)

A identificação dos bovinos e tecidos submetidos à técnica de PCR encontra-se

na Tabela 4. Como controles positivos foram utilizados intestino e linfonodo

emblocados em parafina provenientes de um bisão positivo para OvHV-2 (Simon et al.,

2003) que foram fornecidos pelo Dr. Donal O’Toole*. Para extração do DNA viral

foram seccionados pequenos fragmentos (aproximadamente 25 mg) de vários tecidos

emblocados em parafina, pré-fixados em formol a 10%. As secções foram colocadas

em microtubos de 2 ml, desparafinadas com 1200 µl de xilol por 15 min a 55° C,

lavadas com etanol e secas a vácuo, em temperatura ambiente. As amostras dessecadas

foram suspensas em solução tampão de digestão (100 mM NaCl, 10mM Tris-HCl, pH

8, 25 mM EDTA e 0,5% SDS) com 0,5 mg/ml de proteinase K e incubadas a 55° C por

24 horas. O DNA foi purificado pelo método padrão de extração fenol/clorofórmio e

precipitação com etanol (Maniatis et al., 1982). A concentração de DNA extraído foi

checada em gel de agarose a 0,8%. Para amplificação do DNA do OvHV-2 utilizou-se

um kit comercial Taq PCR Mix (QIAGEN)**, contendo 2 unidades de Taq DNA

Polimerase, 100 µM de cada dNTP, 0.25 µM de ambos primers e cerca de 0,2 µg de

DNA extraído. Para PCR primária foram utilizados os primers 556 (5’-

AGTCTGGGTATATGAATCCAGATGGCTCTC-3’) e 755 (5’-

AAGATAAGCACCAGTTATGCATCTGATAAA-3’). A reação seguiu 35 ciclos de: 5

minutos a 94° C e então, 30 segundos a 94º C, 30 segundos a 55º C, 45 segundos a 72º

C; seguidos de 7 minutos a 72º C e repouso a 4º C. Para PCR nested secundária

utilizou-se a mesma solução de reação, porém com 1 µl do produto do PCR primário ao

invés do DNA extraído; utilizaram-se os primers 556 e 555 (5’-

TTCTGGGGTAGTGGCGAGCGAAGGCTTC-3’). A reação seguiu 35 ciclos de: 5

*
Donal O’Toole, MVB, Phd, University of Wyoming, Wyoming State Veterinary Laboratory, 1174
Snowy Range Road, Laramie, WY 82070, USA
**
QiAamp, Qiagen, Inc., Valencia, CA, Estados Unidos
minutos a 94º C e então 30 segundos a 94º C, 30 segundos a 58º C, 45 segundos a 72º

C; seguidos de 7 minutos a 72º C e repouso a 4º C. Um total de 10 µl de cada produto

do PCR foi avaliado em gel de agarose a 2%.

3.4 Casos espontâneos de febre catarral maligna (FCM) em bovinos ocorridos em

anos anteriores no Rio Grande do Sul

Os arquivos dos laboratórios de patologia da UFSM, da Universidade Federal

do Rio Grande do Sul e do Laboratório Regional de Diagnóstico da Universidade

Federal de Pelotas foram revisados a procura de casos de FCM em bovinos. Sempre

que possível foram anotados dados epidemiológicos, sinais clínicos, alterações de

necropsia e histopatologia em relação aos casos da doença.


TABELA 4
4. RESULTADOS

4.1 Surtos espontâneos de febre catarral maligna (FCM) ocorridos em Santiago,

RS, em 2001-2003

4.1.1 Epidemiologia

As duas propriedades rurais (A e B) onde ocorreram os surtos de FCM são

localizadas no município de Santiago, Rio Grande do Sul. Na propriedade A, os

primeiros casos ocorreram no início de novembro de 2001 e os últimos em fevereiro de

2002. Nessa propriedade havia ocorrido um surto de febre catarral maligna em bovinos

no verão de 1994/95 (ver item 4.4). Os bovinos afetados em 1994/5 e 2001/2 estavam

na mesma invernada (invernada A1) de 200 hectares, onde havia ovinos consorciados

com os bovinos. Em 2001, havia na invernada A1, 170 vacas adultas jovens, cruzas de

raças zebuínas com charolês. O proprietário informou que, pelo menos, quatro ovelhas

estiveram junto com as vacas na invernada A1 e que essas ovelhas haviam parido no

inverno anterior (aproximadamente 4-5 meses antes do início do surto de 2001/2). A

idade das 170 vacas na invernada A1 variava de 3-5 anos, com predominância de vacas

de 4 anos. Apenas uma vaca mais velha (10 anos) fazia parte desse lote. Segundo

informações do proprietário, das 170 vacas 18 adoeceram (morbidade de 10,59%) e 15

morreram (letalidade de 83,33%). Nove foram necropsiadas (Tabela 5).

Na propriedade B, os casos de FCM ocorreram em janeiro e fevereiro de 2003.

De um total de 500 bovinos de 3 e 4 anos de idade, 12 adoeceram (morbidade de 2,4%)

e morreram (letalidade de 100%). Desses 12 bovinos, dois foram necropsiados (Tabela

5). Na propriedade B, os bovinos estiveram em contato com borregas na mesma

invernada durante os 60 dias que precederam o início do surto. Não houve contato com

ovelhas em parição.
TABELA 5
Nos dois estabelecimentos rurais, a doença apresentou um curso clínico agudo a

subagudo. Desde a primeira observação dos sinais clínicos até a morte espontânea ou

por eutanásia in extremis, a evolução da doença variou de 2 a 8 dias. No

Estabelecimento A, o proprietário relatou que três vacas afetadas se recuperaram.

4.1.2 Sinais clínicos

Os principais sinais clínicos estão resumidos na Tabela 6. Foram computados

somente os sinais clínicos observados nos animais que foram necropsiados. As formas

“cabeça-e-olho” (Bovinos 1, 5, 6, 8 e 11) e encefálica (Bovinos 2, 3, 7, 9 e 10) da FCM

predominaram nos dois surtos. Em geral, os sinais iniciavam com apatia, leve

corrimento nasal, corrimento ocular seroso (Figura 3) e febre. O agravamento desses

sinais era rápido e complicado por sinais neurológicos e diarréia, culminando, na

grande maioria dos casos, em morte.

Tabela 6 – Sinais clínicos em 11 bovinos afetados por febre catarral maligna nos surtos
espontâneos ocorridos em Santiago, RS, 2001-2003.

Bovino
Sinal clínico
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11

Febre • • n.a. n.a. n.a. • • • n.a. n.a. •

Corrimento nasal • • • • • • • • • • •

Distúrbios nervosos • • • ο ο • • • • • •

Corrimento ocular • ο • • • • ο ο ο • •

Opacidade da córnea • ο ο ο • • ο • ο ο •

Diarréia ο ο ο • • ο ο ο ο • •

Sialorréia ο ο ο • • ο ο • ο ο ο
Erosões e corrimento
ο ο ο ο ο • ο • ο ο ο
vulvar
Hematúria ο ο ο ο • ο ο ο • ο ο
• = presente; ο = ausente; n.a. = não avaliado.
Observou-se febre em todos os bovinos em que a temperatura corporal foi

aferida (6/6), variando entre 40,5 e 41,5°C. Corrimento nasal seroso que evoluía para

mucoso ou mucopurulento foi observado em todos os bovinos afetados (Figuras 4 e 5).

