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FACULDADE CATÓLICA IMACULADA CONCEIÇÃO DO

RECIFE - CURSO DE DIREITO

RICARDO ANTONIO CORREIA DE ARAÚJO - FR041742

DIREITO CIVIL III

Trabalho apresentado a
Faculdade Católica
Imaculada Conceição do
Recife – Pernambuco, da
disciplina Direito Civil III. Sob
a orientação do
Excelentíssimo Professor :
JOAQUIM RAFAEL LIMA DO
COUTO SOARES.

SETEMBRO DE 2020
SUMÁRIO

I - OBJETIVO ................................................................................. 3
II - DO CONTRATO......................................................................... 3
III - DAS CLÁUSULAS PENAIS....................................................... 4
IV - DAS CLÁUSULAS LEONINAS E DRACONIANAS NO
CONTRATO FIRMADO ................................................................... 5
V - DO INADIPLIMENTO (DESCUMPRIMENTO DO CONTRATO) 6
VII - O PAGAMENTO (CUMPRIMENTO DO VINCULO
OBRIGACIONAL) ............................................................................ 7
VIII - CONCLUSÃO ......................................................................... 9
IX - REFERÊNCIAS ........................................................................ 9
I - OBJETIVO
O presente resumo idealizado em um modelo sinopse, visa construir uma
análise sintética referente as incidências dos institutos contratuais do Direito
Civil Brasileiro em face do filme O Mercador de Veneza de William
Shakespeare.

Na respectiva narrativa (a peça shakespeariana O Mercador de Veneza), é


celebrado um contrato de mútuo entre os personagens protagonistas um judeu
(credor) e um veneziano cristão (devedor), no valor de 3 mil ducatos (moeda
corrente ná época baseada na citada obra), sendo previsto nesse contrato uma
cláusula moratória penal acessória que estipulava um prazo de três meses
para o cumprimento da obrigação. Caso o devedor (cristão) se perfizesse
inadimplente no lapso temporal indicado, o credor (judeu), poderia se apoderar
de uma libra da carne do devedor (cristão) a ser extraída (cortada) de qualquer
parte de seu corpo (do devedor cristão), sendo essa imposição advinda do
próprio credor (o judeu) celebrado por ambas as partes no respectivo contrato.

II - DO CONTRATO
No atual contexto, faz-se necessário elencar a natureza jurídica do contrato em
foco (referente à citada obra), firmado entre as partes isto é, estabelecido entre
o judeu (credor) e o cristão (devedor).

A priori trata-se de um contrato de mútuo unilateral, em um modelo clássico


aperfeiçoado com a vontade declarada das partes, com prazo determinado,
podendo-se assim também classificá-lo como oneroso por haver cláusula penal
contida, Conforme previstos nos Artigos 586 e 587 do nosso Código Civil
respectivamente:

Art. 586. O mútuo é o empréstimo de coisas fungíveis. O mutuário é


obrigado a restituir ao mutuante o que dele recebeu em coisa do mesmo
gênero, qualidade e quantidade.

Art. 587. Este empréstimo transfere o domínio da coisa emprestada ao


mutuário, por cuja conta correm todos os riscos dela desde a tradição.

Nesse sentido, o contrato formado entre os personagens (cristão devedor e o


judeu credor) do Filme Mercado de Veneza, em que o solvens (devedor
cristão), poderia dispor de seu corpo (uma libra de carne), para quitar a
obrigação no caso da execução da cláusula penal quando configurada a
inadimplência. Essa perspectiva avençada, esbarraria em um dos elementos
constitutivos da obrigação no qual o objeto da prestação terá que ser, lícito,
possível, determinado ou determinável.
i) O objeto lícito, é aquele que não atenta contra a lei, a moral ou os bons
costumes;

ii) Possível, do contrário, quando impossível o negócio é nulo. Dividindo-se em


duas classificações: a) impossibilidade jurídica, que ocorre quando o
ordenamento jurídico proíbe negócios a respeito de determinado bem; e b)
impossibilidade física, que emana de leis naturais, ou seja, deve alcançar a
todos;

iii) e determinado ou determinável, admitindo-se, assim, a venda de coisa


incerta, desde que indicada pelo gênero e pela quantidade. Acrescentando a
esse rol, o objeto deve ser economicamente apreciável.

