Você está na página 1de 6

Quem é e o que aconselha Tallis Gomes, fundador da

bilionária Easy Taxi e empreendedor serial


Dez dicas exclusivas de Tallis Gomes, fundador da Easy Taxi, para você se dar bem
no empreendimento
Daniela Paiva - 2 de fevereiro de 2015

De criança hiperativa a empreendedor de sucesso, Tallis Gomes, 27 anos, criador de uma


empresa que vale 1 bilhão de reais, fala dos 10 pontos que devem compor a cartilha de
todo empreendedor

Depois de quase duas horas de conversa com Tallis Gomes, mineirinho que aos 27 anos
é sócio de uma empresa com o valor de mercado de 1 bilhão de reais, criada por ele
mesmo, a Easy Taxi, algumas certezas aparecem à mesa:

1) Não vai tardar muito para a história de Tallis virar filme, biografia, letra de música, app
(ops, isso ele já fez, né?)… OK, sem exageros. Mas os dois primeiros são garantidos –
aposto os 10 reais que tenho na carteira.

2) Empreendedor = vendedor. Não tem outra maneira. Timidez não tem vez na hora de
tirar uma empresa do chão. A não ser que você conte com uma exímia cara-metade
capaz de fazer isso para você. (Mesmo assim, se não quiser ou souber vender, acaba
ficando numa posição mais frágil dentro da sociedade.)

3) É fundamental ter um olhar espertíssimo para capturar as brechas e as oportunidades


– no momento em que elas acontecem.

Essas são as impressões desta entrevistadora mas, em se tratando de


empreendedorismo, Tallis desenrola uma penca de dicas e ensinamentos acumulados em
uma bagagem de 13 anos criando e tocando negócios.

Ele sabe proferi-las como ninguém em palestras mundo afora, carregadas pelo
desempenho de seu aplicativo para celular de chamada de táxis, que alcançou números
incríveis em pouquíssimo tempo.

A Easy Taxi surgiu em junho de 2011, e desde a sua criação captou 145 milhões de reais
em investimentos. O primeiro deles, em 2012, quando a empresa recebeu aporte de 10
milhões de reais da Rocket Internet, gigante alemã especializada em negócios online. Em
2014, a empresa se tornou a primeira startup brasileira a movimentar mais de 1 bilhão de
reais em transações.

Daí para a presença em 35 países da América Latina, Ásia e África; 20 milhões de


usuários; 400 mil táxis cadastrados, 172 escritórios e 1 300 funcionários, foi uma estrada
longa, mas percorrida em altíssima velocidade.

Tudo isso era inimaginável para os outros, que por diversas vezes não embarcaram na
ideia do garoto da pequena Carangola, no interior de Minas Gerais, com apenas 35 mil
habitantes. Não para Tallis, que vislumbrou a multinacional dominando o planeta quando
bolou a Easy Taxi em um fim de semana.

Em 2011, ele participava da Startup Farm, programa de aceleração então estreante no


Brasil. Para o evento, Tallis imaginara um aplicativo de ônibus que ofereceria uma espécie
de mapeamento do transporte na cidade. Até que descobriu um concorrente de peso: o
Google. E faltavam dois dias para a sua apresentação. Focado em melhorar a ideia inicial,
o estalo para conceber o Easy Taxi teve um empurrãozinho do acaso: o garoto tomou
uma chuva torrencial, em pleno Rio de Janeiro, plantado na calçada em busca de um…
táxi. Ele fez o pitch com a ideia de um aplicativo que aproximaria taxistas de clientes,
mas não ganhou a competição. As ideias vencedoras, diz ele, não vingaram ao longo do
tempo. A dele, bem, parece ter dado um pouco mais certo.

O conceito da Easy Taxy nasceu em um fim de semana e foi apresentada à Startup Farm.
Aqui, Tallis
ensaiando o pitch.

Tallis é conhecido como um menino-prodígio dos negócios impulsionado inicialmente


pela paixão à música – um hobby marcado no header de sua página no Facebook, que
estampa uma foto do Led Zeppelin.

