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Pílula do Dia Seguinte: uma revisão de literatura sobre a Anticoncepção de


Emergência

Day after Pill: a review of literature about Emergency Anti-conception

Artigo
Original
Rozana Aparecida de Souza 1
Original
Paper Palavras-chaves: Resumo

Anticoncepção Este artigo é uma revisão da literatura sobre o debate contemporâneo


de Emergência travado acerca da anticoncepção de emergência (AE), método contraceptivo
comumente conhecido como pílula do dia seguinte.. A AE é um método
Saúde normatizado pelo Ministério da Saúde desde 1996 para se evitar uma
Reprodutiva gravidez indesejada, tem seu uso recomendado em situações de emergência,
como em casos de violência sexual, relação sexual desprotegida e nos
Planejamento casos de possível falha de outro método (ex: ruptura de camisinha).
Familiar Foram levantadas pesquisas e estudos nacionais e internacionais sobre os
mitos e barreiras que envolvem o acessso e o uso deste contraceptivo. O
artigo apresenta um resgate sobre a história da contracepção no Brasil e
sobre a constituição das políticas públicas de atenção integral a saúde da
mulher, localizando a AE nestes contextos, bem como dados relevantes das
pesquisas levantadas.

Abstract Key words:

This article is a literature revision about the contemporary debate about the Emergency
emergency anti-conception (EA), a contraceptive method usually called the Anti-conception
Day After pill. EA is a method regulated by Health Ministry since 1996 to
avoid an undesirable pregnancy, it has its use recommended in emergency Reproductive
situations, as sexual violence, unprotected sexual relation and in cases Health
of possible failure of another method (i.e. rupture of condom). National
and International researches and studies about miths and barriers which Familiar
involve the access and the use of the contraceptive method were considered. Planning.
The article presents a return about the History of contraception in Brazil
and about the constitution of public policies of integral attention to women
health, observing EA in these contexts, as well as relevant data from the
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researches observed.

1. Introdução

Pensar a Anticoncepção de mulheres; expor como a questão reprodutiva


Emergência (AE) e o debate contemporâneo passou a fazer parte do cenário das políticas
travado em torno deste método contraceptivo públicas, mas especificamente no campo
edição nº 08, dezembro 2008

impõe a necessidade de: refletir sobre os das políticas de saúde; mostrar o processo
conceitos de gênero e sexualidade numa de organização das ações de atendimento às
perspectiva socioantropológica; apresentar um questões reprodutivas em uma concepção de
breve resgate histórico sobre a contracepção, política de atenção integral à saúde da mulher,
atentando para a constituição das políticas no campo dos direitos reprodutivos e sexuais.
de controle de natalidade, bem como o Necessário se faz, também, discutir a
posicionamento do movimento feminista em política atual do Ministério da Saúde (MS) para
prol do reconhecimento da autonomia das os métodos contraceptivos, principalmente no

1
Mestranda - Saúde Coletiva – IESC/UFRJ - Serviço Social UniFOA
que se refere à AE: sua introdução no leque O Brasil apresentou um aumento
de métodos anticoncepcionais modernos, sua populacional entre os anos de 1940 a 1970. 59
normatização pelo Ministério, sua prescrição Segundo Vieira (2003), neste período, o país
pelos profissionais de saúde e sua distribuição vivenciou uma alta na taxa de natalidade.
aos serviços públicos de saúde, como parte das Esta alta aconteceu graças a dois fatores: 1-
conquistas originárias do campo das políticas declínio moderado na taxa de mortalidade
de direitos sexuais e reprodutivos do Brasil. iniciado na década de 1940, devido ao controle
No sentido de apontar como a de doenças transmissíveis e às melhorias no
AE é percebida por vários segmentos da saneamento básico; 2- a alta da fecundidade.
sociedade, resultados de pesquisas nacionais Essa fase produziu uma pirâmide etária com
e internacionais foram elencados, nos quais concentração em jovens.
ficam evidentes os mitos e barreiras que A partir de 1970, o país mostra
perpassam o acesso e o uso da pílula do dia significativo declínio da fecundidade. O uso de
seguinte. métodos contraceptivos explica este declínio,
considerado rápido e intenso. Segundo Berquó
(apud Vieira, 2003), o Brasil demorou 40
2. A História da Contracepção no Brasil anos para aumentar 45% na esperança de
vida e 15 anos para diminuir 48% na taxa de
A partir de 1950, várias foram as fecundidade. Esta queda da fecundidade não
linguagens e conceituações relativas à saúde foi resultado de nenhuma política nacional
de mulheres e homens adotadas por vários destinada a tal objetivo. Porém, segundo
países. Conceitos como controle de natalidade, Vieira (2003), havia uma política implícita de
controle populacional, planejamento familiar, controle populacional. Esta política colocava
saúde materno-infantil, saúde da mulher, no mercado contraceptivos orais de baixo
saúde reprodutiva, saúde sexual, direitos custo, facilitava o acesso à esterilização
reprodutivos, direitos sexuais, entre outros, feminina e, também agia de forma indireta,
indicam como os países têm trabalhado através de ações de ampliação à educação,
a questão do corpo, da reprodução e da aumento das mulheres na força de trabalho e a
sexualidade. promoção do consumo pela mídia televisa.
A atenção dada às questões Sorj et al. (2007) explicam a rápida
populacionais tem evoluído consideravelmente, redução da fecundidade através de vários
e mudanças têm sido incorporadas em fatores, tais como: melhoria e popularização
políticas de diversos países. As décadas de dos métodos contraceptivos, mudanças
1950 e 1960 foram marcadas pela emergência comportamentais relativas ao lugar da
de preocupações neomalthusianas de que maternidade na identidade social das mulheres
o aumento populacional poderia atrasar o e, também o ingresso maciço das mulheres
crescimento, destruir o meio ambiente, sucatear no mercado de trabalho (ocasionando menos
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os serviços sociais e aumentar a pobreza. Para prioridade para a formação de um núcleo
responder a essas preocupações, muitos países, familiar com filhos).
nos anos de 1960, adotaram uma abordagem da O tema planejamento familiar
questão populacional que envolvia uma política sempre levantou polêmicas no país.
de controle de natalidade, implementando Durante a década de 1970, o debate em
programas verticais de planejamento familiar. torno do controle demográfico encontrava-
A idéia de que programas de planejamento se acirrado e polarizado. O MS tratava a
familiar promoveriam o controle populacional, questão do planejamento familiar de forma
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permaneceu ao longo da década de 1970. pouco sistematizada. Antes de 1970, a baixa


Formuladores de políticas defendiam a densidade demográfica provocava uma
disseminação de métodos contraceptivos, preocupação de ocupar todo o território
mesmo que contrariassem os interesses nacional, principalmente as fronteiras. Havia
individuais. Nos primórdios da demografia, também uma forte influência da Igreja
preocupações com direitos individuais não Católica, para que não se adotasse políticas
eram incorporadas às análises da explosão de planejamento familiar. (VIEIRA, 2003 ;
populacional. (GALVÃO, 1999; CORRÊA et COSTA et al., 2006).
al.; 2006) Certos fatores contribuíram para
mudanças no discurso do Estado acerca do início da década de 1980 foi marcado pela
60 planejamento familiar, a partir da década de radicalização do discurso dos militares
1970: o crescimento demográfico e a descrença em relação ao controle demográfico. Esta
em relação ao crescimento econômico frente radicalização foi acompanhada de uma reação
a uma recessão mundial e pressões externas, indignada de novos atores sociais, dentre
levaram o governo brasileiro a assumir uma eles o movimento feminista, recente ainda
posição diferente. O Brasil passa a defender, no cenário nacional, mas com capacidade de
em conferências e encontros internacionais, o introduzir neste debate posições firmes.
direito dos casais ao planejamento familiar e o Os movimentos feministas criticavam
dever do estado em prover meios e informações a adoção de metas demográficas das entidades
sobre contracepção. Porém, nenhuma medida de planejamento familiar de cunho controlista,
concreta foi tomada para implantar esta idéia. pois acreditavam que essas entidades queriam
Para Costa et al. (2006), esta atuação a todo custo aumentar o uso de contraceptivos
frágil do MS frente às ações de planejamento para alcançar metas demográficas, porém,
familiar, possibilitou que instituições de não apresentavam nenhuma preocupação
cunho controlista agissem em território com a saúde das mulheres. Duas idéias já se
nacional de forma desordenada. Vieira (2003) destacavam no país, através dos discursos dos
informa que proliferaram clínicas privadas movimentos feministas: a idéia do controle
de planejamento familiar e o comércio de sobre o próprio corpo e sobre a reprodução e a
contraceptivos no Brasil, já em 1965. Estas questão da qualidade da assistência à saúde. O
clínicas foram introduzidas por agências movimento feminista clamava pela autonomia
financiadas por órgãos internacionais, e eram das mulheres nas escolhas sobre procriação e
denominadas controlistas por alinharem um contrapunha-se aos argumentos pró-natalistas
discurso de controle de natalidade, almejando de ocupação do território nacional. (ÁVILA e
políticas de controle populacional e adotando CORRÊA, 1999; VIEIRA, 2003).
metas demográficas, que incluíam o declínio
da fecundidade. Tiveram maior relevância
neste cenário a Sociedade Civil de Bem-Estar 3. A Constituição das Políticas Públicas de
da Família no Brasil (BEMFAM) e o Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher
Pesquisas de Assistência Integrada à Mulher e
à Criança (CPAIMC). Segundo Costa et al. (2006), vale
Para Vieira (2003), durante as ressaltar que o posicionamento das mulheres,
décadas de 1960 e 1970, a questão do no cenário nacional, desde a década de 1960,
planejamento familiar, sempre foi controversa protagonizou uma ruptura com o clássico
no cenário nacional, pois havia uma oposição papel social da maternidade. As mulheres
clara por parte da Igreja Católica, por parte introduziram-se no mercado de trabalho,
de intelectuais e acadêmicos, e faltava um buscaram controlar a fecundidade e adotar
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consenso entre os grupos que formavam o práticas anticonceptivas e desvincularam a vida


