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12/05/20
Textos
1- Resolução da CN sobre DEFESA
Considerações:
. Vivemos uma situação reacionária, com profundas mudanças autoritárias no regime
político. Um processo que deve ter vindo de antes, mas que se consolidou e ampliou
com o golpe parlamentar do Impeachment;
. O resultado final das eleições provoca um salto neste processo reacionário,
aprofundando a situação reacionária e as mudanças bonapartistas no regime político,
abrindo um período de maiores ataques e enfrentamentos;
. Este cenário nos obriga a tomar medidas especiais, muitas delas que já deveríamos ter
sido tomadas anteriormente;
. Não nos tornaremos uma organização clandestina, pois acreditamos que esta medida é
ainda desnecessária. Mas, vamos fortalecer em todos os aspectos o caráter conspirativo
que deve ser exigido a toda e qualquer organização que reivindica o marxismo
revolucionário, ainda mais em um grave momento em que passamos;
. O atraso na adoção destas medidas poderá colocar em risco a nossa organização.
Portanto, mudar a nossa postura militante em relação a nossa autodefesa passa a ser uma
prioridade absoluta.
• Medidas gerais:
1. Realizar uma discussão política e teórica sobre a importância da defesa da nossa
organização e de suas informações. Se apoiar no texto de Serge para iniciar esta
discussão. Produzir textos específicos para este debate. Alguns textos poderão ser
públicos, publicados em nosso portal, pois queremos realizar este debate também com
setores da vanguarda;
2. Mesmo levando em consideração a imensa capacidade de espionagem eletrônica
sobre os movimentos e a esquerda, disponíveis aos órgãos do Estado e de repressão, não
devemos facilitar para o inimigo, nos tornando alvos mais vulneráveis até para o
trabalho de grupos mais inexperientes da repressão e neofascistas. Neste sentido,
propomos como medidas imediatas:
- Compartimentalização das informações e tarefas. Nenhum camarada deve saber mais
do que o necessário; ninguém deve perguntar nada sobre tarefas que não lhe digam
respeito diretamente;
- Valorizar reuniões presenciais, acabando com debates internos desnecessários por
redes sociais e telefones. Não falar sobre atividades políticas, que exijam segredo, ao
telefone e redes sociais;
- Não permitir o uso de telefones durante as reuniões de organismos. Os telefones
devem ser recolhidos no início de cada reunião e colocados fora das salas das mesmas -
o mais longe possível do local que está acontecendo nossa reunião;
- De forma sistemática e regular, eliminar arquivos, fotos e toda e qualquer informação
de celulares e computadores. Fazer arquivos de Backup físicos;
Introdução:
1
https://www.youtube.com/watch?time_continue=1279&v=YvnMtCyHfTA –
Vídeo com o depoimento do Militar Willian Botelho assumindo a infiltração
do Exército em um movimento em SP.
Não custa lembrar, que em boa parte do período destes exemplos citados
acima, estava no governo federal um partido que se reivindica de esquerda,
sem que isso significasse nenhuma alteração qualitativa na atitude ativamente
contra revolucionária dos órgãos de repressão.
As três décadas de democracia burguesa não significaram o desmonte
substancial dos órgãos de repressão, que seguiram funcionando durante todo o
período, mais uma demonstração do caráter reacionário deste regime.
E, com certeza, a situação reacionária aberta com o golpe parlamentar, o
aprofundamento dela com o resultado das eleições presidenciais e as
mudanças de caráter bonapartista que vem ocorrendo no regime político
agravam todos os riscos representados pelos órgãos de repressão para a
classe trabalhadora, os oprimidos e a esquerda.
2 https://esquerdaonline.com.br/2018/12/12/50-anos-do-
ai-5-1968-militares-aprofundaram-a-ditadura-e-terrorismo-de-estado/
3
https://gauchazh.clicrbs.com.br/politica/amp/2019/02/quem-
sao-e-que-cargos-ocupam-os-militares-no-governo-bolsonaro-
cjrwm3z6w027901tdxl16reku.html
4 https://esquerdaonline.com.br/2018/11/28/governo-
bolsonaro-alto-comando-do-exercito-novamente-no-centro-do-poder-
ameaca/
5
https://esquerdaonline.com.br/2018/12/05/colegios-militares-
praticam-o-pensamento-unico/
principais Estados brasileiros 6 e até o assassinato de uma liderança da
esquerda socialista, entre outros elementos.
Não podemos deixar de caracterizar e dar importância também o peso
que os setores mais retrógrados do Poder Judiciário ganharam no atual
governo, em especial o super-Ministro da Justiça e seu pacote, que visa atingir
também as liberdades democráticas os movimentos sociais.
