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PROCEDIMENTO DAS MODALIDADES DE LICITAÇÃO

Usa-se como base o procedimento da concorrência, por ser o mais complexo.

Nem todas as modalidades apresentam todas as fases (a concorrência, por ser a mais
complexa, é a que apresenta um maior número).

Divide-se a licitação em duas fases: interna e externa.

Fase interna: compreende o período anterior à publicação do ato convocatório.

Lei n.8.666/93 Art. 38.  O procedimento da licitação será iniciado com a abertura


de processo administrativo, devidamente autuado, protocolado e numerado,
contendo a autorização respectiva, a indicação sucinta de seu objeto e do recurso
próprio para a despesa, e ao qual serão juntados oportunamente:

A administração atua internamente para verificar a necessidade de contratar, e define o objeto que
deve ser contratado. Após, define a modalidade de licitação necessária a ser realizada, bem como a
forma como deve realizar o pagamento.

Objetivos da fase interna:

Verificar a necessidade e a conveniência da contratação


Determinar a presença dos pressupostos legais para a contratação (inclusive a
disponibilidade de recursos orçamentários)
Realização de estudos para definir o objeto e quantidades
Definir a modalidade e tipo da licitação.

O edital deverá estabelecer a modalidade, o tipo e a forma de execução:

Art. 10.  As obras e serviços poderão ser executados nas seguintes formas:

I - execução direta;

II - execução indireta, nos seguintes regimes:

A escolha do regime de execução da obra não é decisão de livre arbítrio do gestor. Deve se pautar
no interesse público e estar sempre motivada. Decorre desse entendimento que não existe regime de
execução melhor que o outro, mas aquele que melhor atende ao interesse público no caso concreto.

a) empreitada por preço global; quando se contrata a execução da obra ou


serviço de forma global/inteira. A empreitada por preço global deve ser
adotada quando for possível definir previamente no projeto, com boa
margem de precisão, as quantidades dos serviços a serem executados.

No regime de empreitada por preço global contrata-se a execução da obra ou do serviço por preço
certo e total (Lei 8.666/93, art. 6º, VIII, "a"). Nessa linha, mostra-se interessante para obras cujo
objeto, por sua natureza, possa ser projetado com margem mínima de incerteza acerca das
variáveis intervenientes, de modo que o custo global, e o das etapas que o constituem, estejam
estimados, também, com uma maior precisão.

b) empreitada por preço unitário; quando se contrata a execução da obra ou


do serviço, por preço certo de unidades determinadas. A empreitada por
preço unitário deve ser preferida para objetos que, por sua natureza, não
permitam a precisa indicação dos quantitativos orçamentários.

Empreitada por preço unitário – há uma indefinição do quantitativo a ser utilizado, de modo
que o pagamento deve ocorrer pela efetiva quantidade utilizada, que só será definida no
momento da execução do contrato.

A remuneração da contratada, nesse regime, é feita em função das unidades de serviço efetivamente
executadas, com os preços previamente definidos na planilha orçamentária da obra. Assim, o
acompanhamento do empreendimento torna-se mais difícil e detalhado, já que se faz
necessária a fiscalização sistemática dos serviços executados. Nesse caso, o contratado se
obriga a executar cada unidade de serviço previamente definido por um determinado preço
acordado. O construtor contrata apenas o preço unitário de cada serviço, recebendo pelas
quantidades efetivamente executadas.

d) tarefa; quando se ajusta a mão de obra para pequenos trabalhos por preço
certo, com ou sem fornecimento de materiais.
Ex: serviço de manutenção, encanador, chaveiro.

e) empreitada integral: quando se contrata um empreendimento em sua


integralidade, compreendendo todas as etapas das obras, serviços e
instalações necessárias, sob inteira responsabilidade da contratada até a sua
entrega ao contratante, em condições de entrada em operação, atendidos os
requisitos técnicos e legais para sua utilização, em condições de segurança
estrutural e operacional, seguindo as características adequadas às
finalidades para as quais foi contratada.

Obs: Em contratação sob o regime de empreitada integral, a celebração de aditivo contratual


somente é admitida sob condições especiais, decorrentes de fatos imprevisíveis. Eventuais
imprecisões no projeto básico não são motivo para correção por meio de aditivo, porquanto
constituem riscos que se inserem na álea contratual ordinária, os quais são assumidos pelo
contratado.

TCU 30/03/2016

O regime de empreitada integral previsto no art. 6º, inciso VIII, alínea e, da


Lei 8.666/1993 deve ser considerado na condução de projetos de vulto e
complexos, em que a perfeita integração entre obras, equipamentos e
instalações se mostre essencial para o pleno funcionamento do
empreendimento, a exemplo de obras em hidrelétricas. A adoção desse
regime em obra pública fora dessas circunstâncias pode ferir o princípio do
parcelamento, ao incluir no escopo a ser executado por empresa de
construção civil itens que poderiam ser objeto de contratação à parte, como
equipamentos e mobiliário. Ainda na Representação formulada por associação
empresarial acerca de possíveis irregularidades em edital de pré-qualificação para
concorrência, promovida pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp),
destinada à contratação de empresa especializada para execução de obra de
construção de edifícios acadêmicos e administrativos em diversos campi da
universidade, após obtidos esclarecimentos preliminares da Unifesp, determinou a
relatora a suspensão cautelar do certame em face, entre outros aspectos, da
adoção do regime de empreitada integral sem justificativa para tal opção.
Analisando o mérito da Representação, após a realização das oitivas regimentais,
anotou a relatora que a adoção do regime de empreitada integral merecera sua
reprovação por entender que esse regime “fere o princípio do parcelamento,
pois não se justifica a inclusão de equipamentos e mobiliário no objeto a ser
executado por empresa de construção civil, o que seria necessário para a
entrada em operação do empreendimento”. No caso em análise, a unidade
instrutiva já havia destacado que “além dos serviços, equipamentos e instalações
comumente executados dentro do escopo de obras públicas de edificações, há
alguns itens que, eventualmente, poderiam ter sido objeto de contratação à parte,
como, por exemplo, os equipamentos de cozinha industrial”. Acórdão 711/2016
Plenário, Representação, Relatora Ministra Ana Arraes.

Fase externa:

Publicação do instrumento convocatório


Habilitação
Classificação
Homologação
Adjudicação

Publicação do instrumento convocatório

Art. 41.  A Administração não pode descumprir as normas e condições do edital,


ao qual se acha estritamente vinculada.

Edital é o documento produzido pela Administração para tornar pública a realização da


licitação, oportunizando a participação dos interessados.

