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TRABALHO ESCRITO 2

Psicopedagogia

Docente: Prof. Francisco Cardoso


Aluno: André Gomes nª 20161514

Janeiro, 2020
Trabalho escrito 2

Através da minha experiência como professor das duas aulas anteriores com este
estudante tive de adaptar um pouco a estrutura desta aula, comparando com aquela que
é normalmente empregue em que inicia com exercícios técnicos e depois com as peças a
tocar. Portanto, decidi iniciar com as duas peças que fazem parte do programa “O Leão”
e o “Texugo”, a introdução da escala de dó maior ascendente e descendente (sem ser
necessariamente a escala de dó maior completa que implica o cruzamento com o
polegar) e algum senso de improvisação, assim como permitir alguma exploração do
instrumento por parte do aluno. À medida do desenrolar da aula também decidi por
vezes oferecer suporte harmónico no sentido de aumentar o interesse do aluno naquilo
que estava a tocar.

A estrutura da aula também irá mudar no futuro, principalmente na parte


concernente aos exercícios, com a introdução da escala em dó maior completa e depois
com a apresentação de novas escalas com um e dois sustenidos, como acontece na
escala maior em sol e em ré. Provavelmente será possível, do mesmo modo, a
introdução de tríades tocadas de forma ascendente e descendente.

A parte das escalas avalio-me em 3 dado que não foi algo que persisti muito
nesta aula. Devido à experiência anterior tida com o aluno, decidi aliar o conhecimento
da escala à peça, e arranjar uma forma natural e espontânea deste assunto emergir. Isto
também esteve relacionado anteriormente com a perda de foco do aluno em tocar
exclusivamente a escala. Assim, a escala em vez de servir de exercício de aquecimento
serviu, por outro lado, como ponte entre uma peça e outra. Assim, a escala em dó maior
aparece como elemento de “descanso” ao trabalho que está a ser feito com as peças. No
entanto, penso que poderia ter aproveitado muito mais este aspecto e já ter desenvolvido
e a acrescentado mais exercícios técnicos.

A parte da improvisação avalio-me em 3 porque acho que, por um lado, poderia


despertar o interesse do aluno em procurar notas através do som. Penso que é
importante haver alguma parte da aula associada a um momento mais livre. No entanto,
penso que este momento poderia ter sido mais prolongado. Numa aula mais recente com
o aluno, o exercício direccionou-se para a imitação, em que eu tocava algumas células
melódicas de carácter simples, e depois o aluno imitava, isto sobre uma progressão
harmónica, algo que poderia já ter sido realizado nesta aula analisada. Comentários
como “porque é que soa bem?” mostra o entusiasmo do aluno pela música e a
capacidade de procurar notas através do som, ao invés da utilização da partitura. Ao
mesmo tempo também teria de dar ao aluno uma de noção da altura do som e de
afinação para que associasse as notas que estava a tocar a algo que imaginasse ou
cantasse. Seria também necessário um trabalho mais prolongado nesse sentido. Apesar
da sensação de espontaneidade há o objectivo claro de tornar a relação do aluno com o
piano e o som mais próxima desenvolvendo capacidades auditivas e a musicalmente
criativas.

