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CONTEXTUALIZAÇÃO DA AGRICULTURA FAMILIAR EM

MATO GROSSO

2ª OFICINA DE CONCERTAÇÃO ESTADUAL DE


MATO GROSSO

INTEGRAÇÃO
ENSINO – PESQUISA – ATER – AGRICULTURA FAMILIAR

EMBRAPA AGROSSILVIPASTORIL

SETEMBRO- 2014

SINOP / MT

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SUMÁRIO

Apresentação .................................................................................................................. 4
1.0. Considerações sobre o sistema produtivo agropecuário mato-grossense ............... 5
2.0. A agropecuária mato-grossense............................................................................... 5
3.0. O setor rural do estado de Mato Grosso................................................................... 6
4.0. Agricultura familiar e sua Importância para o Estado ............................................... 8
5.0. Principais cadeias produtivas praticadas na agricultura familiar em Mato Grosso ... 8
5.1 Cadeia produtiva do leite ....................................................................................... 9
5.2. Cadeia produtiva da mandioca ........................................................................... 12
5.3. Cadeia produtiva de frutas, legumes e verduras – FLV’s.................................... 15
5.4. Cadeia produtiva da piscicultura ......................................................................... 19
5.5. Cadeia produtiva da apicultura ........................................................................... 21
5.6. Cadeia Produtiva de Sistemas Agroflorestai – SAF’s ......................................... 23
6.0. Aplicação de crédito rural do PRONAF na agricultura familiar em Mato Grosso .... 24
7.0. Uso de tecnologia, acesso a mercados e renda ..................................................... 26
8.0. Renda e pobreza no meio rural .............................................................................. 26
9.0. Proposta de intervenção para a promoção do desenvolvimento da agricultura
familiar ........................................................................................................................... 27
10.0. Capacitação de técnicos e de agricultores familiares com foco nas cadeias
produtivas ...................................................................................................................... 28
11.0. Referência bibliográfica ........................................................................................ 30

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LISTA DE FIGURA
Figura 1. Municípios com os maiores índices de aglomeração na cadeia produtiva de
leite em Mato Grosso, 2009........................................................................................... 12
Figura 2. Municípios com maiores índices de aglomeração na cadeia produtiva de
mandioca em Mato Grosso – 2009................................................................................ 15
Figura 3. Municípios com os maiores índices de aglomeração na cadeia produtiva da
fruticultura em Mato Grosso – 2009 .............................................................................. 19

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LISTA DE TABELA
Tabela 1. Famílias da agricultura familiar por comunidades tradicionais e
assentamentos da reforma agrária em Mato Grosso ...................................................... 6
Tabela 2. Famílias da agricultura familiar por Consórcio Intermunicipal de
Desenvolvimento Socioeconômico e Ambiental de Mato Grosso .................................... 7
Tabela 3. Amostra dos produtores entrevistados para o diagnóstico da cadeia produtiva
do leite no estado de Mato Grosso ................................................................................ 10
Tabela 4. Produção e produtividade dos produtores entrevistados no estado de Mato
Grosso em 2010/2011 ................................................................................................... 10
Tabela 5. Produção de mandioca em Mato Grosso – Ano de 2012 .............................. 14
Tabela 6. Valor das FLV’s mercantilizados em Mato Grosso, atualizados para o ano de
2013 (em R$ mil) ........................................................................................................... 16
Tabela 7. Principais frutas cultivadas em Mato Grosso, no ano de 2012 ...................... 18
Tabela 8. Produtores, colméias, produção, representação associativas e estrutura de
apoio na cadeia produtiova da apicultura, por consórcio intermunicipais em Mato
Grosso ........................................................................................................................... 22
Tabela 9. Volume de crédito do plano safra para Mato Grosso..................................... 24
Tabela 10. Nº de estabelecimentos da agricultura familiar segundo o censo do IBGE, nº
de agricultores assentados segundo dados do INCRA, nº de DAP's válidas no sistema
do MDA, nº de contratos e valor contratado no Pronaf na safra 2012/2013 (até 30 de
abril de 2013), segundo o Bacen, no estado de Mato Grosso ....................................... 25
Tabela 11. Operações de crédito do PRONAF realizadas/Banco do Brasil S/A – Safra
2011/2012, 2012/2013 e 2013/2015 .............................................................................. 25
Tabela 12. Quantidade percentual de agricultores familiares que utilizam o crédito rural
do PRNAF em Mato Grosso .......................................................................................... 26
Tabela 13. Renda familiar “per capita” de segmentos da população rural em Mato
Grosso ........................................................................................................................... 27
Tabela 14. Módulos de treinamento e técnicos capacitados de forma contínua em Mato
Grosso no período 2011/13 ........................................................................................... 29

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Apresentação

Este documento objetiva subsidiar a Oficina de Concertação – Fase II, na


abordagem do tema Ensino, Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural e
Agricultura Familiar em Mato Grosso.
Elaborado a partir da compilação de informações disponíveis a respeito da
Agricultura Familiar no Estado, buscou-se dar um encadeamento de conteúdo capaz de
facilitar e estimular as discussões em torno do tema, no sentido de obter propostas que
possam compor uma agenda mínima de ações contemplando: Ensino, Pesquisa, ATER
e Agricultura Familiar, para a elaboração do Plano de Desenvolvimento da Agricultura
Familiar no estado de Mato Grosso.

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CONTEXTUALIZAÇÃO DA AGRICULTURA FAMILIAER EM MATO GROSSO

Engº Agrº Almir de Souza Ferro (1)


Méd. Vet. João Batista de Vechi (2)

1.0. Considerações sobre o sistema produtivo agropecuário mato-grossense


No estado de Mato Grosso, como exemplo do padrão da agropecuária brasileira,
também existem dois “padrões” de sistemas produtivos: da “agricultura empresarial” e
“agricultura familiar”. Possuidores de lógicas distintas, esses dois padrões apresentam
demandas e relações próprias que necessitam de políticas governamentais
diferenciadas e instrumentos de intervenção específicos que, entre si, ora se integram,
ou se complementam ou são independentes.
A agricultura empresarial se caracteriza por ser uma atividade essencialmente
econômica, que se consolidou a partir das políticas de substituição das importações,
que promoveram a modernização da agricultura e o desenvolvimento do complexo
agroindustrial, voltada principalmente para a produção de commodities, com uso
intensivo de insumos, tecnologias poupadoras de mão de obra, visando à maximização
do retorno do capital. O alto desempenho deste padrão se deve basicamente a sua
capacidade de apropriação dos resultados da pesquisa agropecuária, através da
assistência técnica qualificada em um ambiente econômico favorável, o que permite
acesso a capitais e investimentos em tecnologias que se encontram no “estado da arte”
no setor agrícola. O resultado é que a produtividade e a competitividade de alguns
setores e produtos se colocam entre os mais elevados do mundo, a ponto de provocar
reações defensivas de economias desenvolvidas para proteção de seus mercados.
A agricultura familiar, por sua vez, se caracteriza por explorar e fazer a gestão de
suas unidades produtivas com o trabalho da própria família, tendo como base relevante
às atividades da: agropecuária, extrativismo, pesca e outras o seu modo peculiar de
vida. Neste caso a propriedade rural supera a função econômica da exploração para se
constituir no espaço vital do indivíduo e da sua família. A diversidade, modo de vida,
inserção social que constituem essa agricultura, tornando-a dependente da ação do
Estado que deve editar políticas voltadas a esses segmentos com o intuito de promover
sua inserção multidimensional (técnica, social, econômica, ambiental, política),
respeitando suas peculiaridades.
Ainda que não possua os mesmos recursos, a organização e o dinamismo da
agricultura empresarial, as pequenas propriedades são responsáveis pela geração da
maior parte dos alimentos voltados ao mercado interno e por metade do Valor Bruto da
Produção Agropecuária - VBP, ocupando 80% da mão de obra do espaço rural.

2.0. A agropecuária mato-grossense


A agropecuária é o principal segmento econômico e social de Mato Grosso e
constitui-se na mais relevante atividade sustentável para a maioria dos municípios,
tendo em vista sua capacidade de dinamizar economias locais, além de oferecer
rápidas respostas aos investimentos e de remunerar o capital aplicado em curto prazo.
A maior parte da renda, dos empregos, dos impostos e das taxas nesses
municípios é gerada ou se origina nas atividades agropecuárias. Em torno de 70% da
população economicamente ativa dos municípios do Estado está empregada no
segmento agropecuário, representado pelo agronegócio.

(1) EMPAER-MT - Especialista em Metodologia de Planejamento Participativo e da Cultura da Mandioca; e 5


(2) EMPAER-MT - Especialista em Comunicação e Metodologia em Extensão Rural e Agente de Inovação e
Difusão Tecnológica – AGINTEC.
O Estado possui uma agricultura de commodities forte e muito competitiva no
cenário nacional e mundial. Esse segmento da agricultura mato-grossense, constituído
principalmente por grandes e médios produtores é bem estruturado quanto à pesquisa,
assistência técnica e apropriação de inovações tecnológicas e, portanto, menos
dependente de ações do Estado em relação a essas demandas. Enquanto que, o
representado pela a agricultura familiar, demanda uma atuação forte do Estado para
prover infraestrutura, assistência técnica, programas de fomento e outras políticas
públicas. Por outro lado, representa um potencial importante para dinamizar a
economia, reduzir a dependência de importações de alimentos, gerar empregos no
campo e fortalecer as economias locais.
Atualmente existem no estado de Mato Grosso, 188 mil agricultores, dos quais 48
mil são médio-grandes produtores e 140 mil são agricultores familiares.

