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Deslocamentos populaciónais

e mobilidade fictícia:
a razão fetichizada do migrante e do
seu pesquisador
Heinz Dieter Heidernnnn'

Introdução
A finalidade da minha exposição! na mesa de abertura do
seminário é a de apresentar algumas reflexões sobre universalida-
des categoriais das migrações, da mobilidade, seus estudos e seus
pesquisadores, estimulando o debate sem entrar especificamente
no mérito de contextos empíricos regionais e locais, tratando da
Amazônia e de Manaus, temas a cargo de outros expositores desta
mesa.
Não é nenhuma novidade, nem uma constatação inovado-
ra, quando dizemos que não há como escrever a história da acu-
mu~ação primitiva europeia, da expansão colonial portuguesa e da
história do Brasil sem levar em consideração os deslocamentos po-
pulacionais, migrações internacionais. e internas e a generalizada
mobilização do trabalho e para o trabalho.
No Brasil trata-se de uma história, desde a colônia, com o
seu "sentido" já baseado na produção de mercadorias até os dias

I Doutor em Geografia e professor do Departamento de Geografia da Universidade de São


Paulo - USP.
2 Apoio-me principalmente, nas publicoções de Robert Kurz e nos grupos de estudo que
debatem a obra de Kurz e a temótica da Mobilização e Modernização, no laboratório de
Geografia Urbana (Lcbur), do Departamento. de Geografia da FFlCH/USP. .

Migrantes em contextos urbanos: uma abordagem interdisciplinar 116


r-
é
de hoje e, na atualidade, caracterizada não só pela universalidade vizinhos a Campinas. Esse fato ocorre desde o censo de 1980. Muita
negativa da concorrência, mas pela crise fundamental do sistema gente saiu de Campinas e migrou para cidades da assim chamada
produtor de mercadorias. Região Metropolitana de Campinas.
É uma história da imposição coercitiva de modernização e Já no Nordeste brasileiro observamos a inversão do fluxo
mobilização generalizada e, ao mesmo tempo e contraditoriamen- migratório, outrora acentuado para o Sudeste. Agora, a tendência
te, uma história de barreiras à mobilidade sujeitada à onipotente predominante é a do retorno para a região, depois de décadas de
lei da concorrência. esvaziamento das áreas rurais. No período 1996-2006, 1 milhão e
Levando em consideração a mediação da forma mercadoria 100 mil nordestinos se mudaram para o Rio de Janeiro e São Paulo,
podemos estudar o longo processo da formação da mobilidade do em busca de trabalho e melhores condições de vida. Nesse mesmo
trabalho da sociedade colonial escravocrata até os nossos dias e o período, 1 milhão e 300 mil migrantes de retorno, desiludidos com a
processo da formação dos sujeitos livres, sempre lembrando a afir- falta de emprego, especialmente em São Paulo, fizeram o caminho
mação, que o homem moderno não é livre por natureza, mas torna- de volta.
se livre num processo histórico. Neste sentido, é de se destacar que Mais da metade dos moradores do Distrito Federal (DF) são
o sujeito livre carece de ter coragem,como ainda de entender a sua imigrantes. O percentual exato é de 51,4%. De acordo com a Pesqui-
liberdade em sua negatividade. sa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), o DF e o Estado de
Com frequência podemos ler, nos últimos meses, notícias a Roraima são as duas unidades federativas do Brasil que têm mais
respeito do fenômeno da questão migratório no Brasil. Porém, como imigrantes do que população originária própria. Mesmo caindo o
registros e informações só podem ser ponto de partida para uma número de migrantes em Rorcirnu, o número de pessoas não-natu-
reflexão aprofundada sobre a modernização, a mobilização e a for- rais de Roraima caiu de 53,7% em 2006 para 50,5% em 2007.
mação do sujeito na sociedade moderna. Basta citar apenas ale- Também recebemos inúmeras notícias de temas mais assus-
atoriamente alguns poucos recentes exemplos. A cidade de Uber- tadores e com os conhecidos ingredientes da violência que permeou
lândia, no triangulo mineiro, mantém um fluxo estatístico de imi- todo o processo de modernização: em São Paulo, como em outras
gração crescente. Os migrantes alegam que a busca pelo emprego partes do Brasil, auditores fiscais das Superintendências Regionais
é o maior, porém, muitas vezes, frustrado estímulo à migração. Na do Trabalho encontram frequentemente trabalhadores, alojados
contramão, a população do município de Campinas em São Paulo em fazendas de café e cana-de-açúcar, em condições precárias, e
reduz o seu crescimento por vários motivos: O primeiro é a tendên- com as carteiras de trabalho retidas pelo empregador. A fiscaliza-
cia de casais optarem por um menor número de filhos, ao contrário ção acontece muitas vezes, depois de denúncias feitas pela Pasto-
do que ocorria antes dos anos 70. Mas outro fato importante ocorre ral do Migrante.
em relação aos movimentos migratórios. Campinas recebia muitos O tráfico de mulheres, crianças e adolescentes para fins de
migrantes de outros estados, como Paraná e Minas Gerais. Hoje, xplorcçõo sexual comercial, frequenta os noticiários dos jornais
além da redução desse número, muitos migrantes acabaram reto r- brasileiros em geral e da imprensa amazonense em particular.
nando para suas cidades de origem. Porém, o fator principal para
esses números foi a redistribuição populacional para os municípios