No Bovino 2, o corrimento era mucopurulento com estrias de sangue. Os Bovinos 5 e 8

tinham intensa descarga nasal serosa acompanhada de erosões, úlceras e

desprendimento do epitélio das narinas; a pele do focinho estava recoberta por exsudato

seco e crostas (Figura 6). Com o agravamento dos sinais clínicos, corrimento ocular

seroso (observado em 7 dos 11 bovinos afetados) tornava-se profuso e seromucoso e o

ressecamento desse exsudato formava crostas sobre as pálpebras e face. Lesões

oculares, características da forma “cabeça-e-olho”, foram observadas freqüentemente

(6/11) e consistiam predominantemente de opacidade de córnea uni ou bilateral com

hiperemia das conjuntivas e esclera. A opacidade da córnea era difusa (Figura 7) ou

concentrada na periferia e junção córnea-esclera. Os bovinos com intensa opacidade de

córnea estavam cegos. O Bovino 6, além da opacidade difusa da córnea tinha intenso

edema palpebral, conjuntivite e congestão da esclera, com protrusão da membrana

nictitante e exsudato fibrinoso sobre a mucosa (Figura 8). Hipópion ou hifema foi

observado em dois bovinos (7 e 11).

Uma manifestação clínica quase constante nos dois surtos (9/11) consistiu de

distúrbios nervosos que variavam de intensidade de acordo com o estágio da doença.

Consistiam desde apatia, leve incoordenacão ou ataxia grave, hipermetria (Figura 9),

tremores e convulsões. O Bovino 1, poucas horas antes da eutanásia in extremis, estava

em decúbito, com opistótono, tremores e freqüentes episódios convulsivos seguidos por

movimentos de pedalagem. Três bovinos (2, 7 e 8) apresentaram agressividade.

Três bovinos (1, 3 e 6) apresentaram dispnéia e estertor em conseqüência da

obstrução das vias respiratórias superiores.


Na fase final da doença as fezes tornavam-se pastosas e diarréia profusa ocorreu

em 4 dos 11 bovinos examinados.

Três bovinos apresentaram intensa salivação, em conseqüência das lesões

erosivo-ulcerativas na mucosa oral. Outros sinais menos freqüentes incluíram

hematúria (2/11), corrimento vulvar mucopurulento acompanhado de erosões,

ulcerações e miíase na mucosa (2/11), crostas e erosões na pele da região do lombo e

flanco, desidratação, inapetência e caquexia (1/11).


Figuras 3 e 4
Figuras 5 e 6
Fig.7 e 8
Fig.9
4.1.3 Achados de necropsia

Os principais achados de necropsia incluíam lesões nos tratos digestivo,

respiratório superior e urinário e referem-se a 9 dos 11 animais necropsiados (Tabela

7). Adicionalmente, as lesões oculares observadas clinicamente, foram confirmadas na

necropsia. Na superfície de corte do globo ocular a córnea aparecia espessada e opaca.

No Bovino 11, a córnea estava difusamente esbranquiçada e a câmara anterior era

preenchida por pus e fibrina (hipópion). Havia sangue nas câmaras anterior e posterior

do olho direito do Bovino 7.

Tabela 7 – Principais alterações macroscópicas em 11 bovinos afetados por febre


catarral maligna necropsiados nos surtos espontâneos ocorridos em Santiago, RS, 2001-
2003.

Bovinos
Alteração (freqüência)
1 2 3 4 5 6 7 8 11
Erosões/úlceras nos cornetos nasais (6/9) • • • • • ο ο ο •

Erosões/úlceras na cavidade oral (3/9) ο ο ο • • • ο ο ο

Necrose das papilas bucais (3/9) ο ο ο • • • ο ο ο

Enfisema/edema pulmonar (4/9) • ο ο • ο ο • ο •

Aumento de volume dos linfonodos (6/9) ο ο ο • • • • • •

Erosões/úlceras no abomaso (7/9) • • ο • • • • • ο

Hemorragia/úlceras no intestino (4/9) ο • ο • • ο • ο ο

Focos pálidos no rim (7/9) • ο • • • • • ο •

Hemorragia/edema na bexiga (6/9) • • ο ο • • • • ο

Hiperemia da leptomeninge (3/9) ο • ο ο • ο ο • ο

• = presente; ο = ausente. As necropsias dos bovinos 9 e 10 foram realizadas por


veterinários de campo e as descrições das alterações macroscópicas são muito
sumárias. Por essa razão esses dois bovinos foram excluídos da tabela.
Erosões e ulcerações da mucosa e necrose das pontas papilas sensitivas

ocorreram na cavidade oral de 3 dos 9 bovinos (Figura 10). Na mucosa oral do bovino

5, especialmente nas comissuras labiais e gengiva, havia grave ulceração infiltrada por

miíase. Na mucosa das bochechas havia manchas vermelho-escuras de até 5 cm de

diâmetro constituídas por erosões e necrose das papilas sensitivas. Na almofada dental

e palato duro havia focos de erosões e desprendimento do epitélio. Extensas erosões e

úlceras também estavam presentes no epitélio da língua; na superfície dorsal havia

múltiplos orifícios (3 a 5 mm de diâmetro) repletos de miíase.

Na mucosa do abomaso havia múltiplas erosões e manchas salientes róseo-

avermelhadas, com freqüente ulceração nas extremidades das pregas (Figura 11). Em

quatro animais (Bovinos 2, 4, 5 e 7), a mucosa do intestino grosso estava avermelhada

e petéquias e equimoses foram observadas na mucosa do ceco do Bovino 4. As placas

de Peyer estavam aumentadas de volume, com superfície irregular nos Bovinos 2 e 5.

No trato respiratório superior observou-se em três bovinos (4, 5 e 11), hiperemia

e exsudato catarral nas fossas nasais, ocasionalmente acompanhados de petéquias,

erosões e úlceras da mucosa das narinas (Figura 12). Hiperemia, erosões ou ulcerações

de até 1 cm de diâmetro recobertas por placas diftéricas ou exsudato purulento estavam

presentes nos cornetos nasais de sete bovinos (Figura 13). Havia tampões de exsudato

catarral ou fibrinopurulento na luz da traquéia, brônquios e porção inicial dos

bronquíolos de dois bovinos (2 e 5) ou petéquias e víbices na mucosa da traquéia e

brônquios de outros dois (7 e 8). Lesões pulmonares consistiam de edema (Bovino 7)

ou enfisema intersticial leve (1 e 4) ou acentuado (11). As lesões enfisematosas do

pulmão foram atribuídas a processos agônicos.

Nefrite intersticial, representada por múltiplos focos pálidos na superfície

natural (Figura 14) e de corte (Figura 15), foi observada na maioria dos bovinos
necropsiados (7/11). Esses focos pálidos localizavam-se predominantemente no córtex

renal, eram branco-amarelados, com 2 a 4 mm de diâmetro e ocasionalmente

apresentavam um pequeno orifício central, correspondente a um vaso sangüíneo de

pequeno calibre. Na bexiga as lesões também foram freqüentes (7/11) e caracterizadas

por edema acentuado da parede, petéquias e equimoses na mucosa (Figura 16).

Os linfonodos mesentéricos estavam ocasionalmente aumentados de volume e

ao corte tinham a superfície irregular, edematosa ou hemorrágica (Bovinos 4, 5, 6, 7 e

8). Na superfície de corte dos linfonodos retrofaríngeos, prescapulares e ilíacos do

Bovino 11 (Figura 17) observavam-se proliferações nodulares claras de 2 a 4 mm de

diâmetro concentradas na região medular (hiperplasia linfóide).

A leptomeninge estava difusamente hiperêmica nos Bovinos 2, 5 e 8. Coágulos

cruóricos envolviam a base do tronco encefálico e cerebelo em dois bovinos (1 e 4). As

hemorragias no tronco encefálico foram atribuídas a lesões traumáticas provavelmente

ocasionadas por quedas.

