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Terça-feira, 5 de maio de 2020 | Diário | Ano XVI | N.º 4236 | € 2.

50
Diretor André Veríssimo | Diretor adjunto Celso Filipe

MIGUEL BASTOS ARAÚJO BIOGEÓGRAFO

“Portugal adiou o risco


e isso tem vantagens”
“País está mais exposto
a uma segunda vaga”
“Piscinas no verão? Eu evitaria,
a menos que sejam familiares”
“Praias? É de esperar que
sejam desfavoráveis ao vírus”

Sérgio Lemos
PRIMEIRA LINHA 12 a 15

Promoções perderam peso


mas vão voltar às prateleiras
Consumo mudou com a pandemia e não regressa ao que era enquanto houver medo | Comércio
eletrónico deverá segurar parte da quota conquistada | INE só atualiza cabaz da inflação em 2021
PRIMEIRA LINHA 4 a 7

Conflito entre
China e EUA
Doentes crónicos têm Banca
Quem é João Pedro
leva mercados falta justificada ao Oliveira e Costa,
o sucessor de Pablo
ao tapete
PRIMEIRA LINHA 10 e 11 trabalho. Mas recebem?
PRIMEIRA LINHA 8
Forero na liderança
do BPI
Radar África
Angola, duas Diploma do Governo Armazenagem de Banco divulgou uma quebra
dos lucros do primeiro

investigações não trava pedidos petróleo vale ouro. trimestre, no dia


em que anunciou
com destinos de indemnização Portugal tem 90% a passagem
de testemunho.
diferentes das concessionárias dos depósitos cheios
ECONOMIA 17 PRIMEIRA LINHA 9 MERCADOS 22 e 23 EMPRESAS 18
2 TERÇA-FEIRA 5 MAI 2020
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HOMEPAGE
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UE angaria 7,4 mil


OPINIÃO

NOURIEL milhões para pagar


tratamento à covid-19
ROUBINI
“Qualquer final feliz
pressupõe
encontrarmos uma
forma de sobreviver
à Depressão Maior
que se aproxima.”
PÁGINA 30

O órgão executivo da UE conseguiu angariar 7,4 mil milhões de euros


destinados a financiar uma resposta global e coordenada para encontrar
uma vacina e tratamento à doença covid-19.
ADOLFO MESQUITA
John Thys/Reuters
NUNES
“A opção de DAVID SANTIAGO
nacionalização dsantiago@negocios.pt
da economia
é um atentado

A
ao futuro.”
PÁGINA 27 Comissão Euro-
peia praticamente
assegurou o mon-
tante pretendido
para promover in-
vestigação científica com vista à
descoberta de uma vacina, ou de
um tratamento médico eficaz,
contra a doença covid-19.
CAMILO O órgão executivo da União
LOURENÇO Europeia anunciou ter angariado
7,4 mil milhões de euros através
“O PCP acha que
de doações feitas ao nível global,
há uma lei para o o que significa que o evento para a
partido e uma lei angariação de fundos “Coronavi-
para o resto da rus Global Response”, realizado
sociedade.” esta segunda-feira, praticamente
garantiu a meta fixada em 7,5 mil
PÁGINA 27
milhões de euros. Ou seja, a Co- Ursula von der Leyen mostrou-se ontem satisfeita por a Comissão Europeia ter recolhido o valor planeado.
missão ficou a apenas 100 milhões
de euros do objetivo inicialmente nado a desenvolver “diagnósticos, para todos”, regozijou-se Von der Sul, que garantiu 1,1 mil milhões
definido. tratamentos e vacinas contra o co- Leyen salvaguardando, contudo, de euros.
A instituição liderada por Ur- ronavírus”. O montante que for re- que este passo representa “ape- Os Estados Unidos não parti-
sula von der Leyen entra nesta res- colhido no âmbito da angariação nas o início” de um longo proces- ciparam no evento, porém, esta se-
posta global com 1,4 mil milhões de fundos será depois canalizado so, pelo que a maratona na anga- gunda-feira, o Departamento de
de euros. Mil milhões de euros em na prossecução destes objetivos riação de verbas terá de prosse- Estado norte-americano emitiu
garantias e 400 milhões de euros através de organizações interna- guir. uma nota em que elogia o esforço
RUI em garantias a empréstimos con- cionais. da União Europeia para “mobili-
PATRÍCIO
cedidos através da revisão das “Hoje o mundo demonstrou Portugal garante 10 milhões, zar recursos” para o fim último de
“O teletrabalho prioridades dos programas Hori- uma unidade extraordinária pelo EUA não participaram acabar com a pandemia de covid-
pode ser mais zonte 2020, RescEU e do Instru- bem comum. Governos e organi- Portugal também participou na -19.
uma flor no mento de Apoio de Emergência. zações de saúde globais juntaram angariação assegurando 10 mi- Ao nível das doações privadas,
santuário da A instituição comunitária su- forças contra o coronavírus. Com lhões de euros. Entre os maiores a Fundação Bill e Melinda Gates
escravidão digital.” blinha que este é um “sólido pon- tal compromisso, estamos no ca- doadores a participar nesta inicia- contribuiu com 100 milhões de
to de partida” para “reunir um fi- minho certo para desenvolver, tiva estavam França, que deu 1,5 euros e a cantora Madonna com
PÁGINA 29 nanciamento significativo” desti- produzir e utilizar uma vacina mil milhões de euros, e a África do perto de 1 milhão de euros. 
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DIA
AÇÃO EDITORIAL

Air France-KLM com auxílio


público cai em bolsa
ANDRÉ VERÍSSIMO
A Air France-KLM vai receber auxí- Diretor
lios públicos. Em bolsa, caiu mais de averissimo@negocios.pt
7%. A companhia aérea Air France-
-KLM vai receber até 11 mil milhões

O Ferrari das
de euros. Do lado holandês, o apoio
vai oscilar entre 2 e 4 mil milhões de
euros e do lado francês receberá 7 -7,49%
Finanças e o utilitário
mil milhões. Esta ajuda pressupõe
condições como a não distribuição
de dividendos ou prémios e redução Variação este ano: -56,68%

da Segurança Social
Benjamin Smith, CEO da Air
France-KLM, vai ter de cortar de salários durante o período em Valor em bolsa:
salários aos trabalhadores. que esteja a auferir do apoio.  1,84 mil milhões de euros

O
atraso no pagamento das verbas do lay-off põe em
FRASE FOTO evidência as diferenças entre a máquina da Segu-


rança Social e a das Finanças. O que também é re-
velador do que têm sido as prioridades na governa-
ção do país.
Sucessivos governos construíram e aprimoraram, ao longo
Num mundo das duas últimas décadas, um engenho de cobrança fiscal notá-
vel, graças a um investimento robusto e contínuo na sua moder-
interconec- nização tecnológica. O país dispor desse relógio suíço da coleta
de impostos foi, de resto, determinante durante a última crise.
tado, Sem ele teria sido muito mais difícil aplicar a receita e a carga fis-
ninguém cal que até hoje perdura. Os executivos de Atenas bem gostariam
de ter tido um Ferrari como o português durante o anterior aper-
está a salvo to financeiro.
Já a Segurança Social, apesar da melhoria evidente nos últi-
até todos mos anos, é um mero utilitário para uso citadino. O resultado é
estarmos um país muito mais eficiente a colher impostos e outras taxas do
que a processar e a pagar apoios. É o que este caso do lay-off nos
a salvo. mostra, mesmo tendo noção da complexidade e escala da opera-
ção de resposta à covid-19.
O desconfinamento Os problemas da Segurança Social não são de hoje. Todos se
é para (quase) todos lembram dos atrasos crónicos no processamento dos pedidos e
pagamento de pensões, que motivaram um aumento de 39% nas
Por cá, à semelhança do que está a acontecer queixas à Provedora de Justiça em 2018. Até ao final de setem-
noutros países da Europa, a abertura dos bro do ano passado, tinham entrado em média cinco reclamações
por dia pelos mesmos motivos. A dificuldade em resolver o pro-
cabeleireiros e das barbearias, transformou-se blema levou mesmo a nova ministra a anunciar em janeiro, no
num momento de incomum satisfação. Mas não Parlamento, uma “task force”. Não foi por falta de vontade, foi
são apenas os humanos que ganham com o por falta de recursos e um investimento no digital aquém do ne-
desconfinamento. Este cão, Charly de sua graça, cessário.
O atraso no pagamento do lay-off simplificado é grave, não só
também pode regressar à sua loja de animais porque viola um compromisso do Governo, mas porque compro-
ANTÓNIO GUTERRES
preferida para um merecido banho de beleza. mete o propósito de aliviar a tesouraria das empresas numa al-
Secretário-geral da ONU tura em que tiveram uma quebra brutal de receitas ou mesmo re-

7
Fotografia: Fabio Frustaci/EPA
ceitas nenhumas.
O ministro da Economia assumiu que as expectativas foram
defraudadas, louvou os trabalhadores da Segurança Social e re-
NÚMERO jeitou que esta tivesse falhado. Não há como deixar a culpa sol-
teira: a responsabilidade é de Siza Vieira e de Ana Mendes Godi-
nho. E é aos dois governantes que ela terá de ser assacada se os
A Comissão Europeia autorizou a problemas persistirem. Mas há outro Vieira que tem de ser para
aqui chamado: José Vieira da Silva, que esteve à frente da Segu-
França a apoiar com 7 mil milhões rança Social em quase 10 dos últimos 15 anos.
de euros a companhia aérea Air O próprio Siza Vieira reconhece que a “máquina não tem esta
capacidade”. É o que dá ter sido durante demasiados anos um pa-
France, sob forma de empréstimo, rente pobre das Finanças na informatização. E a pressão não vai
baixar. Infelizmente, a avalancha de pedidos de subsídio de de-
para fazer face à covid-19. semprego está só a começar. 
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PRIMEIRA LINHA COVID-19

Enquanto
houver medo,
consumo não vai
voltar ao que era
Chegou sem aviso e virou do avesso os hábitos de compra dos
portugueses. A pandemia tornou os consumidores mais
cautelosos, mas nem todas as novas tendências vieram para ficar.

dos 200%. “As pessoas sentiram fator acrescido, que é o medo, por-
ANA SANLEZ o impulso de fazer um carrinho de que é imprevisível. Enquanto se
anasanlez@negocios.pt sobrevivência”, refere António mantiver o medo, o consumo não
Mendes, diretor-geral da consul- vai voltar ao que era”, diz a consul-
tora Levelsource. tora sénior da Nielsen. Desde en-

N
tão, “os consumidores estão mui-
Uma crise democrática to mais racionais e responsáveis”,
ão entra no super- O ponto de viragem aconteceu a considera a especialista. “O que
mercado sem a lis- 22 de março, aponta Pedro Pi- havia até agora era uma ida quase
ta de compras e mentel. “Foi quando as pessoas diária ao supermercado, para fa-
não perde tempo perceberam que não ia haver es- zer compras para o jantar, sem
em voltas pelos cassez de produtos”, e o consumo qualquer planeamento. Isso aca-
corredores. A secção dos enlata- começou a moldar-se à evolução bou. Da mesma forma que termi-
dos é de visita obrigatória, en- da pandemia. “Com a despensa nou o hábito de frequentar várias
quanto o chocolate, que antes era abastecida, passaram a limitar as lojas. Passámos a fazer todas as
comprado por impulso, agora fica compras ao estritamente neces- compras no mesmo espaço, e va- Retalho vai ganhar com transferência do consumo de fora para dentro de casa.
na prateleira. A ida às compras se- sário”, o que levou a que, entre o mos continuar assim”.
guinte passou a ter data marcada, final de março e o início de abril, Esta deverá ser uma das heran- setor menos penalizado durante exemplo, à aparência física, e essa
para dali a sete ou oito dias. Isto os supermercados tenham regis- ças mais duradouras da pandemia, a crise económica que se adivinha. é uma tendência para manter”, an-
quando o carrinho não é exclusi- tado picos de consumo mínimos. antevê a analista, “porque não es- Desde logo porque “haverá uma tecipa Pedro Pimentel.
vamente virtual. Só a partir do final do mês pas- tamos a falar de um período pós- transferência do consumo de fora Mas no que toca aos hábitos de
Estes são alguns traços da sado e agora no arranque de maio, -covid, mas num período durante para dentro de casa”, explica o di- consumo dos portugueses, a pan-
nova espécie de consumidor, nas- é que os comportamentos come- a covid, que deverá ser longo”. retor da Centromarca. Também demia não alterou apenas a deci-
cido e criado na era da covid-19. Os çaram a uniformizar-se. Marta O fim dos “passeios ao super- identificados pelos técnicos estão são sobre “o quê”, mas também
especialistas ouvidos pelo Negó- Teotónio Pereira associa as mu- mercado” acarreta outra tendên- os prováveis perdedores do cam- sobre “onde” e “como”. As com-
cios não têm dúvidas: há hábitos danças a um denominador co- cia. No chamado “novo normal” o peonato do consumo. “As pessoas pras online foram uma das conse-
que vieram para ficar, como as mum. “Esta crise é diferente por- consumidor “irá menos vezes às estão mais cautelosas em investir quências do confinamento, e de-
compras online ou o reforço da que afeta toda a gente. Trouxe um lojas e comprará mais quantida- em bens supérfluos, ligados, por verão segurar uma parte da quota
fruteira com laranjas e outras fon- des de cada vez”, sistematiza o res- de mercado que conquistaram “à
tes de vitamina C. Outros, como a ponsável da Centromarca. “As força”, prevê António Salvador, di-
febre de fazer pão em casa ou a fre- pessoas vão querer ter uma reser- retor geral da GfK Portugal.
quência quase exclusiva de lojas va de bens essenciais não perecí- O mesmo poderá não aconte-
de bairro, deverão dissipar-se com Foi relativa- veis em casa, quase como nos ha- Acabaram cer com o comércio de proximida-
o tempo. mente fácil levar bituámos a ver nos filmes”, prevê as idas aos de, nomeadamente com os super-
“Houve uma primeira fase de as pessoas para Pedro Pimentel. supermercado mercados de bairro. A opinião dos
casa com medo,
pânico que, em Portugal, até foi Um estudo recente da Level- quase diárias e analistas é unânime. “A questão do
mas vai ser mais
curta comparada com outros paí- difícil tirá-las. source concluiu que os consumi- sem planeamento. preço vai acabar sobrepor-se, o que
MARTA TEOTÓNIO
ses europeus, pois durou apenas PEDRO PIMENTEL dores querem nos supermercados PEREIRA levará as pessoas a regressar às
15 dias”, afirma Pedro Pimentel, Centromarca “espaços exclusivamente dedica- Nielsen grandes superfícies”, sublinha An-
diretor-geral da Centromarca. dos a bens essenciais para que o tónio Mendes. De acordo com as
Neste período, a procura de alguns ato de compra seja mais rápido”. contas da Centromarca, o peso do
bens, como conservas ou papel hi- Segundo a análise dos especia- comércio tradicional saltou de 8%
giénico, teve aumentos na ordem listas, o retalho alimentar será o para 14% durante o estado de
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António Pugliese

TOME NOTA
Cinco números que
mostram o impacto do
confinamento no consumo

O confinamento ditou uma quebra abrupta do consumo de alguns bens


tecnológicos e serviços relacionados com lazer. Mas houve outros arti-
gos que tiveram subidas relevantes.

-81%
A procura por
máquinas fotográficas
digitais nas últimas
MÁQUINAS semanas, devido
FOTOGRÁFICAS ao confinamento
dos portugueses,
caiu 81%.

-40%
O investimento em
publicidade em abril
caiu 40%. Os especia-
INVESTIMENTO
listas antecipam PUBLICITÁRIO
um período
de campanhas
“menos agressivas”.

33%
Um estudo da GfK
mostra que apenas
.
um terço dos
FÉRIAS DE VERÃO inquiridos tem planos
emergência. A explicação está no “Mas esse é um hábito que não venda de brinquedos ter caído para as férias de
serviço. “A grande distribuição so- vai sobreviver ao desconfina- 24%, a procura por puzzles e jo- verão. Destes, metade
freu uma pressão grande nesta mento”, ressalva o especialista. gos disparou mais de 40%”, re- pensa alterá-los.
fase, e o comércio de bairro foi a O “novo normal” trouxe tam- vela o responsável da GfK. O úl-
solução encontrada por muita bém quedas abruptas no consu- timo estudo da consultora ante-
gente. O bom serviço está a ser va- mo de tecnologia, livros ou brin- cipa para os próximos meses um

300%
lorizado. Duvido, porém, que seja quedos, apesar de todas as cate- aumento das compras de purifi- A subida média da
um hábito para manter. Mas, tal gorias revelarem exceções. “A te- cadores de ar e versões digitais de venda de webcams
como no digital, não é preciso que lescola e o teletrabalho fizeram livros e música. na Europa durante o
todos os clientes fiquem, se fica- disparar a venda de computado- A forma abrupta como a pan- pico da pandemia foi WEBCAMS
rem alguns já será um ganho”, res e impressoras, e apesar de a demia virou o consumo do aves-
sentencia Pedro Pimentel. so não constava nas previsões de de 300%, consequên-
qualquer consultora no início de cia do aumento das
Purificadores de ar em alta 2020. Talvez por isso os especia- videochamadas.
O choque causado pela pande- listas, tal como os consumidores,
mia não teve reflexo apenas na As horas sejam cautelosos na hora de fazer
cozinha ou à mesa de refeições. gastas em previsões. Todos concordam, ain-

33%
Em primeiro lugar, porque “ga- deslocações para o da assim, que a recuperação vai O consumo de
trabalho passaram
nhámos muitas horas diárias de depender da retoma da mobilida- televisão no período
a ser horas
consumo”, lembra António Sal- de consumo. de. “Foi a saúde que criou esta cri- da Páscoa subiu 33%,
vador. Nomeadamente, “as ho- ANTÓNIO SALVADOR se e é a saúde que vai ditar o ritmo TELEVISÃO com destaque
ras que eram gastas em desloca- GfK Portugal do regresso à normalidade”, con-
para programas
ções para o trabalho ou no giná- clui Pedro Pimentel. “Foi relati-
sio”. Nunca como agora os por- vamente fácil levar as pessoas informativos
tugueses foram tão consumido- para casa com medo, mas vai ser e religiosos.
res de televisão, por exemplo. mais difícil tirá-las.” 
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PRIMEIRA LINHA COVID-19


Paulo Novais/Lusa

Num primeiro momento os portugueses deixaram de dar tanta importância às promoções.