3.0. O setor rural do estado de Mato Grosso


O setor rural de Mato Grosso, nas últimas décadas, passou por grandes
transformações quanto à estrutura fundiária, pelo fato da quantidade de famílias de
pequenos produtores que regularizou a posse de suas terras e de novos produtores
que se instalaram principalmente por força dos programas de regularização fundiária e
de reforma agrária implantados.
No período entre 1986 e 2000, segundo dados do Anuário Estatístico de Mato
Grosso e INCRA/2000, foram criados no estado, 274 projetos de assentamentos de
reforma agrária, com um número de famílias beneficiárias da ordem de 53.470. Já em
2009, a EMPAER-MT, por meio de estudo realizado através de levantamentos de
campo e de consultas aos órgãos responsáveis pelos programas de reforma agrária
como INCRA-MT, INTERMAT e CRÉDITO FUNDIÁRIO, constatou a existência de 718
projetos de assentamentos, com 90.046 famílias assentadas e 1.228 comunidades
rurais com 50.155 famílias de agricultores tradicionais (Tabela 1).

Tabela 1. Famílias da agricultura familiar por comunidades tradicionais e


assentamentos da reforma agrária em Mato Grosso

ASSENTAMENTOS DE REFORMA AGRÁRIA


COMUNIDADES TOTAL/
TRADICIONAIS CRÉDITO
INCRA-MT INTERMAT FAMÍLIAS
FUNDIÁRIO
N° Famílias N° Famílias N° Famílias N° Famílias

1.228 50.155 418 73.247 124 10.912 176 5.887 140.201

Fonte: EMPAER-MT, abril/2009


Em Mato Grosso, existem 140,2 mil agricultores (as) que vivem e produzem em
regime de economia familiar, conforme estudo realizado pela EMPAER-MT, em abril de
2009. A distribuição das famílias foi agrupada de acordo com os Consórcios
Intermunicipais de Desenvolvimento Socioeconômico e Ambiental (Tabela 2).

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Tabela 2. Famílias da agricultura familiar por Consórcio Intermunicipal de Desenvolvimento Socioeconômico e Ambiental de Mato
Grosso
COMUNIDADES ASSENTAMENTOS DA REFORMA AGRÁRIA
N° CONSÓRCIOS TOTAL/
TRADICIONAIS INCRA INTERMAT CRÉDITO FUNDIÁRIO
ORDEM INTERMUNICIPAIS FAMÍLIAS
N° Famílias N° Famílias N° Famílias N° Famílias
1 Vale do Guaporé 118 2.069 38 5.843 2 73 5 170 8.155
2 Portal da Amazônia 200 7.391 70 15.166 3 1.354 - - 23.911
3 Vale do Juruena 48 7.546 16 5.749 4 622 - - 13.917
4 Norte Araguaia 18 433 36 8.657 3 344 - - 9.434
5 Araguaia 8 297 15 3.588 2 66 - - 3.951
6 Médio Araguaia 20 1.317 29 6.166 1 80 11 434 7.997
7 Portal do Araguaia 21 942 7 988 1 26 4 115 2.071
8 Nascentes do Araguaia 44 1.278 11 791 2 35 8 231 2.335
9 Alto do Rio Paraguai 71 2.221 38 4.671 6 204 23 1.006 8.102
10 Alto Teles Pires 49 3.615 32 3.802 - - 10 280 7.697
11 Vale do Teles Pires 166 4.725 8 3.705 6 626 - - 9.056
12 Vale do Arinos 26 2.164 13 4.139 2 71 12 360 6.734
13 Complexo Nascentes do 171 5.352 35 3.173 4 179 15 652 9.356
14 Pantanal
Região Sul 85 4.735 45 3.718 5 211 23 706 9.370
15 Vale do Rio Cuiabá 183 6.070 26 3.091 83 7.021 65 1.933 18.115
TOTAL 1.228 50.155 419 73.247 124 10.912 176 5.887 140.201
Fonte: EMPAER-MT, abril/2009

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4.0. Agricultura familiar e sua Importância para o Estado
No PPA 2012/2015 do estado de Mato Grosso (Plano Plurianual - 2012/2015,
SEPLAN/MT, 2012), na descrição do Cenário Socieconômico, Ambiental e Institucional
do Estado, Dimensão Econômica, traz a seguinte abordagem sobre a Agricultura
Familiar:

 Aspectos gerais da situação da agricultura familiar


Os setores ligados ao agronegócio tendem a se manter em nível tecnológico elevado e
acompanhar as inovações em escalas nacional e internacional. A agricultura familiar e do
pequeno produtor rural de Mato Grosso, em contrapartida, dependem de políticas públicas
que facilitem o seu acesso às novas tecnologias;
Em geral, os produtores na agricultura familiar, sofrem para alcançar uma escala mínima de
produção, devido às limitações na capacidade de investimento, falta de assistência técnica e
acesso às novas tecnologias de modo a ampliar sua produtividade; e
A agricultura familiar do estado de Mato Grosso tem relevante importância estratégica, pois
mais de 90% dos agricultores exploram a atividade da cultura da mandioca, fruticultura e
pecuária de leite.
As propriedades rurais exploradas em regime de economia familiar exercem forte
predomínio no Estado, representando em torno de 75% dos estabelecimentos rurais.
A agricultura familiar é responsável pela produção dos alimentos básicos que são
ofertadas à mesa da população mato-grossense tais como: feijão, arroz, milho, leite e
derivados, frutas, hortaliças, mandioca e pequenos animais. É uma forma de produção
em que o núcleo de decisões, gerência, trabalho e capital é controlado pela família,
cujo perfil é essencialmente distributivo de renda e segue um modelo sustentável, que
permite diluir os custos, aumentar a renda, aproveitar as oportunidades de oferta
ambiental e disponibilidade de mão de obra. Por outro lado, representa um potencial
importante para dinamizar a economia, reduzir a dependência de importações de
alimentos, gerar empregos no campo e fortalecer as economias locais. E, por ser uma
agricultura diversificada traz benefícios agrícolas, socioeconômicos e ambientais.

5.0. Principais cadeias produtivas praticadas na agricultura familiar em Mato


Grosso
As principais cadeias produtivas do Estado praticadas pelos agricultores
familiares são:
 cadeia produtiva do leite;
 cadeia produtiva da piscicultura;
 cadeia produtiva de frutas, legumes e verduras – FLV;
 cadeia produtiva da mandioca;
 cadeia produtiva da apicultura;
 sistemas agroflorestais - SAF’s;
 cadeia produtiva da avicultura (frango tipo caipira);
 cadeia produtiva de grãos (arroz, feijão e milho).
Quanto às lavouras, destacam-se a cultura da mandioca e com pequena
expressão o arroz, feijão e milho.
Dentre as frutas destacam-se a cultura da banana no norte do Estado e do
abacaxi nas regiões: central, sul e oeste.

8
A produção de verduras e legumes é mais expressiva nos municípios próximos
aos centros consumidores de maior população.
As cadeias produtivas da pecuária são praticadas, em grande parte, nos
estabelecimentos familiares, destacando-se: bovino de leite, bovino de corte,
piscicultura, suínos e aves para subsistência.
Quando é analisado o Valor Bruto da Produção – VBP, gerado pelas atividades
agropecuárias, observa-se que duas explorações sobressaem-se às outras: a criação
de bovinos de leite e de corte, que confirma a predominância da pecuária,
principalmente a bovinocultura de leite, na agricultura familiar, fator este, que em
algumas regiões do Estado, com grande concentração de estabelecimentos familiares,
estão localizadas as principais bacias leiteiras.
No Brasil a agricultura familiar é a principal responsável pela geração de
alimentos voltados ao mercado interno. De acordo com dados do IBGE (2006), é
responsável por 10% do Produto Interno Bruto Nacional, movimenta riquezas da ordem
de R$ 160 bilhões por ano, ocupa 80% da mão de obra no meio rural e respondem pela
produção de 25% do café, 31% do arroz, 67% do feijão, 52% do leite, 49% do milho,
58% dos suínos, 40% de aves e ovos e 84% da mandioca.
Em Mato Grosso os registros sobre a produção da agricultura familiar são
escassos e pouco se sabe sobre os índices de produtividade e da produção gerada
pelas cadeias produtivas exploradas em regime de economia familiar. Neste caso,
elaboraram-se diagnósticos das cadeias produtivas como: do leite, da mandioca, da
piscicultura (em andamento) e podem-se obter maiores informações.
Três cadeias produtivas: do leite, da mandioca e da fruticultura, foram estudas
sob o Índice de Concentração Normatizada – ICN. O ICN permite verificar o grau de
aglomeração dessas cadeias produtivas, em cada município a partir de um contexto
regional ou onde existe a cadeia em análise. O grau de desenvolvimento dessas
cadeias depende, de certo modo, do estágio de adensamento das cadeias nos diversos
elos das atividades de exploração e extração com as de transformação,
industrialização e comercialização. Os dados são apresentados a seguir, na
abordagem das respectivas cadeias produtivas.
5.1 Cadeia produtiva do leite
Na cadeia produtiva do leite foi realizado nos anos de 2010 e 2011 um
diagnóstico promovido pela Famato, Senar-MT, OCB e Sescoop-MT, cuja parte dos
dados de produção de leite, são apresentados a baixo.
Pelos dados do referido diagnóstico, na cadeia produtiva do leite, observa-se
índices muito baixos de produção e de produtividade. Foram entrevistados 380
produtores, nas faixas de produção de: Até 50 litros/dia; de 51 a 100; de 101 a 200; de
201 a 500 e Acima de 500 litros/dia, em 11 municípios que concentram a maior
produção de leite do Estado (Tabela 3).
Os produtores da faixa de produção de até 50 litros/dia, corresponderam a 51%
do total dos entrevistados e produziram 37,9 litros/dia. Os produtores da faixa de 51 a
100 litros/dia, representaram 23,37%, com média de 75,08 litros/dia (Tabela 4).
Juntando as duas faixas de produção abaixo de 100 litros/dia, têm-se 280 produtores,
ou seja, 73,68% do total de produtores entrevistados que registram produção média
diária de 49,18 litros/dia. Apesar de alguns produtores terem registrado produção acima
de 500 litros/dia, a produção média entre os entrevistados foi de 92,59 leite/dia.

