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Eugênio Raúl Zaffaroni, Nilo Batista, Juarez Tavares e Luis Greco situam a situam a origem mais evidente dos
conceitos analíticos de crime no final do século XIX e começo do século XX. Influência do positivismo.
Prenúncios em autores de épocas anteriores: Feuerbach (séc. XVIII).
Feuerbach: À lei penal só importam as ações humanas e não a mentalidade do autor. Divisão do delito ação
externa antijurídica e desejo antijurídico do agente.
TEORIAS CAUSALISTAS (NATURALISTA)
Ação: um acontecimento causal voluntário, que produz uma modificação no mundo exterior (vontade, expressão
externa da vontade através de um movimento corpóreo e o resultado).
Vontade é apenas aquela indispensável para caracterizar a ausência de coação mecânica ou psicofísica, servindo de
impulso inicial que desloca a inércia do comportamento.
Presunção da ação. Afasta-se a presunção quando constatado que o movimento corpóreo se realizou 1) sob
coação física absoluta; 2) em estados de inconsciência e 3) nos atos reflexos instintivos, onde não se reconheçam
condições mínimas de ligação psíquica entre esse movimento corpóreo e o agente.
E a omissão? Problema dos termos avalorados.
TEORIAS CAUSALISTAS (NATURALISTA/SISTEMA LISZT-BELING)
Beling (1906): teoria do tipo. O tipo como descrição objetiva e neutra do desenrolar de uma conduta, prevista na
lei penal, onde representam papel preponderante o movimento do agente e o resultado. Revolução do termo
Tatbestand (conjunto de circunstâncias caracterizadoras abstratamente do delito, conforme sua definição legal).
Tipo como indício de antijuridicidade.
Tipo analisado conforme elementos objetivos e descritivos.
Antijuridicidade analisada conforme elementos objetivos e valorativos.
TEORIAS CAUSALISTAS (NATURALISTA/SISTEMA LISZT-BELING)
Outras críticas: falácia naturalista e impossibilidade de dar tratamento justo aos problemas do Direito Penal.
Falácia naturalista: o direito, como sistema de valores, nada tem a fazer com categorias avaloradas, pois o
conhecimento da realidade pré-jurídica não resolve problemas jurídicos.
O próprio caráter classificatório e formalista do sistema, que imagina que todos os problemas estão de antemão
resolvidos pela lei, bastante a subsunção desvalorada e automática para dar-lhes o tratamento mais justo e
correto.
Modificações ao longo do tempo.
TEORIAS CAUSALISTAS (TELEOLÓGICO/NEOKANTIANO)
Início de 1930.
Superação do paradigma positivista-naturalista dentro no direito.
Revalorização das ciências da cultura.
Conteúdo causal.
TEORIAS CAUSALISTAS (TELEOLÓGICO/NEOKANTIANO)
Alguns problemas:
Omissão
Manutenção de dolo e culpa na culpabilidade.
Crítica:Além de não dar soluções, acaba por se isolar da realidade em um normativismo extremo.
TEORIA FINALISTA
Premissas se fundam no pensamento aristotélico, assim sintetizado por Tomás de Aquino: “Tudo o que existe na
natureza existe para um fim: o fim é a substância ou forma ou razão de ser da própria coisa”.
Para Kant, o finalismo funciona como um conceito regulador do entendimento humano, destinado a
complementar a explicação mecânica dos fenômenos.
Welzel se inspira em Kant e outros pensadores para criar o sistema finalista.
TEORIA FINALISTA
Críticas:
Envolvem os objetivos políticos da criminalização primária ou do sistema penal como um todo, renunciando a
deduzir tais conceitos da natureza ou de estruturas ônticas.
Os valores a serem atribuídos são dados pela missão constitucional do direito penal: proteger bens jurídicos por
meio da prevenção geral ou especial
Conceitos analíticos são submetidos à funcionalização: exige-se deles que sejam capazes de desempenhar um
papel acertado no sistema, alcançando consequências justas e adequadas.
TEORIAS FUNCIONALISTAS
Diferença entre finalismo e funcionalismo: quando se mostra necessária e legítima a pena para o crime doloso?
Questões sobre o dolo: Liberdade dos cidadãos e proteção a bens jurídicos. Legitimidade do Direito Penal.