Lesões infreqüentes incluíram erosões lineares na mucosa do esôfago e

corrimento uterino catarral com ulceração focal na vulva (Bovinos 6 e 8), acentuação

do padrão lobular do fígado (Bovino 2) e edema, petéquias e equimoses na mucosa da

vesícula biliar (Bovino 5).


Fig.10 a e b
Fig. 11
Fig. 12 e 13
Fig. 14 e 15 rins
Fig. 16 e 17 bexiga e linfonodo
4.1.4 Achados histológicos

Na histologia, observaram-se infiltrados inflamatórios mononucleares

perivasculares, necrose do epitélio de revestimento e, especialmente, vasculite

fibrinóide em múltiplos órgãos e tecidos (Tabela 8). A intensidade das lesões

vasculares variou desde mínimo infiltrado linfocítico na adventícia até extenso

comprometimento transmural. Essas lesões eram comumente observadas em artérias e

arteríolas dos rins, bexiga, cornetos nasais, encéfalo e rete mirabile (Figuras 18 e 19).

Consistiam de infiltrado inflamatório mononuclear na parede, predominantemente na

adventícia, estendendo-se para os espaços perivasculares. Necrose fibrinóide focal ou

segmentar era ocasionalmente observada na túnica média das artérias de médio calibre

do rim (Figura 20). Ocasionalmente observava-se obliteração da luz vascular devido ao

intenso infiltrado inflamatório transmural, com tumefação e hiperplasia de células

endoteliais e miócitos e infiltrado inflamatório na íntima. Ruptura da parede e

trombose foram visualizados nas arteríolas e artérias de médio calibre do rim apenas no

Bovino 1.

As células inflamatórias eram compostas predominantemente por linfócitos, e

outras células mononucleares indistintas, com moderado pleomorfismo, núcleos

vesiculares ou moderadamente corados. Ocasionalmente eram observados plasmócitos

e macrófagos, e raramente neutrófilos. No interstício essas células formavam acúmulos

de intensidade variada, geralmente próximos a vasos.


TABELA 8
Fig. 18 a e b vasos da rete
Fig. 19 a e b uma artéria da rete
As lesões oculares incluíram vasculite, edema, hemorragia, ceratite, uveíte e

conjuntivite (Figura 21). A córnea estava espessada com separação das fibras estromais

por edema e leve infiltrado mononuclear e neutrofílico. Em alguns casos havia

ulceração do epitélio, tumefação das células epiteliais remanescentes e

neovascularização. Intensa congestão e hemorragia eram freqüentemente observadas no

corpo ciliar e íris. Hemorragia na câmara anterior foi observada em um bovino. As

lesões inflamatórias mais graves com vasculite necrosante se concentravam no limbo,

esclera, episclera, conjuntiva bulbar e íris. Os vasos da retina e corpo ciliar eram menos

afetados. Nos casos mais graves observava-se vasculite circunjacente ao nervo óptico

(Figuras 22 e 23), corpo ciliar, limbo e ocasionalmente na esclera, córnea e conjuntiva.

Linfócitos, macrófagos, neutrófilos e alguns plasmócitos infiltravam difusamente o

interstício. Em um bovino a câmara anterior está repleta por placa de material fibrilar

protéico com poucas células mononucleares e neutrófilos (hipópion fibrinoso).

As lesões epiteliais incluíram necrose com erosão e/ou ulceração,

acompanhadas de infiltrado inflamatório mononuclear semelhante ao infiltrado

observado nos vasos. Eram invariavelmente acompanhadas de vasculite leve a

moderada nas camadas subjacentes. Ocorriam ao longo do trato gastrintestinal,

respiratório superior e bexiga. Na mucosa oral, especialmente na bochecha e lábios,

havia erosões e úlceras, e a submucosa subjacente estava infiltrada por células

inflamatórias predominantemente mononucleares. Em dois bovinos havia ulceração do

epitélio da língua com infiltrado inflamatório mononuclear na muscular e ao redor de

vasos. Nas narinas o epitélio estava ausente com múltiplos focos de hemorragia e

necrose na submucosa e infiltrado mononuclear na adventícia dos vasos da lâmina

própria. Nos cornetos nasais as lesões variaram desde leve congestão e hemorragia até

grave ulceração e/ou erosões acompanhadas de infiltrado difuso na submucosa. Em


dois bovinos (4 e 11) as arteríolas da submucosa estavam intensamente afetadas, com

acúmulo de restos celulares e material eosinofílico fibrinóide e infiltrado inflamatório

na adventícia e média (Figura 24). Em um animal as lesões erosivo-ulcerativas

estendiam-se para o focinho, onde o epitélio remanescente estava hiperqueratótico e

recoberto por restos celulares e exsudato. No trato gastrintestinal as lesões erosivo-

ulcerativas estavam presentes no abomaso e intestino delgado. Ocasionalmente havia

hemorragia e edema na submucosa com infiltrado difuso intersticial e vasculite na

lâmina própria e submucosa. Na bexiga havia erosões e ulceração do epitélio. Na

lâmina própria e submucosa havia intensa hemorragia e infiltrado inflamatório

mononuclear. Freqüentemente observava-se edema acentuado na submucosa e

muscular superficial, com grave vasculite fibrinóide.

Lesão inflamatória leve a acentuada acompanhava as lesões vasculares no rim e

no fígado. Os focos branco-amarelados vistos macroscopicamente nos rins

correspondiam a vasculite e ao infiltrado celular intersticial mononuclear (ver Figura

20). No fígado, as lesões concentravam-se predominantemente nos espaços-porta

(Figura 25). Ocasionalmente eram acompanhadas de degeneração e necrose de

hepatócitos.

A intensidade das lesões no sistema nervoso central (SNC) variava de acordo

com a região anatômica afetada. As lesões mais proeminentes eram encontradas nos

vasos da leptomeninge e espaços de Virchow-Robin. Consistente infiltrado perivascular

e vasculite foram observados na leptomeninge cerebelar (Figura 26) acompanhadas de

lesões semelhantes, porém menos graves no parênquima, especialmente na substância

branca (Figura 27). Às vezes, observava-se leve hemorragia, restos celulares, raros

neutrófilos e leve gliose, próximos às lesões vasculares. Os vasos mais afetados

apresentavam 4 a 6 camadas de células inflamatórias a partir da adventícia.


As lesões nos linfonodos consistiam de congestão, hemorragia, edema e

vasculite necrosante, ocasionalmente acompanhada de depleção linfóide. Os seios e

cordões medulares estavam ocasionalmente expandidos por macrófagos e linfócitos.

Hiperplasia de células linfocíticas e reticuloendoteliais foi raramente observada.

Outras alterações incluíram hemorragia multifocal ou coalescente na submucosa

da vesícula biliar (Bovino 5) e erosões multifocais na mucosa do esôfago (Bovino 11).


Fig. 20 e 21 rim e olho
Fig. 22 e 23 nervo e vaso
Fig. 24 a e b corneto
Fig. 25, 26 e 27 fígado, cerebelo meninge, cerebelo parênq.
4.2 Transmissão experimental

4.2.1 Sinais clínicos

Quatro dos cinco bovinos inoculados manifestaram sinais clínicos compatíveis

com febre catarral maligna (FCM) após período de incubação que variou de 15 a 27

dias. Três desses quatro bovinos morreram espontaneamente e um foi sacrificado in

extremis. A evolução do quadro clínico nesses quatro animais foi de 3 dias a 8 semanas.

O quinto bovino (E5) mostrou sinais clínicos leves, recuperou-se e foi submetido à

eutanásia 14 semanas após a inoculação (Tabela 9).

