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Projeto de TCC I
Nome: Guilherme de Oliveira Junior
Desta maneira, não seria possível enxergar o Rap, simplesmente, como música. Afinal, a
música é apenas uma parte, não menos importante, dessa prática cultural. Sendo todo o
contexto gestacional dessa música, assim como as pessoas por trás dessa música, tão
importantes quanto. Seria necessário ver mais adiante nesse futuro de possibilidades.
Posto isso, o grande olhar desta pesquisa está nessa tríade História, Ensino e Rap. E é
importante pensar com gentileza em como esse tripé se sustenta. Para então refletir sobre
possíveis mudanças dentro da educação. De acordo com a autora Mônica do Amaral, no livro
O que o Rap diz e a escola contradiz,
Assim como o Ensino e a História, o Rap também possui a sua historicidade. E essa está
sensivelmente ligada aos jovens de periferia, principais interessados com o ensino: alunos e
alunas que diariamente se arriscam bem longe de suas casas em busca de uma suposta
transformação social e política. Semelhante a batida - como é chamada a parte instrumental
no Rap - e o canto falado - nome dado a parte cantada ou recitada pelos Rappers ou MCs -, o
ensino também está em constante agitação e mudança. E essa ebulição de contestação e sede
por metamorfose
Além disso, para esse olhar atencioso é necessário enxergar com empatia as
características específicas de cada campo. Por exemplo, o Rap é cotidianamente colocado a
margem, por sua origem, sua estética e conteúdo. Dessa forma, como o preconceito poderia
ser superado para então a expressão artística ser entendida em sua completude? Outro
exemplo, a escola e seu ambiente engessado, na maioria das vezes, com cadeiras enfileiradas
demarcando fronteiras hierárquicas, salas claustrofóbicas que sufocam a curiosidade, muros
altos que afastam os bem aventurados do conhecimento, rotineiramente não consegue criar
uma relação de confiança e simpatia com alguns desses jovens a margem. Sobre essa relação
entre escola e música contemporânea urbana, o autor Rafael de Sousa defende a seguinte tese
no livro O Movimento Hip-Hop: a anti-cordialidade da "República dos Manos" e a estética da
violência,
Sendo assim, estaria na sutileza das diferenças, a alteridade, uma provável amizade entre
Rap, Ensino e História. Visto que, ambos possuem características que se opõem e até afastam
um ao outro como um imã, e sabidamente, na física são pólos iguais que se repelem,
poderíamos concluir pela licença poética, que se não são iguais, pelo menos, são muito
parecidos.
Quando olhamos para a expressão do Rap e sua capacidade em ser utilizada como
fonte para historiadores e material para professores avistamos um fértil campo de
possibilidades a espera de ser cultivado. Essa afirmação encontra força no olhar atento e no
sentimento de proximidade dos alunos para com esse movimento cultural. É possível
perceber que muitos deles e delas se vêem nas letras, imagens, e ritmos. A autora Ione da
Silva Jovino em seu texto expõe essa observação:
Essa identificação dos alunos com o estilo musical pode-se dar por vários
motivos. A observação de indícios nos leva a acreditar que ela ocorra em
virtude, principalmente, da temática das letras e de sua expressão estética. A
produção musical dos grupos de Rap está intimamente ligada ao contexto
em que eles vivem. A ligação grupo-contexto manifesta-se claramente nas
letras (...). (JOVINO, 1999, pág 163)
Dessa forma, mais do que legítimo - se é que buscamos essa falsa ideia de aprovação - o Rap
e o Ensino de História são dois grandes conhecidos ainda não apresentados. Isso é,
professores e professoras cotidianamente lidam com o Rap na sala de aula sem se darem
conta, enquanto o Rap está mais próximo do Ensino do que imagina.
No entanto, não é possível olhar para uma relação amigável entre Rap e Ensino sem
se condoer para a atual situação das escolas. A respeito da base curricular, apesar do grande
discurso de que se construirá o monumento do pensamento analítico e crítico, o objetivo final
vem a ser a ruinosa performance no processo avaliativo, que por sua vez é simplória e
conteudista. O autor Jean Carlos Moreno expõe essa situação contraditória,
Dessa forma, os problemas no Ensino são evidentes ainda no seu planejamento confuso e
falacioso. A priori, seria necessário que o próprio estivesse bem resolvido, para que, então um
provável encontro entre o ele e o Rap fosse satisfatório. Não seria justo, para com a expressão
artística, a responsabilidade de revolucionar os moldes do Ensino, se esse não é sincero
consigo mesmo. Decidir se o Ensino tem como objetivo preparar para o mercado de trabalho,
ou, preparar para a vida, seria o primeiro degrau nessa escada mal remendada que se tornou a
educação.
Mas, apesar do grande caminho a ser trabalhado, tijolo por tijolo, compreender a
importância de cada material nessa grande obra do saber é o coração norteador desta
construção de saberes. Somente assim seria possível saciar a curiosidade para demais
questões, como por exemplo, se as distinções são importantes e as semelhanças? Tanto o Rap
como o Ensino, muitas vezes, são pautados por questões inerentes a sociedade do presente,
isso é um obstáculos para se avistar um futuro para ambos? Também, sabemos que aos dois
cabe a transformação, a mudança, o movimento, mas em que medida essa dança da
metamorfose pode ser entendida como revolucionária ou apenas conservadora? Ademais,
quais as consequências dessa relação amigável para um e outro? Seria possível um interferir
na identidade do outro? Essa, entre outras, são perguntas a serem analisadas no decorrer dessa
caminhada rumo ao elástico horizonte de possibilidades.
Referências bibliográficas
AMARAL, Mônica G. T. do. O que o Rap diz e a escola contradiz: um estudo sobre a arte
de rua e a formação da juventude na periferia de São Paulo. São Paulo: Alameda, 2016.
JOVINO, Ione da Silva. “Rapensando” PCN’s. In: ANDRADE, Elaine N. de (org.). Rap e
educação, Rap é educação. São Paulo: Summus , 1999.
MORENO, Jean Carlos. História na base nacional comum curricular: Déjà vu e novos
dilemas no século XXI. Disponível em:
http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/histensino/article/view/26158 Acesso em: 18 nov.
2019.