governo militar. Segundo Costa et al. (2006) sexual da maternidade. A reprodução emergia
o governo brasileiro agiu de forma ambígua, como um tema a ser pensado para além das
tinha um posição de cautela em relação à velhas práticas de controle de natalidade. Para
política de controle da fecundidade, mas era Sorj et al. (2007) o que favoreceu a entrada
permissivo acerca da atuação de entidades das mulheres no mercado de trabalho foi a
privadas. diminuição da taxa de fecundidade, bem como
O MS lançou, em 1977, o Programa o crescimento da cultura de consumo.
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de Saúde Materno-Infantil, que tinha por A questão reprodutiva passou a fazer


objetivo prevenir a gestação de alto risco. parte das políticas públicas, não como um
(CORRÊA et al., 2006). Até 1980, a política direito geral, mas como um ponto específico
governamental para as mulheres se restringia no campo das políticas de saúde, a partir da
a ações direcionadas à assistência ao pré-natal, década de 1980. (CORRÊA et al., 2006).
parto e puerpério. Em 1948, a Organização Mundial de
Este cenário abordado por Costa et Saúde (OMS) adotou um novo conceito de
al. (2006) e Vieira (2003), começou a mudar saúde amplo, multidimensional, que acabou
na década de 1980. Segundo as autoras, o por incluir a saúde reprodutiva: “saúde é
um estado de completo bem-estar físico, populacional das mulheres (VIEIRA, 2003;
mental e social e não meramente a ausência FIGUEIREDO, 2004; COSTA et al., 2006). 61
de doença ou enfermidade”. A partir desta Os direitos reprodutivos e sexuais,
nova definição de saúde, foi-se delineando fazem parte de um conjunto mais amplo dos
os conceitos de saúde materno-infantil, saúde direitos humanos que, desde a Declaração
da criança, saúde da mulher, etc.. (GALVÃO, Universal da ONU (1948), são considerados
1999; CORREA et al., 2006). universais, indivisíveis, interdependentes e
Nos anos de 1980, a noção de “saúde inter-relacionados. (CORRÊA et al., 2006).
integral da mulher” é adotada, mundialmente, É importante não fundir a noção de direitos
a fim de articular aspectos relacionados à reprodutivos com direitos sexuais. Na
reprodução biológica e social, dentro dos sociedade atual, é preciso reconhecer que a
marcos da cidadania. O termo “saúde da atividade sexual não implica, necessariamente,
mulher”, não se restringia à reprodução, em reprodução. Da mesma forma que
traduzia uma série de reivindicações: reprodução nem sempre envolve atividade
discriminação e legalização do aborto, acesso sexual, haja vista as técnicas de fertilização in
aos métodos contraceptivos, pré-natal e parto vitro. Gênero, sexualidade e reprodução fazem
com qualidade, dentre outras reivindicações parte da vida humana, que se tangenciam, que
nos planos políticos e de atendimento médico podem até se confundir, mas que correspondem
(ÁVILA e CORRÊA, 1999; CORRÊA, et al., a dimensões distintas.
2006). Heilborn (1997) informa que a adoção
Em 1983, o MS apresentou uma do termo gênero surge nos anos de 1970,
proposta de política concreta que concebia principalmente, graças à critica feminista.
a questão da saúde da mulher de forma “Este conceito veio salientar a dimensão de
integral, não se detendo apenas nas questões atribuição cultural e modelação dos corpos
de concepção e contracepção: o Programa de sexuados”. (HEILBORN, 2006, p. 34)
Atenção Integral à Saúde da Mulher – PAISM. Para esta autora, é a cultura que
O programa foi um marco pioneiro ao propor constrói o gênero, simbolizando as atividades
o atendimento à saúde reprodutiva no contexto como masculinas ou femininas. A categoria
da atenção integral e também por registrar o esta profundamente relacionada à reprodução,
início da atuação do governo brasileiro nas pois tem sido reafirmado na literatura, que é no
questões relativas ao planejamento familiar. trabalho reprodutivo, o lugar onde a diferença se
(Vieira, 2003; FIGUEIREDO, 2004; OSIS et instala. Analisando o cenário contemporâneo,
al.,2006; COSTA et al.,2006; CORRÊA et al., pode se afirmar que a “distribuição das tarefas
2006; GALVÃO, 1999). entre os sexos é, em muitos sistemas culturais,
Galvão (1999) chama atenção para o entendida como espécie de extensão das
fato do conceito do PAISM ter se desenvolvido diferenças anatômicas (procriativas) entre os
ao longo de anos, com base em experiências sexos” (HEILBORN, 1997, p. 104). Portanto,
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de programas do MS e de outras instituições, “naturaliza-se” uma série de tarefas como
que eram realizadas no Brasil desde os anos de eminentemente femininas, associadas ao papel
1960. que a mulher ocupa no processo produtivo: o
O PAISM inovou no reconhecimento cuidado com a prole é destinado às mulheres.
dos direitos reprodutivos das mulheres, Segundo Bozon (2004), a maior parte
ao contemplar vários aspectos da saúde das culturas traduziu a diferença dos sexos
reprodutiva feminina, abarcando todas as em uma linguagem binária e hierarquizada,
fases de vida da mulher, abandonando a visão na qual apenas um dos sexos era valorizado.
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reducionista da mulher apenas como mãe Dentro desta lógica, o feminino esta assinalado
e reprodutora. Este novo programa incluía no lado inferior.
ações educativas, preventivas, de diagnóstico, Ainda segundo Bozon (2004), em
tratamento e recuperação, englobando a todas as culturas, a iniciação sexual é uma
assistência à mulher em clínica ginecológica, etapa marcante para a construção social do
no pré-natal, parto e puerpério, no climatério, masculino e do feminino. Para Heilborn (2006),
em planejamento familiar, DST, câncer de as articulações entre gênero e sexualidade
colo de útero e de mama, além de outras exprimem essa tensão. A sexualidade vem
necessidades identificadas a partir do perfil sendo entendida como produto de diferentes
cenários, e não somente como derivada do e na autonomia das mulheres e dos casais
62 funcionamento bio-psíquico dos indivíduos. sobre o número de filhos que desejavam ter.
O destaque sobre o cenário sociocultural Este discurso foi produto da reforma sanitária
remete à premissa de que, se há características em curso no país. O PAISM incorporou,
distintas entre homens e mulheres no tocante como princípios e diretrizes, as propostas
à vida sexual e na interface desta com a esfera de descentralização, hierarquização e
reprodutiva, elas ocorrem devido a uma regionalização dos serviços, bem como a
combinação de fenômenos que refletem nos integralidade e a eqüidade da atenção, num
corpos como efeito de processos complexos de período em que, paralelamente, no âmbito do
socialização dos gêneros. Portanto, há estrito Movimento Sanitário, se concebia o arcabouço
imbricamento entre sexualidade gênero. conceitual que embasaria a formulação do
“A sexualidade seria uma forma Sistema Único de Saúde (SUS) (GALVÃO,
moderna (sec. XVIII) de arranjo e construção 1999; ÁVILA e CORRÊA, 1999; COSTA et
de representações e atitudes sobre o que al. 2006).
seria uma atitude erótica espontânea, Em 1988, com a promulgação da
traduzindo uma dimensão interna dos sujeitos, Constituição Federal, torna-se visível uma
ordenadas pelo desejo” (HEILBORN, 1997, das grandes conquistas do Movimento da
p. 105). Estudos sociológicos mostram que Reforma Sanitária: a garantia da saúde como
a construção social tem um papel central na direito do cidadão e dever do Estado. O
elaboração da sexualidade humana. De acordo planejamento familiar também foi definido
com Bozon (2004), a programação biológica na Carta Magna como de livre arbítrio das
continua predominante na sexualidade animal, pessoas envolvidas (COSTA et al., 2006). O
enquanto que nos homens, devido ao processo direito ao planejamento familiar foi definido
de “educação”, necessita de um aprendizado no §7 do Art. 226 da Constituição Federal de
social para saber de que maneira, quando e 1988:
com quem agir sexualmente.
Fundado nos princípios da dignidade da pessoa
Na contemporaneidade, a procriação
humana e da paternidade responsável, o planejamento
ocupa apenas um espaço reduzido e marginal, familiar é livre decisão do casal, competindo ao
enquanto que a sexualidade aparece como Estado propiciar recursos para o exercício desse
direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte
uma experiência pessoal, fundamental para a
de instituições oficiais ou privadas.
construção do sujeito, em um domínio que se
desenvolveu e assumiu um peso considerável
A lei n.º 9.263, de 12/01/1996 – que
no decorrer dos séculos: a esfera da intimidade
regula o § 7º do art. 226- define o planejamento
e da afetividade.
familiar bem como a Portaria n.º 144, de
De acordo com Bozon (2004), o
20/11/1997, da Secretaria de Assistência à
repertório sexual se ampliou, as normas e as
Saúde/MS.
trajetórias da vida sexual se diversificaram,
A Portaria nº 48, de 11/02/1999, da
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os saberes e as encenações da sexualidade


