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b) Tema;
c) Público-alvo;
d) Ementa;
e) Objetivo(s) geral(is);
f) Objetivos específicos;
g) Conteúdo programático;
h) Desenvolvimento do tema;
i) Recursos didáticos;
j) Avaliação;
k) Bibliografia.
SPUDEIT, Daniela. Elaboração do Plano de Ensino e do Plano de Aula. Rio de Janeiro: Escola de
Biblioteconomia, UNIRIO, 2014. Disponível em:
<http://www.unirio.br/cchs/eb/arquivos/licenciatura/ELABORACAO%20DO%20PLANO%20DE
%20ENSINO%20E%20DO%20PLANO%20DE%20AULA.pdf>. Acesso em: 10 ago. 2020.
O seguinte modelo é apenas uma sugestão para a realização de um Plano de Aula. Conforme as
particularidades do público-alvo, temática, objetivos e concepções metodológicas do professor,
é possível haver a adaptação da estrutura do planejamento.
PLANO DE AULA
Professor/Equipe responsável:
I. TEMA
Representações da mulher negra em Conceição Evaristo
II. PÚBLICO-ALVO
Alunos de graduação, em especial do curso de Licenciatura em Letras.
III. EMENTA
A aula versará sobre as particularidades da representação da mulher negra na obra da
escritora Conceição Evaristo (1946-). Desse modo, para localizar uma espécie de perfil que
unifique tais representações, parte-se do pensamento crítico acerca do que pode ser
considerado, na história literária brasileira, uma Literatura Negra / Afro-brasileira, para se
chegar às reflexões da autora sobre o assunto, bem como às suas produções literárias.
V. OBJETIVOS ESPECÍFICOS
- Introduzir aos discentes a ideia de Literatura Negra, suas dimensões e a construção de uma
tradição acerca do tema;
- Refletir acerca das relações possíveis entre a tradição literária brasileira e a formação ou
construção de uma historiografia literária voltada à autorrepresentação do negro no Brasil;
- Apresentar e elencar os principais autores que podem ser considerados antecessores à
produção literária afro-brasileira contemporânea;
- Apontar as particularidades da Literatura Negra, em sua relação com a tradição literária
brasileira, considerando o pensamento acerca do assunto;
- Apresentar a produção e as principais particularidades da produção de Conceição Evaristo;
- Analisar, a partir da leitura de textos críticos e literários da autora, suas reflexões acerca da
Literatura Negra e de sua própria produção, bem como as particularidades de sua escrita, com
o foco na questão da (autor)representação da mulher negra;
- Possibilitar a reflexão sobre a pertinência do estudo da obra de Conceição Evaristo, sua posição
no panorama da literatura contemporânea brasileira e seu lugar e importância na história da
literatura nacional.
VI. CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
- Apresentação da ideia de Literatura Negra / Afro-brasileira, considerando as reflexões críticas
e teóricas acerca do assunto, bem como de seus principais autores e particularidades;
- Caracterização da obra de Conceição Evaristo, sua posição específica no panorama da literatura
brasileira contemporânea, bem como sua importância em relação à tradição literária nacional;
- Apresentação das possibilidades de representação da mulher negra na obra da escritora
mineira, a partir da leitura de passagens de sua produção crítico-teórica acerca do assunto, bem
como de sua produção literária lírica e em prosa
IX. AVALIAÇÃO
A avaliação, no que tange a esta aula, terá caráter diagnóstico e formativo, isto é,
deverá, durante e após o processo da aula, levantar as necessidades dos alunos em relação à
compreensão do tema estudado, focando em suas dúvidas e no acompanhamento das
necessidades surgidas durante e ao cabo da exposição. Do mesmo modo, espera-se que os
alunos possam problematizar e questionar os problemas discutidos, relacionando o tema a seus
conhecimentos prévios, bem como participando na condução da aula.
X. BIBLIOGRAFIA
CANDIDO, Antonio. Literatura e subdesenvolvimento. In: ______. A educação pela noite. 5. ed.
Rio de Janeiro: Ouro sobre azul, 2006, p. 169-196.
DUARTE, Eduardo de Assis. Por um conceito de literatura afro-brasileira. Terceira margem, Rio
de Janeiro, n. 23, p. 113-138, jul.-dez. 2010.
______. Conceição Evaristo. In: DUARTE, Eduardo de Assis; FONSECA, Maria Nazareth Soares
(Orgs.). Literatura e afrodescendência no Brasil: antologia crítica. Belo Horizonte: Editora UFMG,
2014. v. 4. p. 103-116.
EVARISTO, Conceição. Gênero e etnia: uma escre(vivência) de dupla face. In: MOREIRA, Nadilza
Martins de Barros; SCHNEIDER, Eliane (Orgs.). Mulheres no mundo: etnia, marginalidade e
diáspora. João Pessoa: Idéia/Editora Universitária, 2005. v. 1. p. 201-212.
______. Literatura negra: uma poética da nossa afro-brasilidade. Scripta, Belo Horizonte, v. 13,
n. 25, p. 17-31, jul.-dez. 2009.
IANNI, Octavio. Literatura e consciência. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, São Paulo,
n. 28, p. 91-99, 1988.
RIBEIRO, Djamila. O que é lugar de fala? Belo Horizonte: Letramento; Justificando, 2017.
(Coleção Feminismos Plurais).
