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Dissertação de Mestrado
PPGMV
2004
FEBRE CATARRAL MALIGNA EM BOVINOS
NO RIO GRANDE DO SUL
_____________________
por
PPGMV
2004
elaborada por
COMISSÃO EXAMINADORA:
___________________________________
Luiz Francisco Irigoyen
(Presidente/Orientador)
___________________________________
David Driemeier
___________________________________
Glaucia Denise Kommers
CDU: 619:636.2
© 2004
Todos os direitos autorais reservados a Shana Letícia Garmatz. A reprodução de partes
ou do todo deste trabalho só poderá ser feita com autorização por escrito do autor.
Endereço: Rua Henrique Dias, 112/101, Santa Maria, RS. Fone (0xx51) 3718 1372.
End. Eletr.: garmatzsl@yahoo.com.br.
AGRADECIMENTOS
trabalho.
experimental da doença.
Aline, Ricardo, Dani, Márcia, Cris, Inge, Tati, Fighera e Serginho, pelo
Georgia, sob orientação da professora Corrie Brown e com bolsa da CAPES, como
financeiro, à Profa. Corrie Brown pela orientação durante esse período e às colegas Jian
Kommers pela confecção das fotos histológicas e aos colegas Ana Lucia Schild, David
nossa disposição para coleta dos dados que permitiram o estudo retrospectivo dos casos
AGRADECIMENTOS...................................................................................................... iv
LISTA DE FIGURAS....................................................................................................... x
RESUMO.......................................................................................................................... xvi
ABSTRACT...................................................................................................................... xx
1. INTRODUÇÃO............................................................................................................ 1
2. REVISÃO DE LITERATURA..................................................................................... 5
2.1 Epidemiologia....................................................................................................... 5
2.2 Etiologia................................................................................................................ 7
2.3 Patogenia............................................................................................................... 9
2.4 Sinais clínicos....................................................................................................... 10
2.5 Achados de necropsia............................................................................................ 14
2.6 Achados histológicos............................................................................................ 16
2.7 Diagnóstico........................................................................................................... 19
2.8 Diagnóstico diferencial......................................................................................... 21
2.9 Controle, tratamento e profilaxia.......................................................................... 22
3. MATERIAL E MÉTODOS.......................................................................................... 23
3.1 Surtos espontâneos de febre catarral maligna (FCM) ocorridos em Santiago,
RS, em 2001-2003................................................................................................. 23
3.2 Transmissão experimental..................................................................................... 26
3.2.1 Animais de experimentação......................................................................... 26
3.2.2 Inóculo e método de inoculação................................................................... 26
3.3 Reação em cadeia de polimerase (PCR)............................................................... 29
3.4 Casos espontâneos de febre catarral maligna (FCM) em bovinos ocorridos em
anos anteriores no Rio Grande do Sul................................................................... 30
4. RESULTADOS............................................................................................................. 32
4.1 Surtos espontâneos de febre catarral maligna (FCM) ocorridos em Santiago,
RS, em 2001-2003................................................................................................. 32
4.1.1 Epidemiologia.............................................................................................. 32
4.1.2 Sinais clínicos.............................................................................................. 34
4.1.3 Achados de necropsia................................................................................... 41
4.1.4 Achados histológicos................................................................................... 49
4.2 Transmissão experimental..................................................................................... 60
4.2.1 Sinais clínicos.............................................................................................. 60
4.2.2 Achados de necropsia................................................................................... 64
4.2.3 Achados histológicos................................................................................... 65
4.3 Reação em cadeia de polimerase (PCR)............................................................... 68
4.4 Casos espontâneos de febre catarral maligna em bovinos relatados no Rio
Grande do Sul (1973-2003)................................................................................... 74
4.4.1 Epidemiologia.............................................................................................. 74
4.4.2 Sinais clínicos.............................................................................................. 75
4.4.3 Achados de necropsia................................................................................... 75
4.4.4 Achados histológicos................................................................................... 79
5. DISCUSSÃO................................................................................................................ 81
6. CONCLUSÕES............................................................................................................ 92
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................... 93
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Órgãos que foram colhidos e processados para a histologia dos 11 bovinos
RS....................................................................................................................................... 24
Tabela 3 – Órgãos que foram colhidos e processados para a histologia dos 5 bovinos
inoculados com 500 ml de sangue colhido de bovino clinicamente afetado por febre
catarral maligna................................................................................................................. 28
polimerase (PCR). Onze bovinos (1 a 11) são casos espontâneos de febre catarral
Tabela 5 – Febre catarral maligna em bovinos. Dados dos 11 bovinos necropsiados nas
2003................................................................................................................................... 33
Tabela 6 – Sinais clínicos em 11 bovinos afetados por febre catarral maligna nos surtos
2001-2003......................................................................................................................... 41
2003...................................................................................................................................
clínicos nos cinco bovinos experimentais inoculados com 500 ml de sangue colhido de
intensidade das lesões vasculares no sistema nervoso central e rete mirabile em dois
febre catarral maligna. Cinco bovinos (E1-E5) são os animais usados no estudo de
transmissão experimental.................................................................................................. 70
tecidos............................................................................................................................... 72
tecidos............................................................................................................................... 73
cerebral. As linhas numeradas indicam os locais onde foram efetuados cortes coronais
altura da massa intermédia; e 6, seção através do joelho do corpo caloso e dos núcleos
basais................................................................................................................................ 25
Figura 2. Febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul. A figura mostra
as seções obtidas dos seis locais mostrados na Figura 1, de onde foram realizados os
Figura 5. Febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul. Maior detalhe da
Figura 4........................................................................................................................... 38
nictitante......................................................................................................................... 39
Figura 10. Febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul. Papilas bucais
Figura 11. Febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul. Bovino 8.
Figura 12. Febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul. Bovino 2.
Fossas nasais. Hiperemia da mucosa que está parcialmente recoberta por exsudato
Figura 13. Febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul. Bovino 4.
ulcerações....................................................................................................................... 46
Figura 14. Febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul. Bovino 1. Rim.
mononuclear na cortical.................................................................................................
47
Figura 15. Febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul. Bovino 1. Rim,
Figura 16. Febre catarral maligna (FCM) em bovinos no Rio Grande do Sul. Bovino
clinicamente.................................................................................................................... 48
Figura 17. Febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul. Bovino 11.
(hiperplasia).................................................................................................................... 48
Figura 18. Febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul. Aspecto
Figura 19. Febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul. Aspecto
histológico das lesões vasculares na rete mirabile. A. Bovino normal, artéria isolada
Eosina............................................................................................................................. 52
Figura 20. Febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul. Bovino 1.
Eosina............................................................................................................................. 56
Figura 21. Febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul. Bovino 11.
Eosina............................................................................................................................. 56
Figura 22. Febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul. Bovino 11.
Figura 23. Febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul. Bovino 11.
Figura 24. Febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul. Aspecto
Eosina............................................................................................................................. 58
Figura 25. Febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul. Bovino 1.
Figura 26. Febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul. Bovino 1.