Promoções vão ajudar marcas


a recuperar relevância
Perderam peso nos hábitos de consumo durante as primeiras semanas
do Estado de Emergência, mas as promoções não vão abandonar
o carrinho de compras dos portugueses.

portugueses chegou a cair de 50% mais a isso”, pelo que, “numa pri- ção vai continuar a ser um dos fa- terminar o peso de uma marca no
ANA SANLEZ para 32%. “As pessoas queriam le- meira fase, os supermercados ab- tores decisivos na decisão de com- mercado. “Houve muitas marcas
anasanlez@negocios.pt var tudo, independentemente do dicaram” da redução de preços, pra, acreditam os especialistas. que deixaram de comunicar nes-
preço. Durante algumas semanas a para não incentivar ainda mais à A 28 de fevereiro, por cada 100 ta fase da pandemia, sobretudo as
promoção deixou de ser priorida- compra, explica o diretor geral da euros que os portugueses fizeram de bens considerados supérfluos.
de”, nota Marta Teotónio Pereira, Centromarca, Pedro Pimentel. em compras, havia 48 euros de Neste período que se segue, essas

F
consultora sénior da Nielsen. Para os analistas, este recuo bens com algum tipo de promo- marcas terão o desafio acrescido
oi uma tendência passa- A tendência foi visível até na nem chegou a ser uma tendência, ção, segundo um estudo da Cen- de recuperar a relevância que ti-
geira, explicada pelo disposição habitual dos supermer- mas sim uma reação instantânea. tromarca. Com o acentuar das di- nham no mercado antes da covid-
“choque” inicial provoca- cados, que “limparam” as zonas ha- “O mercado português é viciado ficuldades económicas, é de espe- -19, e uma promoção poderá ser
do pela pandemia. A von- bitualmente dedicadas às promo- em promoções e já se começa a no- rar que este valor aumente, refe- decisiva para isso”. Ainda assim,
tade de armazenar a maior quanti- ções para facilitar a circulação no tar o regresso dessa dinâmica. A cri- rem os analistas. acrescenta, as vendas de bens não
dade possível de bens na despensa interior dos espaços, e até para “li- se económica que aí vem só vai au- essenciais “vão demorar meses” a
fez com que, em abril, os portugue- bertar pressão” sobre as vendas. mentar a importância da redução Adultos mais recetivos recuperar os níveis de consumo
ses fechassem os olhos aos produ- “Nas primeiras semanas do Esta- de preços”, que são mais comuns a promoções que registavam até fevereiro.
tos em promoção. Segundo uma do de Emergência os supermerca- nos produtos de marca própria do Na análise de Pedro Tavares, CEO O efeito das promoções na era
análise da Nielsen, o peso das pro- dos foram sujeitos a uma enorme que nas marcas brancas, sublinha da consultora On Strategy, as pro- de consumo marcada pela pande-
moções no carrinho de compras dos pressão, e a promoção induz ainda Marta Teotónio Pereira. A promo- moções podem mesmo vir a de- mia será maior nas gerações “mais
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Online exige INE só atualiza



O mercado
português
é viciado
em promoções
mais apoio
ao consumidor
cabaz de bens da
inflação em 2021
e já se começa
a notar o regresso
dessa dinâmica.
MARTA TEOTÓNIO PEREIRA A pandemia tirou os consumidores das lojas e Apesar das alterações de consumo causadas
Analista Sénior da Nielsen “empurrou-os” para as compras virtuais. Uma pela covid-19, o INE segue o Eurostat e, este
mudança forçada que vai ter consequências. ano, mantém o cabaz para calcular o IPC.
Uma promoção
pode ser decisiva Estava na gaveta do fundo e adultas foram empurradas O Instituto Nacional de Esta- lizadas no processo anual de
para uma marca passou para o topo da lista de para o comércio digital. O que tística (INE) vai manter o ca- encadeamento, antes do início
recuperar prioridades. É assim que Pe- significa que as empresas, ao baz de bens e serviços que é de cada ano”, acrescentou.
a relevância dro Pimentel, diretor geral da terem estas gerações como usado para calcular a inflação, Nessas atualizações são
que tinha antes Centromarca, descreve a im- clientes, terão de dar mais im- apesar de a pandemia da co- usados os dados mais recentes
da pandemia. portância das vendas online portância ao apoio ao cliente, vid-19 ter alterado o padrão de das Contas Nacionais Portu-
para as empresas portuguesas. uma vez que estes consumido- consumo das famílias. guesas, do Inquérito à Despesa
PEDRO TAVARES Evitando a palavra “oportuni- res são mais exigentes”. O res- Para aferir o Índice de Pre- das Famílias, de diversas fontes
CEO da On Strategy dade”, os especialistas em con- ponsável prevê “uma revolução ços do Consumidor (IPC), os administrativas e outros inqué-
“ sumo ouvidos pelo Negócios
não hesitam em classificar o
comércio digital como “o gran-
de vencedor desta crise”.
no setor a curto ou médio pra-
zo”, que considera “bem vinda,
porque o serviço ao cliente é
uma das maiores lacunas do co-
gabinetes de estatística recor-
rem a um ‘cabaz’ de bens e ser-
viços que representa os hábi-
tos de consumo do país. E ape-
ritos. Por isso, eventuais altera-
ções no padrão de consumo só
podem ser integradas no enca-
deamento anual, em função da
No retalho alimentar, o on- mércio há anos”. Daqui, é ain- sar de o novo coronavírus ter informação disponível. “Assim,
line valia, no final de fevereiro, da expectável que surjam opor- mudado drasticamente o pa- qualquer alteração quantificá-
menos de 1% do total das ven- tunidades laborais, acrescenta. drão de consumo das famílias vel na estrutura de consumo
das. Com o confinamento, as Para Marta Teotónio Perei- não haverá mudanças na pon- das famílias resultante da pan-
vendas nos canais digitais dos ra, consultora sénior da Niel- deração dos produtos para demia da covid-19 só poderá ser
adultas”, aponta Pedro Tavares, supermercados dispararam sen, a pandemia “derrubou bar- aferir a evolução dos preços. integrada no IPC de 2021”.
que são também as mais suscetí- seis vezes, diz a Centromarca. reiras” no comércio digital que Por um lado, há bens con- O INE junta-se assim ao
veis às mudanças de hábitos. E não Já segundo a GfK, a venda de há muito teimavam em cair. siderados essenciais para as fa- entendimento do Eurostat,
só nos supermercados. bens tecnológicos na internet “Os consumidores aderiam mílias, como desinfetantes, que vai manter o cabaz de bens
“Vamos ver setores como o au- passou a valer 31% do total do para viagens ou roupa, mas no máscaras ou luvas descartá- e produtos inalterado até ao fi-
tomóvel ou as companhias aéreas consumo, quando antes repre- consumo alimentar estávamos veis, cujo preço aumentou de- nal do ano. “As ponderações
a adotarem práticas já usadas em sentava 8% das compras. muito atrás da média euro- vido à procura - mas que têm, são atualizados no início de
áreas como as telecomunicações, Nem todos os novos adep- peia”. Ultrapassado este muro, e vão continuar a ter, uma pe- cada ano e mantidos de forma
que adaptam o seu produto a fai- tos do consumo virtual vão per- é expectável que “alguns” con- quena ponderação nos pa- constante até ao final do ano”,
xas etárias. As empresas terão o manecer fiéis, “porque quando sumidores se mantenham nos drões de consumo habituais. afirmou o gabinete de estatís-
desafio de entender o novo consu- regressarmos aos nossos pos- canais digitais, aposta a analis- Por outro lado, o consumo tica europeu ao Financial Ti-
midor, e mudar a sua abordagem. tos de trabalho, não estará nin- ta. Ainda assim, a importância de combustíveis, que represen- mes. “Por isso, as ponderações
Os consumidores mais velhos vão guém em casa para receber as que os portugueses dão à com- tam mais de 10% do ‘cabaz’ de não vão mudar em resultado
procurar mais promoções, en- compras”, repara Pedro Pi- pra física será “muito difícil de bens da zona euro, caiu drasti- do impacto da covid-19 nas
quanto as gerações mais jovens, mentel. Mas a subida forçada superar”.  AS camente com o isolamento di- despesas”, resumiu.  SP/ME
como os millennials, vão focar-se das vendas online acabou por tado pela epidemia. Outro
nas experiências e no serviço”, an- enraizar em muitos portugue- exemplo: as despesas em res-
tevê o CEO da On Strategy. ses um hábito que tardava em taurantes quase desaparece-
Além das promoções, é ainda surgir. “Em muitos casos a ex- ram e dispararam os gastos nas
expectável que, no regresso às com- periência dos consumidores lojas de retalho alimentar.

“ “
pras, os consumidores prestem não foi boa. A pandemia deixou Em Portugal, tal como na
mais atenção a marcas que, duran- a nu as fragilidades da estrutu- UE, estas ponderações vão
te o pico da pandemia, “deixaram ra de vendas online das nossas manter-se. “Pretende-se que o
de pensar em gerar intenção de empresas. No caso do retalho ‘cabaz’ do IPC seja representa-
compra”, adotando uma postura de alimentar, 65% do mercado tivo da despesa das famílias
“boa cidadania”, assinala Pedro Ta- não tem qualquer sistema de O apoio ao cliente para um período de um ano, Qualquer alteração
vares. “Do ponto de vista da comu- comércio digital, e prepara-se é uma das pelo que alterações na estrutu- quantificável
nicação, serão recompensadas as para acelerar esse investimen- maiores lacunas ra de produtos, eventualmente no consumo das
que assumiram uma posição cons- to a partir de agora”, adianta o fortes mas pontuais, não devem famílias só poderá
trutiva e de proximidade, e serão diretor da Centromarca. do comércio há implicar alterações imediatas”,
castigadas as que se limitaram a Pedro Tavares, CEO da muitos anos. afirmou o INE numa resposta
ser integrada
apelar ao consumo, sem ter em consultora On Strategy, ante- PEDRO TAVARES escrita ao Negócios. Nesse sen- no IPC de 2021.
atenção o momento delicado que vê outra tendência no cami- CEO da consultora tido, “a amostra e estrutura de INE
os consumidores estão a viver”.  nho. “As faixas etárias mais On Strategy ponderação só podem ser atua- Fonte oficial
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PRIMEIRA LINHA COVID-19

Doentes crónicos têm falta


justificada ao trabalho. Mas é paga?
O Governo criou um regime excecional de proteção para os trabalhadores com
doenças crónicas ou imunodeprimidos que não possam exercer a sua função
à distância. Problema: esqueceu-se de definir se a falta é paga e por quem.


Pedro Ferreira

MANUEL ESTEVES
mesteves@negocios.pt

A declaração médica

O
atesta que as pessoas
s doentes crónicos, precisam de uma
que não possam exer- proteção específica,
cer a sua função à dis-
tância, vão poder fal-
o que aproxima à
tar ao trabalho bastando para isso situação de isolamento
que apresentem uma declaração profilático.
médica comprovando a sua situa- PEDRO DA QUITÉRIA FARIA
ção clínica. A norma consta do di- Advogado da Antas da Cunha Ecija
ploma publicado no dia 1 de maio
e vem reforçar a proteção destas A intenção do Governo
pessoas que, até agora, não dispu-
nham de nenhum regime de pro-
deve ser equiparar a
teção adicional, restando-lhe a um sistema de baixa
baixa médica, de justificação du- ou de quarentena, mas
vidosa e que implica redução sa- a lei não é clara.
larial. NUNO FERREIRA MORGADO
No entanto, o diploma publi- Advogado da PLMJ
cado na sexta-feira passada é
omisso sobre a questão central:
Do ponto de vista
esta falta justificada garante ou O ministro da Economia e a ministra do Trabalho têm uma longa lista de dúvidas legais para esclarecer.
não a remuneração do trabalha- literal, estas faltas
dor? E garantindo, quem a paga? co, designadamente os hiperten- mal de baixas, recebendo este um O problema é que a razão – a não implicam perda
A Segurança Social ou a empre- sos, os diabéticos, os doentes car- subsídio de doença da Segurança epidemia – também não é imputá- de remuneração até
sa? O Negócios procurou desde diovasculares, os portadores de Social; ser equiparado à situação vel ao trabalhador, sublinha Nuno ao limite de 30 dias.
domingo uma resposta junto do doença respiratória crónica, os de isolamento profilático e rece- Ferreira Morgado. “A intenção do
INÊS ARRUDA
Ministério do Trabalho sem su- doentes oncológicos e os portado- ber até um valor superior ao da Governo deve ser equiparar a um
cesso e os advogados garantem
que a lei não é conclusiva.
De acordo com o decreto-lei
n.º 20/2020, que altera as medi-
res de insuficiência renal”.

Um diploma inconclusivo
Da consulta a três advogados da
baixa; ou ser a empresa a pagar,
possivelmente com um prazo má-
ximo de 30 dias.
“Se estivermos a falar de um
sistema de baixa ou de quarentena,
mas a lei não é clara. O problema é
que se não houver um regime espe-
cífico de proteção social, como o

Advogada da Vasconcelos
Arruda e Associados

das excecionais e temporárias re- área laboral – Inês Arruda, Pedro atestado médico, isso implicaria subsídio de doença, então terá de
lativas à pandemia da doença co- da Quitéria Faria e Nuno Freitas uma perda de remuneração, o que ser o empregador a pagar”. Se as-
vid-19, estas pessoas “podem jus- Morgado –, todos concordam que não me parece ser o espírito do le- sim for, o que acontecerá é que
tificar a falta ao trabalho median- o decreto-lei é inconclusivo e que gislador”, afirma Pedro da Quitéria muitas empresas tentarão pôr es- legal para que seja a empresa a su-
te declaração médica, desde que carece de esclarecimentos adicio- Faria, da Antas da Cunha Ecija e tes trabalhadores em lay-off, avisa portar. É possível argumentar que,
não possam desempenhar a sua nais da Segurança Social que, pro- Associados. Por outro lado, dado o advogado da PLMJ. ao abrigo do artigo 255.º e 249.º do
atividade em regime de teletraba- vavelmente, serão publicados sob que a declaração médica atesta que Inês Arruda reforça. “Ou é con- Código do Trabalho que as faltas
lho ou através de outras formas de a forma de FAQ (do inglês Fre- a pessoa precisa de uma proteção siderada uma falta por doença e se- que por lei são consideradas justi-
prestação de atividade”. Estão quently Asked Questions), uma adicional, prossegue, faz mais sen- gue o regime normal, sendo paga ficadas só deixam de ser remune-
abrangidos por este “regime exce- prática invulgar que se generali- tido que haja uma proteção especí- pela Segurança Social; ou é uma si- radas pela empresa quando exce-
cional de proteção” “os imunode- zou com a pandemia. fica como a que o Governo criou tuação de isolamento profilático, dam os 30 dias por ano.
primidos e os portadores de doen- Perante a omissão do legisla- para o isolamento profilático, argu- também paga pela Segurança So- Esta é, portanto, mais uma dú-
ça crónica que, de acordo com as dor, haveria três possibilidades se- menta. O que não parece razoável, cial”. Mas, sublinha a advogada da vida a juntar à longa lista de ques-
orientações da autoridade de saú- gundo os advogados: a ausência do na opinião de Pedro da Quitéria Fa- Vasconcelos Arruda e Associados, tões que a Segurança Social tem
de, devam ser considerados de ris- trabalhador entrar no regime nor- ria, é que seja a empresa a suportar. no limite também há justificação para esclarecer. 
TERÇA-FEIRA 5 MAI 2020 PRIMEIRA LINHA 9
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Diploma do Governo não trava


TOME NOTA
O que

pedidos das concessionárias


determina
o decreto-lei

O diploma de 30 de abril concre-


O diploma que suspendeu o direito à reposição do equilíbrio financeiro dos contratos
tiza a limitação aos direitos de
durante o estado de emergência levanta dúvidas constitucionais aos especialistas. reposição do equilíbrio financei-
No início de junho, deverão começar a ser entregues pedidos das concessionárias. ro de concessões. Mas não só.

Pedro Elias
O decreto-lei do Governo que sus- COMPENSAÇÕES E REF
pendeu as cláusulas dos contratos O diploma do Governo determi-
que preveem compensações às na que são suspensas, de dia 3
concessionárias pela perda de trá- de abril até ao fim do estado de
fego durante o estado de emergên- emergência, as cláusulas con-
cia não vai travar a apresentação tratuais que preveem o direito
de pedidos de reposição do equi- à reposição do equilíbrio finan-
líbrio financeiro (REF) assim que ceiro ou a compensação por
tiver apurado esse impacto. Essa quebras de utilização em qual-
avaliação vai começar agora a ser quer contrato de execução du-
feita, designadamente aos rácios radoura, incluindo PPP. Nos
que foram afetados, de forma que contratos em que a ocorrência
entre finais de maio e início de ju- de uma pandemia possa justifi-
nho possam fazer chegar aos con- car uma pretensão de reposição
cedentes – Infraestruturas de Por- do equilíbrio financeiro só pode
tugal (IP) e Instituto da Mobilida- ser realizada através da prorro-
de e dos Transportes (IMT) – as gação do prazo de vigência do
suas pretensões. contrato.
No entender de advogados
contactados pelo Negócios o di- PPP RODOVIÁRIAS
ploma do Executivo, publicado a O diploma refere que as obriga-
30 de abril, levanta problemas de ções das concessionárias rodo-
natureza constitucional e põe em viárias devem ser temporaria-
causa a confiança de investidores. mente objeto de redução ou
O diploma, que se aplica aos con- suspensão, a definir com urgên-
tratos de execução duradoura As obrigações das concessionárias serão reduzidas e os pagamentos também. cia, pelo concedente. O conce-
como concessões ou parcerias pú- dente deve também determinar,
blico-privadas (PPP), determina bém “desproporcional” ao deter- rada porque é impositiva”, salien- uma matéria que “cabe aos tribu- de forma unilateral, a redução
a suspensão desde o dia 3 de abril minar que não há lugar a qualquer tando que a alternativa deveria ter nais decidir e não ao Executivo”. dos pagamentos devidos, na
até ao fim do estado de emergên- compensação, acrescenta. sido pela via do consenso, o que “Se o Estado se está a substituir medida da redução ou suspen-
cia – 2 de maio – das cláusulas Pedro Melo, sócio da Miran- evitaria litigância. Em face deste aos tribunais, está a violar o prin- são das obrigações.
contratuais que preveem o direi- da & Associados, considera que a diploma, o responsável refere que cípio da separação de poderes.”
to a REF ou a compensações. Algo solução adotada pelo Estado “é er- “há expectativa das concessioná- O Governo veio ainda assegu- IMPUGNAÇÃO
que, para Tiago Duarte, professor rias sobre a forma como a IP e o rar, no decreto-lei, a possibilidade O Governo define ainda que os li-
de Direito Constitucional e Admi- IMT vão atuar, quer quanto à re- de recurso para o Supremo Tribu- tígios que venham a emergir da
nistrativo da Universidade Cató- dução de obrigações em paralelo nal Administrativo de decisões dos aplicação deste decreto-lei é pas-
lica, põe em causa os princípios da com a diminuição de pagamentos tribunais arbitrais, “passando por sível de recurso para o Supremo
proteção da confiança e da pro- quer quanto à interpretação que cima de contratos que apenas per- Tribunal Administrativo. É que


porcionalidade. “O Estado altera vierem a fazer do diploma sobre o mitem que os litígios sejam deci- muitos contratos definem a arbi-
legislação vigente e contratos as- direito ao REF”. didos em arbitragem e sem possi- tragem para a resolução de dife-
sinados com efeitos retroativos e A Tiago Duarte também em bilidade de recurso”, apontou Tia- rendos e não aceitam recursos.
elimina totalmente direitos in- matéria de responsabilidade civil go Duarte. E determinou, especi-
demnizatórios”, aponta o respon- extracontratual do Estado são le- ficamente para os contratos de INDEMNIZAÇÃO
sável, salientando que o estado de A solução é vantadas dúvidas constitucionais PPP rodoviária, uma redução de PELO SACRIFÍCIO
emergência “não suspendeu toda errada porque ao diploma do Governo. Este de- forma unilateral pelo concedente O Executivo determinou ainda
a Constituição”. É que, diz, a lei vi- é impositiva. termina que “não dão lugar a in- dos pagamentos na medida da re- que não dão lugar a indemniza-
gente e os contratos antecipavam E levanta problemas demnização pelo sacrifício os da- dução ou suspensão das obriga- ção pelo sacrifício os danos re-
uma situação de pandemia e o Es- nos resultantes de atos regular- ções das concessionárias. Uma sultantes de atos regularmente
tado entendeu agora, e de forma de natureza mente praticados pelo Estado ou matéria que, ao ser imposta unila- praticados pelo Estado ou outra
retroativa, “alterar as regras do constitucional. outra entidade pública” para efei- teralmente, pode redundar em im- entidade pública para efeitos da
jogo”. Além de pôr em causa a con- PEDRO MELO tos da prevenção e do combate à pugnações em tribunal, conclui.  prevenção e do combate à co-
fiança no Estado, a medida é tam- Sócio da Miranda & Associados pandemia. Algo que, salienta, é MARIA JOÃO BABO vid-19.
10 TERÇA-FEIRA 5 MAI 2020
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PRIMEIRA LINHA COVID-19

Verniz entre EUA-China volta a


estalar e leva mercados ao tapete
A relação entre as duas maiores economias do mundo voltou ao radar dos
investidores, com as acusações norte-americanas sobre a origem em laboratório
do novo coronavírus. As bolsas começaram o mês de maio com o pé esquerdo.
Carlos Barria/Reuters

GONÇALO ALMEIDA BOLSAS CAEM


goncaloalmeida@negocios.pt COM TENSÕES
Valores em %. S&P 500 às 17h30

O recrudescimento da tensão entre


os Estados Unidos e a China levou as

A
principais bolsas europeias e às nor-
s principais praças te-americanas a caírem na sessão
mundiais ressentiram- desta segunda-feira.
-se do novo agudizar de
tensões entre os Esta-
dos Unidos e a China, após Mike
Pompeo, secretário de Estado da
Casa Branca, ter dito que existiam
“provas enormes” de que o novo co-
ronavírus tenha sido fabricado no
laboratório em Whuan, na China,
o epicentro da pandemia.
“Os investidores estão nova-
mente preocupados com a dispu-
ta entre os EUA e a China, que ti-
nha sido congelada quando os dois
lados acordaram um acordo co-
mercial em janeiro”, diz, numa
nota, Oliver Allen, analista da Ca-
pital Economics, acrescentando
que, “contudo, este episódio não
altera a perspetiva positiva para o
resto do ano”.
As bolsas em todo o mundo fo- Xi Jinping e Donald Trump têm travado várias batalhas. O novo coronavírus voltou a opor os dois países. Fonte: Bloomberg
ram pressionadas, começando


pelo mercado asiático, com o ín- forçadas, que apontavam para analista da Capital Economics, lítica e pessoal para lidar com este
dice de Hong Kong a liderar as uma origem laboratorial na Chi- numa nota divulgada esta segun- tipo de situação. “Trump não dei-
perdas (-3,8%), passando pelos na do vírus. Apesar de ambos fa- da-feira. xou de ser aquilo que sempre foi,
mercados europeus – Stoxx 600, larem de provas concretas que mas, em alturas de crise como
índice que reúne as 600 maiores justificam a sua tese, nenhuma foi Uma guerra que esta, vem ao de cima a preparação
Os investidores
cotadas na Europa, desvalorizou tornada pública. nunca adormeceu ou falta dela por parte dos dirigen-
2,65% -, até a Wall Street, com os estão novamente A China negou prontamente “A ‘guerra’ entre os dois países pa- tes políticos”, remata.
índices a perdem força. preocupados com as acusações de que foi alvo e a rece neste momento prosseguir, Trump e Pompeo, além de le-
Já na sexta-feira, os índices a disputa entre os Organização Mundial de Saúde embora nunca tenha verdadeira- vantarem suspeitas quanto à ori-
norte-americanos tinham desva- EUA e a China, (OMS) veio desmentir a teoria da mente ficado suspensa. Agora, as gem do vírus, acusaram a China
lorizado após Trump ter voltado a que tinha sido Casa Branca, dizendo que o novo críticas que estão a ser lançadas de esconder informações sobre o
ameaçar Pequim, com novas tari- coronavírus tem origem total- pela Casa Branca à forma como a seu tratamento e de não querer
fas alfandegárias, tendo reforçado congelada quando mente natural e aproveitando China tratou o vírus serão uma cooperar na elaboração de uma
a ideia de que a China terá de cum- chegaram a um para elogiar a forma disciplinar forma de encontrar uma narrati- vacina, fármaco que, para o pro-
prir o acordo da compra de produ- acordo comercial como a China lidou com a sua va que explique aos americanos o fessor, pode catapultar ainda mais
tos agrícolas norte-americanos. em janeiro. propagação. porquê desta resposta tardia por a guerra entre ambos.
Caso contrário, os EUA iriam re- OLIVER ALLEN “O presidente Trump pode parte de Donald Trump”, justifica “Esta questão da corrida por
vogar o entendimento.
Já os comentários de Mike
Pompeo, numa entrevista ao ca-
nal ABC, surgem na sequência
das acusações anteriormente

Analista da Capital Economics olhar para a pressão sobre a Chi-
na como parte vital da sua estra-
tégia eleitoral, em ano de presi-
denciais marcadas para novem-
bro. O seu índice de aprovação
ao Negócios, Paulo Duarte, pro-
fessor auxiliar convidado da Uni-
versidade do Minho na área das
relações internacionais.
O professor considera que esta
uma vacina, não só entre os EUA
e a China, mas também com ou-
tros protagonistas, é mais um foco
de competitividade entre as duas
potências, que vai alimentar cer-
lançadas pelo presidente do país, caiu nas últimas semanas e ago- reação de Donald Trump espelha tamente a guerra entre ambas”,
Donald Trump, e novamente re- ra é de apenas 43%”, adianta o também a sua impreparação po- conclui. 
TERÇA-FEIRA 5 MAI 2020 PRIMEIRA LINHA 11
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China testa moeda digital de liquidação do dólar e atenua o


impacto de quaisquer sanções ou
ameaças de exclusão por parte de
feita. “Pode até impor limites à
compra de produtos”, alerta Wang.
E exemplifica: “pode estipular um

em nova batalha com EUA outros países”.


