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Hospital Universitário Júio Muller

Curso de Prevenção de Incapacidades em Hanseníase


Cuiabá, 28 de janeiro de 2019

HANSENÍASE:
EPIDEMIOLOGIA/ DEFINIÇÃO
FATORES DE RISCO
FISIOPATOGENIA
DIAGNÓSTICO
ESTIMA AUTO-ESTIMA

José Cabral Lopes


Médico CRM/MT- 820 graduado pela UFRJ
Pediatra do Ministério da Saúde
Especialista em Saúde da Família pela UFMT
Hansenólogo pela Sociedade Brasileira de Hansenologia
Professor de Saúde Coletiva-UNIC e Professor de Hansenologia HUJM
Assessor médico DAHW
Médico da SMS de Cuiabá
Taxa média de detecção de casos novos de hanseníase (por 100 mil habitantes) e taxa
média de detecção geral de casos novos de hanseníase com grau 2 de incapacidade
física (por 1milhão de habitantes), segundo sexo, região e UF, Brasil, 2012 a 2016

Boletim epidemiológico 2018, vol.49 – MS.


Epidemiologia - Hanseníase
Meta Mundo Brasil Centro- Mato Grosso
Oeste
Incidência de Menos de 1: 0,3:10 mil 1,23/10 mil 3,72/ 10 mil 8,89/ 10 mil
casos 10.000 hab hab (2016) hab hab
Incidência de Menos de 1 14.110 10,53 casos 22,84/ 1 44,55/ 1
casos GI2 por milhão Casos para cada 1 milhão hab milhão de
2: 1 milhão milhão de hab.
habitantes

Fonte: Estratégia Global WHO, 2018 MS, 2018 MS, 2018 MS, 2018
para Hanseníase Boletim Epid. No49 Boletim Epid. No49 Boletim Epid. No49
2016-2020 Vol. 2 Vol. 2

Ambulatório 3 – HUJM:
- 2008 a 2017 – 566 casos notificados – 56,6 diagnósticos/ ano - predomínio de homens adultos, negros,
com classificação operacional multibacilar, forma clínica dimorfa e tratamento com PQT-MB por 12
meses. Maior parte veio ao serviço por encaminhamento, mas muitos sem a adequada orientação, o que
não difere do relatado no boletim epidemiológico nacional que aponta os serviços de referência como
principais diagnosticadores.
( Cavalcante et al, 2018)
• “A hanseníase continuará por muitas décadas nos maiores países
endêmicos de hoje, mesmo sob as projeções mais favoráveis, e não se vai
erradicar status do novo mundo. A hanseníase não é uma doença
erradicável.

• Suspeita-se que alguns países permaneceram conduzidos pelos alvos de


eliminação global e desejam manipular dados para parecer que foram
alcançados.

• Pode ser aceitável mostrar dados duvidosos para uma audiência


perfeitamente capaz de ver as falhas, mas é vil publicar dados sabendo que
não podem ser interpretados, para uma audiência que não está em posição
de reconhecer suas fraquezas sem comentários críticos.

• Mas a ciência e a saúde pública dependem da honestidade e avaliação


crítica.”

P.E. M. FINE
Departamento de Epidemiologia e Ciências Populacionais, Escola de
Higiene e Medicina Tropical de Londres. Reino Unido.
"Mycobacterium leprae complex"
• Bacilos gram+, não móveis, não esporulados, fracamente Mycobacterium leprae
álcool-ácido resistentes, compostos de DNA;
• Multiplicação muito lenta (aproximadamente 12,5 dias);
• Intracelular obrigatório;
• Incubação: 2 a 10 anos (MS, 2017) OU 2 a 20 anos
(WHO,2019);
• Não cultivável em meios artificiais;
• Possui menos da metade dos genes funcionais quando
comparado com Micobacterium tuberculosis;
• Genomas do M. leprae e M. lepromatosis já foram
totalmente sequenciados;
• Estudos em modelos animais indicam que o bacilo cresce Mycobacterium lepromatosis
melhor de 27 a 33ºC, correlacionando-se à sua predileção
por afetar áreas mais frias do corpo (pele, segmentos
nervosos próximos à pele e membranas mucosas do trato
respiratório superior);
(Up to Date, 2018)
Han, XY et al 2008
Transmissão e fatores de risco
Em geral, a maioria dos indivíduos NÃO desenvolve a doença após a exposição. O
desenvolvimento da doença depende de uma variedade de fatores, incluindo o estado
imunológico e as influências genéticas;

trato respiratório superior lesões cutâneas


Importância dos Exames de Contato
Hanseníase - Patogenia
Bacilo
Período de Incubação