Figura 27. Febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul. Bovino 1.
grave que a observada nos vasos das leptomeninges (ver Figura 26). Hematoxilina e
Eosina............................................................................................................................. 59
Figura 28. Febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul. Sinais clínicos
Figura 29. Febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul. Sinais clínicos
Opistótono................................. 63
Figura 30. Febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul. Reação em
(pb). Linha 1: tamanho molecular padrão (pb); linha 2: amostra de adrenal (Bovino
8); linha 3: amostra de linfonodo (Bovino 8); linha 4: amostra de baço (Bovino 7);
linha 5: amostra de rim (Bovino 6); linha 6: amostra de linfonodo (Bovino 6); linha
Figura 31. Febre catarral maligna em bovinos no Rio Grande do Sul. Reação em
bases (pb). Linha 1: tamanho molecular padrão (pb); linha 2: amostra de rim (Bovino
E1); linha 3: amostra de fígado (Bovino E1); linha 4: amostra de fígado (Bovino E5);
linha 5: amostra de rim (Bovino E2); linha 6-8: amostras de rúmen, fígado e tonsila,
Dissertação de Mestrado
São relatadas duas epizootias recentes de febre catarral maligna (FCM) que
com os bovinos afetados. Nos bovinos afetados nas duas propriedades, a duração do
maioria dos bovinos afetados morreu ou foi submetida à eutanásia após um curso
clínico de 2 a 8 dias. Os sinais clínicos incluíam febre (40.5 e 41.5°C), corrimento
incluíam erosões e úlceras nas mucosas dos cornetos nasais, cavidade oral e tratos
inoculação de cada um deles, por via intravenosa, com 500 ml de sangue total
oriundo de bovino afetado por FCM. A transmissão foi conseguida em pelo menos
submetidos à eutanásia in extremis após um curso clínico que durou de três dias a
afetados por FCM e que haviam sido diagnosticados com base nos achados clínicos
e nas alterações patológicas. O DNA de OvHV-2 foi também detectado por PCR em
tecidos emblocados em parafina de três terneiros experimentais (E1-E3). A técnica
de PCR resultou negativa nos restantes quatro dos 11 bovinos testados nos casos
espontâneos das epizootias recentes de FCM e em dois (E4-E5) dos cinco terneiros
revelou que a doença foi relatada em 14 ocasiões (incluindo as duas epizootias deste
estudo) de 1973 a 2003. Nenhum caso de FCM em bovino foi relatado antes de
2,4% a 25%; em uma ocasião 100 bovinos foram afetados e morreram em um único
rebanho; nas restantes oito ocasiões, a doença ocorreu em forma esporádica com 1 a
Bovinos de todas as idades e de ambos os sexos foram afetados, mas a maioria dos
relatos havia ovinos em contato com os bovinos afetados; em cinco relatos não havia
com ovinos. A maioria dos casos de FCM diagnosticados pelos três LDVs ocorreu
nos períodos quentes da primavera e verão, mas casos foram também diagnosticados
foram semelhantes aos descritos acima, mas houve casos em que os sinais
neurológicos predominaram sobre os outros sinais clínicos, tornando difícil o
agente etiológico da doença em bovinos como OvHV-2 foi conseguida pela primeira
vez no Brasil.
ABSTRACT
MS Dissertation
from two farms (A and B) in the municipality of Santiago, state of Rio Grande do
Sul (RS), Brazil, and the transmission of the disease to susceptible calves are
reported. Aditionally, all cases of MCF diagnosed in cattle in RS in the past were
surveyed in the files of three veterinary diagnostic laboratories (VDLs) of this state.
The two recent epizootics occurred from November 2001 to February 2002 (Farm
A) and in January-February 2003 (Farm B). Numbers of cattle at risk, morbidity and
letality rates were respectively 170, 10.59% and 83.33% for Farm A and 500, 2.4%
and 100% for Farm B. Contact between affected cattle and sheep was detected in
both farms. Duration of clinical courses, gross findings and histopathology were the
same for the affected cattle in both farms. Most affected cattle died or were
euthanatized in extremis after a clinical course of 2-8 days. Clinical signs included
fever (40.5 and 41.5°C), nasal and ocular discharge, corneal opacity, conjunctivitis,
performed. Gross lesions included erosions and ulcers affecting the mucosae of
nasal turbinates, oral cavity, gastrointestinal and urogenital tracts; hemorrhage and
necrosis of the tip of the buccal papillae, lymph node enlargement, multifocal white
foci in renal cortex, reticular pattern of the hepatic surface and hyperemia of
medium and small arteries and arterioles of multiple organs and tissues, necrosis and
five calves (E1-E5) by intravenous inocculation each of them with 500 ml of whole
heparinized blood from a MCF affected cattle. The transmission was successful in at
least three (E1-E3) of the experimental calves which became sick after an incubation
period that varied from 15 to 27 days. Four experimental calves either died or were
euthanatized in extremis after a clinical course which varied from three days to eight
weeks. The remaining experimental calf (E5) recovered from a mild disease and was
calves. Clinical signs, necropsy and histopathological findings of three calves (E1-
E3) were characteristic of MCF. Ovine herpesvirus-2 (OvHV-2) viral DNA was
detected by the polimerase chain reaction (PCR) test in paraffin embedded tissues
from seven cattle out of the 11 spontaneous MCF cases diagnosed based on clinical
signs and pathology. Paraffin embedded tissues from three experimental calves (E1-
E3) were also positive for OvHV-2 DNA by PCR. PCR tests resulted negative in the
remaining four of the 11 spontaneous MCF cases tested and in two (E4-E5) of the
detection of BVD virus antigen was negative. Results from the survey on MCF in
cattle in RS revealed that the disease was reported in 14 occasions (including the
two epizootics of this study) from 1973-2003. No reports of MCF in cattle were
found before 1973. Six of these reports in cattle occurred as MCF epizootics
affecting several cattle in a herd with morbidity rates raging from 2.4% to 25%; in
one instance 100 cattle were affected and died in only one herd; in the remaing eight
occasions the disease occurred as sporadic cases affecting 1-3 cattle per herd.
Reported fatality rates were virtually 100%, although in one occasion fatality rate
was 83.33%. In two occasions (1994 and 2001/2) epizootics of MCF occurred at the
same pasture of the same farm. Cattle of all ages and both sexes were affected but
the majority of the cases occurred from yearlings to 4-5-year-old cattle. In seven of
the reports there were sheep in contact with the affected cattle; in five reports this
information was unavailable and in one report the sole affected bull never had
contact with sheep. Most MCF cases reported in cattle from the three VDLs
occurred in the warm periods of spring and summer but cases were also diagnosed in
the winter in three instances. Clinical signs and pathology (based on 24 necropsies)
observed in cattle of these 14 reports were similar to those described above but there
were cases in which neurological signs predominated over the other clinical signs,
thus making the diagnosis based on clinical and gross findings alone, difficult. The
altamente fatal, com distribuição geográfica ampla. Além de bovinos, afeta diversas
espécies de veados (Reid et al., 1979; Denholm & Westbury, 1982; Jessup, 1985; Reid
et al., 1987; Shulaw & Oglesbee, 1989; Brown & Bloss, 1992; Li et al., 1999; Audige
silvestres (Smith, 2002) e suínos (Løken et al., 1998). Caracteriza-se por febre alta,
encefalite, exantema cutâneo e artrite (Barker et al., 1993; Pierson et al., 1973;
Plowright, 1968; 1990; Selman et al., 1974; Smith, 2002). As lesões macro e
linfóide e necrose dos epitélios de revestimento (Barker et al., 1993; Barnard et al.,
1994).