Secretaria de Assistência à Saúde/MS, que
se multiplicaram. No mundo ocidental
também definiu o planejamento familiar,
contemporâneo, a vida sexual não está
inova ao apontar normas e diretrizes para a
mais identificada com a fecundidade e a
realização da esterilização (tanto feminina
procriação.
quanto masculina).
O fundamento dos direitos
O PAISM à época (1983), já havia
reprodutivos é a autonomia de decidir sobre
estabelecido que o planejamento familiar
a procriação. Uma questão importante sobre
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deveria incluir ações para a anticoncepção e


estes direitos se refere ao fato de que eles não
também atenção aos casos de infertilidade.
devem se restringir às mulheres, mas também
Uma década depois, algumas pesquisas
incluem os homens. As decisões reprodutivas
de avaliação do PAISM foram produzidas.
devem ser conseqüência de consentimento
Uma delas (OSIS et al, 2006) identificou
mútuo entre os parceiros. (CORRÊA e
que sua implantação foi caracterizada pela
PETCHESKY, 1996).
descontinuidade e baixa efetividade das ações,
No processo de implantação do
e os avanços foram lentos durante os quinze
PAISM, prevaleceu o discurso consensual,
anos que se seguiram. Apesar dos esforços do
baseado nos princípios do direito à saúde
MS, os pontos cruciais do PAISM, ainda na
década de 1980 eram: a disponibilidade dos ou contar com pelo menos uma equipe do
métodos anticoncepcionais na ponta do sistema Programa de Interiorização do Trabalho em 63
de saúde e a capacitação dos profissionais Saúde (PITS) (OSIS, 2006).
envolvidos na operacionalização das ações do Essa nova estratégia para distribuição
programa. Para Galvão (1999), é importante de métodos anticoncepcionais reversíveis era
reconhecer que as limitações e “fracassos” do baseada, no envio de kits de contraceptivos:
PAISM não podem ser analisados de forma o básico (que era composto pela pílula
descontextualizada, mas considerando-se o combinada de baixa dosagem, a minipílula e o
quadro caótico em que se encontrava o sistema preservativo masculino) e o complementar (que
de saúde pública nacional, na década de 1980, era composto pelo Dispositivo Intra-Uterino
e uma série de dificuldades culturais, políticas, –DIU- e pelo anticoncepcional injetável
sociais, econômicas que tornaram entraves trimestral). Se o município tivesse condições
para a operacionalização do conceito de saúde adequadas para a prescrição e utilização de
integral da mulher. injetáveis e do DIU, era encaminhado, também,
Na década de 1990, algumas o kit complementar. (OSIS et al.,2006; OSIS,
mudanças foram encadeadas pelo Ministério, 2006)
procedendo-se a descentralização de recursos No ano de 2002, foram realizadas
federais, incluindo a compra de insumos 2 remessas para os municípios. Foi enviado
contraceptivos. Apesar destas mudanças, um total de 40.000 kits básicos, para 4.568
os problemas com o planejamento familiar municípios, e 2.659 kits complementares,
persistiram, como apontado nos dados do para 433 municípios. Além destes kits, o MS,
relatório técnico de uma missão enviada naquele ano, pela primeira vez, distribuiu
pelo Fundo de População das Nações Unidas a pílula anticoncepcional de emergência,
(FNUAP). para aproximadamente 439 municípios e 59
Alguns dados deste relatório são serviços de referência em atenção às mulheres
destacados por Vieira (2003): havia uma vítimas de violência sexual.
grande lacuna entre a demanda das pessoas Por ocasião do envio da primeira
por contraceptivos e o desejo e acesso aos remessa de insumos aos municípios, em
métodos anticoncepcionais; foi constatada julho de 2002, o MS solicitou ao Centro de
falta de insumos contraceptivos e ausência Pesquisas em Saúde Reprodutiva de Campinas
de gerenciamento logístico; percebeu-se (CEMICAMP), uma pesquisa com o objetivo
falta de capacidade técnica das equipes em de “verificar se os métodos anticoncepcionais
clínicas dos serviços públicos. Este relatório enviados aos municípios estavam à disposição
concluiu que havia à disposição das mulheres nas Unidades Básicas de Saúde, e identificar
apenas dois métodos contraceptivos (a pílula os possíveis obstáculos a essa disponibilidade”
anticoncepcional e a esterilização), havia, (OSIS et al., 2006: 2482).
também, uma distorção nos propósitos do Com a realização da pesquisa
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programa que acabava por não contribuir com avaliativa, as pesquisadoras do CEMICAMP
a saúde reprodutiva das mulheres. apontaram a seguinte questão: a atenção
No ano de 2000, o MS voltou ao planejamento familiar continuava a ser
a disponibilizar os insumos através das marcada pela indisponibilidade de métodos
secretarias estaduais de saúde. A partir anticoncepcionais nos serviços públicos de
de algumas tentativas de avaliação deste saúde e pela capacitação desigual e insuficiente
sistema de distribuição de contraceptivos e dos profissionais para atuarem neste campo. Os
de discussões sobre as políticas desta área, profissionais das equipes de saúde da família
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foi proposta uma nova estratégia, na qual não consideram o planejamento familiar como
a compra dos insumos e envio (trimestral) parte da atenção básica em saúde e não se
aos municípios ficaria a cargo do MS, com julgavam capacitados para oferecer serviços
a meta de atender 30% da demanda. O envio assistência nesta área. Para resolver estas
era vinculado a algumas exigências: ter pelo questões, as pesquisadoras chamam a atenção
menos uma equipe do Programa de Saúde para o fato de que mesmo que o MS assegure
da Família (PSF) habilitada ou; estar com o a regularização da distribuição dos métodos
termo de adesão ao Programa de Humanização às secretarias municipais de saúde, é mister
no Pré-Natal e Nascimento (PHPN) aprovado que os municípios incorporem o planejamento
familiar como uma ação de atenção básica, em 2004, o documento “Política Nacional de
64 desenvolvendo as ações e atividades com base Atenção Integral à Saúde da Mulher: Princípios
em princípios relativos aos direitos humanos e e Diretrizes”. Tal política foi construída
à bioética. Estas análises construídas sobre a nos anos de 2003 e 2004, em parceria com
trajetória do planejamento familiar no Brasil diversos setores da sociedade. Este documento
são relevantes para pensarmos sobre a eficácia reflete o compromisso com a implementação
desta política no país. de ações de saúde que contribuam para a
Segundo o Manual Técnico de garantia dos direitos humanos das mulheres
Assistência em Planejamento Familiar e reduzam a morbimortalidade por causas
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2002), ainda preveníveis e evitáveis. Esta política tomou
hoje o quadro de uso dos métodos de como referência o conceito de saúde da OMS,
anticoncepção reflete algumas distorções incorporou princípios da saúde reprodutiva,
da oferta dos mesmos no território nacional bem como dimensões da sexualidade e da
desde a década de 1960, quando ela foi reprodução humana numa perspectiva de
iniciada pelas entidades privadas de cunho direitos (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004a).
controlista, tendo como métodos quase A Política Nacional de Atenção
exclusivos a pílula e a laqueadura. Segundo Integral à Saúde da Mulher apresentou um
Vieira (2003), as principais características do plano de ação/metas para os anos de 2004-
planejamento familiar seriam: a medicalização 2007 (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004b),
e a privatização. com 14 objetivos.
A OMS, no mesmo ano da Em 2005, atendendo a um dos
promulgação da Constituição Federal objetivos da Política Nacional de Atenção
de 1988, adota a concepção de “saúde Integral à Saúde da Mulher, o MS lançou o
reprodutiva”, visando incorporar dimensões documento “Direitos Sexuais e Reprodutivos”
sociais da reprodução e desenhar políticas que, apresenta diretrizes para garantir os direitos
que respondessem às necessidades como de homens e mulheres, adultos e adolescentes
pré-natal, parto, puerpério, aborto, doenças em relação à saúde sexual e reprodutiva. Neste
ginecológicas e câncer cervical. Este conceito documento, o governo brasileiro assume
inovou ao incorporar os homens da dimensão compromisso com o respeito e a garantia dos
reprodutiva. Porém, a expressão utilizada no direitos humanos, entre os quais os direitos
Brasil continuou sendo “saúde integral das reprodutivos, na formulação e implementação
mulheres”. (CORRÊA et al., 2006) de políticas em relação ao planejamento
Segundo a Conferência Internacional familiar e toda e qualquer questão referente à
sobre População e Desenvolvimento (1994), população e ao desenvolvimento.
saúde reprodutiva pode ser definida como um
estado de completo bem-estar físico, mental e
social em todas as matérias concernentes ao 4. A Pílula do Dia Seguinte
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sistema reprodutivo, suas funções e processos,