Austin Wang, professor de ciên-
cia política na University of Neva-
da, admite ao Negócios que “o lan-
limite de um quilo por mês de car-
ne de porco”, para gerir melhor as
quantidades de produtos consu-
midos no país. Wang aponta tam-
çamento da e-RMB é, em parte, bém outra ideia subjacente à cria-
uma resposta à guerra comercial ção da moeda, que, em seu enten-
A nova moeda digital chinesa começou a ser testada em quatro cidades do com os EUA. Depois de terem au- der, vai permitir a Xi Jinping aper-
país, numa altura em que as tensões com os EUA ganham nova força. Moeda mentado as tarifas, começa a ser di- tar o controlo no seu anunciado
pode ser importante arma de arremesso contra tarifas norte-americanas. fícil para algumas empresas chine- combate à corrupção. 
sas lucrar com dólares norte-ame- GONÇALO ALMEIDA
A China tornou-se, na semana dos”, e com “o incentivo à utiliza- não circula. Faz-se tudo através de ricanos”. “Tendo em conta que a
passada, a primeira grande econo- ção do dinheiro digital”, diz ao Ne- aplicações como a Wechat, que nos moeda digital é menos transparen-


mia mundial a por em circulação gócios Sukhi Jutla, fundadora da permite fazer praticamente todas te para o mundo exterior, o gover-
a sua moeda digital. Batizada de MarketOrders. A moeda vinha a as tarefas do dia a dia: mandar no chinês ganha aqui uma nova
e-RMB, nome dado à versão digi- ser preparada há vários anos. Con- emails, fazer pagamentos, telefo- arma poderosa”. Pela mesma lógi-
tal do renmibi, está a ser testada tudo, o governo chinês viu agora, nar a alguém”. Uma ideia reforça- ca, “a e-RMB pode aumentar a in-
em quatro cidades: Shenzhen, no decurso da pandemia, uma boa da por Mário Martins, analista da fluência da China noutros países, e
Suzhou, Chengdu e Xiong’na, as- oportunidade para a lançar. ActivTrades: “a grande maioria das caso esta experiência seja bem-su- O lançamento
sim como noutras áreas que vão Para o Paulo Duarte, professor transações nas grandes cidades cedida, pode encorajar outras eco- da e-RMB é uma
receber os Jogos Olímpicos de in- convidado da Universidade do Mi- chinesas, já são feitas de forma vir- nomias a fazerem o mesmo”. resposta à guerra
verno de 2022. nho, que viveu durante vários me- tual, sobretudo nas plataformas Tanto o professor Austin
“Este é um ‘timing’ quase per- ses na China, este é “um passo na- Weibo e Wechat”, realça. Wang, como Paulo Duarte concor- comercial com
feito para executar os testes à tural e que vinha a ser preparado O banco central da China es- dam que este lançamento vai dar os Estados Unidos.
moeda e para perceber a sua capa- há muito tempo”. “Quando vivi na creveu, numa nota divulgada pelo mais controlo à China sobre a sua AUSTIN WANG
cidade e força, numa altura de China percebi que existem cidades China Diary, que a moeda dá uma população, dando-lhe capacidade Professor da
grande volatilidade nos merca- inteiras onde o dinheiro físico já “alternativa funcional ao sistema para registar cada compra que é Universidade de Nevada

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12 TERÇA-FEIRA 5 MAI 2020
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PRIMEIRA LINHA COVID-19

MIGUEL BASTOS ARAÚJO BIOGEÓGRAFO

“Portugal adiou o risco


e isso tem vantagens”
Ao ter travado os contágios de forma mais eficiente nesta primeira fase da
pandemia de covid-19, Portugal controlou os estragos, mas também arrisca estar
mais exposto numa segunda vaga. No entanto, adiar o risco tem vantagens.

dade populacional e da mobilida- Portugal conseguiu contro- o teste. É caro e é verdade que os
FILOMENA LANÇA de. O clima intervém como um dos lar a pandemia sem rutura testes não são 100% seguros e pro-
filomenalanca@negocios.pt fatores de moderação ou majora- do SNS. São merecidos os vavelmente a baixa eficácia é a ra-
ção da probabilidade de contágio, elogios que tem recebido? zão por que ainda não se fez. Mas
pois afeta a estabilidade do vírus Portugal adotou medidas de é claramente o caminho.
fora do organismo humano. Se as mitigação numa fase inicial da pro-

A
condições de temperatura, humi- pagação do vírus. Este facto com- Permitiria antecipar novos
partir dos dados esta- dade e radiação forem propícios, o porta uma boa notícia e uma má surtos?
tísticos sobre o novo vírus é estável durante mais tem- notícia. A boa notícia é que a curva Na fase em que estamos, a estra-
coronavírus a nível po. Se forem hostis, o vírus desin- de contágio foi mais achatada que tégia de desconfinamento beneficia
mundial, o especialis- tegra-se rapidamente, reduzindo- noutros países, nomeadamente na de informação sobre a quantidade
ta nos efeitos das alterações climá- -se a capacidade de contágio. vizinha Espanha. A má notícia é de pessoas com anticorpos. A cida-
ticas na biodiversidade e Prémio que ao termos controlado os con- de de Madrid já teria entre 15% e
Pessoa em 2018 recorreu a mode- E onde entram os hábitos tágios de forma mais eficaz, nesta 30%, de acordo com uma informa-
los de inteligência artificial para culturais ou os laços familia- primeira fase, estaremos mais ex- ção que recebi, um cenário feito
determinar os efeitos do clima na res, como os intergeracio- postos a uma segunda onda de con- com modelos e que não está confir-
propagação do vírus. A relação nais, que tornam os idosos tágio visto termos, previsivelmen- mado. A ser verdade, a próxima
existe, diz, e saber isso permite aos mais vulneráveis. te, uma proporção baixa da popu- onda já seria menor e a taxa de con-
Estados prepararem-se para no- Os aspetos culturais relacio- lação com anticorpos ao vírus. tágio mais baixa, o que permitiria
vas e inevitáveis vagas. nam-se com a direção da mobili- um confinamento menos abrupto.
dade. Em teoria, poderíamos con- Mas já mais bem preparados... Se a presença dos anticorpos esti-
Em março, e ainda com da- siderar a mobilidade como um fa- Adiar o risco de uma irrupção ver só nos 3%, 5%, não é suficiente
dos provisórios sobre o vírus, tor aleatório, mas na prática os as- abrupta da pandemia tem vanta- para atrasar a propagação e existe o
defendia uma clara relação petos culturais modulam a dire- gens. Estaremos mais bem prepa- risco de uma outra vaga que não
entre o clima e a propagação. ção da mobilidade e esta pode ser rados, do ponto vista logístico, para será muito diferente desta. 
Confirma-se que assim é? mais ou menos favorável à propa- fazer face aos desafios clínicos ; os
A relação estatística continua gação do vírus e ao estabeleci- tratamentos estão a ser afinados,
a existir mesmo depois de consi- mento de contactos com elevado reduzindo-se o risco de mortes evi-
derar outros efeitos importantes,
como a densidade populacional e
risco. É o caso de culturas que fa-
vorecem a mobilidade entre pes-
táveis; e vamo-nos aproximando do
período em que uma vacina estará “Em outubro,
voltamos a ter
os fluxos de tráfego aéreo entre a soas da mesma geração por opo- disponível. Ganhar tempo numa
China e os restantes países. O ví- sição a culturas que mantêm for- pandemia é bom, se pensarmos

condições favoráveis à
rus é estável e reproduz-se dentro tes relações entre gerações dife- numa ótica de saúde pública ainda
do organismo. Portanto, quanto rentes, nomeadamente entre os que do ponto de vista económico
mais contactos entre humanos mais novos e os idosos. Nestas úl- seja um desafio difícil de gerir.
existirem, maior a propagação. Os
contactos são em função da densi-
timas, o risco associado à mobili-
dade é maior. E estamos a fazer cada vez
mais testes.
propagação do vírus”
Sim, mas não estamos a fazer
um estudo epidemiológico como
deve ser. Precisávamos de uma No envelope climático em que
“Adiar o risco de uma amostra aleatória. Estamos a fa- Portugal se insere, dada a sua
em que Portugal se insere?
As últimas projeções datam
irrupção abrupta da zer testes para detetar a doença localização geográfica, o perío- de 21 de abril e qualitativamen-
em estado ativo, para saber se es- do de junho a setembro não é te o padrão mantém-se aos mo-
pandemia tem vantagens.” sas pessoas têm ou não de ser con- favorável para o vírus. No ou- delos realizados em meados de
finadas. Isso é muito útil, mas para tono, o risco regressa e, afirma março. A partir de maio, o en-
se ter uma noção sobre as pessoas Miguel Bastos Araújo, “deve- velope climático favorável ao
“Fazer testes de imunidade que têm anticorpos ao vírus tería- rá manter-se praticamente vírus retrocede na metade sul
mos de fazer uma amostra aleató- inalterado”. de Portugal e Espanha sendo
ao vírus é caro e não são ria, ou estratificada, até porque que entre junho e setembro o
100% seguros, mas é avaliar toda a população é impos- O que dizem os modelos so- país terá condições mais desfa-
sível. Seria como uma sondagem. bre os próximos meses voráveis ao vírus. Nos ambien-
claramente o caminho.” Vai-se à casa das pessoas e faz-se para o envelope climático tes exteriores, claro. Em outu-
TERÇA-FEIRA 5 MAI 2020 PRIMEIRA LINHA 13
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Sérgio Lemos

PERFIL
O especialista
português da
biodiversidade

Diretor do Museu de Museu Nacional


de Ciências Naturais de Madrid, pro-
fessor na Universidade de Évora,
cientista especializado no impacto
das alterações climáticas na biodi-
versidade, Prémio Pessoa em 2018.
Miguel Bastos Araújo, 51 anos, é bio-
geógrafo e uma das vozes portugue-
sas que, na sua área, mais se têm dis-
tinguido a nível internacional. Tem,
aliás, o mérito de ser um dos cientis-
tas com mais citações a nível mun-
dial e conta com mais de duas cente-
nas de trabalhos publicados. Nasceu
em Bruxelas, onde o pai era exilado
político, e regressou a Portugal de-
pois do 25 de Abril. Licenciou-se em
Geografia e Planeamento Regional
na Faculdade de Ciências Sociais e
Humanas da Universidade Nova de
Lisboa, estudou em Aberdeen, na Es-
cócia e depois em Londres, onde se
doutorou em Geografia. Em 2019 ob-
teve a Agregação em Biologia pela
Universidade de Évora e é também
membro do Conselho Nacional do
Ambiente e do Desenvolvimento Sus-
tentável, um órgão consultivo do Go-
verno português.

bro, voltamos a ter condições mais Poder pode. Basta que as medi- A questão da transmissibilida- possa ir e arranjar soluções adap- será muito mais problemáti-
favoráveis à propagação. das de mitigação não sejam tão efi- de do vírus entre crianças está tadas para os restantes. Determi- co?
cazes como foram agora. a ser estudada em particular? nar se as famílias têm ou não an- Sem dúvida. À fadiga psicoló-
Diria que é certa uma segunda Há toda uma linha de investi- ticorpos… são estudos caros, mas gica junta-se a outra, ainda mais
vaga? Será boa ideia ter as escolas fe- gação e tem havido até reações di- frente a um cenário de lockdown, grave, da perda de emprego e inse-
Não tenho uma bola de cristal chadas no verão e, no outono, ferentes entre países. A contribui- seriam mais baratos do que fechar gurança económica. Vai ser mais
mas tendo em conta que é impos- quando o clima frio e a humi- ção do encerramento das escolas um país. difícil impor restrições outra vez e
sível exterminar o vírus e que os dade regressam, as crianças para a redução do número de ca- não queria estar na pele de quem
níveis de imunidade de grupo, ou voltarem às aulas? sos, segundo um estudo para 20 Um segundo confinamento tiver de tomar essa decisão. 
resistência ao vírus (nós não so- A transmissibilidade do vírus países, Portugal incluído, era de
mos imunes ao vírus da gripe mas entre crianças ainda é objeto de de- 8%. Sabemos que o desenvolvi-
desenvolvemos um certo grau de bate. É possível que a questão este- mento de patologia nos infantes é
resistência), serão provavelmen- ja esclarecida até ao final do verão. menor, o que está em aberto é se a
te reduzidos em Portugal, o risco A confirmar-se que o nível de trans- transmissibilidade também é bai-
“Com imunidade de grupo
deverá manter-se praticamente missibilidade é baixo, talvez faça xa. É um debate muito importan- reduzida, o risco deverá
inalterado. É fundamental enten- sentido manter escolas abertas ain- te. Para famílias sem acesso a tec-
der que os comportamentos que da que o problema da convivência nologia, com poucos espaços, es- manter-se inalterado.”
iremos adotar, de certo modo tes- entre crianças e pessoas idosas pos- tas medidas de encerramento de
tar, nesta fase de desconfinamen- sa complicar a equação num país escolas, que se justificam pelos ris-
to serão válidos até se encontrar onde a convivência entre gerações cos enormes para a saúde publica, “Vai ser mais difícil impor
uma vacina ou desenvolvermos é elevada. No entanto, a verificar- criam outros problemas.
imunidade ou resistência ao vírus. -se a baixa transmissibilidade en- restrições outra vez e não
tre crianças talvez seja mais apro- Não indo por aí, que tipo de queria estar na pele de
Essa segunda vaga poderá ser priado pensar em soluções cirúrgi- soluções cirúrgicas haveria?
mais violenta do que esta? cas de proteção de grupos de risco. Reabrir escolas para quem quem tomar essa decisão.”
14 TERÇA-FEIRA 5 MAI 2020
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PRIMEIRA LINHA COVID-19

MIGUEL BASTOS ARAÚJO BIOGEÓGRAFO

“Piscinas no verão? Eu evitaria,


a menos que sejam familiares”
O verão, com as temperaturas mais altas, torna o ambiente inóspito para o vírus,
mas nem por isso as pessoas se devem esquecer das regras de proteção, avisa o
cientista Miguel Bastos Araújo. Férias sim, mas longe das grandes aglomerações.
Sérgio Lemos

FILOMENA LANÇA
filomenalanca@negocios.pt

C
om as temperaturas
acima dos 30º o novo
coronavírus terá me-
nos capacidade para
subsistir. Mas isso será sobretudo
no exterior e não se aplica a am-
bientes climatizados, avisa Miguel
Bastos Araújo.

Do ponto de vista do clima,


esta é a melhor altura para o
desconfinamento?
A partir do momento em que
as temperaturas ambientais al-
cançarem valores próximos ou su-
periores aos 30º, o vírus terá con-
dições substancialmente mais
inóspitas para a sua estabilidade
fora do organismo humano. Em
termos práticos isto quer dizer que
quando alguém tossir na rua, ex-
pulsando o vírus do organismo, o
tempo de atividade do mesmo
será substancialmente menor do
que no inverno e no princípio da residência e seguir à risca as reco- dente que é mais prudente optar suficiência, por exemplo, com co- Ciências Naturais, aqui em Ma-
primavera. Ou seja, reduz-se a car- mendações das autoridades. Em por férias em ambientes de baixa zinha própria, em pequenas uni- drid, já recomendei que as ativida-
ga viral no ambiente exterior, logo período de férias eu evitaria gran- densidade humana, como sejam o dades de alojamento que cum- des com crianças se façam sobre-
reduz-se a probabilidade de con- des concentrações humanas e fa- turismo rural e o ecoturismo. Em pram as normas de higiene e segu- tudo no jardim e que, de acordo
tágio. Isto não quer dizer que o ris- voreceria o uso de espaços exte- aglomerados urbanos, será prefe- rança, evitando, sempre que pos- com a possibilidade, se possa bai-
co de contágio desapareça. Ele riores a usos interiores. Tendo em rível optar por apartamentos tu- sível, o uso de espaços comuns xar ou reduzir a climatização. Ten-
mantém-se inalterado em espa- conta o que sabemos hoje, é evi- rísticos com certo nível de autos- onde circulem muitas pessoas. Es- do em conta os estudos que exis-
ços interiores climatizados e o ví- pecialmente durante o dia, os es- tem, é mais do que prudente.
rus continua ativo e com capaci- paços exteriores serão mais segu-
dade de se reproduzir dentro do ros que os interiores climatizados. Diria que há um risco eleva-
organismo humano, pelo que os “É mais prudente optar por do de contágio nas praias e
cuidados em termos de compor- Os ares condicionados serão ao ar livre em geral?
tamento social, uso de máscaras, férias em ambientes de baixa os grandes inimigos neste Existem estudos sobre a esta-
luvas e higiene se devem manter. verão? bilidade dos vírus em superfícies
densidade humana, como o Não sei se serão, mas pela par- lisas mas desconheço qualquer es-
Sobretudo em que circuns- turismo rural e o ecoturismo.” te que me toca, não tenciono ligar tudo que aborde a questão da es-
tâncias? No interior dos edi- o ar em casa nem frequentar espa- tabilidade do vírus em superfícies
fícios ou lá fora? ços climatizados. Se a alternativa porosas. No entanto, é de esperar
A chave será sempre manter “Pela parte que me toca, não for uma esplanada quente, prefi- que superfícies porosas sejam me-
distanciamento físico entre pes- ro isso a entrar num café com am- nos favoráveis ao vírus e que am-
soas que não residem na mesma tenciono ligar ar condicionado.” biente climatizado. No Museu de bientes expostos a elevadas tem-
TERÇA-FEIRA 5 MAI 2020 PRIMEIRA LINHA 15
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“Não são desgraças pontuais