espécies de ruminantes, domésticos ou selvagens, são bem adaptadas a eles, i.é, esses
vírus induzem pouco ou nenhum efeito em seus hospedeiros naturais, mas podem
causar doença quando afetam espécies diferentes pouco adaptadas. Até o momento
doença clínica em animais (Li et al., 2003a). A forma africana ou FCM gnu-associada é
Alcelaphine). Em locais onde não há gnus ocorre a forma denominada FCM não
et al., 1981; Bridgen & Reid, 1991). Os outros dois vírus associados a doença em
(Chmielewicz et al., 2001; Crawford et al., 2002; Keel et al., 2003; Li et al., 2003b) e
um vírus de origem ainda não identificada (Li et al., 2000a). Ao contrário de AlHV-1,
que já foi isolado em cultivo celular, os outros três agentes patogênicos da FCM são
PCR (Crawford et al., 1999; Li et al., 2000a; Crawford et al., 2002; Keel et al., 2003;
(Smith, 2002).
documentada em bovinos no Rio Grande do Norte (Döbereiner & Tokarnia, 1959), Rio
de Janeiro (Sampaio et al., 1972), Bahia, Sergipe (Oliveira et al., 1978; Figueiredo et
al., 1990), Rio Grande do Sul (Barros et al., 1983; Riet-Correa et al., 1988), São Paulo
(Marques et al., 1986), Paraná (Baptista & Guidi, 1998), Piauí (Silva et al., 2001) e em
para o diagnóstico da FCM associada a ovinos (Radostits et al., 2000). Suas vantagens
sobre o exame histopatológico incluem: a) a técnica poder ser feita in vitro, b) tem
grande sensibilidade e especificidade (Müller-Doblies et al., 1998), c) permite
diagnosticar casos de FCM que não apresentem todos os sinais clínicos clássicos, como
pode ser utilizada para caracterizar o agente, especialmente para estudos retrospectivos
do agente etiológico não têm sido realizados ou têm sido realizados sem sucesso. Dessa
forma, não há documentação do tipo de vírus que circula no país e causa a doença em
casos leves, hiperagudos ou crônicos. Nesses casos, o diagnóstico deve ser baseado na
técnica de PCR.
Adicionalmente, procurou-se realizar um estudo retrospectivo da epidemiologia,
em nosso Estado.
2. REVISÃO DA LITERATURA
2.1 Epidemiologia
gnus (ou gnu-associada), ocorre, na vasta maioria das vezes na África, conhecida por
isso também como forma africana, mas pode ocorrer em zoológicos em outros países
(Heuschele et al., 1985). A forma associada a ovinos (ou ovino-associada), tem sido
relatada em vários países incluindo Estados Unidos, Canadá (referida por isso, às vezes,
(Radostits et al., 2000) e países da América do Sul, como Brasil, onde tem sido descrita
em bovinos (Torres, 1924; Döbereiner & Tokarnia, 1959; Sampaio et al., 1972;
Oliveira et al., 1978; Barros et al., 1983; Marques et al., 1986; Riet-Correa et al., 1988;
Figueiredo et al., 1990, Baptista & Guidi, 1998; Silva et al., 2001) e cervídeos (Costa
& Pires, 1990; Driemeier et al., 2002). A forma ovino-associada é encontrada inclusive
no sul da África, embora com freqüência muito mais baixa que a forma gnu-associada
(Plowright, 1990).
al., 1999). Anticorpos contra o AlHV-1 têm sido detectados em várias outras espécies
como reservatórios em potencial do vírus (Barker et al., 1993; Barnard et al., 1994).
Gnus infectam-se durante os primeiros dois ou três meses de vida, quando se tornam
virêmicos e eliminam AlHV-1 nas secreções nasal e ocular (Mushi & Rurangirwa,
1981; Plowright, 1990; Barker et al., 1993). No gnu azul, a concentração de vírus
nessas secreções atinge o nível máximo em filhotes entre seis e oito semanas de idade;
(Plowright, 1990). Como os gnus, virtualmente todas as ovelhas adultas sob condições
naturais de rebanho são infectadas (Li et al., 1994, 1995b). De maneira semelhante ao
que ocorre com AlHV-1 em relação aos gnus, a transmissão de OvHV-2 aos bovinos e
outros ruminantes é associada ao período perinatal dos ovinos; cordeiros seriam uma
estudos indicando que cordeiros recém-nascidos não são infectados e, portanto, não são
fontes importantes para a transmissão de OvHV-2 (Li et al., 1998, 1999, 2000b,
em ovinos entre 6 e 9 meses de idade (Li et al., 2001a; Kim et al., 2003).
mesmo sem contato dos bovinos com esses reservatórios; a fragilidade do vírus torna
improvável a sua persistência em fômites (Radostits et al., 2000). Foi demonstrado que
bovinos recuperados tornam-se virêmicos por vários meses (O’Toole et al., 1997).
clinicamente sadios (Baxter et al., 1993; Wiyono et al., 1994; Li et al., 1995b; Tham,
latente nos casos da doença em que não há contato com ovelhas (Smith, 2002).
coelhos selvagens, indicando que esses animais possam servir de reservatórios do vírus
(O’Toole et al., 1995; Li et al., 1994, 1996; Radostits et al., 2000). A manifestação
clínica de FCM já foi descrita em mais de 30 espécies de ruminantes (Radostits et al.,
espécies exóticas como Bos javanicus e Bos gaurus são susceptíveis à doença clínica
(Li et al., 2000a). Bisões, búfalos, alces e várias espécies de cervos são altamente
susceptíveis (Reid et al., 1979; Denholm & Westbury, 1982; Hoffmann et al., 1984;
Reid et al., 1987; Schultheiss et al., 1998; Brown & Bloss, 1992; Li et al., 1999, 2000a;
de casos isolados, entretanto surtos afetando mais de 50% dos bovinos de um rebanho
al., 1974). Casos de bovinos que se recuperam de FCM têm sido descritos (O’Toole et
2.2 Etiologia
Os vírus desse grupo são capazes de produzir infecção clínica ou subclínica em animais
sangue e outros tecidos de animais afetados (Crawford et al., 1999). Estudos recentes
esse vírus não foi ainda identificado (Li et al., 2000a); o outro, endêmico em cabras
(Chmielewicz et al., 2001; Li et al., 2001b), tem sido associado com alopecia crônica
em veados sika (Cervus nippon) (Crawford et al., 2002; Keel et al., 2003) e veados de
cauda-branca (Odocoileus virginianus) (Li et al., 2003b). Outros vírus não relacionados
(Hippotragus equinus) (Reid & Bridgen, 1991). Seqüências do DNA de outros três
três novos vírus ainda sem denominação) não causem doença clínica, vírus semelhante
a AlHV-2 foi detectado por PCR em oito veados (Cervus elaphus barbarus) que
apresentaram sinais clínicos e lesões de doença compatível com FCM (Klieforth et al.,
2002); isso sugere que, sob certas circunstâncias, esses vírus podem ser patogênicos (Li
et al., 2003).
