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ESTADO DO CEARÁ
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
GABINETE DESEMBARGADOR FRANCISCO LINCOLN ARAÚJO E SILVA

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por FRANCISCO LINCOLN ARAUJO E SILVA, liberado nos autos em 23/11/2018 às 14:06 .
Processo: 0000865-54.2018.8.06.0000/50000 - Agravo Regimental
Agravante: J. I. G. M.
Agravado: M. P. E.
Custos legis: M. P. E.

Para conferir o original, acesse o site http://esaj.tjce.jus.br/esaj, informe o processo 0000865-54.2018.8.06.0000 e código F42038.
Terceiros: F. W. V. de L. e R. L. e C. E. -

DECISÃO MONOCRÁTICA
Trata-se de Agravo Interno, com Pedido de Reconsideração, interposto por José Ilário
Gonçalves Marques, em face de Decisão proferida liminarmente em pedido de Medidas
Cautelares, proposto pelo Ministério Público Estadual, que, dentre outras providências,
determinou a suspensão provisória, pelo prazo de 180 dias, do exercício da função
pública de prefeito de Quixadá.

Na Exordial de fls. 02/37, o agravante refuta os fatos relacionados pela Procuradoria de


Justiça, buscando esclarecer os motivos pelos quais o empresário Ernani Teles, em
procedimento de investigação, apresentou afirmações incoerentes e contraditórias,
embora capazes de motivar a iniciativa do MP, na apuração de infrações penais e
irregularidades administrativas, no PIC Nº 45/2018. Ainda, suscita que as insinuações
estão embasadas em documentos da lavra do próprio empresário. Em seguida, sustenta
que a investigação afronta os princípios da ampla defesa, contraditório e devido
processo legal, vez que não lhe foi dada oportunidade de manifestação. Diz que a
produção unilateral de provas é inválida. Por fim, defende que as demais medidas
cautelares deferidas são suficientes à instrução processual, sendo conveniente e
necessária a revogação do seu afastamento do cargo de prefeito municipal, para o qual
foi eleito democraticamente.

Com a Inicial do recurso vieram os documentos de fls. 38/1219 que se referem à


contratação do município por meio de licitação, notas fiscais, planilhas de serviços e
pagamentos, cópias de notas de empenho, liquidação e pagamentos, espelhos
processuais e muitos outros, tendentes a justificar a lisura de seus atos e a conformidade
da administração municipal com a lei.

No Despacho de fl. 1225, foi determinada a intimação do Ministério Público estadual


para ofertar Contraminuta ao recurso de Agravo Interno.
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GABINETE DESEMBARGADOR FRANCISCO LINCOLN ARAÚJO E SILVA

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por FRANCISCO LINCOLN ARAUJO E SILVA, liberado nos autos em 23/11/2018 às 14:06 .
Em resposta (fls. 1241/1298), o MPCE refuta as alegações apresentadas pelo agravante
quanto ao mérito da discussão, afirmando a existência do fumus commissi delicti e do
periculum libertatis que fundamentam a aplicação das medidas. Em relação ao
afastamento do prefeito, defende sua manutenção, haja vista a provável necessidade de
serem desenvolvidas outras ações que podem ser frustradas com o retorno do
investigado ao exercício do cargo que ocupa.

Para conferir o original, acesse o site http://esaj.tjce.jus.br/esaj, informe o processo 0000865-54.2018.8.06.0000 e código F42038.
O agravante apresentou novas petições contrapondo os argumentos e documentos
acostados pelo Parquet nas suas Contrarrazões (fls. 1559/1578 e 1579/1654).

É o Relatório no essencial.

Decido monocraticamente, nos termos do Regimento Interno deste Tribunal1.

Pois bem. Em análise detida dos autos, observa-se que existem elementos de convicção
suficientes a ensejar o provimento do Pedido de Reconsideração formulado por José
Ilário Gonçalves Marques, para o fim de autorizar sua recondução ao cargo de prefeito
municipal de Quixadá.

De certo, consoante asseverado na Decisão recorrida, o afastamento cautelar do Chefe


do Executivo municipal de Quixadá das suas funções tratava-se de medida excepcional
a ser aplicada ao caso, ante a demonstração de sua indispensabilidade, naquele
momento processual, para condução da investigação realizada. No curso das
investigações criminais, restou constatada a conveniência da adoção de medidas,
eventualmente drásticas, para o êxito da apuração dos fatos. Daí, a busca e apreensão, a
quebra de sigilo fiscal e telefônico, afastamento de servidores, por exemplo, como
providências capazes de facilitar a colheita probatória. Também, para evitar a subtração
de provas, a coação de testemunhas e a destruição de documentos.

Naquela oportunidade, foi, então, autorizada a aplicação de diversas medidas, inclusive


o afastamento do prefeito municipal de Quixadá, tido como indispensável à
continuidade do trabalho realizado pela PROCAP, sendo recolhidos na diligência tantos
documentos, anotações diversas e equipamentos eletrônicos que estão submetidos à
análise.

Ocorre que, após efetivadas as buscas e apreensões nos endereços indicados pelo
MPCE, com a coleta do material necessário ao prosseguimento das investigações objeto
1Vide: art. 270, inc. II, do RITJCE.
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do PIC nº 45/2018, serem oficiados os órgãos e instituições competentes para fins de

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informações bancárias e fiscais e, ainda, estarem os investigados afastados dos cargos e
proibidos de acessar as repartições públicas desde o dia 16 de agosto de 2018, data em
que as diligências foram cumpridas, não observo nos autos a existência atual de óbice
ao retorno do prefeito às suas funções.

