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Jonatas Ferreira1
Resumo
Introdução
lançar algumas pontes sobre o que tradicionalmente tem sido pensado como
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elementos, por seu turno, passaria por dar conta de um débito teórico, de
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insensível a esse aceno, no que pese afirmar o papel central que uma razão
influenciados por sua obra, teriam pouco a dizer acerca do tema da alienação
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Hegel é considerar os seus estudos sobre o belo, sobre a arte. Neste sentido é
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o homem tem de recobrar a comunhão com a natureza, que foi rompida pela
pela cultura nacional onde ela está inscrita. São conclusões semelhantes a
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essas que constatamos no famoso texto que Hegel dedica à poesia (HEGEL,
s/d, p. 37 e 38).
nas lições práticas de sua própria cultura (Cf. HERDER, 2002, p. 11). A
àquilo que a filosofia hegeliana tem de mais caro, isto é, a certeza de que a
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fim em si própria, tem sua própria essência, sendo inconcebível que ela
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p. 59).
alienação.
Que estágios seriam esses? Hegel nos responde com uma tipologia
que o ser humano teria para transformar a matéria de acordo com a idealidade
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para Hegel. A arte simbólica, para ele, evidencia uma imaturidade técnica,
si, essa distância entre ideia e expressão concreta, é, ela própria, matéria
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adiante, evidentemente, deve ser entendido não apenas como uma vitória
que aí se expressa não é absoluto. Isso vale dizer que não apenas a
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com relação ao mundo que o cerca, que signifique retornar a uma relação
menos daquilo que encontramos expresso em alguns de seus textos, tais como
alguma viabilidade para além do contingente, raciocina Hegel, ela não teria
sido superada por uma forma mediada pela razão e pela técnica. O amor
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mas ela é passageira; do mesmo modo, é possível dizer que uma relação
pode-se dizer sobre a arte romântica aquilo que é dito sobre a poesia lírica:
se para si mesmo, uma obra de arte” (HEGEL, s/d, p. 230). Mas em que
projetada sobre o mundo externo, e quando o faz é para encontrar ali apenas
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(HEGEL, s/d, 61). Mas, ele argumenta, se tomamos como dado de partida
este ego formal e abstrato, “nada es valioso como considerado en sí y para sí”
um valor que não esteja submetido ao arbítrio do eu, como eles pretendiam,
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2003, p. 96). E algumas linhas adiante Bowie faz a pergunta decisiva que
está não apenas no centro das divergências entre os românticos e Hegel, mas
Tendo com a realidade apenas uma relação formal, abstrata, ele pode ironizar
imoderadamente, pois nada vale tanto assim – ou seja, a filosofia não pode aspirar,
formal românticas, base cultural de todo modernismo que virá, é criticada por
que dele decorre, estende-se ao que ele julga ser um abandono da verdade.
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próprio espiritual na arte se torna mais claro, mas apresenta limites que
adequação formal que fala da verdade do mundo externo e a esta outra que
A primeira coisa que salta aos olhos na leitura do livro que Hegel
pintura. Por esse motivo, infere Hegel, é que os templos gregos precisavam
edificação, mesmo que religiosa, não pode ter. Mas, no que diz respeito
pode ser realizar de forma ainda mais plena. Tomemos a música como
exemplo.
sensibilidade ao invisível. Haveria algo mais que sonoro, mais que sensível
na música, ele explica: o canto de uma ave, por exemplo, perde todo o seu
mais subjetiva, pois é isso que está sendo proposto, parece fazer sentido.
mundo, que o torna pleno por alguns momentos. Ocorre-me aquela famosa
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sua essência, é a poesia a arte que melhor do que qualquer outra, apresenta
conduz na criação artística, quer dotando de uma existência real cada forma
que percebamos o seu destino nas contradições que ela supera, sabendo de
tal princípio estruturador do mundo implica é curioso, pois ele difere, por
para atingir um fim. Na poesia cada particularidade conta com sua própria
de vida” (Ibid., p.44). E sobre isso já falamos: a arte não deve ser concebida
como meio para a obtenção de nada; ela é essencial e, como tal, possui uma
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isso, uma leitura francamente evolucionista aqui teria que ser apreciada com
do ser humano.
mundo dado, à prosa da vida, a poesia é um ato crítico (Ibid., p. 89). Acerca
do tratamento poético da vida quotidiana, poderia ser dito aquilo que Hegel
como, por exemplo, o uso da rima. Esse obstáculo não constitui um limite
poesia, portanto, está ligada à organicidade entre vida e espírito que nos
permite retomar algo já dito ao longo deste ensaio: para Hegel, a história,
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sobre poesia épica, sobre a poesia lírica e sua síntese na poesia dramática.