2.3 Patogênese
Muitas hipóteses têm sido sugeridas para explicar a patogênese das lesões
DNA viral possa ser detectado em células mononucleares circulantes e na maioria dos
(Plowright, 1990; Crawford et al., 1999). A ausência de vírus ou expressão viral nas
lesões (Edington et al., 1979; Rossiter, 1980, 1985) indicam que o dano tecidual deve
(Ellis et al., 1992; Nakajima et al., 1992, 1994; Lagourette et al., 1997). Embora o
celular predominante nas lesões de FCM aguda é infectado por OvHV-2. Isso sugere a
al., 1984). Grandes linfócitos granulares com atividade de células matadoras naturais -
NK (Reid et al., 1983, 1989; Buxton et al., 1984) ou células matadoras ativadas por
linfocina (Cook & Splitter, 1988) podem estar envolvidos na gênese das lesões
semanas (Collery & Foley, 1996; Radostitis et al., 2000), mas pode chegar a 200 dias
encefálica, dérmica e leve ou branda (Plowright, 1990; O’Toole et al., 1995, 1997;
Ocasionalmente ocorre morte súbita, na ausência de sinais prévios (Pierson et al., 1973;
Liggitt et al., 1978; Tham, 1997; Murphy et al. 1999; Radostitis et al., 2000). O curso
Smith, 2002). Inicialmente há secreção ocular serosa ou seromucosa que pode se tornar
(Liggitt et al., 1978; Pierson et al, 1973; Pierson et al., 1978; Whiteley et al., 1985;
O’Toole et al., 1997; Tham, 1997). Hipópion, glaucoma, petéquias nas conjuntivas e
vascularização córnea ocorrem em alguns casos (Selman et al., 1974; Whiteley et al.,
1985; Twomey et al., 2002). Panoftalmite bilateral grave com perfuração da córnea e
protrusão da íris podem ocorrer nos casos graves (O’Toole et al., 1997).
exsudato (Selman et al., 1974; Pierson et al., 1978; Barros et al., 1983; Collery &
Foley, 1996; Twomey et al., 2002). Congestão e necrose superficial são evidentes na
fibrinonecróticas (Selman et al., 1974; Liggitt et al., 1978). Epistaxe bilateral intensa e
tosse podem ocorrer (Selman et al., 1974; Twomey et al., 2002). A tosse é
1990). A pele do focinho pode estar extensivamente afetada por ulcerações recobertas
dolorida nesse período e o animal mastiga com dificuldade (Radostits et al., 2000;
bucais estão hemorrágicas com necrose das extremidades; com o tempo acabam se
(Collery & Foley, 1996; Selman et al., 1974; Radostits et al., 2000; Twomey et al.,
2002).
convulsões (Barros et al., 1983; Colery & Foley, 1996). Tremores musculares podem
tórax, abdômen, região inguinal, axilas, prepúcio, períneo, úbere, parte inferior dos
membros e ocasionalmente a cabeça (Selman et al., 1974; Barker et al., 1993; O’Toole
et al., 1995). A pele dos tetos, vulva e escroto, nos casos agudos, pode se desprender
completamente ou tornar-se coberta por crostas secas. Lesões crostosas podem correr
na junção pele-casco (Radostits et al., 2000). A laminite pode ser pronunciada e pode
ocorrer desprendimento da capa córnea dos chifres ou dos cascos (Plowright, 1990;
Smith, 2002).
apresentam constipação, mas pode ocorrer diarréia profusa (Pierson et al., 1973;
(Selman et al., 1974). Outros sinais clínicos incluem apatia, anorexia, agalactia e pulso
lacrimejamento, fotofobia, febre, hiperemia nas mucosas oral e nasal, leves erosões ou
perda de peso (Pierson et al., 1973; Pierson et al., 1978; Tham, 1997). Essa forma tem
sido encontrada em confinamentos de bovinos leiteiros sem contato direto com ovinos,
animais experimentais e em veados criados para produção. Ocorre doença leve seguida
(Plowright, 1990).
mucosas oral e nasal, catarro nasal, diarréia com muco e lesões ulcerativas entre os
dígitos (Tham, 1997). Pode seguir-se por completa recuperação, recuperação com
recrudescimento ou por FCM crônica (Hamilton, 1990; Milne & Reid, 1990; Baxter et
al., 1993; Michel & Asperling, 1994, O’Toole et al., 1995, 1997; Penny, 1998;
digestivo, linfonodos, encéfalo, olhos, fígado, rins e bexiga (Barker et al., 1993;
Barnard et al., 1994). A carcaça está desidratada e pode estar emaciada, com atrofia
serosa da gordura, especialmente quando o curso clínico é prolongado. Além das lesões
oculares, orais, no focinho, nos orifícios nasais externos e na pele, as quais são
septo na grande maioria dos casos da forma “cabeça-e-olho” (Barnard et al., 1994). A
pulmões não são envolvidos, exceto ocasionalmente por enfisema, edema, congestão e
(Barker et al., 1993; Barnard et al., 1994; Smith, 2002). Como nas lesões da cavidade
(Plowright, 1990; Barker et al., 1993). As erosões e úlceras podem ser cobertas por
depósitos caseosos diftéricos (Radostits et al., 2000). No abomaso, as lesões são mais
maior (Barker et al., 1993). A parede intestinal, particularmente do ceco e cólon, está
mucosa. A serosa está opaca, finamente granular e com petéquias discretas na serosa.
áreas multifocais de necrose. (Plowright, 1990; Barker et al., 1993; Barnard et al.,
difusa do padrão lobular com áreas brancas (1-2 mm) que demarcam as regiões
(Plowright, 1990; Barker et al., 1993). Pode haver numerosas e pequenas hemorragias e
poucas erosões na membrana mucosa da vesícula biliar (Barker et al., 1993; Barnard et
al., 1994).
Outras lesões características podem estar presentes nos rins. Nos casos naturais
estão aumentados de volume com aspecto variegado da cortical produzido por focos
brancos de 1 a 5 mm, petéquias e infartos (Plowright, 1990; Barnard et al., 1994;
O’Toole et al., 1995). Esses focos podem formar projeções circulares a partir da
e ulceração do epitélio (Plowright, 1990; Barker et al., 1993; O’Toole et al., 1995).
aumentadas de volume, friáveis, com hemorragia nas áreas cortical e capsular (Liggitt
espaços subaracnóideos dos sulcos. Geralmente essas lesões são mais concentradas nas
linfonodos (Pierson et al., 1979; Liggit & DeMartini, 1980a; Plowright, 1990).
e patognomônica da FCM (Plowright, 1990; Nakajima et al., 1992; Barker et al., 1993).
Pode afetar múltiplos órgãos e tecidos, mas é particularmente evidente em alguns locais
como rete mirabile carotídea, rim, encéfalo e leptomeninges cerebral e espinhal, tríade
portal, cornetos etmoidais, pulmão, olho, coração, cápsula dos linfonodos, cápsula e
medula adrenal, glândula salivar, cordão espermático, ligamento largo e qualquer área
da pele ou trato alimentar com lesões macroscópicas (Liggitt et al., 1978; Liggitt &
DeMartini, 1980a; Barker et al., 1993; O’Toole et al.,1997; Collery & Foley, 1996;
Tham 1997).
nas artérias de médio calibre (Liggitt et al., 1978; Plowright, 1999). Essas alterações
podem ser focais ou segmentares, podem envolver toda a parede ou podem estar
podem estar presentes (Barker et al., 1993). Neutrófilos são raramente encontrados. Em
que as lesões da túnica média e da íntima. Nos casos mais acentuados, toda a adventícia
Mitoses podem ser freqüentes nos linfócitos da adventícia. As lesões na média são
menos freqüentes e variam desde acúmulo mononuclear sem necrose, até necrose
acentuada. Necrose da média não é observada na ausência de infiltrado inflamatório e
era mais acentuada nos estágios finais da doença (Liggitt & DeMartini, 1980a). As
(Denholm & Westbury, 1979; Liggit & DeMartini, 1980a). Pode ocorrer ainda
obliterante das artérias de médio calibre (O’Toole et al., 1997). A despeito dessas
Depleção linfóide pode ser ocasionalmente observada no baço (Tham, 1997; Liggitt et
caracterizada por infiltrado linfóide das meninges e adventícia e média dos vasos
fibrinóide. Vasculite linfocítica pode ocorrer na medula espinhal (Collery & Foley,
úvea; uveíte envolvendo especialmente processo e corpo ciliar, íris; ceratite com edema
linfocítica e meningite óptica são achados menos freqüentes (O’Toole et al., 1997).