Os sinais clínicos geralmente iniciavam por apatia ou anorexia associados a

corrimento ocular e nasal serosos. Em dois casos (E1 e E3), o corrimento nasal

aumentou de intensidade e evoluiu para mucopurulento. Opacidade de córnea foi

observada em dois bovinos (E1 e E3). O Bovino E3 apresentou adicionalmente hifema

no globo ocular direito e fotofobia. Três bovinos (E1-E3) apresentaram febre entre

41°C-41,5°C. Diarréia foi observada em três bovinos (E3, E4 e E5); outros dois

apresentaram fezes pastosas. A diarréia era profusa e marrom-escura no Bovino E3 e

evoluiu para sanguinolenta no Bovino E4. Os linfonodos prescapulares estavam

levemente aumentados de volume no Bovino E3.

Dois dos terneiros com FCM transmitida experimentalmente (E1 e E2)

mostraram sinais clínicos de distúrbios nervosos. O Bovino E1 manifestou

incoordenação, agressividade e convulsões que se repetiam com maior freqüência após

estímulo e ocasionais quedas seguidas de movimentos de pedalagem e tremores

musculares intermitentes. Três dias após o início dos sinais clínicos, esse terneiro não

conseguia levantar, apresentava movimentos de pelagem (Figura 28) e opistótono

(Figura 29). O Bovino E2 mostrou os mesmos sinais que E1, com exceção de
agressividade e com adição de pressão da cabeça contra objetos, ranger de dentes e

nistagmo. No estágio terminal permanecia em decúbito lateral.


Tabela 9
Fig. 28 e 29
4.2.2 Achados de necropsia

Quatro dos cinco bovinos dos experimentos de transmissão de FCM

apresentaram alterações de necropsia compatíveis com FCM. Não foram observadas

alterações macroscópicas na necropsia do Bovino E5.

Na pele do Bovino E2 havia erosões na região periocular e os pêlos da região

infraorbital estavam cobertos por corrimento ressequido. Opacidade da córnea foi

observada em dois bovinos; era bilateral no Bovino E1 e mais acentuada no olho direito

do Bovino E3. Hiperemia da conjuntiva ocorreu no Bovino E3. Os linfonodos

prescapulares (Bovinos E2 e E3), faríngeos, mesentéricos e ilíacos (Bovino E3)

estavam aumentados de volume (Bovinos E2 e E3) e firmes (Bovino E3), com nódulos

brancos de 2 a 3 mm de diâmetro tanto na cortical como na medular (Bovinos E2 e E3).

Discretas erosões recobertas por fibrina foram observadas nos cornetos nasais do

Bovino E1. No Bovino E2, os cornetos nasais estavam avermelhados e havia secreção

mucosa na cavidade nasal. Discretas erosões na superfície distal da língua e de outras

regiões da cavidade oral foram observadas no Bovino E4. As alterações na mucosa do

esôfago foram vistas em três bovinos (E2-E4) e consistiam de erosões ou ulcerações.

Ulcerações e erosões também foram observadas na mucosa do rúmen do Bovino E4 e

no abomaso do Bovino E1. A mucosa do cólon do Bovino E3 estava avermelhada e

havia erosões e ulcerações na mucosa de toda a extensão intestinal do Bovino E4.

Nódulos branco-amarelados, multifocais, de 2 a 5 mm de diâmetro distribuíam-se no

córtex renal do Bovino 1 e petéquias foram observadas na mucosa da bexiga do Bovino

E2. Múltiplos nódulos caseosos morfologicamente compatíveis com tuberculose foram

observados nos linfonodos, pulmão, baço e articulação tíbio-tarso-metatarsiana do

Bovino E1 e interpretadas como lesões incidentais não relacionadas à inoculação do

vírus da FCM.
4.2.3 Achados histológicos

Lesões microscópicas compatíveis com FCM, semelhantes aos casos naturais da

doença, foram encontradas em três bovinos inoculados (E1-E3). A primeira passagem

do vírus produziu as lesões histológicas mais graves, caracterizadas por vasculite,

inflamação intersticial e necrose epitelial.

As lesões vasculares consistiam de infiltrado de células mononucleares e raros

polimorfonucleares e abrangiam a túnica média e adventícia dos vasos, freqüentemente

estendendo-se para o espaço perivascular (no caso do sistema nervoso central) ou para

o parênquima. Os vasos mais intensamente afetados apresentavam entre 4 a 5 camadas

de células inflamatórias. As lesões vasculares foram mais intensas no sistema nervoso

central (SNC) dos Bovinos E1 e E2 e eram mais proeminentes nos vasos da

leptomeninge do cerebelo. Infiltrados perivasculares e meníngeos eram também

observados em vários locais do SNC e rete mirabile desses dois bovinos. A intensidade

e distribuição das lesões vasculares no SNC em comparação aos sinais clínicos de

distúrbios nervosos aparecem na Tabela 10. Lesões vasculares no encéfalo do Bovino

E3 eram mínimas.
Tabela 10
Lesões vasculares foram observadas ainda nas arteríolas renais (Bovino E1), no

plexo pampiniforme (Bovino E2) e no globo ocular e tecidos perioculares (Bovino E2).

No córtex renal havia extensos acúmulos intersticiais de células inflamatórias ao redor

dos vasos de maior calibre e estendendo-se para os espaços perivasculares. O infiltrado

era discreto ao redor de glomérulos. As lesões oculares consistiram de infiltrado

inflamatório moderado focalmente extenso de células mononucleares no estroma da

córnea e no processo ciliar; as células inflamatórias ocasionalmente circundavam ou

infiltravam a adventícia de vasos do processo ciliar. Lesões vasculares características

de FCM não foram observadas em nenhum dos tecidos examinados do Bovino E4.

Os focos esbranquiçados vistos macroscopicamente nos linfonodos dos Bovinos

E2 e E3 correspondiam a nódulos de hiperplasia linfocítica. Áreas hemorrágicas e de

proliferação multifocal de macrófagos e linfócitos foram observadas no Bovino E2. Ao

contrário da hiperplasia linfóide característica da FCM, observou-se depleção nos

linfonodos e baço do Bovino E4.

No Bovino E2, acúmulos multifocais de células inflamatórias ocorriam na

lâmina própria dos cornetos nasais e havia moderada a acentuada necrose fibrinóide na

parede dos vasos da lâmina própria, com leve a moderado infiltrado inflamatório na

adventícia. O epitélio dos cornetos do Bovino E1 estava ulcerado, com infiltrado

mononuclear inflamatório moderado difuso na submucosa.

Havia erosão do epitélio de revestimento da bochecha do Bovino E1 com

infiltrado difuso e acentuado de células inflamatórias mononucleares na submucosa

superficial. Lesões erosivo-ulcerativas associadas a infiltrado mononuclear da

submucosa eram observadas na mucosa oral, com múltiplas erosões na porção dorso-

caudal da língua, esôfago e rúmen (Bovino E4) e mucosa esofagiana do Bovino E3.

Leve infiltrado mononuclear foi observado nos espaços-porta do fígado dos Bovinos E1
e E5. No intestino havia leve infiltrado intersticial e vasculite na submucosa e muscular

(Bovino E2).

Infiltrado mononuclear ocorria no interstício da tireóide (Bovino E1). Na bexiga

do Bovino E2 havia ulceração multifocal do epitélio de transição com infiltrado

mononuclear na lâmina própria subjacente; infiltrado mínimo de células mononucleares

ocorria na parede dos vasos da lâmina própria e submucosa associado a edema na

muscular da mucosa e submucosa.

Os nódulos observados macroscopicamente nos linfonodos, baço, pulmão e

articulação tíbio-tarso-metatarsiana do Bovino E1 correspondiam a granulomas cáseo-

calcáreos característicos de tuberculose. A cultura bacteriana do pulmão e linfonodos

confirmou a presença de Mycobacterium bovis nesses órgãos. As lesões de tuberculose

foram consideradas incidentais e anteriores à inoculação com o sangue de animal

afetado por FCM. Fragmentos de tonsila do Bovino E4 resultaram negativos para o

vírus da diarréia viral bovina na técnica de imunoistoquímica.