UM EMPREENDEDOR HIPERATIVO E ROCK’N’ROLL

Aos 14 anos, queria tocar na festa da final com sua banda de rock. Tinha o “sim” da
escola, mas faltava uma bateria. Sem grana para quase nada, para alugar ou comprar um
equipamento desse, nem se fale… Ele brinca: “O rock’n’roll salvou a minha vida. Ele me
fez empreender”.

Aí Tallis inventou seu primeiro negócio inspirado em uma moda prestes a estourar.
Quando surgiram os celulares com câmera, ele começou a revender os aparelhos
ofertados no Mercado Livre com uma margem de lucro de 25%. Fazia tudo à mão: tirava
um print screen dos produtos, alterava os valores, juntava os folhetos em um book e
batia na porta dos professores, pais e amigos.

Com o pequeno negócio, Tallis tornou-se a estrela do rock na escola e, também, dos
bons deals dos celulares da cidade. Com a grana conquistada, mudou-se para a cidade
grande, Juiz de Fora, aos 16 anos. Aos 17 quase 18, rumou para o Rio de Janeiro, focado
no objetivo de estudar marketing.

Em 2006, no primeiro período de faculdade, Tallis resolveu aprender inglês para valer e
ingressou em um programa na África do Sul, que possibilitava ao aluno cursar uma
cadeira universitária. Ficou por lá seis meses e frequentou a aula de Antropologia. O tema
da matéria era a origem do poder, e Tallis visitou tribos na Namíbia para observar a
estrutura de liderança delas. Segundo ele, a experiência o ajudou a moldar o seu estilo
como líder.

De volta, foi procurar estágio. Acabou aceito pelo Grupo Severiano Ribeiro, de exibição
de filmes, e ali reforçou uma outra característica clara de seu perfil: a de estar sempre um
passo à frente e pensar em projetos de vanguarda. Tallis cruzou uma série de dados e
observações sobre o comportamento do público infantil. Criou um perfil no Twitter às
escondidas, que bombou com promoções. Tudo isso resultou em sua segunda empresa,
a E-Spartan, de gamificação em mídias sociais.

A PRIMEIRA EMPRESA, E A PRIMEIRA QUEBRA

Durou pouco menos de um ano. A E-Spartan conquistou dois clientes apenas, e Tallis
quebrou. Valeu uma lição valiosa: é fundamental acertar no timing do negócio. Não
adianta arquitetar um plano brilhante que depende de um futuro, ainda que próximo.

A esta altura, Tallis já tinha abandonado a faculdade a fim de cuidar de seu negócio. Com
a quebradeira, teve que procurar emprego formal. Encontrou vaga de analista júnior da
Unilever, e acabou trabalhando ao lado do técnico de vôlei Bernardinho, que comandava
o time feminino patrocinado pela empresa. Pegou para si um ensinamento que diz servir
para a vida: a obsessão por dados, tabelas e estatísticas antes da tomada de decisão.

Na sequência, Tallis descolou emprego na Ortobom, fabricante de colchões, o que


parece insólito, mas faz sentido, pois ele foi responsável pelo e-commerce da empresa.
De novo, ele notou uma brecha para outro negócio.

A Tech Samurai, que existe até hoje, foi a solução encontrada para o desenvolvimento do
site. É aí que entra o desenvolvedor Vinicius Gracia, hoje um dos três sócios da Easy Taxi
ao lado de Tallis, amigo de um amigo. Ao lado de outro desenvolvedor, Bernardo Bicalho,
eles criaram uma plataforma e um sistema de gestão de projetos. Em resumo, quando
entrava um projeto, eles disparavam para a mão de obra disponível pelos quatro cantos
do mundo, pediam orçamento e tocavam a ideia com o melhor custo-benefício. Gente da
Rússia, China, Índia, Vietnã. Assim, evitavam os custos trabalhistas brasileiros,
encontravam profissionais de alto nível a preços mais baratos e embolsavam boladas.
Aos 24 anos, ele diz, “estava ganhando mais do que imaginava ganhar aos 40”.

Em 2011, o inquieto Tallis recebeu a dica de um amigo para a Startup Farm. Saiu de lá
com a ideia da Easy Taxi à mão. Deixou a Tech Samurai, e resolveu apostar no projeto
vendendo um carro e investindo 30 mil no desenvolvimento do aplicativo.

