Você está na página 1de 2

Aspectos estéticos e filosóficos de Oriki

e dos versos sagrados do Ifá


Aesthetic and philosophical aspects of Oriki
and sacred verses of Ifá
Palavras-chave: estética; filosofia; orik; versos sagrados de Ifá.
Keywords: aesthetic; philosophy; oriki; sacred verses of Ifá.

Alex Kevin Ouessou Idrissou


UNILA

O corpus literário de Ifá é um conjunto de conhecimentos mantidos e transmitidos


oralmente pelos awo, autoridades ao serviço do orisa Orunmila, também denomi-
nado Ifá, que para os yoruba, é o representante da sabedoria e depositário de todo o
conhecimento da humanidade e dos orisa. Ele é também a fonte de alguns dos mais
importantes sistemas divinatórios do povo e favorece vínculos entre o humano e o
sagrado, além de orientar sobre as principais regras de inserção de casa individuo em
seu grupo. É constituído por 256 conjuntos, chamados odù, considerados divinda-
des, de narrativas poéticas. Já, o oriki é um gênero poético yoruba em que aparecem
denominações, uma série de qualificativos que ressaltam os atributos, as qualida-
des, os feitos, as virtudes do Deus yoruba, de divindades, dos homens, de cidades,
de plantas, de animais etc. Além de ser uma poesia com um atributo mnemônico.
O oriki yoruba inscreve-se em uma tradição oral africana ricamente representada
na sociedade yoruba. Vale ressaltar que há vários tipos de oriki cumprindo funções
determinadas a partir de um determinado tema. Entre essas funções, o papel de
resgate de feitos passados, históricos, sócio-culturais e religiosos, seja comum a
todo. Na mesma linha de ideias, o antropólogo Raul Altuna (1985), considera que
a tradição oral é um tesouro comunitário com múltiplas funções relacionadas entre
si: é biblioteca, arquivo, enciclopédia,tratado, código, antologia, filosofia, ritual. Se
acrescentarmos as danças, a escultura, os jogos e a música, fica completo o patrimó-
nio cultural negro africano. Como afirma Altuna, a palavra ocupa o primeiro lugar
nas manifestações artísticas, no culto religioso, na magia e na vida social. Para além
do seu grande valor dinâmico e vital, é praticamente o único meio de conservar e
transmitir o património. Enquanto para a pesquisadora Susana Nunes (2009), a
tradição oral é a principal fonte histórica que pode ser usada para a reconstrução
do passado de muitos povos: “são fontes históricas cujo caráter próprio está deter-
minado pela forma que revestem: são orais e não escritas e têm a particularidade
de que se cimentam de geração em geração na memória dos homens”. O presente

49
trabalho é uma incursão na etnopoesia ou na etnomusicalidade yoruba por meio
dos versos sagrados recitados de Ifá e do oriki, abordando aqui alguns de seus traços
estéticos e filosóficos mais pertinentes: o mnemônico, com uma de suas funções, o
arquivamento de acontecimentos do passado sejam eles históricos, sócio-culturais
e/ou religiosos das pessoas e sua linhagem, das cidades, das plantas.

Referências
ABIMBOLA, Wande. Yoruba Oral Tradition: poetry in music, dance and drama. Ibadan: Ibadan
University Press, 1975.
ALTUNA, Raul. Cultura tradicional banta. São Paulo: Edições Paulinas, 2006.
BARBER, Karin. I Could Speak until Tomorrow. Oriki, Women and the Past in a Yoruba Town.
Edimburgo: Edinburg University Press, 1991.
HAMPATÉ BÁ, Amadou. A Tradição Viva. In: KI-ZERBO, Joseph (org.). História geral da África.
v. I: Metodologia e pré-história da África. São Paulo: UNESCO; Ática, 1982.
NUNES, Susana Dolores Machado. A milenar arte da oratura angolana e moçambicana: aspectos
estruturais e receptividade dos alunos portugueses ao conto africano. Lisboa: CEAUP, 2009.
RISÉRIO, Antonio. Oriki Orixá. São Paulo: Ed. Perspectiva, 2012.
VERGER, Pierre. Notas sobre o culto aos Orisás e Voduns: na Bahia de Todos os Santos, no Brasil
e na Antiga Costa dos escravos na África. São Paulo: Editora USP, 1999. 615 p.
ZUMTHOR, Paul. Introdução à Poesia Oral. Tradução de Jerusa Pires Ferreira et al. São Paulo:
Hucitec; EDUC, 1997.

50

Você também pode gostar