4.3 Reação em cadeia de polimerase (PCR)

Dos 14 bovinos inicialmente diagnosticados com FCM pelo critério

clinicopatológico, 10 (71,43%) foram positivos para OvHV-2 na técnica de PCR nested

(Tabela 11). Todos os casos positivos na PCR foram compatíveis com o diagnóstico

histológico positivo. Seis bovinos positivos na histologia resultaram negativos na PCR;

dois (Bovinos E4 e E5) foram negativos em ambos os testes. O DNA de OvHV-2 foi

detectado em amostras de tecidos variados (Figuras 30 e 31). Sete casos espontâneos

foram positivos para OvHV-2 em um ou dois tecidos. Em relação aos casos

experimentais, foram positivas todas as amostras de tecidos examinadas dos Bovinos

E1 e E2 e uma amostra de tecido do Bovino E3.


Do total de 71 amostras de tecidos examinadas pela PCR, 18 foram positivas

para OvHV-2. Dessas, 16 (incluindo encéfalo, rim, linfonodo, adrenal, bexiga, corneto

nasal, fígado e rete mirabile) tinham lesão histológica leve ou acentuada compatível

com FCM e duas (baço e linfonodo) eram de tecidos sem alterações histológicas

(Tabelas 12 e 13).
Tabela 11
Figuras 30 e 31
Tabelas 12
Tab. 13
4.4 Casos espontâneos de febre catarral maligna em bovinos relatados no Rio

Grande do Sul (1973-2003)

4.4.1 Epidemiologia

Na pesquisa realizada em três laboratórios de diagnóstico, verificaram-se 14

relatos de surtos ou ocorrências esporádicas de casos de FCM em bovinos, abrangendo

as regiões sul, centro e leste do Rio Grande do Sul, num período de 1973 a 2003.

Nesses relatos, estão incluídos os dois surtos descritos nesta Dissertação. Os relatos

foram numerados em forma decrescente de 1-14 (Tabela 14). Em seis desses relatos (1,

5, 7, 9, 12 e 14), a doença ocorreu sob forma de epizootias (43%) e em oito sob forma

esporádica (57%), afetando de um (sete relatos) a três bovinos (um relato). O surto

epizoótico de maiores proporções ocorreu em Santana do Livramento, com morte de

100 bovinos Hereford de dois anos de idade durante um período de um ano.

Somente em oito oportunidades (relatos 1, 3, 5, 7, 10, 12-14) os dados

disponíveis permitiram o cálculo da morbidade que foi, respectivamente, 2,4%, 6,67%,

10,59%, 2,5%, 14,23%, 6,17%, 25% e 20%. Os dados colhidos indicam que a taxa de

letalidade foi, quase invariavelmente, de 100%, mas, no surto do relato 5, pelo menos

três bovinos afetados sobreviveram (letalidade de 83,33%). Dados relativos à idade dos

bovinos afetados estavam disponíveis em 8 dos relatos; variou desde animais de

sobreano (ao redor de 18 meses) até de 10 anos. Com exceção de uma vaca charolês do

relato 5 (10 anos de idade), todos os outros bovinos afetados tinham 4 anos de idade ou

menos. Ambos os sexos foram afetados igualmente.

Em sete ocasiões (relatos 1-3, 5, 12-14) havia ovelhas em contato com os

bovinos; em outras seis (relatos 4, 6-9 e 11) esse dado epidemiológico não era

informado. No entanto, em uma ocasião (relato 10, município de Porto Alegre) não

havia ovinos em contato com o bovino (um touro holandês de três anos) que foi
afetado. A maioria dos casos de FCM ocorreu nos meses mais quentes da primavera e

verão, no entanto casos foram diagnosticados no inverno em três oportunidades (relatos

7, 10 e 11).

4.4.2 Sinais clínicos

Os sinais clínicos dos 14 relatos de surtos ou ocorrências esporádicas de FCM

no Rio Grande do Sul estão especificados na Tabela 15. A doença apresentou um curso

agudo ou subagudo e, na maioria das vezes, fatal. Distúrbios nervosos foram

mencionados em 9 dos 14 relatos (64%). Os sinais clínicos de distúrbios nervosos

freqüentemente relatados incluíam apatia, incoordenação, hipermetria, tremores

musculares, agressividade, cegueira, quedas, opistótono, movimentos de pedalagem e

convulsões.

4.4.3 Achados de necropsia

Os achados de necropsia que constam dos 14 relatos de surtos ou ocorrências

esporádicas da doença no Rio Grande do Sul foram compilados de 24 necropsias

realizadas em bovinos desses relatos. Os principais achados de necropsia incluíam

lesões nos tratos digestivo, respiratório superior e urinário (Tabela 16).

Adicionalmente, as lesões observadas clinicamente (por ex., opacidade da córnea)

foram também confirmadas na necropsia. Lesões características desses casos de febre

catarral maligna foram hiperemia, erosões e ulcerações em várias superfícies mucosas

do trato alimentar, respiratório, urinário e genital, aumento de volume dos linfonodos,

que por vezes tinham aspecto hemorrágico, e múltiplos focos brancos de infiltrado

inflamatório no rim e nos espaços-porta do fígado; essa última alteração dava um

aspecto reticular à superfície (natural e de corte) hepática. As lesões oculares foram

bastante freqüentes e, portanto, características da doença.


Tabela 14
Tabela 15
Tabela 16
4.4.4 Achados histológicos

Os principais achados histológicos nos 14 relatos de surtos ou ocorrências

esporádicas de casos de FCM no Rio Grande do Sul estão na Tabela 17. Em geral esses

achados constituíam três categorias de lesões: 1) lesões vasculares, 2) necrose de

epitélios com infiltrado inflamatório da lâmina própria e 3) acúmulo de células

inflamatórias mononucleares em diversos órgãos. A lesão vascular caracterizava-se por

infiltrado de células mononucleares (linfócitos, plasmócitos e histiócitos),

predominantemente na adventícia, e necrose fibrinóide da parede vascular que

afetavam principalmente artérias de pequeno calibre e arteríolas e ocorriam em

múltiplos órgãos. Lesões vasculares características foram freqüentemente observadas

no sistema nervoso central e rim. Os acúmulos de células inflamatórias em diversos

órgãos tinham também características mononucleares semelhantes aos descritos nas

artérias. Em alguns órgãos como rim, fígado e globo ocular, esses acúmulos

inflamatórios eram suficientemente grandes para serem percebidos macroscopicamente

(ver item 4.4.3 e Tabela 16). Hiperplasia linfóide foi outro achado histológico

freqüente.
Tabela 17
4. DISCUSSÃO

Os sinais clínicos, os achados de necropsia e a histopatologia observados tanto

nos 11 bovinos das duas epizootias nas propriedades A e B, como nos casos

espontâneos revisados no RS, são consistentes com os relatos anteriores sobre essa

doença em bovinos (Selman et al., 1974; Liggitt et al., 1978; Barros et al., 1983; Ligitt

et al., 1980a,b; Hamilton, 1990; Collery & Foley, 1996; Otter et al., 2002).