Tal acordo seria obstaculizado pelo o Artigo 13 do Código Civil:

Art. 13. Salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição do


próprio corpo, quando importar diminuição permanente da integridade
física, ou contrariar os bons costumes.

Parágrafo único. O ato previsto neste artigo será admitido para fins de
transplante, na forma estabelecida em lei especial.

III - DAS CLÁUSULAS PENAIS

A referida cláusula penal acordada no contrato, tem o objetivo de indenizar a


parte prejudicada pelo o inadimplemento obrigacional, visando compensar o
credor no caso de ruptura no que foi pactuado, delineando a hipótese que no
caso ora em questão, determinava o seguinte cumprimento: "ocorrendo o
atraso (estipulado em três meses), o credor (judeu), teria o arbítrio de exigir sua
satisfação (cortando uma libra de carne do devedor cristão)".

Vejamos o que diz os Artigos 408 e 410 do Código Civil:

Art. 408. Incorre de pleno direito o devedor na cláusula penal, desde


que, culposamente, deixe de cumprir a obrigação ou se constitua em
mora.

(...)

Art. 410. Quando se estipular a cláusula penal para o caso de total


inadimplemento da obrigação, esta converter-se-á em alternativa a
benefício do credor.

Não deixando de considerar que a teoria do principio da autonomia de vontade


ou do consentimento (consensualismo), se torna o núcleo considerado como
um o dos pilares do negocio jurídico contratual formado a partir das vontades
emitidas por ambas as partes, dessa forma, "não se pode falar em contrato
sem autonomia da vontade".

Vale ressaltar, o imprescindível principio da força obrigatória do contrato, a


pacta sunt sevanda, que diz que os acordos devem ser mantidos, vale dizer
que sem ela, de nada valeria o negócio se o acordo firmado entre os
contraentes não tivessem a força obrigacional de cumprimento daquilo que foi
convencionado.

É constituído, que apesar do declarante (no caso o devedor cristão),


manifestou sua vontade dirigida a um determinado fim querido (pedir dinheiro
emprestado ao judeu), todavia, não imagina o desfecho do resultado caso não
viesse a cumprir a obrigação, ou seja, ter um pedaço da própria carne cortada
para sanar a avença.

IV - DAS CLÁUSULAS LEONINAS E DRACONIANAS NO


CONTRATO FIRMADO

Existe um ditado antigo que diz: "nem tanto ao mar, nem tanto a terra",
deveremos observar os limites traçados pela ordem social, não deixando que o
contrato torne-se uma rede de caça, em que o forte subjuga o fraco, impondo
clausulas leoninas ou draconianas.

A polemica suscitada, trata-se da ocorrência do abuso de direito exercido pelo


o credor (o judeu) em face do devedor (cristão), impondo o dever obrigacional
através de uma cláusula verdadeiramente draconiana, revelando-se a
opressão e má-fé proveniente do arbítrio do credor (o judeu). As circunstância
do fato, revelam-se que não havia a necessidade de uma imposição dessa
magnitude.

É certo que a liberdade contratual permite a criação de contratos atípicos, ou


seja, não regulados pelo o direito vigente.

Art. 425 (CC). É lícito às partes estipular contratos atípicos, observadas


as normas gerais fixadas neste Código.

Os contratos atípicos propriamente dito - são os criados ou inventados pelas


próprias partes sem similar no direito positivo.

Outrossim, o fato não deixa de se caracterizar uma obrigação excessivamente


abusiva, ou seja, o cristão pagar com a própria carne caso se torne
inadimplente.