O trabalho feito na primeira peça “O Leão” avalio como 4. A escolha desta peça,
além de fazer parte de um leque de peças requeridas a leccionar na escola, é ideal para
este aluno que se encontra numa fase inicial. O foco principal é conseguir tocar
melodias exclusivamente com a mão direita e ganhar alguma destreza com a mesma.
Mesmo que o objectivo principal da aula fosse tocar a melodia principal do princípio ao
fim, esta peça já lida com a capacidade de tocar em uníssono, alguma independência das
mãos, assim como a aptidão para tocar em terceiras e quintas (fortalecimento dos dedos
com a alternação entre o 3º e 5ª dedos com o 2º e 4º, e o 1º e 3º). Houve assim, desde já,
uma aproximação ao som disposto de uma forma harmónica com a disposição vertical
dos acordes. Neste caso aproveitei os níveis de concentração que o aluno depositava na
música e trabalhou-se nesse sentido. Ao analisar as gravações acho que deveria ter outra
atitude relativamente ao erro. No entanto, o aluno demonstrou bastante persistência na
execução de pequenas secções da peça e tornou-se possível repetir essas passagens
múltiplas vezes, de uma forma lenta e cuidada. Muitas vezes, o próprio aluno corrigia
rapidamente o erro não dando muito tempo para intervir logo. Por outro lado, nota-se
que o aluno responde rapidamente às correções e sabe quase sempre quando erra. As
poucas vezes que achei necessário exemplificar claramente como se tocava
determinados compassos, principalmente nos primeiros, quando se tratava de juntar a
mão esquerda e conseguir alcançar uma certa independência (algo que o aluno depois de
umas tentativas alcançou com algum sucesso). Penso que o ritmo da aula foi bastante
fluído, retirando alguns comentários do aluno que interrompiam o processo de
aprendizagem,1 tendo em conta a concentração necessária, principalmente com alguém
que tem de usar um grande nível de energia cognitiva para cumprir as tarefas, dada a
1
No entanto, isto mostra que o aluno necessitava de momentos de intervalo e descanso de determinada
actividade. Provavelmente deveria arranjar mecanismos que substituíssem as conversas que eram
iniciadas por ele com algo que envolvesse o processo de aprendizagem musical. Esses comentários
podem também ter surgido pela falta de acção e empenho da minha parte.
fase inicial em que se encontra. Durante esta peça, tal como o “Texugo” denota-se que
houve um trabalho constante e uma reposta rápida do aluno às indicações dadas.
Reparei igualmente ao ver as gravações que poderia ter exemplificado ao piano mais
vezes como se tocava. Por outro lado, observava que o aluno rapidamente respondia e
corrigia o erro.

Mesmo assim, foi impressionante a forma como o aluno conseguiu focar-se


numa passagem durante um largo período de tempo, tal como acontece a partir do
minuto 28 com as tentativas de tocar a melodia em uníssono. Outro ponto que notei foi
que deveria ter expressado muito mais contentamento ao minuto 33 quando finalmente
este consegue alcançar de forma clara o objectivo. Isto sucede-se mais uma vez ao
minuto 48 quando, de igual forma, consegue tocar a melodia principal toda do
“Texugo”.

Num segundo momento, decidi mostrar uma peça mais simples que a primeira,
visto que ao aproximar-se o fim da aula o cansaço torna-se evidente e a concentração
por consequência diminui. O facto também de esta música ser mais fácil em
comparação com a primeira poderia levar à subida dos níveis de motivação do aluno.
Pois, o objectivo estaria alicerçado em fomentar a percepção do aluno de que estaria a
progredir com maior facilidade e velocidade que a primeira. Nesta parte, enfrentam-se
dois novos desafios. O primeiro diz respeito à distinção das figuras rítmicas, neste caso
entre a mínima e semínima, cuja execução é realizada com sucesso, logo pouco tempo
após a minha exemplificação com as palmas e a voz. Mesmo com as hesitações que
ocorrem ao tocar a melodia compreende-se que o aluno sente claramente a pulsação que
é dada por mim e corrige à medida que avança na peça. O segundo desafio diz respeito à
junção da mão esquerda e direita, mas a mão esquerda ao contrário do outro exemplo
deverá manter uma pulsação regular, neste caso à semínima. Foi útil demonstrar como
tocar a peça exemplificando algumas passagens mais difíceis. Apesar de se encontrar
numa fase bastante inicial, a noção de ritmo e de independência das mãos foi alcançada
com algum sucesso, evidentemente de uma forma muito lenta, já perto do fim da aula.
Aos poucos o aluno torna-se proficiente em utilizar todos os dedos da mão direita e
lentamente insere a mão esquerda como acompanhamento.

Curiosamente, a meu ver, um dos melhores momentos na aula assinala-se


quando o aluno demonstra fadiga, aproximadamente ao minuto 34. De acordo com essa
reposta, tive rapidamente que mudar de postura e distribuir a tarefa, cuja execução da
mão esquerda era executada por ele, e a mão direita por mim. Um momento semelhante
sucede-se no minuto 39 que inicia a frustração e o cansaço por não estar a conseguir
juntar as duas mãos. Sugiro então que se mude de peça efectuando essa transição com a
espécie de uma folga do estudo intensivo da peça, ao solicitar que ele cantasse as notas
que estava a tocar. Apesar de não ser muito perceptível inicialmente, isso tornou-se
relevante logo de seguida, na medida em que quando tocava piano acompanhava muitas
vezes a melodia com a voz. Penso que cantar é um elemento indispensável, além da
prática do instrumento, para interiorizar e memorizar a música. 2 A demonstração do
nível de autoeficácia do aluno demonstra-se, desse modo, elevado e isso é visível com o
frequente feedback mostrado.