Adicionalmente, o diagnóstico de FCM foi confirmado nos casos espontâneos em

Santiago, RS, em 2001/03 pela reprodução experimental da doença (Propriedade A) e

pela determinação genômica de OvHV-2 nos tecidos dos bovinos afetados

(Propriedades A e B). Vários surtos de FCM em bovinos haviam sido relatados no

Brasil anteriormente (Torres, 1924; Döbereiner & Tokarnia, 1959; Sampaio et al.,

1972; Oliveira et al., 1978; Figueiredo et al., 1990; Barros et al., 1983; Marques et al.,

1986; Riet-Correa et al., 1988; Baptista & Guidi, 1998; Silva et al., 2001), mas os

diagnósticos foram feitos com base nos sinais clínicos, alterações de necropsia e

histopatologia. Desse modo, até onde sabemos, esses são os dois primeiros surtos de

FCM em bovinos em que a transmissão experimental e a técnica de PCR confirmaram

casos que haviam sido diagnosticados pelos sinais clínicos, alterações de necropsia e

histopatologia característicos. A confirmação de FCM em veado (Mazama

goauzoubira) através de PCR já havia sido relatada (Driemeier et al., 2002). Isso

sugere que o vírus que circula no Brasil é o OvHV-2. Tem sido demonstrado que a

técnica de PCR para detecção de segmentos de DNA viral de OvHV-2 é um teste

altamente sensível e específico para os casos de FCM ovino-associada (FCM-OA)

(Müller-Doblies et al., 1998; Crawford et al., 1999; Collins et al., 2000). Seqüências do

vírus são demonstradas em vários tecidos, particularmente no tecido linfóide (Crawford


et al., 1999). O DNA de OvHV-2 é geralmente detectado nos tecidos com vasculite

(Crawford et al., 1999) ou com infiltrado linfocítico (Collins et al., 2000). Neste estudo

o teste apresentou alta sensibilidade e não houve correlação entre a positividade para

PCR e a intensidade do infiltrado linfocítico nos diferentes tecidos. Tecidos de bovinos

dos surtos espontâneos que resultaram negativos no teste de PCR neste estudo, eram

tecidos re-emblocados ou emblocados após fixação em formol por longos períodos.

Períodos de fixação superiores a 45 dias produzem resultados negativos ou fraco

positivos (Crawford et al., 1999). Isso poderia explicar a discordância entre os

resultados da histologia e os da PCR nesses casos e os achados histopatológicos

patognomônicos (Plowright, 1990; Barker et al., 1993; Barnard et al., 1994). Um

exemplo disso é que o Bovino 5 que foi doador do sangue para os experimentos, tinha

lesões características de FCM, mas não teve a presença do DNA de OvHV-2 detectado

pela técnica de PCR. Mesmo assim, três dos terneiros que receberam o sangue

propagado a partir do sangue do Bovino 5, desenvolveram FCM e tiveram a presença

de OvHV-2 em seus tecidos confirmada por PCR.

A FCM-OA ocorre geralmente na forma esporádica afetando um único bovino

por rebanho (Riet-Correa et al., 1988; Barker et al., 1993; Smith, 2002), embora

existam relatos de surtos com múltiplos casos (Pierson et al., 1973; Barros et al., 1983;

Bonn, 1990; Hamilton, 1990; Collery & Foley, 1996; Otter et al., 2002; Dabak &

Bulut, 2003). Nos relatos de FCM registrados no Rio Grande do Sul desde 1973, a

doença ocorreu em forma de surtos epizoóticos afetando vários bovinos em 43% das

vezes e na forma esporádica em 57% das vezes.

Foi sugerido que a FCM-OA geralmente ocorre em bovinos na primavera e

verão (Selman et al., 1974). Essa tendência foi verificada nos surtos pesquisados no
RS. Dos catorze relatos encontrados no Estado, em 11 a doença ocorreu na primavera

ou verão.

A morbidade dos casos de FCM no RS variou de 2,4% a 25% e a letalidade foi

virtualmente 100%. Porém no surto da propriedade A, que foi bem controlado, com

diversas visitas à propriedade e contatos constantes com o administrador da fazenda

extremamente cooperativo, foi relatado que dos 18 bovinos que adoeceram, três se

recuperaram. Nessa propriedade, a doença havia ocorrido há nove anos na mesma

invernada e na mesma categoria de bovinos (vacas de 4-5 anos) em contato com

ovelhas. O proprietário não descartou a possibilidade de que casos isolados de FCM

tenham ocorrido nos bovinos da propriedade entre os anos que separam os dois surtos.

É provável que uma observação mais continuada em todos os 14 surtos aqui relatados

revelasse mais casos de recuperação em bovinos com FCM. Embora no passado a

doença tenha sido considerada invariavelmente fatal, a ponto de haver reformulação do

diagnóstico de febre catarral maligna caso o animal se recuperasse (Selman et al.,

1974), sabe-se hoje que casos de recuperação de FCM não são raros e formas crônicas

são observadas (O’Toole et al., 1995; O’Toole et al., 1997; Penny, 1998; Otter et al.,

2002).

O período de incubação é longo podendo se estender de 3 a 10 semanas e a

duração do curso clínico da doença aguda é de 3 a 7 dias podendo haver casos

hiperagudos de um dia de evolução (Smith, 2002). Sob essa óptica, nas duas epizootias

de Santiago (Propriedades A e B) onde a evolução da doença foi de 2 a 8 dias, todos os

casos poderiam ser enquadrados na categoria de curso clínico agudo ou, no máximo,

subagudo. Duração de cursos clínicos equivalentes a esses para a FCM em bovinos

foram descritos por outros autores (Pierson et al., 1979; Collery & Foley, 1996; Otter et

al., 2002).
Um ponto a ressaltar na ocorrência de FCM em bovinos deste estudo foi a

freqüência com que ocorreram sinais clínicos de distúrbios nervosos. Em nove dos 14

relatos pesquisados (64,28%) observou-se manifestação de distúrbios nervosos. Se

forem considerados somente os surtos mais recentes (Propriedades A e B), dos 11

bovinos examinados clinicamente com mais detalhe, apenas dois não demonstraram

distúrbios neurológicos marcantes. Esse é um dado importante na diferenciação de

casos de FCM de outros casos de encefalite em bovinos como raiva e

meningoencefalite por BHV-5 (Sanches et al., 2000; Langohr et al., 2003).

Embora seja considerada como a principal característica clínica da FCM em

bovinos ocorrendo em virtualmente todos os casos (Selman et al., 1974), a opacidade

da córnea ocorreu somente em cinco dos 11 bovinos com FCM espontânea

necropsiados nas Propriedades A e B. Opacidade da córnea, febre e linfadenopatia

generalizada nem sempre são observados, particularmente nos casos agudos em

espécies altamente suscetíveis, tais como veados, alces e bisões (Crawford et al., 1999).

Aumento de volume generalizado dos linfonodos é descrito como ocorrendo em 80%

dos casos de FCM (Plowright, 1990). Neste estudo, dos 11 bovinos examinados nas

duas epizootias de Santiago, RS, aumento de volume dos linfonodos ocorreu somente

em seis bovinos (55%) e assim mesmo, muitas vezes, esse achado foi percebido

somente na necropsia. Lesões de pele freqüentemente relatadas em casos de FCM

(Selman et al., 1974; O’Toole et al., 1995), foram observadas somente no Bovino 4.

O modo de disseminação do vírus da FCM-OA é pouco conhecido. Dados

epidemiológicos (nem sempre convincentes) sugerem que os ovinos são os portadores

do vírus da FCM-OA e que excretam e transmitem o vírus para outras espécies, como,

por ex., bovinos (Pierson et al., 1973; Selman et al., 1974; Reid et al., 1989). É

proposto que a transmissão ocorra na época da parição das ovelhas à semelhança do


que ocorre na transmissão do AlHV-1 na forma gnu-associada (Rossiter et al., 1983).

