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que 2+2=4; para Burgess, ser livre significa ser capaz de escolhas morais.
Hoje, olhando à nossa volta, podemos concluir que o erro e a ingenuidade que Burgess
aponta a Orwell podem não ter sido erro nem ingenuidade: o hiperfascismo de Nineteen
Eighty-Four pode ser uma figura retórica, uma hipérbole, da qual não se espera que o
leitor faça uma interpretação literal, mas tem afloramentos numerosos e óbvios nas
sociedades actuais, mesmo nas mais democráticas.
Já o erro de Burgess é mais difícil de levar à conta de retórica. O Alex de A Clockwork
Orange reaparece em 1985 sob a forma de um gang juvenil particularmente violento que
acolhe e protege Bev Smith em troca de lições de História, Latim e Grego. Faz rir a ideia
dum bando de skinheads ou equivalente a interessar-se pela cultura clássica, mas
Burgess justifica esta implausibilidade pela irreverência e pela revolta "naturais" na
adolescência: se a autoridade proíbe o ensino da História, das línguas clássicas e da
língua materna na sua norma culta, então a oposição dos jovens à autoridade levá-los-á a
procurar o que lhes é proibido.
Hélas, não foi isto que aconteceu nos últimos trinta anos. É verdade que certas tribos
urbanas, como os "góticos" ou os "emos", dão alguns sinais de ter consciência da falta de
alguma coisa essencial na herança que nos preparamos para lhes deixar; mas não sabem
que coisa é essa, e muito menos lhes passa pela cabeça que possa ter alguma coisa a ver
com o ensino da História ou do Latim.
Mais grave ainda: o populismo anti-elitista e anti-intelectual que Burgess temia acima de
tudo veio-nos, não pela mão dos sindicatos, mas pela mão daqueles de quem ele
esperava protecção. O apelo à rebeldia, ao individualismo, à mudança rápida, à ruptura
com o passado, vem-nos hoje, como mostra Thomas Frank em One Market under God,
já não da contra-cultura dos anos sessenta, mas sim da publicidade com que as grandes
empresas inundam os media. Os bilionários já não são uma elite gananciosa e
exploradora: usam jeans, comem hamburgers e são vítimas, como qualquer pessoa
vulgar, da perseguição que lhes move uma casta privilegiada, snob, elitista, intelectual e
académica que tem a veleidade de "saber mais que os mercados" e não aceita submeter-
se a eles com a mesma confiança simples e cega com que um bom muçulmano se
submete a Allah.
E assim se restaura a luta de classes: do lado dos oprimidos vemos Bill Gates, de braço
dado com o nosso vizinho do lado: se não os une a condição económica, une-os a
condição de "homens simples" a fé comum num catecismo (orwelliano que baste) que
afirma, entre outras coisas, que a verdadeira prosperidade está em trabalhar cada vez
mais por cada vez menos dinheiro e que a verdadeira igualdade é a desigualdade
extrema. Do lado dos opressores estão todos os que se atrevem a pôr em dúvida estas
verdades sagradas; e em representação destes "privilegiados" surgem, em primeiro
plano, os professores e os académicos.
Nota: Durante os longos dias que demorei a escrever este texto, não deixei de
acompanhar os textos a todos os títulos notáveis que o Ramiro Marquestem estado a
publicar no ProfEducação, nomeadamente a série "Há um plano para imbecilizar as
novas gerações" Não é paranóia: há mesmo esse plano. Espero que a leitura ou
releitura dos livros que aqui comento ajude a clarificar as estratégias de marketing
político que o apoiam.
Publicada por JOSÉ LUIZ FERREIRA à(s) 18:30 4 comentários:
sexta-feira, 4 de dezembro de 2009
Rascunho
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10/11/2020 TEXTOS LONGOS
The facts on DV are simple; among them are these: (1) women are as likely as men to
commit domestic violence; (2) women are about twice as likely as men to be injured by
domestic violence; (3) women are about twice as likely as men to report being a victim of
DV; (4) women are somewhat more likely than men to initiate domestic violence, i.e.
they're not just responding to what the man did and (5) the strongest predictor of
whether a woman will become a victim in a DV incident is that she started it (moral:
ladies, if you don't want to get hit, don't hit).