Bovinos com FCM crônica têm ceratite estromal central bilateral crônica com ou sem
2.7. Diagnóstico
clínicos são inespecíficos (Li et al., 1995a; Mirangi & Kang’ee, 1990). É geralmente
doentes ou clinicamente sadios (Li et al., 1995a; Tham, 1997; Radostits et al., 2000).
método de diagnóstico. Utiliza-se sangue total (500 ml), esfregaço ou lavado nasal ou
nucléico viral pela técnica da reação em cadeia de polimerase (PCR) tem substituído
et al., 1991; Lahijani et al., 1994; Tham et al., 1994) como para a forma ovino-
associada (Baxter et al., 1993, 1997; Li et al., 1995b). A técnica de PCR nested de
segundo estágio baseada na amplificação de um único DNA viral tem sido utilizada
(Katz et al., 1991; Baxter et al., 1993; Lahijani et al., 1994; Mirangi & Kang’ee, 1999).
PCR realizada em blocos de parafina tem sido eficiente para detectar seqüências
retrospectivos (Tham, 1997; Crawford et al., 1999; Collins et al., 2000). Embora etanol
contra um epítopo conservado entre as cepas AlHV-1 e OvHV-2 (Li et al., 1994,
1995b, 1996) e a PCR para a forma ovino-associada é baseada nos primers 556 (5’-
al., 1993; Li et al., 1995b; Mirangi & Kang’ee, 1999). Esses testes são usados em
surtos naturais de FCM e em populações de ruminantes clinicamente sadios (Li et al.,
limitado para diagnóstico de casos clínicos porque somente uma pequena porcentagem
doença. O título de anticorpos é baixo e há reação cruzada com outros herpesvírus (Li
al., 2000) e aumento dos linfoblastos nos estágios avançados e terminais da doença têm
arterite pode ser observada na diarréia viral bovina-doença das mucosas (BVD-MD),
semelhantes a FCM incluem rinotraqueíte infecciosa bovina, peste bovina, língua azul,
esporádica. Febre aftosa e estomatite vesicular cursam com alta morbidade e baixa
Não há tratamento específico. A taxa de morbidade pode ser alta, de até 37%
em um surto. Embora alguns animais com doença clínica leve possam sobreviver,
quase 100% dos que apresentam doença grave morrem (Smith, 2002). Apesar de FCM
geralmente ter pouca importância econômica, perdas importantes podem ocorrer (Bonn,
1990; Hamilton, 1990; Collery & Foley, 1996). Medidas de controle incluem
especialmente antílopes como gnu, veado-do-cabo e topi, que podem servir como
portadores dos vírus da FCM (Smith, 2002). Tentativas de produzir uma vacina não
têm sido bem sucedidas (Plowright, 1975) e a vacinação geralmente não é usada na
RS, em 2001-2003.
respectivamente. Nove bovinos (1-8 e 11) foram necropsiados por docentes e pós-
macroscópico e histológico.
fixados em formol a 10% (Tabela 1). Os olhos, após fixação em formol foram
Santiago, Rio Grande do Sul, onde havia ocorrido um dos surtos espontâneos de febre
al., 1990), com exceção do Bovino E1 que apresentava estado nutricional 1, segundo a
mesma classificação de estado corporal (Stöber et al., 1990); esse animal não apoiava o
recoberto por serragem e recebiam feno de alfafa e água à vontade. Inspeção visual e
Tabela 2. Dados dos bovinos experimentais inoculados com 500 ml de sangue colhido
de bovino clinicamente afetado por febre catarral maligna.
Origem do
Idade Data de
Bovino Sexo Raça sangue
(meses) inoculação
inoculado
E1 8 MC Charolês x Nelore Bovino 5 21/12/01
E2 6 MC Nelore Bovino E1 18/12/01
E3 5 F Tabapuã x Charolês Bovino E1 18/12/01
E4 12 F Charolês Bovino E2 05/02/02
E5 8 F Tabapuã Bovino E2 05/02/02
MC = macho castrado, F = fêmea.
um bovino previamente diagnosticado com febre catarral maligna (FCM) e com sinais
avançados da doença. O primeiro inóculo foi obtido do Bovino 5, uma fêmea de 3 anos,
tabapuã x charolês, proveniente da Propriedade A. Esse bovino apresentou uma doença
fatal com evolução de 8 dias, diagnosticada como FCM com base nos sinais clínicos
(primeira passagem). Quando o terneiro E1 adoeceu, seu sangue foi inoculado nos
a coleta, o vácuo era produzido com seringa plástica de 60 ml, torneira de três vias e
transfundido para cada terneiro por punção na jugular. Para a transfusão do sangue, em
cada receptor foi utilizado equipo de transfusão com filtros contendo poros de 170 µm.
foi processado para histologia de maneira idêntica à dos casos naturais. Fragmentos de
viral bovina (BVDV) utilizando o anticorpo monoclonal anti BVDV 15C5 na diluição
de 1:500.
∗
Heparina: Crisália Produtos Químicos Farmacêuticos Ltda.
Tabela 3 – Órgãos que foram colhidos e processados para a histologia dos 5 bovinos
inoculados com 500 ml de sangue colhido de bovino clinicamente afetado por febre
catarral maligna.
Bovino
Órgão
E1 E2 E3 E4 E5
Coração o • • o o
Rete mirabile • • • • •
Plexo pampiniforme o • o o o
Linfonodo • • • • •
Baço • • • • •
Tonsilas • • • • o
Cornetos nasais • • • o o
Pulmão • • • • •
Glândula salivar o o • o o
Mucosa da cavidade oral • o o • o
Língua o o o • o
Esôfago o o o • o
Abomaso o • • o o
Rúmen o o o • o
Intestino delgado o • • o o
Intestino grosso o • • o o
Fígado • • • • •
Rins • • • • •
Bexiga o • • • o
Encéfalo • • • • •
Medula espinhal cervical • • • • •
Globo ocular • • • • •
Gânglio de Gasser • • • • •
Hipófise • • • • •
Adrenal o • • o o
Tireóide e paratireóide • • • • o
• = colhido; o = não colhido.