Outro aspecto relevante também, que é inerente a centralidade política
que ganhou a elite das Forças Armadas no governo, é a total ligação e
subordinação do novo governo ao imperialismo estadunidense, inclusive ao
seu atual governo. Lembrando sempre, que se consolidou há muitos anos, nas
Forças Armadas brasileiras, uma aliança histórica com o imperialismo dos
EUA.7
Para além do governo, outro elemento muito preocupante é que por de
trás da figura do “capitão” está se formando um movimento de extrema-direita
neofascista, que agora tem um partido político próprio e que experimentou
grande crescimento eleitoral. Este “movimento neofascista em construção”
possui fortes laços com setores da burguesia (principalmente no agronegócio),
com a elite das Forças Armadas, com a chefia de igrejas pentecostais que
possuem muita capilaridade popular e com grupos diretamente paramilitares
(especialmente, as chamadas milícias).
Todos os elementos descritos acima, que são profunda e extremamente
desfavoráveis a nossa luta, não significa dizer que a hipótese mais provável
seja a evolução da situação brasileira para uma nova ditadura. Por exemplo,
não é essa a política hoje do imperialismo dos EUA para a América Latina.
Entretanto, temos que marcar que a hipótese de um fechamento cada vez
maior do regime político é uma das hipóteses “que estão sobre a mesa”, e não
pode ser mais ignorada por nossa organização, especialmente por sua direção.
Seria uma atitude que beiraria a irresponsabilidade.
E, mesmo que não haja uma mudança ainda qualitativa no regime político
no Brasil, que se mantenha a atual “democracia blindada” 8 , um governo
profundamente autoritário pode fazer muitos ataques democráticos e
perseguições aos movimentos sociais e a esquerda, ainda sem romper
complemente com os limites da institucionalidade vigente. Principalmente, se
levarmos em conta as mudanças reacionárias no regime político nos últimos
anos.
6
https://esquerdaonline.com.br/2018/12/20/intervencao-militar-no-
rj-completa-10-meses-batendo-recorde-de-mortes-geradas-por-policiais/
7
https://esquerdaonline.com.br/2018/12/02/porque-bolsonaro-
prestou-continencia-ao-assessor-de-seguranca-nacional-dos-eua/
9 https://esquerdaonline.com.br/2018/11/22/ha-70-anos-
deputados-comunistas-eram-cassados-pelo-governo-dutra/
10 https://www.bbc.com/portuguese/amp/internacional-
44599658
“Deve-se evitar a mania de conspiração, dos ares importantes e
misteriosos, da dramatização das coisas simples, das atitudes conspirativas. A
maior virtude que um revolucionário pode ter é a simplicidade, o desdém por
qualquer atitude menos revolucionária....”. (Vítor Serge)
Qualquer plano que a gente discuta, mesmo que inicial, deve levar em
consideração a situação subjetiva da nossa organização para aplicá-lo. Como,
da mesma forma, a situação geral em que se encontra o movimento e a
esquerda de conjunto.
Um plano pode ser preenchido até de boas ideias, mas só irá servir de
fato para a nossa organização se suas propostas forem de possível aplicação
por nossa direção e por nossa militância. Não existe um plano correto, que não
dê toda a atenção que merece ao fator subjetivo.
Acreditamos que partimos de um grande atraso nesta discussão e tarefa.
Atualmente, não temos absolutamente nenhum reflexo de segurança e defesa.
Em geral, somos uma organização, nas palavras de Vítor Serge, “que nada
esconde do inimigo”.
Concretamente: as fronteiras de nossa organização são muito frágeis,
com certeza existem simpatizantes que frequentam nossos núcleos e recebem
nossos materiais internos; não existe uma política efetiva de segurança de
nossas informações, inclusive aquelas relativas à nossa estrutura interna e
finanças; não há organização e disciplina em nossa intervenção em atividades
do movimento, mesmo as mais arriscadas; fazemos discussões internas que
deveriam ser restritas utilizando redes sociais, temos poucos cuidados de
segurança até com os nossos próprios aparelhos eletrônicos (celulares,
computadores, etc), informações de caráter pessoal (endereços, parentescos,
entre outros) são expostas nas redes sociais por nossa militância, incluindo
dirigentes; para ficar em alguns exemplos mais simples.
A situação na maioria do movimento e no resto da esquerda, com
raríssimas exceções, não é muito diferente da nossa. Por exemplo, o ambiente
que encontramos no partido legal que atuamos é igual ou pior o encontrado em
nossa organização.