A contrario sensu, podemos citar uma das pedras fundamentais que rege as
relações contratuais limitadora da liberdade de contratar, que está expressa no
Artigo 421 do nosso Código Civil, decorrente da dignidade da pessoa humana,
assim esculpido:
Art. 421. A liberdade contratual será exercida nos limites da função
social do contrato.

Ademais, no meu entendimento e de acordo com o Código Civil Brasileiro de


2002, a cláusula penal acessória, não seria válida em virtude da seguinte
estipulação: "a retirada de uma libra de carne do devedor cristão", configurando
a impossibilidade jurídica do objeto, em razão da ilicitude advinda de tal ato.

V - DO INADIPLIMENTO (DESCUMPRIMENTO DO
CONTRATO)
Não podemos deixar de considerar que a obrigação do contrato não seja
satisfeita em virtude da culpa do devedor não havendo o cumprimento
voluntário da obrigação, desta forma, impõe-se o dever de indenizar a parte
prejudicada, é nesse sentido o que expressa o Artigo 389 do Código Civil:

Art. 389. Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e


danos, mais juros e atualização monetária segundo índices oficiais
regularmente estabelecidos, e honorários de advogado.

Como sabido, poderá ocorrer de tal maneira que a obrigação não seja
cumprida por atuação culposa do devedor (o inadimplemento culposo) como
visto acima, entretanto, como também, a ocorrência de um fato não imputável
ao devedor através do inadimplemento fortuito da obrigação.

Considera-se nesse caso, ter ocorrido o inadimplemento fortuito da obrigação,


que não se originou da conduta dolosa do devedor (cristão), desta forma, não
estará obrigado a indenizar o credor (judeu).

Art. 393. O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso


fortuito ou força maior, se expressamente não se houver por eles
responsabilizado.

Parágrafo único. O caso fortuito ou de força maior verifica-se no fato


necessário, cujos efeitos não era possível evitar ou impedir.

Todavia, em certas circunstâncias é reconhecida pela lei que mesmo na


ocorrência de um evento fortuito ou força maior, tal fato não excluir a obrigação
da parte indenizar (devedor cristão) de indenizar (o judeu).

Art. 399. O devedor em mora responde pela impossibilidade da


prestação, embora essa impossibilidade resulte de caso fortuito ou de
força maior, se estes ocorrerem durante o atraso; salvo se provar
isenção de culpa, ou que o dano sobreviria ainda quando a obrigação
fosse oportunamente desempenhada.
Percebe-se pelo o exame do respectivo dispositivo, que o devedor (no caso o
cristão), na concepção do princípio da autonomia da vontade, pode claramente
se responsabilizado pelo o cumprimento do dever pactuado, mesmo ocorrendo
o caso fortuito ou força maior.

Os elementos desafortunados que se caracterizou como caso fortuito e força


maior , ocorridos em desfavor do devedor (o cristão), sucedeu-se através de
suas fortunas que estavam imobilizadas no mar relativo aos seus navios
mercantes que ainda não haviam retornado, por esse motivo não possui o
dinheiro para cumprir o mútuo, caracterizando a mora e sucessivamente a
inadimplência.

Conseqüentemente se o devedor (cristão), impossibilitado de cumprir a avença,


outrossim, a outra parte o credor (judeu), não poderá exigir a execução
material da obrigação conforme o Artigo 248 do nosso Direito Civil:

Art. 248 Se a prestação do fato tornar-se impossível sem culpa do


devedor, resolver-se-á a obrigação; se por culpa dele, responderá por
perdas e danos.

VII - O PAGAMENTO (CUMPRIMENTO DO VINCULO


OBRIGACIONAL)

Evidentemente que se constituiu evidenciado o vínculo obrigacional do sujeito


ativo do pagamento (o devedor cristão), perante o direito do credor (judeu), que
é de cortar do corpo do cristão devedor uma libra de sua própria carne, e nesse
sentido, paga não só aquele que se obrigou a entregar certa quantia em
dinheiro na medida que se convencionou mediante a obra.