que resolvem o problema do clima”
As melhorias para o ambiente Sérgio Lemos europeia para o futuro. E um ce-
obtidas com a paragem da econo- nário menos ilustrado, que é te-
mia não passam de uma trégua mos um problema económico e
passageira, mas há ganhos que vamos injetar dinheiro de qual-
vieram para ficar, acredita Mi- quer maneira, um cenário Trump,
guel Bastos Araújo. se quisermos batizá-lo. E se isso
peraturas e altos níveis de ra- for feito, está a tirar-se fôlego aos
diação sejam desfavoráveis ao A pandemia teve efeitos po- planos que existiam para a criação
vírus. Continuando sempre a sitivos no que toca às alte- de uma economia verde.
a observar com rigor as regras rações climáticas?
de distanciamento físico. A pandemia é um ponto no Portugal, onde o turismo é
tempo de uma longa série tempo- tão importante, terá de o in-
E existe algum estudo so- ral e o sistema climático tem uma cluir também na equação.
bre o comportamento do inércia muito elevada. O que faz O turismo é o grande perde-
vírus em piscinas, gran- falta são mudanças estruturais na dor. E aí penso que não é uma per-
de atração nas férias? forma como nos organizamos. da de contexto. É possível que a
Não conheço. Essa é uma Não são desgraças pontuais que perceção das pessoas mude em re-
das incógnitas. Não li nada, resolvem o problema. Dito isto, a lação ao que é o seu ideal de turis-
não encontrei nada que fale do pandemia tem acelerado o uso de mo. E ficando uma certa fobia ao
comportamento do vírus na tecnologias digitais que podem risco associado a grandes concen-
água. Sendo constituído por contribuir para reduzir a pegada trações humanas. Há desafios
lípidos [gordura], estará à su- ecológica de algumas atividades muito grandes para o turismo de
perfície. Mas a taxa de desin- humanas. Ainda é cedo para ex- esse uso não estava tão estendi- economia verde a nível europeu. massas. Por outro lado, abrem-se
tegração do vírus na água, isso trair conclusões definitivas mas é do. Claro que as conferências O chamado European Green oportunidades para o turismo de
não está estudado. A regra de- possível que a crise da covid-19 presenciais não vão acabar, até Deal. É possível que a perceção baixa densidade, em particular no
veria ser a de bom senso, eu traga consigo algumas oportuni- porque existe uma dimensão hu- pública sobre a urgência das re- interior do país. As pessoas quere-
evitaria. A menos que sejam dades para o futuro. Assim as sai- mana que importa preservar, mas formas de sustentabilidade am- rão viajar, fazer as suas pausas, e
piscinas de uso familiar. bamos identificar e aproveitar haverá aqui grandes mudanças. biental seja reforçada com esta procurarão outras paragens, mas
crise. Mas também é possível que procurarão fazê-lo em segurança.
Faria sentido deixar gru- A que se refere? Mais tele- A paragem da economia a ocorra exatamente o contrário e Há aqui uma oportunidade que
pos etários sujeitos a trabalho, por exemplo? nível mundial levou à redu- que a urgência de uma retoma pode ser agarrada pelo setor.
maiores restrições do Há muitas instituições que ção de um milhão de tone- económica leve os agentes eco-
que outros em nome da não contemplavam a possibilida- ladas de CO2 por dia. Isso nómicos a usar velhas receitas. É, portanto, um momento
sua proteção e sem aten- de de teletrabalho, reuniões vir- não é significativo na longa de repensar estratégias
tar contra a sua liberda- tuais, e que hoje o fazem como ro- linha do tempo? A urgência de recuperar a para o futuro…
de e dignidade? tina. Houve um processo de adap- Não. A natureza do fenóme- economia não poderá pôr Em cima da mesa está o atual
Eu diria que os valores da tação abrupta às tecnologias digi- no é temporária, mas este coinci- tudo isso em causa? modelo de globalização que, por
liberdade e da dignidade, que tais. Neste período já tive de par- de com um período em que já se Temos dois cenários possíveis. um lado, facilitou a expansão em
muito prezo, fazem sentido en- ticipar numa série de júris de ava- previam programas ambientais O cenário Angela Merkel, em que tempo real da epidemia e, por ou-
quanto estivermos vivos. É liação e, se antes teria de ter ido de ambiciosos. É o caso, a nível lo- não vamos parar com o New Deal, tro, expôs a fragilidade de abaste-
uma opinião pessoal, natural- avião, agora tudo se fez por Zoom. cal, da criação de uma zona de com o caminho para a economia cimento de bens essenciais dos di-
mente. Dito isto, numa demo- emissões reduzidas na Baixa- verde, em que a opção é que, se vai ferentes países num contexto de
cracia, é essencial que a respon- A questão está em saber se -Chiado, em Lisboa, ou do ambi- haver endividamento, se faça já crise. Não creio que a solução seja
sabilidade seja partilhada e que essas mudanças vão perdu- cioso plano de investimento na para reforçar a competitividade regressar à lógica da autossuficiên-
todos sejamos conscientes de rar no tempo. cia da primeira metade do século
que o comportamento da pan- Há ganhos de eficiência que XX, mas uma análise crítica do su-
demia também depende das são óbvios. Quando somos força- cedido será certamente feita. E
nossas escolhas individuais. O dos a adaptar-nos, é mais barato “A revolução tecnológica essa análise não será descontex-
Estado pode estabelecer regras mas conveniente, perde-se me- tualizada do debate sobre a sus-
e proporcionar orientações nos tempo. Para reuniões mais provocada pela covid-19 está tentabilidade de algumas opções.
mas a eficácia das mesmas de- simples, a norma será esta. Na
pende do grau de consciência Universidade de Évora, já se faz para ficar.” Quer dar um exemplo?
individual de todos nós. Quan- tudo online. “Ontem” faziam-se A taxa de carbono sobre im-
do digo “todos nós” estou a ser cerimoniais muito formais, de portações é uma forma de trazer
literal: basta um inconsciente capa e batina, agora até pode ser “O turismo é o grande perdedor, racionalidade a algumas decisões
infetado que atue como “super de pijama. A revolução tecnoló- mas há uma oportunidade que de deslocalização industrial e de
spreader” e altera-se a dinâmi- gica está para ficar. Acelerou em comercialização de produtos
ca de propagação do vírus.  alguns grupos profissionais onde pode ser agarrada pelo setor.” agrícolas. 
16 TERÇA-FEIRA 5 MAI 2020
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ECONOMIA

FINANCIAMENTO DO ESTADO

Metade das empresas que


pediram crédito ainda sem OK
Estudo da CIP mostra que entre o pedido e a chegada do dinheiro
passam em média 28 dias. Só 3% das empresas recebeu
financiamento através das linhas criadas para reagir à pandemia.

Foi inquirida uma amostra de José Sena Goulão/Lusa

3%
MARGARIDA PEIXOTO 1.582 empresas, de um universo
margaridapeixoto@negocios.pt total de 150 mil, entre os dias 28
e 30 de abril. Os resultados, in-
dica o estudo, têm uma margem
de erro de 2,5%, para um inter- FINANCIAMENTO

C
valo de confiança de 95%, e so- Do total de empresas
erca de metade das brerrepresentam ligeiramente as que diz ter submetido
empresas (51%) que grandes empresas, assumiu a um pedido de acesso às
entregaram pedidos equipa. linhas de crédito covid,
de financiamento ban- De acordo com as respostas
cário ao abrigo das linhas criadas recolhidas, um terço das empre- apenas 3% recebeu o
para reagir à pandemia de covid- sas em Portugal já pediu finan- dinheiro.
-19 continuava, no final de abril, ciamento bancário para fazer
à espera de uma resposta do ban- face às consequências da covid-
co – o primeiro passo para saber -19. Outras 24% ainda não sub-
se terá acesso aos apoios. Depois, meteu o pedido, mas pensa vir a
ainda terá de esperar pelo OK da fazê-lo. A questão é que entre o
sociedade de garantia mútua e, pedido, e a chegada do dinheiro,

3,4%
finalmente, pelo dinheiro. Os da- a espera é demasiado longa,
dos resultam de um inquérito queixam-se as empresas.
realizado pela CIP - Confedera- O estudo encomendado pela
ção Empresarial de Portugal, CIP indica que o processo demo-
apresentado ontem. ra em média 28 dias e que do to- RECUSA
António Saraiva, presidente tal de pedidos apresentados, 3,4% das empresas que
da CIP, apresentou ontem um mais de metade ainda não teve pediram acesso às
estudo desenvolvido em parce- resposta do banco. Em contra- linhas de crédito para
ria com o Marketing FutureCast partida, 45,6% receberam uma
Lab do ISCTE, para acompa- resposta positiva e 3,4% viram o
reagir à pandemia de
nhar o ponto de situação das em- pedido recusado. covid-19 viu o processo
presas neste momento de crise Mas não basta ter o aval do recusado pelo banco.
económica, provocada pela ne- banco: é preciso esperar depois
cessidade de impor medidas de pela luz verde da sociedade de
confinamento para travar o con- garantia mútua. Do total de pe- ideia é criar medidas para defen-
tágio de covid-19. didos, apenas 26,6% teve tam- der as empresas de compras
bém uma resposta positiva nes- oportunistas, num momento em
ta segunda fase – o resto está à que estão particularmente vul-


espera. Por fim, há que esperar neráveis e descapitalizadas, fri-
que o dinheiro chegue efetiva- sou o responsável da CIP.
mente às contas das empresas. Também o PSD tem vindo a
Só 3% indicam já terem recebi- António Saraiva, presidente da CIP, diz que é preciso mais dinheiro. insistir na necessidade de dar
do o financiamento. melhor resposta às empresas em
Os pedidos A culpa, apontou António Sa- do, António Saraiva garantiu que O presidente da CIP indicou tempo de pandemia. Depois de
extravasam o que raiva, é da “enorme burocracia” os pedidos apresentados pelas que a confederação está a traba- ter apresentado três medidas
está lançado. (...) e é preciso avançar com um empresas já ultrapassam de for- lhar numa proposta para dar com vista a aproveitar melhor as
É necessário que “simplex” para estas linhas de ma significativa as verbas dispo- mais liquidez às empresas, “e não ferramentas disponibilizadas
crédito, defendeu. nibilizadas. No conjunto de todas dívida”, sublinhou, que será uma pelo Banco Europeu de Investi-
o Governo reforce as linhas criadas, foram disponi- evolução do que já foi defendido mento (BEI), os sociais-demo-
ou lance outra linha. Pedidos ultrapassam bilizados 6,2 mil milhões de eu- no início de abril pelo patronato. cratas pediram ontem uma reu-
ANTÓNIO SARAIVA verba disponível ros, mas os pedidos atingem 9,3 O objetivo é apresentar a inicia- nião com os representantes da
Presidente da CIP Durante a apresentação do estu- mil milhões, assegurou Saraiva. tiva no final desta semana e a instituição. 
TERÇA-FEIRA 5 MAI 2020 ECONOMIA 17
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ECONOMIA

RADAR ÁFRICA
Rubrica semanal que se publica às terças-feiras

Angola, duas investigações


com destinos diferentes
Os Luanda Leaks conduziram ao ocaso de Isabel dos Santos, a braços com a CELSO FILIPE
Diretor adjunto
justiça em Angola e Portugal. Uma outra investigação sobre uma rede angolana, cfilipe@negocios.pt
que terá usado bancos para transferências ilícitas, caiu leve como uma pluma.
DR
BALANÇO E CONTAS
CELSO FILIPE
cfilipe@negocios.pt A “SORTE” DE ANGOLA
Alex Vines, diretor do Programa
Africano da Chatham House, consi-
dera que Angola, no difícil contexto

A
da pandemia de covid-19, “tem sor-
19 de janeiro de te” por não ter reembolsos de dívi-
2020, o Consórcio da este ano, embora tenha de entre-
Internacional de Jor- gar mais petróleo à China devido ao
nalismo de Investiga- preço baixo. “A maioria dos países
ção (ICIJ) revelou mais de 715 africanos, como Angola, têm sorte
mil ficheiros, que batizou como porque muitas das emissões sobe-
Luanda Leaks, nos quais se de- ranas de dívida são recentes e não
talham alegados esquemas fi- há reembolsos devidos em 2020,
nanceiros que terão permitido a com exceção da África do Sul”, afir-
Isabel dos Santos e ao marido, mou Alex Vines, em entrevista à
Sindika Dokolo, retirar dinheiro Lusa. Angola “estava a planear uma
dos cofres públicos de Angola emissão de dívida em eurobonds
através de paraísos fiscais. este ano, mas isso agora está adia-
Com a divulgação dos docu- do”, acrescentou Alex Vines.
mentos, Isabel dos Santos caiu
num poço sem fundo, perdendo VALE PÁRA EM
bens, participações e empresas MOÇAMBIQUE
e, não menos relevante, a sua re- A Vale, multinacional brasileira,
putação enquanto empresária. O general Leopoldino Fragoso do Nascimento é um dos visados na investigação da OCCRP. que extrai carvão em Moatize, na
Este processo de descida aos província do Tete, Moçambique,
infernos havia começado no últi- me Organizado e Corrupção a Manuel Vicente, antigo vice- Portugal e outros locais da União anunciou a paragem da produção
mo dia de 2019, quando o Tribu- (OCCRP), o qual também en- -presidente de Angola, e ao ge- Europeia” descreve a OCCRP, devido à falta de clientes e também
nal Provincial de Luanda decre- volve jornalistas, divulgado a 13 neral Leopoldino Fragoso do acrescentando que esta rede ao esgotamento da capacidade de
tou o arresto das suas contas ban- de abril deste ano. Neste caso, os Nascimento (Dino), como artí- continua a funcionar. armazenamento portuária da re-
cárias e participações em empre- investigadores apontam o dedo fices da criação de uma rede pri- Para atingir os seus propósi- ferida matéria-prima. A interrup-
sas, ao mesmo tempo que o Esta- vada que utilizava bancos desti- tos esta rede terá contado com o ção da atividade da Vale é um pro-
do angolano reclamava um cré- nada a transferir as suas riquezas envolvimento de sucursais por- blema adicional para o Estado mo-
dito superior a mil milhões de dó- para o espaço comunitário, avan- tuguesas de bancos angolanos, çambicano, na medida em que o
lares. As autoridades judiciais Factos relevantes çando que duas auditorias efe- entre os quais o BNI Europa e carvão é o principal produto de ex-
portuguesas, a pedido das suas  O Projeto de Investigação ao tuadas pelo Banco de Portugal de instituições com atividade em portação do país. Também por cau-
congéneres angolanas, também Crime Organizado e Corrup- em 2016, mantidas em sigilo, de- Cabo Verde. De acordo com os sa disso a moeda nacional, o meti-
congelaram os seus bens e parti- ção é apoiado, entre outros, tetaram a transferência irregular investigadores, os factos aponta- cal, desvalorizou-se.
cipações em Portugal e, pelo ca- pelo Consórcio Internacional de dinheiro, no mínimo 324 mi- dos fazem que se coloque “sérias
minho, Isabel dos Santos foi for- de Jornalismo de Investiga- lhões de dólares, de Angola para questões sobre a capacidade ou
çada a desfazer-se das suas posi-
ções no Eurobic e Efacec.
Se os Luanda Leaks e o tra-
balho do ICIJ fizeram estrondo
ção, a Open Society, criada
por George Soros, e organis-
mos de países como a Suécia,
a Dinamarca, os Estados Uni-
Portugal.
“Um grupo de funcionários
do Governo angolano e altos
quadros de bancos canalizaram
a vontade de Portugal e a União
Europeia de travarem este fluxo
financeiro ilícito”.
Uma e outra investigações ti-
337
AJUDA
e obrigaram Isabel dos Santos a dos e o Reino Unido. centenas de milhões de dólares veram impacto diferente. A pri- O FMI já emprestou
refugiar-se em destino incerto, o  O Banco de Portugal não para fora do país com pouca su- meira conduziu ao ocaso de Isa-
mesmo não se pode dizer de uma respondeu às questões colo- pervisão, criando a sua própria bel dos Santos. A segunda caiu 337 milhões de
outra investigação efetuada pelo cadas pelo OCCRP. rede bancária privada, através da leve como uma pluma, pelo me- dólares a Moçambique
Projeto de Investigação ao Cri- qual enviaram dinheiro para nos por agora.  no âmbito da covid-19.
18 TERÇA-FEIRA 5 MAI 2020
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EMPRESAS

BPI “maximiza
BANCA

prudência” e vê
lucros em 2020
Num contexto de incerteza, em que se espera uma queda acentuada
da procura de crédito à habitação e o aumento do malparado, o BPI
admite que poderá ter de reforçar ainda mais as imparidades.

mentaram para 34.380 milhões lidade em dois ou três meses”, es-


RAFAELA BURD RELVAS de euros, enquanto a carteira de pera Pablo Forero.
rafaelarelvas@negocios.pt crédito total cresceu para 24.523 Tudo isto ao mesmo tempo
milhões. Por outro lado, o banco que, até à data, o BPI concedeu
conseguiu reduziu o rácio de cré- 57,5 mil moratórias de crédito,

J
dito malparado para 2,3% e au- num valor total de 4,8 mil milhões
mentou o rácio de “common de euros. O prazo destas morató-
á são conhecidos os equity tier 1” para 13,7%. rias é, para já, de seis meses, mas
primeiros resultados Assim, o reforço das imparida- pode vir a ser alargado, uma pos- João Pedro Oliveira e Costa, à esquerda, vai substituir Pablo Forero no cargo de
da banca na era covid- des serve apenas para acautelar a sibilidade já admitida pela banca,
-19. O BPI deu o pon- crise que aí vem. “Esta não é a altu- que deixa a decisão para o Gover-
tapé de saída na pres- ra de maximizar os resultados, é a no. A acontecer, será mais um fa- NÚMEROS DA CRISE
tação de contas do primeiro tri- altura de maximizar a prudência”, tor a pesar sobre as contas.
mestre e o retrato foi o esperado: resumiu o presidente executivo. É neste contexto de incerteza
num período em que a economia que Pablo Forero admite que não Imparidades disparam e procura
nacional ainda teve um desempe- Procura de crédito derrapa sabe, para já, se as imparidades de de crédito derrapa em abril
nho positivo, o banco melhorou a Mas há impactos que já se fazem 32 milhões serão suficientes para
atividade comercial, mas o refor- sentir. Nas duas últimas semanas o conjunto do ano, pelo que não 32 MILHÕES EM LUCROS CAEM 87% NO
ço das imparidades afundou os lu- de março, a volatilidade dos mer- descarta a hipótese de vir a refor- IMPARIDADES PRIMEIRO TRIMESTRE
cros. Os próximos meses serão de cados financeiros obrigou o BPI a çá-las. “Nunca vamos colocar em Para fazer face a impactos futuros O BPI alcançou lucros de 6,3 mi-
incerteza e a constituição de mais registar perdas de 14 milhões, no risco a solidez do banco e as pou- resultantes da crise gerada pela lhões de euros no primeiro trimes-
imparidades não é posta de lado. conjunto do primeiro trimestre, panças dos clientes. Se precisar- pandemia do coronavírus, o BPI tre, uma quebra de 87% que é jus-
Mas o banco considera “muito im- com operações financeiras. mos de mais imparidades, refor- constituiu imparidades de crédito tificada com a constituição de im-
provável” ter prejuízos em 2020. Já nas três primeiras semanas çaremos as imparidades”, garan- de 32 milhões de euros no primei- paridades. Apesar deste resulta-
O BPI registou lucros de 6,3 de abril, o BPI observou uma que- tiu o responsável. ro trimestre. Este é um valor que do, o presidente executivo prevê
milhões de euros no primeiro tri- da de 40% na procura de crédito Mesmo assim, acredita, as me- poderá não ser suficiente para o que será “muito improvável” que
mestre, menos 87% do que em à habitação, que representa qua- didas que estão a ser tomadas hoje conjunto do ano e que poderá vir o banco venha a registar prejuízos
igual período de 2019. A justificar se metade da sua carteira de cré- serão suficientes para assegurar a ser reforçado, dependendo da no conjunto de 2020. A previsão
este movimento está a constitui- dito total. Pablo Forero considera que o BPI fecha o ano de 2020 evolução da crise e do agravamen- inicial apontava para lucros de cer-
ção de 32 milhões de euros em im- este um movimento “normal”, já com lucros. “Achamos muito im- to do crédito malparado. ca de 200 milhões este ano.
paridades de crédito, para fazer que as medidas de confinamento provável que o banco tenha per-
face à crise gerada pela pandemia.
Este, garantiu Pablo Forero,
presidente executivo do BPI, foi
um exercício de prudência, já que
o impacto do coronavírus ainda
impediram não só as visitas de po-
tenciais compradores, bem como
de avaliadores, o que impediu a
contratação de novo crédito.
Ao mesmo tempo, o presiden-
das em 2020. O nosso orçamento
apontava para lucros de 200 mi-
lhões este ano e é pouco provável
que venha a ter perdas”, frisou Pa-
blo Forero. Ainda assim, ressalvou,
32
PROVISÕES
-87%
LUCROS
não se refletiu no primeiro trimes- te executivo do BPI não antecipa “é muito cedo” e é necessário No primeiro trimestre O BPI reportou lucros
tre. De um lado, a atividade co- quando poderá assistir-se ao re- acompanhar a evolução da crise. deste ano, o BPI de 6,3 milhões de euros
mercial registou melhorias: as co- gresso de níveis de procura nor- “Mas sou otimista. A experiência constituiu imparidades no primeiro trimestre
missões líquidas aumentaram mais, já que este vai depender da diz-me que crises como esta, que
para 60,8 milhões e a margem fi- evolução do emprego e dos preços não têm origem em desequilíbrios
de crédito de 32 deste ano, valor que
nanceira subiu 109,9 milhões. Já do imobiliário. Ainda assim, a pro- prévios das economias, são muito milhões de euros para representa uma quebra
os recursos totais de clientes au- cura poderá “recuperar a norma- breves”, concluiu.  cobrir impactos futuros. homóloga de 87%.
TERÇA-FEIRA 5 MAI 2020 EMPRESAS 19
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António Pedro Santos/Lusa