Enfim, na verdade, em nossa organização só praticamos um trabalho de
tipo “aberto”, com seus erros e acertos. Inexiste entre nós uma estrutura “mais
fechada”, mínima que seja. Ou seja, somos totalmente abertos. Não é difícil
concluir que da forma com que estamos hoje não vamos passar nem nos
testes mais iniciais que a realidade política brasileira deve nos impor no
próximo período.
Evidentemente, não “nos passa pela cabeça”, neste momento, mesmo
com o aprofundamento da situação reacionária, propor que a nossa
organização passe toda ou majoritariamente para a clandestinidade política. Ou
seja, que só realizemos um trabalho de tipo “fechado”.
Construir uma organização clandestina na atual situação seria um grave
erro político. Acreditamos que seguimos tendo como centro a intervenção nos
sindicatos, nos movimentos sociais, na juventude, entre os oprimidos, no
partido legal que somos parte, entre outros elementos.
Mas, ter o centro da atividade partidária num trabalho de tipo “aberto”,
aproveitando as brechas democráticas que ainda persistem no atual regime
político, não pode significar a inexistência de um trabalho “mais fechado”
nosso, mesmo que em menor número.
Uma estrutura mais fechada, que busque preservar, permanentemente e
dentro do possível, a segurança da nossa organização, das suas informações e
da sua militância. Este é o objetivo mais geral e estratégico da discussão que
queremos realizar: construir na nossa organização uma combinação efetiva
entre trabalho “aberto e fechado”.
A combinação entre trabalho “aberto e fechado” não é um tema simples,
vamos precisar aprofundar esta discussão, especialmente na direção da
organização. Pois, as duas estruturas não podem ser estanques, separadas,
devem ser parte do mesmo corpo, da mesma organização, em sua atuação
cotidiana na complexa situação mundial e brasileira.
Para chegar a este objetivo estratégico, portanto mais ao médio e longo
prazo, vamos precisar de um plano inicial. Não é tarefa fácil definir os primeiros
passos deste plano. Acertar essencialmente no diagnóstico da nossa situação
e elencar as propostas corretas para avançar.
Erros serão inevitáveis. Mas, não temos outra saída, temos que buscar
mudar a nossa prática cotidiana neste terreno, ou não teremos nenhum futuro
em nossos objetivos estratégicos, expressos em nossa carta de Princípios e
em nossos Estatutos.
Para iniciar esta discussão é necessário evitar dois erros preliminares.
O primeiro é a pressa e a mania, que muitas vezes se estabelece neste
tipo de discussão, de tomar um número exagerado de medidas, que quase
seguramente não serão cumpridas. Causando um grave risco de
desmoralizarmos todo este debate que consideramos estratégico.
Mais vale, principalmente num momento inicial da discussão, tomar
poucas medidas, que sejam as mais importantes, e que sejam passíveis de
aplicação por nossa direção e militância, mesmo que para isso enfrentemos as
nossas dificuldades subjetivas.
O outro erro é a prostração, a adaptação à situação atual, como fosse
impossível mudarmos a nós mesmos.
Em algumas discussões, é comum ouvir camaradas dizerem coisas do
tipo: é impossível resistir e não ser monitorado, não existe condições técnicas
para tal; somos muitos pequenos e eles não precisam e não querem nos
monitorar; no mundo de hoje essencialmente só é possível realizar o trabalho
político aberto e legal, entre outras opiniões.
Respeitando todas estas opiniões e outras que aparecerem no nosso
debate, se revela fundamental a combinação entre trabalho “aberto e fechado”
nas organizações marxistas na atualidade. Principalmente porque a dimensão
da crise econômica e social porque passa o sistema capitalista em todo o
mundo, e no nosso país não é diferente, obriga a burguesia e seus órgãos de
repressão a monitorar até organizações menores, mas que tenham alguma
influência na realidade. Isso é o que demonstrou a experiência das Jornadas
de Junho.
E, da mesma forma, seguir sem fronteiras nítidas e sem nenhum critério
de defesa de nossa organização, de suas informações e da segurança da
nossa militância, nos expõe não só aos órgãos de repressão mais capacitados,
mas nos deixa vulneráveis até para grupos paramilitares e neofascistas,
mesmo aqueles que atuam ainda com critérios artesanais. Portanto, mudar a
situação atual é de extrema importância para o futuro da nossa organização.
Feitos estes dois alertas para iniciarmos a discussão, abaixo estão
apresentadas os principais eixos de nosso plano inicial:
Tião Torres