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PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS DA ACÇÃO EXECUTIVA

A. PRESSUPOSTOS GENÉRICOS:
Além dos pressupostos específicos da acção executiva, tem nela de se verificar os
pressupostos gerais do processo civil, nomeadamente:

i. Personalidade e capacidade das partes;


ii. Competência do tribunal;
iii. Legitimidade;
iv. Patrocínio judiciário, etc.

1. Personalidade e capacidade das partes – cfr. arts. 5º e 9º

2. Legitimidade na acção executiva (art. 55.º)

A legitimidade das partes na acção executiva é determinada com muito mais simplicidade
do que na acção declarativa.

REGRA GERAL – art. 55º/1:


- Só pode promover a acção executiva a pessoa que no título executivo figure como
credor (legitimidade activa) e somente contra a pessoa que no mesmo título tenha a
posição de devedor (legitimidade passiva).

Se o título for ao portador (p. ex. cheque ao portador) a execução será promovida pelo
respectivo portador (art. 55.º/2).

DESVIOS/EXCEPÇÕES À REGRA GERAL:


Art. 56º

Tendo havido sucessão no título (mortis causa ou inter vivos) entre o momento da
emissão do título e o da propositura da acção (e não depois), a acção vai correr contra
outras pessoas que no título não figuram como credor ou devedor.

Essa sucessão pode ser no crédito ou na obrigação.


Assim, ao ser instaurada a execução, deve constar do requerimento a prova sobre como
foi transmitido o título, pois, podem existir situações em que a sucessão ocorre por
contrato entre antigo e novo credor, sem consentimento do credor (arts. 555.º e 595.º
CC).

Se for sucessão mortis causa, deverá juntar a certidão de óbito do credor, certidão dos
sucessores, etc.

Se a sucessão ocorrer na pendência do processo executivo, o meio adequado para a fazer


valer será o incidente de habilitação:
arts. 371º ss – sucessão por morte;
arts. 376º - sucessão inter vivos.

3. O patrocínio judiciário:
O art. 60.º estabelece, como regra, a obrigatoriedade de constituição de advogado na
acção executiva.

4. Competência executiva:
Na acção executiva, a determinação da competência do tribunal faz-se com muito mais
facilidade do que na acção declarativa.

REGRA GERAL:
É competente para a execução o tribunal do lugar onde a obrigação deva ser cumprida
(art. 94.º, n.º 1).
 
Esta regra só se aplica caso não haja nenhuma disposição especial de determinação da
competência executiva, como as que resultam dos arts. 90.º a 93 e 94º nºs 2 e 3.

B. PRESSUPOSTOS ESPECÍFICOS:
Para que possa ter lugar a realização coactiva duma prestação devida há que satisfazer 2
tipos de condições ou pressupostos específicos, dos quais depende a exequibilidade do
direito a prestação:
i. a existência de título executivo;
ii. a certeza, exigibilidade e liquidez da prestação/ obrigação.

i. Existência do título executivo:


O dever de prestar deve constar dum título: o título executivo.

A configuração do título executivo como pressuposto processual da acção executiva não


levanta dúvidas – pois somente existindo este é que se confere o grau de certeza que o
sistema exige como condição para a admissibilidade deste tipo de acção.

ii. Certeza, exigibilidade e liquidez da obrigação:


A obrigação exequenda pressupõe o incumprimento da obrigação por isso que a
finalidade da execução é sempre exigir o seu cumprimento, (as vezes se alcança apenas
uma indemnização pelo incumprimento se se tratar de obrigação para prestação de facto
infungível).
Jamais podemos apurar o seu incumprimento se a obrigação for incerta e inexigível, por
isso é necessário antes de executar torná-la certa e exigível e também líquida.

Cfr. arts. 802º + 813º al. f)


- É certa – a obrigação cuja prestação se encontra quantitativamente determinada
(ainda que esteja por liquidar ou por individualizar).

Assim, não é certa a obrigação que ainda não foi determinada, escolhida por
exemplo, no caso das obrigações alternativas e das obrigações genéricas.
Cfr. art. 803º - regime das obrigações alternativas.

EX: obrigação de entregar um carro ou entregar certos valores correspondentes.


Obrigação de fornecer pedras de certa espécie, de 1ª, 2ª ou 5ª qualidade.

- A prestação é exigível – quando a obrigação se encontra vencida.