Over 270 separate studies done by dozens of different researchers since 1975 have
concluded exactly those things and many more. As recently as October, 2008, a study of
dating violence among students at the University of Florida found that the young women
were slightly more likely to have engaged in dating violence than were the young men. In
2007, an 11,000-person study by the Centers for Disease Control again found that,
Almost 24% of all relationships had some violence, and half (49.7%) of those
were reciprocally violent. In nonreciprocally violent relationships, women
were the perpetrators in more than 70% of the cases. Reciprocity was
associated with more frequent violence among women (adjusted odds ratio
[AOR]=2.3; 95% confidence interval [CI]=1.9, 2.8), but not men (AOR=1.26;
95% CI=0.9, 1.7). Regarding injury, men were more likely to inflict injury
than were women (AOR=1.3; 95% CI=1.1, 1.5), and reciprocal intimate
partner violence was associated with greater injury than was nonreciprocal
intimate partner violence regardless of the gender of the perpetrator
(AOR=4.4; 95% CI=3.6, 5.5).
A história de Tony Blair podia ter sido tirada inteirinha de Tácito. Um rapazinho como
tantos outros da classe média com todas as atitudes correctas (os ricos têm o dever de
subsidiar os pobres, as forças armadas devem ser mantidas sob controlo, os direitos civis
têm que ser defendidos contra a intrusão do estado) mas sem bases filosóficas e reduzida
capacidade de introspecção, e sem outra bússula que não seja a ambição pessoal,
embarca na viagem da política, com todas as distorções a que esta sujeita quem a faz, e
acaba por se tornar um entusiasta da ganância empresarial e um pau-mandado dos seus
senhores em Washington, fingindo lealmente que não vê nada (não ver o mal, não ouvir
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10/11/2020 TEXTOS LONGOS
Em privado homens como Blair defendem as suas acções dizendo que os seus críticos
(sempre designados como críticos de sofá) se esquecem que neste mundo longe do ideal
a política é a arte do possível. E vão mais longe: a política não é para maricas, dizem,
entendendo-se por maricas quaisquer pessoas que revelem relutância em comprometer
os seus princípios morais. Por natureza a política é incompatível com a verdade, dizem
eles, ou pelo menos com a prática de dizer a verdade em todas as circunstâncias. A
História há-de dar-lhes razão, concluem - a História com a sua visão de longo prazo.
Tal como Bair, Fidel dirá em privado: É muito fácil para os críticos fazer os seus
julgamentos idealistas, mas não sabem a que pressões eu estava sujeito. O que estas
pessoas aduzem sempre é o chamado princípio da realidade; as críticas que lhes são
feitas são sempre utopicas, irrealistas.
O que as pessoas normais se cansam de ouvir aos seus governantes são declarações que
nunca são exactamente a verdade: um pouco aquém da verdade, ou então um pouco ao
lado da verdade, ou então a verdade com um efeito que a faz sair da trajectória. As
pessoas estão ansiosas por alguma coisa que as livre destas ambiguidades incessantes.
Daqui a sua fome (uma fome moderada, devemos admitir) de ouvir de modo articulado e
inteligível o que outras pessoas capazes de se exprimirem articuladamente e exteriores
ao mundo político - académicos, homens de igreja, cientistas ou escritores - pensam
sobre os negócios públicos.
Mas como pode esta fome ser saciada por um mero escritor (para falar só de escritores)
quando o domínio dos factos ao seu dispor é geralmente incompleto ou incerto, quando
até o seu acesso aos chamados factos se faz através dos media integrados no campo de
forças da política, e quando, muitas vezes, e devido à sua vocação, está mais interessado
no mentiroso e na psicologia da mentira do que na verdade dos factos?