3.3 Reação em cadeia de polimerase (PCR)
2003) que foram fornecidos pelo Dr. Donal O’Toole*. Para extração do DNA viral
8, 25 mM EDTA e 0,5% SDS) com 0,5 mg/ml de proteinase K e incubadas a 55° C por
precipitação com etanol (Maniatis et al., 1982). A concentração de DNA extraído foi
um kit comercial Taq PCR Mix (QIAGEN)**, contendo 2 unidades de Taq DNA
DNA extraído. Para PCR primária foram utilizados os primers 556 (5’-
*
Donal O’Toole, MVB, Phd, University of Wyoming, Wyoming State Veterinary Laboratory, 1174
Snowy Range Road, Laramie, WY 82070, USA
**
QiAamp, Qiagen, Inc., Valencia, CA, Estados Unidos
minutos a 94º C e então 30 segundos a 94º C, 30 segundos a 58º C, 45 segundos a 72º
RS, em 2001-2003
4.1.1 Epidemiologia
2002. Nessa propriedade havia ocorrido um surto de febre catarral maligna em bovinos
no verão de 1994/95 (ver item 4.4). Os bovinos afetados em 1994/5 e 2001/2 estavam
na mesma invernada (invernada A1) de 200 hectares, onde havia ovinos consorciados
com os bovinos. Em 2001, havia na invernada A1, 170 vacas adultas jovens, cruzas de
raças zebuínas com charolês. O proprietário informou que, pelo menos, quatro ovelhas
estiveram junto com as vacas na invernada A1 e que essas ovelhas haviam parido no
idade das 170 vacas na invernada A1 variava de 3-5 anos, com predominância de vacas
de 4 anos. Apenas uma vaca mais velha (10 anos) fazia parte desse lote. Segundo
invernada durante os 60 dias que precederam o início do surto. Não houve contato com
ovelhas em parição.
TABELA 5
Nos dois estabelecimentos rurais, a doença apresentou um curso clínico agudo a
subagudo. Desde a primeira observação dos sinais clínicos até a morte espontânea ou
somente os sinais clínicos observados nos animais que foram necropsiados. As formas
predominaram nos dois surtos. Em geral, os sinais iniciavam com apatia, leve
Tabela 6 – Sinais clínicos em 11 bovinos afetados por febre catarral maligna nos surtos
espontâneos ocorridos em Santiago, RS, 2001-2003.
Bovino
Sinal clínico
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
Corrimento nasal • • • • • • • • • • •
Distúrbios nervosos • • • ο ο • • • • • •
Corrimento ocular • ο • • • • ο ο ο • •
Opacidade da córnea • ο ο ο • • ο • ο ο •
Diarréia ο ο ο • • ο ο ο ο • •
Sialorréia ο ο ο • • ο ο • ο ο ο
Erosões e corrimento
ο ο ο ο ο • ο • ο ο ο
vulvar
Hematúria ο ο ο ο • ο ο ο • ο ο
• = presente; ο = ausente; n.a. = não avaliado.
Observou-se febre em todos os bovinos em que a temperatura corporal foi
aferida (6/6), variando entre 40,5 e 41,5°C. Corrimento nasal seroso que evoluía para
desprendimento do epitélio das narinas; a pele do focinho estava recoberta por exsudato
seco e crostas (Figura 6). Com o agravamento dos sinais clínicos, corrimento ocular
córnea estavam cegos. O Bovino 6, além da opacidade difusa da córnea tinha intenso
nictitante e exsudato fibrinoso sobre a mucosa (Figura 8). Hipópion ou hifema foi
Uma manifestação clínica quase constante nos dois surtos (9/11) consistiu de
Consistiam desde apatia, leve incoordenacão ou ataxia grave, hipermetria (Figura 9),
preenchida por pus e fibrina (hipópion). Havia sangue nas câmaras anterior e posterior
Bovinos
Alteração (freqüência)
1 2 3 4 5 6 7 8 11
Erosões/úlceras nos cornetos nasais (6/9) • • • • • ο ο ο •
ocorreram na cavidade oral de 3 dos 9 bovinos (Figura 10). Na mucosa oral do bovino
5, especialmente nas comissuras labiais e gengiva, havia grave ulceração infiltrada por
diâmetro constituídas por erosões e necrose das papilas sensitivas. Na almofada dental
avermelhadas, com freqüente ulceração nas extremidades das pregas (Figura 11). Em
erosões e úlceras da mucosa das narinas (Figura 12). Hiperemia, erosões ou ulcerações
presentes nos cornetos nasais de sete bovinos (Figura 13). Havia tampões de exsudato
natural (Figura 14) e de corte (Figura 15), foi observada na maioria dos bovinos
necropsiados (7/11). Esses focos pálidos localizavam-se predominantemente no córtex
corrimento uterino catarral com ulceração focal na vulva (Bovinos 6 e 8), acentuação
arteríolas dos rins, bexiga, cornetos nasais, encéfalo e rete mirabile (Figuras 18 e 19).
segmentar era ocasionalmente observada na túnica média das artérias de médio calibre
trombose foram visualizados nas arteríolas e artérias de médio calibre do rim apenas no
Bovino 1.
conjuntivite (Figura 21). A córnea estava espessada com separação das fibras estromais
esclera, episclera, conjuntiva bulbar e íris. Os vasos da retina e corpo ciliar eram menos
afetados. Nos casos mais graves observava-se vasculite circunjacente ao nervo óptico
interstício. Em um bovino a câmara anterior está repleta por placa de material fibrilar
vasos. Nas narinas o epitélio estava ausente com múltiplos focos de hemorragia e
própria. Nos cornetos nasais as lesões variaram desde leve congestão e hemorragia até
hepatócitos.
com a região anatômica afetada. As lesões mais proeminentes eram encontradas nos
branca (Figura 27). Às vezes, observava-se leve hemorragia, restos celulares, raros
com febre catarral maligna (FCM) após período de incubação que variou de 15 a 27
extremis. A evolução do quadro clínico nesses quatro animais foi de 3 dias a 8 semanas.
O quinto bovino (E5) mostrou sinais clínicos leves, recuperou-se e foi submetido à
corrimento ocular e nasal serosos. Em dois casos (E1 e E3), o corrimento nasal
no globo ocular direito e fotofobia. Três bovinos (E1-E3) apresentaram febre entre
41°C-41,5°C. Diarréia foi observada em três bovinos (E3, E4 e E5); outros dois
musculares intermitentes. Três dias após o início dos sinais clínicos, esse terneiro não
(Figura 29). O Bovino E2 mostrou os mesmos sinais que E1, com exceção de
agressividade e com adição de pressão da cabeça contra objetos, ranger de dentes e
observada em dois bovinos; era bilateral no Bovino E1 e mais acentuada no olho direito
estavam aumentados de volume (Bovinos E2 e E3) e firmes (Bovino E3), com nódulos
Discretas erosões recobertas por fibrina foram observadas nos cornetos nasais do
Bovino E1. No Bovino E2, os cornetos nasais estavam avermelhados e havia secreção
vírus da FCM.
4.2.3 Achados histológicos
estendendo-se para o espaço perivascular (no caso do sistema nervoso central) ou para
observados em vários locais do SNC e rete mirabile desses dois bovinos. A intensidade
E3 eram mínimas.
Tabela 10
Lesões vasculares foram observadas ainda nas arteríolas renais (Bovino E1), no
plexo pampiniforme (Bovino E2) e no globo ocular e tecidos perioculares (Bovino E2).
de FCM não foram observadas em nenhum dos tecidos examinados do Bovino E4.
lâmina própria dos cornetos nasais e havia moderada a acentuada necrose fibrinóide na
parede dos vasos da lâmina própria, com leve a moderado infiltrado inflamatório na
submucosa eram observadas na mucosa oral, com múltiplas erosões na porção dorso-
caudal da língua, esôfago e rúmen (Bovino E4) e mucosa esofagiana do Bovino E3.
Leve infiltrado mononuclear foi observado nos espaços-porta do fígado dos Bovinos E1
e E5. No intestino havia leve infiltrado intersticial e vasculite na submucosa e muscular
(Bovino E2).