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Tabela 3. Amostra dos produtores entrevistados para o diagnóstico da cadeia
produtiva do leite no estado de Mato Grosso

FAIXA DE PRODUÇÃO DE LEITE (LITRO/DIA)


MUNICÍPIO TOTAL
até 50 de 51 a 100 101 a 200 201 a 500 acima de 500

Pontes e Lacerda 24 11 9 3 1 48
Guarantã do Norte 23 8 8 1 1 41
Araputanga 19 8 7 2 0 36
Terra Nova do Norte 18 8 7 2 0 35
Cáceres 17 8 6 2 1 34
Rondonópolis 17 8 6 2 2 35
Colider 17 7 6 2 1 33
Alta Floresta 16 7 6 2 1 32
São José Quatro Marcos 16 7 6 2 0 31
Jaurú 15 7 6 2 0 30
Mirassol D’Oeste 13 6 5 1 0 25
TOTAL 195 85 72 21 7 380
Fonte: Diagnóstico da cadeia produtiva do leite, no estado de Mato Grosso, 2011 - Pesquisa de campo

Tabela 4. Produção e produtividade dos produtores entrevistados no estado de Mato


Grosso em 2010/2011

FAIXA DE PRODUÇÃO DE LEITE (LITRO/DIA)


ESPECIFICAÇÃO UNIDADE de 51 a de 101 a de 201 a acima de TOTAL
até 50
100 200 500 500

Produção de leite litro/dia 37,90 75,08 135,46 281,67 850,52 92,59

Produção/vaca/em
litro/dia 4,06 5,13 6,14 7,20 12,16 5,92
lactação
Produção/total/vacas litro/dia 2,13 2,56 3,30 3,85 6,65 3,11
Produção por área litro/ha/ano 636,12 1012,34 1289,59 1724,41 3111,90 1143,66
Fonte: Diagnóstico da cadeia produtiva do leite, no estado de Mato Grosso, 2011 - Pesquisa de campo

Quanto à renda obtida com o leite, na mesma faixa de produção, os dados do


diagnóstico identificaram de que com a venda do litro de leite ao preço de R$ 0,62, os
produtores obtiveram uma renda líquida anual de R$ 2.060,76, resultando em uma
renda mensal de R$ 171,73, ou seja, equivalente a ¼ (um quarto) do salário mínimo da
época.
Enquanto que, em Mato Grosso, a produção média entre os produtores
entrevistados foi de 92,59 litros/dia, no estado de Goiás era de 245,05 litros/dia, ou
seja, 165% maior. Da mesma forma, onde a produção/vaca em lactação em Mato
Grosso foi de 5,92 litros/dia, em Goiás foi de 8,17 litros/vaca/dia, (38% maior). A
produção total de vacas em Mato Grosso foi de 3,11 litros/dia, em Goiás de 4,95
litros/dia (59% maior), e finalmente, enquanto que a produção/hectare/ano em Mato
Grosso foi de 1.143 litros/hectare em Goiás de 2.103 litros/hectare (84% maior).
10
Segundo dados da Produção Pecuária Municipal – IBGE (2012), foram
ordenhadas, no Estado 589.971 vacas de leite, com produção total de 722.348.000
(setecentos e vinte e dois milhões e trezentos e quarenta e oito mil) litros de leite,
gerando um valor da produção de R$ 548.851.000,00 (quinhentos e quarenta e oito
milhões, oitocentos e cinquenta e hum mil reais).
Atualmente, são produzidos no Estado, aproximadamente 2,5 milhões de leite/dia
na época das águas e 1,7 milhões de litros/dia na época da seca. Estima-se que no
Estado existam cerca de 30.000 produtores de leite, dos quais 90% são agricultores
familiares, porém o baixo volume e a qualidade do leite produzido, individualmente,
pelos agricultores familiares, são fatores limitantes para uma efetiva contribuição da
atividade leiteira na economia familiar. Do total de leite produzido 35% são oriundos do
sistema cooperativo.
A capacidade instalada da indústria de laticínios no Estado, para beneficiamento
de leite é da ordem de 3,0 milhões de litros/dia. Devido ao baixo volume de leite
produzido e destinado à indústria, que opera somente com 50% da capacidade.
De acordo com Dallemole e Faria (2011) em: Os Desafios e as Expectativas do
Apl da Pecuária Leiteira de Mato Grosso, a baixa produção estadual de leite pode ser
atribuída ao fato de a atividade leiteira ser conduzida com baixa tecnologia e
investimento público, pois a estrutura sócio-produtiva que a conduz é a familiar. Sabe-
se que o empreendimento familiar não é foco central das políticas públicas, o que cria
estereótipos da “baixa eficiência”, “incapacidade técnica”, “descapitalização”, dentre
outros atributos pejorativos atribuídos ao empreendimento familiar no espaço agrário.
Nas palavras de Alves (2008), a falta de recursos financeiros para “construção do solo”
é uma das características da agricultura familiar mato-grossense, o que lhe confere a
característica da não utilização total da sua área ou ainda a subutilização devido ao
não acesso a pacotes tecnológicos modernos, o que lhe confere a mais baixa renda
por hectare do país. Esta dificuldade, contudo advém da ausência de políticas efetivas
para o segmento, e não por “incompetência sistêmica”.

11
Figura 1. Municípios com os maiores índices de aglomeração na cadeia produtiva de
leite em Mato Grosso, 2009

Fonte: Plano Plurianual/2012-2015/ SEPLAN-MT

5.2. Cadeia produtiva da mandioca


O último estudo sobre a Cadeia Produtiva da Mandioca em Mato Grosso, foi
elaborado pelo (SEBRAE, 2002) e apresentado no Diagnóstico da Cadeia Produtiva
Agroindustrial da Mandioca em Mato Grosso, que descreve os aspectos sobre
produção, industrialização e comercialização da mandioca, cuja síntese é transcrita
abaixo;
O nível tecnológico utilizado pelos produtores rurais das três regiões pesquisadas é
bastante baixo, sendo mínima a utilização de insumos como: adubo, calcário e defensivos
agrícolas. A mecanização ocorre em parte das propriedades, através da contratação de
máquinas de terceiros para as operações de preparo do solo, predominando o uso da mão de
obra familiar nas outras atividades do cultivo de mandioca. Nos meses de uso mais intenso de
mão de obra, como é o caso da colheita, há formação de mutirões.
Esse baixo nível tecnológico praticado na cultura da mandioca reflete na sua
produtividade, que se oscila entre 10 e 15 t/ha. Na região da Baixada Cuiabana a média da