Publicada por JOSÉ LUIZ FERREIRA à(s) 17:59 Sem comentários:
sábado, 31 de outubro de 2009
Pela mesma razão não tenciono responder às críticas que me foram feitas, apesar da
consideração que me merecem os seus autores e do mérito que reconheço a muitas delas.
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10/11/2020 TEXTOS LONGOS
Suponhamos, então, que o meu modelo era perfeito e que era aplicado. Ou que se
descobria e aplicava um outro que fosse perfeito. Resultaria daqui uma melhoria
evidente e imediata na qualidade dos professores?
Nem por sombras. Um bom modelo de avaliação é condição necessária para que
tenhamos melhores professores, mas está longe, muito longe, de ser condição suficiente.
Uma melhoria significativa da qualidade dos professores implicaria, logo na fase de
recrutamento, que se fosse buscar às universidades os melhores graduados - competindo
as escolas, para tal, com outras carreiras e com outras opções de vida, incluindo a
emigração que nos está a privar, dia a dia, dos nossos jovens mais qualificados. A
carreira docente precisaria, para atrair estes jovens, de ser muito mais atraente do que é
hoje - quer em termos de remuneração, quer de estabilidade, quer de probabilidades de
progressão, quer em prerrogativas - e destaco, de entre estas, a que mais afronta a
tradicional inveja e o tradicional anti-intelectualismo dos portugueses: tempo livre para
reflectir, estudar e adquirir o ascendente cultural que, mais do que qualquer outra coisa,
confere autoridade aos professores. É esta, de resto, a moeda utilizada em todo o mundo,
à falta de dinheiro, para pagar aos professores.
Se a carreira docente não for suficientemente aliciante para atrair os jovens mais
qualificados, então qualquer modelo de avaliação, mesmo que perfeito, acabará por
escolher apenas os melhores de entre os piores.
Para responder a esta pergunta basta fazer o thought experiment proposto, salvo erro,
pelo Ramiro Marques (se ele me estiver a ler, peço-lhe que me forneça o link para incluir
aqui): trocar os alunos da melhor escola do ranking pelos da pior e ver os resultados ao
fim de um ano lectivo. Concluiremos imediatamente que para a boa aprendizagem
concorrem decisivamente a atitude que os alunos trazem para a escola, a acção ou
inacção dos pais, as condicionantes socioculturais, etc. Uma política que vise melhores
aprendizagens terá que actuar sobre todos estes factores e não apenas sobre a qualidade
dos docentes.
Temos então que a avaliação dos professores, mesmo que perfeita, só parcialmente
contribui para a sua qualidade; e que a qualidade dos professores, mesmo que excelente,
só parcialmente contribui para a melhoria das aprendizagens. Mesmo que perfeita, a
avaliação será sempre uma fracção duma fracção. Sendo imperfeita, é uma fracção
menor.
Anuncia-se para breve um novo modelo de avaliação dos professores. Não espero dele
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Anuncia-se, também, um novo Estatuto da Carreira Docente. Também não espero dele
que seja muito mais do que adequado; mas para ser adequado terá que premiar, em vez
de punir como o actual, a opção dos jovens mais qualificados pela condição de professor.
O debate não terminará aqui, porque o modelo de avaliação e o estatuto, não sendo
perfeitos mas apenas adequados, continuarão naturalmente a despertar contestações
legítimas e exigências de aperfeiçoamento. Mas se modelo e estatuto forem
suficientemente bons, deixarão o centro do debate e passarão para as suas margens, de
onde nunca deviam ter saído.
E nesta altura não teremos chegado ao fim: teremos chegado ao princípio dum debate,
este, sim, urgente: como melhorar o ensino (repito, o ensino) em Portugal? E aquando
deste debate, não nos contentaremos com o meramente adequado: exigiremos o melhor.
Não seremos modestos no pedir. Não queremos um ensino ao nível da média europeia:
exigiremos um ensino ao nível dos melhores do Mundo.
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