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Clínica Ética
Clínica Ética
Clínica Ética
BUSCA)
PROFª M.A. TALIAN CORDEIRO
Essa clínica se refere a situações, onde a função de ato, no consulente, parecem
desorientadas, como se não dispusessem de hábitos (motores e linguareiros) que
lhes fornecessem direção. O contato parece estar acometido por uma espécie de
rigidez (fixação).
Psicose é o nome que PHG (1951, p. 235) dão a essa configuração do sistema
self. Trata-se de um quadro provavelmente relacionado a um comprometimento
da função id, que se mostraria incapaz de disponibilizar, de maneira organizada,
um fundo de codados (excitamentos e intenções)
21/10/2020
AMBIGUIDADE DAS DEMANDAS
21/10/2020
As demandas por inteligência social, dizem respeito a nossa curiosidade em torno
daquilo que pode ser aprendido e comunicado. Trata-se das perguntas pelas
quais tentamos aprender algo sobre o que nosso interlocutor possa estar
infirmado, são formas de comunicação em torno dos elementos que constituem a
função personalidade: instituições, valores, pensamentos, sentimentos.
Já as demandas por excitamento e desejos dizem respeito á nossa curiosidade
por aquilo que não podemos representar como realidade, mas supomos coexistir
como uma dimensão íntima, misteriosa, que acompanha todas as
representações socias elegidas por nosso interlocutor ou por nós mesmos.
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Quando demandamos algo da ordem da inteligência social, simultaneamente
vinculamos um interesse por um fundo (função id) ou por um horizonte (função
de ato) em torno da realidade social demandada. Esse interesse é o que
denominamos de demanda por excitamento e desejo.
Nem sempre as demandas por inteligência social estão investidas de uma
demanda por excitamento e desejo. Muitas vezes nossa comunicação está
estritamente pautada na transferência de informação (cognitiva, moral e
sentimental), não importando a presença ou ausência de um aspecto afetivo ou
faltante.
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Para Muller-Granzotto, os sujeitos considerados psicóticos não reagem de modo
psicótico às demandas por inteligência social quando estas não estão investidas
de demandas por excitamento ou desejo, ou quando essas últimas não são
perceptíveis.
Ao contrário, na maior parte do tempo, caso não estejam vivendo um estado de
surto, os sujeitos da psicose respondem tranquila e produtivamente às
demandas por inteligência social. Eis o que permite àqueles frequentar a escola,
desempenhar com maestria determinado oficio laboral, aprender e ensinar,
emocionar-se e responsabilizar-se, entre outros exemplos. Em algum sentido,
podemos dizer que esses sujeitos estão fixados nas realidades das quais podem
dispor, não se deixando afetar por algo estranho ou desejável que lhes possam
ocorrer.
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A situação muda, quando as demandas por inteligência social caem em segundo
plano. Quando as demandas afetivo/faltantes tornam-se figura, ou quando
roubam o protagonismo das demandas por inteligência social, os sujeitos
psicóticos quando submetidos a tais demandas reagem de modo estranho.
Não lidam com demandas afetivo-faltantes (demandas por excitamento e desejo).
As ambiguidades das demandas veiculadas pelos interlocutores parece
representar grandes dificuldades para os sujeitos das psicoses. Com o se eles
não pudessem ou quisessem participar da intimidade (ou virtualidades),
desencadeada pelas demandas afetivo/desejantes
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Na impossibilidade de lidar com essas demandas , esses sujeitos produzem
formações psicóticas (mutismo comportamentais, alucinações, delírios
dissociativos e associativos, identificações maníacas ou depressivas).
As respostas psicóticas sempre estão precedidas por uma demanda social cuja
característica é a ambiguidade marcante das representações socias utilizadas,
ao mesmo tempo destinadas a conteúdos objetivos (realidade) e excitamentos
(afetivos) e desejos (faltantes), quando esses dois últimos tornam-se figuras
dominantes.
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Os autores Muller-Granzotto, não especulam sobre as causas anatomofisiológicas
dos sujeitos das psicoses, mas as consideram. Em se tratando de uma
especulação psiquiátrica, os autores afirmam que tudo se passa como se o
sujeito das formações psicóticas não tivesse – hipoteticamente – “buracos” (ou
conexões sinápticas) por onde os afetos pudessem passar, ou como se fossem
“esburacados” (conectados) demais, a ponto de não poder reconhecer o que lhe
falta ou qual desejo deveria realizar primeiro.
Em função dos relatos dos cuidadores, os autores reconhecem a ajuda dos
psicofármacos, como se alguns pudessem “abrir” e outros conseguissem fechar
os buracos (ou conexões) que esses sujeitos não tem ou tem em demasia.