12
produtividade dos produtores pesquisados foi de 13,8 t/ha, na Norte Araguaia 12,1 t/ha e em
Rondonópolis 14,5 t/ha.
No entanto, através de informações obtidas na região e visitas a produtores rurais,
percebe-se que é possível grande aumento de produtividade sem grandes investimentos.
Apenas, para exemplificar podem-se obter ganhos relevantes com melhor preparo da terra
(uma gradagem mais profunda do solo), correção dos níveis de fósforo, melhor seleção das
manivas, maior densidade de covas por hectare etc.
As variedades mais utilizadas nas regiões, segundo pesquisas foram:
a) - região da Baixada Cuiabana: liberata (26,7%), vermelha (17,8%), uva (15,6%), latadeira
(13,4%) e branca (13,3%);
b) - região Norte Araguaia: mucuruna (26,7%), cacau (13,4%) e menina (13,4%); e
c) - região de Rondonópolis: roxa (31,2%), branca (25,0%), liberata (18,8%) e vassourinha
(18,8%).
A produção de farinha de mandioca é uma atividade bastante comum entre os produtores
de mandioca, realizada de forma rudimentar e com poucas ferramentas de trabalho.
A maioria das famílias que cultiva a mandioca na Baixada Cuiabana destina grande parte
de sua produção para fabricação de farinha, separando uma pequena quantidade para
consumo próprio e outra para o comércio de mandioca “in natura” nos mercados da região,
verificado nas propriedades localizadas próximo aos grandes centros urbanos, como Cuiabá e
Várzea Grande.
 Características das agroindústrias nas regiões pesquisadas:
A caracterização apresentada a seguir foi baseada em pesquisa de campo realizada em 34
indústrias, sendo 33 delas de pequeno porte, produzindo basicamente farinha de mandioca de
forma artesanal, utilizando quase que exclusivamente mão de obra familiar, estando
localizadas nas propriedades rurais, onde é produzida a matéria prima. Essas indústrias são
individuais e de associações de produtores rurais, e não possuem registros. A maioria delas
não funciona regularmente durante todo o ano, existindo períodos em que fica paralisada, em
decorrência da falta de matéria prima, em alguns casos mão de obra e até problemas de
mercado (região Norte Araguaia).
As agroindústrias estão localizadas na área rural em sua totalidade, na região da Baixada
Cuiabana e Norte Araguaia, com distância média de 23 km e 63 km, respectivamente. Com
isso o escoamento da produção é dificultado pela distância até os centros consumidores.
Muitos não possuem veículos próprios para o transporte da produção, acarretando aumento
nos custos de transporte e conseqüente diminuição do lucro. Na região de Rondonópolis as
farinheiras estão próximas do centro consumidor, o que vem a facilitar a comercialização.
O que tem determinado o local da instalação da agroindústria é a localização da área
rural do produtor, onde reside a sua família, principal fonte de mão de obra, e também onde
ocorre o plantio da mandioca, que será utilizada como matéria prima para a produção da
farinha. A única exceção ocorreu com a indústria localizada no município de Dom Aquino, que
foi determinada pela oportunidade de investimento e apoio recebido na implantação.
A maior parte da matéria prima processada nas indústrias localizadas nas regiões da
Baixada Cuiabana e Norte Araguaia é proveniente de produção própria (85,7% e 85,0%,
respectivamente). Na região de Rondonópolis a situação é inversa, predominando a compra da
matéria prima de outros produtores.
A maior parte da produção, das regiões pesquisadas é destinada ao mercado local,
principalmente nas regiões Norte Araguaia e Rondonópolis. Na região da Baixada Cuiabana,
pela existência de um grande mercado consumidor, representado pelas populações residentes
em Cuiabá e Várzea Grande, o comércio fora do município é expressivo.
A comercialização fora do Estado é insignificante, representando um mercado a ser
explorado, pois a farinha artesanal produzida é de boa qualidade e poderia facilmente
conquistar novos mercados, se contasse com o apoio das instituições públicas e privadas
vinculadas à promoção desse tipo de produtor artesanal.

13
O cenário da cadeia produtiva da mandioca, pouco foi alterado em Mato Grosso.
A área plantada na safra/2001, segundo o IBGE, foi de 27.337 ha, com produtividade
de 13.241 kg/ha e a produção obtida de 361.961 toneladas. No ano de 2012, segundo
dados da Produção Agrícola Municipal (IBGE/2012) (Tabela 5), a cultura da mandioca
no Estado apresentou o seguinte desempenho.

Tabela 5. Produção de mandioca em Mato Grosso – Ano de 2012


ÁREA PRODUÇÃO Rendimento Valor/Produção
CULTURA
(ha) (t) Médio (kg/ha) (mil reais)
Mandioca 23.891 349.917 14.646 319.323
Fonte: IBGE, Produção da Agrícola Municipal - 2012

A cadeia produtiva da mandioca, apresenta excelentes níveis de aglomeração


com ICN1 superior a 7, nos municípios de: Porto Estrela, Rosário Oeste, Colniza,
Confresa e Santa Terezinha, onde boa parte da produção é direcionada às farinheiras
e ao consumo interno em feiras e supermercados (Figura 2), (Plano/Plurianual
SEPLAN/MT, 2012).

14
Figura 2. Municípios com maiores índices de aglomeração na cadeia produtiva de
mandioca em Mato Grosso – 2009

Fonte: Plano Plurianual 2012-2015 / SEPLAN-MT

5.3. Cadeia produtiva de frutas, legumes e verduras – FLV’s


No ano de 2006 foi realizada uma Pesquisa de Mercado de Frutas, Legumes e
Verduras - FLV, junto aos supermercados das cidades de: Alta Floresta, Cáceres,
Colíder, Cuiabá, Rondonópolis, Sinop e Várzea Grande no estado de Mato Grosso,
bem como os seus consumidores.
A pesquisa teve como objetivos:
 Em relação aos supermercados, identificar
 processo e estrutura dos supermercados em relação aos procedimentos de
compra, processamento, transporte, armazenagem, exposição e venda;

15
 produtos - quantificação da compra por tipos, variedades, volumes por semana,
mês e ano;
 forma de venda:
o “in natura” - produção convencional e orgânica,
o granel e embalada;
o pré-processados: produção convencional e orgânica
o agroindustrializados;
o outros
 produtos orgânicos: estrutura de compra e exposição, tendências de compra,
formas de trabalho.
 Em relação aos consumidores, identificar
 perfil socioeconômico;
 tipificação, qualificação, hábitos, preferências, desejos em relação ao consumo de
frutas, legumes e verduras selecionadas;
 gasto com FLV e razões de preferência pelos locais de compras;
 conhecimento e utilização de FLV pré-processados, orgânicos e
agroindustrializados;
 tendências de consumo das diversas formas de cultivo e apresentação.
A pesquisa permitiu identificar, através dos consumidores, 29 frutas e 29 legumes
e verduras mais consumidas em Mato Grosso. Dentre as frutas mais consumidas, as
que mais se destacaram foram: laranja 92,1%, a melancia 78,6% e a banana nanica
74,8%. Outras frutas com boa aceitação pelos consumidores entrevistados foram:
abacaxi pérola 65,3%, banana maçã e tangerina poncã 63,1%, maracujá 62,6%,
morango 58,3%,uva Itália 54,7% e mamão formosa 53,9%.
Com relação à preferência pelos legumes e verduras demandados, foram
identificados pelos consumidores cinco produtos principais: tomate (95,9%), cebola
(93,2%), cenoura (89,7%), cebolinha (84,8%) e couve (78,9%). Também relacionaram
como regulares, compras de mandioca (86,7%), repolho (80,2%), beterraba (78,9%),
abóbora (70,5%), abobrinha (74,3%) e almeirão (51,8%).
Com o estudo de mercado também foi possível apurar o valor das FLV’s
mercantilizados em Mato Grosso, que em valores atualizados para o ano de 2013, foi
da ordem de, R$ 521.300,75 milhões de reais/ano (Tabela 6). O que chama a atenção
foi o valor de R$ 293.565,15 milhões/ano gastos com produtos que vêm de outros
Estados produtores, ou mesmo reexpedidores, que correspondem a 56,3% do total
comercializado no ano. Vale dizer que o Estado envia para “fora”, anualmente, um
volume expressivo de recursos, criando riquezas, empregos e impostos em outros
Estados e municípios do país. Estes números são ainda mais elevados quando
considerarmos os produtos de clima temperado como: maçã, pêra, nectarina, pêssego,
entre outros.
Tabela 6. Valor das FLV’s mercantilizados em Mato Grosso, atualizados para o ano de
2013 (em R$ mil)
ORIGEM
PRODUTO TOTAL
DO ESTADO FORA DO ESTADO
Frutas 99.356,81 177.265,23 276.622,03
Legumes e verduras 128.378,79 116.299,93 244.678,72

