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Não é a primeira vez que apresentamos startups que focam em gamificação. Apesar de
todas explorarem o aspecto lúdico e ao mesmo tempo competitivo dos games, cada uma
tem uma abordagem. A característica da mineira Gamific é oferecer soluções de
gamificação para áreas de vendas, focando também na gestão desses dados em tempo
real. Seu principal produto é um jogo para computador e celular, que evolui de acordo
com os indicadores de vendas da empresa: número de pedidos, faturamento, clientes
novos e margem de lucro. A plataforma exibe uma pontuação para cada funcionário,
visível a todos. Além de estimular a equipe de vendas, o desempenho gera dados que
ficam à disposição dos gerentes, para que possam intervir durante o processo e não
apenas ao final de cada etapa.
Juntos eles decidiram, então, desenvolver uma plataforma de games focada em resolver
isso, mantendo o time orientado por metas e com visão clara dos resultados para os
gestores. A solução unia a experiência de Rubens em software e tecnologia ao histórico
profissional de Leonardo. A dupla começou a lapidar o projeto e chegaram ao plano de
fazer um jogo simples, de corrida de carro (um clássico), em que o desempenho de cada
carrinho seria atualizado de acordo com os resultados de vendas. Leonardo acredita que
há concorrência no Brasil para a solução. “Há iniciativas de gamificação relacionadas à
área de vendas, mas nenhuma é tão focada em dar ao gestor a visão do negócio”, diz. O
modelo de negócios é vender a assinatura do serviço. A Gamific adapta a plataforma às
necessidades de cada empresa e recebe uma mensalidade de cada cliente.
Enquanto desenvolviam o projeto, os sócios viram que precisam de 500 mil reais para
colocar a plataforma de pé e contratar desenvolvedor e profissionais para fazer o 3D do
jogo. Com essa estimativa, em 2015 começaram a “camelar” atrás de investidor.
Leonardo tinha a lábia de vendedor e Rubens, bons contatos acumulados em anos de
experiência na área de software. Eles pensavam que isso, aliado com a boa ideia do
negócio, bastaria para atrair um aporte financeiro. A realidade foi bem mais cruel.
Passaram seis meses atrás de alguém que apostasse no empreendimento. Bateram em
centenas de portas, que foram gentilmente fechadas na cara deles. Leonardo fala:
“Ninguém acreditava na plataforma. Diziam que a gamificação não era algo que estava
pegando no Brasil”
Não era fácil seguir apostando em um negócio que o mercado desacreditava, ele diz,
mas a teimosia foi uma vantagem aí: “Ficávamos inconformados. A gente não queria
desistir antes de começar. Tínhamos que tentar e, se fosse o caso, mudar de ideia só
depois.”
E assim foi. Naquela altura, os dois seguiam trabalhando no que já faziam (Leonardo na
escola de inglês e Rubens com seu outro negócio), mas coordenavam com os
telefonemas e reuniões para concretizar a Gamific. De tanto insistir a história rolou.
Encontraram um investidor-anjo interessado em aplicar capital no negócio. Enfim a
primeira vitória — e foi das grandes. No lugar dos 500 mil reais essenciais para tirar o
negócio do papel, eles captaram 1,5 milhão de reais, que serão aplicados em cinco anos.
O projeto também ficou mais ambicioso. “Este valor foi pensado para a gente colocar o
negócio de pé, começar aqui no Brasil e chegar ao mercado dos Estados Unidos em dois
anos”, diz, confirmando que a meta é internacionalizar a empresa entre 2018 e 2019.
