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PO DE R I UD I C U R I O

TRIBUNAL Di: JISTIÇA 1K) KSIADO DK S \ O I \ U L O


4 a Câmara de Direito Privado

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO


ACÓRDÃO/DECISÃO MONOCRÁTICA
ACÓRDÃO REGISTRADO(A) SOB N°

*02074858

Agravo Interno. Art. 557, § I o , CPC. Ação Coletiva


visando revisão de cláusulas contratuais e suspensão
de cobrança de saldo devedor de compradores de
imóveis da Bancoop. Decisão que concede a
antecipação de tutela sem fundamentação acerca dos
requisitos autorizadores que formaram a convicção do
Magistrado. Afronta ao art. 93, IX, da Constituição
Federal e ao art. 273, § I o , do Código de Processo Civil.
Decisão anulada para que outra seja proferida com a
indicação das razões pelas quais deve ou não ser
concedida a liminar. Agravo interno improvido.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de


AGRAVO INTERNO n° 6 1 2 . 5 3 4 - 4 / 0 - 0 1 , da Comarca de São Paulo, em que é
agravante Associação dos Adquirentes de Apartamentos do Condomínio
Residencial Pêssego, sendo agravada Cooperativa Habitacional dos Bancários de
São Paulo - B a n c o o p :

ACORDAM, em Quarta Câmara de Direito


Privado do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, por votação
unânime, negar provimento ao agravo interno.

Insurge-se a agravante, nos termos do art. 557, §


I o , do Código de Processo Civil, contra a decisão monocrática deste relator que
deu provimento ao recurso para anular a r. decisão que concedeu a antecipação
de tutela por ausência de fundamentação, sustentando, em suma, a manutenção
da r. decisão anulada.
Este é o relatório.
Ao decidir monocraticamente o agravo e negar-lhe
seguimento ponderei o seguinte:
"Decido monocraticamente, nos termos do art. 557, §
o
I A, do Código de Processo Civil, para dar provimento a recurso que se insurge

Aíjiflvo Interno n^ 612 V M - l . - J - ü l - S.io Raulc/- Voto n° :•:> tiZb - rAMC/M


PO DER í U I) I ( I A R I O
TRIBUNAL DE ,11'STIC'A DO ESTADO DE S \ O I \ U ' L O
4 a Câmara do Direito Privado

contra decisão que contraria texto expresso de lei e jurisprudência dominante


deste Tribunal de Justiça e do Colendo Superior Tribunal de Justiça.
Tal se afirma porque o digno Magistrado prolator da r.
decisão agravada concedeu a "antecipação de tutela para suspender a
exigibilidade de qualquer saldo de apuração final lançado em desfavor dos
associados da parte autora" (fl. 588), sem qualquer menção à presença dos
requisitos autonzadores ou às razões que o convenceram da prova da
verossimilhança e do risco de dano de difícil reparação.
A r. decisão agravada é nula porque não há uma só
palavra acerca da prova da verossimilhança das alegações da associação autora e
do receio de dano de difícil reparação.
A Constituição Federal é taxativa ao determinar que
todas as decisões emanadas do Poder Judiciário, sob pena de nulidade, deverão
ser fundamentadas (art. 93, IX), no que é também seguida expressamente pelo
Código de Processo Civil (art. 165). E assim deve ser para que a parte saiba por
quais motivos fáticos ou jurídicos o JUIZ decidiu desta ou daquela maneira, bem
como para que o Tribunal, havendo recurso, possa saber por quais razões o
julgador de primeiro grau acolheu ou desacolheu algum pedido feito pelos
litigantes.
E, no tocante à decisão que concede a antecipação de
o
tutela, o Código de Processo Civil é expresso, no art. 273, § I , ao dispor que "o
JUIZ indicará, de modo claro e preciso, as razões do seu convencimento". Com
efeito, tendo em vista a extrema importância dessa medida, o legislador não se
contentou em submetê-lo apenas à regra geral constante da segunda parte do art.
165 da lei processual. Em outras palavras, nem mesmo autorizou que essa decisão
fosse fundamentada de modo conciso, devendo o JUIZ expor, com exatidão e
clareza, os motivos de seu convencimento para conceder ou negar a antecipação
de tutela.
A respeito do que cansativamente se tem decidido,
ilustre-se com julgado do Colendo Superior Tribunal de Justiça: " A motivação das
decisões judiciais reclama do órgão julgador, pena de nulidade, explicitação
fundamentada quanto aos temas suscitados. Elevada a cânone constitucional,
apresenta-se como uma das características incisivas do processo contemporâneo,
calcado no "due process of law", representando uma "garantia inerente ao estado
a
de direito" (REsp n° 493625/ PA, 4 Turma do STJ, Rei. Mm. Sálvio de Figueiredo
Teixeira, DJ 29.09.03).
E este EgrégioJTribunal de Justiça, de longa data e de
modo reiterado, tem decidido que a decisão sern fundamentação é nula (Agravo
a
de Instrumento n° 65.118-4 - Ribeirão'Preto - 2 Câmara de Direito Privado - Rei.
Cezar Peluso - J. 04.08.98). \ ft /--.

Agravo Interno n° 6 1 2 . 5 3 4 - 4 / 0 - 0 1 - São P a i W A / o l o n° 15 S 3 r - FAMC/K


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TUIBINAL DF. JUSTIÇA DO ESTADO I>K SÃO P U L O
4 a Câmara de Direito Privado

E de outra maneira não poderia ser porque, além da


exigência constitucional, a decisão judicial, segundo já advertia a melhor doutrina,
nada mais é do que a sua fundamentação (Pontes de Miranda, Comentários, Tomo
V, Forense, 1974, p. 88).
Enfim, de rigor a anulação da r. decisão agravada para
que, em conseqüência e com urgência e prioridade, seja outra proferida, com
fundamentação adequada sobre os requisitos autonzadores da antecipação da
tutela pretendida pela autora." (VT16555 - fl. 614/616).
Oportuno esclarecer que o transcurso do prazo para
a interposição do agravo de instrumento teve início apenas com a juntada do
aviso de recebimento da carta de citação (fl. 590/592), nos termos do art. 2 4 1 ,
I, do Código de Processo Civil, e da determinação do digno Magistrado de
primeiro grau (fl. 588). A simples juntada de procuração, sem poderes especiais
para receber a citação (fl. 594), não implica comparecimento espontâneo do réu.
O recurso, portanto, é tempestivo.
Outrossim, não se vislumbra interesse recursal da
autora na reforma da decisão monocratica proferida por este relator, diante do
fato de o digno Magistrado de primeiro grau já ter proferido nova decisão
concedendo, de forma fundamentada, a antecipação de tutela em favor da
Associação (fl. 666/667).
E mais não é necessário dizer para o improvimento
do agravo interno, mantidos os fundamentos da r. decisão monocratica.

Pelo exposto é que se nega provimento ao


agravo interno e se mantém, na íntegra, a decisão monocratica
agravada.

/Participaram do julgamento os Desembargadores


o o
Teixeira Leite (Presidente e 2 Juiz) e Fábio Quadros ( 3 Juiz).

Sao P a u l O j l l d e dezembro de 2008.

MAIA DA CUNHA
V
RELATOR/

Agravo I iteihü r,° ol2. í :.'M-1..G-0l- bé-L Paulo - Veto ir ; 15 í>3b - r-AMC-'M

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