É o projeto de contrato. Deve estabelecer também os prazos e as regras que serão aplicadas ao
certame.

Antes de sua publicação, deve ser analisado pela assessoria jurídica do órgão ou entidade.

Art. 38 Parágrafo único.  As minutas de editais de licitação, bem como as dos


contratos, acordos, convênios ou ajustes devem ser previamente examinadas e
aprovadas por assessoria jurídica da Administração.

Publicação – local das publicações.

Art. 21.  Os avisos contendo os resumos dos editais das concorrências, das


tomadas de preços, dos concursos e dos leilões, embora realizados no local da
repartição interessada, deverão ser publicados com antecedência, no mínimo, por
uma vez:

I - no Diário Oficial da União, quando se tratar de licitação feita por órgão ou
entidade da Administração Pública Federal e, ainda, quando se tratar de
obras financiadas parcial ou totalmente com recursos federais ou garantidas
por instituições federais;

II - no Diário Oficial do Estado, ou do Distrito Federal quando se tratar,


respectivamente, de licitação feita por órgão ou entidade da Administração
Pública Estadual ou Municipal, ou do Distrito Federal;       (Redação dada pela
Lei nº 8.883, de 1994)

III - em jornal diário de grande circulação no Estado e também, se houver,


em jornal de circulação no Município ou na região onde será realizada a
obra, prestado o serviço, fornecido, alienado ou alugado o bem, podendo
ainda a Administração, conforme o vulto da licitação, utilizar-se de outros
meios de divulgação para ampliar a área de competição.       (Redação dada
pela Lei nº 8.883, de 1994)

Prazo de impugnação: licitante e qualquer do povo.

Art. 41 § 1o  Qualquer cidadão é parte legítima para impugnar edital de licitação


por irregularidade na aplicação desta Lei, devendo protocolar o pedido até 5
(cinco) dias úteis antes da data fixada para a abertura dos envelopes de
habilitação, devendo a Administração julgar e responder à impugnação em
até 3 (três) dias úteis, sem prejuízo da faculdade prevista no § 1o do art. 113.

§ 2o  Decairá do direito de impugnar os termos do edital de licitação perante a


administração o licitante que não o fizer até o segundo dia útil que anteceder
a abertura dos envelopes de habilitação em concorrência, a abertura dos
envelopes com as propostas em convite, tomada de preços ou concurso, ou a
realização de leilão, as falhas ou irregularidades que viciariam esse edital,
hipótese em que tal comunicação não terá efeito de recurso. (Redação dada pela
Lei nº 8.883, de 1994)

Obs: não há a previsão de prazo para o julgamento da impugnação realizada por licitante.
Prazo mínimo entre a publicação do instrumento convocatório e a apresentação das
propostas.

Concorrência (“técnica” e “técnica e preço”): 45 dias corridos


Concorrência (“melhor preço”): 30 dias corridos
Tomada de preço (“técnica” e “técnica e preço”): 30 dias corridos
Tomada de preço (“melhor preço”): 15 dias corridos
Convite: 5 dias corridos
Concurso: 45 dias corridos
Leilão: 15 dias corridos
Pregão: 8 dias úteis

Esses prazos são mínimos, de modo que o edital pode estabelecer prazo superior.

Os prazos serão contados a partir da última publicação do edital resumido ou da expedição do


convite, ou ainda da efetiva disponibilidade do edital ou do convite e respectivos anexos,
prevalecendo a data que ocorrer mais tarde.

Recebimento e abertura dos envelopes

São apresentados envelopes distintos para as propostas e para a habilitação. Isso serve para
desvincular as análises.
Obs: na elaboração do edital, a Administração menciona o valor máximo que irá pagar pela obra,
produto ou serviço. Mas se as propostas, mesmo dentro desse limite, forem consideradas superiores
ao preço de mercado, pode-se dizer que o particular contribui para o superfaturamento?

1. As empresas que oferecem propostas com valores acima dos praticados pelo
mercado, tirando proveito de orçamentos superestimados elaborados pelos órgãos
públicos contratantes, contribuem para o superfaturamento dos serviços
contratados, sujeitando-se à responsabilização solidária pelo dano evidenciado.
Tomada de Contas Especial, originada em levantamento de auditoria, apurara
possível sobrepreço em contrato firmado pela Secretaria de Estado de
Infraestrutura de Alagoas (Seinfra/AL) com recursos provenientes do
Ministério da Integração Nacional, destinados às obras do perímetro de irrigação
do Rio Bálsamo, no município de Palmeira dos Índios/AL. Realizado o
contraditório, mediante citação solidária dos ordenadores de despesa da
Seinfra/AL e da empresa contratada, esta última, dentre outras alegações,
argumentou que “os preços de sua proposta estavam em consonância com o
limite máximo do valor global fixado no orçamento elaborado pela
Seinfra/AL”. Sobre o assunto, ressaltou o relator que “se por um lado o valor
global máximo serve de parâmetro para apreciação das propostas da licitação, por
outro, torna-se necessário, para que haja atendimento ao critério legal previsto no
art. 43, inciso IV, da Lei 8.666/1993, ou seja, que os preços praticados na licitação
e no referido orçamento reflitam os preços praticados no mercado, sob pena de
não isentar de responsabilidade por eventual sobrepreço ou superfaturamento
tanto o agente público que pratica o ato irregular como a empresa contratada que
dele se beneficia”. Nesse sentido, prosseguiu, “ainda que o preço orçado pela
administração esteja acima dos valores passíveis de serem praticados no mercado,
têm as empresas liberdade para oferecerem propostas que sabem estar de acordo
com os preços de mercado”. Assim, “não devem as empresas tirar proveito de
orçamentos superestimados, elaborados por órgãos públicos contratantes,
haja vista que o regime jurídico-administrativo a que estão sujeitos os
particulares contratantes com a Administração não lhes dá direito adquirido
à manutenção de erros de preços unitários, precipuamente quando em razão
de tais falhas estiver ocorrendo o pagamento de serviços acima dos valores de
mercado”. Em decorrência, anotou o relator, “a responsabilização solidária do
particular pelo dano resta sempre evidenciada quando, recebedor de
pagamentos por serviços superfaturados, contribui de qualquer forma para o
cometimento do débito, nos termos do § 2º do art. 16 da Lei 8.443/1992”. Em
tal contexto, acolheu o Plenário a proposta do relator para, dentre outras
medidas, julgar irregulares as contas dos gestores responsáveis, condenando-
os, solidariamente com a contratada, ao pagamento dos débitos apurados, e
aplicando-lhes, ainda, a multa prevista no art. 57 da Lei 8.443/92. Acórdão
2262/2015-Plenário, TC 000.224/2010-3, relator Ministro Benjamin Zymler,
9.9.2015.

