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Lauro Ericksen*
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Dentre essas denominações, pode-se citar, exemplificativamente, o termo “homofóbico” quando se trata de
direitos e liberdades dos homossexuais, “racistas” quando se fala de políticas públicas de promoção do sistema
de cotas.
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Esse termo técnico da psicanálise, cunhado por Sigmund Freud (1974, p. 128), representa a possibilidade de o
ser humano não ter um único direcionamento do qual pode extrair prazer dos seus sentidos, existem vários
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“politicamente correto”, algo semelhante a uma cartilha do que pode ou não ser dito dentro do
contexto da liberdade de expressão no espaço público.
O grande problema com o pensamento “politicamente correto”, que, não por acaso, é
bastante similar ao pensamento progressista, consiste na sua intolerância a todos os pontos de
vista intolerantes, exceto o seu próprio ponto de vista (ainda que deliberadamente ele assuma
ter tal característica ominosa). Ao se pensar um direito verdadeiramente plural, a tolerância
por todos os pontos de vista, inclusive o conservador, finda por ser algo repressivo, em termos
de regramento politicamente correto, haja vista que se assume que o conservadorismo é
intolerante e, por isso, não pode ser tolerado (algo que pode ser resumido como a
“intolerância dos tolerantes”). O pensamento plural, fornecido com as bases marxistas-
culturais e progressistas, advoga um direito posto “democraticamente” sob a égide de uma
“tolerância libertadora”. Essa espécie de tolerância consubstancia uma intolerância seletiva:
rejeita-se qualquer ideia conservadora (em termos ideológicos, qualquer ideia e movimentos
da direita) e se aceita (ou melhor, incentiva-se) toda e qualquer ideia ou movimento da
esquerda.
Dessa forma, há de se observar, reconhecer e pontuar que os progressistas, que tanto
defendem um Estado Democrático de Direito, na verdade, estão, seletivamente, propondo
uma forma de “tolerância” totalmente totalitária. E, nesse empreendimento discursivo, a
repetição do radical evoca não apenas a cacofonia, bem como o direcionamento que do
“pluralismo” ser apenas uma fachada quando acaba por rechaçar o conservadorismo apenas
por seu conteúdo dissonante para com aquilo que se convencionou denominar de
“politicamente correto”. Cria-se uma verdadeira supremacia do politicamente correto, pois,
quem o é tem o privilégio de poder (e, em certo sentido dever de ser) intolerante com quem
não é politicamente correto. FIDES, Natal, v.5 , n. 1, jan./jun. 2014. ISSN 0000-0000
campos sensoriais a partir dos quais o prazer pode ser obtido, algo que desemboca no entendimento que a
heterossexualidade não é um direcionamento único, e. em certo sentido, é uma concepção repressora intrínseca
da cultura ocidental.
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Pune-se, inclusive, certas condutas de jaez puramente subjetivo com penas mais severas que crimes graves,
como a lesão corporal, intervindo, principalmente, nas relações laborais. Para uma melhor explanação e um
ponto de vista conservador sobre o tema, recomenda-se a leitura do artigo completo publicado na Revista
Jurídica das Faculdades Claretianas.
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Separe-se, nesse momento, o existencialismo primordial de Søren Kierkegaard (2011, p. 16) da leitura pós-
moderna do existencialismo humanista de Jean-Paul Sartre, uma leitura totalmente atrelada aos pressupostos
básicos do marxismo cultural. Em grande medida, extirpar o cristianismo da leitura Kierkegaardiana e colocar o
humanismo em seu cerne interpretativo é um dos pilares para a ascensão “progressista” da argumentação
satreana, uma das visões disseminadoras do “politicamente correto” na Europa continental.
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REFERÊNCIAS
ARENDT, Hannah. Homens em Tempos Sombrios. Trad. Denise Bottman. São Paulo:
Companhia das Letras, 2003.
MARCUSE, Herbert. Repressive Tolerance. In: WOLFF, Robert Paul; MOORE JR.,
Barrington; MARCUSE, Herbert. A Critique of Pure Tolerance. Boston: Beacon Press,
1969. p. 95-137.
RANCIÈRE, Jacques. A Partilha do Sensível: Estética e Política. Trad. Mônica Costa Netto. FIDES, Natal, v.5 , n. 1, jan./jun. 2014. ISSN 0000-0000
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