e não apenas mera ausência de doenças ou No que concerne à anticoncepção,
enfermidade. A saúde reprodutiva implica que os serviços de saúde devem fornecer todos os
a pessoa possa ter uma vida sexual segura e métodos anticoncepcionais recomendados pelo
satisfatória, tendo a capacidade de reprodução MS, inclusive a AE. É importante mencionar
e a liberdade de escolher quando e quantas que a AE, também conhecida por pós-coital
vezes desejar fazê-lo. ou pílula do dia seguinte, é uma tecnologia
Vale ressaltar que após 14 anos desta aprovada pela Agência Nacional de Vigilância
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conferência, o cenário nacional desenha um Nacional (ANVISA) e está inserida entre os


quadro onde: prevalece a atenção curativa à recursos disponíveis às mulheres, que constam
saúde, há restrições na liberdade de escolha na Política Nacional de Saúde da Mulher do
dos sujeitos no que se refere à reprodução e MS.
há dificuldades de acesso aos métodos de Este método de contracepção pós-
contracepção, sendo que muitas vezes nem coito começou a ser estudado nas décadas
existe o acesso da população aos métodos de 1960 e 1970, pelo médico canadense
contraceptivos. Albert Yuzpe, como uma resposta médica
Mais recentemente, o MS lançou para as conseqüências de uma violência
sexual (MARTIN, 2004; CASTILLO, horas após a relação sexual: a 1ª dose até 72
2006), sendo sua eficácia conhecida há mais horas e a 2ª dose após 12 horas depois da 1ª 65
de trinta (30) anos (FIGUEIREDO, 2004; (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2002). Segundo
PINTO COSTA et al., 2008). Porém, ainda é Nogueira (2000), a eficácia do método pode
uma opção de contracepção pouco utilizada diminuir, quando ingerida atrasada. Portanto,
para prevenir uma gravidez não planejada e o quanto antes as mulheres tenham acesso a
morbimortalidade associadas ao abortamento AE, maior será sua eficácia.
inseguro, principalmente em países onde o Para Nogueira et al (2000), os
aborto é considerado ilegal, como nos países anticoncepcionais de emergência são
da America Latina. métodos alternativos de anticoncepção para
A AE foi reconhecida como serem usados em situações, consideradas
medicamento essencial pela Organização por estes autores como especiais: relação
Mundial de Saúde (OMS) em 1995, quando sexual desprotegida, não planejada; uso
esta organização juntamente com mais seis inadequado de métodos anticoncepcionais
instituições, que atuam em Saúde Sexual (por exemplo: esquecimento de duas ou mais
e Reprodutiva, formaram o Consórcio pílulas de anticoncepcionais regulares); falha
Internacional de Anticoncepção de Emergência anticoncepcional presumida (acidentes com
(CLAE), com o objetivo de ampliar o o uso do preservativo ou com o diafragma);
acesso e o uso deste método. Instituições violência sexual.
brasileiras, membros deste consórcio, foram Alguns métodos, recomendados pelo
as responsáveis por se criar condições viáveis, MS, são utilizados com o fim de promover a
no cenário brasileiro, para mobilização, contracepção pós-coital. Os mais utilizados são
discussão e inclusão deste método no Manual os que combinam uma associação de estrogênios
de Assistência ao Planejamento Familiar do e progestogênios, e/ou progestogênios puros.
MS, em 1996. (PINTO COSTA et al., 2008) Outro combinado de hormônios comum é
Segundo Hardy et al. (2001), o Brasil conhecido com regime de Yuzpe (o primeiro
apresenta um contexto jurídico e político método a ser normatizado no Brasil pelo MS),
favorável à AE deste 1996, quando este realizado através de super dosagens de pílulas
método (em regime de Yuzpe – combinado anticoncepcionais orais comuns a base de
de pílulas orais comuns) foi incorporado a etinil-estradiol e levonorgestrel (NOGUEIRA
esse Manual. O documento foi fruto de uma et al., 2000; PINTO COSTA et al., 2008 ).
oficina, promovida pelo escritório brasileiro Dependendo da fase do ciclo
do Population Council e pela Coordenação menstrual em que é usado, o mecanismo de ação
de Saúde Materno-Infantil do MS, realizada da AE pode interferir na ovulação (inibição
em Brasília, em março de 1996, que envolveu ou atraso); com a nidação (provocando
28 profissionais brasileiros e estrangeiros. alterações na resposta endometrial) ou com
Os profissionais tinham por objetivo definir a fecundação (alterando a função do corpo
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diretrizes para a introdução da AE na atenção lúteo e a motilidade tubária) (MINISTÉRIO
a saúde reprodutiva no Brasil. DA SAÚDE, 2002; NOGUEIRA et al., 2004;
Também no ano de 1998, o MS COSTA et al., 2008).
editou uma Nota Técnica sobre a AE, que Nogueira et al. (2004) afirma que
teve seu texto atualizado nos anos de 2005 e apesar da eficácia comprovada da AE, quando
2006. Esse documento se constitui em mais iniciado o processo de nidação, o método perde
um instrumento para legalizar e legitimar a o efeito e não há evidências de conseqüências
AE no cenário nacional. É mister informar nocivas para o quadro gestacional, incluindo
edição nº 08, dezembro 2008

que a Nota Técnica de 2006 vigora e trata da para o embrião.


definição, mecanismo de ação, indicações de Concomitante às conquistas no
uso, prescrição, e outros esclarecimentos sobre campo da saúde reprodutiva, ganhos na área
a AE. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006) do combate à violência contra mulheres,
O MS caracteriza o método da concretizadas na década de 1990, também
contracepção de emergência como um uso incorporaram a AE às normas técnicas para o
alternativo da anticoncepção hormonal oral atendimento às vítimas femininas de violência
para evitar gravidez depois da relação sexual sexual. Em 1998, foi editada pelo MS a Norma
desprotegida. O método deve ser usado até 72 Técnica Prevenção e Tratamento dos Agravos
Resultantes da Violência Sexual contra diretrizes nacionais: a Câmara Municipal de
66 Mulheres e Adolescentes. Porém, essa norma São José dos Campos, que em 2005 proibiu
foi regulamentada apenas em 1999, após a distribuição da AE recebida pelo MS, e a
embates no Congresso Nacional, ocasionados Câmara Municipal de Jundiaí, que no ano de
por alguns parlamentares que a consideravam 2008 também proibiu a utilização da AE no
“legitimadora do aborto” (HARDY et município.
al., 2001; FIGUEIREDO E PEÑA, 2002; O Conselho Federal de Medicina
FIGUEIREDO, 2004). (CFM) publicou, em 14 dezembro de 2006,
Esta norma sistematizou uma série de a resolução 1811 a fim de estabelecer normas
procedimentos para o atendimento dos casos de técnicas para o uso da AE. Este documento
violência sexual: apoio psicológico; prevenção considera que a pílula do dia seguinte não é
para a profilaxia de DSTs, incluindo HIV, e de abortiva e pode ser usada em qualquer idade;
prevenção à gravidez, com a administração da fundamentando-se nos direitos reprodutivos,
AE na forma de Yuzpe. na responsabilidade do estado em implementar
Em 2000, o Ministério da Saúde estes direitos, no número expressivo de
iniciou suas primeiras aquisições de AE que mulheres que estão sujeitas a gestações não
foram enviadas aos Serviços de Atendimento planejadas, e no fato dos adolescentes e jovens
às Vítimas de Violência, atendendo assim a serem os mais propícios a estas gestações.
norma técnica. Esta resolução pode ser considerada
No ano de 2005, o governo federal um desdobramento do Fórum 2005:
resolveu ampliar em 57% a distribuição da Adolescência e Contracepção de Emergência,
AE nos serviços públicos, com a intenção realizado na cidade de São Paulo. O evento foi
de fornecer a chamada pílula do dia seguinte organizado pela Unidade de Adolescentes do
a todas as mulheres, não somente às vítimas Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da
de violência sexual. Esta medida fazia parte Universidade de São Paulo (USP). Participaram
da política de direitos sexuais e reprodutivos pediatras, ginecologistas, profissionais ligados
do MS, cujo foco era garantir a autonomia a Comissões de Bioética, ao Conselho Federal
no planejamento familiar. O documento de Medicina e ao MS. Para oferecer respaldo
determina que a pílula do dia seguinte deveria aos debates foram escolhidos advogados e
ser fornecida a todas as mulheres, de modo juízes e demais representantes da Justiça.
que não ficasse restrita apenas aos serviços de (SAITO e LEAL, 2007)
referência para vítimas femininas de violência O Fórum 2005 teve como proposta
sexual. (SUWWAN, 2005) trazer maiores esclarecimentos sobre a AE,
Para Figueiredo (2004), os serviços apoio técnico e ético para a prescrição deste
de saúde pública no Brasil não acataram as método. Como resultado, foi definido que a
normas de 1996 e de 1998, pois não foram educação sexual (como prática preventiva) é
iniciados os processos de divulgação, de uma política relevante para a adolescência.
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fornecimento e de administração do método. A orientação anticoncepcional, incluindo a