16
TOTAL 227.735,6 293.565,15 521.300,75
Fonte: Pesquisa de mercado de FLV’s no estado de Mato Grosso – nov/2006 - (valores atualizados para o ano de
2013)
Através da mensuração financeira do mercado de FLV’s, foi possível efetuar um
planejamento estratégico adequado com a finalidade de tornar Mato Grosso auto
suficiente no abastecimento dos FLV’s. Dessa forma foi concebido o “Programa Mato
Grosso Auto-suficiente em FLV’s”.
Foram selecionados 32 produtos, sendo 09 legumes e verduras e 23 frutas:
 legumes/verduras: abóbora, batata doce, cebola, cenoura, milho verde, pimenta,
pimentão, repolho e tomate.
 frutas: abacaxi havaí, abacaxi perola, acerola, banana da terra , banana maçã,
banana nanica, banana prata, caju, coco verde, figo, goiaba, graviola, laranja, limão
thaiti, mamão formosa, mamão papaia/havaí, manga bourbon, maracujá, melancia,
melão, pinha, tangerina poncã, uva niágara etc.
Foram dimensionadas as áreas de cultivo, necessárias à produção e
abastecimento de FLV’s e o valor de crédito necessário à implantação das lavouras,
obtendo-se o seguinte resultado:
 legumes e verduras – 3.301 ha – R$ 32,5 milhões
 frutas – 2.655 ha – R$ 61, 7milhões
 total – 5.956 ha – R$ 94,3 milhões
Foi calculado também o custo da assistência técnica de 100 técnicos a serem
incorporados em 4 anos, cujo valor acumulado totalizou R$ 4.725,62 milhões.
Finalmente, concluiu-se que o investimento estimado para a produção, inclusive
com a assistência técnica foi da ordem de R$ 99,0 milhões que representam 34% do
gasto anual em FLV para outros Estados que é de R$ 293,5 milhões/ano. Além disso, o
programa geraria 35 mil novos empregos.
Para apoiar o programa, foi construída a Central de Comercialização, definida
como prioridade por representantes dos diversos segmentos dos municípios da
Baixada Cuiabana. A central dispõe de uma estrutura física, gerencial e mercadológica
adequada ao recebimento, armazenamento e comercialização da produção e
dimensionada para atender em torno de 16 mil agricultores familiares na
comercialização de seus produtos.
A Central de Comercialização foi construída na região metropolitana de Cuiabá,
município de Várzea Grande-MT, por oferecer melhor disponibilidade de área
adequada para a construção. O local possui uma área de 5 hectares, situado na
margem da Rodovia Ministro Mário Andreazza, ponto estratégico e com fluxo bastante
intenso, interligando os municípios do Território da Baixada Cuiabana. Os recursos
financeiros da ordem de R$ 1.346.999,00, na época, assegurado por convênio entre o
Ministério do Desenvolvimento Agrário - MDA e Governo de Mato Grosso.
Para dar prosseguimento ao programa Mato Grosso Auto-suficiente em FLV’s, a
EMPAER-MT, através de pesquisa de campo procedeu ao levantamento da produção
de Frutas, Legumes e Verduras (FLV), nos municípios do Território da Baixada
Cuiabana, identificando, também as principais limitações de ordem tecnológica,
infraestrutural, creditícia e mercadológica nas comunidades.
A produção de frutas em Mato Grosso segundo o levantamento da Produção
Agrícola Municipal, IBGE/2012, é apresentada na (Tabela 7).

17
Tabela 7. Principais frutas cultivadas em Mato Grosso, no ano de 2012
VALOR DA
ÁREA RENDIMENTO
CULTURA PRODUÇÃO PRODUÇÃO
(ha) MÉDIO
(EM MIL R$)
Abacaxi 1.966 45.466 mil frutos 23.126 frutos/ha 63.525
Banana 6015 57.387 t 9.541 kg/ha 85.240
Castanha de caju 720 311 t 432 kg/ha 778
Coco-da-baía 1.999 15.943 mil frutos 13.297 frutos/ha 14.431
Goiaba 48 213 t 4.438 kg/ha 852
Laranja 408 3.580 t 8.725 kg/ha 4.121
Limão 202 1.892 t 9.366 kg/ha 2.487
Mamão 120 2.696 t 22.467 kg/ha 2.734
Manga 120 1.773 t 14.775 kg/ha 1.462
Maracujá 681 12.659 t 18.589 kg/ha 35.503
Melancia 1.169 26.974 t 23.074 kg/ha 14.614
Melão 101 1.193 t 11.812 kg/ha 1.459
Tangerina 28 449 t 16.038 kg/ha 451
Uva 63 1.188 t 18.857 kg/ha 4.188
Fonte: IBGE, Produção da Agrícola Municipal/2012

De acordo com o Plano Plurianual (2012/2015), SEPLAN/MT, estado de Mato


Grosso tem elevado potencial para produzir frutas (manga, caju, mamão, maracujá) e
essa cadeia apresenta elevada aglomeração. Dentre os municípios com bom nível de
aglomeração, ou seja, os municípios que apresentaram maiores índices de ICN, em
2009, foram: Barão de Melgaço (32,56), Terra Nova do Norte (26,69), Porto Estrela
(14,97), Acorizal (13,29), Juína (12,14), Jangada (10,74), Cuiabá (9,15), Paranaíta
(5,78) e Várzea Grande (5,76) (Figura 3).

18
Figura 3. Municípios com os maiores índices de aglomeração na cadeia produtiva da
fruticultura em Mato Grosso – 2009

Fonte: Plano Plurianual 2012-2015 / SEPLAN-MT

5.4. Cadeia produtiva da piscicultura


Mato Grosso é considerado a caixa-d'água do Brasil por conta dos seus inúmeros
rios, aquíferos e nascentes. O Planalto dos Parecis, que ocupa toda porção centro-
norte do território, é o principal divisor de águas do Estado, repartindo as águas das
três Bacias Hidrográficas mais importantes do Brasil: Bacia Amazônica, Bacia do
Paraguai e Bacia do Araguaia/Tocantins.
Os rios de Mato Grosso estão divididos nessas três grandes Bacias Hidrográficas
que integram o sistema nacional, no entanto, devido à enorme riqueza hídrica do
Estado, muito rios possuem características específicas e ligações tão estreitas com os
locais que atravessam que representam, por si só, uma unidade geográfica, recebendo
o nome de sub-bacias. As principais sub-bacias do estado são: Sub-bacia do Guaporé,
Sub-bacia do Aripuanã, Sub-bacia do Juruena-Arinos, Sub-bacia do Teles Pires e Sub-
Bacia do Xingu. Os rios pertencentes à Bacia Amazônica drenam dois terços do
território mato-grossense.

19
Essas características dão ao Mato Grosso a vantagem de ser considerado o
Estado com maior potencial para o desenvolvimento da aquicultura de água doce.
A piscicultura em Mato Grosso, iniciada na década de 80, teve como primeiro
objetivo criar uma alternativa de renda para o pequeno produtor rural do interior do
Estado. Ao longo de 34 anos mostrou-se ser um segmento de grande importância, haja
vista suas potencialidades e as relevantes razões para sua adoção na propriedade,
como o aproveitamento de áreas, a utilização de mão de obra familiar e o retorno
financeiro por capital investido.
O potencial íctico composto de inúmeras espécies das Bacias Hidrográficas do
Alto Paraguai, Amazônica Araguaia/Tocantins que banham o estado de Mato Grosso
trouxe uma margem de liberdade muito grande aos piscicultores na escolha das
espécies com potencial para sua piscicultura. Isto se deu graças aos estudos de
pesquisa realizadas no Nordeste (DNOCS) e Sudeste (CERLA), Pirassununga-SP,
elegendo as espécies redondas como Pacu, Tambaqui e Pirapitinga, como espécies de
elevada potencialidade para serem utilizadas em piscicultura.
Hoje a hibridação dessas espécies está mudando radicalmente o cenário da
piscicultura em Mato Grosso. Os híbridos portadores de características mais propícias
ao cultivo estão dominando o cultivo em nível de Brasil. Os mais conhecidos e
cultivados no Estado são: Tambacu – cruzamento da fêmea do Tambaqui (Colossoma
macropomum) x macho do Pacu (Piaractus mesopotamicus) e Tambatinga –
cruzamento da fêmea do Tambaqui (Colossoma macropomum) x macho da Pirapitinga
(Piaractus macropomum). Com certeza esses mesmos híbridos irão dominar o cultivo
nos tanques-rede instalados em rios, represas e lagos de Mato Grosso.
A piscicultura no estado de Mato Grosso vem se firmando como uma atraente
opção de investimento, tendo sua produção aumentada, passando de 17.887 toneladas
em 2007, para 30.510 toneladas em 2009 e 36 mil toneladas no ano/2010. Mato
Grosso está classificado em 1º lugar no ranking nacional como maior produtor de peixe
nativo da região e, em 5º lugar, na produção de peixe de água doce, conforme dados
do Ministério da Pesca e Aquicultura - MPA.
Porém a cadeia produtiva, segundo a explanação do Dr Francisco Chagas,
Presidente da AQUAMAT, registrada na ata da reunião da Câmara Técnica da
Piscicultura, realizada em 70/08/2014, no estado de Mato Grosso não há plantas
processadoras para atender a toda produção do Estado, estimada em 50.000
toneladas anuais. Atualmente, existem os frigoríficos com SIF (NATIV, DELICIOUS
FISH, TRIÂNGULO, COOPERFISH, CASA DO PEIXE E BOM FUTURO), cuja
capacidade de processamento é de cerca de 14.000 t anuais.
O pequeno piscicultor tem dificuldades na comercialização do pescado devido às
características da pequena produção e as condições do produtor que apresenta
dificuldades em atender as normas sanitárias. O abate e controle sanitário do pescado
é preocupação para técnicos da Defesa Sanitária Animal. Há necessidade de
entrepostos para emissão de guias e apoiar o piscicultor no atendimento dos aspectos
sanitários, uma vez que a legislação preconiza:
(1) - caso os peixes forem destinados vivos ao frigorífico, para o transporte, devem ser
colocados em caixas isotérmicas com oxigenação e abastecidas com a mesma água
do viveiro. Nesse caso, para o transporte é necessário o GTA – Guia de Transporte
Animal fornecido pelo INDEA-MT.
(2) - se a comercialização ocorrer na forma de pescados (peixes abatidos), os peixes
deverão ser abatidos com choque térmico imediatamente ao serem retirados do tanque
e colocados em uma caixa com água gelada (com gelo quebrado ou gelo em escamas)
para que tenha morte instantânea, sem sofrimento antes da morte. Caso o peixe fique
20
com longa agonia antes de morrer o prazo de conservação da carne é reduzido,
antecipando sua deterioração (Moraes, 2012).
A Cadeia da Piscicultura é amparada por leis voltadas ao apoio da atividade, tais
como:
 a Lei Estadual nº 8.648 de 20/07/2007, isenta a cobrança de imposto sobre a
Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS);
 a Lei nº 9.619 de 04/10/2011, altera os dispositivos da Lei nº 8.464 de 04/04/2006 e
da Lei “Pró-Peixe”, nº 9.408 de 01/04/2010, dispensa do licenciamento ambiental às
pisciculturas de até 5 ha de lâmina d’água em tanque escavado e represa ou até
1.000m³ em tanque rede.
Em 2009, foi assinado pelo secretário da SEDRAF e pelo Ministro da Pesca e
Aquicultura, um Protocolo de Intenções com ações e projetos conjuntos, para estimular
o crescimento da atividade e desenvolver assistência técnica aos piscicultores. Os
signatários do protocolo são: EDRAF, MDA, MAPA e MPA. O programa prevê o aporte
de R$ 40 milhões para sua implantação e visa inundar 1.410 ha de lâmina d’água e
incrementar a produção de pescado em 7 mil t/ano.
Em agosto de 2009, foi criado o Programa Mato-grossense de Desenvolvimento
da Aquicultura “Criar Nágua”, orientação para o sucesso. O programa tem como
objetivo implantar no estado de Mato Grosso uma piscicultura com um melhor
ordenamento, que aumente a oferta do produto no mercado, atenda a demanda da
merenda escolar e proporcione uma nova alternativa de renda para o produtor.