161 Sldlloy Antonio da Silvo (orgcnizcdor) MII{I'Ollt M em rOllt ~xt I1N urhnnos: 1.11 11ti oboldoHcm Intcrdlsclpllnor 117
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Sem grande esforço, encontramos exemplos no Brasil e no vés da aplicação de força de trabalho humana, isto é, fazer de uma
mundo inteiro'. Deslocamentos populacionais de todos os tipos determinada quantidade de dinheiro, mais dinheiro, num processo
fazem parte habitual do caráter fantasmagórico da normalidade infinito de valorização como um fim em si mesmo. Somente essa
econômica e social. lógica fez da produção de mercadorias e, deste modo, do sistema
social produtor de mercadorias, um modo universal dominante da
A mobilização da sociedade moderna sociedade. Isto não deve ser chamado de "economicismo", como
Migração e mobilidade se tornaram duas das mais utiliza-
afirmam os ideólogos pós-modernos. Trata-se, todavia, de um
das palavras-chave das sociedades contemporâneas. A situação economicismo socialmente real e objetivo e, enquanto realidade
demográfica atual do mundo inteiro é fortemente caracterizada negativa, deve-se receber nos estudos dos fenômenos migratórios,
por desloc.amentos populacionais volumosos (idas, voltas e circu-
abordagem crítica e não ingênua ou banalizada como se fosse ape-
lações) de uma ordem numérica nunca vista antes. Existem diversas
nas uma ideologia.
tentativas de descrever e interpretar o fenômeno estatisticamente
O núcleo estruturador da sociedade é a economia da valori-
ou culturalisticamente. Porém, as migrações não podem ser expli-
zação de valores e toda a aplicação de recursos sociais é determi-
cadas exclusivamente, nem a partir de princípios quantitativos,
nada por ele. A política não comanda essa economia. Isso foi uma
nem antropológicos. Não adianta, por exemplo, pressupor uma na- ilusão da história da modernização. Ela é apenas uma das esferas
tureza humana de um ser humano ontológico como "horno viator", nas quais se lida com os problemas resultantes do processo de va-
mas é indispensável partir de uma análise do processo histórico,
lorização.
social e concreto, que produziu esse novo tipo de movimentos mi-
No contexto de um "economicismo real", crescente pela in-
gratórios sócio-econômicos. A migração não é um processo possí-
tensificação global do modo de produção capitalista e pelo alas-
vel de ser explicado, a partir de si mesmo; não é um fenômeno de
tramento do mercado mundial até os últimos poros da sociedade,
uma mudança meramente cultural, na qual se demonstra um novo formam-se tendências históricas específicas. Para poder entender
caráter "nômade" ou até aquela "essência humana" propriamente o fenômeno das migrações maciças, é necessário analisá-Io na sua
nômade, como alguns filósofos pós-modernos afirmam. Portanto. dependência do desenvolvimento do capitalismo global, de seus
a migração pode ser explicada apenas como fenômeno da história
fluxos de dinheiro e mercadorias, como também da sua capacida-
social concreta. de maior ou menor de aplicação de força de trabalho. Só, a partir
Para isso, carece ter um conceito crítico da sociedade, den- desse pano de fundo, entende-se o nexo interno do fenômeno das
tro da qual esse fenômeno ocorre. Em toda a modernidade a estru- migrações.
tura social é determinada pela tentativa de subordinar tudo o que é Desde o início da história da modernização, a migração de-
humano à valorização do capital. A lógica da sociedade capitalista
sempenha um papel relevante. Com o começo da industrialização,
consiste no fato de produzir "riqueza abstrata" (MARX, 1985) atra- inicia-se o cssirn chamado êxodo rural. Uma vez criada uma super-
população relativa, as pessoas migraram das regiões agrárias para
3 Ver p. ex. amplas informações e textos divulgados pelo Núcleo Interdisciplinar de Estudos os centros industriais, devido a isso, surgiram, nas grandes cidades
Migratórios (NIEM), http://br.groups.yahoo.com/group/niem_rj/, pelo Serviço Pastoral modernas, os exércitos industriais de reserva.
dos Migrantes - SPM, http://www.migracoes.com.br. e pela Revista Travessia (CEMSP).