Necessidade de realização de audiência pública – R$ 330.000.000,00 (trezentos e trinta


milhões de reais)

Art. 39.  Sempre que o valor estimado para uma licitação ou para um


conjunto de licitações simultâneas ou sucessivas for superior a 100
(cem) vezes o limite previsto no art. 23, inciso I, alínea "c" desta Lei, o
processo licitatório será iniciado, obrigatoriamente, com uma audiência
pública concedida pela autoridade responsável com antecedência mínima de
15 (quinze) dias úteis da data prevista para a publicação do edital, e
divulgada, com a antecedência mínima de 10 (dez) dias úteis de sua
realização, pelos mesmos meios previstos para a publicidade da licitação, à
qual terão acesso e direito a todas as informações pertinentes e a se
manifestar todos os interessados.

Parágrafo único.  Para os fins deste artigo, consideram-se licitações simultâneas


aquelas com objetos similares e com realização prevista para intervalos não
superiores a trinta dias e licitações sucessivas aquelas em que, também com
objetos similares, o edital subseqüente tenha uma data anterior a cento e
vinte dias após o término do contrato resultante da licitação antecedente. 

A ausência de audiência pública acarreta a nulidade da licitação e do contrato.

Comissão de licitação
Concorrência e tomada de preço: comissão permanente ou especial de licitação, integrada por no
mínimo 3 servidores, sendo pelo menos 2 deles servidores qualificados pertencentes aos quadros
permanentes dos órgãos da administração responsável pela licitação.

No caso de convite, a Comissão de licitação, excepcionalmente, nas pequenas unidades


administrativas e em face da exiguidade de pessoal disponível, poderá ser substituída por servidor
formalmente designado pela autoridade competente.
No concurso, o julgamento é realizado por uma comissão especial, integrada por pessoas de
reputação ilibada e reconhecido conhecimento da matéria em exame, servidores públicos ou não.

Habilitação –

Art. 27.  Para a habilitação nas licitações exigir-se-á dos interessados,


exclusivamente, documentação relativa a:

I - habilitação jurídica;

II - qualificação técnica;

III - qualificação econômico-financeira;

IV – regularidade fiscal e trabalhista;

V – cumprimento do disposto no inciso XXXIII do art. 7o da Constituição


Federal. (proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de
dezoito e de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de
aprendiz, a partir de quatorze anos;)

Não se exigirá, para a habilitação de que trata este artigo, prévio recolhimento de taxas ou
emolumentos, salvo os referentes a fornecimento do edital, quando solicitado, com os seus
elementos constitutivos, limitados ao valor do custo efetivo de reprodução gráfica da documentação
fornecida.

Obs: A documentação relacionada com a habilitação jurídica, qualificação técnica,


regularidade fiscal e trabalhista e qualificação econômico-financeira poderá ser dispensada,
no todo ou em parte, nos casos de convite, concurso, fornecimento de bens para pronta
entrega e leilão (art. 32, § 1º), bem como para a contratação de produto para pesquisa e
desenvolvimento, desde que para pronta entrega ou até o valor de R$ 80.000,00 (art. 32, § 7º).

Habilitação jurídica (art. 28)

cédula de identidade;
registro comercial, no caso de empresa individual;
ato constitutivo, estatuto ou contrato social em vigor, devidamente registrado, em
se tratando de sociedades comerciais, e, no caso de sociedades por ações,
acompanhado de documentos de eleição de seus administradores;
inscrição do ato constitutivo, no caso de sociedades civis, acompanhada de prova
de diretoria em exercício;
decreto de autorização, em se tratando de empresa ou sociedade estrangeira em
funcionamento no País, e ato de registro ou autorização para funcionamento
expedido pelo órgão competente, quando a atividade assim o exigir.

Regularidade fiscal e trabalhista (art. 29)

Sobre a regularidade fiscal, a CF/88 estabelece o seguinte:

Art. 195 § 3º A pessoa jurídica em débito com o sistema da seguridade social,


como estabelecido em lei, não poderá contratar com o Poder Público nem dele
receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios. 

A lei de licitações exige o seguinte:

prova de regularidade para com a Fazenda Federal, Estadual e Municipal do


domicílio ou sede do licitante, ou outra equivalente, na forma da lei;

prova de regularidade relativa à Seguridade Social e ao Fundo de Garantia por


Tempo de Serviço (FGTS), demonstrando situação regular no cumprimento dos
encargos sociais instituídos por lei. (Redação dada pela Lei nº 8.883, de 1994)

prova de inexistência de débitos inadimplidos perante a Justiça do Trabalho,


mediante a apresentação de certidão negativa, nos termos do Título VII-A da
Consolidação das Leis do Trabalho, aprovada pelo Decreto-Lei no  5.452, de 1o de
maio de 1943.

Essa regularidade deve ser mantida durante toda a execução do contrato.

Pode a administração, identificando o surgimento de uma inadimplência fiscal, reter parte do


pagamento que seria devido ao licitante contratado para quitar os débitos fiscais?

ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO


AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. MANDADO DE SEGURANÇA.
OFENSA AO ART. 535 DO CPC NÃO CONFIGURADA. ART. 41, § 2º, DA LEI
8.666/93. FUNDAMENTO DO ARESTO REGIONAL QUE REMANESCEU
ÍNTEGRO. SÚMULA 283/STF. INCIDÊNCIA. EXIGÊNCIA DE
REGULARIDADE FISCAL DURANTE O PRAZO DE VIGÊNCIA DO
CONTRATO. POSSIBILIDADE. RETENÇÃO DE PAGAMENTO PELOS
SERVIÇOS PRESTADOS. DESCABIMENTO. ENRIQUECIMENTO ILÍCITO.
ACÓRDÃO DO TRIBUNAL DE ORIGEM EM CONSONÂNCIA COM O
ENTENDIMENTO DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. SÚMULA
83/STJ.
1. (…) 3. O acórdão recorrido está em consonância com o entendimento deste
Superior Tribunal de Justiça, segundo o qual, não obstante o poder conferido à
Administração de exigir a comprovação de regularidade fiscal durante toda a
vigência do contrato, não pode proceder à retenção do pagamento pelos
serviços comprovadamente prestados, sob pena de caracterizar
enriquecimento ilícito. Incidência, na hipótese, da Súmula 83/STJ. 4. Agravo
regimental a que se nega provimento. (AgRg no AREsp 561.262/ES, Rel.
Ministro SÉRGIO KUKINA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 20/08/2015, DJe
31/08/2015)

Obs: É lícita a previsão contratual de retenção pela Administração de pagamentos devidos à


contratada em valores correspondentes às obrigações trabalhistas e previdenciárias
inadimplidas, incluindo salários, demais verbas trabalhistas e FGTS, relativas aos
empregados dedicados à execução do contrato.

