Edição 41
novembro/2016
A obrigatoriedade do emprego da próclise em orações negativas.
Próclise em orações negativas
Adilson Rodrigues
Várias são as normas de colocação dos pronomes pessoais
oblíquos átonos: me, te, se, o, a, lhe, nos, vos, se, os, as,
lhes e dos pronomes demonstrativos o, a, os, as. Neste es-
paço, daremos ênfase à colocação pronominal em orações
negativas.
Considerando as três posições em que os átonos se distri-
buem: próclise, antes do verbo; ênclise, depois do verbo;
mesóclise, no meio do verbo, válido é pontuar que, sobre
o contexto da negação, não há praticamente divergências
quanto à próclise.
Corrobora essa afirmação o gramático Mário Barreto em sua
obra Novíssimos Estudos da Língua Portuguesa ao prescre-
ver que “Um preceito pelos gramáticos concordemente indi-
gitado como absoluto na colocação dos pronomes atónicos
é o da próclise nas frases negativas”.
Partamos, então, da ideia de que orações negativas não são
somente aquelas que se constroem com o “não”, advérbio
de negação; a negação pode também estar contida implicita-
mente em certos pronomes ou advérbios, como, por exemplo,
ninguém, nenhum, nada, nunca, jamais etc., bem como em
conectivos como a preposição sem e a conjunção aditiva nem.
Vejamos exemplos de anteposição dos pronomes átonos em
orações negativas.
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Núcleo de DO DISTRITO FEDERAL
Revisão Textual E DOS TERRITÓRIOS
»»Não se anulará, por motivo de idade, o casamento de
que resultou gravidez. (Código Civil)
»»A Gratificação por Encargo de Curso ou Concurso não
se incorpora ao vencimento ou salário do servidor [...].
(8.112/91)
»»Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que
não a conhece. (Código Civil)
»»Ninguém se fie da brasa que os olhos veem arder;
sereno que cai de noite há de fazê-la morrer. (Macha-
do de Assis)
»»Nunca me esqueci dos terrores noturnos que vivi na
infância.
»»Nunca, antes daquele dia, nos havíamos falado.
(Adriano da Gama Cury)
»»O documento fora bem escrito, mas nada o recomen-
dava como modelo que devesse ser imitado.
»»Nenhum servidor me prestou a informação correta.
»»Jamais se queixou da sorte.
»»Helena afastou-se dele; mas nem seus pés o pode-
riam vencer nunca, nem lho permitiam agora as forças
quebradas por tantas e tão profundas comoções.
(Machado de Assis)
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Há, nos dados acima, a anteposição dos pronomes átonos

entre a negação e o verbo; não raro, entretanto, encontra-
mos, em especial na linguagem literária, um recurso deno-
minado apossínclise, ou seja, quando o pronome átono é
colocado antes da palavra negativa. Assim:

»»Quem rosas colhe sem lhe a mão sangrar? (Antero de

Quental)

»»Em tudo isso não há surpresas que se não possam

esperar da tenacidade e santidade no trabalho. (Rui
Barbosa)

»»Como vedes, senhores, para me não chamarem a

mim revolucionário, ando a catar minha literatura de
hoje nos livros religiosos. (Rui Barbosa)

Em relação às orações com verbo no infinitivo, ainda que

essa forma verbal seja precedida de negação, é importante
atentarmos para duas possibilidades de colocação pronomi-
nal – a próclise ou a ênclise – embora haja forte tendência de
emprego para a posposição.

»»É preciso fazer tudo para não o magoar.

»»É preciso fazer tudo para não magoá-lo.

Pode-se verificar, de acordo com o exposto, que as partículas

de negação são elementos favorecedores da variante proclí-
tica, como bem resumiu João Ribeiro e José Oiticica acerca
das regras de colocação pronominal: “As únicas regras que
parecem não excetuadas são: a que impede de principiar a
frase com a variação pronominal e a que ordena a anteposi-
ção com a negativa”.