181 Sidncy Antonio do Silva (orgonizcdor) Mlgron m contextos urbanos: uma abordagem interdisciplinar 119
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r.
Os estudos tradicionais das migrações afirmam que a gran- minadas áreas de produtividade e rentabilidade. Em volta delas, e
de força de atração dos centros urbanos capitalistas e do trabalho mesmo no interior delas, intumesce a barbárie. Os "obsoletos" es-
industrial inicial devia-se a um progresso civilizatório. Expulsas e tão sendo expelidos para circuitos subordinados, seja como empre-
atraídas, as pessoas teriam reconhecido que, no âmbito de um novo sários da miséria na circulação (ambulantes etc.), seja como força
modo de produção e de vida, poderiam se dar melhor. Porém, a re- de trabalho barata em condições precárias ou, então, caem em mi-
alidade é outra. Em processos violentos, as pessoas foram e conti- serabilização absoluta.
nuam sendo expulsas das suas terras e socialmente desenraizadas. As migrações são hoje, como no passado, tampouco resul-
Desde o início da imposição da economia de mercado, o processo tado de um "progresso civilizatório" maravilhoso ou de motivos
migratório foi causado pela "coerção silenciosa" da modernização subjetivamente escolhidos, mas continuam a ser o resultado de
e não através de motivos civilizatórios livremente, individualmente processos cegos de "liberação" e desenraizamento na "mobilização
e subjetivamente escolhidos. forçada" (GAUDEMAR,1977). Hoje as pessoasjá não estão coerciti-
A migração contemporânea ainda tem uma nova qualida- vamente "liberadas" para o "trabalho abstrato"; elas estão sendo
de, porque não é mais limitada a determinadas arrancadas não- catapultadas para fora do próprio "trabalho abstrato". O pano de
simultâneas da modernização em diversos territórios nacionais ou fundo é, por isso, cada vez menos a mobilização da força de traba-
regionais, mas é universal e global. Ela se realiza quase em todos lho para a produção capitalista, sobretudo, uma espécie de contí-
os lugares simultaneamente e se demonstra em novas dimensões. nua mobilização fictícia da força de trabalho em acelerada crise na
Podemos entender que a nova migração maciça, desde o final do terceira revolução industrial.
século XX, é consequência de uma nova crise sócio-econômica da Face à reflexão sobre fundamentos da formação social,
terceira revolução industrial que possui diretamente um amplo ca- como também a longa imposição e a crise do processo de moder-
ráter global. Microeletrônica, tecnologia de informação e globali- nização, precisamos apontar as co.ntribuições e as armadilhas dos
zação do capital produzem, além de todas as tradicionais barreiras estudos da demografia a respeito da migração.
nacionais e culturais, uma sociedade mundial imediata, mas não Não podemos ignorar que as informações empíricas sobre a
positivamente como se fosse uma conquista, e sim negativamente questão migratória devem muito aos estudos demográficos. Regis-
como processo de dessubstancialização econômico. Na "crise do trando, mensurando, quantificando e matematizando, a demogra-
trabalho" cada vez mais pessoas se tornam "obsoletas", continu- fia aponta para sua riqueza, mas, ao mesmo tempo, para os seus
am desesperadamente a oferecer sua força de trabalho, mas não limites. Logo, como fazer dos fenômenos registrados, agrupados e
conseguem mais vendê-Ia. lassificados um conhecimento qualitativo?
Muitas grandes fábricas e, mais ainda, inúmeras pequenas Como fazer as mediações entre categorias universais oriun-
empresas caem abaixo do nível de produtividade determinado pelo dos da crítica da economia política e os fenômenos visíveis e men-
mercado mundial, tornam-se não-rentáveis e, por isso, mais cedo vuróveis dos processos migratórios? Volume, fluxos e refluxos (re-
ou mais tarde, vão à falência. Em lugar de um sistema que cobre presentados em linhas), aglomerações (representados em pontos),
o planeta todo com trabalho abstrato e valorização, vai surgindo ntcpcs, tipologias, padrões, transições precisam ser relacionados
um capitalismo onde a reprodução se reduz cada vez mais a deter- ('()11l os processos históricos concretos. O mesmo vale para a descri-

20 I Sidney Antonio da Silva (organizador) Migrantes em contextos urbanos: uma abordagem interdisciplinar I 21
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ção de etapas, migrações repetidas ou de retorno, retenção seleti- já que a sua obra voltou às prateleiras das boas livrarias neste mo-

va de migrantes, direitos de ir e vir e de não ir e vir. mento da crise do capitalismo do cassino.