Com dinheiro na mão para começar, mas ainda inseguros sobre o retorno que o negócio
poderia dar, contrataram só um desenvolvedor e um estagiário inicialmente. Daí o ritmo
das coisas voltou a ficar lento. “Nem eu nem o Rubens sabemos programar e vimos que
estávamos gastando com estrutura, com plataforma e servidor, mas as coisas estavam
evoluindo muito devagar. Eu precisava de algo pronto para atrair o primeiro cliente”,
lembra Leonardo. Já no começo de 2016 decidiram, então, reforçar a equipe e chegaram
ao formato atual com nove pessoas incluindo os sócios. Naquela altura a plataforma
começou a ganhar forma e a pressão por encontrar clientes aumentou. O fundador conta:
“Não era só ansiedade nossa. O investidor nos cobrava muito para terminar o produto e
monetizar”
A primeira parte não estava pronta, mas diante do risco de perder o investimento,
Leonardo decidiu encarar o desafio de vender uma solução que sequer existia. Ele e
Rubens começaram a marcar reuniões para falar da plataforma e, como esperado, a
maior parte das empresas tinha receio de fechar contrato sem qualquer referência e,
principalmente, sem ver como funcionava a solução. Por indicação de um amigo,
chegaram a uma agência especializada na venda de mídia digital que se interessou e
assinou em junho do ano passado um contrato de três meses com eles.
Tudo lindo até aí. A questão é que a plataforma não estava pronta, lembra?
“Precisávamos de quatro meses para terminar, mas prometemos entregar em um mês. A
gente saiu correndo e trabalhou loucamente. Não tinha como se queimar já no primeiro
cliente. Isso arruinaria todo o resto”, conta Leonardo. Com o time focado de segunda a
segunda, cumpriram a promessa e, aos trancos e barrancos, entregaram. “Deixamos
pronto para rodar, mas não estava redondo”, admite. Neste ponto eles abraçaram o
negócio de vez: Leonardo pediu demissão do trabalho e Rubens começou a estudar a
venda de sua empresa de software.
“Nossa meta era fechar com dois clientes por mês, mas conseguimos cerca de oito
contratos mensais”, conta Leonardo. Atualmente eles estão com são 57 clientes, que
geraram em 2016 um faturamento de 500 mil reais. Nada mal para uma startup em seus
primeiros meses. O empreendedor comenta a mudança de fase:
“No começo ninguém queria ouvir a gente, mas de repente passamos a colher frutos
bacanas”
Ainda que a correria continue, agora os sócios conseguem encontrar algum espaço para
se planejar. A meta é mais do que dobrar o faturamento este ano e chegar a 1,3 milhão
de reais, atingindo o break even. Além de manter clientes já conquistados, Leonardo
pretende atrair novos e chegar a 100 empresas atendidas. A ambição é ainda maior para
o ano que vem: superar a marca de 1,8 milhão em receitas e alcançar 200 clientes. “Daí
então podemos internacionalizar, investindo no mercado dos Estados Unidos”, afirma.
Segundo ele, conseguir clientes lá fora é uma forma de aumentar as receitas com
faturamento em dólar sem precisar de grande estrutura. A entrada no novo mercado
também traria visibilidade à empresa para, quem sabe, receber novos investimentos ou
ser comprada no futuro. “Em três a cinco anos queremos atrair o aporte de uma grande
companhia”, diz Leonardo.
O empreendedor admite, no entanto, que um sucesso desse tamanho não vai acontecer
sem que a Gamific supere mais alguns desafios. O primeiro é melhorar a qualidade do
jogo oferecido hoje, com gráficos mais realistas e novos recursos, além de aprimorar a
plataforma em geral. O segundo e mais difícil é desenvolver novos games e soluções
para os clientes, levar novidade mesmo. “Precisamos ter argumentos para que as
empresas se mantenham conosco. Hoje nosso game é uma corrida de carro, mas a ideia
é ter novos formatos”, conta.
A plataforma também estuda entregar outros dados dos funcionários às empresas. Além
dos resultados de vendas, a ideia é reunir estatísticas de comportamento das pessoas,
fazer um mapeamento do perfil dos colaboradores. Outra meta para 2017 é oferecer
soluções de gamificação para outras áreas, como a administrativa e a financeira. Com
tantos planos, os sócios da Gamific parecem ter se acostumado com o ritmo do jogo e
querem ganhar a corrida que eles mesmos inventaram.
DRAFT CARD
Projeto:Gamific
O que faz:Usa gameficação para estimular equipes de vendas
Sócio(s):Leonardo Guilherme e Rubens Melo
Sede:Uberlândia (MG)
Início das atividades:junho de 2016
Investimento inicial:R$ 1,5 milhão
Faturamento:R$ 500.000 (em 2016)
Contato:contato@gamific.com