5.5. Cadeia produtiva da apicultura


Segundo informações da Coordenação da Cadeia Produtiva da Apicultura da
Secretaria Adjunta de Desenvolvimento Regional da SEDRAF, existem no estado 891
apicultores com um total de 12.312 colméias e produção anual de 438.891 kg. Existem
também 35 associações de produtores, 02 cooperativas, 09 casas e 03 entrepostos de
mel (Tabela 8).

21
Tabela 8. Produtores, colméias, produção, representação associativas e estrutura de
apoio na cadeia produtiova da apicultura, por consórcio intermunicipais em
Mato Grosso

CONSÓRCIOS APICULTOR COLMÉIAS PRODUÇÃO ASSOCIAÇÃO/ CASA/MEL/


INTERMUNICIPAIS (nº) (nº) (kg) COOPERATIVA ENTREPOSTO
Vale do Rio Cuiabá 149 1.111 32.308 06 06/01
Alto do Rio Paraguai 40 928 32.335 04 03/01
Complexo Nasc do Pantanal 98 795 26.979 03 02/01
Vale do Guaporé 105 2.021 55.650 02/01 02/01
Vale do Juruena 158 1.175 36.694 07/01 04/01
Vale do Teles Pires 23 431 9.724 02 01/01
Portal da Amazonia 316 22.500 - -
Alto Teles Pires 176 2.148 91.508 06 02/02
Vale do Arinos 28 523 16.514 01 01/
Região Sul 49 395 31.356 - -
Nascentes do Araguaia - 93 2.500 - -
Portal do Araguaia - 495 14.956 - -
Médio Araguaia 9 1.518 54.269 01 -
Araguaia 56 107 190 03 -
Norte Aragaguaia - 256 7.408 - -
TOTAL 891 12.312 434.891 35/02 17/08
Fonte: SEDRAF/Secrecretáio Adj. de Desenvolvimento Regional/Coordenadoria de Apicultura

A apicultura praticada no estado ainda é, em boa parte, artesanal. Segundo a


Coordenadoria da Cadeia Produtiva de Apicultura da SEDRAF, foram detectados 3
(três) estágios ou níveis de exploração na atividade apícola desenvolvida: Nível
avançado, nível básico e nível inicial. As informações foram levantadas no âmbito dos
Consórcios Intermunicipais de Desenvolvimento Socioeconômico e Ambiental.
 Consórcios com a apicultura nível avançado
Vale do Guaporé, Nascentes do Pantanal, Vale do Juruena e Alto do Rio Teles
Pires.
 Principais demandas:
 infraestrutura (unidades de extração e processamento);
 estratégias de comercialização e acesso a mercados;
 capacitação em gestão empresarial e mercado;
 capacitação em diversificação na produção;
 assistência técnica em manejo e qualidade;
 programas de certificação;
 rastreabilidade e georreferenciamento;
 programas de marketing; e
 inovação tecnológica.

22
 Consórcios com a Apicultura Nível Médio
Vale do Rio Cuiabá; Vale do Teles Pires; Vale do Arinos; Região Sul;
Região do Portal da Amazônia; Médio Araguaia.
 Principais demandas:
 infraestrutura (unidade de extração e processamento);
 kit colméia;
 capacitação em manejo e qualidade;
 capacitação em gestão e administração rural;
 ações de comercialização no mercado local;
 seminários e palestras sobre tecnologia de produção.
 Consórcios com a Apicultura Nível Básico
Alto do Rio Paraguai; Alto Araguaia; Portal do Araguaia; Araguaia e Norte
Araguaia.
 Principais demandas:
 palestras de sensibilização;
 mobilização dos produtores;
 curso de iniciação;
 kit básico apicultor.

5.6. Cadeia Produtiva de Sistemas Agroflorestai – SAF’s


Em 2001 foi implantado em Mato Grosso o Projeto Promoção da Conservação e
Uso Sustentável da Biodiversidade nas Florestas de Fronteira do Noroeste de Mato
Grosso – Projeto BRA/00/G31 - PNUD.
O projeto teve apoio financeiro do Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF) e foi
implementado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e
pelo Governo do Estado de Mato Grosso, por meio da Secretaria de Estado do Meio
Ambiente (Sema/MT), contemplando os municípios de: Aripuanã, Castanheira,
Cotriguaçu, Colniza, Juína e Juruena.
Com objetivo de apoiar a região com resultados e processos demonstrativos,
políticas estaduais para compatibilizar o desenvolvimento socioeconômico e a
conservação da biodiversidade, ajudando a criar um mosaico de Áreas Protegidas
(AP’s), interligados por sistemas de produção agrícola e/ou animal que estivessem
consorciados com componente arbóreo (Sistemas Agroflorestais – SAF’s), o projeto
alcançou resultados interessantes.
O documento intitulado Desenvolvimento Agroflorestal no Noroeste de Mato
Grosso - Dez anos contribuindo para a conservação e uso das florestas – (1ª edição –
(Tito et al., 2011), após dez anos de execução do Projeto BRA/00/G31, relata os
resultados alcançados.
As espécies cultivadas nos SAF’s são: pupunha, castanheira, seringueira,
cupuaçu, coco da bahia, café, cacau, guaraná e pimenta do reino, espécies nativas de
alto valor madeireiro, além da apicultura. O projeto envolveu agricultores familiares
tradicionais e assentados pela reforma agrária e apoiou atividades vinculadas ao
suporte à comercialização e à agregação de valor dos produtos dos SAF’s, para
garantir sustentabilidade social, econômica e ambiental à iniciativa.

23
Outra iniciativa de implantar culturas em Sistemas Agroflorestais em Mato Grosso
é o Programa de Incentivo à Cacauicultura no estado de Mato Grosso apresentado
recentemente pela SEPLAC/Gerência de Mato Grosso, que através de um conjunto de
projetos visa implantar 21 mil hectares dos SAF’s com cacau na região norte mato-
grossense, nos próximos dez anos que vão gerar vários benefícios econômicos, sociais
e ambientais.
Através de aliança interinstitucional na busca de atuar fortemente em ações de
pesquisa e transferência de tecnologia em SAFs nas diversas regiões do Estado, em
dezembro de 2011 foi realizado o Módulo 01 da Capacitação Continuada em SAFs, no
município de Alta Floresta/MT. O evento abordou temas básicos visando apresentar e
discutir os conhecimentos e a metodologia para transferência de tecnologia,
desenvolvidos pela Embrapa, Empaer, Ceplac e parceiros, para a promoção do
desenvolvimento dos Sistemas Agroflorestais em Mato Grosso.
Em agosto de 2012 foi constituído o Grupo Gestor da Capacitação Continuada em
SAFs, visando estabelecer maior aproximação dos envolvidos com SAFs no Estado,
além de apoiar, propor e executar ações que possibilitem o desenvolvimento dos SAFs.
Esse grupo tem como objetivo gerenciar o processo contínuo de capacitação em
Sistemas Agroflorestais no Mato Grosso, elaborando os programas/conteúdos dos
cursos; definindo metodologias para transferência de tecnologias; realizando eventos
de capacitação para técnicos multiplicadores; apoiando a realização de eventos de
capacitação para outros técnicos e produtores; e captando recursos para as ações.
Compõem esse Grupo a SEMA, IBAMA, CEPLAC, SEDRAF, SENAR, EMPAER e
EMBRAPA.
A Capacitação Continuada em SAFs conta com 32 partcipantes e realizou até a
presente data cinco módulos de três dias, computando um total de 120 horas de
treinamento.