Representação formulada por licitantes noticiara supostas irregularidades


cometidas pela Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo
(Ceagesp), no âmbito do Pregão Presencial 14/2013, destinado à contratação de
empresa responsável pela coleta seletiva, transporte e destinação final de resíduos.
Entre as falhas consideradas não elididas, a unidade técnica do TCU apontou a
ocorrência de “retenção de valores devidos à contratada, em decorrência de
propositura de ações trabalhistas” e propôs que essa previsão fosse excluída do
edital, por considerá-la incabível. Embora também tenha se posicionado pela
irregularidade especificamente dessa previsão, ponderou o relator que “não
procede o argumento de que a retenção de pagamentos devidos à contratada é
ilegal, por não constar do rol do art. 87 da Lei 8.666/1993. A retenção de
pagamentos não integra as hipóteses contidas no referido preceito legal
exatamente por não se caracterizar uma sanção administrativa. A natureza
da retenção é preventiva e acautelatória. Destina-se a evitar que a
inadimplência da contratada com suas obrigações trabalhistas cause prejuízo
ao erário. Tanto não é sanção que, comprovados os pagamentos das
obrigações trabalhistas, os valores retidos são imediatamente liberados. Os
valores retidos têm somente duas destinações possíveis: pagamento à
contratada, assim que comprovar que cumpriu suas obrigações, ou
pagamento aos seus empregados, caso as circunstâncias assim recomendem”.
Argumentou ainda o relator que “a retenção integral dos pagamentos à contratada
só é admissível nas hipóteses de inadimplemento de obrigações trabalhistas com
valores superiores aos devidos pela Administração e de desconhecimento do
montante inadimplido” e salientou que “a retenção integral não pode dar-se por
prazo indeterminado, à exceção da hipótese de inadimplemento em valores
superiores aos devidos à Administração, justamente para não caracterizar
enriquecimento ilícito da Administração. Como regra, a medida deve ser mantida
por prazo suficiente para quantificação das obrigações não adimplidas, após o que
deverá ser convertida em retenção parcial”. Nesse passo, entendeu o relator que
convém “prever, no instrumento convocatório e na minuta de contrato, retenção e
pagamento direto aos empregados, para que as prestadoras de serviços
continuados não possam alegar que desconheciam essas faculdades ao elaborar
suas propostas”. No entanto, no caso específico dos autos, a cláusula questionada
previa retenção dos valores reclamados judicialmente pelos empregados, os quais,
segundo o relator, não apresentam necessariamente correspondência com os
efetivamente devidos pela empresa, costumando ser bem mais elevados dos que
os devidos, de sorte que a retenção se mostraria desproporcional e onerosa. Diante
dessas observações, acolheu o Plenário a proposta do relator de determinar à
Ceagesp que republicasse o edital apenas após a adoção de algumas medidas
saneadoras, dentre as quais a exclusão da cláusula em apreço. Na mesma
assentada, o Tribunal recomendou à Ceagesp que adotasse os seguintes
procedimentos, para se resguardar contra dívidas trabalhistas da prestadora de
serviços continuados com dedicação exclusiva de mão de obra (subitem 9.3 do
decisum): a) prever nos contratos, de forma expressa: autorização para retenção
de pagamentos devidos em valores correspondentes às obrigações trabalhistas
inadimplidas pela contratada, incluindo salários e demais verbas trabalhistas,
previdência social e FGTS, concernentes aos empregados dedicados à execução
do contrato; autorização para realização de pagamentos de salários e demais
verbas trabalhistas diretamente aos empregados da contratada, bem assim das
contribuições previdenciárias e do FGTS, quando estes não forem adimplidos;
aprovisionamento, em conta vinculada, de valores relativos a férias, décimo
terceiro e multa sobre o FGTS, na forma prevista no art. 19-A, inciso I, da
IN/SLTI/MP 2/08, com redação dada pela IN/SLTI/MP 6/13; b) depositar os
valores retidos cautelarmente junto à Justiça do Trabalho, com o objetivo de
serem utilizados exclusivamente no pagamento dos salários e das demais verbas
trabalhistas, bem como das contribuições sociais e FGTS, quando não for possível
a realização desses pagamentos pela própria Administração, dentre outras razões,
por falta da documentação pertinente, tais como folha de pagamento, rescisões
dos contratos e guias de recolhimento; c) fazer constar dos contratos cláusula de
garantia que assegure pagamento de: prejuízos advindos do não cumprimento do
contrato; multas punitivas aplicadas pela fiscalização à contratada; prejuízos
diretos causados à contratante decorrentes de culpa ou dolo durante a execução do
contrato; e obrigações previdenciárias e trabalhistas não honradas pela contratada;
d) caso sobrevenham, durante a vigência contratual, ações trabalhistas
promovidas por empregados dedicados ao ajuste, considerando o teor dos pleitos,
investigar se há irregularidades no pagamento de verbas trabalhistas, solicitando
os documentos correspondentes (vide art. 34, § 5º, inciso I, “c”, da IN/SLTI/MP 2,
com redação dada pela IN/SLTI/MP 6); comprovada a inadimplência, reter
pagamentos devidos em valores correspondentes às obrigações trabalhistas
inadimplidas. Acórdão 3301/2015-Plenário, TC 033.728/2013-5, relator Ministro
Walton Alencar Rodrigues, 09.12.2015.

Obs: Lei n. 3.041/2005, do Estado do Mato Grosso do Sul:

Art. 1º Fica instituída, no âmbito da administração pública, a Certidão de


Violação dos Direitos do Consumidor - CVDC, que será exigida de pessoas
físicas ou jurídicas na contratação com a administração pública e com as suas
autarquias, fundações, empresas públicas e sociedades de economia mista, seja
nas negociações diretas ou por meio de qualquer uma das modalidades de
licitação.

§ 2º Os fornecedores interessados em participar de licitações públicas ou de


contratos com a administração pública neste Estado, cujo valor exceda a
cinqüenta UFERMS (Unidade Fiscal Estadual de Referência de Mato Grosso do
Sul), deverão apresentar CVDC Negativa, emitida pelo PROCON/MS, a fim
de que possam ser considerados como habilitados para tal evento.
Mesmo não havendo tal previsão na lei federal n. 8.666/93, pode o Estado criar essa nova
exigência?

