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Antonio Fatorelli
Não realizei o filme, mas estava ali – pronto para compreender e observar. Por
exemplo, A lagoa e a lua é a descoberta do que existe na natureza. Não
imaginava que a relação entre a lua e os sapos fosse tão rica e articulada. Há um
diálogo entre eles. Não imaginava que os sapos contemplassem a lua. Mas aqui
se vê perfeitamente que ficam olhando para ela e que há uma relação entre eles.
E os sapos têm uma nota precisa, cantam essa nota. É como um concerto. O
primeiro começa, como uma voz de soprano, depois torna-se um dueto, depois
um trio, depois temos uma orquestra, um coro. A relação dos sapos com a lua é
de tal modo que eles criam ou mudam seu canto, dependendo da presença ou
ausência do astro, da existência ou não de nuvens. É uma descoberta, portanto
(Kiarostami, 2004: 322/323).
Por isso, às vezes penso que a fotografia é uma arte mais completa; que
uma fotografia, uma imagem estática, vale muito mais que um filme. O
mistério de uma fotografia permanece em segredo porque é sem sons, não
há nada em seu entorno (Kiarostami, 2004: 185).
Como dizia, não suporto o cinema narrativo. Abandono o sala. Quanto mais
se esforça por contar, e quanto mais sucesso tem nisso, maior é minha
resistência. A única maneira de prefigurar um cinema novo reside em um
maior respeito pelo papel desempenhado pelo espectador. É preciso antecipar
um cinema “in-finito” e incompleto, de modo que o espectador possa intervir
para preencher os vazios, as lacunas. A estrutura do flme, em vez de sólida e
impecável, deveria ser enfraquecida, tendo em conta que não se deve deixar
escapar os espectadores! Talvez a solução adequada consista em estimular os
espectadores a uma presença ativa e construtiva. Por isso, estou meditando a
respeito de um cinema que não faça ver. Creio que muitos filmes mostram
demais, e, dessa maneira, perdem o efeito. Estou tentando entender o quanto
se pode fazer ver sem mostrar. Neste tipo de fime, o espectador pode criar as
coisas de acordo com a sua própria experiência, coisas que não vemos, que
não são visíveis (Kiarostami, 2004: 183).