6.0. Aplicação de crédito rural do PRONAF na agricultura familiar em Mato


Grosso
O Plano Safra da Agricultura Familiar destinou para o Brasil, nas últimas três
safra (Tabela 9), aporte recursos da ordem de 18,0, 21,0 e 24,1 bilhões de reais, nos
últimos três anos.

Tabela 9. Volume de crédito do plano safra para Mato Grosso

PLANO SAFRA – RECURSOS DO PRONAF/PARA CUSTEIO E INVESTIMENTO

ANO AGRÍCOLA VALOR (EM R$ BILHÕES)


2012/2013 18
2013/2014 21
2014/2015 24,1
Fonte: Ministério do Desenvolvimento Agrário - MDA

O DFPP/SAF/MDA com apoio do Banco Central, apresentou os dados sobre


aplicação de crédito rural do Pronaf, na safra 2012/2013, no Brasil, incluindo também o
número de estabelecimentos da agricultura familiar segundo o censo do IBGE, ano
número de agricultores assentados segundo dados do INCRA-MT, número de DAP's

24
válidas no sistema do MDA, número de contratos e valor contratado no Pronaf, na safra
2012/13 (até 30 de abril de 2013), segundo o BACEN, por região, estado e município.
As informações apontam o estado de Mato Grosso com 86.167
estabelecimentos de agricultores familiares tradicionais e 83.560 assentados pela
reforma agrária, perfazendo um total de 169.727 imóveis rurais de agricultura familiar,
efetuou 10.541 contratos de crédito no valor total de R$ 296.803.234,00, (duzentos e
noventa e seis milhões, oitocentos e três mil e duzentos e trinta e quatro centavos)
(Tabela 10).

Tabela 10. Nº de estabelecimentos da agricultura familiar segundo o censo do IBGE, nº


de agricultores assentados segundo dados do INCRA, nº de DAP's válidas
no sistema do MDA, nº de contratos e valor contratado no Pronaf na safra
2012/2013 (até 30 de abril de 2013), segundo o Bacen, no estado de Mato
Grosso

N° DE VALOR
ESTABELECIMENTOS/ DAP’S VÁLIDAS CONTRATADO/
Nº/ASSENTADOS/ N°/CONTRATOS/
AGRICULTORES (EM 15/11/2013) PRONAF/SAFRA
(SEGUNDO/INCRA) CRÉDITO/PRONAF
FAMILIARES/ (SISTEMA/MDA) (2012/13)
(SEGUNDO IBGE) (ATÉ 04/2013)

86.167 83.560 60.913 10.541 296.803.234,00

Fonte: Elaboração dos Engº Agrº Wanderson Couto e Lineu Leal, do DFPP/SAF/MDA, com apoio do Dr. Mauro Del
Grossi e da equipe do Dr. Luiz Carlos de Brito, do Bacen

Quando se comparara o número de contratos efetuados em operações de


crédito rural com o total de estabelecimentos, depara-se com um percentual muito
baixo (6,21%) de agricultores que tomam crédito:
10.541 contratos/169.727/10.541 (nº estabelecimento + nº assentados) = 6,21%

O volume de recursos aplicados e quantidade de operações de crédito rural do


PRONAF contratadas pelo Banco do Brasil S/A – Superintendência de Varejo e
Governo em Mato Grosso, na agricultura familiar do Estado, nos anos agrícolas,
compreendidos entre o período 2011/2014, são apresentados na (Tabela 11).

Tabela 11. Operações de crédito do PRONAF realizadas/Banco do Brasil S/A – Safra


2011/2012, 2012/2013 e 2013/2015

ANO CUSTEIO INVESTIMENTOS


AGRÍCOLA CONTRATOS VALOR CONTRATOS VALOR
2011/2012 6.807 117.520.120,00 5.296 237.899.355,00
2012/2013 7.791 161.003.863,00 7.054 285.704.382,00
2013/2014 7.659 178.062.807,00 9.192 329.236.153,00
Fonte: Banco do Brasil S/A – Superintendência de Varejo e Governo em MT

25
Quando comparado às operações de crédito efetuadas com o total de famílias de
agricultores familiares (140.201), também se encontra um percentual muito baixo de
tomadores de crédito rural (Tabela 12).
Tabela 12. Quantidade percentual de agricultores familiares que utilizam o crédito rural
do PRNAF em Mato Grosso
PERCENTUAL DE AGRICULTORES FAMILIARES QUE ACESSARAM
ANO CRÉDITO RURAL DO PRONAF
AGRÍCOLA
CUSTEIO (%) INVESTIMENTO (%)
2011/2012 4,85 3,78
2012/2013 5,56 5,03
2014/2015 5,46 6,56
Fonte: EMPAER-MT, 2014

7.0. Uso de tecnologia, acesso a mercados e renda


A agricultura familiar no Estado, a exemplo da desenvolvida no território nacional,
não é homogênea e também apresenta três segmentos:
 um segmento que se apropria de algumas características da agricultura empresarial,
tais como: integração com o mercado, uso intensivo de insumos, acesso a crédito,
utilização de máquinas e equipamentos, entre outras;
 um segundo que tem sua produção voltada para segurança alimentar e nutricional,
ligada com o mercado e geração de renda; e
 um terceiro segmento que se caracteriza por dificuldade de acesso às políticas
públicas, tecnologia e mercado.
A grande maioria dos agricultores familiares esta à margem do circuito de
produção e de comercialização por falta de competitividade devido à baixa quantidade
e qualidade da produção e oferta irregular dos produtos no mercado.
As famílias que representam o terceiro segmento estão excluídas dos meios de
produção, devido às dificuldades de acesso às políticas públicas, tecnologias de
produção e mercado.
No Estado, o segundo e o terceiro segmento apontados acima, incluem a grande
maioria das famílias da agricultura familiar, em torno de 75%. Esses segmentos exigem
dos poderes públicos estadual e municipal políticas públicas diferenciadas, que levam
em conta a especificidade da agricultura por eles praticadas, a realidade dos
agricultores e de suas famílias e o contexto em que estão inseridos.

8.0. Renda e pobreza no meio rural


A apesar de ostentar uma agricultura pujante, o meio rural mato-grossense ainda
padece com o mal da pobreza, da fome e da exclusão social. Mesmo com produção
crescente, segmentos da população convivem com o acesso limitado à alimentação
tanto em quantidade como em qualidade.
Dados dos Estudos Propositivos realizados pela Secretaria de Desenvolvimento
Territorial do Ministério de Desenvolvimento Agrário-MDA, nos Territórios da Cidadania
do Estado, apontam para uma baixa produtividade na agricultura familiar, tanto em
termos de produção/área quanto por produção/trabalhador. E, quando se considera o
número de trabalhadores/estabelecimento e o VBP gerado, observa-se uma
26
renda/trabalhador/ano, extremamente reduzida (média de R$ 981,60/trabalhador/ano).
Esta média pode ser observada, praticamente, em todos os municípios. A baixa
“rentabilidade da agricultura familiar é explicada, em parte, porque em torno de 75%
dos estabelecimentos familiares são considerados “quase sem-renda” ou “renda baixa”.
De acordo com o Censo Demográfico (IBGE, 2010), referente à renda familiar
“per capita” no estado de Mato Grosso, 5,8% da população vivem em extrema pobreza
com renda mensal “per capita” de até R$ 70,00/pessoa. Dessas, 46,9% residem no
meio rural, representando aproximadamente 24.480 famílias, em torno de 89.400
pessoas.
O cadastro utilizado pelo Ministério do Desenvolvimento Social (CadUnico), para
a identificação de famílias que vivem em situação de pobreza no país, apresenta no
estado de Mato Grosso, números muito próximos aos do censo do IBGE. O
cadastramento, cujos dados consolidados estão apresentados na (Tabela 13), é feito
em nível de município nos Estados. No caso, refere-se ao mês de março de 2012.