É inconstitucional lei estadual que exija Certidão negativa de Violação aos


Direitos do Consumidor dos interessados em participar de licitações e em
celebrar contratos com órgãos e entidades estaduais. Esta lei é inconstitucional
porque compete privativamente à União legislar sobre normas gerais de licitação
e contratos (art. 22, XXVII, da CF/88). STF. Plenário. ADI 3.735/MS, Rel. Min.
Teori Zavascki, julgado em 8/9/2016.

Situação das MEs e das EPPs:

Art. 42. Nas licitações públicas, a comprovação de regularidade fiscal e


trabalhista das microempresas e das empresas de pequeno porte somente
será exigida para efeito de assinatura do contrato. (Redação dada
pela Lei Complementar nº 155, de 2016)

Art. 43. As microempresas e as empresas de pequeno porte, por ocasião da


participação em certames licitatórios, deverão apresentar toda a
documentação exigida para efeito de comprovação de regularidade fiscal e
trabalhista, mesmo que esta apresente alguma restrição. (Redação
dada pela Lei Complementar nº 155, de 2016)

§ 1o Havendo alguma restrição na comprovação da regularidade fiscal e


trabalhista, será assegurado o prazo de cinco dias úteis, cujo termo inicial
corresponderá ao momento em que o proponente for declarado vencedor do
certame, prorrogável por igual período, a critério da administração pública,
para regularização da documentação, para pagamento ou parcelamento do
débito e para emissão de eventuais certidões negativas ou positivas com efeito
de certidão negativa. (Redação dada pela Lei Complementar nº
155, de 2016)

Qualificação técnica (art. 30)

registro ou inscrição na entidade profissional competente;

Obs: Acórdão 2472/2019 Primeira Câmara (Representação, Relator Ministro-Substituto


Augusto Sherman) Licitação. Qualificação técnica. Conselho de fiscalização profissional.
CREA. Quitação. É ilegal a exigência de prova de quitação com o Crea para fins de
habilitação, pois art. 30, inciso I, da Lei 8.666/1993 exige apenas o registro na entidade. O
disposto no art. 69 da Lei 5.194/1966, que regulamenta o exercício dos profissionais de
engenharia, não pode prevalecer diante do art. 37, inciso XXI, da Constituição Federal, nem
da própria Lei 8.666/1993 (norma geral).)

comprovação de aptidão para desempenho de atividade pertinente e


compatível em características, quantidades e prazos com o objeto da
licitação, e indicação das instalações e do aparelhamento e do pessoal técnico
adequados e disponíveis para a realização do objeto da licitação, bem como da
qualificação de cada um dos membros da equipe técnica que se responsabilizará
pelos trabalhos;
comprovação, fornecida pelo órgão licitante, de que recebeu os documentos, e,
quando exigido, de que tomou conhecimento de todas as informações e das
condições locais para o cumprimento das obrigações objeto da licitação;
prova de atendimento de requisitos previstos em lei especial, quando for o caso.

Obs: cláusula de exigência de experiência prévia em determinado serviço de engenharia


enseja violação à competitividade do certame?

ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. LICITAÇÃO. SERVIÇO DE


ENGENHARIA. QUALIFICAÇÃO TÉCNICA. EXPERIÊNCIA PRÉVIA NO
DESEMPENHO DE ATIVIDADES SIMILARES OU CONGÊNERES. AMPARO NO
ART. 30, II, DA LEI 8.666/93. PRECEDENTE. AUSÊNCIA DE DIREITO LÍQUIDO E
CERTO.
2. Não há falar em violação, uma vez que a exigência do edital encontra amparo legal
no art. 30, II, da Lei n. 8.666/93, bem como se apresenta razoável e proporcional, já
que se trata de experiência relacionada a rodovias, limitada à metade do volume
licitado.
3. "Não fere a igualdade entre os licitantes, tampouco a ampla competitividade entre eles, o
condicionamento editalício referente à experiência prévia dos concorrentes no âmbito do
objeto licitado, a pretexto de demonstração de qualificação técnica, nos termos do art. 30,
inciso II, da Lei n. 8.666/93" (REsp 1.257.886/PE, Rel. Ministro Mauro Campbell
Marques, Segunda Turma, DJe 11.11.2011).
Recurso ordinário improvido. (RMS 39.883/MT, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS,
SEGUNDA TURMA, julgado em 17/12/2013, DJe 03/02/2014)

Sobre a qualificação econômico-financeira, a Lei 8.666/93 exige o seguinte:

Art. 31.  A documentação relativa à qualificação econômico-financeira limitar-se-


á a:

I - balanço patrimonial e demonstrações contábeis do último exercício social, já


exigíveis e apresentados na forma da lei, que comprovem a boa situação
financeira da empresa, vedada a sua substituição por balancetes ou balanços
provisórios, podendo ser atualizados por índices oficiais quando encerrado há
mais de 3 (três) meses da data de apresentação da proposta;

Uma sociedade com menos de 1 ano de constituída pode participar de licitação?

ADMINISTRATIVO. LICITAÇÃO. CONCORRÊNCIA PÚBLICA. PRESTAÇÃO DE


SERVIÇOS MÉDICOS DE EMERGÊNCIA. AEROPORTO. CAPACIDADE
ECONÔMICO-FINANCEIRA. SOCIEDADE CONSTITUÍDA HÁ MENOS DE 1
(UM) ANO. PRESCINDIBILIDADE DOS DEMONSTRATIVOS CONTÁBEIS
REFERENTES AO ÚLTIMO EXERCÍCIO FINANCEIRO. AFERIÇÃO POR MEIO
DE OUTROS DOCUMENTOS. POSSIBILIDADE. CAPACIDADE TÉCNICA.
CERTIFICADOS EM NOME DA EQUIPE TÉCNICA. ATENDIMENTO AO EDITAL.
1. Tratando-se de sociedade constituída há menos de um ano e não havendo
qualquer exigência legal a respeito do tempo mínimo de constituição da pessoa
jurídica para participar da concorrência pública, não se concebe condicionar a
comprovação da idoneidade financeira à apresentação dos demonstrativos
contábeis do último exercício financeiro, sendo possível demonstrá-la por outros
documentos, a exemplo da exibição do balanço de abertura.
2. Na instância extraordinária, é vedado reexaminar os documentos considerados pela
Corte de origem quando concluiu pela efetiva demonstração da capacidade financeira da
sociedade licitante.
Incidência do óbice constante da Súmula 7/STJ.
3. É possível a apresentação dos atestados de capacidade técnica em nome da equipe de
profissionais integrante da sociedade médica participante do processo licitatório, quando
essa faculdade está expressamente autorizada no edital do certame público.
4. Recurso especial conhecido em parte e não provido. (REsp 1381152/RJ, Rel.
Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, Rel. p/ Acórdão Ministro OG
FERNANDES, SEGUNDA TURMA, julgado em 09/06/2015, DJe 01/07/2015)

II - certidão negativa de falência ou concordata expedida pelo distribuidor da


sede da pessoa jurídica, ou de execução patrimonial, expedida no domicílio
da pessoa física;

Assim, exige-se uma certidão negativa de falência ou concordata expedida pelo distribuidor da
sede da pessoa jurídica, ou de execução patrimonial, expedida no domicílio da pessoa física.