O conhecimento empírico carece necessariamente da refle- Sabe-se que Marx nos deixou pouco sobre o conceito de feti-

xão teórica sobre o núcleo estrutural da sociedade, sobre a econo- che. No início da sua obra principal, "O Capital. Crítica da Economia

mia da valorização e a aplicação de recursos sociais determinada Políticc'", encontramos algumas referências. Em outras partes da
por ele. sua obra localizamos poucas observações sobre o fetiche, como en-

Isto implica também uma reflexão crítica sobre a for- contramos também poucos comentários sobre o seu método aplica-

mação do sujeito da sociedade moderna, não só para contex- do em sua obra. O fato que Marx deixou a respeito um torso não con-
tualizar o migrante com suas motivações e necessidades, mas cluído de textos sobre a produção de teoria, nos serve de desafio:
também para compreender o seu pesquisador com suas aborda- . Se nós queremos refletir sobre o estudo das migrações através da
gens demográficas e "culturalistas" e suas propostas políticas. formação do sujeito da sociedade moderna e da constituição social
fetichista, precisamos pensar "com Marx para além de Marx".
o processo de modernização, a constituição social Em seminário do grupo EXIT5, realizado em 2008, Robert Kurz

fetichista e a formação do sujeito da sociedade mo- se utilizou de três citações conhecidas de Marx para fundamentar
derna a sua refüexõo sobre a crítica do valor-dissociação. Kurz destaca o

Faz-se necessário refletir sobre a formação do sujeito da movimento do pensamento de Marx e adverte de não ler a obra de

sociedade moderna e a constituição social fetichista para entender Marx dogmaticamente como se fosse uma bíblia. A primeira delas
os motivos do sujeito-migrante e a relação entre a realidade e a é uma citação dos Grundrisse (o "Borrador", manuscritos de Marx
ciência. Assim procuraremos contextualizar o movimento dos mi- sobre os fundamentos da crítica à economia política) que devem a
grantes, o movimento das categorias e a sujeição do pesquisador e Roman Rosdolsky uma divulgação mais ampla. Rosdolsky que iden-
estudioso. Trataremos, portanto, num breve excurso, da razão feti- tifica um Marx "esotérico" e um "exotérico" ajudou entender Marx
chizada e da necessidade da crítica categorial. no seu processo de produção da obra, do Borrador ao "O Capital",
O fetichismo não é só objeto de reflexões sobre religiosida- ou da primeira edição de 1867 para a segunda edição em 1873. Des-
de, consumo e sexualidade, mas, neste caso, recurso para entender de a década de 1960 e 1970 podemos acompanhar uma nova leitura
a sociedade moderna, a sociedade do sistema produtor de merca- de Marx, que reflete também a própria história e o processo da obra
dorias. No centro da nossa reflexão está o conceito da constituição de Marx.
fetichista, da constituição social. Nos estudos das ciências sociais, Seguem as três citações para desenvolver o nosso raciocínio:

e também em diversos estudos que fundamentam análises dos pro-


cessos migratórios, encontramos frequentemente a pergunta: Como
a sociedade é constituída, e como é a sua reprodução?
Recorremos à análise de Karl Marx, muito tempo tratado
como autor do passado, que, porém, hoje se tornou de novo citável, ~ MARX, K. O Capital: crítica da economia política, São Paulo: DIFEL, 1985. Livro I. V. I e 11.
li NUa publicado, mas disponível na sua versão áudio no portal alemão de ródios livres: www.
Prolo-radios. net