Executivo com 30 anos


de casa substitui Forero.
Ulrich deverá ficar no BPI

Pablo Forero vai reformar-se vate banking” e negócios. É


no final do atual mandato à ainda administrador não exe-
frente do BPI e vai dar lugar a cutivo da companhia de segu-
João Pedro Oliveira e Costa, ros Allianz e da Sociedade
administrador executivo do Gestora BPI.
banco que já está há três déca- Deverá ser eleito presiden-
das na instituição. Agora, assu- te da comissão executiva do
me a liderança do BPI com BPI para o mandato de 2020
uma nova crise à porta, para a a 2022, para substituir Pablo
qual garante estar preparado. Forero, que, aos 64 anos, pre-
Questionado sobre aquilo tende reformar-se. Só depois
que irá trazer para o banco, du- da aprovação das autoridades
rante a conferência de apre- de supervisão poderá assumir
sentação de resultados do pri- a liderança do banco.
meiro trimestre, João Olivei-
ra e Costa destacou os anos de Ulrich deve manter-se
experiência. “O que transpor- Na administração do BPI está
to comigo são mais de 30 anos também Fernando Ulrich, que
de experiência e 30 anos só no assumiu a presidência execu-
BPI. Formei-me como pessoa tiva durante mais de uma dé-
e como profissional no BPI, cada antes de ser substituído
em cuja base de valores acre- por Pablo Forero. O atual
dito. Não tenho um perfil es- “chairman” do banco, que ocu-
presidente executivo do BPI. pecífico que seja diferente do pa essa posição desde 2017,
perfil do banco, mas estas deverá manter-se nesse cargo.
questões carecem de prova. O “Não há qualquer plano de
meu perfil vai carecer de pro- mudar o presidente do conse-
va”, afirmou o administrador. lho de administração. Conti-
Quanto aos desafios que aí nua a ser o Fernando Ulrich e
vêm, João Oliveira e Costa re- esperamos que continue assim
conhece que o momento é de por muito tempo”, esclareceu
incerteza, mas afasta cenários Pablo Forero.
PROCURA DE CRÉDITO MAIS DE 57 MIL 14 MILHÕES DE PERDAS drásticos. “Temos um grande Oficialmente, a nova admi-
RECUA 40% EM ABRIL MORATÓRIAS EM OPERAÇÕES desafio pela frente, esta é uma nistração só será conhecida
Nas primeiras três semanas de O BPI concedeu 57,5 mil moratórias No primeiro trimestre deste ano, o situação nova marcada por após a assembleia geral de
abril, a procura por crédito à habi- de crédito, que dizem respeito a BPI viu-se obrigado a registar per- uma grande incerteza. O que acionistas do BPI, que ainda
tação, que representa quase meta- empréstimos no valor total de 4,8 das de 14 milhões de euros em ope- me faz estar crente é o banco não tem data marcada.  RBR
de da carteira de crédito total do mil milhões de euros. Mais de 70% rações financeiras, devido à volati- que tenho e uma equipa que
BPI, caiu 40% em relação a março, das moratórias foram concedidas a lidade sentida nos mercados acio- conheço muitíssimo bem. Fiz
um movimento justificado pelas particulares, a maioria em crédito nistas nas duas últimas semanas de quase todas as funções na linha
medidas de confinamento. O BPI à habitação e uma outra parte si- março, que levaram as bolsas para hierárquica do banco e conhe-
não antecipa quando poderá haver gnificativa em crédito pessoal e au- mínimos históricos. O banco garan- ço todas as suas vicissitudes”,
um regresso à normalidade, mas es- tomóvel. O BPI admite que o prazo te não estar “preocupado” e adian- sublinhou.
pera que este possa acontecer den- destas moratórias, atualmente de ta que, em abril, já começou a recu- Licenciado em gestão de


tro de “dois ou três meses”. seis meses, pode vir a aumentar. perar estas perdas. empresas pela Universidade
Católica, atualmente com 54

-40% 57
CRÉDITO MORATÓRIAS
14
OPERAÇÕES
anos, João Oliveira e Costa co-
meçou a carreira no setor fi-
nanceiro, na área de gestão de
ativos do BCP, onde esteve
dois anos. Está no BPI desde
O que transporto
comigo são 30 anos
A procura por crédito O banco concedeu 57,5 O BPI registou perdas 1991, altura em que assumiu a de experiência. Mas
à habitação diminuiu mil moratórias de de 14 milhões com direção da área de “private o meu perfil vai
40% nas primeiras três crédito, que dizem operações financeiras banking”. É membro da co- carecer de prova.
missão executiva do BPI des-
semanas de abril, respeito a empréstimos no primeiro trimestre, de 2014, com a responsabili- JOÃO OLIVEIRA E COSTA
devido às medidas no valor total de 4,8 mil devido à volatilidade dade pelas áreas de negócio de Administrador executivo
de confinamento. milhões de euros. dos mercados. do BPI
particulares, “premier”, “pri-
20 TERÇA-FEIRA 5 MAI 2020
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NEGÓCIOS INICIATIVAS OS SEGUROS EM PORTUGAL

Os cenários
de incerteza
para a indústria
de seguros
É expectável um abrandamento económico significativo.
O impacto será mais intenso na venda de produtos de
poupança com maior risco financeiro e em ramos não vida
ligados à atividade económica.

e o ramo não vida, razão pela qual tos financeiros de dívida (pública
FILIPE S. FERNANDES estamos a considerar impactos e obrigações), e na avaliação das
distintos para os dois ramos com responsabilidades, cujo valor des-
base nas tendências e na mudan- contado é calculado com base nas
ça de paradigma dos mesmos (por taxas de juro de médio e longo pra-
exemplo, mudanças evidentes na zo”, refere João Lapa Pereira, con-

A
distribuição de seguros e nos ca- sultor da i2S.
nais mais procurados pelos clien- Adianta que, “no caso particu-
segunda década do tes, na procura por produtos com lar das seguradoras do ramo vida,
século XXI, que co- maior risco financeiro, etc.)”, diz há maiores dificuldades no cum-
meçou com uma Nelson Machado. primento das garantias contratuais
crise financeira e no que se refere aos produtos com
está a terminar com Poupança e risco taxa de juro mínima garantida”.
uma crise sanitária de profundos Da análise feita pela seguradora
impactos económicos e financei- Ageas infere-se que o impacto Efeitos no ramo vida José Gonçalves, da Prévoir-Vie, antecipa uma redução na procura de produtos
ros, tem sido marcada por um lon- será mais intenso na venda de pro- Na opinião de João Lapa Pereira,
go inverno das taxas de juro baixas dutos de poupança que tenham o efeito pandémico da covid-19 financeiros”. risco”, diz José Gonçalves.
na Europa e nos Estados Unidos. maior risco financeiro, por oposi- vem agravar ainda mais o cenário. Por sua vez, a interrupção da As consequências nos seguros
Mas é a conjugação entre as ta- ção a produtos com maiores ga- Em termos de indemnizações, as atividade económica, os eventuais ou garantias de puro risco estão
xas de juros baixas e os efeitos da rantias, tendo em conta o perfil seguradoras poderão não ser mui- encerramentos de empresa e a dependentes, segundo José Gon-
crise pandémica de covid-19 que dos clientes portugueses. Estes, to afetadas dado que o risco pan- quebra de atividades vão afetar so- çalves, “do choque, que ainda está
cria, como refere Nelson Macha- em geral, são bastante avessos ao démico, em muitos casos, está ex- bretudo as seguradoras não vida. por determinar, ao nível da mor-
do, CEO Vida e Pensões do Gru- risco e têm uma taxa de poupan- cluído, mas os investimentos, so- talidade e da morbilidade. Os res-
po Ageas Portugal, um “contexto ça muito baixa quando compara- bretudo do ramo vida, terão a sua Juros e seguros seguradores terão um papel im-
incerto e imprevisível, em que não dos com clientes de outros países rentabilidade bastante afetada Para José Gonçalves, diretor con- portante sobre esta matéria e que,
podemos afirmar com segurança europeus. com perdas significativas devido tabilístico-financeiro da Prévoir- de alguma forma, já se começa a
quais serão os impactos específi- “É expectável que venhamos à quebra acentuada nos mercados -Vie, o impacto da pandemia pela fazer sentir”.
cos, por isso temos de equacionar a ter um abrandamento económi- financeiros. covid-19 vai-se fazer sentir. “As ta- Por outro lado, os seguros de
várias possibilidades”. co significativo, com reflexo em to- João Lapa Pereira aponta ain- xas de juro dos países periféricos vida risco e os seguros de saúde
Estes cenários prospetivos dos os setores de atividade e natu- da que o impacto afeta principal- da Zona Euro estão a subir bastan- “poderão sofrer alterações como,
têm como determinantes a evolu- ralmente abrangendo o setor de mente as seguradoras de vida, na te. A curva de taxas de juro sem ris- por exemplo, excluir ou ter garan-
ção da pandemia e da situação epi- seguros. Assim sendo, no geral componente do investimento que co, como a da Alemanha, está pla- tias específicas para os riscos pan-
demiológica e a resposta que os di- perspetiva-se uma desaceleração visa dar cobertura aos produtos na ou até invertida, o que só acon- démicos. Ao nível dos ramos téc-
ferentes agentes económicos da- do crescimento da produção de com garantia de taxa. “Importa re- tece em cenários de crise.” nicos, as garantias de lucros ces-
rão neste contexto para tentar es- vida como um todo”, assinala Nel- ferir que, na prática, as perdas se- A quebra do PIB é prevista por santes poderão vir a ser repensa-
timar o impacto na economia son Machado. rão na íntegra absorvidas pelas se- diversos organismos, como o das no que à abrangência destes
como um todo e por consequên- “Este contexto de taxas de guradoras, sendo os clientes pe- FMI, que aponta para uma que- riscos diz respeito”.
cia no negócio dos seguros. juro baixas tem repercussões ime- nalizados apenas na parte da par- da de 8% do PIB em Portugal, “o Nos seguros de capitalização,
“Sabemos que as consequên- diatas sobre a rentabilidade do ticipação nos resultados que seria que terá impacto na redução da pode acentuar-se, ainda mais, a
cias económicas desta crise afeta- portefólio de investimentos, em expectável em condições normais procura de produtos de seguros, opção por se comercializarem se-
rão de forma diferente o ramo vida grande parte alocado a instrumen- de funcionamento dos mercados quer de capitalização quer de puro guros do tipo unit linked, defen-
TERÇA-FEIRA 5 MAI 2020 ESPECIAL 21
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DR

“O futuro imediato não será A vida difícil


das carteiras
fácil para o ramo vida” de
investimento
2020 não vai ser um ano fácil para o ramo vida. O desemprego
e a perda de rendimento vão gerar um acréscimo de resgates O setor segurador estava a adap-
de PPR, e dos seguros de capitalização e produtos financeiros. tar a sua oferta de produtos e a
procurar investimentos alternati-
vos cuja rendibilidade adicional
Em 2019 a produção do ramo As principais causas rentabilidade garantida, por pro- pudesse contribuir para colmatar
vida foi de quase 7 mil milhões de Para João Lapa Pereira, consul- dutos unit linked, transferindo, as taxas garantidas nos produtos
euros, tendo tido uma quebra de tor da i2S, esta quebra significa- desta forma, o risco de taxa juro que foram comercializados no
13,9%. Esta produção só está aci- tiva tem várias causas. Radica na para os seus clientes. passado, mas esta crise veio difi-
ma da registada em 2011 e 2016, baixa remuneração dos produ- “Todos estes aspetos levaram cultar o caminho.
longe dos 12,2 milhões de euros tos de poupança, que perdem a que, infelizmente, os produtos José Gonçalves, diretor conta-
em 2010. O grupo Ageas teve um atração quando comparados de capitalização das seguradoras bilístico-financeiro da Prévoir-Vie,
desempenho superior ao merca- com outros produtos financeiros de vida passassem a ser equipará- explica que a procura de investi-
do, pelo que, como diz Nelson e na quebra acentuada que se veis aos fundos de investimento mentos alternativos fazia-se atra-
Machado, CEO Vida e Pensões tem verificado na taxa de pou- perdendo, consequentemente, vés de ativos de rendimento variá-
do Grupo Ageas Portugal, “con- pança das famílias e das empre- uma das suas características prin- vel como ações ou fundos de inves-
seguiu mitigar as perdas sofridas sas, que tem prejudicado a subs- cipais, ou seja, de serem poupan- timento de rendimento variável.
em vida no conjunto do ano”. crição de novos negócios. ças seguras, destinadas ao aforro Os objetivos eram obter rendi-
O ramo vida vai viver tempos A que se acrescenta o facto de de médio e longo prazo, que é cada mentos adicionais através de ga-
difíceis em 2020 “É já percetível os PPR terem deixado de cum- vez mais reduzido em Portugal”, nhos de capital e dos dividendos,
que a atual situação vai gerar um prir com o objetivo social para afiança José Gonçalves. que tinham vindo a aumentar.
acréscimo de resgates, quer de que foram criados, devido aos su- Já Nelson Machado fala em Desde o início do ano que se re-
PPR, quer nos restantes seguros cessivos cortes fiscais de que tem crescer no ramo vida através de gistam desvalorizações bolsistas
de capitalização e produtos fi- sido alvo ao longo dos anos. Mes- uma oferta de produtos inovado- muito relevantes, nos EUA pelo
nanceiros. Os fatores são óbvios, mo assim no ramo vida, os PPR res e atrativos para os clientes. menos de 15% e nos mercados eu-
o aumento do desemprego e a aumentaram o peso, passando de “Vamos estar focados em diver- ropeus acima dos 20%. Segundo
quebra de rendimentos das famí- 42,9% para 44,8%, apesar de a sificar o portefólio de produtos José Gonçalves, “é previsível que
lias portuguesas subjacentes às sua produção ter baixado 10%. vida ao longo de 2020 de modo a se venham a registar perdas de ca-
medidas de confinamento levam Para José Gonçalves esta ir ao encontro das expectativas pital, mesmo que haja uma recupe-
a que as famílias recorram às quebra no ramo vida está ligada dos clientes e a desenhar produ- ração em V”. Nos dividendos tam-
suas poupanças para fazerem a estratégias adotadas, que pas- tos que enderecem as suas neces- bém é expectável uma forte que-
face a essas dificuldades”, afirma saram por substituir os seus pro- sidades, tendo também em con- bra, tanto pela forte queda dos lu-
José Gonçalves, diretor contabi- dutos de capitalização tradicio- ta o panorama atual e o contexto cros como das prováveis restrições
lístico-financeiro da Prévoir-Vie. nais, com capital e até taxas de que vivemos”, garante.  à distribuição de lucros, sobretudo
em bancos e seguradoras.
de seguros. A EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO DO RAMO VIDA No que concerne aos títulos de
Em milhões de euros dívida, também há a registar per-
de José Gonçalves. Admite das potenciais importantes. A dí-
que possam ser estabelecidos 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019
vida pública de países da periferia
mecanismos, como aliás já VIDA 12.172 7.536 6.922 9.245 10.439 8.670 6.677 7.089 8.123,0 6992 da Zona Euro e a dívida de corpo-
está a acontecer, que possibi- rate também desvalorizaram bas-
litem e facilitem os resgates ou Evolução (%) -38,1 -8,1 33,6 12,9 -16,9 -23 6,2 14,6 -13,9 tante (a taxa implícita da dívida
reembolsos subjacentes a pla- TOTAL 16.340 11.645 10.905 13.103 14.287 12.664 10.871 11.558 12.948,0 12201 pública portuguesa a 10 anos pas-
nos de pensões e de reforma sou de cerca 0,45%, para mais de
quando ocorrerem surtos Evolução (%) -28,7 -6,4 20,2 9 -11,4 -14,2 6,5 11,8 -5,8 1%, desde o final do ano até mea-
pandémicos.ai158644164225_AF-Rodape257x59mm.pdf
 1 09/04/2020 15:14 Fonte: ASF dos de abril). 

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22 TERÇA-FEIRA 5 MAI 2020
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MERCADOS

Armazéns são o novo


PETRÓLEO

ouro do petróleo
Com a capacidade de “stocks” a atingir os limites, o custo
de armazenamento tornou-se na mais recente dor de cabeça
das petrolíferas. Portugal tem quase 90% dos depósitos cheios.

“ “
anos marginalmente”, relembrou.
SARA RIBEIRO O gestor explicou ainda que,
sararibeiro@negocios.pt “do ponto de vista estrutural, e com
perfis de consumo e oferta normais
O custo do há excesso de capacidade de arma- A ironia destas

C
zenagem”. Mas pede para não se
armazenamento [...] coisas é que, até há
“confundirem as coisas: Uma coi-
om o mundo parado está a aumentar sa é querer ter armazenagem para poucas semanas,
nas últimas semanas fruto da muito maior garantir a não interrupção da logís- nos países da OCDE
devido à covid-19, hou- concorrência, e da tica, outra é querer armazenagem considerava-se
ve uma quebra acen- tendência para se para arbitrar preço”, ou seja, “guar- haver excesso
tuada na procura e no esgotar a capacidade dar hoje na expectativa de que o de capacidade
consumo de combustíveis, e isto preço suba amanhã”. O que está a
num momento em que a produção de armazenagem. acontecer no mercado é “manifes- de armazenamento.
aumentou. O que fez com que as JOÃO REIS tamente a segunda”, pelo que “a ca- PEDRO OLIVEIRA
petrolíferas não conseguissem es- Apetro deia logística não está minimamen- Presidente da BP Portugal
coar a matéria-prima, fazendo dis- te comprometida”, sustentou.
parar os custos de armazenamen- Também a Prio diz estar “ con-
to. Uma conjugação de fatores que fortável” com a gestão dos níveis no
levou o petróleo a negociar, pela terminal de Aveiro que atualmen-
primeira vez, em valores negativos. te estão “perto de cheios, o que per-
Em Portugal, a capacidade má- cura. Já o custo variabilizado por mite garantir a boa operação dos sas e ao aumento do desemprego”.
xima de armazenamento é de cer- unidade vendida, esse sim, sobe, em postos espalhados por todo o país.” Já Pedro Oliveira mostra-se
ca de 1,86 milhões de metros cúbi- proporção quase direta à quebra de mais otimista: “Se há um denomi-
cos (m3) de petróleo bruto (cru- volumes movimentados”, acres- Os futuros desafios nador comum na história do pe-
de) e de 1,96 milhões de m3 de ga- centou o responsável do grupo que, O Brent, negociado em Londres e tróleo, é a volatilidade do preço. E
solina e gasóleo rodoviários. E, não tendo poços nem refinarias, referência para as importações se há algo que este setor sabe fazer
como a Entidade Nacional para o considera-se mais observador da nacionais, segue a desvalorizar é gerir volatilidade, naturalmente
Setor Energético (ENSE) revelou atual situação do que ator. cerca de 60% no conjunto do ano, sem retirar nenhum grau de preo-
no final de abril, 90% dessa capa- Já João Reis, porta-voz da asso- estando em Nova Iorque o WTI a cupação ao que a indústria está a
cidade está preenchida. Razão pela ciação que representa as petrolífe- cair mais de 67%. E apesar de al- viver”. E está confiante que a pro-
qual a Galp suspendeu a atividade ras (Apetro), sublinha que “é públi- guns países começaram a abrir as cura e a oferta, a única solução
nas suas refinarias. co que o custo do armazenamento, economias, as estimativas da AIE para o problema de armazena-
O passo dado pela petrolífera principalmente o flutuante, cujos - Agência Internacional de Ener- mento, vão ser ajustadas.
portuguesa foi também o seguido contratos são feitos na hora, está a gia não são muito animadoras. Em Não é a primeira vez que há
por outras empresas em diversos aumentar fruto da muito maior pro- 2020 a procura de petróleo deve- um excedente de petróleo para ar-
mercados tendo em conta as que- cura e da tendência para se esgotar rá cair 9,3 milhões de barris por mazenar. Aliás, em 2016, os Esta-
bras superiores a 50% das vendas. a capacidade de armazenagem”. dia face a 2019. O que, a confir- dos Unidos chegaram a guardá-lo
Até porque, mesmo que continuas- Pedro Oliveira, presidente da mar-se, irá anular quase uma dé- em comboios, o que, até, levou o
sem a produzir, não teriam onde BP Portugal, também não revela cada de crescimento”, destacou o presidente mundial da BP, à altu-
guardar a matéria-prima. números mas admite que “o custo porta-voz da Apetro. ra, a sugerir ironicamente que se
Apesar de não avançarem com de armazenamento naturalmente Olhando para este cenário, armazenasse em piscinas. Apesar
valores concretos, as empresas fa- aumentou, uma vez que é a última João Reis não esconde que o setor de alguma semelhança, há, no en-
lam em fortes aumentos do custo válvula de escape a que os operado- está “muito preocupado, pois o seu tanto unanimidade dos interve-
de armazenagem. Como explicou res podem recorrer para não terem impacto é brutal e sem preceden- nientes ouvidos pelo Negócios de
ao Negócios Emanuel Proença, ad- que reconhecer perdas presentes”. tes, não só para a indústria petrolí- que esta crise “não tem preceden-
ministrador da Prio, “é uma ativi- Uma situação que se pauta pela “ fera, como para a economia, tanto tes”. Mas esperam que a econo-
dade de investimentos avultados e ironia” de, “até há poucas semanas, a nível nacional, como global, coi- mia volte à normalidade, “e que
custos fixos. O seu custo global não nos países da OCDE se considerar sa que não acontecia desde a Gran- pensemos em piscinas como local
varia de forma substancial, em ter- haver excesso de capacidade de ar- de Recessão na década de 30 do sé- de armazenamento de prazer e de
mos absolutos, por causa de um pe- mazenamento uma vez que a evo- culo passado, levando, inevitavel- alegria, e não de produtos, sejam
ríodo transitório de baixa de pro- lução da procura estava a cair há mente ao encerramento de empre- eles quais forem”.  Portugal tem capacidade de armazena
TERÇA-FEIRA 5 MAI 2020 MERCADOS 23
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João Miguel Rodrigues

PERGUNTAS A
PEDRO OLIVEIRA
Presidente da BP Portugal

“A tirania da realidade
vai encarregar-se de
ajustar procura e oferta”


O líder da BP Portugal subli-
nha que as petrolíferas estão
a viver uma situação “sem
precedentes”. Mas não tem
dúvidas que haverá um ajus- O Mundo vai
te estrutural entre a procura continuar a existir,
e a oferta do petróleo.
nós vamos
Pela primeira vez na histó- continuar a existir
ria, o petróleo esteve a ne- e a precisar
gociar em valores negati- de energia (seja
vos em Nova Iorque. Qual de que fonte for).
está a ser o impacto? A procura vai ter
A BP está atenta à situação,
com base em compras feitas
que recuperar.
há meses pelo mercado, assu-
mindo determinados níveis de
procura. Uma vez que a procu-
ra se está a revelar cerca de
25% abaixo do esperado é na-

PEDRO OLIVEIRA
Presidente da BP Portugal

tural que ocorram choques.