ADMINISTRATIVO. LICITAÇÃO. EMPRESA EM RECUPERAÇÃO


JUDICIAL. PARTICIPAÇÃO. POSSIBILIDADE. CERTIDÃO DE FALÊNCIA
OU CONCORDATA. INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA. DESCABIMENTO.
APTIDÃO ECONÔMICO-FINANCEIRA. COMPROVAÇÃO. OUTROS
MEIOS. NECESSIDADE. (...) 2. Conquanto a Lei n. 11.101/2005 tenha
substituído a figura da concordata pelos institutos da recuperação judicial e
extrajudicial, o art. 31 da Lei n. 8.666/1993 não teve o texto alterado para se
amoldar à nova sistemática, tampouco foi derrogado.
3. À luz do princípio da legalidade, "é vedado à Administração levar a termo
interpretação extensiva ou restritiva de direitos, quando a lei assim não o dispuser
de forma expressa" (AgRg no RMS 44099/ES, Rel. Min. BENEDITO
GONÇALVES, PRIMEIRA TURMA, julgado em 03/03/2016, DJe 10/03/2016).
4. Inexistindo autorização legislativa, incabível a automática inabilitação de
empresas submetidas à Lei n. 11.101/2005 unicamente pela não apresentação
de certidão negativa de recuperação judicial, principalmente considerando o
disposto no art. 52, I, daquele normativo, que prevê a possibilidade de
contratação com o poder público, o que, em regra geral, pressupõe a
participação prévia em licitação.
5. O escopo primordial da Lei n. 11.101/2005, nos termos do art. 47, é viabilizar a
superação da situação de crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir
a manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses
dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função social e o
estímulo à atividade econômica.
6. A interpretação sistemática dos dispositivos das Leis n. 8.666/1993 e n.
11.101/2005 leva à conclusão de que é possível uma ponderação equilibrada
dos princípios nelas contidos, pois a preservação da empresa, de sua função
social e do estímulo à atividade econômica atendem também, em última
análise, ao interesse da coletividade, uma vez que se busca a manutenção da
fonte produtora, dos postos de trabalho e dos interesses dos credores.
7. A exigência de apresentação de certidão negativa de recuperação judicial deve
ser relativizada a fim de possibilitar à empresa em recuperação judicial participar
do certame, desde que demonstre, na fase de habilitação, a sua viabilidade
econômica.
8. Agravo conhecido para dar provimento ao recurso especial.
(AREsp 309.867/ES, Rel. Ministro GURGEL DE FARIA, PRIMEIRA TURMA,
julgado em 26/06/2018, DJe 08/08/2018)
Tipos de licitação

A finalidade da contratação não é, e nunca será, gastar menos, mas sim satisfazer a necessidade da
Administração. Por ser assim, a satisfação da necessidade poderá representar um gasto maior ou
menor, conforme o padrão de qualidade mínimo indispensável para atender à necessidade. Se o
objeto é comum, o que se buscará garantir é a especificação de desempenho e qualidade mínimos
definidos e pagar (de preferência) o menor preço praticado no mercado. Por outro lado, se o objeto
não é comum, como é o caso dos serviços intelectuais de natureza singular, não se pode querer optar
simplesmente pelo menor preço cobrado por um (qualquer) profissional no mercado, uma vez que
aqui a ordem é inversa, ou seja, o razoável é eliminar os menores preços, e não objetivá-los.

Tipos de licitação são os diferentes critérios a serem adotados para os julgamentos da proposta.

Define-se o tipo de licitação pelo tipo de necessidade da administração.

Viu-se que existe o princípio do julgamento objetivo, segundo o qual o critério adotado deve estar
apresentado de forma clara no edital. Os tipos de licitação dizem quais os critérios que podem
ser adotados. São quatro tipos previstos no art. 45 da Lei n. 8.666/93:

Nos tipos melhor técnica e técnica e preço, a apuração da qualidade adicional ocorre por ocasião do
julgamento da proposta e depende de um estímulo por parte da Administração que se revela na
forma objetiva de pontuação. No tipo menor preço, o fator qualidade não integra o critério de
julgamento, mas apenas a descrição do objeto. Assim, no tipo menor preço, é preciso que a
qualidade mínima seja assegurada na própria descrição do objeto ou ela não será garantida
na contratação pública. No entanto, cumpre dizer que independentemente do tipo de licitação,
a garantia de qualidade mínima deve ser assegurada pela Administração, não podendo
depender do arbítrio dos licitantes.

1) Menor preço
Quando o critério de seleção da proposta mais vantajosa considera apenas o valor
apresentado.

Ex: aquisição de lâmpadas. O edital define a qualidade mínima, e a escolha considera apenas
o valor das propostas.

Nessas hipóteses, a administração não se preocupa com o máximo de qualidade, mas com o
mínimo, que é definido pelo edital e deve ser observado por todos os proponentes. Respeitado
esse mínimo, sairá como vencedora a proposta de menor preço.

2) Melhor técnica

Em contratação pública, é possível falar em qualidade mínima e qualidade adicional. A mínima é a


que deve ser preservada em todo e qualquer caso, independentemente do tipo de licitação. A
qualidade adicional é a que supera a mínima definida, é a que vai além dela.

A alternativa encontrada pelo legislador para viabilizar a qualidade adicional foi idealizar os
tipos melhor técnica e técnica e preço. O objetivo desses dois tipos é viabilizar a mencionada
qualidade adicional, o que ocorre por meio da atribuição de pontuação para os fatores de qualidade
e outros que são definidos no edital. Dessa forma, é preservado um padrão mínimo e estimulada a
oferta de um benefício adicional.
Tipo de licitação utilizado exclusivamente para serviços de natureza predominantemente
intelectual.