“Acabei indo me dedicar 100% a isso, mesmo sendo controverso. A Easy Taxi ficou em
4a lugar na Startup Farm, e todas as empresas que ganharam nem existem mais. E o
feedback que eu recebi era: essa ideia não é tão boa. Se fosse boa, alguém já teria feito
nos EUA”, conta.

O INÍCIO DIFÍCIL DA EASY TAXI

Os primórdios foram artesanais. Ele criou um protótipo em que o pedido do usuário caía
direto no seu email pessoal. Em seguida, Tallis abria o Google Maps à caça de um
veículo. Ligava e fazia a conexão. Era uma pedreira.

E tome obstáculos. As cooperativas não topavam mudar o seu sistema, os taxistas não
tinham celular com internet – no máximo, usavam Nextel –, havia muita desconfiança
sobre o contrato de serviços pela web. De jogar uma pelada com os taxistas até mostrar
para eles que essa tal de internet também serviria para assistirem canal pornô, Tallis fez
de tudo para conquistar espaço.

O empreendedor encontrou mais um sócio no caminho, e que continua até hoje, o


desenvolvedor Marcio William. Outros dois outros fizeram parte da empresa, mas saíram
no trajeto, sendo que um deles rendeu uma briga feia na justiça.

A Easy Taxi ganhou fama com os turistas gringos do Rio de Janeiro antes de cair na boca
do brasileiro. Ainda em 2011, ganharia uma série de concursos e prêmios. Tallis seguiu o
ritmo e passou esses seis meses dividido entre o processo de testar e rodar o projeto na
prática e caçar investidor. Até que se encheu do vai-não-vai do dinheiro grande e parou
de atender telefonemas.

Em março de 2012, com a Easy Taxi mais formatada, engatou os 10 milhões da Rocket
Internet. “A gente particularmente cresceu mais rápido, chegando a se tornar o maior
business de service mobile da história. Nunca ninguém tinha construído uma rede
prestando serviço mobile tão grande”, diz.

Há pouco mais de seis meses, bateu a velha inquietude, e Tallis, eleito em fevereiro pela
Forbes Brasil um dos 30 jovens brasileiros mais influentes, ao lado do jogador Neymar e
do rapper Emicida, optou por deixar o cargo de CEO da Easy Taxi e manter-se apenas na
sociedade. “Tinha completado meu ciclo no que poderia oferecer para a companhia”,
avalia. “Além disso, eu sou empreendedor, e meu trabalho lá era de gestor. Ficou meio
chato.”

A sua saída foi oficializada no fim do ano passado. Ele diz que já tem dois negócios em
fase de testes, e pretende lançar esses e mais outros três até o final deste ano. A única
pista é que são ligados a mobile e se baseiam em soluções convenientes para problemas
reais (fill the gap between the necessity and the convenience). E que o objetivo é fazer
algo, diz ele, 10 vezes maior do que a Easy Taxi nos próximos três anos. Não duvide.

10 dicas e reflexões de Tallis Gomes que podem ajudar o seu negócio:

Hiperatividade
Minha mãe fala que eu não era muito fácil, que sempre fui uma criança muito hiperativa.
Sou, de fato, já tratei isso alguns anos. Também era muito bagunceiro, arrumava
problema. Então basicamente ela ficava com medo de me levar para as festinhas infantis
porque ia fazer arte. Eu dava muito trabalho. Quebrava muito as coisas. Não conseguia
prestar muita atenção na aula por conta da hiperatividade, mas tive notas boas.

Glamourização do empreendedorismo
Sou contra essa glamourização do empreendedorismo. Sempre teve gente vendendo
cachorro quente na rua, picolé, mate na praia. Esses caras são empreendedores. Viram a
necessidade deles e a oportunidade. É que agora ficou mais na moda falar que é
empreendedor. Antigamente as pessoas tinham vergonha. Quando eu era moleque e
falava que trabalhava as pessoas olhavam e… putz… Não era bem legal, não. ‘O cara é
meio estranho’. Hoje em dia é super bonito falar que você incentiva os seus filhos a
empreender, o que acho certo, mas aconteceu uma valorização.