Política criminal e direito penal devem trabalhar juntos, pois o trabalho do dogmático seria identificar que valoração político
criminal subjaz a cada conceito da teoria do delito e funcionalizá-lo: construí-lo e desenvolve-lo para que atenda essa função.
Ao Tipo desempenha a função de realizar o princípio da legalidade, à antijuridicidade, resolver conflitos sociais; à culpabilidade
(responsabilidade), dizer quando um comportamento merece ser apenado, por razões de prevenção geral ou especial.
“A punibilidade do autor depende de dois dados, que devem adicionar-se o injusto: a culpabilidade do autor e a necessidade
preventiva da intervenção penal, que se extrai da lei”
TEORIAS FUNCIONALISTAS (JAKOBS)
Funcionaliza o próprio sistema jurídico-penal, dentro de uma teoria funcionalista-sistêmica da sociedade, com
base nas ideias de Luhmann.
Possibilidades do agir humano são inúmeras e aumentam com o grau de complexidade da sociedade em questão.
“Expectativa”
Expectativa cognitiva e expectativa normativa. Cognitivas deixam de existir quando violadas – expectador adapta sua
expectativa à realidade. Já as normativas se mantêm a despeito de sua violação.
Processamento de decepções.
Culpabilidade: competência pela ausência de uma motivação jurídica dominante no comportamento antijurídico.
Código Criminal 1830: Art. 2º. Julgar-se-ha crime, ou delicto: 1º Toda a acção, ou omissão voluntaria contraria ás Leis
penaes.
Tobias Barreto: Ação como “facto de percepção sensível, que entre nos domínios do mundo exterior”. Ação de dirige
contra um “objeto prático”. Imputação do resultado.
OS CONCEITOS ANALÍTICOS NO BRASIL
Código Criminal de 1890 e tradução do Tratado de von Liszt por José Hygino, 1899.
OS CONCEITOS ANALÍTICOS NO BRASIL
Código Criminal 1890: Art. 7º Crime é a violação imputavel e culposa da lei penal.
Conduta:
1. Art. 10. A resolução de commetter crime, manifestada por actos exteriores, que não constituirem começo de
execução, não é sujeita á acção penal, salvo si constituir crime especificado na lei.
2. Art. 11. Quando depender a consummação do crime da realização de determinado resultado, considerado pela lei
elemento constitutivo do crime, este não será consumado sem a verificação daquelle resultado.
OS CONCEITOS ANALÍTICOS NO BRASIL
Imputável e culposa?
Costa e Silva: a culpa (no sentido de culpabilidade) pressupõe imputabilidade. Bastaria definir o crime como
“violação culposa à lei penal”.
Prefácio José Hygino: "dogmáticos entregaram-se com ardor ao trabalho de systematizar o direito penal (...) de construir
o direito, isto é, fazer a exegese dos artigos do Código, inferir de suas disposições as idéias e princípios superiores,
coordená-los em um systema organico, e dar assim regras geraes e fundamentaes à practica judiciaria".
Adaptação da tradução. Se, para nós, o crime era uma violação imputável e culposa da lei penal, essa violação da
lei sugere que "das Verbrechen als rechtswidrige Handlung" se traduza por "o crime como ação illegal" (e não
antijurídica ou ilícita); bem como rechtswidrigkeit por "illegalidade" (e não antijuridicidade ou ilicitude); da mesma
forma, essa violação culposa sugerirá que "das Verbrechen als schuldhafte Handlung" se traduza por "o crime
como ação culposa" (e não culpável) etc.
OS CONCEITOS ANALÍTICOS NO BRASIL
Tratado traduzido foi publicado em 1899. Lizst sem Beling. Beling só será conhecido no Brasil em 1944.
Diccionario de Direito Penal (1905): Elementos constitutivos do crime – o elemento material, que consiste na ação ou
omissão, e o elemento moral, na inteligência e vontade.
Macedo Soares: O elemento material (ou objetivo) constituído pelo facto (...) o elemento moral (ou subjetivo)
constituído pelo dolo ou pela culpa".
Costa e Silva: o legislador quis, empregando a palavra facto, "designar a ação com todos os seus elementos - a vontade, o
movimento corpóreo e o resultado - o todo como todo".