221 Sldnoy Antonio da Silva (organizador)


Mlffrontcs em contextos urbanos: uma abordagem interdisciplinar 1 23

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.- - ~ '"' --o - _-"" =-~ljll I -í:
Do mesmo modo que em toda ciência vés da representação, a crítica da mesma.
histórica e social em geral é preciso ter (CARTADEMARXALASALLE,22/02/1858)10
sempre em conta, a propósito do curso
das categorias econômicas, que o su-
Estas três citações servem para caminhar em busca do en-
jeito, nesse caso, a sociedade burguesa
tendimento do conceito do fetichismo na sociedade moderna da
moderna, está dado tanto na realidade
efetiva como no cérebro; que as catego- economia do mercado e, consequentemente, para situar tanto as
rias exprimem, portanto, formas de modo motivações dos migrantes, suas ações sociais e culturais quanto os
de ser, determinações de existência, fre- procedimentos dos pesquisadores de migrações dentro do invólucro
quentemente aspectos isolados dessa so- da nossa constituição social.
ciedade determinada [ ... ]6 (GRUNDRISSE,
Em primeiro lugar, nota-se que Marx fala da própria socie-
1857/58, p. 26)7
dade como sujeito, sujeito automático, isto significa antes de tudo,
Tais formas constituem pois as catego- que a sociedade moderna é vista na sua totalidade histórica como
rias da economia burguesa. São formas peculiar!' e não como uma sociedade de seres humanos trnns-his-
de pensamento socialmente válidas e, tóricos. Assim, tratando de relações sociais modernas, não falamos
portanto, objetivas para as relações de
apenas de relações entre seres humanos ou grupos humanos. Marx
produção desse modo social de produção,
chama atenção a uma duplicidade: trata-se de uma constituição
historicamente determinado, a produção
de mercadorias L..P (CARTAALASALLE do objetiva-subjetiva, isto é, a sociedade é objeto e sujeito. O feti-
dia 22/02/1858)9 che não é apenas entendido como encobrimento das relações reais.
Assim a aparência deixa de ser uma mera aparência, mas torna-se
o estudo de que se trata aqui é "Crítica uma aparência real, executada pelos homens e determinada pelas
das categorias econômicas" ou, if you
relações sociais. Marx fala também da "personificação das cate-
like, o sistema da economia burguesa
representado criticamente. É, ao mesmo gorias" e usa como conceito analítico as "máscaras de caráter". O
tempo, representação do sistema e, ctru- fetiche não é apenas uma objetivação e encobrimento das relações
sociais. O paradoxo real da constituição objetiva-subjetiva leva a
autonomização das categorias e seu movimento.
O fato de a forma sujeito ser resultado da constituição do
6 Wie überhaupt bei jeder historischen, sozialen Wissenschaft, ist bei dem Gang der okono-
mischen Kategorie immer festzuhalten, dnss, wie in der Wirklichkeit, so im Kopf, das Sub- fetiche, conduz à exigência de uma crítica à forma sujeito e ao su-
jekt, hier die moderne bürgerliche Gesellschaft, gegeben ist, und dass die Kategorien daher
jeito enquanto personificação. O cientista, estudioso das migra-
Daseinsformen, Existenzbestimmungen, oft nur einzelne Seiten dieser bestimmten Gesell-
schaft, dieses Subjekts ausdrücken [ ... ]
7 MARX,Karl. Grundrisse der Kritk der politischen okonomie, (originalmente 1857/58). Frank-
furt: Europiiische Verlasanstalt, [s.d.] p. 26. 10 Die Arbeit, um die es sich zuniichst handelt, ist 'Kritik der õkonomischen Kategorien'
8 Dcrartige Formen bilden eben die Kategorien der bürgerlichen Õkonomie. Es sind gesell- oder, if you like, das System der bürgerlichen Õkonornie kritisch dargestellt. Es ist zugleich
schaftlich gültige, also objektive Gedankenformen für die Produktionsverhiiltnisse dieser Darstellung des Systems und durch die Darstellung Kritik desselben.
hlstorlsch bestimmten gesellschaftlichen Produktionsweise, der Warenproduktion. li Podemos lembrar jocosamente que o termo possui a raiz pecu-, e se desenvolveu no seu
9 MARX,Karl. Das Kapital. Kritik der politischen õkonomie (originalmente 1867). Berlin: Dietz
processo etimológico do "rebanho" para o "dinheiro", equivalente geral do sistema produ-
Vedog, ) 972. p. 90. tor de mercadorias

2" I '1Idn~y IInlonlo da Silva (organizador) Migrantes em contextos urbanos: uma abordagem interdisciplinar I 25

