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Grupo de Estudos Virtuais em

Teatro do Oprimido

Síntese de trecho da obra – A abstração medieval

Nesse capítulo, Boal se dedica a construir um breve apanhado histórico, que reafirma as suas convicções de que a
Arte, desde da Grécia Antiga, foi utilizada como um instrumento hábil a dominação dos indivíduos mais
vulneráveis econômicamente.

Pg. 71

Ele inaugura a sua exposição, atentando para o fato de que toda Arte constitui-se sempre numa forma sensorial,
vocacionada a trasmitir determinados conhecimentos, subjetivos, objetivos, individuais ou sociais, particulares ou
gerais, abstratos ou concretos.

Com base na filosófica marxista acrescenta que tais conhecimentos são revelados de acordo com a perspectiva do
artista e do setor social, ao qual está radicado, e que o patrocina, paga e consome sua obra. Assim, existe um
setor dotado de poderio econômico que dirige a produção artística com o próposito de manutenção de seu poder.

Nas palavras do autor: “A arte dominante, será sempre a da classe dominante, eis que esta é única possuidora dos
meios de difundi-la preponderantemente”

Pg. 72

Para Boal, o teatro é determinado pela sociedade muito mais severamente que as demais artes, dado ao seu
contato imediato com a pláteia, além do seu maior poder de convencimento. À título de exemplo, ele cita a
influência da tulmutuosa pláteia isabelina na escrita dramatúrgica de Shaskepeare e a compara com a de
Sheridan, o qual dotado de delizadeza, certamente teria grande insucesso se apresentasse para esse mesmo
público.

Citando Hauser, em sua obra: “A História Social da Arte”, Boal revela que o conteúdo das tragédias gregas era
extremamente aristocrático, ainda que os aspectos externos dos espetáculos pudessem denotar um suposto ideal
democrático. Questionando com criticidade a democracia ateniense, denuncia o seu caráter imperalista e o fato
de que as guerras só traziam benefícios para a parte dominante da sociedade, daí porque o Estado e os homens
ricos só consentiam com a encenação de peças, cujo o conteúdo não lhes parecesse contrário aos seus ideais de
dominação.

Pg. 73 - 74

Sobre a Arte feudal, Boal adverte que toda a sua produção visava atingir unicamente os objetivos do clero e da
nobreza: imoblizar a sociedade, perpetuando o sistema vigente. A arte na Idade Média cumpria uma missão
coercitiva e autoritária, incutindo no povo, solenemente, uma atitude de respeito religioso pela sociedade tal qual
ela era.

A própria Igreja simplesmente tolerava e, mais tarde, utilizava a arte como mero veículo de suas ideias, dogmas,
preceitos, mandamentos e decisões. Os meios artísticos significavam uma concessão que o clero fazia às massas
ignorantes, incapazes de ler e de seguir um raciocínio abstrato, e que podiam ser atingidas exclusivamente através
dos sentidos.

De maneira perspicaz, Boal observa que as figuras sagradas representavam uma inquebrantável aliança entre os
senhores feudais e a divindade. Assim, a figura dos santos jamais seria representada trabalhando, mas sim em
ociosidade, uma característica que identificava em boa medida, um senhor poderoso. Jesus, por sua vez, nunca
era representado com um semblante que denotasse alguma dor ou sofrimento, já que isso poderia suscitar certa
identificação com as classes menos favorecidas, pelo contrário, sua feição expressaria sempre tranquilidade e
felicidade pela perspectiva de voltar ao doce convívio do Pai Celestial. Quanto ao Juízo final, tema muito
revisitado pelos artistas, era sempre utilizado para intimidar os pobres mortais, mostrando-lhes os sofrimentos e
os terríveis castigos.

No teatro também se revela uma tendência abstratizante, quanto à forma e doutrinarizante, quanto ao conteúdo.

Pg. 75-77

Os personagens tipificamente feudais não eram seres humanos, mas abstrações dos valores morais e religiosos,
não existindo no mundo real e concreto. Os mais típicos chamavam-se Lúxuria, Pecado, Virtude, Anjo, Diabo etc…

Esquematicamente, as peças desse período podiam ser divididas em: Peças do Pecado e Peças da Virtude. Como
2 Grupo de
exemplo da primeira categoria Estudos
tem-se: Virtuais em Teatro
a “Representação dedoAbraão
Oprimido / Mar-Abr2020
e Isaac, seu filho” e da segunda, cita-se o
espetáculo: “Todomundo”.

Boal assevera que não é de estranhar que os dois espetáculos tenham sido escritos quando a burguesia já estava
bem desenvolvida e forte: os conteúdos se aclaram na medida em que se aguçam as contradições sociais.

Por isso, para o autor, as peças dirigidas a um só objeto correm o risco de contrariar um princípio fundamental do
teatro, que é o conflito, ou a contradição, ou qualquer tipo de choque ou combate.

Por fim, concluí que com o nascimento da burguesia origina-se uma nova poética, que tem Maquiavel como seu
precursor.

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