21/10/2020
Nem sempre essas blindagem funcionam ou resistem por muito tempo. É comum
o esforço dos profissionais psiquiatras para buscar a substancia e a dosagem
adequada. Isso leva os autores a pensar sobre a gênese dos ajustamentos
psicóticos, ou seja a dificuldade desses sujeitos diante das demandas por afeto e
desejo, pois os medicamentos não atuam sobre o meio social de onde partem
essas demandas.
Mesmo medicados (o que na maioria das vezes propicia conforto aos sujeitos
das psicoses), tal não é garantia de que conseguirão responder à demanda a eles
dirigidas, ou dela se livrar, pois os medicamentos não atuam sobre os
demandantes, os quais muitas vezes, fazem deste motivo (o uso da medicação)
para continuar demandando – o que perigosamente pode levar os sujeitos
psicóticos ao surto.
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Conforme PHG (1951, p.235), pode suceder que, em uma experiencia de contato,
as orientações temporais que as constituem não compareçam. Ou o passado se
furta ( o fundo de excitamento não se apresenta), ou o futuro parece impossível
para o sujeito (uma vez que a excitamento demais para articular como horizonte
de desejo).
Por conta desta dificuldade, esses sujeitos se fixam na realidade, de onde segue
a impressão de certa rigidez. Eles fixam na realidade para poder substituir, o que
deveriam poder sentir, mas de fato não sentem, precisamente, os afetos e as
faltas (excitamentos e os desejos). A função id não se apresentando, a alternativa
é afastar o demandante.
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◦ Nesse sentido para PHG (1951, p. 235) a psicose é pensada a partir de uma
gênese psicossocial, a partir e mais além de uma de uma possível enfermidade
anatomofisiológica, psicose é a falência ou vulnerabilidade dessa dimensão ética
da experiencia de campo, que é a copresença de um fundo de excitamentos.
Esses sujeitos precisariam criar suplências a esse fundo quando ele fosse exigido
na relação social.
A psicose, talvez pela sua peculiar condição anatomofisiológica que acomete os
sujeitos, seja uma determinada forma de criar com base na realidade, como se
esta pudesse fazer as vezes dos excitamentos e desejos demandados no laço
social, quando eles não comparecem.
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Nesse sentido a psicose não é uma doença, mas um ajustamento criador. É uma
forma de viver diante das condições de campo que a ele se impõem e tem
relação com um funcionamento atípico da função id. O self inventa, com os dados
na fronteira de contato, o outrem exigido pelo outro social, que a revelia dessa
exigência, contudo não se apresentou ou se apresentou de tal forma que a
função de ato não pode acolhe-lo.
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Nos ajustamentos de busca a função id está comprometida (ausente, falhada ou
excessiva) e, consequentemente, não constitui como base, como motivo para a
ação da função de ato junto dos dados na fronteira. Resta a função de ato operar
de forma diferente. Em vez de buscar, a partir dos dados sociais (dados), objetos
de desejo ou possibilidades de expansão dos excitamentos disponíveis, ela tenta
transformar aqueles atos, (sejam eles o próprio corpo, o corpo do semelhante,
uma palavra ou uma coisa mundana) em:
❖ Defesas contra demandas por excitamento.
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AJUSTAMENTO DE ISOLAMENTO
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DISTINÇÃO ENTRE SENTIMENTOS E AFETOS
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Além de ajustmametos de isolamento, podem desenvolver personalidades, isso
abre uma dupla possibilidade de intervenção, cuja a meta em ultima instancia, é
o favorecimento do processo de socialização desses sujeitos.
❖ Cabe ao clínico reconhecer, quais demandas o próprio clínico pode estar
fazendo quando o ajustamento de isolamento se apresenta no contexto clínico,
reconhecer na rotina do sujeito, quais demandas estariam provocando reações
de isolamento.
❖ O clínico vai auxiliar o meio social, no reconhecimento dos expedientes socias,
os comportamentos em que demandas afetivas são elaboradas.
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Indicar o trabalho de um acompanhante terapêutico, para que possa fazer essas
denuncias ao meio.
❖ O clínico não deve ter esperança de rendimentos, expectativas, tampouco
demostrar decepção ou comemorar o avanço nos processos de aprendizagem.
Essas manifestações poderiam ser recebidas como demandas e isso seria
desastroso.
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AJUSTAMENTO DE PREENCHIMENTO DE FUNDO
21/10/2020
As alucinações parecem estar em torno das demandas por hábitos relacionados
ao enfrentamento de terceiros (denominados de hábitos linguageiros).
Hábito motor: ex. contrair os ombros e baixar a cabeça quando o semblante
fechado do semelhante anuncia um grito.
Hábito linguareiro: são referencia àquilo que os hábitos motores haveriam de
intencionar, um terceiro mais além da sensação vivida como hábito motor, como
se a demanda não quisesse apenas a sensação, mas também seu sentido.
Quando eu busco ver algo, mobilizo o hábito motor, quando busco ver o que o
visto procura ver, mobilizo o hábito linguageiro.