~
rica aponta para as determinações categoriais. Por meio de media-
ções, não trata de, algo externo, não trata de construções cientí-
ções concretas, chegamos a um entendimento de diversos fenômenos
ficas objetivas. Nas formas de modo de ser e pensar, nas determi-
empíricos das migrações: chauvinismo, sexismo, precarização, etc.
nações da existência está presente, a priori, uma matriz para dirigir
Todos estes fenômenos e todas as categorias isoladas formam uma
o comportamento do migrante no seu cotidiano e para orientar a
unidade e as categorias têm a sua origem numa matriz apriori. Essa
reflexão do cientista.
matriz determina a mente e a razão, uma razão que não existe trens-
Por isso, não há para o estudioso das migrações um objeto
historicamente. Não há nenhuma razão ontológica. Para o mundo
externo, não existe um objeto sem precondições, porque as rela-
moderno, existe uma lógica elaborada pelo iluminismo, e toda filo-
ções sociais e os conceitos estão ligados. Migrante e pesquisador
sofia do esclarecimento faz parte de um percurso de construção ra-
estão sujeitados à razão do cotidiano. Para ambos existem como
cional no processo de modernização. No combate à metafísica his-
matriz a priori trabalho, dinheiro, direito, estado etc. É por isso que
tórica e religiosa, tudo foi colocado perante o tribunal da razão e,
a ciência, em seu sentido tradicional, não serve. A carta a Lassalle
ao mesmo tempo, tudo foi subordinado às categorias fetichizadas
(terceira citação) aponta para a necessidade da crítica, que assim
das formas de existência e suas determinações. Desta forma tam-
difere da habitual atividade científica. A reflexão sobre as percep-
bém, todos os processos de vida e todas as motivações dos migran-
ções do mundo do migrante deve sempre levar em consideração que
tes são subordinados à razão iluminista. Apenas registrar, mensurar
o cotidiano e as pesquisas sobre o cotidiano já são filtrados pela
e classificar processos e motivos é reconhecer a matriz apriori como
matriz historicamente produzida.
razão. Conhecer exige uma crítica, inclusive uma crítica categoria I.
Quando Marx fala de formas de modo de ser, devemos en-
Se tudo é história, isso vale também para a razão. Um dos grandes
tender a forma e o conteúdo sempre relacionados. Formas são con-
problemas das análises tradicionais de questões migratórias está
teúdo e tem conteúdo no processo vital real. Mas as formas consti-
na fragmentação de duas lógicas de ação. De um lado, temos a ló-
tuídas se representam sempre através da matriz. A coerção objetiva
gica da produção do trcbclho abstrato e, de outro lado, encontra-
da constituição dificulta e impede o entendimento. É o "fazer atrás
mos a lógica da circulação, das relações de troca, onde situamos
das costas", é fazer sem saber o que se faz. As reflexões sobre as
crelcçõo mercadoria - dinheiro. As análises das ciências sociais
barreiras à migração, os direitos humanos dos migrantes e o tráfico
sucumbem fortemente ao relacionismo, isto é, saem da reflexão da
de mulheres ficam presas às formas objetivas do pensamento e às
lógica da produção, indo para a lógica da circulação. O que ganha
"formas de existência", impossibilitando assim a crítica. O conte-
ênfuse é simplesmente a relação funcional. O conceito da substân-
údo torna-se ideologia e a afirmação do conteúdo ideológico da
cia é substituído pelo conceito da função. Na mente do migrante e
sociedade impede a crítica à forma objetiva do pensar.
do pesquisador neoclássico ou pós-moderno tudo é percebido em
Aqui também deve ser lembrado o percurso e o permanente
relações e funções: uma quantidade x de mercadoria corresponde
movimento histórico da sociedade. Aconstatação da história interna
O uma quantidadey de dinheiro. Quem age assim no invólucro da
e do processo concreto do sistema produtor de mercadorias leva ao
rczêo fetichizada ignora ou nega o conceito de substância e acha
reconhecimento do movimento das categorias. No processo concreto
ue deve criticar o assim chamado "essencialismo".
da realidade, na crítica da ideologia e das configurações da sua his-
tória, as categorias não são congeladas, e a análise concreta histó-

61 ,'ililllt'Y do ~lIvo (orgonlrcdor)


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Mi(lrontcs em contextos urbanos: uma abordagem interdisciplinar I 27
t:
r.
Um outro grande problema é a resistência de categorias eo capitalista e a sociedade moderna, sob o lema da "igualdade, li-
fato que a crítica sempre se movimentou dentro das categorias da berdade e fraternidade", não significavam apenas a libertação
matriz. Como exemplo podemos lembrar uma longa história que co- para o trabalho, mas indicavam uma nova forma de subordinação
locou uma categoria contra uma outra, o mercado contra o estado social. Num secular processo da imposição da sociedade moderna,
como determinações polares. Os críticos da sociedade capitalista os homens, assenhorados de seus corpos, foram obrigados, fre-
costumavam elevar a importância da instituição do estado. E, mes- quentemente com violência, a vender sua capacidade ou força de
mo agora, num momento de crise, a elaboração das contradições é trabalho.
prejudicada pela vontade sempre reafirmada da primazia da polí- O livro "Mobilidade do trabalho e acumulação do capital"
tica sobre a economia. Isto vale desde o movimento operário tradi- está dividido em duas partes: a primeira parte é dedicada a apre-
cional até o socialismo real, sempre defendendo o trabalho abstra- sentação e discussão de textos da economia neo-clássica tratan-
to através do direito ou até os movimentos sociais contemporâneos do do conceito de mobilidade do trabalho, baseado numa ideia de
que lutam por justa relação social no mercado, pelo direito livre de "mobilidade perfeita"; e a segunda é dedicada à análise da mobi-
ir e vir e pela democratização das relações de rrobclho para os mi- lidade do trabalho no processo de acumulação capitalista, na qual
grantes. Gaudemar elabora o conceito de mobilidade do trabalho em sua
Volto a lembrar a necessidade de pensar os movimen- acepção marxista para criticar a "Economia política" neo-clássica.
tos dos migrantes, o movimento das categorias e a sujeição do Gaudemar constrói as bases para a discussão de um concei-
pesquisador no contexto do fetiche. A matriz existe, nós esta- to crítico de mobilidade do trabalho como conceito que correspon-
mos dentro do invólucro e também pensamos no interior da razão de às formas de existência da força de trabalho como mercadoria,
moderna. É a nossa sorte, uma vez que as categorias não estão constituindo o único modo de compreender globalmente aquilo que
congeladas, mas em processo e em movimento, o que facilita a permite, na multiplicidade de seus modos, a submissão do traba-
reflexão crítica radical com uma análise concreta histórica. A ex- lho ao capital. Na sua discussão, o autor ressalta, como elemento
tinção das categorias, a intervenção sempre negativa e a possi- fundamental da caracterização da mercadoria, sua presença no
bilidade de rebentar as determinações de existência são elemen- mercado.
tos de um processo lento e contínuo de emancipação e de uma Em primeiro lug-ar, o trabalhador deve ser uma pessoa livre e
luta de saída lenta do invólucro categorial da razão fetichizada. poder dispor à vontade da sua força de trabalho como mercadoria
que lhe pertence; em segundo lugar, deve encontrar-se livre tam-
Voltando à mobilização para o trabalho abstrato bém de qualquer outra possibilidade de reproduzir sua existência
Como já em vários momentos anteriores, continuo lembrar e e de qualquer outra mercudoriu que possa vender, portanto, não
recomendar a leitura crítica de um livro escrito na década de 1970 tendo outra hipótese que não seja vender sua força de trabalho.
"Mobilidade do Trabalho e Acumulação do Capital" de Jean Paul de Esse caráter, ao mesmo tempo positivo e negativo, da liberdade do
Gcudemor", no qual o autor demonstra que o modo de produção trabalhador submetido ao capital, encerra a "liberdade de traba-
lho": o trabalhador dispõe livremente de sua força de trabalho, mas
12 GAUDEMAR, Jean Paul de. Mobilidade do trabalho e acumulação do capital. Lisboa: Estam- m absoluta necessidade de a vender. Dessa liberdade de compra e
pa, 1977. Primeira edição em francês.

