Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
BELÉM
2020
Introdução
Este ensaio tem por objetivo apresentar os sujeitos de uma história peculiar
ocorrida em uma capital amazônica no tempo presente, buscando destacar formas
de categorizá-los que compreendam suas especifidades individuais e a
complexidade de suas ações coletivas.
A partir dos estudos propostos pela Nova História Cultural no final do século
XX, é que finalmente a sexualidade humana, onde se encontra a pornografia como
elemento constituinte dessa área, passou a ser estudada em sua historicidade.
Todavia, ainda observada dentro de um plano muito social e político, através da
importância da literatura erótica para as mudanças ocorridas na França do século
XVIII (HUNT, 1999) e baseada nos estudos de Michel Foucault sobre a história da
sexualidade, que embora muito importantes para o campo, não consideram com
clareza a agencia das pessoas em relação a sua própria sexualidade, elas sempre
aparecem reagindo a imposições disciplinatórias do Estado, por exemplo.
Essas pessoas ficaram marcadas pela relação que tinham com a pornografia,
e na maioria das vezes marcadas negativamente, isso permitiu algumas escolhas,
como assumir uma identidade relacionada a essas salas de cinema pornô, como o
caso da comunidade homossexual nos cinemas Iracema e Ópera, que ficavam
localizados no Largo de Nazaré em Belém, demonstrando orgulho de pertencer a
estes espaços marginalizados pela imprensa, pela Igreja e pelos políticos, ou
constituir uma Identidade Contrastiva (OLIVEIRA, 2003, p. 05), formada pela
oposição de não pertencer a esse grupo, frequentar os cinemas por frequentar, sem
mais relações além disso, como foi o caso dos frequentadores de orientação
heterossexual e assim se portaram alguns empresários exibidores também, como o
dono do próprio Cine Ópera, o libanês João Hage, de quem trataremos melhor a
seguir.
1
As informações sobre os dois sujeitos contidas neste item, foram coletadas em pesquisa e nas
entrevistas realizadas com o neto de João Hage, o senhor Luiz Hage em 2014 e com o professor
Ernani Chaves em 2017. Ambas foram publicadas em artigo e livro, e pretendo utilizá-las também na
dissertação de mestrado, portanto, tenho autorização para utilizá-las em trabalho acadêmico.
redemocratização reforçava a confiança de que os gostos da população deixariam de
ser controlados pelo Estado, o que não ocorreu completamente.
De 1985, quando transforma o Cine Ópera em cinema pornô, até 1993, data
de sua morte, o velho Hage buscou demonstrar aos seus que permanecia sendo um
bom comerciante libanês, com todas as características de identificação e
estereótipos criados na Amazônia sobre essa comunidade.
Fazendo uma breve analogia com o marroquino Abraão, o judeu que se tornou
bem-sucedido ao migrar para a Amazônia, cuja história é narrada pelo antropólogo,
Mark Harris (2006, p. 86) e na busca de conectar os sujeitos desta pesquisa com
suas identidades amazônicas, é interessante observar o quanto o sucesso financeiro
era vinculado a esse migrantes internacionais, mesmo que, parafraseando Harris, o
êxito ou fracasso dependesse unicamente de cada história em particular, o que não
excluiu que em torno desses sujeitos fossem criados imaginários na região sobre
suas formas peculiares de comandarem seus negócios. O problema de João Hage
foi ter entrado em uma crise econômica em que fosse necessário exibir filmes pornôs
para não fechar seu cinema, o que seria pior para ele. Todavia, essa escolha, que
pode ser entendida como inteligente, lhe custou a credibilidade de outros dois fatores
importantes na vida de um libanês amazônico, a família e sua religiosidade católica.
Conclusão
4
Compuseram, entre as décadas de 1980 e 1990, o circuito exibidor pornô em Belém as salas do
Cine Ópera, Cine Iracema e Cine Nazaré, todas vizinhas à Basílica e as salas do Cine Cassino na
Pedreira e do Cinema II na Campina.
Um circuito exibidor é formado pelos trajetos das pessoas na busca de
consumirem os filmes e participarem da sociabilidade que o cinema proporciona. É
algo que envolve diretamente o interesse do público, a agência dos empresários e a
localização das salas de cinema pela cidade.
Referências
BOIDIN, Capucine. Jopara: Una vertiente sol y sombra del mestizaje, in Wolf Dietrich
et Haralambos Symeonidis, Tupí y Guaraní. Estructuras, contactos y desarrollos,
Münster, LIT-Verlag, Numéro 11 de la collection "Regionalwissenschaften
Lateinamerika" publiée par le LateinamerikaZentrum/Centro Latinoamericano
del'Université de Münster, 2006.