O instrumento convocatório fixará o preço máximo que a Administração se propõe a pagar.

Art. 46.  Os tipos de licitação "melhor técnica" ou "técnica e preço" serão


utilizados exclusivamente para serviços de natureza predominantemente
intelectual, em especial na elaboração de projetos, cálculos, fiscalização,
supervisão e gerenciamento e de engenharia consultiva em geral e, em
particular, para a elaboração de estudos técnicos preliminares e projetos
básicos e executivos, ressalvado o disposto no § 4o do artigo anterior. 

Também poderá ser adotado esse tipo de licitação na seguinte hipótese:

Art. 46 § 3o  Excepcionalmente, os tipos de licitação previstos neste artigo


poderão ser adotados, por autorização expressa e mediante justificativa
circunstanciada da maior autoridade da Administração promotora constante
do ato convocatório, para fornecimento de bens e execução de obras ou
prestação de serviços de grande vulto majoritariamente dependentes de
tecnologia nitidamente sofisticada e de domínio restrito, atestado por
autoridades técnicas de reconhecida qualificação, nos casos em que o objeto
pretendido admitir soluções alternativas e variações de execução, com
repercussões significativas sobre sua qualidade, produtividade, rendimento e
durabilidade concretamente mensuráveis, e estas puderem ser adotadas à
livre escolha dos licitantes, na conformidade dos critérios objetivamente
fixados no ato convocatório.

Procedimento:

Serão abertos os envelopes contendo as propostas técnicas exclusivamente dos


licitantes previamente qualificados e feita então a avaliação e classificação destas
propostas de acordo com os critérios pertinentes e adequados ao objeto licitado,
definidos com clareza e objetividade no instrumento convocatório e que
considerem:

a) a capacitação e a experiência do proponente,

b) a qualidade técnica da proposta, compreendendo metodologia, organização,


tecnologias e recursos materiais a serem utilizados nos trabalhos, e

c) a qualificação das equipes técnicas a serem mobilizadas para a sua execução;

Uma vez classificadas as propostas técnicas, proceder-se-á a) à abertura das


propostas de preço dos licitantes que tenham atingido a valorização mínima
estabelecida no instrumento convocatório e b) à negociação das condições
propostas, com a proponente melhor classificada, com base nos orçamentos
detalhados apresentados e respectivos preços unitários e tendo como referência o
limite representado pela proposta de menor preço entre os licitantes que
obtiveram a valorização mínima.

No caso de impasse na negociação anterior, procedimento idêntico será adotado,


sucessivamente, com os demais proponentes, pela ordem de classificação, até a
consecução de acordo para a contratação;

Se não houver acordo, será vencedora e proposta de menor preço. Assim, se a


administração buscava a proposta de melhor técnica, deveria ter estabelecido
tais requisitos no edital.

3) Técnica e preço
Tipo de licitação utilizado exclusivamente para serviços de natureza predominantemente
intelectual. Há uma exceção (contratação de bens e serviços de informática):

Art. 45 § 4o  Para contratação de bens e serviços de informática, a administração


observará o disposto no art. 3o da Lei no 8.248, de 23 de outubro de 1991,
levando em conta os fatores especificados em seu parágrafo  2o e adotando
obrigatoriamento o tipo de licitação "técnica e preço", permitido o emprego de
outro tipo de licitação nos casos indicados em decreto do Poder Executivo.

Segue-se o mesmo procedimento do tipo Melhor Técnica, com os seguintes acréscimos:

Será feita a avaliação e a valorização das propostas de preços, de acordo com


critérios objetivos preestabelecidos no instrumento convocatório;

A classificação dos proponentes far-se-á de acordo com a média ponderada das


valorizações das propostas técnicas e de preço, de acordo com os pesos
preestabelecidos no instrumento convocatório.

4) Maior lance ou oferta


O “maior lance ou oferta” é critério utilizado no procedimento do leilão. Se a administração
pública está vendendo, por obvio, almeja o melhor lance.

Adjudicação compulsória – efeitos

a) confere ao vencedor o direito de não ser preterido, impedindo que a Administração contrate o
objeto licitado, com qualquer outro que não seja o adjudicatário, devendo respeitar a ordem de
classificação e não podendo contratar com terceiros estranhos ao procedimento licitatório;

b) a vinculação do adjudicatário a todos os encargos estabelecidos no edital e na sua proposta;

c) a sujeição do adjudicatário às penalidades previstas no edital e a perda de eventuais


garantias de propostas oferecidas, se não assinar o contrato no prazo e condições
estabelecidas;

d) a liberação dos licitantes vencidos dos encargos da licitação. Sendo assim, a adjudicação
atribui a obra ou serviço ao vencedor da licitação, conferindo-lhe preferência ao contrato, mas o
momento e a conveniência da assinatura do acordo ficam, ainda, na dependência da vontade
discricionária da Administração.

Logo, o licitante vencedor não tem direito subjetivo ao contrato, somente expectativa de
direito, contando tão somente com a garantia de não ser preterido. Havendo motivo justo e
fundamentado, o contrato pode não se concretizar.
Muitos doutrinadores criticam a ausência de direito subjetivo à assinatura do contrato, o que é bem
coerente em razão do reconhecimento da vedação à atuação administrativa inútil, aplicando-se o
princípio da indisponibilidade do interesse público. Portanto, a decisão de não contratar não pode
ser mera liberalidade do administrador; exige fundamentos convincentes e a efetiva demonstração
do interesse público.

Homologação

A administração deve realizar duas verificações:

a) verificação do respeito à legalidade

b) conveniência da licitação

Se for verificada lesão à legalidade, cabe a anulação da licitação. Se for verificada a ausência
de conveniência, cabe a revogação, nos seguintes termos:

Art. 49.  A autoridade competente para a aprovação do procedimento somente


poderá revogar a licitação por razões de interesse público decorrente de fato
superveniente devidamente comprovado, pertinente e suficiente para justificar tal
conduta, devendo anulá-la por ilegalidade, de ofício ou por provocação de
terceiros, mediante parecer escrito e devidamente fundamentado.

§ 1o  A anulação do procedimento licitatório por motivo de ilegalidade não gera


obrigação de indenizar, ressalvado o disposto no parágrafo único do art. 59 desta
Lei.

Art. 59 Parágrafo único.  A nulidade não exonera a Administração do dever de


indenizar o contratado pelo que este houver executado até a data em que ela for
declarada e por outros prejuízos regularmente comprovados, contanto que não lhe
seja imputável, promovendo-se a responsabilidade de quem lhe deu causa.