Perante outra perspectiva, ao longo de todo o período de aula foi essencial uma
atenção persistente à postura visto que quando imergia na execução da peça as costas
frequentemente curvavam. Aqui o aluno rapidamente corrigia a sua posição e
continuava a tarefa a realizar. Por outro lado, decidi não abordar questões de expressão
e dinâmica porque penso que seriam demasiados elementos a consolidar e seria mais um
objectivo a cumprir. Possivelmente, apesar de ser importante ter alguma noção da
diferença entre tocar forte e fraco, ou rápido e lento, estes não são necessariamente
aspectos muitos relevantes a abordar nesta fase inicial. Surge a mesma questão
relativamente ao uso do pedal, que foi um dos mecanismos do piano que despoletou o
interesse do aluno. Achei que deveria responder à dúvida do aluno e explicar apenas o
efeito produzido pelo pedal sem ensinar o seu uso prático como recurso expressivo. Em
adição a esta ideia, seria mais um elemento a coordenar em adição à prática da leitura e
execução do instrumento com a mão esquerda e direita. Por outro lado, além dos
números (digitação) apresentados na pauta pretendi progressivamente referenciar as
notas pelos nomes, pois será provavelmente proveitoso no futuro quando a digitação
não fizer parte da partitura, ou a peça tornar-se demasiado complexa envolvendo o
movimento da mão. Seria, portanto, demasiada informação e confundiria o aluno.
Reparei que algumas vezes errei na forma de marcar a minha presença e importância na
aula tendo sucedido alguns instantes de silêncio. Devo de futuro ser ainda mais activo
na forma de motivar e ajudar o aluno na execução dos exercícios e das peças.

2
No ensino do jazz a prática de cantar solos e melodias de canções antes e ao mesmo tempo que se toca é
altamente valorizada, uma vez que espera-se que no acto da improvisação as ideias expressas e
executadas se encontrem interiorizadas, ao contrário de uma execução mecanizada em que o
instrumentista não saiba antemão que som produzirá o instrumento.
Em relação à resposta do aluno penso que foi bastante positiva visto que este
mostra durante um período alargado da aula um forte interesse em alcançar o desafio
proposto. É dessa forma que aproveitei a resistência e a concentração, deste aluno em
particular, ao insistir na repetição lenta e intensiva de algumas passagens. Ao mesmo
tempo o objectivo final em mente será executar a peça do início ao fim, para efeitos de
performance.3 Notou-se, por outro lado, que houve um trabalho realizado em casa,
desde a última aula, em relação à primeira peça. Contudo, no fim da mesma deveria ter
exposto, de forma clara, os objectivos a atingir e que passagens e compassos específicos
o aluno deveria estudar. Com a recentes aulas de psicopedagogia vejo como a pouca
experiência como professor pode atrasar o progresso do aluno. A preocupação em
estruturar um plano de estudo deve ser essencial, e neste caso em específico, deveria ter
sintetizado aquilo que foi concretizado na aula, abordando os erros frequentemente
cometidos e como o aluno deveria ultrapassá-los, sem atribuir uma carga muito elevada
de trabalho. De qualquer forma, o aluno mostrou-se bastante interessado em continuar e
encontra-se motivado para continuar o estudo ao piano. A meu ver, a sua atenção e
persistência permite que seja possível construir um leque diverso de exercícios ao piano
(tocar melodias de memória e tocar por imitação) sem recorrer de forma intensiva à
partitura, como ocorreu nesta aula.

3
Haverá uma apresentação final dos alunos da escola e estes terão de tocar as peças aprendidas nas aulas.
No entanto, no caso dos alunos de instrumento, isso só acontecerá se o professor achar que o aluno está
preparado performar em público.

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