Vias aéreas Primeiros sintomas


superiores
Pele
Via linfática Nervos
Circulação geral

Linfonodos Bacilos latentes Outros


Órgãos
Não desenvolve doença
Hanseníase - Patogenia
Fonte de M. leprae
PORTADOR SÃO ? DOENTE Fonte ambiental ?

EXPOSIÇÃO

Dose Duração Frequência

INFECÇÃO DOENÇA

Estado Imunológico do Hospedeiro

Fator Genético BCG Fator sócio econômico

? ?
Presença do HIV Micobactéria no Infecção coexistente
ambiente
Diagnóstico
Espessamento de
Lesões ou áreas da Presença de bacilos M.
nervo periférico,
pele com alteração de leprae em
associado a alterações
sensibilidade térmica, baciloscopia ou biópsia
sensitivas , motoras ou
tático ou dolorosa; OU de pele;
autonômicas; OU

o Suspeita  Anamnese
Exame geral
Exame dermatoneurológico
Diagnóstico essencialmente clínico-epidemiológico!

o Objetivo  identificar lesões ou áreas de pele com alteração de sensibilidade ou comprometimento de


nervos periféricos;
o Casos identificados  Classificação operacional: Paucibacilar (até 5 lesões) X Multibacilar ( mais de 5
lesões e/ou + de 1 nervo comprometido);
o Se baciloscopia disponível positiva (MB), porém se negativa não descarta forma multibacilar;
o Comprometimento neural sem lesões de pele – encaminhar a serviço de alta complexidade;

o Outros exames complementares: histopatologia (cutânea ou de nervo periférico sensitivo),


eletrofisiológicos, avaliação com outros especialistas para descartar outras causas de neuropatia periférica.
(MS, 2016)
Imagens do Acervo Pessoal Dr. J. Cabral -MT
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Hanseníase NÃO é doença de criança

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Hanseníase “belisca o nervo
e morde a alma”

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Importância da
Beleza
Beleza de Absalão

“Não havia em todo o


Israel homem mais belo que
Absalão, e que fosse tão
admirado como ele. Da
cabeça aos pés, não havia
nele defeito algum. Tinha
uma filha chamada Tamar
de extrema formosura.”
Samuel, 14-25 (+/- 1.000 a. C.)
Édito de Valério

“No caso de dois


acusados e havendo
dúvida sobre a autoria,
deve o juiz condenar o
mais feio.”
Imperador Romano (253 -
259 d.C.)
PATÓGENOS INTRACELULARES

Para alguns patógenos intracelulares, como por exemplo o M. leprae, as principais


células-alvo são as células não fagocitárias chamadas Células de Schwann (SC).
As SC nos nervos periféricos ou oligodendrócitos (sistema nervoso central) são
células da glia especializada na produção de membrana, que envolve as porções
alongadas do neurônio (axônio).