Exceção a esta regra, foram os serviços de contracepção de emergência, é parte importante
atendimento as vítimas de violência sexual que desta política. Foi reconhecido o direito de
mantiveram a implementação da normatização o adolescente ter acesso a informação sobre
de 1998 e persistiam na luta pela difusão e todos os métodos. O Fórum discutiu e elaborou
disponibilização do método. estratégias para facilitar e ampliar o acesso dos
Setores sociais conservadores adolescentes a AE. (SAITO e LEAL, 2007)
têm, publicamente, criticado as propostas Dados do MS apontam que a taxa de
edição nº 08, dezembro 2008

da Política Nacional de Direitos Sexuais e fecundidade entre adolescentes têm aumentado,


Direitos Reprodutivo, favorecendo, inclusive, desde os anos de 1990 cresceu 26%. Este
a elaboração de legislações por Câmaras aumento é contrário à realidade nacional das
Municipais, que sejam impeditivas do taxas de fecundidade entre mulheres adultas:
exercício dos direitos sexuais e reprodutivos e em 1940, a média nacional era 6,2 filhos, no
da implantação das diretrizes governamentais, ano 2000 caiu para 2,3 filhos. Em geral, a
em claro desrespeito ao ordenamento jurídico gravidez na adolescência é considerada um
nacional. Dois fatos ocorridos no interior de risco para a saúde do adolescente e um fato
São Paulo exemplificam este desrespeito às desestabilizador da vida de adolescentes.
São muitas as causas para este fenômeno da do método em farmácias para a compra, (uma
gravidez em tenra idade, porém, em muitos vez que a necessidade de prescrição médica 67
casos, ela está relacionada com situações de regulamentada pela Vigilância Sanitária, não
vulnerabilidade social, falta de informação e é respeitada), promoveu a reatualização do
acesso a serviços de saúde, e ao baixo status debate sobre o acesso ao contraceptivo.
de adolescentes mulheres em relações sociais Problemas culturais e informações
vigentes. Ao mesmo tempo em que nesta distorcidas sobre AE constituem barreiras para
faixa etária, a gravidez pode estar relacionada sua aceitação, acesso e uso adequado, apesar
com o desejo de ser mãe. (MINISTÉRIO DA do contexto jurídico e político brasileiro
SAÚDE, 2007). ser favorável à AE e a sua comercialização.
Reconhecer que o adolescente tem o Vários estudos foram realizados no Brasil nos
desejo de engravidar, não significa deixar de últimos anos com o objetivo de conhecer os
investir em políticas de contracepção, uma vez mitos e as barreiras que envolvem o acesso e o
que o direito de escolha e de planejamento tem uso da AE. (NOGUEIRA et al.,2000; HARDY
que ser assegurado. Portanto, é preciso garantir et al., 2001; DIAZ et al. 2003a; DIAZ et al.
os direitos reprodutivos a adolescentes e jovens 2003b; OSIS et al., 2006; OSIS, 2006; PINTO
de maneira irrestrita. acatando-se as diretrizes COSTA, 2008).
elaboradas no Fórum 2005: Adolescência e O trabalho de introduzir efetivamente
contracepção de emergência. (MINISTÉRIO a AE no Brasil, assim como nos países da
DA SAÚDE, 2007). América Latina e Caribe, tem sofrido ataques
A AE faz parte de uma proposta da Igreja Católica e de grupos de direita.
pediátrica de prevenção de problemas Mesmo o Brasil se constituindo uma exceção
ou agravos a saúde. Afirmação que pode por ter a AE incorporada às normas do MS,
ser comprovada através do percentual de entidades ligadas à Igreja Católica têm se
gestações não planejadas na adolescência que oposto de várias formas para impedir que o
evoluem para o aborto: 25% das gestações não uso da contracepção pós-coito se legitime no
planejadas. (Saito e Leal, 2007). Calcula-se que país. Outros países latinos sofrem a mesma
no Brasil, no mínimo, 25% das gestações são interferência do poder religioso nas decisões
indesejadas. Dos nascidos vivos registrados, do Estado, que a priori deveriam ser laicas. A
aproximadamente 22,63% são filhos de idéia de que a AE é abortiva tem grande peso
meninas entre 15 e 19 anos. (MINISTÉRIO na América Latina, principalmente porque
DA SAÚDE apud FIGUEIREDO, 2004). muitas sociedades são conservadoras e a Igreja
Para o MS a prescrição da AE, nas Católica tem grande influência. (MARTIN,
situações de exposição ao risco iminente de 2004; FAÚNDES et al.,2007)
gravidez (violência sexual, falha do método A Igreja Católica, ao longo de sua
em uso ou na sua utilização, não estar usando história vem interferindo nos assuntos ligados
anticoncepcional), se constitui dever do à reprodução e à sexualidade. Tendo por
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médico e um direito do adolescente. princípio o sexo para a procriação, a igreja
O uso da pílula de AE no Brasil, mesmo com não admite comportamentos diferentes da sua
todas as diretrizes do MS e do CFM, vem norma, até mesmo para as pessoas que não
ocorrendo há anos em ambientes restritos, são adeptos de sua doutrina. Apesar de todas
não se constituindo como uma prática as mudanças e transformações pelas quais
sistematizada. A prescrição deste método pelos passaram o comportamento social de homens
profissionais de saúde, tanto no setor público e mulheres, a igreja tem obtido êxito com seu
quanto no setor privado, ainda é bastante discurso conservador sobre a sexualidade
edição nº 08, dezembro 2008

restrita e mistificada. (HARDY et al. 2001; e a família na elaboração de políticas