281 Sidney Antonio da Silva (organizador) MIBronlCS em contextos urbanos: urna abordagem interdisciplinar I 29
i'f'
ii
venda da força de trabalho define-se o caráter capitalista da mo- versas tentativas de manter as pessoas como sujeitos do trabalho
bilidade do trabalho. Podemos falar da mobilidade forçada. abstrato. Afinal, é isso que a razão fetichizada exige.
A dupla liberdade conduz ao caráter móvel da força de traba-
lho que pode escolher seu trabalho e o local onde exercê-Io, mas está "uais são os desafios?
submetido sempre às exigências do mercado e da concorrência assim Dos pesquisadores acadêmicos e dos movimentos migrató-
como a qualquer momento um trabalhador pode ser despedido ou as rios esperamos um aprofundamento dos conhecimentos empíricos,
condições em que esse exerce seu trabalho podem ser modificados. mas aguardamos a substituição da ciência positiva pela crítica. Não
Ser móvel significa, portanto, estar apto para os deslocamentos e convém se limitar aos registros sofisticados das migrações conten-
modificações no emprego, na realização de trabalho abstrato, como tando-se com uma crítica interna dentro do invólucro econômico,
também ser indiferente ao conteúdo do trabalho, tanto quanto o ca- social e cultural da forma mercadoria. Fugindo da armadilha de
pital o é, desde que tenha êxito no processo de valorização do valor. naturalização do histórico e do social, o pesquisador deve produ-
7ir conhecimento sem ontologizar e descrever criticamente, sempre
Desafios e perspectivas lembrando que também a forma mercadoria exige um permanente
Para atender ao título do seminário "desafios e perspecti- I'carranjo da organização da produção que sujeita os trabalhadores
vas", algumas palavras finais: li uma constante mobilização forçada. O pesquisador das migra-
O ponto de partida da minha reflexão é a nossa existência s não deve se limitar à aparência da ação voluntária, na qual o
histórica no sistema global produtor de mercadorias, um sistema de mlgrunte busca satisfazer o seu interesse individual. É a reprodução
secular imposição da valorização do valor como fim em si mesmo. do capital, como relação social contraditória que produz as neces-
É um sistema que se reproduz permanentemente num processo de Idades e mobiliza a força de trabalho a cada momento.
transfiguração, produz sujeitos e necessidades e conduz o pensa- Dos envolvidos nas ptividades do estado e nas políticas mi-
mento. A reflexão crítica exige uma crítica radical ao valor e à cisão 111\ 6rios e sociais, esperamos uma reflexão autocrítica sobre o seu
das esferas fragmentadas, à autonomização. I'lIp,'1 na reprodução permanente do processo de valorização do
A crise, na sua configuração contemporânea, aponta para vulor, produtos da liberdade negativa da mobilização, desistindo
a barreira interna do sistema. O obrigctório aumento da produti- tlll 11\l~ão de poder simplesmente evitar atuações piores de outros
vidade e o avanço da tecnologia (automação, robotização), sob a UlllllO', políticos.
batuta da lei da concorrência, provocam uma ampliação do "tra- Dos movimentos sociais envolvidos com migrantes, espe-
balho morto" e a expulsão crescente do "trabalho vivo". Êxodo rural 1111110', O reconhecimento que os velhos paradigmas de esquerda de
e exército industrial de reserva fazem parte do aparato conceitual II'IIIIII\() C revolução, no entendimento tradicional, tornaram-se
do passado do sistema. Hoje podemos observar os deslocamentos I IItil\( (lh.
maciços de migrantes potencialmente desmobilizados, ou melhor, Dut]lIçles que lutam por direitos humanos, esperamos uma
mobilizados ficcionalmente numa sociedade da crise do trabalho. I~11t,.no t'l'fLlco sobre a sua bandeira inerente ao processo de mo-
Todavia, também nesta crise terminal, a migração é uma das di- illlllll/lll;Oo Iluminista que não alcançará nunca uma emancipação
111 1111