Nessa perspectiva analisando os sujeitos nas condições subjetivas do


pagamento, quem é legitimado para realizar o pagamento?

Diversamente daquilo que se possa imaginar em uma primeira concepção, não


é apenas o devedor reconhecidamente o obrigado a efetuar o pagamento. No
nosso ordenamento jurídico especificamente no Direito Civil, igualmente poderá
solver o debito pessoa diversa do devedor, ou seja, um terceiro.

Art. 304. Qualquer interessado na extinção da dívida pode pagá-la,


usando, se o credor se opuser, dos meios conducentes à exoneração do
devedor.

Parágrafo único. Igual direito cabe ao terceiro não interessado, se o fizer


em nome e à conta do devedor, salvo oposição deste.
Existindo duas espécies de terceiro: i) o terceiro interessado; ii) e o terceiro
não interessado.

Entende-se por terceiro interessado, o sujeito que sem integrar o polo passivo
da relação obrigacional, encontra-se ligado juridicamente ao pagamento da
divida, por exemplo: o fiador, o subinquilino etc.

Do mesmo modo, o adimplemento da obrigação poderá ser efetuado por


terceiro não interessado, trata-se de sujeito que não guarda vinculação jurídica
com a relação obrigacional, por exemplo: o pai que paga a dívida do filho
maior.

Voltando-se para a obra fictícia em questão, houve por parte do devedor


(cristão) um amigo prontificando-se em saldar em dobro sua dívida, movido por
sentimentos de pura solidariedade, tendo em vista a quitação da avença
cruenta acordada no contrato.

Uma outra hipótese, poderia se suceder através do dispositivo denominado


pagamento com sub-rogação. Ato pelo qual o sujeito que paga pelo o devedor,
com o consentimento do mesmo, fica investido nos direitos de credor, isto
significa que a divida seja paga por terceiro (amigo do cristão quita sua divida
perante ao judeu), que a adquire o credito como um novo credor. Havendo uma
substituição de pessoas e não de dívidas, descritos nos Artigos 346 a 351 do
Código Civil:

Art. 346. A sub-rogação opera-se, de pleno direito, em favor:

I - do credor que paga a dívida do devedor comum;

(...)

Art. 347. A sub-rogação é convencional:

I - quando o credor recebe o pagamento de terceiro e expressamente lhe


transfere todos os seus direitos;

II - quando terceira pessoa empresta ao devedor a quantia precisa para


solver a dívida, sob a condição expressa de ficar o mutuante sub-rogado
nos direitos do credor satisfeito.

(...)

Art. 349. A sub-rogação transfere ao novo credor todos os direitos,


ações, privilégios e garantias do primitivo, em relação à dívida, contra o
devedor principal e os fiadores.
VIII - CONCLUSÃO
O processo de constitucionalização do Direito Civil no Brasil, vem avançando
de maneira progressiva sendo amplamente absorvido pela jurisprudência e
pela doutrina, inclusive pelo os próprios civilistas provando que as resistências
fundadas em um conceito tradicionalista do Direito Civil em sua grande parte,
vêm perdendo corpo. Tornando-se inegável que os princípios da Constituição
de 1988, aplicados ao direito contratual vêm abrangendo sua a extensão da
incidência nos princípios pós-modernos (função social do contrato, boa-fé
objetiva e equilíbrio econômico) no direito obrigacional contemporâneo, em
contraste com os dogmas clássicos da relação obrigacional (relatividade dos
efeitos do contrato, obrigatoriedade e “autonomia da vontade”).

Considerando que a eficácia do negocio jurídico celebrado, exige objeto lícito,


possível, determinado e determinável, impraticável, irrealizável e
inconcebível se tornaria garantir-se em uma obrigação pecuniária, a disposição
do próprio corpo no todo ou em partes.

IX - REFERÊNCIAS

GAGLIANO, Pablo Stolze e FILHO, Rodolfo Pamplona. Manual do Direito Civil,


volume único 2º edição 2018. Saraiva JUS - São Paulo.

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