OSIS et al., 2006). públicas latinas (ÁVILA e CORRÊA, 1999 ;
Atualmente, existem setes (7) CASTILLO, 2006).
marcas comerciais deste produto no país. A Igreja Católica tem ignorado todas
Em setembro de 1999, a primeira marca as provas científicas de que o mecanismo de
comercial de AE em dose única (duas pílulas ação da AE não interfere na implantação do
de 750 microgramas de levonorgestrel) foi óvulo fecundado, e mantém o discurso de que
introduzida no mercado brasileiro. Segundo tal método provocaria aborto precoce, pois
Figueiredo (2004), a facilidade de aquisição teria uma ação de interferência na implantação
do óvulo fecundado. O padrão de oposição mundo inteiro ocorram devido ao abortamento
68 católico à AE tem sido o mesmo em toda a inseguro
região latina (FAÚNDES et al., 2007). Formulações específicas da AE são
Pensamento semelhante é percebido introduzidas no mercado constantemente,
entre muitos provedores de serviços de saúde porém nem todos os programas de planejamento
e em determinados setores da população, familiar na América Latina os fornecem. Em
que acabam provocando problemas quanto à muitos lugares, porém a AE é, ainda, restrita
distribuição da AE. Segundo diversos estudos aos casos de estupro.
realizados em países latinos, esta errônea Acreditando que informações sobre
percepção estaria vinculada a poucos (ou a a aceitabilidade da AE poderiam auxiliar na
nenhum) investimentos em capacitações para elaboração de estratégias apropriadas para a
profissionais envolvidos na prescrição e na introdução deste método em países latinos,
disponibilização do método; bem como nas pesquisadores se reuniram para desenvolver um
campanhas de informação para as possíveis estudo que pretendeu avaliar a aceitabilidade
usuárias sobre o mecanismo de ação e da AE na América Latina, em três países com
os benefícios deste método (DÍAZ et al., contextos sócio-culturais e políticos diferentes:
2003a; DÍAZ et al., 2003b; MARTIN, 2004; Brasil, Chile, e México. Para os pesquisadores,
FAÚNDES et al., 2007). nestes três países, bem como na região toda,
Um forte opositor às forças católicas há um reconhecimento limitado sobre direitos
e defensor da AE em terras latinas tem sido reprodutivos e sexuais, as atitudes da sociedade
o CLAE. Faúndes et al. (2007) afirmam que para com a sexualidade são conservadoras,
graças às ações de oposição deste consórcio, principalmente em relação aos adolescentes
o método pós-coito tem-se tornado conhecido (DIAZ et al., 2003a e 2003b).
e utilizado, principalmente em países como: Algumas reflexões sobre o contexto
Peru, Brasil e Chile. Dentre as ações do destes três países trazem contribuições
CLAE, Martin (2004) ressalta a realização significativas para se pensar a AE e o
da Conferência Regional “Derecho a la cenário brasileiro dos direitos reprodutivos.
Anticoncepción de Emergencia em America Comparativamente, o poder da igreja católica e
Latina”, no Equador, em 2002, que contou com dos setores sociais conservadores são maiores
a participação de 20 países. Esta conferência no Chile e no México do que no Brasil. A
teve como principais objetivos: aumentar o AE é mencionada em diretrizes nacionais
conhecimento e a aceitação da AE como um brasileiras tanto para o planejamento familiar
método seguro e eficaz, e apelar aos legisladores quanto para o cuidado de vítimas de violência
das políticas públicas que apoiassem a inclusão sexual, porém no Chile e no México nenhum
do método nas normas oficiais dos programas documento oficial faz menção a este método.
de planejamento familiar dos países latinos. O estudo multicêntrico, mencionado
Antes desta conferência, apenas 10 países acima, selecionou os participantes a partir
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tinham o método da AE incorporado as suas das seguintes categorias: potenciais usuárias


normas de planejamento familiar e em 13 dos estratos socioeconômicos médio e baixo;
havia produtos registrados para tal método. Em possíveis provedores da AE; formuladores
2004, 18 países haviam adotado oficialmente de políticas públicas e autoridades da área da
a AE em seus programas de planejamento saúde; e outras capazes de influir (influentes)
familiar e 19 países contavam com produtos, no processo de disseminação da informação
para contracepção de emergência, registrados. e provisão da AE. Os autores trabalham os
Diaz et al. (2003a e 2003b), assim resultados da pesquisa discutindo as seguintes
edição nº 08, dezembro 2008

como Pinto Costa et al. (2008), Martin categorias: as percepções e o conhecimento


(2004) e Faúndes et al. (2007), pontuam que prévio da AE; os fatores que podem facilitar
na América Latina, como em outras regiões, ou dificultar a introdução deste método nestes
são dois os principais problemas de saúde três países (HARDY et al., 2001; DIAZ et al.
reprodutiva: gravidez não planejada que 2003a e 2003b).
conduz ao aborto inseguro e a gravidez na Obstáculos similares ao acesso e
adolescência. Segundo dados da OMS (apud uso da AE foram detectados nos três países,
DIAZ et al., 2003b), estima-se que 13% das embora o peso atribuído a eles divergisse. Em
cerca de 585.000 mortes maternas por ano no geral, foram percebidas menos barreiras no
Brasil e, mais no Chile. O México ficou em método aceitável dentro de situações de
uma situação intermédia. emergência. No Chile, os participantes 69
No Chile e no México, os participantes que demonstraram estas opiniões eram os
alegaram que a Igreja Católica e a ala direita adolescentes, a maioria de mulheres adultas,
da política fariam forte oposição à AE, pois ativistas da saúde das mulheres, alguns
tal medicamento é considerado um método médicos fornecedores, autoridades sobre os
abortivo, que incentiva o comportamento adolescentes, autoridades de saúde, membros
sexual irresponsável entre os adolescentes. de congresso (da esquerda), e fornecedores de
Esta foi uma preocupação menor no Brasil, pois cuidados para vítimas de violência sexual.
os participantes acreditavam que, as barreiras Todas as categorias de participantes
brasileiras estariam mais relacionadas com alegaram que tal método ajudaria a evitar
o indivíduo do que às perspectivas e fatores abortos induzidos. A maioria dos sujeitos da
sociais ou políticos. pesquisa prefere a AE ao aborto, e alegam
Os participantes de todas as que contracepção pós-coito representa uma
categorias nos três países pensavam que o alternativa para as mulheres, que nunca fariam
prazo para a utilização da AE coloca um um aborto, mas que desejam impedir uma
problema: a acessibilidade ao planejamento gravidez após relação desprotegida.
familiar é limitada, em parte, devido ao fato Nos três países, os entrevistados
que os provedores estão sobrecarregados e, de todas as categorias apontaram AE como
em parte, devido à burocracia em centros de um mecanismo que ajudaria a impedir as
saúde. Os trabalhadores da saúde e os gestores conseqüências de gravidezes não desejadas:
não consideram a oferta de contraceptivos limitações nos projetos de vida dos adolescentes,
como um serviço de emergência. crianças violentadas ou abandonadas, conflitos
No Chile e no México, e, em certa matrimoniais, e problemas financeiros. Em
medida, no Brasil, trabalhadores da saúde todos os três países, a maioria de potenciais
tinham alguma familiaridade com a AE usuários e os fornecedores diz que as mulheres
ou tinham informações incompletas sobre têm o direito de aprender a usar esta alternativa
ela. Muitos prestadores de cuidados e de contraceptiva.
autoridades dos três países comentaram que A opinião negativa mais freqüente,
faltava a formação adequada do pessoal para apreendida de uma minoria dos participantes
aconselhar e oferecer tal método. do Chile e do México, era considerar a AE um
O fato de não haver produtos método “micro-aborto”. Alguns, igualmente
registrados para a AE no Chile e México, pensaram que sua introdução estaria associada
dificulta tanto a introdução, quanto o uso com mais riscos para a saúde do que
correto do método. As empresas farmacêuticas, benefícios.
nos dois países, não estavam interessadas em No que se refere aos entrevistados
produzir um contraceptivo pós-coital com brasileiros, de modo geral, estes concordaram
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formulação específica. que AE age evitando a gravidez; enfatizaram
Uma importante barreira detectada que o conceito de gravidez varia de pessoa
pelos potenciais usuários era a sua falta de para pessoa e, em função destas perspectivas
conhecimentos sobre biologia reprodutiva individuais e/ou grupais, algumas pessoas e/
e contracepção. Limites no conhecimento ou grupos poderão considerar a AE abortiva.
das mulheres sobre seus corpos ocasionam Alguns médicos não ginecologistas, atuantes
pouca consciência de quando estão em em serviços de emergência e de atenção
risco de engravidar. Alguns participantes, básica (prováveis provedores), manifestaram
edição nº 08, dezembro 2008