Até quando esta situação


será sustentável para as
petrolíferas? Como é que
se pode resolver o exces-
so da matéria-prima e,
consequentemente, a fal- o CEO da BP à data chegou
ta de armazenamento? a sugerir, em tom de brin-
Só com um ajuste estrutu- cadeira, que se guardasse
ral entre a procura e a oferta, petróleo em piscinas. O
o que inevitavelmente irá que se aprendeu na altura
ocorrer, como sempre ocor- que esteja a ajudar a miti-
reu nestas situações no pas- gar a atual situação?
sado. Quando não há espaço Hoje temos uma situação
para armazenar mais e, uma com um nível de intensidade
vez que o petróleo tem regras sem precedentes. Em 2016 es-
rígidas e claras para ser arma- távamos perante um alegado
zenado, a “tirania da realida- excesso de oferta, hoje esta-
de” encarrega-se de colocar a mos perante excesso de ofer-
produção ao nível da procura ta (algo mitigado pelo recente
em cada momento, uma vez acordo) e uma quebra sem
esgotados todos as opções precedentes da procura. O
mitigadoras de perdas por Mundo vai continuar a existir,
parte dos operadores. nós vamos continuar a existir
e a precisar de energia (seja de
Em 2016 as petrolíferas que fonte for), a procura vai ter
também tiveram proble- que recuperar, os equilíbrios
mento de 1,86 milhões de m3 de petróleo bruto e de 1,96 milhões de m3 de gasolinas e gasóleos rodoviários. mas no armazenamento. E vão inevitavelmente voltar. 
24 TERÇA-FEIRA 5 MAI 2020
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MERCADOS

IRS

Declare os
rendimentos
prediais
Se é proprietário e ainda não fez ARRENDAMENTO TRADICIONAL
as contas aos ganhos que obteve
em 2019, veja como preencher a ENGLOBAR OU NÃO ENGLOBAR
declaração. O prazo para entregar Os rendimentos prediais respeitantes a imóveis arren- O imóvel deve ser declarado no quadro 4.1. Se estiver
o IRS termina a 30 de junho. dados ou sublocados devem ser declarados no anexo F. situado numa área de reabilitação urbana ou tiver sido

O
Se forem obtidos por um dependente que integra o seu recuperado no âmbito de estratégias oficiais de rea-
agregado familiar, mas optar por entregar o IRS em se- bilitação urbana, identifique-o também no quadro 6A.
ano passado foi ção das regras e dos programas parado da sua esposa, declare apenas metade do ren- Quanto aos imóveis reconhecidos pelo respetivo mu-
fértil em novi- criados, em especial os que dimento. O mesmo acontece se for divorciado, tiver a nicípio como estabelecimentos de interesse histórico
dades. O Go- promovem o arrendamento de guarda conjunta e o filho viver em residência alterna- e cultural, devem ser indicados no quadro 6B. Por úl-
verno aprovou longa duração. Quanto às zo- da. Situação diferente é se viver com o seu filho e tiver timo, o quadro 6C destina-se a imóveis rústicos arren-
um conjunto de nas de contenção de alojamen- casado de novo ou viver em união de facto com outra dados a entidades ou unidades de gestão florestal.
medidas destinadas a incenti- to local, talvez deixem, em bre- pessoa. Ao entregar o IRS em separado, só pode decla- Os rendimentos prediais provenientes de arrendamen-
var o mercado de arrenda- ve, de fazer sentido. rar 25% do rendimento predial. O seu cônjuge ou par- to tradicional são tributados autonomamente a uma
mento. Face à situação atual, o ceiro declara os outros 25%, sendo os restantes 50% taxa de 28 por cento. Contudo, pode optar, no quadro
Agora que o cenário ma- Parlamento aprovou a sus- declarados pelo pai ou mãe que não tem o mesmo do- 6F, pelo englobamento. Este permite agregar todos os
croeconómico se alterou, e pe- pensão das rendas até um mês micílio fiscal do filho. No arrendamento tradicional, ape- rendimentos de modo a a serem taxados de acordo
rante a incerteza, aguardamos após o fim do Estado de nas são taxados os rendimentos líquidos. Ou seja, ao va- com a tabela de escalões em vigor. Para um pequeno
com expectativa a manuten- Emergência, para quem tiver lor das rendas deve descontar os custos com a repara- investidor, só vale a pena se a taxa aplicada à sua ma-
perdido rendimentos, bem ção e conservação do imóvel (por exemplo, pinturas, téria coletável não for superior a 28 por cento. Há, no
como a suspensão da caduci- aquecimento ou climatização central), as despesas de entanto, uma situação em que o englobamento pode
dade dos contratos até 30 de condomínio e manutenção (quotas, gastos com portei- ser útil e faz sentido equacionar: se tiver prejuízos de
junho. Ou seja, os contratos de ros, limpezas, etc.), o IMI, as taxas autárquicas (como anos anteriores, a lei permite reportá-los nos cinco
O programa de arrendamento habitacionais saneamento e esgotos) e seguro de incêndio ou multir- anos seguintes. É uma questão de fazer contas.
e não-habitacionais, ou as res- riscos. Se tiver encargos com mediação mobiliária, tam-
arrendamento petivas renovações, não termi- bém pode apresentá-las no quadro 4.1 do anexo F.
Aceda ao guia fiscal
nam, salvo se o arrendatário
acessível isenta não se opuser à cessação.
Vamos a um exemplo: obteve no ano passado 10 mil eu-
ros de rendimentos prediais e suportou 3 mil euros de em www.deco.proteste.pt/
os senhorios de Para mais informações despesas (devidamente documentadas). O IRS a pagar
impostos
consulte www. deco.protes- será de 1960 euros (7000 × 28%).
IRS e de IRC. te.pt/investe/imobiliario. 
TERÇA-FEIRA 5 MAI 2020 MERCADOS 25
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Colaboração com a DECO. Os conteúdos foram cedidos pela DECO PROTESTE. www.deco.proteste.pt www.deco.proteste.pt/investe

ARRENDAMENTO (TRADICIONAL) DE LONGA DURAÇÃO COMENTÁRIO

QUANTO MAIOR O PRAZO, MENOR A TAXA

Uma janela de
Os contratos de arrendamento tradicional para habitação permanen- DURAÇÃO INICIAL DO CONTRATO TAXA DE IRS (%)
te celebrados ou renovados desde janeiro de 2019, com duração igual
oportunidade?
Menos de 2 anos 28
ou superior a dois anos, são uma das grandes novidades. Segundo a
2 a 5 anos 26
lei que entrou em vigor em janeiro de 2019 e a portaria de 12 de abril
5 a 10 anos 23
do mesmo ano, os senhorios podem beneficiar de uma redução da taxa
10 a 20 anos 14
de imposto.
Mais de 20 anos 10
Para tal, precisam de cumprir um conjunto de requisitos, nomeada- Tentar mensurar as varia-
mente comunicar às Finanças o contrato de arrendamento e as alte- ções de preços das rendas
rações, caso as haja, entregando a declaração modelo 2, e pagar o im- 30 anos, a taxa é de 10 por cento. As dúvidas geradas em torno destas nos dias que correm é um
posto do selo, que corresponde a 10% da renda mensal acordada. No regras obrigou a Autoridade Tributária a publicar, em fevereiro deste pouco extemporâneo. A si-
caso de não haver um contrato escrito, pode fazer prova da existên- ano, um ofício. Da leitura resulta, claramente, que, independentemente tuação atual é, para já, in-
cia da relação jurídica de arrendamento através de outros documen- da duração inicial do contrato, as suas renovações são consideradas iso- controlável e não se conse-
tos (como recibos das rendas). Até 15 de fevereiro do ano seguinte, o ladamente. Simplificando: o que importa é o período de duração da re- gue prever o seu desfecho.
proprietário tem ainda de informar, através do Portal das Finanças, as novação e o respetivo escalão em que a mesma se enquadra. Ainda assim, perante a re-
renovações do contrato e a respetiva duração, assim como a data de ces- Por exemplo, um contrato de 5 anos e 1 dia terá uma tributação de 23 cessão económica que se
sação e a razão que motivou o seu fim. por cento. No entanto, se renovar de 2 em 2 anos, enquadra-se no se- adivinha, é certo que os pre-
Como referimos, a nova lei estabelece níveis de fiscalidade diferen- gundo escalão (26%), o que significa que o proprietário pagará, ao fim ços deverão baixar. Faz sen-
ciados consoante o prazo dos contratos (veja quadro ao lado). Por de quatro renovações, 18% (2% menos por cada renovação). E assim tido falar em oportunida-
exemplo, para os de duração igual ou superior a 2 anos e inferior a 5, sucessivamente até ao limite de 14 por cento. Razão pela qual reco- des? Sim. É uma oportuni-
é aplicada uma redução de 2 pontos percentuais sobre a taxa de 28 mendamos que opte pelo período mínimo de cada intervalo. Para os dade para os proprietários
por cento. Por cada renovação de igual período, o imposto desce 2 por contratos anteriores à entrada em vigor da lei, o raciocínio é o mesmo serem mais pragmáticos na
cento. Ou seja, a partir de seis renovações (o equivalente a 14 anos, e o regime aplica-se às renovações iniciadas em janeiro de 2019. definição dos valores prati-
no mínimo), o senhorio paga 14% sobre os rendimentos prediais. Ape- Por exemplo, num contrato de arrendamento de 2010, celebrado por 10 cados no arrendamento.
nas nos contratos com duração superior a 20 anos, até um limite de anos e renovável por 5 anos, os rendimentos respeitantes ao período de Estabelecer um preço de
renovação (entre 2020 e 2025) serão tributados à taxa de 23 por cento. renda só porque instalou
É essencial preencher É no quadro 4.2 do anexo F que terá de registar estes contratos. O equipamentos topo de gama
ou porque o vizinho também
corretamente o quadro 4.2, preenchimento é semelhante ao do quadro 4.1 Não se esqueça de com-
plementar o quadro 4.2.A com a data do início, as renovações e o ter- pede esse valor não devem
do anexo F, para ter direito mo do contrato. A coluna “comunicação” destina-se a indicar se rea-
lizou, até 15 de fevereiro, a comunicação prevista no Portal das Finan-
ser argumentos para um in-
vestidor.
à redução da taxa de imposto. ças relativamente aos contratos em vigor no ano anterior. É também uma oportu-
nidade para os inquilinos fa-
zerem bem as contas e per-
ceberem o que conseguem
PROGRAMA DE ARRENDAMENTO ALOJAMENTO LOCAL pagar com o seu orçamento.
Para os mediadores imo-
ACESSÍVEL
DUAS OPÇÕES biliários, esta é uma oportu-
nidade de ajudarem os pro-
ISENÇÃO DE IRS E IRC DE TRIBUTAÇÃO prietários a definirem os
preços de rendas de forma
Esta modalidade pode ser interessante do ponto de vista financei- Os rendimentos provenientes do alojamento local de uma moradia correta. Existem várias for-
ro, na medida em que isenta os senhorios de IRS e de IRC. No en- ou apartamento são enquadrados na categoria B, mas há duas for- mas de encontrar esse valor.
tanto, para serem elegíveis, a renda cobrada deve ser, pelo menos, mas de os declarar. Uma é optar pelas regras desta categoria (qua- Se for apenas com base
20% inferior ao valor de referência definido para o imóvel. Para dro 4A do anexo B), em que o rendimento sujeito a imposto, para na comparação do mercado,
usufruírem dos benefícios fiscais, os proprietários que aderiram quem não obtém mais de 200 mil euros por ano (regime simplifi- o céu é o limite. Ora, o ren-
ao programa, em vigor desde julho, têm ainda de submeter o con- cado), é de 35% (passa a 50% nas zonas de contenção). As Finan- dimento disponível, quer
trato de arrendamento na plataforma online do Portal da Habita- ças assumem, automaticamente, que os restantes 65% são encar- seja de portugueses ou de es-
ção acompanhado dos seguintes documentos: certificados e ficha gos necessários à atividade. Ainda assim tem de justificar 15% das trangeiros, não tem o céu
de alojamento assinados por ambas as partes; comprovativos da despesas para o imposto não ser agravado. Acima de 200 mil eu- como limite.
contratação dos seguros obrigatórios; e comprovativo do registo ros, é obrigado a ter contabilidade organizada e a tributação obe- Por último, o Governo
do contrato no Portal das Finanças. dece às regras de IRC. Pode compensar se os custos da atividade tem oportunidade para pen-
É no anexo F, quadro 4.1, que deve declarar o imóvel que gerou ren- forem 65% superiores ao rendimento, dado ser possível deduzir sar em soluções de proteção
dimentos em 2019. O número do contrato deve ser indicado no qua- todos os encargos. A alternativa é optar pelas regras da categoria dos senhorios e inquilinos.
dro 6D. Só assim beneficia da isenção total de IRS. Por norma, não F, cuja taxa de imposto é de 28% (assinale o campo 1 do quadro 15). Não de um apoio social à ca-
aconselhamos o englobamento. Aqui, o rendimento coletável resulta da diferença entre os ganhos beça, esses já existem, mas
e as despesas, por exemplo, com condomínio, obras e IMI. De fora, para quem cumpre as regras.
Para usufruírem dos benefícios ficam encargos com empréstimos bancários, mobiliário, etc. Se tem
rendimentos de outras categorias, por exemplo, de trabalho de-
Se tudo isto mudar, te-
mos a oportunidade para al-
fiscais, os senhorios que aderiram pendente, pode compensar englobar os rendimentos prediais, ou terar o paradigma de uma
seja, juntá-los num único bolo, se a taxa de imposto for inferior a ideia errada de que o arren-
a este programa têm de submeter 28 por cento. Note que, ao retirar o seu imóvel do alojamento local, damento é para quem não
o contrato de arrendamento pode estar a gerar mais-valias que serão tributadas nas categorias tem dinheiro suficiente para
B e G. Isso só não acontece se passar o imóvel para o arrendamen- comprar casa.
no Portal da Habitação. to tradicional durante cinco anos consecutivos.
26 TERÇA-FEIRA 5 MAI 2020
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AÇÕES NACIONAIS MERCADOS INTERNACIONAIS

PSI-20 EURO STOXX 50 ÍNDICES BOLSISTAS FUNDOS

Empresa Data cot. Última cot. Var.% Valor neg. Var.% a 12M Empresa Últ Cot. Var.% Var.%12M Últ Cot. Var.% Var.%12M