No entanto, a determinação do DNA vírico por PCR na secreção nasal e nos leucócitos

do sangue periférico (LSP) de cordeiros (Li et al., 2001a) sugere que cordeiros recém-

nascidos não são fontes importantes para a transmissão de OvHV-2. Nesse estudo o

DNA do vírus só foi detectado aos três meses (nos LSP) e aos cinco meses na secreção

nasal. Além disso, a transmissão da doença por inoculação de tecidos de ovinos

contaminados não foi ainda relatada (Plowright, 1990). Há consideráveis evidências

que bovinos com FCM aguda raramente transmitem a infecção para outros bovinos

(Plowright, 1990) e o mesmo provavelmente seja verdade para o caso de bovinos

portadores recuperados (O’Toole et al., 1997), mas há algumas considerações que

podem ser feitas para explicar a manutenção da doença na Propriedade A por quase

uma década e o aparecimento da doença onde o contato com ovelhas era incerto.

Bovinos que se recuperam de FCM permanecem cronicamente afetados e

persistentemente infectados por OvHV-2 (Baxter et al., 1993; O’Toole et al., 1997).

Isso levanta a questão de que esses animais possam ser fonte da infecção horizontal ou

vertical para outros membros do rebanho. Por outro lado, a infecção transplacentária de

FCM já foi demonstrada em bovinos (Plowright et al., 1972; O’Toole et al., 1997) e

bisões (Schultheiss et al., 1998). Em uma ocasião, uma vaca infectada subclinicamente

pariu seis terneiros durante toda a sua fase reprodutiva, quatro dos quais haviam sido

infectados in utero (Plowright et al., 1972); seqüência do DNA de OvHV-2 foi

detectado por PCR no linfonodo de um feto de bisão cuja mãe havia sido afetada por

FCM (Schultheiss et al., 1998). Embora seja incerto que esses fetos fossem adoecer ou

se tornar portadores, essa poderia ser uma explicação hipotética para a manutenção do

vírus em determinadas propriedades por longos períodos. Uma indicação para isso é

que num surto de FCM-OA ocorrido na Grã-Bretanha, terneiros nascidos de vacas


afetadas ou assintomáticas, mas PCR-positivas para OvHV-2, desenvolveram FCM

vários meses após o nascimento (Otter et al., 2002). Isso foi interpretado pelos autores

como uma predisposição genética, mas poder-se-ia argumentar que se tratavam de

terneiros nascidos infectados e que algum fator desencadeante (por ex. estresse) tenha

desencadeado o recrudescimento da doença como já foi descrito para cervídeos

(Heuschele et al., 1985) e bovinos (Rweyemamu, 1976; Tham, 1997). No surto da Grã-

Bretanha, os autores (Otter et al., 2002) incriminaram a deficiência de cobre em

bovinos subclinicamente infectados por OvHV-2, como o fator desencadeante da FCM.

É possível então que bovinos ou outras espécies de animais possam servir como

portadores assintomáticos do vírus (Plowright, 1990), o que explicaria a origem de

surtos que ocorrem na ausência de aparente contato ovinos em vários casos relatados na

literatura (Smith, 2002).

Vasculite disseminada, um achado patognomônico da FCM (Barker et al., 1993;

Barnard et al., 1994) caracterizou invariavelmente todos os casos espontâneos e

experimentais neste estudo. A magnitude do infiltrado celular linfóide na adventícia

teve relação direta com a intensidade das lesões na camada média dos vasos e essas

eram invariavelmente acompanhadas de lesões inflamatórias na adventícia. Achados

semelhantes já haviam sido relatados para a FCM de bovinos (Liggitt & DeMartini,

1980a). Lesões de vasculite foram observadas na rete mirabile carotídea de todos os

bovinos que apresentaram quadro clínico neurológico neste estudo. Esse é um achado

importante que permite a diferenciação da FCM de outras doenças do sistema nervoso

central e é recomendável que sempre se colete, junto com o encéfalo, esse complexo

vascular associado ao gânglio trigeminal e à hipófise.

A hiperplasia linfóide é também uma característica da FCM (Plowright, 1968;

Liggitt et al., 1978). Tem sido sugerido que a resposta celular linfóide na FCM é
semelhante ao que ocorre na doença de Marek e no linfoma de Burkitt induzido pelo

vírus Epstein-Barr, duas doenças neoplásicas induzidas por herpesvírus (Reid et al.,

1979). O achado de linfoma em cervos com recrusdescência de FCM induzida por

dexametasona, reforça essa idéia do potencial oncogênico dos herpesvirus nessa doença

(Heuschele et al., 1985). Entretanto, nos casos deste estudo, a hiperplasia linfóide não

foi um achado freqüente. Ao contrário, em alguns animais havia até depleção linfóide,

semelhante ao observado por outros autores (Reid et al., 1979). Na ausência de

hiperplasia importante nos órgãos linfóides da maioria dos nossos casos, as lesões

linfoproliferativas sugerem uma resposta imunológica ao invés de uma resposta

hiperplásica ou neoplásica. A demonstração de partículas virais em linfócitos TCD8

nas lesões vasculares também sugerem que a FCM seja primariamente relacionada à

interação direta célula-vírus ou uma resposta imunomediada dirigida contra as células

infectadas (Simon et al., 2003). No entanto, hiperplasia linfóide e de células do sistema

fagocítico-mononuclear como às descritas por outros autores (Heuschele et al., 1985)

foram observadas em linfonodos de dois bovinos (11 e E3).

A patogenia da FCM não está completamente esclarecida. A vasculite

característica tem sido interpretada como uma evidência de que as lesões da FCM

resultam de um distúrbio imunológico induzido pelo vírus (Liggit et al., 1980a) e não

da ação citolítica do próprio vírus. A lesão epitelial em vários órgãos é outra

característica da doença e ocorre com infiltração do epitélio por linfócitos lembrando

hipersensibilidade de contato e reação enxerto versus hospedeiro (Liggit et al., 1980b).

Alguns pesquisadores sugerem que os eventos principais na patogenia da FCM são a

infecção viral e a desregulação de uma população de linfócitos. A perda da atividade de

linfócitos supressores facilitaria a proliferação linfóide observada na doença, enquanto


que a atividade descontrolada das células NK, seria responsável pela destruição

tecidual (Barnard et al., 1994; Smith, 2002).

As características histopatológicas indicam que a doença possa ser dependente

de muitas reações imunológicas atuando em conjunto. As células linfóides em divisão e

a resposta macrofágica ao redor dos vasos sangüíneos e espaços intersticiais, junto com

extensas áreas timo-dependentes em muitos linfonodos sugere a possibilidade de uma

reação imune mediada por célula – do tipo IV (Liggitt & DeMartini, 1980a). Por outro

lado, vasculite necrosante e trombose sugerem hipersensibilidade tipo III (Liggitt et al.,

1978). Foi demonstrado, no entanto (Liggitt & DeMartini, 1980a), que as lesões

vasculares na reação de Arthus, caracterizadas por infiltrado neutrofílico e

plasmocítico, estão ausentes em casos de FCM. Recentemente (Simon et al., 2003)

demonstraram, através da detecção de partículas virais nos núcleos celulares, que

linfócitos TCD8 são as células inflamatórias que predominam nas lesões vasculares de

FCM e, pela primeira vez, capsídios virais e genes da replicação viral foram detectados

em linhagens celulares de coelhos afetados experimentalmente por FCM (Rosbottom et

al., 2002). Tem sido sugerido que a lesão epitelial na FCM resulte de

comprometimento vascular. Entretanto, esse provavelmente não é o mecanismo

primário, se considerarmos a relativa ausência de trombos e infartos. Com o dano

isquêmico, o componente inflamatório mais freqüente seria granulocítico. O agente

etiológico provavelmente não é altamente citolítico, o que reduz a possibilidade de uma

resposta granulocítica característica ao tecido necrótico (Liggitt et al., 1978).