Percebo que, passados mais de três meses, cumpridas com sucesso as diligências até

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então requeridas, não mais perduram, as razões para a continuidade da suspensão das
funções do prefeito municipal, de tal sorte que não restaram, de forma concreta,
evidentes os motivos que impliquem na conveniência do referido afastamento.

Assim, embora, num primeiro momento, tenha entendido pela necessidade e adequação
da medida de afastamento do agravante do cargo de prefeito, a fim de evitar qualquer
interferência nos trabalhos desempenhados pelo Ministério Público, o que, de fato, era
preciso, ao êxito da ação, considero que a adoção da medida não é mais necessária,
neste momento processual, tampouco adequada. Quer dizer, as diligências próprias da
investigação criminal devem prosseguir, segundo seja conveniente, e o retorno do
prefeito às suas funções não deverá implicar em prejuízo das investigações, sob pena de
reverter-se esta decisão.

Efetivamente, não consta nos autos, em especial nas peças apresentadas pelo Ministério
Público, após o cumprimento das diligências, de que maneira o agravante poderia
atrapalhar o curso das investigações caso fosse reconduzido ao posto de Chefe do Poder
Executivo local, ainda que faça referência ao fato dele ter sido condenado pela prática
de falsificação de documento.

Desse modo, o receio de que o administrador investigado poderia comprometer o acesso


às provas que se encontravam nas repartições públicas, destruir e alterar documentos,
conforme anteriormente se considerou, não restou evidentemente demonstrado através
de elementos concretos, razão pela qual a medida deve ser reconsiderada.

Afinal, sem a demonstração da existência efetiva de ameaça ao curso das investigações


realizadas pelo MPCE, não é possível manter o deferimento da medida cautelar. Já não
se justifica a suspensão do exercício das funções do prefeito.

A este respeito, destaco trecho da lição de Emerson Garcia e Rogério Pacheco2:

“É evidente que o afastamento do agente político, como o de qualquer


2In: Improbidade administrativa. 5 ed. Ed. Lumen Juris, 2010.
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agente público, deve ser medida adotada em última hipótese (necessidade),

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o que decorre do próprio princípio constitucional da não-culpabilidade. E o
STJ, intérprete maior da legislação infraconstitucional, vem, prudentemente,
considerando tal aspecto”.

Ora, não bastam meras conjecturas ou presunções acerca do risco para o processo, exige-
se a indicação de fato concreto que a permanência do investigado no cargo seja decisiva

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à obstrução da colheita de provas. Caso contrário, o mesmo não deve ser privado de
exercer o mandato para o qual foi eleito.

A propósito, trago à baila o entendimento manifestado pelo Min. Teori Zavascki,


enquanto membro do Superior Tribunal de Justiça, em Voto-vista apresentado no
julgamento da Medida Cautelar nº 5.214/MG, in verbis:

“(...) Sem a alegação de existência efetiva de uma ameaça ao processo, o


deferimento da medida equivale a tornar regra o que é exceção: em tese,
qualquer agente público, especialmente os prefeitos, detém em sua
competência um plexo de poderes ou de influência que, em maior ou menor
medida, pode, se indevidamente utilizada, acarretar danos à prova. Assim, a
acolher-se as razões do acórdão, todos deveriam ser desde logo afastados,
ante a simples propositura de demanda, o que seria um exagero.
Indispensável, portanto, não apenas a alegação teórica da possibilidade de
ameaça, mas, no mínimo, a da existência de indícios, pelo menos, de algum
ato ou comportamento do réu que importem ameaça à instrução do
processo”.

Nesse mesmo sentido, acosto os seguintes julgados:

“(...) O afastamento do gestor público deve ser sempre a exceção, sendo


essencial, para tanto, a presença de elementos concretos, configuradores de
sua conduta obstativa das investigações, pressuposto legal, cujo escopo é
impedir o administrador investigado de destruir provas, obstruir o acesso a
elas ou coagir testemunhas”. (TJBA, PSL nº 0021261-84.2015.8.05.0000,
Rel. Des. Eserval Rocha, Julgado em: 05/10/2015).

“(...) Afastamento de agente público do exercício de suas funções. Medida


excepcional. Ausência de provas de obstrução a instrução processual.
Recondução ao cargo”. (TJPA, AI nº 0002596-51.2014.8.14.0017, Rela.
Desa. Helena Percila de Azevedo Dornelles, Julgado em: 03/02/2015).
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Em que pese a gravidade das acusações contra o agravante, enquanto prefeito
municipal, não há evidências, até o momento, de que sua manutenção no cargo
prejudicaria as investigações que ainda estão em curso sob o comando do Ministério
Público estadual.

Diante do exposto, recebo o Agravo Interno, interposto como Pedido de

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Reconsideração, para, em reexame das medidas cautelares aplicadas, dar-lhe
provimento e modificar parcialmente a decisão recorrida, apenas no que diz respeito ao
afastamento cautelar do prefeito do município de Quixadá, José Ilário Gonçalves
Marques, autorizando sua recondução às funções à frente do Poder Executivo
municipal.

Resta prejudicada a análise do pedido de fls. 1235/1240, em razão do que aqui foi
decidido.

Expedientes necessários.

Fortaleza, 23 de novembro de 2018.

DESEMBARGADOR FRANCISCO LINCOLN ARAÚJO E SILVA


Relator

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