Altri 5/4/2020 4,784 -0,75 2.681.593,00 -31,26 Adidas 193,85 -7,34 -22,40 PSI-20 4.186,69 -2,28 -22,33
Air Liquide Sa 112,9 -2,76 4,76
BCP 5/4/2020 0,098 -4,41 5.867.435,00 -61,97 Airbus 55 -4,98 -54,00 Stoxx600 328,44 -2,65 -15,86
Corticeira Amorim 5/4/2020 9,430 -1,98 436.874,20 -11,36 Allianz 162,76 -3,62 -24,32
Ibex-35 6.673,30 -3,60 -30,27
Amadeus IT 41,9 -4,60 -38,04
CTT 5/4/2020 2,085 -3,02 1.170.076,00 -17,98 AB InBev 38,465 -8,15 -51,21 DAX 10.466,80 -3,64 -15,21
EDP 5/4/2020 3,790 -1,56 53.352.510,00 13,88 ASML 257,8 -4,75 39,05 Fundo Últ. valor Moeda
EDP Renováveis 5/4/2020 11,080 -1,07 13.395.280,00 26,05 AXA 15,418 -4,80 -33,17 FTSE 5.753,78 -0,16 -22,04
BBVA 2,8 -6,26 -47,53 Ethna-AKTIV A 127,66 EUR
Galp Energia 5/4/2020 10,030 -4,61 32.327.180,00 -32,91 Banco Santander 1,9594 -3,83 -55,55 CAC 4.378,23 -4,24 -21,63
Ethna-AKTIV T 134,14 EUR
Ibersol 5/4/2020 3,950 -1,50 160.308,30 -50,50 BASF 45,43 -2,69 -37,66
Bayer 57,95 -3,64 -6,34 FTSE/MIB 17.035,61 -3,70 -22,15
Ethna-DEFENSIV R-A 87,88 EUR
Jerónimo Martins 5/4/2020 15,295 -0,78 18.458.010,00 4,94 BMW 51,57 -4,59 -31,85 Dow Jones 23.561,69 -0,68 -11,10
Mota-Engil 5/4/2020 1,092 -5,04 1.885.561,00 -52,77 BNP Paribas 27,11 -5,46 -43,82 Ethna-DEFENSIV R-T 99,48 EUR
CRH 26,88 -2,43 -11,96 Nasdaq Composite 8.647,46 0,49 5,92
Navigator 5/4/2020 2,324 -2,11 2.610.082,00 -36,97 Ethna-DYNAMISCH R-A 100,86 EUR
Daimler Ag 29,64 -6,01 -49,37
Nos 5/4/2020 3,366 -1,12 4.689.964,00 -43,48 Danone 61,5 -2,78 -15,13 S&P500 2.821,39 -0,33 -4,22
Ethna-DYNAMISCH R-T 99,5 EUR
Pharol 5/4/2020 0,068 -2,43 327.001,70 -57,74 Deutsche Boerse 139,55 -1,55 17,42
Deutsche Post-Rg 25,92 -4,53 -16,01 Nikkei 225 19.619,35 -2,84 -11,86
Novabase 5/4/2020 2,670 -1,11 29.444,98 12,69 Deutsche Telekom 12,885 -3,30 -13,63
CSI 300 3.912,58 1,18 -0,02
REN 5/4/2020 2,420 -2,22 2.182.016,00 -4,35 Enel 6,007 -3,67 7,36 MATÉRIAS-PRIMAS
Engie 9,444 -4,64 -26,69
Semapa 5/4/2020 8,770 -2,56 710.646,40 -39,43 ENI 8,211 -5,77 -45,58
Nota: Os índices norte-americanos
são retirados às 18 horas de Lisboa
Sonae Capital 5/4/2020 0,480 -2,24 53.327,02 -47,25 Essilor 107 -5,02 0,47 Últ Cot. Var.% Var.%12M
Sonae SGPS 5/4/2020 0,698 -2,51 1.990.942,00 -29,49 Fresenius 38,04 -4,01 -26,04 Brent Crude 26,72 1,06 -62,29
Iberdrola 8,946 -2,12 12,16
Inditex 21,75 -6,45 -16,62 WTI Crude 19,97 0,96 -67,76
ING Groep 4,72 -5,75 -58,01 IBEX 35
Intesa Sanpaolo 1,376 -3,30 -40,74 Ouro 1712,7 0,69 33,67
MELHORES DESEMPENHOS PIORES DESEMPENHOS Kering 450,95 -2,01 -14,27 Empresa Últ Cot. Var.% Var.%12M
Ahold 22,46 1,35 5,22 Prata 14,81 -0,36 -0,65
Philips 39,115 -1,51 3,59
Variação Variação Inditex 21,75 -6,45 -16,62 Paladium 1831,1 -3,00 34,84
L’Oreal 250,2 -5,69 3,69
Altri -0,75 Mota-Engil -5,04 Linde 164,9 -2,14 2,77 Cobre 5090,5 -1,54 -18,20
LVMH 338,55 -3,94 -4,65 Banco Santander 1,9594 -3,83 -55,55
Jerónimo Martins -0,78 Galp Energia -4,61 Munich Re 193,9 -3,44 -8,80 Alumínio 1457,61 -0,62 -18,61
EDP Renováveis -1,07 BCP -4,41 Nokia 3,2405 -2,51 -29,28 Iberdrola 8,946 -2,12 12,16
Orange 10,775 -3,23 -22,65 Trigo 521,75 0,05 21,90
Novabase -1,11 CTT -3,02
Safran 78 -7,39 -38,56 Bbva 2,8 -6,26 -47,53
Nos -1,12 Semapa -2,56 Sanofi 88,42 -0,86 13,91
Açucar 10,37 -5,47 -13,66
SAP 106,88 -1,89 -5,97 Café 103,4 -1,01 15,85
Amadeus 41,9 -4,60 -38,04
Schneider 80,54 -3,50 8,11
Altri paga dividendo Mota ao som da queda Siemens 80,8 -4,58 -23,60 Milho 308,25 -1,04 -15,08
A Altri foi a cotada do PSI- A Mota-Engil foi a cotada Soc. Generale 13,15 -7,78 -54,18 Telefonica 4,299 2,85 -41,05
-20 que teve a menor queda que mais caiu daquelas Telefonica 4,299 2,85 -41,05 Soja 834 -1,56 0,54
na sessão de ontem. No dia que compõem o PSI-20. A Total 30,49 -7,18 -37,99 Aena 109,5 -5,19 -33,74
Unilever 44,36 -2,68 -17,24 Cotações em dólares dos contratos futuros de referência
em que anunciou que paga construtora oscila ao som Vinci 70,28 -5,92 -20,48 Endesa 19,55 -3,46 -12,29
dividendo de 30 cêntimos a do PSI-20, que ontem teve Vivendi 19,49 -1,09 -23,75 MERCADO CAMBIAL
partir de 15 de maio. dia de queda. Volkswagen 121,04 -5,60 -24,48
Repsol 7,666 -7,79 -48,06
Últ Cot. Var. PB Var.12M
Naturgy Energy 15,51 -3,72 -39,41
Euro / Dólar EUA 1,0898 -0,76 -2,69
RESUMO DA SESSÃO MAIS NEGOCIADAS MELHORES DESEMPENHOS
Ferrovial 21,92 -3,86 0,64 Libra / Dólar EUA 1,2433 -0,58 -5,07
PSI-20 Valor transacionado Variação %
Grifols 30,13 -2,99 22,78 Dólar / Iene Japão 106,83 0,07 3,68
Cotação de fecho 4.186,69 EDP 53.352.510 Telefonica 2,85
Máximo diário 4.218,56 Galp Energia 32.327.180 Ahold 1,35 Caixabank 1,595 -2,80 -44,58 Dólar / Yuan China 7,1316 0,05 -5,02
Mínimo diário 4.149,86 Jerónimo Martins 18.458.010 Sanofi -0,86
Cellnex Telecom 47,68 -0,25 95,70 Euro / Libra 0,87655 0,17 -2,45
Acções negociadas 165,10 EDP Renováveis 13.395.280 Vivendi -1,09
Valor negociado 105,79 BCP 5.867.435 Philips -1,51 Arcelormittal 9,518 -4,97 -49,44 Euro / Iene Japão 116,43 0,77 6,56

Euro / Real Brasil 6,0703 -1,04 -26,79


Vem aí fusão? Intl Cons Airlin 2,346 -8,00 -59,20
-2,28% A operadora espanhola Te-
lefónica foi a que mais su- Acs 22,33 -1,93 -44,34
Euro / Franco Suíço 1,05264 0,28 8,28

PSI-20 em queda biu, depois de ter sido no- Euro / Zloty Polónia 4,5588 0,13 -6,04
ticiada a hipótese de jun- Siemens Gamesa 13,245 -2,39 -15,88
Com as bolsas europeias no vermelho pela terceira
ção da operação no Reino Euro / Yuan China 7,7718 0,84 -2,38
sessão, a bolsa nacional acompanhou a tendência e
Red Electrica 15,635 -2,62 -14,75
recuou 2,28% para o segundo dia seguido em queda. Unido com a Liberty. Euro / Kwanza Angola603,6208 1,25 -39,68
Mapfre 1,625 -2,75 -39,30
OUTRAS EMPRESAS DO PSI GERAL PIORES DESEMPENHOS
Enagas 20,01 -6,01 -20,18
Empresa Data cot. Última cot. Var.% Valor neg. Var.% a 12M Variação % DÍVIDA SOBERANA
Merlin Propertie 7,76 -8,27 -36,39
Cofina 5/4/2020 0,295 6,12 83725,66 -44,60 Unibail-Rodamco -9,36
Últ Cot. Var. PB Var.12M
Estoril Sol 4/9/2020 7,200 0,00 720,00 -26,90 AB InBev -8,15 Banco Sabadell 0,3528 -6,69 -65,50
Flexdeal 4/28/2020 4,820 0,00 1788,22 -7,31 Soc. Generale -7,78 Obrigações alemãs -0,563 2,30 -58,80
F.C. Porto 5/4/2020 0,800 0,00 661,60 17,65 Safran -7,39 Inmobiliaria 8,305 -5,63 -13,94
Glintt 5/4/2020 0,118 -1,67 558,60 -35,52 Adidas -7,34 Obrigações dos EUA 0,6305 1,87 -189,45
Bankinter 3,584 -4,78 -48,97
Media Capital 3/20/2020 2,240 0,00 11,20 -3,45
Obrigações espanholas 0,759 3,60 -22,50
Grão-Pará 3/17/2020 - - - - Unibail volátil Bankia 0,9204 -0,90 -62,25
Impresa 5/4/2020 0,138 -2,83 20054,92 -39,96 A Unibail-Rodamco é das
Obrigações italianas 1,767 0,40 -79,40
Inapa 5/4/2020 0,034 0,59 1192,55 -54,40 empresas que acompanha Acciona 87,1 -3,65 -13,93
Lisgráfica 4/23/2020 0,010 0,00 38,11 -5,00 os índices. Quando caem, a
Obrigações portuguesas0,862 4,50 -25,90
Martifer 5/4/2020 0,380 -1,55 44876,28 -23,69
imobiliária segue-lhes os Acerinox 6,87 -0,81 -19,62
passos. E foi o que aconte- Obrigações gregas 2,174 0,90 -117,00
Merlin 5/4/2020 7,815 -4,93 197,57 -
ceu. Cie Automotive 15,15 -5,25 -39,35
Ramada 5/4/2020 3,050 -1,61 39259,18 -60,39
Nota: Dívida a 10 anos
Reditus 4/30/2020 0,070 0,00 210,00 -5,41 Masmovil Ibercom 16,73 -2,96 -14,90 Variações em pontos base
Orey Antunes 5/4/2020 0,110 0,00 33,00 -63,58 Euro Stoxx 50
Sonae Indústria 5/4/2020 0,610 -1,61 4120,47 -53,08 Viscofan 58,15 -0,51 9,51 VEJA AS COTAÇÕES EM

2816,48
Sonaecom 5/4/2020 1,690 -3,15 35872,96 -30,74 WWW.NEGOCIOS.PT
Melia Hotels Int 4,076 -2,72 -53,04
SL Benfica 5/4/2020 2,850 -2,73 31892,96 -4,36
Sporting CP 5/4/2020 0,710 4,41 29,82 -1,39 Indra Sistemas 7,7 -2,10 -25,32
Teixeira Duarte 5/4/2020 0,116 -3,75 12741,79 -19,23 Aceda à página
Salvador Caetano 5/4/2020 2,880 4,35 576,00 -4,00 Mediaset Espana 3,126 -4,52 -54,39 de cotações
Vista Alegre Atlantis 5/4/2020 1,000 0,00 1788,00 -30,56
O Stoxx 50 teve esta segunda- no site do Negócios
Raize 5/4/2020 0,720 -4,64 912,96 -40,00 -feira uma queda de 3,8%. Ence Energia 2,857 -2,49 -40,70
TERÇA-FEIRA 5 MAI 2020 27
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OPINIÃO

A COR DO
DINHEIRO

O partido mais reacionário de Portugal


O PCP despediu um funcionário. Miguel para usar linguagem muito atreita ao PCP, os cidadãos em geral? Azar. Está desloca-
Casanova, filho do histórico dirigente do é o partido mais reacionário do regime: até do no tempo... e no espaço. Isso era na
CAMILO LOURENÇO
Analista de economia PCP José Casanova, não gostou e recorreu acha que pode despedir alguém por moti- União Soviética, nos idos de Cunhal, em
camilolourenco@gmail.com ao tribunal. O tribunal, do Trabalho (note- vos políticos (Miguel Casanova criticou pu- Cuba e na Venezuela. Ou na Coreia do Nor-
-se!), considerou o despedimento ilegal. E blicamente a opção pela “geringonça”)! te. Estamos em Portugal. Em 2020. E nem
determinou a sua reintegração. O PCP não Pergunta: afinal qual é a diferença entre o se pode dizer que os tribunais de Trabalho
gostou e recorreu para a Relação. Perdeu PCP e uma vulgar empresa, a quem o par- sejam um antro de juízes liberais. Bem pelo
novamente... tido nega a possibilidade de despedir um contrário! E o mesmo se pode dizer do Tri-
Há várias lições a tirar desta história trabalhador (veja-se as críticas violentas bunal da Relação.
escabrosa. A primeira é a confirmação de do partido, e da sua correia sindical, quan- Moral da história: o partido que idola-
que o PCP acha que há uma lei para o par- do se tenta mudar a lei laboral)? A cor do tra Lenine e Estaline, e apoia os camaradas
tido e uma lei para o resto da sociedade. A cartão? Só pode. Kim e Maduro, precisa de entender que em
segunda é que estamos perante o partido O partido dos telhados de vidro acha Portugal vigora o Estado de direito. Não a
mais liberal de Portugal. Quiçá mesmo, que pode haver uma lei para si e outra para vontade da Soeiro Pereira Gomes. 

ORDEM

Um modelo alternativo
ESPONTÂNEA

ADOLFO MESQUITA NUNES


ao da esquerda
Advogado

N
a semana passada, perguntei poupança e sem grandes sinais com um extraordinário quadro ficado para não ancorarmos
pelas políticas para vencer a cri- de vitalidade. administrativo e fiscal para o in- empresas a modelos de negócio
se, estranhando a ausência da O que fazer, então? vestimento, hiperagressivo, desatualizados. Também sobre
direita. A pergunta fez eco, re- Em primeiro lugar, é preci- ajustado à gravidade da situa- isto nada se ouve, como se fos-
plicada e desenvolvida de for- so que o desconfinamento seja ção. Sem investimento, não va- se coisa menor.
ma similar, mas continua sem rigorosamente preparado, des- mos lá, porque o Estado não Falo muito de setor priva-
resposta. É pena, porque vem aí de logo do ponto de vista da tem como, mesmo que devesse, do? Sim. Sem o setor privado, o
tempestade e apenas a esquer- proteção dos trabalhadores. De ir a tudo. E deveríamos ser os Estado definha, os investidores
da parece saber o que quer. É nada vale abrir a economia se primeiros nisso, antecipando- desaparecem, a dívida aumen-
um drama, porque o que a es- os trabalhadores não têm for- -nos aos outros países. Sobre ta e o resgate aparece. A opção
querda quer é péssimo. E é pe- ma de se proteger, evitando no- isto, não ouvi ainda nada. de nacionalização da economia
rigoso, porque o silêncio da di- vas vagas. O desconfinamento Em terceiro lugar, reduzir é um atentado ao futuro.
reita dá a entender que não há tem merecido pouca discussão, substancialmente os impostos Nestes eixos deve assentar
modelo alternativo. E há. Que- imposto pelo Estado como se sobre criação de emprego, in- um plano económico alternati-
ro escrever sobre ele, esperan- não existissem opções a discu- vestimento e atividade econó- vo ao da esquerda. Sem isto, te-
do que estas linhas possam tir. A ausência da direita neste mica, preservando o tecido pro- remos uma crise económica e
também ser replicadas – desta debate é imperdoável, em liga- dutivo (sim, mesmo aquele que social muito mais profunda. É
feita com algum nível de con- ção com os parceiros sociais, vai estar bem, porque precisa- preciso encontrar orçamento
cretização. sobretudo porque deixa sem mos de quem esteja bem para para isto? É sim, senhor, mas
A crise por que vamos pas- voz os pequenos empresários e investir mais). Sem empresas sai mais barato do que naciona-
sar é provocada pela suspensão comerciantes, a classe média, o não há recuperação possível. lizar tudo ou despejar dinheiro
da economia. A economia pa- setor empreendedor, que rece- Sobre isto, também nada ouvi. sem estratégia – e tem a vanta-
rou, deixou de produzir e de be hoje ordens sobre o que se Em quarto lugar, precisa- gem de oferecer perspetivas de
criar riqueza. Os efeitos dessa vai passar amanhã. mos de flexibilidade regulató- futuro. 
paragem dependem do tempo Em segundo lugar, precisa- ria, não só porque muitas em-
que a economia estiver total ou mos de investimento como de presas trabalhavam com um
parcialmente suspensa: ou o pão para a boca, porque as em- padrão de consumo que pode
tempo é reduzido, e o apoio à li- presas ficaram dramaticamen- ser alterado pelas regras de dis-
A opção de quidez pode bastar (sendo es-
sencial alterar, desde logo sim-
te descapitalizadas, fechando
ou ficando feridas de morte. Es-
tanciamento social e precisam
de redirecionar-se, mas tam-
nacionalização plificando, os atuais apoios) ou, tamos perante empresas que bém porque a regulação é uma
da economia mais provável, o tempo é sufi- fracassaram por motivos exó- portagem, são custos. Aliás, no
é um atentado ciente para levar à destruição
de tecido produtivo, numa eco-
genos: estavam bem, tinham fu-
turo, e levam com a pancada
estado de emergência ensaia-
ram-se relaxamentos regulató-
ao futuro. nomia endividada, com pouca desta suspensão. Isso só lá vai rios – algo que deve ser intensi- Coluna semanal à terça-feira
28 TERÇA-FEIRA 5 MAI 2020
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OPINIÃO

A MÃO
VISÍVEL
Observações sobre
o impacto das
políticas para toda
a sociedade e dos
efeitos a médio e
longo prazo por
oposição às de
efeitos imediatos ÁLVARO JOAQUIM JORGE JOSÉ M. PAULO CAMILO
e dirigidas apenas NASCIMENTO AGUIAR MARRÃO BRANDÃO CARMONA LOURENÇO
a certos grupos DE BRITO
da sociedade.
maovisivel@gmail.com

Da Nova
emergência democracia
à calamidade iliberal

A O
emergência das primeiras res- dos no passado. Todavia, a des- vírus da guerra sanitária pode neira para consolidar um proje-
postas à crise sanitária gerou a continuidade nas métricas, que estar a ser debelado. Ainda não to de poder disfarçado de um
calamidade económica, em que resulta da descontinuidade das o sabemos. A democracia libe- rumo a uma sociedade justa.
tem de se responder à pressão condições realmente existentes ral, todavia, está a perder a guer- Com o capital dos alemães e ho-
inédita que é criada pelo blo- para a decisão política, não é ra com as emergências, as cala- landeses, os governos querem
queamento súbito da oferta e da compatível com a continuidade midades e as dívidas públicas e nacionalizar as perdas que cria-
procura, interrompendo o flu- dos quadros legais que foram privadas. Com o medo, na ver- ram. Uma tarefa sem sucesso.
JOAQUIM xo de rendimentos, paralisando definidos nas condições do pas- JORGE são marcelista, a preservação da Os tiques autoritários, e não de
AGUIAR o funcionamento dos mercados sado e que vinculam as institui- MARRÃO estabilidade e do instituciona- autoridade, emergem sempre
e impossibilitando as estraté- ções que foram criadas e man- lismo, domina-se uma socieda- nos tempos conturbados em
gias de ajustamento. Sem fluxos datadas dentro desses quadros de. Os empresários individual- que o rebanho anda à procura
de rendimentos, as despesas normativos de leis e tratados. mente estão aquietados, pese do pastor. A fórmula da gerin-
com as responsabilidades con- Quando o Tribunal Constitu- embora as intervenções saudá- gonça permitiu aceder ao poder,
tratuais assumidas no passado cional alemão se pronunciar so- veis dos órgãos patronais a exi- diretamente ou por interpostos
não têm correspondência em bre a legalidade das decisões do girem que o Estado pague o que atores, uma nova classe inqua-
receitas, no presente e no futu- Banco Central Europeu, uma está a destruir. Os media estão lificável e provinciana que des-
ro. Sem mercados de procura e decisão negativa implicará a pa- emaranhados com a sua preca- conhece a história da Europa e
de oferta, não é possível ter po- ralisia da instituição que tem os riedade. O Estado paralisou os a recente portuguesa. A ideia da
líticas de correcção dos desequi- meios indispensáveis para res- mercados e destruiu assim o ca- Europa não se coaduna com as
líbrios, por mais extremos que tabelecer os fluxos de rendi- pital das empresas com a guer- nacionalizações por prolonga-
estes sejam. Enquanto não for mentos nas economias euro- ra sanitária, e agora não quer pa- do tempo, seja do que for, nem
restabelecido o fluxo de rendi- peias que entraram em estado gar as reparações de guerra. Ou de ajudas de Estado para man-
mentos, não se poderá sair da de calamidade para responde- melhor, quer fazê-lo à sua ma- ter quem lhes agrada, ou substi-
calamidade económica, e isso rem à emergência da crise sani- tuir quem não lhes dá confian-
significa que se fica sem defesa tária. ça, só porque os manuais das ju-
perante a emergência de crises Num contexto deste tipo, ventudes partidárias congela-
sanitárias. em que se perderam os referen- ram no tempo, por desconhece-
Há uma descontinuidade ciais quantitativos do passado e rem os resultados da proprieda-
nas métricas, não tem sentido não se conhecem os padrões de de coletiva dos meios de produ-
comparar os indicadores do equilíbrio do futuro, as platafor- ção à escala de um país, ou para
presente com o que eram os pa- mas de cooperação internacio- ter acesso a recursos para ma-
drões de equilíbrio estabeleci- nal são fundamentais para esta- nietar a sociedade civil. “Somos
belecer o projecto de ordem fu- um povo de esquerda” perpassa
tura que seja o factor de atrac- na opinião publicada até irrom-
ção para as decisões no presen- per o líder de direita que trans-
te: quando o alvo atrai a seta, a forma o povo. Uma sociedade
perícia do atirador é irrelevan- “Ou os senhores se põem envelhecida, endividada, empo-
te. Mas foi neste contexto que brecida, permite o germinar do
os Estados Unidos escolheram
finos ou nós não pagamos iliberalismo. Os democratas que
isolar-se do mundo, condenan- a dívida” e se o fizermos estejam atentos: os dinheiros da
“O mundo (ainda) tem do-o à calamidade da desor- “as pernas dos banqueiros Europa, hoje, podem ser armas
dem. É a oportunidade para a de destruição maciça de uma so-
saudades da América.” Europa: construir o alvo que alemães até tremem.” ciedade que se quer livre do Es-
atrai a seta.  tado, como se este não fosse um
TERESA DE SOUSA PEDRO NUNO SANTOS conjunto de pessoas que quer
PÚBLICO Artigo em conformidade NEGÓCIOS dominar um outro conjunto de
2 DE MAIO DE 2020 com o antigo Acordo Ortográfico 15 DE DEZEMBRO DE 2011 pessoas: a sociedade. 
TERÇA-FEIRA 5 MAI 2020 OPINIÃO 29
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RELATÓRIO
E CONTAS