Foi concluído que dos cinco terneiros inoculados com 500 ml de sangue de um

bovino, apenas três deles (E1-E3) desenvolveram a doença (60%). A conclusão foi

baseada principalmente nos achados histopatológicos e na demonstração de seqüência

do DNA de OvHV-2 nesses três terneiros. Febre e opacidade de córnea foram os sinais
comuns aos três terneiros experimentais (E1-E3) e distúrbios nervosos ocorreram em

dois (E1 e E2). O tempo de incubação foi 15 (Bovinos E2 e E3) e 27 dias (Bovino E1).

Esse período de incubação se aproxima mais do que é descrito para a forma africana

gnu-associada do que para FCM-OA. Períodos de incubação em casos experimentais da

forma africana têm sido relatados como sendo de 11-63 dias (Plowright, 1968), 14-46

dias e 7-18 dias (Plowright, 1990). Para transmissão experimental da FCM-OA são

relatados períodos de incubação de 20-36 dias (Selman et al., 1974), 19-73 dias (Liggit

et al., 1978) e 15-49 dias (Pierson et al., 1974). Os dados para o período de incubação

da FCM experimental variam com os tipos e a quantidade de material inoculado e

provavelmente com outros fatores de susceptibilidade desconhecidos (Plowright,

1990). Na prática, é necessário esperar-se pelo menos dois meses antes de se concluir

que um bovino inoculado com material de FCM, não irá contrair a doença, uma vez que

alguns poucos animais suscetíveis não mostram reações identificáveis até 9-10 meses

após a inoculação (Plowright, 1990). É relatado que para a FCM-OA, o período de

incubação é mais longo do que o da forma africana (gnu-associada) da enfermidade; a

duração do curso clínico seria o inverso (Pierson et al., 1974). Para os terneiros deste

estudo afetados experimentalmente, o curso clínico durou de 3, 4 e 10 dias,

respectivamente para os Bovinos E1, E2 e E3. Provavelmente, a doença foi mais aguda

nos Bovinos E1 e E2 devido aos sinais de distúrbios nervosos. Isso pôde também ser

observado nos casos espontâneos. Para transmissão experimental da forma africana, a

duração do curso é descrita como 3-22 dias (Plowright, 1968) e 4-52 dias (Plowright,

1990); há inclusive relatos de transmissão experimental da forma americana em que

uma vez manifestados os sinais clínicos, a morte ou eutanásia in extremis ocorria em,

no máximo, cinco dias em todos os casos. As razões pelas quais os Bovinos E4 e E5

foram considerados negativos são discutidas a seguir. Ambos foram negativos na


avaliação por PCR, embora em nossos casos isso não tenha sido considerado um

critério definitivo pelas razões explicadas acima. O Bovino E4 apresentou uma

enfermidade caracterizada por corrimento ocular e diarréia após um período de

incubação de 17 dias, o que, clinicamente, seria consistente com FCM. No entanto, não

foram encontradas as lesões histológicas vasculares típicas de FCM, consideradas por

alguns como patognomônicas (Selman et al., 1974; Barker et al., 1993; Barnard et al.,

1994). O Bovino E5 apresentou uma doença leve e se recuperou tendo sido sacrificado

14 semanas após a inoculação. Casos de recuperação não são incomuns na FCM-OA

em bovinos e há casos de doença leve seguida de recuperação completa, recuperação

com recrudescimento da doença e casos crônicos de FCM (O’Toole et al., 1995, 1997;

Penny, 1998). Embora não se possa afastar definitivamente a hipótese de que o Bovino

E5 constitui um desses casos de recuperação de FCM isso é pouco provável porque

esse animal não apresentou curso clínico compatível com FCM, foi negativo no teste de

PCR e não apresentava alterações indicativas de FCM, quer na necropsia, quer no

exame histológico.

É interessante observar que dois desses terneiros desenvolveram acentuados

sinais de distúrbios nervosos, mas o Bovino 5 (uma vaca de 3 anos) que doou o sangue

para as inoculações foi um dos bovinos com FCM espontânea das Propriedades A e B

que não demonstrou sinais clínicos de distúrbios nervosos, apesar das lesões

histológicas observadas no seu encéfalo.

O diagnóstico de FCM deve basear-se nos dados epidemiológicos, sinais

clínicos e, principalmente, nos achados de necropsia e histopatológicos. Os achados

histopatológicos, principalmente as lesões vasculares, permitem o diagnóstico da

doença. Tecidos a serem enviados ao laboratório para histopatologia devem incluir

encéfalo, fragmentos de fígado, linfonodos, rim, baço, adrenais, rete mirabile, olho,
sinóvia e partes dos aparelhos digestivo e respiratório onde houver lesões. Tecidos para

histopatologia devem ser fixados em formol a 10%. Deve-se usar 10 partes da solução

de formol para cada parte de tecido a ser fixada. Assim, para fixar-se um cérebro de

bovino adulto deve-se usar, no mínimo, 5-6 litros de formol. O uso do formol

tamponado e um curto período de fixação (no máximo 48 horas) devem ser observados

caso se realizem outras técnicas de diagnóstico laboratorial, tais como PCR.

Inoculação em coelhos pode ser também usada para confirmar o diagnóstico

(Plowright, 1990). Testes sorológicos incluem ELISA e imunofluorescência indireta (Li

et al., 1994; O’Toole et al., 1995). O isolamento do vírus só tem sido alcançado na

forma africana. Testes de diagnóstico molecular como PCR, como foi empregado em

dois surtos deste relato, PCR in situ e imunoistoquímica são também indicados

(Crawford et al., 1999; Simon et al., 2003).

O diagnóstico diferencial de FCM em bovinos inclui outras doenças a vírus

como diarréia viral bovina/doença das mucosas, língua azul, peste bovina, febre aftosa

e estomatite vesicular (Smith et al., 2002). Não há tratamento específico ou vacinas

eficazes contra FCM (Plowright, 1990). Alguns relatos sugerem remissão da doença

após o uso de corticosteróides (O’Toole et al., 1995), mas casos de recrudescimento

são também associados ao uso dessas drogas (Rweyemamu, 1976; Heuschele et al.,

1985; Tham, 1997). Tratamentos de suporte têm sido usados com relativo sucesso em

alguns casos (Plowright, 1990; O’Toole et al., 1997). Geralmente se recomenda não

colocar bovinos em contato com ovinos e isolar animais afetados de animais sadios

(Otter et al., 2002). Bovinos infectados continuam como reservatórios do vírus por

meses após a infecção e isso deve ser considerado no controle da doença.


6. CONCLUSÕES

1 – Os surtos de febre catarral maligna estudados recentemente no Rio Grande do Sul

indicam que a doença é associada ao Rhadinovirus (γ2-herpesvirus), herpesvírus ovino-

2 (OvHV-2)

2 – A doença no Rio Grande do Sul ocorre tanto na forma esporádica como em surtos

epizoóticos. A freqüência com que ocorrem essas duas formas é semelhante.

3 – A inoculação de 500 ml de sangue total oriundo de um bovino afetado é um método

adequado de transmissão da doença.

4 – A doença se manifesta clinicamente por alterações oculares, erosões e ulcerações

em mucosas e distúrbios nervosos.

5 – Nos casos de febre catarral maligna no Rio Grande do Sul a manifestação clínica de

distúrbios nervosos é um achado freqüente.

6 – A histopatologia característica inclui lesões vasculares degenerativas e

inflamatórias, lesões necróticas e inflamatórias nos epitélios de revestimento,

acúmulos/proliferação linfo-histiocitários multissistêmicos.

7 – O método de reação em cadeia de polimerase pode ser usado na confirmação

retrospectiva de casos de febre catarral maligna em bovinos.


7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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