Porém, esse é um esforço que nos distanciaria da última parte deste ensaio.
3. A herança hegeliana
esquerda, que se segue à sua morte em 1831. O tamanho deste legado está
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ouvintes da presunção nociva que exclui o que existe sem o ter reconhecido
a filosofia da história deste último, nos anos que se seguem à sua morte.
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O futuro, para ele, seria uma síntese que o sistema hegeliano não
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81). Hegel estava atento a esse inconveniente quando rejeitou o que ele
de pensar a filosofia como algo que poderia se realizar no mundo. Creio que
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valor - diante do fato de que tudo que existe “mereceria morrer”, ou estaria
fundamental em nada que existe, seu gozo abstrato. Esse era um dos lados
não algo absoluto, mas algo que determina sempre uma zona de negociação
seguinte maneira:
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ser humano como “ser da espécie”, como dirá mais tarde, sob sua influência
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de Marx.
2002, p.21).
seu empirismo, mas sobretudo com seu humanismo romântico, seu desejo
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Não há aqui uma contradição com a estética hegeliana, a não ser quando
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Como este ser poderia amar? Só ama quem sofre; apenas a minha
pode ser indiferente. Tudo isso significa também que, para Feuerbach, a
onde Marx procurará afinar sua reflexão política. Ele encontra uma boa
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sua condição humana pode ele reivindicar direitos civis. “Só de um modo
civil, o ser humano descubra não apenas suas necessidades egoístas, mas
reside não apenas o EU, mas o TU. Passarei ao largo das considerações
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temos aqui algo que Marx vai desenvolver nos Manuscritos e na Crítica à
a alienação.
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hegeliana. A arte mais uma vez pode nos servir como motivo para refletir
a esse respeito. Creio, como Dennis Schmidt, que a relação que a filosofia
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dos fenômenos, mas uma ação filosófica especulativa a file a eles próprios
(ibid.).
marca o interesse hegeliano pela tragédia seria sua relação com o destino:
filosofia.
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todos sabemos das diversas etapas históricas pelas quais a luta por
entre ele e a sua fruição um intervalo de tempo e esforço que põem em xeque
vida civil. Tal é o caso que opõe Antígona e Creonte, por exemplo.
deparam numa luta para realizar seus desejos, o resultado deste embate pode
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possibilidade de tal questão. Interessa aqui a forma social e histórica que esse
de importância crucial para que Marx possa elaborar sua análise dos aspectos
que existe entre sua realização como ser dotado de uma razão universal e a sua
política: “O trabalhador fica mais pobre à medida que produz mais riqueza e que
mercadoria ainda mais barata à medida que cria mais bens” (MARX, 1971, p.
20). E ainda mais claramente aqui que percebemos que o ser humano percebido
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
HOY, J. 2009. “Hegel, Antigone, and Feminist Critique: the Spirit of Ancient
Greece. In Kenneth R Westphal (ed.), The Blackwell Guide to Hegel’s
Phenomenology of the Spirit. Oxford, Blackwell, pp. 172-189.
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ABSTRACT
The following article aims to analyze the importance of the romantic aesthetic
formulations – particularly as they appear among the Jena romantics – and
its impact on the work of Hegel and thinkers that operate under his influence.
Romanticism is a well-known manner of understanding modernity which
bestows on us cultural imperatives such as the need to analyze the human
fragmentation, existential poverty, and alienation as key characteristics of
industrial culture, as well as demands the overcoming of these problems –
through an investment on the plenitude of being human – as a philosophical
agenda with significant political implications. Moreover, the relevance of
the theme for the constitution of a critical sociological tradition seems clear,
as the work of the young Marx would testify.
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