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Mh!tllIll~- ~1I11'I1I11~x\(Hllllhol1o~: urna abordagem interdisciplinar 131

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(Juais são as perspectivas? social, também parcelas não-migrantes da população "obsoleta".
Cabe aos pesquisadores das migrações uma postura de crí- No mundo inteiro, desaba a condição material e econômica de um
tica social radical, isto é, uma crítica aos fundamentos da nossa reconhecimento formal, isto é, a capacidade do capital para uma
constituição social, e uma autocrítica que aponta à sua própria nova absorção do trabalho em grande escala. A luta por reconhe-
condição de sujeitos fetichizados e sujeitados à "ditadura" coer- cimento só se pode pensar provisoriamente, como por exemplo, o
citiva da economia do mercado. A produção de conhecimento sobre direito de permanência dos hispano-americanos "ilegais" no Bra-
migrações deve levar a sério a crítica da forma mercadoria. sil, migrantes "não-documentados". Mas essa luta é apenas possí-
Também para a consciência de movimentos sociais das vel como uma reivindicação transitória no contexto de uma crítica
migrantes e dos migrantes, só haverá uma perspectiva de futuro fundamental e nova do sistema. O movimento social das migran-
quando eles reconhecerem a relação causal entre migração e bar- tes e dos migrantes, no sentido de uma conscientização, só pode
bárie nos limites históricos do moderno sistema produtor de mer- ser entendida como parte integrante do movimento social amplo e
cadorias. transnacional que está disposto a eliminar o sistema produtor de
O migrante, como "problema", torna-se crescentemente mercadorias do capitalismo moderno.
objeto de políticas restritivas e, ao mesmo tempo, objeto de ati- É possível perder raízes, mas ganhar asas da emancipação
tudes assistencialistas e humanitárias ou está até convocado para numa sociedade, na qual todas as relações se tornam relações mo-
fazer parte dos movimentos sociais das "multitudes", novos sujei- netárias; numa sociedade, que degrada, com a sua "mão invisível"
tos revolucionários da grande transformação social. A migração do mercado e o "braço visível" do estado, as relações entre as pes-
dos ficticiamente mobilizados não pode tornar-se um movimento soes e degrada progressivamente a natureza? Não acho que o rni-
de emancipação no fundamento do trabalho abstrato de produção /{rante, membro de uma assim chamada "multitude", seja automa-
de mercadorias, porque ela mesma já é consequência de uma crise e tlccrnente um sujeito da transformação e emancipação social. Po-
desubstancialização do trabalho. De outro lado, o número cada vez 1'6111, não deixo de ter a esperança de que o desenraizamento social
maior de "refugiados" já é uma expressão de que o sistema mundial possa ser um potencial da construção das asas de uma consciência
de trabalho abstrato de produção de mercadorias está desabando nrtica, ultrapassando a vontade de uma inserção num mundo da
e não pode mais ser politicamente regulado .. hnrbdrie, buscando meramente vantagens individuais na máquina
A luta necessária contra a discriminação, precarização e Ill'gativa das leis da concorrência e da competição.
miserabilização não pode ser estabilizada no sentido do mero re- Ainda, não deixo de ter a fé que existe uma vida depois ....
conhecimento enquanto sujeitos da produção de mercadorias. do mercado e do estado, depois da inserção negativa do migrante
Se as migrantes e os migrantes não querem outra coisa a não ser 1111 Inundo monetarizado e das' políticas da administração da crise,
a sua sujeição à valorização do capital, há algo a ser criticado. O IIr'pois da coerção impessoal que faz dos migrantes máquinas de
movimento das migrantes e dos migrantes não pode ser um novo I umbustõo da energia abstrata do trabalho. O caminho da crítica
movimento operário que não deseja outra coisa do que o reconhe- 11111\ o 00 moderno sistema produtor de mercadorias, quanto às for-
cimento de seus interesses na ordem existente. Por outro lado, po- 11111', de existência dos migrantes, passa pela leitura e o estudo da
demos observar que estão caindo fora de qualquer reconhecimento Idllll do Marx, para poder pensar além dele.

321 Sldney IIntonlo do Silvo (oI'BonIJ.odor) MIIIIIIIII"_ MIIII'nllll,xllJlll1lbl1l1l1~: obordogcm


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