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A maior parte das informações biográficas sobre Jacó Armínio foi tirada de Arminius: a study in the Dutch reformation,
de Carl Bangs (Grand Rapids, Zondervan, 1985).
2
2
Charles M. CAMERON, Arminius: hero or heretic?, Evangelical Quarterly 64, 3: 213, 1992.
3
Richard A. MULLER, God, creation and providence in the thought of Jacob Arminius, Grand Rapids, Baker, 1991, p. 269.
4
Ibid., p. 3.
5
Ibid., p. ix.
3
6
Ibid., p. 31.
7
Ibid., p. 32.
8
Robert SCHNUCKER, Theodore Beza, in: The new international dictionary of the Christian church, J. D. Douglas, org.,
Grand Rapids, Zondervan, 1974, p. 126.
4
9
Justo GONZÁLEZ, A history of Christian thought, ed. rev., Nashville, Abingdon, 1987, p. 270-8. V. 3: From the
protestant reformation to the twentieth century.
5
10
BANGS, op. cit., p. 96.
9
16
Ibid., p. 331.
17
W. HARRISON, Arminianism, Londres, Duckworth, 1937, p. 84.
12
18
Ibid., p. 81-2.
19
Todas as citações dos tratados de Armínio foram extraídas de The Works of James Arminius, edição de Londres, trad.
James Nichols e William Nichols (Grand Rapids, Baker, 1986)
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própria salvação é dar lugar à jactância, porque subentende que a pessoa que
livremente toma a decisão de aceitar a graça para a salvação a está, de certa
forma, conquistando por merecimento. Segundo a crença calvinista
tradicional, isso também despojaria Deus de sua soberania e tornaria a decisão
divina, a respeito de quem deve ser salvo, dependente das decisões e ações
das criaturas. Armínio rejeitava totalmente essa linha de raciocínio e
interpretava a passagem bíblica crucial de Romanos 9 de modo diferente dos
calvinistas.
Armínio não rejeitava a predestinação. Na realidade, afirmou a crença na
predestinação. Rejeitava, isto sim, o supralapsarismo, que considerava
doutrina muito perniciosa. Resumiu a versão supralapsária do calvinismo
apresentada por Gomaro da seguinte forma:
Deus, por decreto eterno e imutável, predestinou, dentre os homens (que
nem sequer considerava criados e muitos menos caídos), certos indivíduos à
vida eterna e outros à destruição eterna, sem levar em conta a justiça ou o
pecado, a obediência ou a desobediência, mas unicamente seu próprio
aprazimento, para demonstrar a glória de sua justiça e misericórdia ou,
como outros afirmam, para demonstrar sua graça salvífica, sua sabedoria e
seu poder livre e inexorável.24
24
Ibid., p. 614.
25
Ibid., p. 630.
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fato pecado porque tudo o que ele cria é bom. Armínio era um realista
metafísico.
Quando passou a examinar o infralapsarismo, Armínio não foi mais
generoso. Embora não coloque o decreto divino da eleição e da reprovação
antes da criação e da queda, o infralapsarismo não deixa de considerar
necessária a queda da humanidade e Deus seu autor.26 Em última análise,
segundo Armínio, qualquer doutrina monergista da salvação torna Deus o
autor do pecado e, portanto, hipócrita, “porque imputa hipocrisia a Deus ao
supor que, em sua exortação às pessoas, exige que creiam em Cristo, mas não
o apresenta como seu Salvador”.27 Armínio apelou a João 3.16 e argumentou
em seus escritos que a universalidade da vontade de Deus de salvar deve ser
levada a serio e que a predestinação deve ser entendida de forma compatível
com o amo e bondade de Deus e com o livre-arbítrio humano.
26
Ibid., p. 650-1.
27
Ibid., p. 313.
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IV. Depois desses, segue-se o quarto decreto pelo qual Deus decretou a
salvação ou a perdição das pessoas. Esse decreto se fundamenta na
presciência de Deus, pela qual desde a eternidade ele sempre soube
quais os indivíduos que, pela graça [preveniente], creriam e, pela
graça subsequente, perseverariam.28
Para Armínio, portanto, a predestinação era, antes, de Jesus Cristo e não
de indivíduos sem ele.