Tabela 13. Renda familiar “per capita” de segmentos da população rural em Mato
Grosso
FAIXA DA RENDA FAMÍLIAS PESSOAS
Até R$70,00 25.833 100.257
Entre R$70,01 até R$140,00 15.408 59.946
Entre R$140,01 até R$311,00 7.624 24.894
Acima de R$311,00 3.409 5.847
Sem Resposta 0 0
TOTAL 52.274 190.944
Fonte: MDS, CadUnico MT, referente a março/2012. SETAS/MT

9.0. Proposta de intervenção para a promoção do desenvolvimento da agricultura


familiar
Dentre as políticas públicas voltadas à agricultura familiar a prestação de
assistência técnica e extensão rural – ATER, efetiva e de qualidade, é um serviço
essencial.
Nesse sentido, considerando os 03 (três) segmentos, abordados anteriormente,
as políticas públicas que serão veiculadas e viabilizadas pela ATER visando o
desenvolvimento da unidade produtiva, devem considerar as diferentes realidades
ambientais e socioeconômicas das famílias.
Os procedimentos para as intervenções servirão de referências para que os
agricultores familiares possam alcançar os níveis de desenvolvimento descritos:
 baixa complexidade: os procedimentos de ATER devem consistir em construir
planejamentos das unidades produtivas, considerando e valorizando as iniciativas
que fazem parte de suas culturas, para organizar prioritariamente a inclusão
produtiva e social, visando garantir a segurança e soberania alimentar e incremento
de renda, com uso sustentável dos meios de produção;
 média complexidade: neste contexto já se pode identificar mobilizações no sentido
de organizar os produtores, que já comprovaram eficiência na garantia de soberania
alimentar e estão comercializando excedentes de produção para atendimento de
demandas identificadas; e
27
 alta complexidade: um dos indicadores importantes para este segmento é do
agricultor apresentar especialização na elaboração de um ou mais produtos e estar
inseridos em cadeias produtivas estruturadas e acessarem técnicas e tecnologias
adaptadas a sua realidade.
Equivale dizer que o serviço de assistência técnica e extensão rural deve ser
executado sob uma ótica ajustada à realidade do agricultor e sua família, na busca do
desenvolvimento sustentável, onde, pré-requisitos como: o conhecimento, o
crescimento e a eficiência econômica das famílias que exercem a agricultura familiar
são elementos indispensáveis. Nesse sentido:
1º) - Para os agricultores familiares que estão à margem do circuito tecnológico e do
mercado agrícola, a ATER, como processo eminentemente educativo, deve buscar a
sua inclusão produtiva, que consiste em promover: planejamento da unidade de
produção, acesso aos meios de produção, tais como: insumos agrícolas (corretivos,
fertilizantes, sementes e mudas), autoconsumo e acesso a mercados;
2º) - Para o os agricultores familiares que já têm produção para o autoconsumo da
família e, que de alguma forma comercializam excedentes, a ATER, deve ser focada no
sentido de promover a organização dos agricultores, da produção e capacitação para o
aporte de tecnologias agropecuária e gerencial, necessária à ascensão aos meios
produtivos, através de melhores níveis de produtividade e competitividade;
3º) - Para agricultores familiares e suas organizações que já estão integrados no
sistema produtivo com especialização em um ou mais produtos e, que de alguma
forma, estão inseridos em cadeias produtivas, a ATER deve focar a capacitação
tecnológica e gerencial.

10.0. Capacitação de técnicos e de agricultores familiares com foco nas cadeias


produtivas
A capacitação de técnicos da ATER foi preconizada através de parceria entre a
EMPAER-MT – Empresa Mato-Grossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural, a
EMBRAPA/MT – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária em Mato Grosso e a
SEDRAF.
No processo de capacitação de técnicos e agricultores é adotada a metodologia
desenvolvida por Benor et al. (1984), denominada de Sistema de Treino e Visita – T&V,
adaptada, (Domit, 2007).
A capacitação de técnicos e agricultores é desenvolvida através de um sistema de
Capacitação Continuada que consiste num método contínuo e sistêmico de formação e
treinamento de técnicos multiplicadores da Assistência técnica e extensão rural (ATER)
que em contato constante com a pesquisa, formarão e treinarão grupos organizados de
técnicos multiplicadores de campo que por sua vez, repassarão as tecnologias para
grupos organizados de produtores rurais.
Também são instaladas Unidades de Referência Tecnológica (URT’s) para
validação de tecnologias que servirão de meio para as capacitações. Os técnicos da
ATER definirão os temas das capacitações, já a elaboração do planejamento de
realização dessas, bem como sua execução, serão de responsabilidade do grupo
gestor interinstitucional a ser formado. Assim espera-se: a) - o estabelecimento da
integração entre técnicos, pesquisadores e produtores rurais, como também entre
instituições e unidades da Embrapa; b) - a disponibilização das tecnologias da
Embrapa aos técnicos da ATER e, por conseguinte aos produtores; c) - facilitar a
transferência e validação de tecnologias por meio das URT’s; e d) - a obtenção de
avanços na sustentabilidade das cadeias produtivas trabalhadas.

28
A capacitação continuada teve início no ano/2011 na cadeia produtiva do leite. Em
seguida foram demandados e estruturados outros cursos voltados às cadeias produtivas
praticadas na agricultura familiar. Já estão em andamento cursos cujos temas já
contemplam 9 (nove) cadeias produtivas (Tabela 14).

Tabela 14. Módulos de treinamento e técnicos capacitados de forma contínua em Mato


Grosso no período 2011/13

CADEIAS TÉCNICOS
MÓDULOS TRABALHADOS
PRODUTIVAS CAPACITADOS

Bovinocultura de Leite 11 35

Fruticultura 8 30

Mandiocultura 8 25

Piscicultura 6 36

Olericultura 7 70

SAF 4 32

Apicultura 3 42

Biodiesel 2 15

Bovinocultura de Corte 5 15
Fonte: EMBRAPA Agrossilvopastoril, 2014

A capacitação continuada já envolveu 145 técnicos da Empaer-MT, nas diversas


cadeias produtivas. Porém, a capacitação do agricultor não ocorre na medida da
capacitação dos técnicos, devido à interrupção do processo que, muitas vezes,
acontece pelo ao fato do técnico que participa da capacitação, deixar a Empresa.
A rotatividade de técnicos de campo na Empaer-MT é verificada com relativa
frequência, uma vez que o ingresso na Empresa ocorre por indicação para ocupar
cargos em comissão, que muitas vezes se dá por indicação política, fato que deixa o
técnico vulnerável no cargo. Por outro lado, o salário pago aos técnicos em cargos
comissionado é muito baixo, R$ 1.375,00, tanto para o técnico de nível superior como
para o de nível médio. Esses fatos dificultam o desenvolvimento do trabalho e prejudica
a Empresa, que não consegue prestar um serviço de assistência técnica extensão rural
efetivo e de qualidade.
A Lei Complementar nº 461 que preconiza a reestruturação da Empaer-MT,
concorrerá para a solução de muitos problemas que atualmente afetam o desempenho
da Empresa na execução do serviço de ATER. Uma vez aplicados os dispositivos da
referida leia a Agricultura Familiar do estado de Mato Grosso contará com um serviço
público estatal de ATER, à altura de suas necessidades e capaz de contribuir de
maneira efetiva no processo de seu desenvolvimento socioeconômico e ambiental
sustentável.

29
11.0. Referência bibliográfica
BENOR, D.; HARRISON, J. Q.; BAXTER, M. Agricultural extension: the training and
visit system. Washington: The World Bank, 1984. 85p.
DALLEMOLE, D.; FARIA, A. M. de M. Os desafios e as expectativas do APL da
Pecuária Leiteira de Mato Grosso. Desenvolvimento em questão. n. 18, jul/dez, 2011.
p.139-168.
DOMIT, L. A. Estratégias para a implantação do T & V. In: DOMIT, L. A.; LIMA, D. de;
ADEGAS, F. S.; DALBOSCO, M.; GOMES, C.; OLIVEIRA, A. B. de; CAMPANINI, S. M.
S. Manual de implantação do treino e visita (T & V). Londrina: EMBRAPA Soja,
2007. p. 64-71.(EMBRAPA Soja. Documentos, 288).
FAMATO, SENAR-MT, SESCOOP-MT. Diagnóstico da cadeia produtiva do leite no
Estado de Mato Grosso – Sebastião Teixeira Gomes e Instituto Mato-Grossense de
Economia Agropecuária (IMEA). Cuiabá, 2011. 93p.
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Agropecuário 2006.
Agricultura Familiar.
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Demográfico 2010.
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Produção Agrícola Municipal
2012.
IBRADEC – Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Econômico e Social. Pesquisa de
Mercado. Setor Supermercadista de Mato Grosso. Análise dos resultados: Gerentes
e Operadores de FLV. Novembro 2006.
IBRADEC – Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Econômico e Social. Pesquisa de
Mercado. Setor Supermercadista de Mato Grosso. Análise dos resultados:
Consumidores de Hortifruti. Nov/2006.
MORAES, A. J. de. Piscicultura para principiantes em mato grosso. Cuiabá:
SEDRAF, 2012, 236 p.
SEBRAE. Cadeia produtiva agroindustrial da mandioca: Mato Grosso:
diagnóstico/Sérgio Adão Simão, coordenador – Cuiabá: UNIVAG; Viçosa: Universidade
Federal de Viçosa, 2002. 144p.
SEPLAN – Secretaria de Estado de Planejamento e Coordenação Geral. Estado de
Mato Grosso. Plano Plurianual, 2012.
TITO, M. R.; NUNES, P. C.; VIVAN, J. L. Desenvolvimento Agroflorestal no
Noroeste de Mato Grosso: dez anos contribuindo para a conservação e uso das
florestas. Resultados do Componente Agroflorestal do Projeto BRA/00/G31 - 1. ed. --
Brasília, Brasil. Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD),
Secretaria de Meio Ambiente do Estado de Mato Grosso (Sema/MT) e Centro Mundial
Agroflorestal (Icraf). Projeto Promoção da Conservação e Uso Sustentável da
Biodiversidade nas Florestas de Fronteira do Noroeste de Mato Grosso (BRA/00/G31).
2011. 134 p.

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