Anulação da licitação

A anulação da licitação será decretada quando houver vício de legalidade, e não basta que haja
vício, é preciso que ele seja insanável, pois não existe nulidade sem prejuízo. Esta anulação será
decidida pela administração pública com base no seu poder de autotutela.

A licitação tem natureza jurídica de procedimento administrativo, ou seja, são vários atos
concatenados. Então a anulação de um desses atos implica a nulidade de todas as etapas
posteriores que dependam/decorram deste ato. O art. 38, IX da Lei de Licitações exige que o
despacho que anula a licitação seja fundamentado.

Art. 38. O procedimento da licitação será iniciado com a abertura de processo


administrativo, devidamente autuado, protocolado e numerado, contendo a
autorização respectiva, a indicação sucinta de seu objeto e do recurso próprio para
a despesa, e ao qual serão juntados oportunamente:

IX - despacho de anulação ou de revogação da licitação, quando for o caso,


fundamentado circunstanciadamente;
Além disto, o art. 49 da Lei n. 8.666/93 diz que a autoridade competente para anular o
procedimento é a mesma autoridade competente para aprovar este procedimento.

Art. 49. A autoridade competente para a aprovação do procedimento somente


poderá revogar a licitação por razões de interesse público decorrente de fato
superveniente devidamente comprovado, pertinente e suficiente para justificar tal
conduta, devendo anulá-la por ilegalidade, de ofício ou por provocação de
terceiros, mediante parecer escrito e devidamente fundamentado.

A nulidade do contrato gera dever de indenização por parte da administração pública?

R. A nulidade do contrato não exonera a administração pública do dever de indenizar o


contratado, desde que a causa da nulidade não possa ser imputada ao contratado.

O art. 49, § 1º, da Lei n. 8.666/93 determina que a anulação do procedimento licitatório, por si só,
não gera a obrigação de indenizar.

§ 1o A anulação do procedimento licitatório por motivo de ilegalidade não


gera obrigação de indenizar, ressalvado o disposto no parágrafo único do art. 59
desta Lei (Parágrafo único. A nulidade não exonera a Administração do dever de
indenizar o contratado pelo que este houver executado até a data em que ela for
declarada e por outros prejuízos regularmente comprovados, contanto que não
lhe seja imputável, promovendo-se a responsabilidade de quem lhe deu causa).

E o art. 49, § 2º, da Lei n. 8.666/93 diz que a nulidade do procedimento licitatório induz a nulidade
do contrato.

§ 2o A nulidade do procedimento licitatório induz à do contrato, ressalvado o


disposto no parágrafo único do art. 59 desta Lei.

Quando o contratado não concorre à nulidade, ele terá direito a indenização. Mas, ele será
indenizado pelo quê?

R. Ele será indenizado pelo que já houver executado até a data em que a nulidade foi
declarada. Além disto, ele será indenizado por outros prejuízos que conseguir comprovar. Esta
previsão está no art. 59, p.u., Lei n. 8.666/93.

Art. 59. A declaração de nulidade do contrato administrativo opera


retroativamente impedindo os efeitos jurídicos que ele, ordinariamente, deveria
produzir, além de desconstituir os já produzidos.

Parágrafo único. A nulidade não exonera a Administração do dever de indenizar o


contratado pelo que este houver executado até a data em que ela for declarada e
por outros prejuízos regularmente comprovados, contanto que não lhe seja
imputável, promovendo-se a responsabilidade de quem lhe deu causa.

Prazo para anulação - autotutela:

Lei Art. 54. O direito da Administração de anular os atos administrativos de que


decorram efeitos favoráveis para os destinatários decai em cinco anos, contados
da data em que foram praticados, salvo comprovada má-fé.
O prazo decadencial a ser observado pela Administração no exercício da
autotutela (art. 54 da Lei 9.784/1999), com vistas à anulação de ato praticado
em procedimento licitatório, tem como termo inicial a data do respectivo ato,
salvo no caso de interposição de recurso, hipótese em que o termo inicial
passa a ser a data da decisão final sobre o recurso. Em Solicitação do
Congresso Nacional, encaminhada pelo Presidente da Comissão de Ciência e
Tecnologia, Comunicação e Informática (CCTCI) da Câmara dos Deputados, o
TCU examinou, entre outros aspectos, a inabilitação, pelo Ministério das
Comunicações, de empresa para participar de licitação para outorga da exploração
de serviços de som e imagem no município de São José dos Campos/SP, “quase
oito anos após a emissora ter sido declarada habilitada pelo mesmo órgão –
período superior, portanto, ao prazo decadencial previsto em legislação, que é de
5 anos”. Sobre o assunto, anotou o relator que “não se confirmou a irregularidade
alegada na solicitação de que a empresa não poderia ter sido inabilitada em vista
do transcurso do prazo decadencial”. Conforme demonstrara a unidade instrutiva,
“o ato de inabilitação, praticado em 19/4/2010, foi adotado com base no
entendimento registrado no Acórdão 2.264/2008-TCU-Plenário, de que o prazo
decadencial na licitação teria como termo inicial a data da homologação do
certame; com base nesse entendimento, não incidiu a decadência no caso
concreto, uma vez que a homologação somente ocorreu para São José dos
Campos em 21/9/2011”. Ademais, prosseguiu o relator, “ainda que se tivesse
adotado o entendimento mais recente do TCU, de que o prazo decadencial tem
como termo inicial a data do respectivo ato, salvo no caso de interposição de
recurso, quando o termo inicial da extinção é a decisão final sobre o recurso
(Acórdão 2.318/2012- TCU-Plenário), a conclusão seria a mesma, eis que a
decisão final sobre os recursos das licitantes favoráveis à inabilitação da
[empresa] foi adotada em 14/4/2010 e publicada no DOU de 19/4/2010”. Nesses
termos, conheceu o Plenário da Solicitação para, entre outros aspectos, informar à
CCTCI da Câmara dos Deputados que, relativamente à inabilitação questionada,
“o ato foi praticado dentro do limite do prazo decadencial, seja considerando
como termo inicial a data da homologação do certame, nos termos do Acórdão
2.264/2008-TCU-Plenário, seja considerando a data da decisão final sobre o
recurso, conforme os ditames do Acórdão 2.318/2012-TCU-Plenário aplicados ao
caso concreto”. Acórdão 1803/2016 Plenário, Solicitação do Congresso
Nacional, Relator Ministro Bruno Dantas

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