principalmente, potencial usuárias dos três a opinião de que o método poderia significar a
países, manifestaram preocupações ou medo indução de aborto. Até mesmo entre médicos
dos efeitos secundários da AE após uso ginecologistas a AE foi qualificada, por alguns,
prolongado. como “microabortivo”. Apenas um médico
A maioria dos participantes deste declarou que não sabia a diferença entre AE e
estudo apresentou atitudes positivas em a indução do aborto, apesar de ter lido a norma
relação à AE. No Brasil e no México, todas técnica do MS sobre o método.
as categorias de participantes expressaram No Chile e no México, a maioria dos
opiniões favoráveis e consideraram este provedores e potenciais usuários demonstrou
preocupação com o mecanismo de ação da método a ser utilizado apenas em situações de
70 AE. A maior parte dos potenciais provedores emergência; que deve ser usado por mulheres
que trabalha nas clínicas do governo no Chile que realmente precisam; que se evitem usos
e alguns provedores no México, também freqüentes para evitar efeitos negativos para a
mostraram preocupações com as implicações saúde
jurídicas da administração de tal método Participantes dos três países
contraceptivo, pois consideravam o mecanismo consideraram que a AE seria útil para mulheres
de ação incerto. em geral, portanto, deveria estar disponível a
Todos os participantes concordaram todos elas. A questão da disponibilidade foi
que o método era necessário, em caso de declarada pelos sujeitos da pesquisa como
violência sexual ou incesto. Nos três países, parte dos direitos sexuais e reprodutivos.
a maioria dos participantes concordou que A aceitabilidade do método entre
AE seria necessária para determinados os adolescentes foi particularmente elevada,
grupos, como: mulheres jovens ou jovens independente de prévia experiência sexual ou
casais, assim como mulheres adultas sem um reprodutiva. Eles sentiram que o método seria
parceiro estável ou com muitas crianças. Os mais útil para eles do que para os adultos,
entrevistados, também concordaram que o especialmente para as moças mais jovens,
método era necessário em algumas situações no início da atividade sexual, pois são elas
específicas, tais como: relação sexual que correm o riso de serem mais expostas.
desprotegida ou não planejada, rompimento do Algumas jovens sentiram que a AE era mais
preservativo, recusa do parceiro em usar um adequada nos casos de intercurso sexual
preservativo, bem como a utilização incorreta com parceiros ocasionais, quando é difícil
do método de abstinência periódica ou outros discutir contracepção ou negociar o uso do
contraceptivos. preservativo. Os adolescentes defenderam a
Para os entrevistados brasileiros, necessidade de difundir informações exatas
todos têm direito de saber que AE existe. Estes sobre o método.
consideraram que no Brasil existem apenas Segundo os participantes da pesquisa
barreiras relativas, associadas às perspectivas dos três países, os adolescentes enfrentam
individuais ao uso deste método, pois a alguns obstáculos específicos, com a quase
contracepção pós-coito estaria legitimada inexistência de serviços de saúde específicos
legalmente no país (pela norma do MS e para eles e a falta de informação sobre os
pela lei do Planejamento Familiar). Para as contraceptivos. Muitos adolescentes relataram
pessoas influentes, o contexto social brasileiro dificuldades de falar sobre a sexualidade, tanto
é favorável à disseminação de informações com os pais, quanto com os adultos em geral.
e a provisão da AE pelos serviços de saúde. Também mencionaram obstáculos à utilização
Porém os participantes declararam que apenas de contracepção levantados pelos pais, que não
a existência de normas não garante o acesso querem que seus filhos se tornem sexualmente
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ao método, é preciso criar mecanismos que ativos. De acordo com as entrevistas, os


acompanhem a aplicação destas normas; neste adultos têm dificuldade de informar aos
sentido as barreiras, segundo pessoas influentes adolescentes sobre a AE, uma vez que muitos
e provedores, seriam as dificuldades de infra- pais não conseguem falar de sexo com seus
estrutura dos serviços públicos de saúde no filhos. A maior parte dos adolescentes aprende
país. Para os entrevistados, a disseminação de sobre sexo e contraceptivos a partir de seus
informação e provisão da AE será facilitada pares. Estes aspectos não permeiam apenas
se os meios de comunicação de massa forem a realidade latina, segundo Schalet (2004),
edição nº 08, dezembro 2008

utilizados de maneira cuidadosa. o comportamento sexual adolescente é visto


Nos três países, muitos participantes como fora de controle, perigoso e imoral,
alegavam que a AE poderia causar impacto também no debate público e político sobre
negativo sobre o comportamento sexual saúde reprodutiva dos EUA. O medo da
e contraceptivo. Para minimizar esta sexualidade adolescente embasou a recente
possibilidade, eles sugeriram que a divulgação decisão de não se oferecer o recurso do método
de informações sobre tal método fosse parte da AE no país.
de um esforço mais amplo de educação sexual. Este medo do perigo parece estar
Eles também enfatizaram que a AE é um fundamentado pela realidade. As taxas de
gravidez, nascimento e aborto permanecem as enfatizaram a aceitação generalizada da AE na
mais altas entre os adolescentes americanos, América Latina, apesar das afirmações de que 71
são dados que parecem confirmar a suspeita esta é uma região conservadora, fortemente
convencional que relaciona o não controle dos influenciada pela posição da Igreja Católica
hormônios adolescentes a sua não capacidade em questões de reprodução e sexualidade. A
de tomar decisões no âmbito da sexualidade. necessidade da AE foi percebida pela maioria
Porém, a autora apresenta uma realidade de dos participantes, levando à conclusão de
saúde do adolescente, totalmente contrária à que autoridades da área da saúde têm a
realidade norte-americana: os adolescentes da responsabilidade de implementar programas
Holanda, apesar dos dois países apresentarem para a sua introdução. O conceito da AE como
contextos similares em termos de saúde, um método para a prevenção de aborto foi
educação e tecnologias reprodutivas. As considerado uma estratégia para a introdução
adolescentes holandesas estão muito menos do método nos três países.
propensos a ficarem grávidas ou contraírem Especificamente, para os entrevistados
DSTs do que os adolescentes dos EUA. Quando do Brasil, a AE deveria ter seu uso controlado
iniciam suas vidas sexuais, os holandeses pelos serviços de saúde; todos deveriam saber
usam contraceptivos mais freqüentemente e sobre o método, mas seu uso precisaria ser
mais eficazmente, e possuem menos parceiros prescrito por um médico. Os entrevistados
sexuais, do que os americanos. indicaram como essencial que os profissionais
Na Holanda, há algum tempo, vige a de saúde fossem capacitados para proverem a
mais baixa taxa de gravidez na adolescência, informação e o método.
aborto e fertilidade de todo o mundo. As Nos três países participantes,
políticas públicas e as práticas de saúde especialmente entre os potenciais fornecedores
holandesas têm, durante as últimas três e autoridades, acredita-se que a introdução
décadas, promovido a aceitação da sexualidade da AE seria mais fácil se as informações
adolescente e facilitado o seu acesso aos acerca do método fossem incluídas em um
contraceptivos, ao invés de promover a extenso projeto educativo sobre sexualidade e
abstinência e o medo dos potenciais perigos contracepção.
da sexualidade. Pais holandeses normalizam a A partir da observação dos
sexualidade adolescente. participantes, foi possível aos autores
Na cultura latino-americana em geral, (HARDY et al., 2001; DIAZ et al. 2003a e
os pais preferem acreditar que seus filhos e 2003b) considerarem que a disseminação
filhas não se dedicam à atividade sexual, o que de informações sobre o método da AE deve
torna a discussão sobre sexualidade inviável ser cuidadosa e ficar a cargo dos serviços
no âmbito da família. Há uma dramatização da de saúde (através de programas voltados
sexualidade dos adolescentes, segundo Schalet às ações educativas). Principalmente, que
(2004), assim como ocorre nos EUA. a contracepção do dia seguinte precisa ser
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Retomando o estudo realizado no dissociada da polêmica do aborto, ressaltando
Brasil, Chile e México, os pesquisadores seu caráter contraceptivo emergencial.
apontam que questões relacionadas ao gênero, Dados semelhantes aos coletados
sexo e AE foram discutidas, principalmente, nesse estudo multicêntrico, que evolveu o
por mulheres jovens e adultas, defensores Brasil, México e Chile, podem ser observados
da saúde e por professores. A vantagem em uma pesquisa qualitativa realizada em 2004
percebida, por estes entrevistados seria de que no Greater Vancouver – Canadá (Shoveller
as mulheres poderiam usar o contraceptivo et al., 2007). O estudo tinha como objetivo
edição nº 08, dezembro 2008

sem precisar do consentimento do parceiro. conhecer o que as mulheres pensavam sobre