Galdino: sob direta influência de Liszt, factos implicavam "mudanças do mundo exterior apreciáveis pelos sentidos", que
provindos "de causas physicas" se chamam "acontecimentos", mas provindas "da vontade humana" se chamam "ações".
"sem ato de vontade não há acção, não há injusto, não há crime“.
OS CONCEITOS ANALÍTICOS NO BRASIL
Síntese:
1. Base conceitual (conduta), segundo uma concepção positivista-naturalista.
2. Ação impulsionada pela vontade e realizada como movimento corporal que causa um resultado, uma alteração no
mundo exterior (facto).
3. Illegalidade (antijuridicidade) da ação é reconhecida: paGra aldino, "o que completa o ser do delicto é a
contradição desses elementos com a lei jurídica".
4. Culpabilidade (expressão culposa) se reconhecia como chave da classificação entre delitos dolosos e culposos,
algumas vezes vínculo da imputação jurídica, outras impregnada de precoces aromas normativistas.
OS CONCEITOS ANALÍTICOS NO BRASIL
O tipo é reconhecido somente nos anos de 1940. Costa e Silva resume o pensamento de Beling.“Crime é o fato
típico”.
Código de 1940: influxos metodológicos tecnicismo jurídico, neokantismo e ontologismo de raiz finalista.
Rocco: o único objeto da ciência jurídica consiste no "direito positivo vigente", e a investigação jurídica se
restringe a três procedimentos: a exegese, a dogmática ou sistemática e a crítica.
Madureira de Pinho: "A lei, unicamente a lei, deve ser objeto das cogitações do jurista“ (teoria causal-naturalista).
Hugria: A ação é um "voluntário movimento corpóreo" que produz um "resultado ( effectum sceleris)" que
representa "uma alteração no mundo externo"; "a tipicidade é um indício da injuridicidade"; só "na órbita do
direito positivo" pode encontrar-se a justificação de um fato típico, e a culpabilidade constitui "uma relação
subjetiva ou de causalidade psíquica vinculando o ato ao agente".
OS CONCEITOS ANALÍTICOS NO BRASIL
Tradução de Rodríguez Muñoz de Tratado de Derecho Penal: Disseminação de ideias neokantianas. "caráter empírico-
valorativo de todos os conceitos jurídicos". "A ação, a culpabilidade, a personalidade etc. têm suas raízes no terreno
firme do empírico e das 'leis naturais'; porém, como ação querida, culpabilidade punível, personalidade motivada etc. as
realidades empíricas cedem à 'seleção' do mundo dos valores.“
Galdino: Trata como culpabilidade "a falta mais ou menos grave do dever ou da obrigação por parte do agente", em 1947
destaca nela "a desaprovação, o juízo de censura“.
Heleno Fragoso adota a distinção proveniente da filosofia dos valores "entre realidade e valor, entre ser e dever ser,
entre natureza e cultura" para propor um procedimento metodológico que igualmente se adapta a um tecnicismo
jurídico menos fechado.
OS CONCEITOS ANALÍTICOS NO BRASIL
Batista, Nilo. Notas históricas sobre a teoria do delito no Brasil. Doutrinas Essenciais de Direito Penal Econômico e da
Empresa | vol. 1 | p. 357 – 379. Jul, 2011.
FRAGOSO, Heleno Claudio. Conduta Punível. São Paulo: José Bushatsky, editor, 1961.
GRECO, Luís. Introdução à dogmática funcionalista do delito – Em comemoração aos trinta anos de "Política Criminal e
Sistema Jurídico-Penal" de Roxin. Revista Brasileira de Ciências Criminais, vol. 32, p. 120, Out / 2000.
ROXIN, Claus. Funcionalismo e imputação objetiva no Direito Penal. Rio de Janeiro: Ed. Renovar, 2002.
TANGERINO, Davi de Paiva Costa. Culpabilidade. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011.
TAVARES, Juarez. Teorias do delito: variações e tendências. São Pualo: Ed. Revista dos Tribunais, 1980.
ZAFFARONI, Eugenio Raul. BATISTA, Nilo. SLOKAR, Alejandro. ALAGIA, Alejandro. Direito Penal Brasileiro,
segundo volume.Teoria do Delito: introdução histórica e metodológica, ação e tipicidade. Rio de Janeiro: Revan, 2010.