(Tabela 11). Todos os casos positivos na PCR foram compatíveis com o diagnóstico
dois (Bovinos E4 e E5) foram negativos em ambos os testes. O DNA de OvHV-2 foi
para OvHV-2. Dessas, 16 (incluindo encéfalo, rim, linfonodo, adrenal, bexiga, corneto
nasal, fígado e rete mirabile) tinham lesão histológica leve ou acentuada compatível
com FCM e duas (baço e linfonodo) eram de tecidos sem alterações histológicas
(Tabelas 12 e 13).
Tabela 11
Figuras 30 e 31
Tabelas 12
Tab. 13
4.4 Casos espontâneos de febre catarral maligna em bovinos relatados no Rio
4.4.1 Epidemiologia
as regiões sul, centro e leste do Rio Grande do Sul, num período de 1973 a 2003.
Nesses relatos, estão incluídos os dois surtos descritos nesta Dissertação. Os relatos
foram numerados em forma decrescente de 1-14 (Tabela 14). Em seis desses relatos (1,
5, 7, 9, 12 e 14), a doença ocorreu sob forma de epizootias (43%) e em oito sob forma
esporádica (57%), afetando de um (sete relatos) a três bovinos (um relato). O surto
10,59%, 2,5%, 14,23%, 6,17%, 25% e 20%. Os dados colhidos indicam que a taxa de
letalidade foi, quase invariavelmente, de 100%, mas, no surto do relato 5, pelo menos
três bovinos afetados sobreviveram (letalidade de 83,33%). Dados relativos à idade dos
sobreano (ao redor de 18 meses) até de 10 anos. Com exceção de uma vaca charolês do
relato 5 (10 anos de idade), todos os outros bovinos afetados tinham 4 anos de idade ou
bovinos; em outras seis (relatos 4, 6-9 e 11) esse dado epidemiológico não era
informado. No entanto, em uma ocasião (relato 10, município de Porto Alegre) não
havia ovinos em contato com o bovino (um touro holandês de três anos) que foi
afetado. A maioria dos casos de FCM ocorreu nos meses mais quentes da primavera e
7, 10 e 11).
no Rio Grande do Sul estão especificados na Tabela 15. A doença apresentou um curso
convulsões.
que por vezes tinham aspecto hemorrágico, e múltiplos focos brancos de infiltrado
esporádicas de casos de FCM no Rio Grande do Sul estão na Tabela 17. Em geral esses
artérias. Em alguns órgãos como rim, fígado e globo ocular, esses acúmulos
(ver item 4.4.3 e Tabela 16). Hiperplasia linfóide foi outro achado histológico
freqüente.
Tabela 17
4. DISCUSSÃO
nos 11 bovinos das duas epizootias nas propriedades A e B, como nos casos
espontâneos revisados no RS, são consistentes com os relatos anteriores sobre essa
doença em bovinos (Selman et al., 1974; Liggitt et al., 1978; Barros et al., 1983; Ligitt
et al., 1980a,b; Hamilton, 1990; Collery & Foley, 1996; Otter et al., 2002).
Brasil anteriormente (Torres, 1924; Döbereiner & Tokarnia, 1959; Sampaio et al.,
1972; Oliveira et al., 1978; Figueiredo et al., 1990; Barros et al., 1983; Marques et al.,
1986; Riet-Correa et al., 1988; Baptista & Guidi, 1998; Silva et al., 2001), mas os
diagnósticos foram feitos com base nos sinais clínicos, alterações de necropsia e
histopatologia. Desse modo, até onde sabemos, esses são os dois primeiros surtos de
casos que haviam sido diagnosticados pelos sinais clínicos, alterações de necropsia e
goauzoubira) através de PCR já havia sido relatada (Driemeier et al., 2002). Isso
sugere que o vírus que circula no Brasil é o OvHV-2. Tem sido demonstrado que a
(Müller-Doblies et al., 1998; Crawford et al., 1999; Collins et al., 2000). Seqüências do
(Crawford et al., 1999) ou com infiltrado linfocítico (Collins et al., 2000). Neste estudo
o teste apresentou alta sensibilidade e não houve correlação entre a positividade para
dos surtos espontâneos que resultaram negativos no teste de PCR neste estudo, eram
exemplo disso é que o Bovino 5 que foi doador do sangue para os experimentos, tinha
lesões características de FCM, mas não teve a presença do DNA de OvHV-2 detectado
pela técnica de PCR. Mesmo assim, três dos terneiros que receberam o sangue
por rebanho (Riet-Correa et al., 1988; Barker et al., 1993; Smith, 2002), embora
existam relatos de surtos com múltiplos casos (Pierson et al., 1973; Barros et al., 1983;
Bonn, 1990; Hamilton, 1990; Collery & Foley, 1996; Otter et al., 2002; Dabak &
Bulut, 2003). Nos relatos de FCM registrados no Rio Grande do Sul desde 1973, a
doença ocorreu em forma de surtos epizoóticos afetando vários bovinos em 43% das
verão (Selman et al., 1974). Essa tendência foi verificada nos surtos pesquisados no
RS. Dos catorze relatos encontrados no Estado, em 11 a doença ocorreu na primavera
ou verão.
virtualmente 100%. Porém no surto da propriedade A, que foi bem controlado, com
extremamente cooperativo, foi relatado que dos 18 bovinos que adoeceram, três se
tenham ocorrido nos bovinos da propriedade entre os anos que separam os dois surtos.
É provável que uma observação mais continuada em todos os 14 surtos aqui relatados
1974), sabe-se hoje que casos de recuperação de FCM não são raros e formas crônicas
são observadas (O’Toole et al., 1995; O’Toole et al., 1997; Penny, 1998; Otter et al.,
2002).
hiperagudos de um dia de evolução (Smith, 2002). Sob essa óptica, nas duas epizootias
casos poderiam ser enquadrados na categoria de curso clínico agudo ou, no máximo,
foram descritos por outros autores (Pierson et al., 1979; Collery & Foley, 1996; Otter et
al., 2002).
Um ponto a ressaltar na ocorrência de FCM em bovinos deste estudo foi a
freqüência com que ocorreram sinais clínicos de distúrbios nervosos. Em nove dos 14
bovinos examinados clinicamente com mais detalhe, apenas dois não demonstraram
espécies altamente suscetíveis, tais como veados, alces e bisões (Crawford et al., 1999).
dos casos de FCM (Plowright, 1990). Neste estudo, dos 11 bovinos examinados nas
duas epizootias de Santiago, RS, aumento de volume dos linfonodos ocorreu somente
em seis bovinos (55%) e assim mesmo, muitas vezes, esse achado foi percebido
(Selman et al., 1974; O’Toole et al., 1995), foram observadas somente no Bovino 4.
do vírus da FCM-OA e que excretam e transmitem o vírus para outras espécies, como,
por ex., bovinos (Pierson et al., 1973; Selman et al., 1974; Reid et al., 1989). É
No entanto, a determinação do DNA vírico por PCR na secreção nasal e nos leucócitos
do sangue periférico (LSP) de cordeiros (Li et al., 2001a) sugere que cordeiros recém-
nascidos não são fontes importantes para a transmissão de OvHV-2. Nesse estudo o
DNA do vírus só foi detectado aos três meses (nos LSP) e aos cinco meses na secreção
que bovinos com FCM aguda raramente transmitem a infecção para outros bovinos
podem ser feitas para explicar a manutenção da doença na Propriedade A por quase
uma década e o aparecimento da doença onde o contato com ovelhas era incerto.
persistentemente infectados por OvHV-2 (Baxter et al., 1993; O’Toole et al., 1997).