Este aspecto, também se constituiu motivo o uso da AE. Foram recrutadas mulheres que
pelo qual, alguns, participantes desgostaram da se auto-identificavam como asiáticas ou do
AE, uma vez que o método poderia reforçar o sul da Ásia, e européias oriundas de diversos
tradicional papel da mulher como responsável ambientes culturais. O recrutamento ocorreu
pela prevenção da gravidez, e poderia apoiar o através de anúncios publicitários em 35 lugares
comportamento reprodutivo irresponsável dos (centros de serviços a imigrantes, residências
homens. universitárias, clínicas de aborto, ônibus e
Os resultados deste estudo abrigos). Os critérios de elegibilidade eram:
viver em Vancouver, conseguir participar de método poderia ser abortivo; aspectos morais
72 uma entrevista em inglês, ter ouvido falar da e culturais; preço dos produtos e a exigência
AE. Inicialmente as entrevistas foram feitas de prescrição médica.
com mulheres que tinham usado a AE pelo Um estudo (NOGUEIRA et al.,
menos uma vez. Os pesquisadores também 2000) realizado com estudantes do primeiro
queriam incluir mulheres que ainda não tinham (1º) ano de um curso de medicina do interior
usado a AE, uma vez que algumas mulheres de São Paulo, em 1999, revelou dados
poderiam ter tido o acesso a AE impedido, significativos sobre os mitos que envolvem a
apesar de manifestado desejo de usar tal questão do uso da AE. Foram entrevistados 91
método. Foram entrevistadas 18 mulheres de estudantes, sendo 31 do sexo feminino e 60
origem asiática, 16 com origem no Sul da Ásia do sexo masculino. O inquérito mostrou que
e 18 de origem diversas (européia, aborígine, o método é pouco conhecido e os estudantes
do Oriente Médio e africana). 4 participantes que conheciam apresentavam dúvidas sobre
eram alunas internacionais, 20 imigrantes, o seu mecanismo de ação e efeitos colaterais.
28 tinham nascido no Canadá (filhas de Entre os entrevistados (de ambos os sexos)
imigrantes). que usariam o método, a maioria acreditava
Segundo as participantes, observações ser o método abortivo e apresentava dúvidas
moralizantes baseadas em pareceres negativos quanto aos efeitos colaterais.
sobre o comportamento sexual e a saúde A contracepção pós-coito é ainda
reprodutiva das mulheres, que recorreram ao um método muito envolto em mitos entre os
uso da AE, são comuns entre profissionais da profissionais de saúde. Há uma representação
área da saúde e entre outras mulheres. Estas de que a contracepção de emergência é
observações (recorrentes no discurso das perigosa, sendo merecedora de cuidados
mulheres) constituem uma barreira potencial especiais na sua disponibilização.
ao uso da anticoncepção - há o medo de ser Segundo Simods e Elletertson
estigmatizada como esse “tipo de mulher”. (2004), legal e ideologicamente, contracepção
Nesse estudo, a AE foi por várias vezes e aborto dividem uma história parecida
compreendida como um método abortivo que e ambos estão associados com o tabu da
teria efeitos a longo prazo na saúde e fertilidade sexualidade feminina. Essa percepção não é
das mulheres. Essas lacunas impedem o uso, privilegio apenas em países latinos, para as
assim como lacunas no conhecimento sobre o autoras mencionadas se as mulheres nos EUA
ciclo menstrual. Os benefícios desse método tivessem acesso ao método da AE, metade das
são dificultados pela cultura conservadora gravidezes não planejadas e dos abortos seria
e normas sociais. Barreiras e desvios no evitada.
acesso a AE podem provocar atraso no uso do Estudos levantados por Simods e
medicamento, o que pode ocasionar sua pouca Elletertson (2004), indicam que profissionais
eficácia. de saúde na Europa e EUA têm um alto
Cadernos UniFOA

Apesar das novas políticas canadenses conhecimento a respeito dos contraceptivos


destinadas a aumentar a disponibilidade da de emergência, mas têm reservas quanto à sua
AE, baseadas na garantia aos farmacêuticos oferta. Muitos acham que facilitando a acesso
de British Columbia da independência na a AE, as mulheres podem deixar de usar
prescrição da AE, o desafio de promover contraceptivos durante o ato sexual e assim,
acessibilidade permanece. Os resultados adquirirem DSTs.
desta pesquisa destacam a necessidade Pinto Costa et al. (2008) apontam
das mulheres receberem informações que que essa preocupação dos profissionais quanto
edição nº 08, dezembro 2008

ressaltem a privacidade e a marca confidencial ao potencial negativo que a informação mais


que envolve o acesso ao método. O estudo ampla sobre o método poderia causar sobre
mencionado fornece indícios de quanto as o uso regular de anticoncepcionais e de
forças socioculturais afetam as preferências preservativos, constitui-se numa das maiores
relacionadas ao acesso e ao uso do método. barreiras para a democratização do acesso
Para Pinto Costa et al. (2008), as a AE. Para esses autores, não há estudos
principais barreiras que podem dificultar o (internacionais ou nacionais) que comprovem
acesso a AE seriam: a falta de informação, esta preocupação. Sendo assim, a organização
incluindo a percepção equivocada de que o não-governamental, Bemfam, realizou
em 2004 uma pesquisa com o objetivo de gravidez não planejada, apesar da maior
comparar duas estratégias de acesso a AE no freqüência de uso e do uso mais precoce com 73
contexto brasileiro – “informação com entrega a entrega antecipada; não houve aumento de
antecipada do método, e somente informação- DSTs nem de ocorrências de relações sexuais
considerando o padrão de uso da contracepção desprotegidas; não houve mudança no padrão do
pós-coito e os efeitos do acesso a este método uso de métodos anticoncepcionais; a utilização
sobre o uso regular de anticoncepcionais, de preservativo foi similar entre mulheres que
incluindo preservativos”. (p: 56) receberam a AE antecipadamente e as que
O estudo recrutou 823 voluntárias não receberam o método. A preocupação dos
(com idades entre 18 e 49 anos) em seis clínicas profissionais não foi confirmada no estudo
de saúde reprodutiva da BEMFAM, nos promovido pela BEMFAM e nem pelos estudos
estados do Rio de Janeiro, Ceará, Maranhão, internacionais. Uma questão relevante, porém,
Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte, precisa ser considerada: o não uso da AE pode
no período de agosto de 2004 a janeiro de estar associado à negação das situações de
2005. risco (NELSON apud PINTO COSTA et al.;
As entrevistadas foram divididas em 2008). A não redução das taxas de gravidezes
dois grupos: grupo medicado (informação indesejadas pode estar ligada com o não
e entrega antecipada para 419 mulheres) e reconhecimento, das mulheres, de situações
grupo controle (informação para 404). Todas de risco: por acreditarem estar fora do período
as mulheres receberam informações sobre a fértil ou por realizarem o coito interrompido.
AE, uso de preservativos e prevenção de DSTs
e material impresso sobre o método pós-coito.
As mulheres do grupo controle receberam, 5. Conclusão
também, dois kits contendo preservativo
masculino. As mulheres do grupo medicado Segundo Pinto Costa et al. (2008)
receberam dois kits, compostos cada um por o acesso a informação e a AE devem ser
duas doses de produto específico para AE e ampliados. Com orientação sistematizada e
por um preservativo masculino. consistente as mulheres podem fazer uso da
O estudo teve duração de oito meses contracepção pós-coito, quando necessário,
e 407 mulheres (215 do grupo medicado sem abandonar o uso de anticoncepcionais
e 192 do grupo controle) completaram as regulares e a proteção às DSTs.
fases deste (compareceram as duas consultas Uma questão é latente no debate
agendadas no ato da entrega dos kits). Pinto sobre a pílula do dia seguinte: como ampliar
Costa et al. (2008) chamam a atenção para o acesso a informações sobre o método, bem
alguns resultados do estudo. Apesar de terem como o proporcionar que as mulheres tenham
informação e acesso gratuito a AE, a maioria acesso ao medicamento sempre que desejar
dos casos (61%) não fez uso da AE. Entre os nos serviços públicos de saúde? Sabe-se hoje
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39% de mulheres que utilizaram o método, que o medicamento é vendido cotidianamente
57% era do grupo medicado e 18% do grupo nas farmácias sem controle algum, sem
controle. A entrega antecipada favoreceu o uso prescrição ou acompanhamento médico,
antecipado tendo em vista que uso mais precoce podendo inclusive trazer prejuízo à saúde das
foi entre as mulheres do grupo medicado, o que jovens e mulheres. No quadro traçado sobre
garante maior eficácia ao método. Quanto ao a AE, pesquisas identificam a importância da
uso de métodos anticoncepcionais regulares, mídia para a democratização das informações,
verificou-se um aumento significativo destes tanto quanto para a desconstrução destes mitos
edição nº 08, dezembro 2008

no grupo medicado (inclusive de preservativos, e barreiras sobre tal método.


que passou de 63% para 68%) e uma redução
não significativa no conjunto dos métodos do
grupo controle. 6. Referências
Para Pinto Costa et al. (2008) os
resultados deste estudo confirmam dados de AVILA, M. B. e CORRÊA, S. O movimento
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SUWWAN, L.. Ministério amplia a


distribuição Gratuita da pílula do dia seguinte.
In: Folha de São Paulo, sucursal de Brasília,
14/02/2005.
Cadernos UniFOA

Endereço para Correspondência:


edição nº 08, dezembro 2008

Profa Rozana Aparecida de Souza


Curso de Serviço Social
rozana.souza@foa.org.br

Centro Universitário de Volta Redonda


Campus Três Poços
Av. Paulo Erlei Alves Abrantes, nº 1325,
Três Poços - Volta Redonda / RJ
CEP: 27240-560
Informações bibliográficas:
Conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto científico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma:
SOUZA, R. A.. Pílula do Dia Seguinte: uma revisão de literatura sobre a Anticoncepção de Emergência, Volta Redonda, ano III, n. 8, dezembro. 2008. Disponível em: <http://www.unifoa.edu.
br/pesquisa/caderno/edição/08/58.pdf>

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