M. Leprae única mico


neurotrópica

“HANSENÍASE
PRIMARIAMENTE
NEURAL”
LESÕES DOS NERVOS PERIFÉRICOS
FIBRAS FIBRAS FIBRAS
SENSORIAIS AUTÔNOMAS MOTORAS

AÇÕES DO BACILO E DOS PROCESSOS INFLAMATÓRIOS


DIMINUIÇÃO
DIMINUIÇÃO OU
DIMINUIÇÃO OU OU PERDA
PERDA DE
PERDA DE DA FORÇA
SUDORESE E
SENSIBILIDADE LUBRIFICA ÇÃO MUSCULAR
DA PELE
DORMÊNCIA PELE SECA FRAQUEZA

CONSEQUÊNCIA DA LESÃO NEURAL


DESEQUILÍ BRIO
QUEIMADURAS /
FISSURAS MUSCULAR
AUMENTO DE
FERIMENTOS PRESSÃO EM
ÁREAS
ESPECÍFICAS
INFECÇÃO INFECÇÃO INFECÇÃO

DESTRUIÇÃO DE ESTRUTURAS
(PELE, TENDÃO, LIGAMENTOS, OSSOS, MÚSCULOS)

DEFORMIDADES
ÚLCERAS, GARRAS, PÉ E MÃO CAÍDOS, ATROFIAS MUSCULARES, REABSORÇÃO ÓSSEA E ARTICULAÇÕES
RÍGIDAS.
NERVOS FREQUENTEMENTE ACOMETIDOS:
NERVO AURICULAR NERVO FACIAL
NERVO MEDIANO
NERVO ULNAR NERVO TRIGÊMIO
NERVO RADIAL
NERVO FIBULAR COMUM
NERVO TIBIAL POSTERIOR
NERVOS FREQUENTEMENTE
ACOMETIDOS

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NERVOS FREQUENTEMENTE
ACOMETIDOS

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NERVOS FREQUENTEMENTE
ACOMETIDOS

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NERVOS FREQUENTEMENTE
ACOMETIDOS

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A maioria das pessoas apresentam resistência natural
ao bacilo de Hansen

• Resposta competente  forma clínica localizada e não contagiosa


• Resposta não competente  forma clínica difusa e contagiosa
TS +

VS -
CLASSIFICAÇÃO MH
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Classificação

 1952 ( Rabello y cols) – Tuberculóide


Intermediária
Dimorfa
Lepromatosa
 1963 ( Ridley y Jopling) – Tuberculoide TT
Borderline Tuberculóide BT
Borderline Borderline BB
Borderline Lepromatosa BL
Lepromatosa LL
Toda resposta imune está sob controle genético
Espectro da hanseníase clínico e imunológico
HLA DR2/ DR3 (imunidade inata) HLA DQ1 (susceptibilidade inata)
INFγ e iL2 iL4 iL10
Imunidade celular Imunidade humoral
TH1 TH2
CARGA BACILAR

HT (NEURITE)
INTENSA POUCO HV (NEURITE)
EXTENSA EXTENSA POUCO
ASSIMÉTRICA INTENSA SIMÉTRICA
PRECOCE TARDIA

TT TS DT D D_ D_ V V_S VV
_
+ + + +
R1 HD (NEURITE) R2
INTENSA
EXTENSA
SIMÉTRICA
PRECOCE

Mitsuda caráter adquirido de pré-disposição genética HLA / DR2 / DR 3


presente em 90 % da população
Hanseníase Indeterminada

Teste de histamina incompleto Teste de histamina completo


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Hanseníase Tuberculóide

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Hanseníase Tuberculóide
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Dr. J. Cabral -MT

?
Hanseníase Dimorfo

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Hanseníase Dimorfo

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Hanseníase Dimorfo
Hanseníase Dimorfo

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Hanseníase Virchoviana

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Diagnóstico Pè Caido Evolução

Fenômeno de Lúcio
Eritema Polimorfo Evolução
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Mãos Anestésicas : Garras ,
reabsorção de região tenar e
hipo tenar

Evolução

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Hanseníase Virchoviana
Protocolo de tratamento de
hanseníase OMS
“Primeiro levaram os negros, Mas não me importei com isso. Eu não
era negro
Em seguida levaram alguns operários, Mas não me importei com
isso. Eu também não era operário.
Depois prenderam os miseráveis, Mas não me importei com isso
.Porque eu não sou miserável .
Depois agarraram uns desempregados. Também não me importei...
Agora estão me levando, Mas já é tarde. Como eu não me importei
com ninguém ...Ninguém se importa comigo.''

Bertold Brecht.
Obrigado !!

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