Isso levanta a questão de que esses animais possam ser fonte da infecção horizontal ou
vertical para outros membros do rebanho. Por outro lado, a infecção transplacentária de
FCM já foi demonstrada em bovinos (Plowright et al., 1972; O’Toole et al., 1997) e
bisões (Schultheiss et al., 1998). Em uma ocasião, uma vaca infectada subclinicamente
pariu seis terneiros durante toda a sua fase reprodutiva, quatro dos quais haviam sido
detectado por PCR no linfonodo de um feto de bisão cuja mãe havia sido afetada por
FCM (Schultheiss et al., 1998). Embora seja incerto que esses fetos fossem adoecer ou
se tornar portadores, essa poderia ser uma explicação hipotética para a manutenção do
vírus em determinadas propriedades por longos períodos. Uma indicação para isso é
vários meses após o nascimento (Otter et al., 2002). Isso foi interpretado pelos autores
terneiros nascidos infectados e que algum fator desencadeante (por ex. estresse) tenha
(Heuschele et al., 1985) e bovinos (Rweyemamu, 1976; Tham, 1997). No surto da Grã-
É possível então que bovinos ou outras espécies de animais possam servir como
surtos que ocorrem na ausência de aparente contato ovinos em vários casos relatados na
teve relação direta com a intensidade das lesões na camada média dos vasos e essas
semelhantes já haviam sido relatados para a FCM de bovinos (Liggitt & DeMartini,
bovinos que apresentaram quadro clínico neurológico neste estudo. Esse é um achado
central e é recomendável que sempre se colete, junto com o encéfalo, esse complexo
Liggitt et al., 1978). Tem sido sugerido que a resposta celular linfóide na FCM é
semelhante ao que ocorre na doença de Marek e no linfoma de Burkitt induzido pelo
vírus Epstein-Barr, duas doenças neoplásicas induzidas por herpesvírus (Reid et al.,
dexametasona, reforça essa idéia do potencial oncogênico dos herpesvirus nessa doença
(Heuschele et al., 1985). Entretanto, nos casos deste estudo, a hiperplasia linfóide não
foi um achado freqüente. Ao contrário, em alguns animais havia até depleção linfóide,
hiperplasia importante nos órgãos linfóides da maioria dos nossos casos, as lesões
nas lesões vasculares também sugerem que a FCM seja primariamente relacionada à
característica tem sido interpretada como uma evidência de que as lesões da FCM
resultam de um distúrbio imunológico induzido pelo vírus (Liggit et al., 1980a) e não
a resposta macrofágica ao redor dos vasos sangüíneos e espaços intersticiais, junto com
reação imune mediada por célula – do tipo IV (Liggitt & DeMartini, 1980a). Por outro
lado, vasculite necrosante e trombose sugerem hipersensibilidade tipo III (Liggitt et al.,
1978). Foi demonstrado, no entanto (Liggitt & DeMartini, 1980a), que as lesões
linfócitos TCD8 são as células inflamatórias que predominam nas lesões vasculares de
FCM e, pela primeira vez, capsídios virais e genes da replicação viral foram detectados
al., 2002). Tem sido sugerido que a lesão epitelial na FCM resulte de
Foi concluído que dos cinco terneiros inoculados com 500 ml de sangue de um
bovino, apenas três deles (E1-E3) desenvolveram a doença (60%). A conclusão foi
do DNA de OvHV-2 nesses três terneiros. Febre e opacidade de córnea foram os sinais
comuns aos três terneiros experimentais (E1-E3) e distúrbios nervosos ocorreram em
dois (E1 e E2). O tempo de incubação foi 15 (Bovinos E2 e E3) e 27 dias (Bovino E1).
Esse período de incubação se aproxima mais do que é descrito para a forma africana
forma africana têm sido relatados como sendo de 11-63 dias (Plowright, 1968), 14-46
dias e 7-18 dias (Plowright, 1990). Para transmissão experimental da FCM-OA são
relatados períodos de incubação de 20-36 dias (Selman et al., 1974), 19-73 dias (Liggit
et al., 1978) e 15-49 dias (Pierson et al., 1974). Os dados para o período de incubação
1990). Na prática, é necessário esperar-se pelo menos dois meses antes de se concluir
que um bovino inoculado com material de FCM, não irá contrair a doença, uma vez que
alguns poucos animais suscetíveis não mostram reações identificáveis até 9-10 meses
duração do curso clínico seria o inverso (Pierson et al., 1974). Para os terneiros deste
respectivamente para os Bovinos E1, E2 e E3. Provavelmente, a doença foi mais aguda
nos Bovinos E1 e E2 devido aos sinais de distúrbios nervosos. Isso pôde também ser
duração do curso é descrita como 3-22 dias (Plowright, 1968) e 4-52 dias (Plowright,
uma vez manifestados os sinais clínicos, a morte ou eutanásia in extremis ocorria em,
incubação de 17 dias, o que, clinicamente, seria consistente com FCM. No entanto, não
alguns como patognomônicas (Selman et al., 1974; Barker et al., 1993; Barnard et al.,
1994). O Bovino E5 apresentou uma doença leve e se recuperou tendo sido sacrificado
com recrudescimento da doença e casos crônicos de FCM (O’Toole et al., 1995, 1997;
Penny, 1998). Embora não se possa afastar definitivamente a hipótese de que o Bovino
esse animal não apresentou curso clínico compatível com FCM, foi negativo no teste de
exame histológico.
sinais de distúrbios nervosos, mas o Bovino 5 (uma vaca de 3 anos) que doou o sangue
para as inoculações foi um dos bovinos com FCM espontânea das Propriedades A e B
que não demonstrou sinais clínicos de distúrbios nervosos, apesar das lesões
encéfalo, fragmentos de fígado, linfonodos, rim, baço, adrenais, rete mirabile, olho,
sinóvia e partes dos aparelhos digestivo e respiratório onde houver lesões. Tecidos para
histopatologia devem ser fixados em formol a 10%. Deve-se usar 10 partes da solução
de formol para cada parte de tecido a ser fixada. Assim, para fixar-se um cérebro de
bovino adulto deve-se usar, no mínimo, 5-6 litros de formol. O uso do formol
tamponado e um curto período de fixação (no máximo 48 horas) devem ser observados
et al., 1994; O’Toole et al., 1995). O isolamento do vírus só tem sido alcançado na
forma africana. Testes de diagnóstico molecular como PCR, como foi empregado em
dois surtos deste relato, PCR in situ e imunoistoquímica são também indicados
como diarréia viral bovina/doença das mucosas, língua azul, peste bovina, febre aftosa
eficazes contra FCM (Plowright, 1990). Alguns relatos sugerem remissão da doença
são também associados ao uso dessas drogas (Rweyemamu, 1976; Heuschele et al.,
1985; Tham, 1997). Tratamentos de suporte têm sido usados com relativo sucesso em
alguns casos (Plowright, 1990; O’Toole et al., 1997). Geralmente se recomenda não
colocar bovinos em contato com ovinos e isolar animais afetados de animais sadios
(Otter et al., 2002). Bovinos infectados continuam como reservatórios do vírus por
2 (OvHV-2)
2 – A doença no Rio Grande do Sul ocorre tanto na forma esporádica como em surtos
5 – Nos casos de febre catarral maligna no Rio Grande do Sul a manifestação clínica de
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