CO(n)VID(a) – Apontamentos de
RUI PATRÍCIO
Advogado um bota de elástico

A
vançar na idade faz tropeçar no “ai, demia, e já se sentencia – e antes te (e não falo das que não podem ção, à qual o mesmo pode ter mui-
no meu tempo”, “ai, que sauda- dizia-se – que será o futuro. Tenho nem pensar em escolher o teletra- to apego, sobretudo com o acon-
des”. Não sou muito dado a isso – dúvidas. Umas evidentes, outras balho ...). Não se vive de forma sã chego de umas pantufas, de um
pelo menos conscientemente, nem tanto, mas não menos impor- e completa numa caverna, mesmo sofá e de outros ecrãs. Longe de
noutras camadas psicanalíticas já tantes. A comida não se faz nem que tenha ecrãs, disfarçando uma mim querer esticar demais o elás-
não sei –, porque o nosso tempo é chega por teletrabalho. A roupa e espécie de agorafobia coletiva. tico das minhas botas. E, de outro
sempre essa frágil e efémera pon- os sapatos também não. As casas Já basta a ilusão de proximi- ponto de vista, para quem se quei-
te entre o passado e o futuro a que tão-pouco. E por aí fora. E mesmo dade das redes sociais, já bastam xava, e bem, de estar “sempre liga-
chamam presente. Não que não quanto ao que se pode fazer por os mil e um “gadgets” que aproxi- do” e de a vida ter desaprendido a
tenha saudades de certas coisas – teletrabalho – e podendo haver o mam mas também afastam e iso- arte dos tempos, o teletrabalho
para já não falar em saudades de luxo de nele pensar, porque para lam, embora pareça que não. Só pode ser mais uma flor no santuá-
algumas pessoas que se vão, pela muitos nem sequer dá, não é? –, há faltava agora o novo bezerro de rio da escravidão digital.
ceifa ou pelas bifurcações da vida. que parar para pensar um bocadi- ouro, o teletrabalho, como se os Mas está rei posto, o dito cujo;
Ai, que saudades de quando se es- nho e ver se de facto é bem assim, sentidos pudessem viver numa já vinha a caminho, e a pandemia
creviam cartas, e não se vivia afo- se se faz tão bem, se é bom e sau- suspensão de acrílico, e as pernas deu-lhe um grande empurrão.
gado em correio eletrónico; ai, que dável, se é seguro. O teletrabalho e os braços se pudessem bastar Mas vamos ver se o entusiasmo
saudades de quando havia mais dispensa o contacto, o cara a cara, com o caminho que vai do quarto dura. Quanto a outras maravilhas
tempo para falar e para escutar; ai, a visão global, e isso faz falta em para a cozinha e desta para a sala do mundo novo, agora subita-
que saudades de quando se via muita coisa. Comunicar não é só – se sala houver, claro, porque em mente reis mortos, veio um vírus,
mais e olhava menos. Ai, que sau- falar, ver reclama imediação, com- matéria de cavernas o sol também e pumba, lá recuaram do fulgu-
dades de quando se tinha saudade preender exige sentir, cheirar, et nasce diferente para uns e outros. rante caminho anunciado, como
do futuro, tão longe. Poderia es- cetera. E já nem falo noutras di- E já nem falo da disciplina, de que aquelas “start-ups” que nascem
crever sobre isso, mas não, apenas mensões da vida, que exigem to- o dito teletrabalho pode não ser freneticamente como cogumelos
venho – agora que é o maio madu- car. Claro que não são precisas muito amigo, nem da procrastina- mas que nunca chegam a unicór-
ro das coisas simples, como na tantas reuniões, tantas desloca- nio. Falo do “open space” e do
canção do Zeca – convidar a refle- ções, claro que aqui e ali o ecrã “coworking”. Agora é um ai jesus
tir sobre três modas, uma elevada basta. Mas só em certas coisas e li- de separação, de barreiras, de vi-
aos altares pela pandemia, e duas mitadamente. Não se é médico em dros, de divisórias. Coisa, aliás,
retiradas deles pela mesma. Como teletrabalho, nem advogado, nem muito natural, porque a pessoa,
tudo na vida, têm vantagens e des- juiz, nem sacerdote, nem tantas lá por o ser, não deixa de ser bi-
O teletrabalho vantagens, mas eu desconfio de outras coisas, ou pelo menos não cho, e todo o bicho gosta do seu
dispensa entusiasmos súbitos com coisas se é completamente. Tenhamos O teletrabalho território e do seu canto. Gosta e
que, por um lado, precisam de calma com as virtudes da media- precisa, mesmo sem o vírus que
o contacto, pensamento longo e de teste e, por ção, porque a imediação é essen- pode ser mais agora nos aparta tanto. E com ele
o cara a cara, outro, põem em causa traços da cial para muitas vertentes da esca- uma flor no – são as ironias da desgraça – ain-
a visão global, natureza humana. lada que é a vida. Profissionais e, santuário da da mais. Co(n)vid(o) a que se
A santidade está agora a pen- mais ainda, pessoais. E, além dis- pense um pouco – tempo e isola-
e isso faz falta der para os lados do teletrabalho. so, as pessoas precisam de sair, de escravidão mento, pelo menos por agora,
em muita coisa. Salva-nos, ao que se diz, na pan- circular, de interagir pessoalmen- digital. não faltam. 

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João Borges de Oliveira, Luís Santana, Alda Delgado toras Principais Filomena Lança, Maria João Babo (Coordenadora de Empresas); Lisboa Ana Batalha Oliveira, Ana Sanlez, Carla Pedro (Coordenadora Online), Catarina Pereira, David Santiago, Filipa Lino, Gonçalo Almeida, João Maltez, Margarida
Diretor-Geral Editorial Peixoto, Patrícia Abreu (Coordenadora de Mercados), Pedro Curvelo, Rafaela Burd Relvas, Rita Atalaia, Rita Faria (Coordenadora Online), Salomé Pinto, Sara Ribeiro, Susana Paula, Wilson Ledo; Porto António Larguesa, Rui Neves (Coordenador); De-
Octávio Ribeiro partamento de Arte Ana Frade, Mónica Santos (Coordenadora), Pedro Teixeira, Rui Santos (Online), Sílvia Arrochinho; Departamento de Fotografia Sofia Henriques; Revisão Joana Ambulate; Secretariado Elisabete Monteiro, Teresa Nunes; Colu-
Diretores-Gerais Editoriais Adjuntos nistas Adolfo Mesquita Nunes, Alexandre Real, Álvaro Nascimento, António Moita, Armando Esteves Pereira, Avelino de Jesus, Bruno Faria Lopes, Camilo Lourenço, Clara Raposo, Cristina Casalinho, Daniel Traça, David Bernardo, Edson Athayde, Fer-
Armando Esteves Pereira e Alfredo Leite nando Ilharco, Fernando Rocha Andrade, Francisco Mendes da Silva, Francisco Seixas da Costa, Isabel Stilwell, João Borges de Assunção, João Carlos Barradas, João Costa Pinto, Joaquim Aguiar, João Cepeda, Jorge Fonseca de Almeida, Jorge Mar-
Diretor do Departamento Gráfico Pedro Freire rão, José M. Brandão de Brito, Luís Marques Mendes, Luís Afonso (cartoonista), Luís Nazaré, Luís Todo Bom, Manuel Falcão, Manuela Arcanjo, Maria de Fátima Carioca, Paulo Carmona, Pedro Fontes Falcão, Pedro Santana Lopes, Ramon O’Callaghan,
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30 TERÇA-FEIRA 5 MAI 2020
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OPINIÃO

PROJECT
SYNDICATE
© Project

A Depressão Maior
Syndicate, 2020
www.project-
-syndicate.org

NOURIEL ROUBINI
CEO da Roubini Macro Associates e
professor de Economia na Stern
dos anos 2020
School of Business da Universidade
de Nova Iorque.

D
epois da crise financeira tem sociedades envelhecidas, o fi- tais monetizados para evitar a de- semprego em massa e desigualda- aproximar-se, temos todos os
de 2007-09, os desequilí- nanciamento dessas despesas no pressão e a deflação. No entanto, de crescente. Em condições de motivos para esperar um au-
brios e os riscos que afe- futuro aumentará ainda mais as dí- com o tempo, os choques negati- maior insegurança económica, ha- mento da guerra cibernética
tam a economia global foram exa- vidas implícitas dos atuais sistemas vos permanentes do lado da ofer- verá um forte impulso para culpar clandestina, que poderá condu-
cerbados por políticas equivoca- de saúde e segurança social, que já ta, resultantes da desglobalização os estrangeiros pela crise. Operá- zir até a confrontos militares
das. Em vez de resolverem os pro- têm grandes problemas de finan- acelerada e do renovado protecio- rios e grandes franjas da classe convencionais. E como a tecno-
blemas estruturais que o colapso ciamento. nismo, tornarão a estagflação pra- média ficarão mais suscetíveis à logia é a principal arma na luta
financeiro e a subsequente reces- Uma terceira questão é o risco ticamente inevitável. retórica populista, particularmen- pelo controlo das indústrias do
são revelaram, os governos, em ge- crescente de deflação. Além de es- Uma quinta questão é a dis- te a propostas para restringir a mi- futuro e no combate às pande-
ral, empurraram com a barriga tar a provocar uma profunda re- rupção digital da economia em ge- gração e o comércio. mias, o setor tecnológico priva-
para a frente, criando grandes ris- cessão, a crise também está a criar ral. Com milhões de pessoas a per- Isto aponta para um oitavo fa- do dos EUA será cada vez mais
cos que tornaram inevitável o sur- grandes lacunas nos mercados de derem os seus empregos ou a tra- tor: o impasse geoestratégico en- integrado no complexo indus-
gimento de outra crise. E agora bens (máquinas e capacidade não balharem e a ganharem menos, as tre os EUA e a China. Com a ad- trial e de segurança nacional.
que ela chegou, os riscos estão a utilizadas) e de trabalho (desem- disparidades de rendimentos e ri- ministração Trump a fazer todos Um último risco que não
agravar-se ainda mais. Infeliz- prego em massa) e a provocar um queza da economia do século XXI os esforços para culpar a China pode ser ignorado é a disrupção
mente, mesmo que a Recessão colapso dos preços das commodi- acentuar-se-ão ainda mais. Para pela pandemia, o regime do Pre- ambiental que, como ficou evi-
Maior leve a uma recuperação li- ties, como o petróleo e os metais se protegerem de futuros choques sidente chinês Xi Jinping reforça- dente com a crise da covid-19,
geira em forma de U este ano, se- industriais. Isso torna provável a na cadeia de fornecimento, as em- rá a sua acusação de que os EUA pode provocar muito mais estra-
guir-se-á uma Depressão Maior deflação da dívida, aumentando o presas das economias avançadas estão a conspirar para impedir a gos económicos do que uma cri-
em forma de L no final desta dé- risco de insolvência. repatriarão a produção de regiões ascensão pacífica da China. A dis- se financeira. Epidemias recor-
cada, devido a dez tendências as- Um quarto fator (relacionado) de baixo custo para mercados do- sociação sino-americana no co- rentes (VIH desde os anos 1980,
sustadoras e perigosas. será a desvalorização cambial. À mésticos de alto custo. Mas, em mércio, tecnologia, investimento, SARS em 2003, H1N1 em 2009,
A primeira tendência diz res- medida que os bancos centrais vez de ajudar os trabalhadores do dados e acordos monetários será MERS em 2011, ébola em 2014-
peito a défices e aos seus riscos as- tentam combater a deflação e evi- país, essa tendência acelerará o ainda mais intensa. -16) são, tal como as alterações
sociados: dívidas e defaults. A res- tar o risco de subida das taxas de ritmo da automação, pressionan- Pior, esse rompimento diplo- climáticas, essencialmente de-
posta política à crise da covid-19 juros (após o aumento massivo da do os salários e atiçando ainda mático vai abrir caminho a uma sastres causados pelo Homem,
implica um aumento massivo dos dívida), as políticas monetárias mais as chamas do populismo, na- nova guerra fria entre os EUA e devido a maus padrões sanitários
défices orçamentais – na ordem tornar-se-ão ainda menos con- cionalismo e xenofobia. os seus rivais – não apenas a Chi- e de saúde, ao abuso dos recur-
dos 10% do PIB ou mais – numa al- vencionais e de mais longo alcan- Isto leva-nos ao sexto grande na, mas também a Rússia, o Irão sos naturais e à crescente inter-
tura em que os níveis da dívida pú- ce. No curto prazo, os governos fator: a desglobalização. A pande- e a Coreia do Norte. Com a elei- conectividade de um mundo glo-
blica em muitos países já eram al- precisarão de ter défices orçamen- mia está a acelerar as tendências ção presidencial dos EUA a balizado. As pandemias e os mui-
tos, se não mesmo insustentáveis. de balcanização e fragmentação tos sintomas mórbidos das alte-
Pior ainda, a perda de rendi- que já eram visíveis. Os Estados rações climáticas tornar-se-ão
mentos para muitas famílias e em- Unidos e a China vão afastar-se mais frequentes, severos e one-
presas significa que os níveis de dí- mais rapidamente, e a maioria dos rosos nos próximos anos.
vida do setor privado também se países responderá com políticas Estes dez riscos, que já exis-
tornarão insustentáveis, o que ainda mais protecionistas para tiam antes da covid-19, ameaçam
pode conduzir a incumprimentos proteger empresas e trabalhado- agora alimentar uma tempesta-
e falências em massa. A juntar aos res domésticos de disrupções glo- de perfeita capaz de arrastar toda
níveis crescentes de dívida públi-
ca, tudo isto garante uma recupe-
bais. O mundo pós-pandemia será
marcado por restrições mais rígi-
Com a eleição a economia global para uma dé-
cada de desespero. Até à década
ração mais anémica do que a que das à circulação de bens, serviços, presidencial de 2030, a tecnologia e uma li-
se seguiu à Grande Recessão há capital, trabalho, tecnologia, da- dos EUA derança política mais competen-
uma década.
Um segundo fator é a bomba-
Qualquer final dos e informação. Isso já está a
acontecer nos setores farmacêu-
a aproximar-se, te poderão reduzir, resolver ou
minimizar muitos desses proble-
-relógio demográfica nas econo- feliz pressupõe tico, de equipamentos médicos e temos todos os mas, dando origem a uma ordem
mias avançadas. A crise da covid- encontrarmos alimentar, onde os governos estão motivos para internacional mais inclusiva,
-19 mostra que devem ser alocados a impor restrições à exportação e cooperante e estável. Mas qual-
muito mais gastos públicos aos sis- uma forma de outras medidas protecionistas em esperar um quer final feliz pressupõe encon-
temas de saúde e que os cuidados sobreviver à resposta à crise. aumento da trarmos uma forma de sobrevi-
de saúde universais e outros bens Depressão A reação contra a democracia guerra ver à Depressão Maior que se
públicos relevantes são necessida- reforçará essa tendência. Os líde- aproxima. 
des, não luxos. No entanto, como Maior que se res populistas beneficiam muitas cibernética
a maioria dos países desenvolvidos aproxima. vezes da fraqueza económica, de- clandestina. Tradução: Rita Faria
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GRANDE WEBCONFERENCE

5 DE MAIO DE 2020 10H30-12H00


Mão Visível em videoconferência

A rubrica de opinião do Negócios salta das páginas do jornal para uma edição especial em
videoconferência na próxima terça-feira, dia 5, às 10h30.

Os autores da Mão Visível — Álvaro Nascimento, Camilo Lourenço, Joaquim Aguiar, Jorge
Marrão e Paulo Carmona — vão debater a atuação do governo e da oposição durante a
pandemia, a resposta da Europa e os efeitos políticos e económicos no médio e longo prazo.
O debate será moderado por André Veríssimo, diretor do Negócios.

Acompanhe o streaming no site do Negócios ou através da página do jornal no Facebook.


para impulsionar a economia
conomia nacional. Participe.
Par

ANDRÉ VERÍSSIMO ÁLVARO NASCIMENTO CAMILO LOURENÇO

JOAQUIM AGUIAR JORGE MARRÃO PAULO CARMONA


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mo Diretor adjunto: Celso Filipe • Sede: Redação, Administração e Publicidade Rua Luciana Stegagno Picchio n.0 3 – 1549-023 Lisboa • Redação: tel. 21 318 52 00 fax 210493145
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TERÇA-FEIRA 5 MAI 2020 NA CATEGORIA
IMPRENSA
TÍTULO DE
INFORMAÇÃO
Tiragem média de Março: 9.159 exemplares

DE ECONOMIA ECONOMICA

SA LUÍS AFONSO ELEVADOR


Celso Filipe
cfilipe@negocios.pt

XI JINPING
BREVES AUTOMÓVEL

IRS Stands fechados levam A China pode desdenhar das


ameaças de Donald Trump e

a naufrágio nas vendas


REEMBOLSO MÉDIO passar a mensagem de que, ao
É DE 1.095 EUROS contrário do que diz, informou
sobre a pandemia de covid-19.
O reembolso do IRS já che- O que a China ainda não expli-
gou ou chega em breve à Pascal Rossignol /Reuters
cou foi a origem deste novo co-
conta de cerca de 210 mil As vendas automóveis em Portu- ronavírus e o porquê de ter re-
pessoas e cada uma tem um gal caíram a pique em abril para tardado os alertas. Esta falha
valor médio de 1.095 euros, 3.803 veículos, uma descida de coloca um ónus de culpabili-
disse à Lusa fonte oficial do 84,6% face a igual mês de 2019 dade sobre a China de que o
Ministério das Finanças.. O naquela que é a maior queda ho- país não se livrará, mesmo com
prazo para entrega da decla- móloga de sempre, anunciou esta doações generosas. As descul-
ração de IRS termina no fi- segunda-feira a Associação Auto- pas não se pedem, evitam-se. 
nal do mês de junho.  móvel de Portugal (ACAP). Estes
valores estão em linha com os da-
dos parciais de abril apurados pelo
COVID-19 Negócios na semana passada.
MIL MILHÕES A ACAP sublinha que em fe-
PARA VACINA vereiro de 2012, “em plena crise fi- As vendas sofreram uma queda de 84,6% face a abril de 2019.
nanceira internacional” a queda
A Comissão Europeia cifrou-se em 52,3%, um recorde já concessionários automóveis, que enquanto os híbridos plug-in
anunciou ontem uma con- ultrapassado em março (-56,6%) reabriram esta segunda-feira, pesaram 10%. Já o gasóleo
tribuição de mil milhões de e agora pulverizado em abril. desde a entrada em vigor do pri- superou a gasolina com uma
euros destinada à investi- Nos primeiros quatro meses meiro estado de emergência, a 22 quota de 37,4% contra 32,3%.
gação de uma vacina e tra- do ano a descida homóloga é de de março, devido à pandemia da Nos primeiros quatro meses,
tamentos para a covid-19, 39,8%, tendo sido matriculados covid-19. a gasolina mantém a liderança,
no âmbito de uma campa- 56.744 novos veículos. Este va- com uma quota de 47,5%, en-
nha mundial de angariação lor representa menos 37.542 via- Automóveis eletrificados quanto o diesel soma 34,7%.
de fundos coorganizada turas vendidas desde o início do valem 18,7% Os veículos eletrificados - hí- ISABEL CAMARINHA
por Bruxelas.  ano face a igual período de 2019. Nos ligeiros de passageiros os bridos plug-in e elétricos - valem
O naufrágio das vendas do se- automóveis 100% elétricos 11% do total. 
tor deve-se ao encerramento dos representaram 8,7% das vendas, PEDRO CURVELO Ninguém sai bem da celebra-
COVID-19 ção de 1º de maio na Alameda.
SÓ A BULGÁRIA É verdade que as regras de dis-
TEM MAIS CASOS Os autores da Mão Visível — Álva- pois da pandemia e como nos de- tanciamento foram cumpri-
ro Nascimento, Camilo Lourenço, vemos preparar para a retoma? das e que o decreto do estado
A vaga inicial de transmis- Joaquim Aguiar, Jorge Marrão e Que perigos esta crise traz para as de emergência abria a porta à
são da pandemia de covid- Paulo Carmona — vão debater a democracias liberais? Estas são comemoração, mas não o é
-19 na Europa já passou o atuação do governo durante a pan- algumas das questões que serão menos que estavam proibidas
seu pico, sendo a Bulgária demia, a resposta da Europa e os abordadas no debate, que será deslocações entre concelhos,
o único país que regista efeitos políticos e económicos no moderado por André Veríssimo, medida que a CGTP desres-
ainda um aumento de ca- MÃO VISÍVEL EM médio e longo prazo. diretor do Negócios. peitou de forma ostensiva. Por
sos, indicouontem Andrea O estado de emergência foi justi- isso, quem sai pior deste filme
Ammon,diretora do Cen-
VIDEOCONFERÊNCIA, ficado? O projeto da União Euro- Acompanhe o “streaming” no é a própria central sindical,
tro Europeu de Controlo TERÇA-FEIRA NO peia corre o risco de se desinte- site do Negócios esta terça-feira, que se quis mostrar grande e
de Doenças.  SITE DO NEGÓCIOS grar? Que economia vamos ter de- dia 5, a partir das 10h30. saiu apequenada. 

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