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Os hábitos linguageiros nos habilitam a supor, que haja nas coisas e nos outros
corpos o mesmo ímpeto, que assim passa a ser buscado como um sentido, uma
significação linguageira. É o caso das vivencias de sedução, ciúme, ironia, do jogo
etc.
Nesse sentido entende-se que as alucinações não são comportamentos
incomuns. Quando submetidos a intensas demandas por hábitos linguageiros,
em situações em que os hábitos linguageiros não se apresentam
espontaneamente, não é impossível que respondamos por meio de alucinações.
Ex. interrogatório de um policial.
Algumas pessoas vivem experiencias de ausência de hábitos linguageiros
demandados com relativa frequência.
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ALUCINAÇÃO SIMBÓLICA (OU PARANOIDE)
O sujeito utiliza o dado na fronteira do contato como um meio para preencher a ausência do
excitamento linguageiro que não se apresentou. A função de ato usa o corpo (próprio e o do
semelhante) para “responder” a demanda por outrem. O corpo passa a representar um
“estranho” (outrem, terceiro, função id), assumindo o signo bruto, como no episódio em que
diante, de uma lareira, depois de ouvir do amigo que a paixão queima como chamas, um
consulente pôs sua mão no fogo, como se assim pudesse dar mostras do entendimento.
outro consulente, ao ler um depoimento no Orkut, deixado por uma amiga virtual dizendo que ela
gostaria sempre de estar perto do coração dele. Na tentativa de responder a isso, arrancou o
cartão de memoria do computador para assim leva-la no bolso esquerdo da camisa.
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ALUCINAÇÃO RESIDUAL
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INTERVENÇÃO
21/10/2020
AJUSTAMENTO DE ARTICULAÇÃO DE FUNDO
Esses sujeitos se fixam em determinado contexto semântico, como se nada o fizesse mudar,
falam demais, fragmentam a comunicação, se fixam em determinado assunto.
Sobre a gênese desse ajustamento, ao autores Muller-Granzotto (2012, p. 194), acreditam que o
excesso de excitamentos também produz respostas psicóticas, especialmente delirantes e
articulatórias.
Os excitamentos se disponibilizam em excesso, fazendo com que a função de ato não consiga se
“deixar levar” por um deles, são muitas vias ou possibilidades ao mesmo tempo, e nenhuma
delas da trégua, de onde se infere que a função de ato possa querer se fixar na realidade. Porém,
a realidade não é realizada para substituir os excitamentos, afinal eles estão copresentes (em
excesso), mas é realizada para substituir o fluxo de demandas, ou para fazer a suplência do
horizonte de desejos.
21/10/2020
Diferente das alucinações que tomam fragmentos da realidade, o ajustamento de
articulação tomam os objetos da realidade como um todo, estabelecem conexões
complexas entre diversos objetos, como se dominassem completamente, dando a
impressão que são sujeitos ativos em relação à realidade. Enquanto que nas
alucinações parecem refém das vozes e outras produções.
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DELÍRIO DISSOCIATIVO
21/10/2020
INTERVENÇÃO
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DELÍRIO ASSOCIATIVO
Aqui a função de ato quer agrupar os dados da realidade. A função de ato “imita”
estar envolvida por algum desejo.
É o caso dos delírios persecutórios, a função de ato produz um objeto ameaçador
ante o qual reage por meio da fuga e do conflito, dessa forma não precisa fazer
escolha por nenhum excitamento.
Algo semelhante se passa quando a função de ato associa os excitamentos em
um delírio de grandeza, para também se livrar das demandas.
Intervenção: o clínico caracteriza para o consulente, o valor de troca social que o
delírio produzido representa.
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IDENTIFICAÇÃO NEGATIVA
21/10/2020
IDENTIFICAÇÃO POSITIVA
21/10/2020
INTERVENÇÃO
Acolher/identificar a origem das demandas/ habilitar pessoas pra atuar como ATs.
Oferecer um limite que equivale a diversificação.
Tarefa delicada.
Não se trata de privar o consulente de oportunidades, mas antes que ele goza de alternativas que
não àquelas as quais está identificado. Por isso a introdução de terceiros entre o sujeito da
identificação e o objeto identificado configura uma estratégia que pode facilitar a reversão da
identificação.
Pois o que justifica a produção de uma identificação positiva é o excesso de expectativas socias e
a incapacidade da função de ato de fazer escolhas por um entre elas.
21/10/2020
SURTO E SOFRIMENTO
São privados dos meios e das representações pelos quais tentava, além de buscar suplências
para os excitamentos, construir uma identidade humana e histórica.
Como consequência são “obrigados” a exagerar as formações psicóticas, que agora funcionam
como um pedido extremo de inclusão na dimensão antropológica (da qual fora excluído), como
um apelo desesperado para que as demandas afetivo/desejantes cessem.
Essa exageração é denominado, surto psicótico.
Não podemos confundir ajustamento de busca com surto.
Surto: pedido de socorro.
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