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Quando se fala em personalidade jurídica das empresas, nota-se que através dessa
ficção humana, tornou-se possível que um grande número de pessoas, que podem
ser desconhecidas umas às outras, se unisse em torno de uma sociedade para a
realização de determinada atividade empresarial, interessante exemplo traz Harari
(2020), ao comentar sobre a personalidade jurídica da Peugeot, que emprega cerca
de 200 mil pessoas em todos o mundo, maioria delas estranhas umas às outras, mas
que cooperam de maneira tão eficaz que em 2008 a Peugeot mais de 1, 5 milhão de
automóveis, gerando uma receita de aproximadamente 55 bilhões de euros.
Não obstante, a personalidade jurídica, originalmente concebida para fins nobres, teve
seus instituto desvirtuado, sendo utilizada para a prática de abusos, golpes, fraudes
ou, até mesmo, atos ilegais, compreende-se que não raro, apesar de a sociedade ou
empresa ir à bancarrota, os sócios ou administradores, de maneira peculiar,
multiplicam seu patrimônio.
Como uma forma de evitar o uso irregular da personalidade jurídica das empresas,
foi concebida a Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica que é o meio
pelo qual o “se levanta o véu da pessoa jurídica” para que suas obrigações sejam
suportadas pelo seus sócios e administradores, em casos de utilização da pessoa
jurídica para fins condenáveis ou irregulares, atente-se para o fato de que não se
destrói a pessoa jurídica, mas apenas, com o fim de evitar irregularidades, torna-se
sem eficácia a separação patrimonial entre a pessoa jurídica e os seus membros em
determinado caso concreto.
Pereira (2020) explica, ainda, que a justiça trabalhista tem se utilizado da analogia
com a vulnerabilidade do empregado na mesma proporção do consumidor para
aplicar, outrossim, a teoria menor da desconsideração da personalidade jurídica,
sempre que a personalidade jurídica for obstáculo ao pagamento de créditos
trabalhistas aos seus funcionários.
No tocante ao desvio de finalidade, de acordo com o art. 50, §1º do Código Civil, ele
irá ocorrer quando houver a utilização da pessoa jurídica com o propósito de lesar
credores ou para a prática de atos ilícitos de qualquer natureza.
Aponta-se para o fato de que, em havendo a utilização da Pessoa Jurídica para lesar
credores, haverá a sua desconsideração, independente de culpa do sócio ou do
administrador, o enunciado 37 da I Jornada De Direito Civil do Conselho da Justiça
Federal diz que a responsabilidade civil decorrente do abuso do direito independe de
culpa e fundamenta-se somente no critério objetivo-finalístico.
Com efeito, é necessário se ater, ainda, ao art. 50, §5º, que diz que a mera alteração
da atividade originalmente desempenhada pela pessoa jurídica, por si só, não acarreta
desvio de finalidade, mas é preciso ter cuidado, pois, isso não significa que sócios e
administradores possam modificar sua atividade, gerar danos aos seu credores e não
serem responsabilizados por isso.
Aponta-se para o fato de que o inciso III do dispositivo em comento, traz regra geral
para a configuração da confusão patrimonial ao mencionar que qualquer ato de
descumprimento da autonomia de bens é capaz de conformar a mencionada confusão
patrimonial, tratando-se, dessa maneira, de rol não taxativo, numerus apertus.
Por fim, em seu art. 50, §4º, o Código Civil diz que a mera existência de grupo
econômico sem a presença dos requisitos de que trata o caput do artigo 50 não
autoriza a desconsideração da personalidade da pessoa jurídica, em evidente
contraposição ao Código de Defesa do Consumidor, onde as sociedades
integrantes dos grupos societários e as sociedades controladas, são subsidiariamente
responsáveis pelas obrigações decorrentes deste código e as sociedades
consorciadas são solidariamente responsáveis pelas obrigações decorrentes deste
código.
4. Conclusão