Momento do vencimento da prestação:


 Findo o prazo estipulado;
 Simples interpelação ao devedor (na falta de estipulação de prazo) – cfr. art.
777º/1 CC
Não é exigível a obrigação, nos seguintes casos:
 Tratando-se de obrigação a prazo certo – se o prazo ainda não decorreu (art. 779º
CC);
 A obrigação tiver sido sujeita a condição suspensiva que ainda não se verificou –
arts. 270º CC + 804º/1 CPC;
 A obrigação estiver dependente de um sinalagma (contraprestação) do credor –
arts. 428º CC + 804º/1 CPC.

A exigibilidade da obrigação não se confunde com mora do devedor, pois aquela pode ser
exigível sem que o devedor se encontre em mora. Por exemplo: quando o credor se
encontrar em mora, nos casos que não aceita a prestação feita pelo devedor ou não cria
condições necessárias ao seu cumprimento (art. 813 CC).

CONSEQUÊNCIA DA INCERTEZA E DA INEXIGIBILIDADE:


a) Indeferimento liminar do requerimento inicial (art. 474 nº 1 al. c)) aplicável ao
processo de execução por força do artigo 801, caso o juiz não indefira
liminarmente o executado pode recorrer do despacho que tiver mandado citar.
b) Pode servir de fundamento à oposição da acção executiva, mediante embargos (art.
812 e 813 al. f) ou 815, consoante de trate de sentença ou outro título.

- Liquidez da obrigação:
Uma obrigação dir-se-á que é líquida – quando tenha por objecto uma prestação cujo
quantitativo se encontre numericamente apurado em face do título.

Apesar desta regra, a lei admite a exequibilidade de obrigações ilíquidas – isto é,


obrigações cujo quantitativo não está numericamente apurado. Ainda não esteja apurado,
pois a liquidação da obrigação também é tida como uma fase do processo executivo.

Exemplos:
 1000 Mt + juros;
 Lucros cessantes;
 Prejuízos por apurar [por exemplo, na hipótese do art. 471º/1 al. b)]
LIQUIDAÇÃO DE OBRIGAÇÕES ILÍQUIDAS
Os mecanismos de liquidação das obrigações ilíquidas constam dos artigos:
 art. 805º - quando a liquidação dependa de simples cálculo aritmético [é feita pelo
exequente];

Tem lugar quando temos por exemplo a obrigação de pagar um preço a determinar de
acordo com a cotação (duma moeda ou mercadoria) verificada num determinado dia.
“Dólar, preço de transporte no dia X etc”. Aqui, facilmente ele pode saber qual é o valor
daquele dia e calcular, então torna já liquida a obrigação.

 art. 806º - quando a liquidação não depender de simples cálculo aritmético [é feita
pelo tribunal];

Se não responder, fica a sanção de aceitar, concordar com que está lá escrito, e a
execução segue normalmente. Porém nem sempre a sanção da revelia do executado tem
como consequência a confissão, assim, nos casos do artigo 485°/ 1 e 2 por força do artigo
808° não há confissão, ou quando a modalidade de citação usada não tenha sido a pessoal
ou quase pessoal.

1. E como acontece, se não contestar e for revelia operante, segue-se com outros
termos da execução. (art. 806/2, 807/1);

2. Se não existir contestação e não for revelia operante, o juiz decide liquidar de
acordo com o que foi dito pelo exequente, mas se entender que o pedido é muito
exorbitante, manda proceder-se a arbitragem (art. 808/1 e 3);

3. Se existir oposição, segue-se o processo sumário de declaração, previsto nos


artigos 787 e seguintes, audiência preparatória e depois julgamento final).

No entanto, nessa oposição o executado deve também apresentar a sua proposta de


valores líquidos.

Os embargos podem não ser recebidos, quando foi proposta dentro do prazo, quando
usa fundamentos que não convém, etc.

Sendo a liquidação contestada há que distinguir:


a) o executado embarga a execução com outro qualquer fundamento.
 art. 809º - na impossibilidade das duas modalidades anteriores [é feita por
árbitros].

Aqui tem lugar quando a liquidação deva ser feita por árbitros, no caso de uma lei
especial determinar, ou as partes terem estipulado que a liquidação se faça por árbitros, o
juiz feita a arbitragem, limita-se a homologar o laudo dos árbitros.

O exequente nomeia um árbitro e o executado outro, depois os dois ou tribunal decidem


nomear outro, que só intervém em caso de não concordância entre os dois.

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