ANEXO – Passagens selecionadas para leitura em sala de aula
“Tenho concordado com os pesquisadores que afrmam que o “ponto de vista” do texto
é o aspecto preponderante na conformação da escrita afro-brasileira. Estou de pleno acordo,
mas insisto na constatação obvia de que o texto, com o seu ponto de vista, não é fruto de uma
geração espontânea. Ele tem uma autoria, um sujeito, homem ou mulher, que com uma
“subjetividade” própria vai construindo a sua escrita, vai “inventando, criando” o ponto de vista
do texto. Em síntese, quando escrevo, quando invento, quando crio a minha ficção, não me
desvencilho de um “corpo-mulher-negra em vivência” e que por ser esse “o meu corpo, e não
outro”, vivi e vivo experiências que um corpo não negro, não mulher, jamais experimenta. As
experiências dos homens negros se assemelham muitíssimo às
minhas, em muitas situações estão par a par, porém há um instante profundo, perceptível só
para nós, negras e mulheres, para o qual nossos companheiros não atinam. Do mesmo modo,
penso a nossa condição de mulheres negras em relação às mulheres brancas. Sim, há uma
condição que nos une, a de gênero. Há, entretanto, uma outra condição para ambas, o
pertencimento racial, que coloca as mulheres brancas em um lugar de superioridade – às vezes,
só simbolicamente, reconheço – frente às outras mulheres, não brancas. E desse lugar, muitas
vezes, a mulher branca pode e pode se transformar em opressora, tanto quanto o homem
branco. Historicamente, no Brasil, as experiências das mulheres negras se assemelham muito
mais às experiências de mulheres indígenas. E então, volto a insistir: a sociedade que me cerca,
com as perversidades do racismo e do sexismo que enfrento desde criança, somada ao
pertencimento a uma determinada classe social, na qual nasci e cresci, e na qual ainda hoje
vivem os meus familiares e a grande maioria negra, certamente influiu e influi em minha
subjetividade. E pergunto: será que o ponto de vista veiculado pelo texto se desvencilha
totalmente da subjetividade de seu criador ou criadora?” (EVARISTO, 2009, p. 18).
No meio da noite
Carolina corta a hora da estrela.
Nos laços de sua família um nó
– a fome.
José Carlos masca chicletes.
No aniversário, Vera Eunice desiste
do par de sapatos,
quer um par de óculos escuros.
João José na via-crúcis do corpo,
um sopro de vida no instante-quase
a extinguir seus jovens dias.
E lá se vai Carolina
com os olhos fundos,
macabeando todas as dores do mundo...
Na hora da estrela, Clarice nem sabe
que uma mulher cata letras e escreve
“De dia tenho sono e de noite poesia”.
(EVARISTO, 2017, p. 96)
3. Insubmissas lágrimas de mulheres [introdução]
“Gosto de ouvir, mas não sei se sou hábil conselheira. Ouço muito. Da voz outra, faço
minha, as histórias também. E no quase gozo da escuta, seco os olhos. Não os meus, mas de
quem conta. E, quando de mim uma lágrima se faz mais rápida do que o gesto de minha mão a
correr sobre meu próprio rosto, deixo o choro viver. E, depois, confesso a quem me conta, que
emocionada estou por uma história que nunca ouvi e nunca imaginei para nenhuma
personagem encarnar. Portanto, estas histórias não são totalmente minhas, mas quase que me
pertencem, na medida em que, às vezes, se (con)fundem com as minhas. Invento? Sim, invento,
sem o menor pudor. Então as histórias não são inventadas? Mesmo as reais, quando são
contadas. Desafio alguém a relatar fielmente algo que aconteceu. Entre o acontecimento e a
narração do fato, alguma coisa se perde e por isso se acrescenta. O real vivido e o escrito
aprofunda mais o fosso. Entretanto, afirmo que, ao registrar estas histórias, continuo no
premeditado ato de traçar uma escrevivência” (EVARISTO, 2016, p. 7).
“Escrevo como uma homenagem póstuma à Vó Rita, que dormia embolada com ela, a
ela que nunca consegui ver plenamente, aos bêbados, às putas, aos malandros, às crianças
vadias que habitam os becos de minha memória. Homenagem póstuma às lavadeiras que
madrugavam os varais com roupas ao sol. Às pernas cansadas, suadas, negras, aloiradas de
poeira do campo aberto onde aconteciam os festivais de bola da favela. Homenagem póstuma
ao Bondade, ao Tião Puxa-Faca, à velha Isolina, à D. Anália, ao Tio Totó, ao Pedro Cândido, ao
Sô Noronha, à D. Maria, mãe do Aníbal, ao Catarino, à Velha Lia, à Terezinha da Orcarlinda, à
Mariinha, à Donana do Padin.
Homens, mulheres, crianças que se amontoaram dentro de mim, como amontoados
eram os barracos de minha favela” (EVARISTO, 2017, p. 17).
“A menina crescia. Crescia violentamente por dentro. Era magra e esguia. Seus ossinhos
do ombro ameaçavam furar o vestidinho tão gasto. Maria-Nova estava sendo forjada a ferro e
a fogo. A vida não brincava com ela nem ela brincava com a vida. Ela tão nova e já vivia mesmo.
Muita coisa, nada ainda, talvez ela já tivesse definido. Sabia, porém, que aquela dor toda não
era só sua. Era impossível carregar anos e anos tudo aquilo sobre os ombros. Sabia de vidas
acontecendo no silêncio. Sabia que era preciso pôr tudo para fora, porém como, como? Maria-
Nova estava sendo forjada a ferro e fogo” (EVARISTO, 2017, p. 76).