É importante lembrar que Armínio insistia que toda a questão da
predestinação estava relacionada à condição caída dos seres humanos carentes
de redenção. Para Armínio, o decreto divino de permitir a queda, em outras
palavras, não dizia respeito à salvação. Os decretos de Deus a respeito da
salvação vêm depois (são logicamente posteriores) da permissão divina da
queda de Adão e Eva. Como Armínio concebia a queda? Deixou isso claro em
seu tratado Certos artigos a ser diligentemente examinados e ponderados: “Adão
não caiu por decreto de Deus, nem por estar destinado a cair, nem por ter sido
desertado por Deus, mas por mera permissão de Deus, que não está
subordinada a nenhuma predestinação, nem à salvação ou à morte, mas que
pertence à providencia, que é distinta e oposta à predestinação.”29 Em outras
palavras, a providência divina compreende certo decretos e a predestinação
divina, outros. As duas não devem ser confundidas. Na providência, Deus
decretou que permitiria a queda de Adão e de Eva e de toda a raça humana
junto com eles. No Exame do panfleto do dr. Perkins, Armínio disse claramente
que Deus não poderia evitar a queda depois de criar seres humanos e dar-lhes
o dom do livre-arbítrio. Armínio acreditava na autolimitação e restrição de
Deus e também na liberdade humana genuína no relacionamento abrangente
estabelecido pela aliança.30 Portanto, os decretos de Deus quanto à
predestinação dizem respeito aos seres humanos apenas como pecadores
depois da queda e, de modo algum, à própria queda. Deus sabia previamente
que os seres humanos cairiam, mas não decretou nem predestinou, de
nenhuma forma, tal coisa.
Depois que os seres humanos caíram, argumentava Armínio, o primeiro
decreto de Deus em relação a eles foi providenciar para que Jesus Cristo fosse
seu Salvador. Então, depois disso, decretou que salvaria, por meio de Cristo,
todos aqueles que se arrependessem e cressem e que deixaria à sua merecida
28
Ibid., p. 653-4.
29
Certain articles to be diligently examined and weighed, 2.716.
30
Examination of Dr. Perkins’s Pamphlet, in: Works of James Arminius, 3.284. Muller, com toda a razão, atribui muito
valor à crença de Armínio na autolimitação divina da aliança como uma diferença básica entre ele e os teólogos
reformados de sua época. Veja God, creation and providence, de Muller (p. 235-45).
18
31
Skevington WOOD, The declaration of sentiments: the theological testament of Arminius, Evangelical Quarterly 65,
2:219, 1993.
32
A declaration of sentiments, 1.279.
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O legado do arminianismo
Uma questão ainda debatida pelos estudiosos de Armínio é se a sua
teologia era uma alternativa à teologia reformada ou uma adaptação dela.
Richard Muller sustenta que era uma alternativa e, como prova, indica a forte
ênfase de Armínio à autolimitação de Deus. Os teólogos reformados
posteriores a Calvino reconheciam a condescendência de Deus na revelação,
mas negavam unanimemente qualquer autolimitação de Deus na providência
ou predestinação.35 Carl Bangs sustenta a opinião de que a teologia de
Armínio representa uma adaptação e desenvolvimento da teologia
reformada.36 Embora o próprio Armínio quase certamente entendesse dessa
forma sua teologia, Muller está mais próximo da verdade. A teologia de
Armínio é totalmente protestante, mas não reformada. O teólogo holandês se
propôs reformar a teologia reformada, mas acabou criando um paradigma
protestante totalmente diferente. Os anabatistas argumentariam, com razão,
que se tratava de um paradigma que Baltasar Hubmaier e outros pensadores
anabatistas começaram a desenvolver quase um século antes. Ele poderia ser
chamado de “sinergismo evangélico”.
35
V. God, creation and providence, de Muller (p. 281).
36
BANGS, op., p. 348-9.
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