Liderança
Na Namíbia, os líderes tribais não eram os mais fortes, os mais rápidos, ou os que
caçavam melhor. Eram os mais inteligentes. E o que eles consideram inteligente na tribo é
o que sabe direcionar as peças, ou seja, colocar o melhor caçador no lugar que tem mais
caça etc. Ele era meio que o maestro. Tinha uma inteligência emocional diferente, lidava
melhor com as pessoas da tribo. Tinha o respeito delas. Essa é uma característica do
líder. Não necessariamente ele vai entender mais de BI, de marketing, ou de operação,
mas sabe escolher as pessoas certas para executarem as tarefas e participar de todas as
discussões, por mais que ele não conheça profundamente todo o assunto.

Timing
Tenho tenho certeza de que os driveless cars, os carros que dirigem sozinhos, vão tomar
completamente as ruas daqui a 10, 15 anos. Mas, não faz sentido lançar uma agência
com aplicativo focado nisso agora. Foi o que eu percebi com a E-Spartan, não adianta
vender gamificação sendo que as pessoas nem sabem o que é isso direito, e as empresas
nem usam mídia social. Eu estava muito à frente do meu tempo. É uma das principais
dicas que eu dou: será que está na hora certa de lançar esse negócio? Tem mercado para
ele?

Formação
Sempre fui muito autodidata. Estudava muito na internet. Por mais que tenha saído da
faculdade, sempre me cobrei uma rotina de estudo – e até hoje faço isso. Tenho um
conceito na vida que é estar 1% melhor todos os dias. A cada 100 dias você está duas
vezes melhor. Às vezes você acha que não dá, mas se parar meia hora só para estudar
uma coisinha, já fica 1% melhor.

Dados e estratégia
O Bernardinho é sinistramente freak com dados. Ele não toma nenhuma decisão sem ter
uma planilha gigante – como que o time adversário ataca, qual é o melhor atacante, a
defesa, a estatística. Ele monta a estratégia jogo por jogo baseada nisso. Aprendi que
decisão não tem que ser tomada por feeling, mas por dados. Costumo dizer que tomar a
decisão por feeling é o caminho mais prazeroso para o fracasso. No business e na vida,
achismo não leva a nada. Você tem que ter dados que comprovam aquela hipótese e aí
você toma e executa a ação. Assim que um bom gestor age.

Investimento
Fiquei seis meses atrás de investidor e meu business não andou nada. Quando deixei de
procurar, virou a Easy Taxi. É muito importante focar na execução quando você tem um
negócio à mão. Ninguém investe em ideia. O investidor investe em um negócio. O
investimento só deve ser captado no momento em que você sabe o que fazer com o
dinheiro.

Fracasso
Existe uma glamourização do fracasso, principalmente no Silicon Valley. Os caras lá veem
isso como um mal necessário. Mas, na maioria das vezes, a verdade é que você não
aprende nada. Não acho bonito ficar falando. Você está mandando mal, faliu empresas.
Se falhar, precisa fazer o trabalho básico, olhar pra dentro, o que fiz de errado, o que
posso melhorar. Acabei fazendo isso. Errei no timing. De fato, melhorei com a falha, mas a
maioria das pessoas insiste no erro. A culpa não foi minha, foi do mercado, do
funcionário. Mas no fim do dia a culpa é sempre sua.

Sócios
Meu maior aprendizado é que as pessoas que você traz para tocarem o negócio é que,
basicamente, vão definir o futuro da companhia. Às vezes, você tem que abrir mão de
algo e ficar com 20% de uma companhia que vale alguns milhões. É melhor do que 100%
de uma que não vale nada. Além da qualidade técnica, o sócio tem algo que é deal
breaker: caráter.

O que é melhor: uma boa ideia ou um bom espírito empreendedor?


Se você traduzir espírito empreendedor como competência técnica, acho melhor um
empreendedor melhor do que uma boa ideia. Um grupo de bons empreendedores com
uma ideia ruim transforma isso em negócio, e a ideia acabaria ficando boa. Um grupo de
empreendedores ruins com uma ideia genial no máximo viraria um bom planejamento,
não um negócio – a Easy Taxi em 2011. Gente ruim não executa, só consegue pensar
coisas legais. Gente boa geralmente executa, faz o negócio acontecer.

Você também pode gostar