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Castelo, numa confeitaria, está contando a seu amigo Castro histórias impressionantes sobre a vida

dele. Em um momento, ele conta ao amigo que já foi professor de javanês. E conta a Casto,
impressionado, toda a sua história como professor de Javanês.

Castelo havia a pouco chegado no Rio de Janeiro e estava vivendo na miséria. Não sabia como e onde
ganhar dinheiro. Foi quando ele achou um anúncio de um homem procurando um professor de javanês
no jornal.

E ele logo pensou que não teria muitos concorrentes e foi até a Biblioteca Nacional, buscando aprender
sobre o idioma javanês.

Javanês é a língua falada na ilha Java, uma grande ilha em um arquipélago chamado Sonda, colônia
holandesa. Javanês é uma língua malaia e polinésia.

Castelo copiou as letras do alfabeto e sua pronunciação e saiu pelas ruas a fim de decorá-los.

Passou a noite repetindo o alfabeto e, de manhã, já o sabia. Achou que era a língua mais fácil do mundo
e saiu.

No caminho, ele encontrou com o encarregado da pensão, que ia cobrar-lhe a dívida. Para distraí-lo,
Castelo fala sobre o javanês e que vai tornar-se professor dessa língua. Funcionou. O homem não se
lembrou de cobrar a dívida.

Castelo voltou a procurar o anúncio e, depois de redigir a resposta, entrou em contato com o jornal para
dizer que era professor de javanês e estava interessado naquele anúncio.

Voltou à biblioteca e continuou estudando javanês, sem muito progresso.

Depois de dois dias, recebeu uma carta para falar com Manuel Feliciano Soares Albernaz, Barão de
Jacuecanga. Continuou estudando a língua javanesa e aprendeu o nome de alguns autores, perguntar e
responder e duas ou três regras de gramática.

Foi a pé a casa do sujeito. Era uma casa enorme e parecia deserta e mal-cuidada.

Entrou na casa, ficou observando-a e esperou pelo dono da casa. Demorou um pouco. Depois da espera,
ele apareceu e, cheio de respeito, Castelo o viu chegar. Teve vontade de ir embora.

Castelo se apresentou e conversou um pouco com o senhor Manuel. Falou onde nasceu (Canavieiras-
Bahia), onde estudou (em São Salvador) e contou que aprendeu javanês com seu pai, que era um
javanês. Tripulante de um navio mercante, ele viera à Bahia, estabeleceu-se como pescador nas
proximidades de Canavieiras, casou e prosperou.

Castro pergunta se o velho acreditou e perguntou sobre o físico de Castelo. Castelo respondeu que não
era muito diferente de um javanês e continuou a história.

O senhor o ouviu atentamente e ficou observando o físico de Castelo. Depois perguntou: “Então, está
disposto a me ensinar javanês?

Castelo respondeu que sim e o barão contou o porquê de querer aprender javanês já naquela idade. O
barão estava cumprindo um juramento de família. Acontece que o senhor era neto do Conselheiro
Albernaz, que acompanhou Dom Pedro I, quando abdicou. O conselheiro trouxe de Londres um livro
escrito em javanês, pelo qual ele tinha grande estimação. Fora um hindu quem o dera em
agradecimento a um serviço prestado pelo Conselheiro. Quando estava prestes a morrer, ele chamou o
filho e contou que o livro estava escrito em javanês e que ele evita desgraças e traz felicidade para quem
o tem e que, se ele quer que a raça deles seja sempre feliz, deve fazer com que o filho dele (o futuro
senhor Manuel Albernaz) o entenda.

O pai do velho não acreditou muito na história, mas guardou o livro. Quando estava quase morrendo, o
pai chamou Manuel e lhe contou o que lhe dissera seu pai. O senhor Albernaz se esqueceu do livro e
continuou com a vida. Só que, recentemente, ele estava passando por muito desgosto e tantas
desgraças estavam caindo sobre sua família que ele se lembrou do velho talismã da família. Por isso o
senhor chamou um professor de javanês: para que os seus últimos dias não se anunciem um desastre
para a posteridade. O senhor precisa entendê-lo para que isso aconteça. O velho mostrou a Castelo o
livro. Era velho e tinha umas páginas em inglês, das quais Castelo entendeu que era de um escritor
javanês de muito mérito.

Logo, Castelo começou a ensinar ao senhor a língua javanesa, porém o senhor aprendia e desaprendia e
demorou muito para ele aprender metade do alfabeto.

Castelo conheceu a filha e o genro do Senhor. Ao fim de dois meses, o senhor desistira de aprender e
pediu que Castelo o lesse, entendesse e traduzisse para ele o livro em partes. Assim ele não precisava
aprender e cumpriria o que foi lhe encarregado.

Castelo inventava histórias e o senhor nem desconfiava. Ficava muito animado. Começou a morar na
casa do senhor, aumentava o salário e enchia-o de presentes.

Depois de um tempo, o barão tentou convencê-lo de escrever (em javanês) uma carta para um visconde
javanês, para ele entrar na diplomacia. O visconde o mandou para a Secretaria dos Estrangeiros com
diversas recomendações. Foi um sucesso.

Todos na seção ficavam admirados com o homem que sabia javanês.

Foi falar com o ministro. Os dois conversaram sobre o javanês e como ele o tinha aprendido. O ministro
disse que não iria colocá-lo na diplomacia, mas iria para um consulado na Ásia ou Oceania, só que por
enquanto não havia vaga. Dali a um ano, Castelo iria para Bale, representar o Brasil no Congresso de
Linguística e o mandou ler e estudar.

Castelo nada sabia de javanês, mas mesmo assim iria para o evento. O barão morreu e o deixou uma
parte no testamento. O livro foi passado para o genro, que iria mostrá-lo ao filho e assim por diante.

Castelo se esforçou para aprender as línguas maleo-polinésicas, porém sem sucesso. Comprou livros,
assinou revistas, mas não conseguia. E sua fama crescia. Recebia cartas, foi oferecido a ele uma turma
de alunos, mas Castelo recusou. Escreveu um artigo sobre a literatura javanesa num jornal e ninguém
nunca duvidou de que ele sabia javanês.

Uma vez quase ficou perdido. A polícia prendeu um sujeito que falava uma língua esquisita. Chamaram
vários intérpretes, porém ninguém o entendia. Chamaram Castelo e ele demorou em ir, mas foi. O
marujo era javanês e já estava solto, graças à intervenção do cônsul holandês.

Chegou a época do Congresso e ele foi para a Europa.

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